The aquatic physical therapy in the treatment for the limphoedema post mastectomy Resumo O tratamento cirúrgico para o câncer de mama é descrito desde 1894 até a atualidade, como um dos mais eficazes, sendo o linfedema de braço uma das mais freqüentes complicações crônicas. Esta complicação, hoje em dia, é abordada através da fisioterapia em diversos aspectos e com resultados crescentes na melhora da sintomatologia geral, que envolve sintomas físico-funcionais e emocionais. Com o conhecimento dos efeitos fisiológicos benéficos que o tratamento utilizando a fisioterapia aquática oferece, seria de grande valia verificar a aplicabilidade destes efeitos no linfedema de braço, pós-mastectomia, em relação à fisioterapia em solo, considerada como a convencional. Esta técnica fundamenta-se nos conceitos e efeitos causados pela pressão hidrostática, que a água exerce sobre os tecidos e corpos imersos, que é diretamente proporcional à profundidade e a densidade do fluido, e opõe-se a tendência dos líquidos em acumular-se nas extremidades, promovendo a redução de edemas. Com a experiência no emprego da fisioterapia aquática para o tratamento de linfedema de braço, pós-mastectomia, realizada em nosso serviço, observamos que esta é uma alternativa interessante, haja vista propiciar amplos benefícios quando comparada a fisioterapia convencional. At u a l i z a ç ã o A fisioterapia aquática no tratamento do linfedema pós-mastectomia Adriana Paula Fontana Carvalho1 Elbens Marcos Minoreli de Azevedo2 Palavras-chave Mastectomia Linfedema Fisioterapia aquática Keywords Mastectomy Limphoedema Aquatic physical therapy Abstract The surgical treatment for breast cancer is described since 1894 as one of the most efficient. Arm limphoedema is one of the most important complications of the surgery. This complication nowadays is treated by physical therapy with good results and improvement of well-being. The knowledge of the favorable effects of the treatment of limphoedema with aquatic physical therapy is of great value comparing the results with conventional therapy. The effect of aquatic physical therapy is based on the hydrostatic pressure in the immersed tissues and proportional to depth and density of the fluid, with reduction of edema. Using aquatic physical therapy in our service for treating limphoedema arm post mastectomy, we concluded that it could be an interesting alternative of treatment. Programa de Pós-graduação de Mestrado em Medicina e Ciências da Saúde Universidade Estadual de Londrina – UEL/ Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Curso de Fisioterapia 1 Universidade Norte do Paraná (UNOPAR) 2 Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, Setor de Oncologia Ginecológica e Mastologia 2 Universidade Estadual de Londrina (UEL) 1 FEMINA | Julho 2007 | vol 35 | nº 7 413 A fisioterapia aquática no tratamento do linfedema pós-mastectomia Introdução Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), deverão ocorrer no Brasil, mais de 472.000 casos novos de câncer no ano de 2006, dentre os quais cerca de 48.930 casos novos de câncer de mama, com risco estimado de 52 casos a cada 100.000 mulheres, sendo uma das neoplasias malignas mais relevantes entre mulheres. A linfadenectomia axilar faz parte dos protocolos cirúrgicos para tratamento do câncer de mama desde 1894, embora atualmente, tenha papel mais relevante na avaliação prognóstica. Com o advento da pesquisa do linfonodo sentinela, a linfadenectomia tem sido cada vez menos extensa, causando assim menores transtornos pósoperatórios, tais como o linfedema reacional de membro superior, homolateral ao sítio cirúrgico, complicação que atinge aproximadamente 15 a 20% das mulheres mastectomizadas (Petrek et al., 2000). O linfedema é uma das complicações crônicas complexas, que se manifesta pelo aumento significativo do volume de uma determinada região do corpo, em conseqüência do comprometimento da drenagem linfática fisiológica loco-regional (Marx & Camargo, 1986). A abordagem terapêutica do linfedema pós-mastectomia é bastante ampla e com resultados significativos na melhora da sintomatologia geral. Com o conhecimento dos efeitos fisiológicos benéficos que a fisioterapia aquática oferece, considera-se de grande valia avaliar a sua aplicabilidade no linfedema em questão (White, 1998), como alternativa à fisioterapia em solo, considerada convencional. O tratamento do linfedema pós-mastectomia exige cuidados multidisciplinares, envolvendo profissionais médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e psicólogos, com o objetivo de prevenir