Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre Tese de Doutorado Distribuição potencial e viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae), no sudeste do Brasil Diego Hoffmann Belo Horizonte 2011 Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Biológicas Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre Tese de Doutorado Distribuição potencial e viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae), no sudeste do Brasil Diego Hoffmann Tese apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, como pré-requisito do Programa de Pós-Graduação em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, para a obtenção do título de Doutor em Ecologia. Orientador: Prof. Dr. Rogério Parentoni Martins (Depto. de Biologia Geral, ICB, UFMG) Belo Horizonte, fevereiro de 2011 Hoffmann, Diego Distribuição potencial e viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae), no sudeste do Brasil / Diego Hoffmann. - - Belo Horizonte, 2011. 89 p.: Il. Tese (Doutorado) – Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre, Departamento de Biologia Geral – Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, 2011. 1. Distribuição potencial 2. Viabilidade de população 3. Status de conservação 4. Tyrannidae 5. Mudanças climáticas Bolsa: Financiamento: Apoio: i Dedico: “Á minha mãe pelo apoio e compreensão.” ii “Se fazer fosse tão fácil quanto saber o que seria bom fazer, as capelas seriam igrejas, e as choupanas dos pobres, palácios de príncipes.” Shakespeare iii Agradecimentos Depois de quatro anos de idas e vindas ao PERM, dezenas de papa-moscas anilhados e monitorados, inúmeros banhos de chuva, chegou o momento de agradecer a todos aqueles que de uma forma ou outra contribuíram para a realização deste trabalho. Ao professor Rogério Parentoni Martins pela amizade e pelo voto de confiança. Por ter aceito o desafio de me orientar fora de sua linha de pesquisa e ter viabilizado assim a continuação de meus estudos e a realização deste trabalho. Ao meu grande amigo Marcelo F. de Vasconcelos, pelo apoio e incentivo nas minhas idéias. Pelos cafezinhos e discussões sobre metodologias e distribuição de aves. Pela parceria nas idas a campo e pelas revisões dos meus escritos. Ao Everton Behr, Marilise Krugel e Daniel T. Gressler, meus grandes amigos sulistas. Pelo apoio, incentivo e por estarem sempre próximos mesmo estando longe. A todos os meus amigos ornitólogos mineiros, pela parceria. À Rita pela amizade, por me apoiar, por me ouvir nessa fase final de muita turbulência e stress. Sem você eu não teria conseguido chegar até aqui. À minha irmãzinha mineira Aline Costa, passamos por altos perrengues neste último ano, mas conseguimos superar todos os obstáculos, muito obrigado pelo apoio e pela sobrinha. Aos meus amigos do forró nos momentos de descontração, principalmente à Nayara. Aos amigos de república, Carlos e Rodrigo que agüentaram por várias madrugadas, eu andando e fazendo barulho no apartamento para preparar chimarrão. Quero agradecer ao meu irmão Douglas, que apesar da distância estamos mais próximos. iv Finalmente quero agradecer à minha mãe que foi também meu pai, pois o perdi com três anos de idade. Ela virou o mundo para me dar educação, sempre me dando liberdade para tomar minhas próprias decisões, muitas vezes contra sua vontade. Nunca vou esquecer essas palavras: “tu tens de tomar as tuas decisões, tu tens de saber o que é melhor pra ti...” Apesar da distância e da saudade, estou fazendo o que acho que é melhor pra mim. Obrigado pelo apoio e compreensão. Agradeço a todos que diretamente ou indiretamente tenham feito parte desta história, contribuindo positivamente ou até mesmo negativamente para o meu aprendizado e crescimento pessoal e profissional. Sem a ajuda de todos vocês, nada disso teria sido possível. Belo Horizonte, 18 de fevereiro de 2011. v Sumário RESUMO ...................................................................................................................................... 1 ABSTRACT .................................................................................................................................... 2 INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 3 OBJETIVOS ............................................................................................................................................................................................................... 7 ÁREA DE ESTUDOS............................................................................................................................................................................................... 8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................................................................................... 11 CAPÍTULO 1................................................................................................................................ 13 IMPACTOS POTENCIAIS DO USO DO SOLO E DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS (AVES, TYRANNIDAE), UMA AVE ENDÊMICA DAS MONTANHAS DO LESTE DO BRASIL .......................................... 13 RESUMO .................................................................................................................................................................................................................. 14 ABSTRACT .............................................................................................................................................................................................................. 15 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................................................ 