Oficinas Disciplinares
Educação Física
A historicidade da Capoeira
Março
2012
FORMAÇÃO EM AÇÃO
PRIMEIRO SEMESTRE/2012
Marcelo Costa – Portal Dia a Dia Educação
Rosane Eugenia – NRE AMSul
Rosane Fernandes – NRE Curitiba
Objetivos da oficina:
- analisar as discussões presentes no processo de esportivização;
- apresentar uma proposta teórico-metodológica a partir do estudo
da historicidade da capoeira;
- construir uma linha do tempo sobre a historicidade da capoeira a
partir da leitura e discussão de objetos de aprendizagem;
- vivenciar algumas atividades corporais.
Argumentação:
Ao abordar o conteúdo lutas é importante esclarecer aos alunos
as suas funções, inclusive apresentando as transformações pelas
quais passaram ao longo dos anos. (…) (PARANA, 2008)
Apresentação da teoria:
As lutas, assim como os demais conteúdos, devem ser
abordadas de maneira reflexiva, direcionada a propósitos mais
abrangentes do que somente desenvolver capacidades e
potencialidades físicas.
Dessa forma, os alunos precisam perceber e vivenciar essa
manifestação corporal de maneira crítica e consciente,
procurando, sempre que possível, estabelecer relações com a
sociedade em que vive.
A desportivização deve ser analisada à luz da padronização das
práticas corporais. Isso significa que o primeiro objetivo de tornar
qualquer atividade um esporte é colocá-lo sob normas e regras
padronizadas e subjugadas a federações e confederações, para que
sua difusão seja ampla em todo o planeta, deixando o aspecto
criativo da expressão corporal num segundo plano.
A historicidade é um dos pontos que fundamentam a capoeira
enquanto conteúdo da Educação Física escolar. A capoeira encerra,
em seus movimentos, a luta da emancipação do negro no Brasil
escravocrata. Em seu conjunto de gestos, a capoeira expressa, de
forma explícita, a “voz” do oprimido em sua relação com o
opressor. (SOARES et al., 1992, p. 76).
Vídeo:
Capoeira tenta mudar regras para se
transformar em esporte olímpico
Em fórum realizado no Rio de Janeiro, mestre afirma que mudança
é essencial para que a luta 'não fique para trás' na busca por
patrocínios.
Fonte: Sport TV News. Disponível em: <http://sportv.globo.com/site/programas/sportvnews/noticia/2011/07/capoeira-tenta-mudar-regras-para-se-transformar-em-esporte-olimpico.html>
Processo de Esportivização
De acordo com a Diretriz Curricular, deve-se discutir com seus
alunos as contradições presentes nesse processo de esportivização das
práticas corporais, visto que no ensino de Educação Física é preciso
compreender o processo pelo qual uma prática corporal é
institucionalizada internacionalmente com regras próprias e uma
estrutura competitiva e comercial.
Esportivização da Capoeira, a favor ou contra?
Para responder a essa pergunta é necessário que nossos alunos
conheçam desde a Historicidade da Capoeira, até o fenômeno de
esportivização, bem como os diferentes argumentos contrários
e favoráveis a este fenômeno já instituído.
Atividade 1
Linha do tempo
O tempo cronológico e o tempo histórico
Na escola, a compreensão das múltiplas experiências temporais
pode provocar nos alunos o desenvolvimento de uma consciência
histórica crítica e/ou genética. Os historiadores da Nova História
Cultural tenderam a adotar o conceito de temporalidade criado por
Fernand Braudel, relativo à longa duração (estruturas), à média
duração (conjunturas) e à curta duração (acontecimentos).
(PARANÁ, 2008b, p. 62).
Atividade - Viajando pela linha do tempo!
Objetiva despertar nos alunos o desejo de entender os eventos do
passado e até mesmo compreender melhor o presente
e o futuro.
Observação: os períodos mais importantes serão enfatizados com
informações pontuais enriquecidas com ilustrações, de forma
simples, didática e organizada.