complicações e promover adequada recuperação funcional (Silva et al., 2004). Tal enfoque visa contribuir para uma melhor qualidade de vida da paciente. Linfedema de membro superior pós-mastectomia No corpo humano a filtração arterial é maior que a absorção venosa, implicando em desequilíbrio entre filtração e absorção, o qual é corrigido pelo sistema linfático, de forma que os capilares venosos são responsáveis por 80% da reabsorção de líquidos e substâncias do interstício e o sistema linfático pela reabsorção dos 20% restantes (Camargo & Marx, 2000). O sistema linfático (Figura 1) é composto por uma seqüência de vasos, onde o líquido intersticial, através de diferenças de pressão, penetra nos capilares linfáticos, percorre os vasos pré-coletores, que são valvulados, conduzindo a linfa até os vasos coletores, que se dividem em ducto torácico e canal linfático direito, através dos quais a linfa retorna ao sistema venoso. O sistema linfático também apresenta linfonodos ou nódulos linfáticos, que são grupamentos compactos de linfócitos. A axila, dentre outras, é uma região de grande concentração dessas estruturas (Marx & Camargo, 1986). Com a crescente incidência do câncer mamário, há tendência de mais pacientes com linfedema de braço, pósmastectomia (Figura 2). Veia Pulmonar Ducto Toráxico Artéria Aorta Veia Cava Circulação Periférica Figura 1 - Sistema linfático. 414 FEMINA | Julho 2007 | vol 35 | nº 7 Figura 2 - Linfedema de membro superior pós-mastectomia. A fisioterapia aquática no tratamento do linfedema pós-mastectomia Os linfedemas são classificados, de acordo com o distúrbio causador da insuficiência linfática, em primários e secundários. Nos linfedemas primários há alteração congênita do desenvolvimento de vasos linfáticos e linfonodos ou obstrução linfática. Nos linfedemas secundários, a disfunção anatômica ocorre em tecido linfático previamente normal, sendo o linfedema pós-cirúrgico e/ou pós-radioterápico o exemplo mais comum dentre esses. O linfedema, descrito por Willian Halsted como “elefantíase póscirúrgica”, pode surgir a qualquer momento, mas a maior incidência é após cerca de 6 meses da cirurgia (Beenken et al., 2002). A diferença de 1 a 1,5 cm entre os braços, quando realizada a perimetria, isto é, a medida da circunferência num determinado ponto, pode ser diagnóstico de linfedema. O linfedema será classificado como leve se a diferença for inferior a 3 cm, moderado de 3 a 5 cm e intenso quando há uma diferença superior a 5 cm (Humble et al., 1995). As medidas da circunferência de um membro a ser avaliado, denominadas perimetria, são facilmente mensuráveis com uma fita métrica, sendo realizadas em pontos previamente determinados (Bergmann et al., 2004). No nosso serviço, realizamos perimetria do membro superior em 3 pontos: a 15 cm acima da linha média do cotovelo, a 5 cm abaixo da linha média do cotovelo e no punho. A linfadenectomia poderá causar disfunção anatômica e funcional do sistema linfático local pós-mastectomia, haja Tabela 1 - Idade e tempo de cirurgia em anos e porcentagem do tipo de cirurgia. Idade Tempo de cirurgia Número de sessões Tipo de mastectomia Madden Patey G1 (Solo) n = 10 X (DP) 55 (10,6) 4,8 (4,5) 9,4 (1,0) G2 (Aquática) n = 10 X (DP) 54 (12,4) 4,7 (4,5) 9,6 (0,8) 7 (70%) 3 (30%) 6 (60%) 4 (40%) X – média; DP – desvio padrão vista a comprometida absorção dos líquidos intersticiais no membro afetado, justificando o aparecimento de linfedema (Camargo & Marx, 2000). As altas concentrações de proteínas presentes no linfedema, que elevam a pressão osmótica, contribuindo para o aumento do volume do membro. Portanto, com a disfunção linfática, a taxa de concentração de proteínas no interstício se altera, definindo uma relação com a severidade do linfedema. Fisioterapia aquática A fisioterapia aquática não se limita somente a reabilitar, prevenir e estimular o bem estar físico. Os pacientes podem se beneficiar de uma intervenção segura e efetiva no ambiente aquático, contribuindo para melhora de problemas ortopédicos, neurológicos, reumáticos dentre outros. A fisioterapia aquática emprega protocolos específicos e pode incorporar exercícios de natação e de hidroginástica (Cardoso, 2003). Esta técnica de tratamento fundamenta-se nos conceitos e efeitos causados pela pressão hidrostática que a água exerce sobre os tecidos e corpos imersos, incrementando a circulação sanguínea, promovendo o relaxamento muscular e propiciando o aumento da amplitude de movimentos. A Lei de Pascal estabelece que a pressão do fluido é exercida igualmente sobre todas as áreas de um corpo imerso. A