16 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................................................................................................. 19 Locais de ocorrência da espécie ........................................................................................................................ 19 Conjunto de dados ambientais e cenários de mudanças climáticas .................................................................. 19 Modelagem da distribuição ............................................................................................................................... 20 Conjunto de dados de reservas e representação da espécie............................................................................. 22 RESULTADOS ........................................................................................................................................................................................................ 23 Distribuição atual ............................................................................................................................................... 24 Distribuição em cenários futuros ....................................................................................................................... 26 Cobertura pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) ........................................................... 28 DISCUSSÃO............................................................................................................................................................................................................. 32 Distribuição geográfica ...................................................................................................................................... 32 Distribuição geográfica em cenários futuros ..................................................................................................... 33 Cobertura pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação ....................................................................... 34 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................................................................................ 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................................................. 36 CAPÍTULO 2................................................................................................................................ 45 VIABILIDADE DA POPULAÇÃO E TAMANHO DE RESERVA PARA A CONSERVAÇÃO DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS (AVES, TYRANNIDAE) ...................................................................... 45 RESUMO .................................................................................................................................................................................................................. 46 ABSTRACT .............................................................................................................................................................................................................. 47 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................................................ 48 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................................................................................... 50 Área de Estudo .................................................................................................................................................. 50 História de vida e atributos de uma população de Polystictus superciliaris ...................................................... 51 Implementação do modelo APV e cenários futuros .......................................................................................... 53 Análise de Sensibilidade .................................................................................................................................... 57 RESULTADOS ........................................................................................................................................................................................................ 58 Probabilidade de persistência da população no PERM...................................................................................... 58 Análise de sensibilidade ..................................................................................................................................... 59 População mínima viável e área mínima de hábitat favorável .......................................................................... 60 Avaliação das estratégias de manejo ................................................................................................................. 61 DISCUSSÃO............................................................................................................................................................................................................. 62 Probabilidade de persistência da população no PERM e análise de sensibilidade ............................................ 62 Opções de manejo ............................................................................................................................................. 63 População mínima viável e área mínima de hábitat favorável .......................................................................... 64 vi Prioridades para pesquisas futuras.................................................................................................................... 65 CONCLUSÕES ........................................................................................................................................................................................................ 