10CIDADES SEGURANÇA A GAZETA SEGUNDA-FEIRA, 2 DE NOVEMBRO DE 2015 VILA VELHA Idosa morre após ser atingida por bala perdida na porta de casa FOTOS: MARCELO PREST Jovem apontado como autor dos disparos era uma das pessoas ajudadas pela vítima ÚLTIMOS MOMENTOS GLACIERI CARRARETTO [email protected] Avó dedicada, mãe zelosa e uma senhora bondosa que ajudava a todos. Foi dessa forma que parentes, amigos e vizinhos descreveram a aposentada Zenilda Andrade Ferreira, 75 anos, que morreuapósseratingidapor uma bala perdida, na noite desábado,emCristóvãoColombo, Vila Velha. Entre as pessoas a quem a aposentada prestou auxílio tantas vezes durante a vida, estava o jovem Lucas Rosa Martins, 18, apontado como autor dos disparos e que foi preso trêshorasdepoisdocrime.A vítimadoavaalimentospara a família do suspeito. O tiroteio aconteceu por volta das 21 horas, na Rua Cláudio Manoel da Costa, emfrenteàcasadaidosa.Segundo moradores, dois homens em uma moto passaram pela rua e pararam em frenteàigrejacatólicadeSão Marcos, divisa com o bairro Soteco. O garupa da moto desceu armado e abriu fogo aleatoriamente na rua. Sentada em uma cadeira colocada na calçada de casa, ao lado da entrada, Dona Zenilda estava acompanhada de netas, bisnetos “ERA A PESSOA MAIS ESPECIAL DO MUNDO” Lucas Rosa Martins, 18, foi apontado como autor dos tiros. Uma das balas atingiu dona Zenilda (destaque) ARREPENDIDO “A dona Zenilda me ajudou sim, mas a família dela não gosta de mim. Não tinha intenção de atingi-lá, me arrependo disso” LUCAS ROSA MARTINS e vizinhas. Cerca de 12 crianças brincavam na rua. “Começaram a atirar, algumas pessoas tentaram correr, mas eu a vi caindo no chão.Fuiemcasaepediajuda ao meu pai, para tirar o carro para socorrê-la, mas ele ficou tão assustado que não conseguia tirar o veículo”,contouumavizinha,dona de casa de 22 anos. A aposentada foi atingida por um tiro que entrou nas costas e saiu na barriga. Uma das netas de Dona Zenilda, uma estudante de 23 anos, também foi baleada no pé. “A minha avó entrou no quintal e caiu. Ela disse ‘fui baleada’ e eu falei que não. Quando a viramos, percebi que o sangue estava escorrendo na camisa. No meu pé, eu senti uma queimação.Pedimossocorro na rua a um carro que passava”, contou a neta. A idosa e a neta entra- Neta de dona Zenilda estudante, 23 ram no veículo, mas o carro quebrou a poucos metros do local do crime. Novamente, as duas vítimas e parentes pararam outro carro que passava na rua, então, conseguiram chegar ao Hospital Antônio Bezerra de Faria. No entanto, no início da madrugada, os parentes receberam a notícia de que Dona Zenilda havia morrido. Neta de dona Zenilda, uma estudante de 23 anos, que também foi baleada junto da avó, desabafou: “Não tiram uma vida apenas, eles também destruíram toda uma família”, disse. Como foi o momento dos disparos? Os dois passaram em uma moto e pararam na esquina. Um deles retornou e atirou. Só tinha mulheres e crianças na rua, não se importou em atingir ninguém. Corri para me proteger. Depois vi minha avó caída. E as pessoas conseguiram escapar? Havia cerca de 12 crianças brincando na rua. Foram muitos tiros, mais de 20. Não sei como não saiu mais gente ferida. Como foi o socorro até o hospital? Eu chamava “vó, tá bem? vó?” e tentava conversar com ela. Eu ainda tinha esperança que ela estivesse viva, achava que estava apenas desmaiada. Como era dona Zenilda? Uma avó zelosa, atenciosa com todos os netos e com os filhos. Era o alicerce da nossa família. Minha avó era a pessoa mais especial deste mundo. MARCELO PREST Tiros constantes em disputa do tráfico Os buracos causados por tiros estão espalhadas pelas paredes e portões várias casas da Rua Cláudio Manoel da Costa. “Eu fui baleado em marçodoanopassadoenquanto lavava o carro em frente de casa. Eram 7h30 de um domingo. Vi ‘os caras’ descendo e os tiros. Corri para tirar minhafilhadalinhadefogo, a jogando para dentro do quintal. Eu cai junto, pois acabei baleado”, contou um pintor, de 58 anos. Ele salvou a filha de 27 anos, mas acabou atingido no braço direito e na barriga por um tiro de escopeta calibre 12. “Eles não têm hora e não se importam com quem está na rua. Atiram para mos- trar poder”, contou uma vendedora, 20 anos, neta da dona Zenilda. Populares contaram que naruaháumabocadefumo que é disputada por traficantes. Lucas integra a facção do bairro vizinho, Soteco. Ele alegou que revidou os disparos de um rival, mas populares contaram que os tiroteios são constantes, só para mostrar “poder”. “Eles tentam tomar a boca constantemente e aí sobra tiro. Uma filha da dona Zenilda já havia sido atingida no ombro no dia das mães e um neto dela, de 11 anos, na perna, no ano passado. Também vitimas de bala perdida”, detalhou uma dona de casa, 22 anos. Suspeito foi preso três horas depois Inocente Moradora do bairro há mais de 35 anos, dona Zenilda criou 13 filhos, tinha 38 netos e mais 24 bisnetos. “Minha mãe não merecia isso, era um ser inocente”, lamentou uma das filhas, de 47 anos. A equipe de plantão na Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi ao local do crime e, após ouvir testemunhas, deu início a uma busca por um dos suspeitos, Lucas Rosa Martins, 18 anos. Ele foi reconhecido imediatamente por várias pessoas que estavam no local como autor dos disparos. Em menos de três horas após o tiroteio, ele foi preso dormindo, na casa da namorada, em Soteco. Para a polícia, Lucas contou que atiroucontraumrival,masa versão foi contrariada por testemunhas. “Lucas confessou, em depoimento, que realizou disparos e que a arma uti- lizada no crime teria sido deixada com o comparsa, que guiava a moto. Este indivíduo já foi identificado etodaaapuração docrime será encaminhada para a Delegacia de Homicídios e Proteção à Mulher que dará continuidade às buscas pelo segundo envolvido”, explicou o delegado Rodrigo Sandi Mori, do Plantão da DHPP. Sandi Mori autuou o suspeito pelo crime de homicídio qualificado, por motivo torpe e por impossibilidade de defesa da vítima, e por tentativa de homicídio com as mesmas qualificadoras. Ainda ontem, ele foi conduzido para a Unidade de Detenção Provisória de Viana.