Os trajes da Capoeira e sua
evolução no tempo
Apresentação, de forma linear, das transformações ocorridas
no modo de vestir dos capoeiristas ao longo do tempo.
1580 - A chegada
Os primeiros negros chegaram ao Brasil
diretamente para as lavouras de cana-de-açúcar.
Vieram para servir os donos das grandes fazendas
que não conseguiram escravizar os índios.
Trouxeram sua cultura, influenciando, assim,
a cultura brasileira.
Os negros manifestavam-se nas cores vibrantes, nos
padrões estilizados, nas composições cheias de
contrastes. Essa época transita entre o vestuário mais
simples da senzala, passando pela nudez dos índios,
até os suntuosos guarda-roupas da nobreza, que já saia
do puro linho para a seda pura.
Busca de “negros” nas tribos da África
Fonte: http://imperiobrazil.blogspot.com.br/2012/02/escravidao-e-escravatura.html
Família indígena do chefe camacã - Pintura de Debret
Fonte: http://historiacema.blogspot.com.br/2010_04_01_archive.html
Johann Moritz Rugendas
Foi um pintor alemão que viajou por todo o Brasil durante o
período de 1822 a 1825, pintando os povos e costumes que
encontrou.
Hoje, suas obras têm importância documental, sendo uma
espécie de “reportagem” visual do Brasil no século XIX.
Fonte: www.infoescola.com/pintura/rugendas/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Johann_Moritz_Rugendas
Jean-Baptiste Debret
(Paris, 18 de abril de 1768 — Paris, 28 de junho de 1848)
A obra de Debret é considerada grande contribuição para o
Brasil, e é frequentemente analisada por historiadores como
uma representação (um tanto quanto realista, apesar de não ser
perfeita) do cotidiano e sociedade do Brasil – em especial, da
vida no Rio de Janeiro – de meados do século XIX.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jean-Baptiste_Debret
1580/1850 - A ginga dribla o cotidiano
Na lida, os negros usavam vestimenta simples, na maioria
confeccionadas com fios grosseiros do algodão e com
fibras naturais usadas, normalmente, na embalagem dos
produtos da terra.
Os escravos e as mucamas que trabalhavam na CasaGrande recebiam roupas mais finas. As mucamas sempre
estavam adornadas com turbantes e penteados exóticos.
1850/1888 - A libertação
Em 1850 começa o movimento Abolicionista, que culminou,
em 1888, com a assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel
Os escravos, já libertos, passam a se dedicar às
atividades artesanais. Como forma de ganhar a vida
passam a trabalhar como sapateiros, alfaiates,
ambulantes, vendedores de doces e quitutes.
Seus trajes são heranças de seus senhores e, muitas
vezes, são vistos em trajes do algodão tingido e com
muitos badulaques.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Debretberimbau.jpg
1930/1945 - A moda entra no esporte
Na era Getúlio Vargas, pelas mãos de mestre Bimba, a
Capoeira é consagrada como esporte nacional. Filhos de
personalidades da sociedade passam a praticar o esporte,
influenciando nos modos.
Os capoeiras são vistos nas docas, no cais do porto, em
largas calças de linho e camisas de algodão,
considerados a fina flor da malandragem.
Fonte: ttp://gcapslp.blogspot.com.br/
Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0156s
A Capoeira sai das ruas e começa a ser praticada em
academias, passando a receber a influência de outros
esportes. São criados uniformes e graduações para a
prática do esporte.
Originalmente, não havia graduação
na capoeira.
O próprio Mestre Bimba, somente quando
considerava um aluno APTO, ou seja, realmente
sabedor do que lhe fora ensinado, é que o
considerava formado, e, seguindo uma tradição,
dava-lhe um lenço de seda azul que deveria ser
usado amarrado ao pescoço sempre, e somente,
quando o capoeirista ia para a roda jogar.