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................................................. 66 CAPÍTULO 3................................................................................................................................ 74 REAVALIAÇÃO DO STATUS DE CONSERVAÇÃO DE POLYSTICTUS SUPERCILIARIS (AVES, TYRANNIDAE), UMA AVE ENDÊMICA DAS MONTANHAS DO LESTE DO BRASIL .................................................................................................................................... 74 RESUMO .................................................................................................................................................................................................................. 75 ABSTRACT .............................................................................................................................................................................................................. 76 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................................................................ 77 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................................................................................... 78 Extensão de ocorrência e projeção futura ......................................................................................................... 78 Área com ambiente favorável............................................................................................................................ 78 Densidade da população local ........................................................................................................................... 78 Estimativa do tamanho populacional global ...................................................................................................... 79 Avaliação do status ............................................................................................................................................ 79 RESULTADOS ........................................................................................................................................................................................................ 79 DISCUSSÃO............................................................................................................................................................................................................. 82 Densidade da população ................................................................................................................................... 82 Status de conservação ....................................................................................................................................... 83 Avaliação de ameaças, habitat e tendências ..................................................................................................... 84 RECOMENDAÇÕES.............................................................................................................................................................................................. 85 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................................................................................................. 86 CONCLUSÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES ................................................................................... 89 vii Resumo O objetivo geral desta tese foi projetar a distribuição potencial de Polystictus superciliaris e os possíveis impactos das alterações climáticas sobre a sua viabilidade no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM) e o seu status de conservação. Para isso consideramos as hipóteses que: 1) existem áreas com condições favoráveis para a presença da espécie, fora de sua área de ocorrência conhecida na literatura; 2) o PERM apresenta área o suficiente para a manutenção de uma população mínima viável; e 3) a espécie está fora de perigo de ameaça. Esta tese é composta por três capítulos referentes a modelagens e projeções com base em informações obtidas da literatura e pelo monitoramento de uma população de P. superciliaris ao longo de quatro anos. O Capítulo 1 refere-se à modelagem de distribuição potencial de P. superciliaris e os possíveis impactos das alterações climáticas sobre sua extensão. Os principais resultados foram: a) a espécie apresenta uma área de distribuição 76,1% menor da conhecida na literatura; b) nos cenários futuros é previsto um deslocamento da área para sudoeste (em até 275 km) e para áreas mais elevadas (em 326 m); e c) as UCs protegem parcialmente a espécie (apenas 12% dos 44,2% necessários para a espécie ser considerada representada/protegida). No Capítulo 2, avaliou-se o tamanho do PERM para manutenção de uma população mínima viável de P. superciliaris e possíveis opções de manejo. O Parque apresenta condições para a manutenção de uma população próxima do mínimo necessário (450 a 750 ha de habitat favorável; e de 300 a 600 indivíduos), sendo a melhor opção de manejo o controle de queimadas. No Capítulo 3, reavaliado o status de conservação da espécie com base nas informações obtidas nos capítulos 1 e 2. Apesar de apresentar mesma probabilidade de estar ‘vulnerável’, recomendamos a manutenção da espécie em ‘quase ameaçada’, necessitando maiores informações sobre sua abundância ao longo de sua distribuição. No entanto, a espécie apresenta fortes tendências de estar ameaçada em um futuro próximo. Estes resultados evidenciaram que, apesar dos novos registros de ocorrência da espécie, estes devem ser vistos com cautela, pois a mesma apresenta fortes tendências à extinção em áreas muito fragmentadas e com área de habitat favorável menor que 450 ha, de modo que o seu status de conservação tende a se tornar ‘vulnerável’ em um futuro próximo. 