pressão é diretamente proporcional à profundidade e a densidade do fluido e opõe-se a tendência dos líquidos em acumular-se nas extremidades, promovendo a redução de edemas (Bates & Hanson, 1998). A fisioterapia aquática utilizada para o tratamento do linfedema pós-mastectomia, consiste na orientação da estimulação, através de automassagem dos linfonodos das regiões paraesternais, claviculares e axilares remanescentes com o ombro abduzido, o cotovelo fletido e a mão posicionada posteriormente à região cervical. Após a automassagem são realizados alongamentos ativos e exercícios de fortalecimento da cintura escapular e membros superiores, com movimentos de flexão e abdução dos mesmos, para favorecer a Tabela 2 - valores de perimetria para G1e G2 nos níveis de perimetria em relação ao cotovelo, pré e pós tratamento. G1 (fisioterapia aquática) n = 10 valor pré valor pós X (DP) X (DP) Perimetria 15 cm acima do cotovelo 5 cm acima do cotovelo Punho 32,2 (3,9) 27,1 (3) 17,2 (1,5) 31,9 (3,8) 26,7 (3,3) 16,8 (1,3) G2 (fisioterapia convencional) n = 10 valor pré valor pós X (DP) X (DP) 33 (4,9) 27 (4,4) 17,2 (2,8) 32,6 (3,9) 27 (4,5) 17,3 (2,2) X – media; DP – desvio padrão FEMINA | Julho 2007 | vol 35 | nº 7 415 A fisioterapia aquática no tratamento do linfedema pós-mastectomia absorção do líquido intersticial em excesso. A sessão de fisioterapia aquática termina com breve relaxamento geral. A associação dos efeitos de bomba muscular que os exercícios ativos provocam, adicionados ao efeito da pressão hidrostática e o posicionamento adequado do membro, favorecem a redução do linfedema. No nosso serviço, temos desenvolvido a fisioterapia aquática para o tratamento do linfedema pós-mastectomia, como alternativa à tradicional fisioterapia em solo. Foram avaliados dois grupos semelhantes de mulheres mastectomizadas, submetidas a fisioterapia em solo e a aquática ( Tabela 1). Na Tabela 2 observa-se que as médias de perimetria pré tratamento de G1 e G2 são semelhantes sendo p > 0,05, portanto os grupos não possuem diferenças nas médias iniciais. Na perimetria após o tratamento fisioterápico as médias demonstram que os resultados de G1 e G2 foram também semelhantes com p > 0,05 não demonstrando diferença estatística nos resultados obtidos com os dois tipos de tratamento. Considerações finais Em vista da crescente incidência do câncer de mama em nosso meio e o conseqüente linfedema de membro superior, é de relevante importância o enfoque terapêutico desta molesta complicação pós-operatória, buscando-se novas técnicas alternativas fisioterápicas, com o objetivo de se conseguir melhores e mais eficazes resultados terapêuticos. A fisioterapia aquática é uma nova técnica no tratamento do linfedema pós-mastectomia; todavia, faz-se mister a realização de estudo amplo, com maior casuística, para conclusões melhor abalizadas sobre este novo enfoque terapêutico. Leituras suplementares 1. Andrade MFC. Linfedema. In: Pitta GBB, Castro AA, Burihan E, editores. Angiologia e Cirurgia Vascular: Guia Ilustrado. Maceió: UNCISAL/ECMAL&LAVA; 2003. Disponível na Internet: <http://www.lava.med.br/livro> Acessado em: 14/11/05. 2. Bates A, Hanson N. Exercícios Aquáticos Terapêuticos. 1ª ed. São Paulo: Editora Manole; 1998. 3. Beenken SW, Bland MD, Kirby I. Long-term complications of breast-conservation therapy: can the incidence be reduced? Annals of Surgical Oncology (New York) 2002; 9: 524-5. 4. Bergmann A, Mattos EI, Koifman RJ. Diagnóstico do a efetividade e segurança da fisioterapia aquática no tratamento de pacientes com artrite reumatóide [Tese]. São Paulo: UNIFESP-EPM; 2003. 7. Humble CA. Lymphedema: incidence, pathophysiology, management, and nursing care. Contexto Educativo (Argentina) 1995; 22:10. 8. Petrek JA, Pressman PI, Smith RA. Lymphedema: current issues in research and management. CA (Atlanta) 2000; 50: 292-307. 9. Silva MPP, Derchain SFM, Rezende L et al. Movimento linfedema: análise dos métodos empregados na avaliação do membro superior após linfadenectomia axilar para tratamento do câncer de mama. Revista Brasileira de Cancerologia 2004; 50: 311-20. do ombro após cirurgia por carcinoma invasor da mama: estudo randomizado prospectivo controlado de exercícios livres versus limitados a 90° no pósoperatório. Ver Brasil Ginecol Obstet 2004; 26: 2: 125-130. 5. Camargo MC, Marx AG. Reabilitação Física no Câncer 10. White MD. Exercícios na Água. 1ª ed. São Paulo: Editora de Mama. 1ª ed. São Paulo: Editora Roca; 2000. 416 6. Cardoso JR. Revisão sistemática com metanálises sobre FEMINA | Julho 2007 | vol 35 | nº 7 Manole; 1998.