Atualmente, a graduação é usada para distinguir as várias
fases do aprendizado do aluno, sendo que cada grupo ou
associação adota o critério e as cores que mais lhe
convierem, seguindo suas preferências em fitas, cordéis,
cordas, faixas ou lenços de seda em conformidade com o
sistema de cores da Bandeira Nacional, das religiões
Afro, do Candomblé, dos elementos da natureza (fauna,
flora, etc.).
Hoje existem diferenças inclusive na nomeação da
graduação - onde alguns chamam de CORDA e alguns de
CORDÃO. A Confederação Brasileira de Capoeira
instituiu uma graduação oficial, que é seguida pela grande
maioria dos grupos.
1970/1980 - O esporte entra na moda
A cidade do Rio de Janeiro vence por três anos consecutivos
o concurso nacional Berimbau de Ouro - sendo a
detentora do Troféu -, e os capoeiristas cariocas passam a ser
considerados os melhores capoeiristas do Brasil.
Com isso, a capoeira ganha
prestígio nacional e internacional e passa a exportar
seus talentosos esportistas.
Vídeo:
Association Vamos Capoeira Paris
Associação que oferece cursos em Paris e espetáculos
para crianças, adolescentes e adultos, ensinando a
capoeira para todas as faixas etárias.
Fonte: Capoeira em Paris. Disponível em: http://www.capoeira-paris.net
1983/2009 - O esporte ganha o mundo
Espalha-se a notícia de que a Capoeira é praticada em mais
de 160 países. Consequentemente, ela leva mundo a fora
seus modos e costumes e hábitos dos brasileiros.
A Nike, líder mundial em artigos esportivos,
manifesta-se criando uma marca de roupas chamada "Ginga"
A Coleção da Nike, chamada"Ginga", foi desenvolvida
pelo estilista Jum Nakao usando elementos brasileiros
inspirados na capoeira e no futebol.
Fonte: http://voltadomundo.com/capoeira/moda/capoeira-na-moda
A capoeira teve maior destaque em Hollywood
quando Halle Berry, a protagonista do filme “Mulher
Gato”, deu diversas declarações para a imprensa
americana elogiando a técnica de luta brasileira que
foi utilizada por ela no filme.
O responsável pelo treinamento da atriz para o filme
foi o brasileiro Beto Simas, conhecido como mestre
Boneco.
Trecho do Filme: "Cat Woman" (JeanChristophe Comar "Pitof", 2004)
2010 / 2016 - Capoeira Patrimônio
da Humanidade
Conquistas: Gilberto Gil, ainda no cargo de Ministro da
Cultura, cria Leis a favor do esporte e dos Mestres, definindo,
em parceria com o IPHAN, a Capoeira como Patrimônio
da Humanidade.
Gil entende esta atitude como uma “reparação histórica
à manifestação dos africanos escravizados no Brasil”
(idem). Ainda segundo ele, “A capoeira deixa entrever
em cada gesto o jogo de lendas e histórias heroicas do
martírio do povo negro no Brasil”. (VASSALLO, s/d).
Ele acrescenta:
“Dizem que a capoeira
engravidou em Angola, mas foi nascer no Brasil.
Ninguém sabe ao certo sua história. Mas parece
mesmo que é uma criação bem brasileira a partir de
elementos africanos, como o samba”. (VASSALLO,
s/d).
Portanto, para Gil, apesar da forte origem africana, a
capoeira é brasileira.
Fonte: http://clotildetavares.files.wordpress.com/2009/10/rio-olimpiada-2016.jpg
2016 - Rumo às Olimpíadas!
É anunciada, oficialmente, a participação da Capoeira na
forma de apresentação nos Jogos Olímpicos de 2016.
Os estúdios de criação começam a ferver na busca dos
melhores modelos de uniformes que vão fazer parte
deste feito.
A história continua...
Funções dos Objetos de Aprendizagem
Mobilizadora: com eles pretende-se despertar a
curiosidade e interesse dos discentes para os conteúdos
cognitivos que vão constituir os objetivos da aula.
Informativa: tem como objetivo apresentar aos alunos,
de uma maneira indireta, elementos da realidade, que
não podem ser observados in loco.