1 Abstract The objective of this thesis was to assess the potential distribution of Polystictus superciliaris and the possible impacts of climate change, and to evaluate its viability in the Serra do Rola Moça State Park (PERM) and its conservation status. We consider the hypotheses that: 1) there is favorable area outside its known range in the literature, 2) the PERM has enough area to maintain a minimum viable population, and 3) the species is out of risk. This thesis is composed by three chapters based on models and projections with information obtained from literature and the monitoring of a population of P. superciliaris. Chapter 1 refers to the modeling of potential distribution of P. superciliaris and the possible impacts of climate change on its occurrence extent. The main results were: a) its distribution is 76,1% less than the known in literature; b) in the future scenarios is predicted the range shift to southwest (up to 275 km) and to highland (326 m); and c) the protected areas are partially represented by the species (12% of the 44,2% needed). In Chapter 2 I evaluated the size of PERM to maintain a minimum viable population of P. superciliaris and possible management options. The Park presents conditions for maintaining a population close to minimum (450 to 750 ha of suitable habitat and 300 to 600 individuals) and the best management option is the control of fires. In Chapter 3 I reevaluated the status of conservation, based on information obtained in Chapters 1 and 2. The species has the same probability of being ‘vulnerable’ or ‘near threatened’. I recommend maintaining the species in the ‘near threatened’ category, since more information is required about its abundance throughout its range. However, the species has strong tendencies to be threatened in future. These results evidenced that new records of occurrence should be viewed with caution. The species has strong tendencies to extinction in fragmented habitat and range with less than 450 ha, and its conservation status tends to become 'vulnerable' in the future. 2 Introdução O papa-moscas-de-costas-cinzentas, Polystictus superciliaris (Wied, 1831) é uma espécie de ave pertencente à família Tyrannidae. Foi descrita por Wied em 1831, com base em indivíduos coletados nos “Campos Geraes”, confins dos Estados de Minas Gerais e Bahia (American Museum of Natural History, EUA) (Figura 1). Figura 1. Síntipos de Polystictus superciliaris (Wied, 1831) coletados nos “Campos Geraes”, confins dos estados de Minas Gerais e Bahia e depositados no American Museum of Natural History (EUA). (Foto M. F. Vasconcelos). A espécie é considerada endêmica dos topos de montanha do leste do Brasil, sendo encontrado desde o Morro do Chapéu, no centro da Bahia, até a Serra da Bocaina, no norte de São Paulo (Vasconcelos et al. 2003; Vasconcelos & Rodrigues 2010) (Figura 2), ocorrendo. Ele ocorre em altitudes entre 900 e 1.950 m, onde habita os campos rupestres e campos de altitude (Sick 1997; Vasconcelos et al. 2003), formações inseridas nos biomas Cerrado e 3 Mata Atlântica, dois importantes “hotspots” de biodiversidade mundial (Mittermeier et al. 2004). Figura 2. Área de distribuição de P. superciliaris no leste do Brasil, com base na literatura (área hachurada) (Ridgely & Tudor 1994) e registros de ocorrência (estrelas), com representação em cinza das áreas acima de 1.000 m de altitude. A espécie é classificada como espécie ‘quase ameaçada’ de extinção (“near threatened”), conforme os critérios adotados pela International Union for Conservation of Nature (IUCN), devido a sua restrita área de distribuição e acentuada perda de habitat (BirdLife International 2008). Uma crescente pressão antrópica sobre esses ambientes é observada na porção sul da Cadeia do Espinhaço, principalmente devido a constantes 4 incêndios, mineração, conversão dos campos rupestres em pastagens e especulação imobiliária (Stattersfield et al. 1998; Vasconcelos et al. 2003). A carência de informações sobre a biologia e a distribuição da espécie dificulta o real conhecimento sobre o seu grau de ameaça e o planejamento de medidas para sua conservação e do ambiente que habita. Até o ano de 2005, informações sobre a espécie se restringiam principalmente a registros de distribuição e, apenas, um estudo abordando aspectos sobre sua biologia (Vasconcelos & Lombardi 1996). Devido à escassez de informações e possíveis tendências de declínio da população (BirdLife International 2008), realizamos novos estudos sobre a biologia e distribuição da espécie (Figura 3). Figura 3. Indivíduo de P. superciliaris registrado com material para construção de ninho durante seu monitoramento no PERM. (Foto D. Hoffmann). No Capítulo 1, projetou-se a distribuição potencial da espécie e avaliou-se os possíveis impactos das mudanças climáticas sobre sua área de ocorrência. No Capítulo 2, foi avaliada a viabilidade de uma população no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM), com a finalidade de determinar o tamanho mínimo de uma população viável e a área mínimia com habitat favorável requerida, bem como possíveis estratégias de manejo. No Capítulo 3, 5 foi reavaliado o status de conservação da espécie com base nas informações deste estudo e aquelas encontradas na literatura. Desta forma, os resultados aqui apresentados representam uma contribuição a um maior conhecimento da biologia e distribuição de P. superciliaris, com a finalidade de sua proteção e conservação. 