64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 SUCESSO REPRODUTIVO E VARIAÇÕES DE TRAÇOS FLORAIS EM UMA POPULAÇÃO DE Nicotiana alata (SOLANACEAE), NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL Suiane S. Oleques 1 1,* 1 e Rubem Samuel de Avila Jr. Universidade Federal do Pampa, campus São Gabriel, * [email protected] Introdução As variações em características florais são essenciais para verificar os efeitos da seleção natural em curtos períodos de tempo. Deste modo, alguns atributos florais podem se encontrar em constante processo seleção via agente polinizador [1]. Da mesma forma, a limitação polínica se apresenta como um fenômeno importante no processo de seleção [2]. O presente trabalho teve como objetivo responder as seguintes questões: i) Há sucesso reprodutivo diferencial em relação às variações do comprimento do tubo da corola na população de N. alata? ii) Há variação nas taxas reprodutivas ao longo da estação reprodutiva em N. alata? iii) A longevidade floral pode ser uma característica suscetível à seleção na população estudada? Metodologia O estudo foi realizado em uma população de N. alata localizada em uma área no município de São Gabriel (30° 20’ 41.23” S e 54° 20’ 10.53” O), Rio Grande do Sul, nos anos de 2011 e 2012. Nicotiana alata é uma espécie com ampla distribuição, considerada ruderal e com características típicas de plantas esfingófilas [3]. O comprimento da corola foi medido no ano de 2011 (n= 63 flores) e 2012 (n= 62 flores) e foi relacionado com número de sementes produzidas por fruto para 33 flores em 2012. A população foi acompanhada quinzenalmente do início da floração no mês de setembro até o mês de outubro. Determinaram-se quatro distintas fases em relação à intensidade da floração na população (I, II, III, IV) para as quais foram avaliados o sucesso reprodutivo (taxa de frutificação e produção de sementes) e ocorrência de limitação polínica. A longevidade floral foi acompanhada no ano de 2011 (n= 33 flores) e 2012 (n= 25 flores). No ano de 2012 avaliou-se a taxa de frutificação para cada período da abertura floral (1, 3, 5 e 7 dias). Resultados e Discussão Não houve correlação entre comprimento da corola e número de sementes (r = 0,31; p = 0,07). Porém, houve variação no tamanho médio da corola entre os anos de estudo, sendo maior no ano de 2011(74,75 mm ± 12,28) em relação a 2012 (63,94 mm ± 6,29) (t = 6,24; p < 0,0001). O aumento na frequência de flores com comprimentos intermediários (60 a 75 mm) na população em 2012 e maiores valores nas taxas de frutificação e produção de sementes nestes intervalos (100%,1078,9 ± 327,29) pode estar relacionado a uma estratégia mais generalista da espécie. Segundo Olesen & Jordano em latitudes maiores existe uma forte tendência a generalização dos sistemas de polinização [4]. As taxas reprodutivas foram distintas ao longo da floração, com valores maiores na fase inicial (100%, 1110,88 ± 378,18) em relação à fase final (73 %, 597,04 ± 459,03) (F= 8,22, p = 0,0002). A ocorrência de limitação polínica foi restrita as fases II e III de maior densidade de indivíduos (fase II t = 3,60, p = 0,0002, fase III t = 3,09, p = 0,0023). Este fato é um forte indício de que a espécie possa sofrer competição intraespecífica. A diminuição da taxa de frutificação na fase final indica que a população necessita de um número mínimo de indivíduos disponíveis para manter taxas reprodutivas adequadas. Isto pode corroborar com o efeito de Alle, porém neste caso em uma escala temporal. Observou-se decréscimo da longevidade floral entre os anos de estudo (de 9 para 7 dias). A longevidade mínima observada foi de sete dias, contrastando com a longevidade de três dias observada por Lyons & Mully [5]. Sabe-se que plantas com longevidade maior estão relacionadas a ambientes onde há menor probabilidade de visitas, sendo necessário aumentar o período de exposição para atingir taxas reprodutivas adequadas [6]. A taxa de frutificação variou 2 entre os distintos períodos de exposição das flores (χ = 15,88; p= 0,001). Neste sentido, assume-se que a longevidade pode ser uma característica suscetível à seleção em N. alata, podendo ter efeitos na otimização do sucesso reprodutivo. Conclusões Este estudo demonstra que fenômenos ecológicos que podem ser influenciados pela densidade populacional, como limitação polínica, ocorrência de Efeito de Allee e competição intraespecífica, podem ocorrer temporalmente. Além disso, ressalta o quanto distintas características ligadas ao sucesso reprodutivo, como comprimento do tubo da corola e longevidade floral, podem estar suscetíveis a variações em curtos períodos de tempo. Referências Bibliográficas [1] WILLIS, K. J. & McElwain, J. C. 2002. The evolution of plant. Oxford University Press, Oxford. [2] DARLING, E. S; BARRETT, S.C.H. 2011. Sit-and-wait pollination in the spring flowering woodland plant, Trillium grandiflorum. Journal of Pollination. Ecology. 5:81-85. [3] VIGNOLI-VIGNOLI-SILVA, M & MENTZ, L. A.2005. O gênero Nicotiana L. (Solanaceae) no Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia. 60 (2):151 – 173. [4] OLESEN, J.M. & JORDANO, P. 2002. Geographic patterns in plant- pollinator mutualistic networks. Ecology. 83: 2416- 2424, [5] LYONS, E.E. & MULLY, T. W. 1992. Density effects on flowering phenology and mating potential in Nicotiana alata. Oecologia. 91:93-100. [6] Ashman & SHOEN, D. J. 1994. How long should flowers live? Nature. 371(27):788-790.