Explicativa: é também desempenhada pelo objeto, quando o
usamos para explicar um processo, uma relação ou um
conceito.
Facilitadora: está quase sempre presente quando utilizamos
imagens juntamente com texto - as palavras funcionam como
complemento ou reforço da informação visual. Ilustram uma
mensagem já expressa pelo texto. Esta função permite um
reforço do simbolismo verbal do texto, facilitando a atenção e
a memorização.
Comprovadora: é também um dos papéis desempenhados
pelos objetos, permitindo comprovar, de uma maneira mais
concreta, a exposição de uma ideia, de um raciocínio, de um
relato, de um fato. Aquilo que se vê com os próprios olhos
tem muito mais força e valor do que aquilo que se ouve dizer
ou que apenas se leu.
Leitura de Imagens
(RUDOLF ARNHEIM, 1989)
Denotativa: o que se vê na imagem objetivamente: descrição
das situações, figuras, pessoas e ações em um espaço e tempo
determinados.
Conotativa: aquilo que a imagem sugere e/ou faz pensar o
leitor. São as apreciações do intérprete.
Objetivo das imagens: são importantes recursos para a
comunicação de ideias científicas.
Nas aulas documentadas, as imagens permitem aos
alunos: ler o texto ao redor. Atribuir dificuldade de
compreensão da imagem, sem a leitura dos textos anexos.
Atribuir importância e papel pedagógico à legenda. Realizar
uma leitura situada das imagens na página, em relação ao
texto ao redor.
A Arte de contar Histórias
Por que gostamos, desde sempre, de ouvir/ver/contar histórias?
- Experiência x Segurança.
- Identificação/não identificação (conscientização).
- Aprendizagem.
- Catarse.
O NARRAR...
Narrativa: sequência de fatos na qual os personagens se
movimentam num determinado espaço à medida que o
tempo passa.
Elementos: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo.
Objetivo dos vídeos/trechos de filmes
Análise da linguagem:
- Qual é a história?
- Quem conta essa história?
- Onde (local, cidade, país, etc) a história se passa?
- Quem são as personagens principais?
- Que relação existe entre as personagens?
- A personagem principal tem algum problema/questão a ser
resolvido(a)?
- É possível identificar profissão, gostos, medos das
personagens principais?
- A história da personagem nos é apresentada de que forma?
- Linear ou em blocos/fases?
- Em que época a história se passa?
- Qual é o sentimento que predomina em você depois de ver
este trecho?
Vídeo como sensibilização: um bom vídeo é interessantíssimo
para introduzir um novo assunto, para despertar a curiosidade, a
motivação para novos temas. Esse objeto facilitará o desejo de
pesquisa nos alunos para aprofundar o assunto do vídeo e da
matéria.
Antes da exibição:
Informar somente aspectos gerais do vídeo (autor, duração,
prêmios, etc.). Não interpretar antes da exibição, não pré-julgar
(para que cada um possa fazer a sua leitura).
Retomando o Problema:
Esportivização da Capoeira, a favor ou contra?
A Capoeira sempre foi polêmica e dialética!
É preciso entender como é que uma prática que foi perseguida,
e violentamente reprimida, durante todo o século XIX, passou a
ser aceita e admirada pela classe média, chegando a adquirir,
posteriormente, o reconhecimento oficial do seu valor como
"arte marcial brasileira“.
Atividade 2
Viajando na Linha do Tempo com a
Historicidade da Capoeira
Desenvolvimento:
- dividir a turma em cinco grupos;
- entregar um envelope a cada grupo com vários objetos de
aprendizagem.
Referências:
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de
Educação Física para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008a.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares de História
para a Educação Básica. Curitiba: SEED, 2008b.
ADORNO, C. A Arte da Capoeira. 6. ed. Goiânia: Kelps, 1999.
VASSALO, S. P. O registro da capoeira como Patrimônio Imaterial. Novos
desafios Simbólicos e Políticos. Artigo - Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro/ UERJ, s/d.
NOBERT, E. Sobre o Tempo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.
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Apresentação - Linha do Tempo