6 Objetivos Objetivo geral Projetar a distribuição potencial de P. superciliaris e os possíveis impactos das alterações climáticas sobre a sua viabilidade no PERM e o seu status de conservação. Objetivos específicos • Comparar a distribuição potencial de P. superciliaris com a distribuição encontrada na literatura; • Avaliar os possíveis impactos das mudanças climáticas sobre a distribuição de P. superciliaris (tamanho de área e deslocamento em latitude e altitude); • Determinar a população mínima viável de P. superciliaris; • Determinar a área mínima com habitat favorável para a manutenção de uma população mínima viável da espécie; • Avaliar possíveis estratégias de manejo para a conservação da espécie; • Reavaliar o status de conservação da espécie; • Estimar o tamanho populacional da espécie ao longo de sua área de ocorrência. 7 Área de Estudos A área de estudos referente aos capítulos 1 e 3 consiste das montanhas do leste do Brasil (Figura 4, quadro menor). A coleta de dados para o capítulo 2 foi realizada no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM) (20°03’S, 44°00’W), porção sul da Cadeia do Espinhaço, localizado entre os municípios de Belo Horizonte, Nova Lima, Brumadinho e Ibirité, Minas Gerais, Brasil que, possui uma área de 3.942 ha (Figura 4). Figura 4. Mapa da Cadeia do Espinhaço (esquerda superior) onde está localizado o Parque Estadual da Serra do Rola Moça (estrela). As áreas em cinza correspondem a elevações acima de 1.000 m. Imagem de satélite (principal) com os limites do Parque (linhas azuis) e da área de estudos (linhas negras). 8 A região apresenta um clima do tipo mesotérmico (Cwb de Köpen) com um regime de precipitação bem definido, com verões chuvosos e invernos secos. A área recebe uma precipitação anual média de 1.735 mm, sendo a maior concentração entre os meses de novembro e março (INMET 2010). O PERM está situado em uma área de transição entre o Cerrado e a Mata Atlântica. A área estudada é composta predominantemente por campos ferruginosos, cujo substrato (canga) é rico em ferro. A cobertura vegetal varia conforme o grau de agregação do substrato. Quando a canga forma uma couraça ou laje, ela é denominada canga couraçada e apresenta uma cobertura vegetal com presença de plantas que têm suas raízes desenvolvidas principalmente em pequenas fendas das pedras e as gramíneas são praticamente inexistentes (Figura 5). Quando o substrato encontra-se fragmentado, tem-se a canga nodular, que é mais penetrável e sua cobertura vegetal é dominada por canelas-de-ema (Velloziaceae) e gramíneas, que propiciam a cobertura total do substrato (Rizzini 1979; Vincent 2004) (Figura 5). No local, além da vegetação característica, ocorrem pequenos capões com vegetação mais densa, formado por árvores de pequeno porte, arbustos e orquídeas. Figura 5. Área de estudo: canga couraçada (esquerda) e canga nodular (direita) com suas vegetações características. (Fotos D. Hoffmann). 9 Além de existirem poucos estudos específicos da fauna e flora dos campos ferruginosos (Jacobi & Carmo 2008; Jacobi et al. 2007; Viana & Lombardi 2007; Vincent et al. 2002) este ambiente se encontra sob grande pressão antrópica devido à expansão urbana, extração ilegal de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias), trânsito de veículos “offroad” e mineração (Vincent et al. 2002), de forma que a região é considerada de importância biológica especial no estado de Minas Gerais (Drummond et al. 2005). 10 Referências BirdLife International. 2008. Polystictus superciliaris. In: IUCN, editor. IUCN 2010 Red List of Threatened Species. Drummond, G. M., C. S. Martins, A. B. M. Machado, F. A. Sebaio, & Y. Antonini 2005. Biodiversidade em Minas Gerais - Um atlas para sua conservação. Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte. INMET. 2010. Instituto Nacional de Meteorologia - Parâmetros meteorológicos de Belo Horizonte. Jacobi, C. M., & F. F. Carmo. 2008. The contribution of ironstone outcrops to plant diversity in the Iron Quadrangel, a threatened Brazilian landscape. Ambio 37:324-326. Jacobi, C. M., F. F. Carmo, R. C. Vincent, & J. R. Stehmann. 2007. Plant communities on ironstone outcrops: a diverse and endangered Brazilian ecosystem. Biodiversity and Conservation 16:2785-2200. Mittermeier, R. A., P. R. Gil, M. Hoffmann, J. Pilgrim, J. Brooks, C. G. Mittermeier, J. Lamourux, & G. A. B. Fonseca 2004. Hotspots revisited: earth's biologically richest and most endangered terrestrial ecoregions. Cemex, Mexico City, México. Ridgely, R. S., & G. Tudor 1994. The Birds of South America, volume 2: the suboscine passerines. University of Texas Press, Austin. Rizzini, C. T. 1979. Tratado de fitogeografia do Brasil. HUCITEC, São Paulo. Sick, H. 1997. Ornitologia Brasileira. Nova Fronteira, Rio de Janeiro. Stattersfield, A. J., M. J. Crosby, A. J. Long, & D. Wege 1998. Endemic birds areas of the world: Priorities for biodiversity conservation. BirdLife International, Cambridge, U.K. 11 Vasconcelos, M. F., & J. A. Lombardi. 1996. Primeira descrição do ninho e do ovo de Polystictus superciliaris (Passeriformes: Tyrannidae) ocorrente na Serra do Curral, Minas Gerais. Ararajuba 4:114-116. Vasconcelos, M. F., M. Maldonado-Coelho, & D. R. C. Buzetti. 2003. Range extension for the Gray-backed Tachuri (Polystictus superciliaris) and the Pale-throated Serra-Finch (Embernagra longicauda) with the revision on their geographic distribution. Ornitología Neotropical 14:477-489. Vasconcelos, M. F., & M. Rodrigues. 2010. Patterns of geographic distribution and conservation of the open-habitat avifauna of southeastern Brazilian mountaintops (Campos rupestres and Campos de altitude). Papeis Avulsos de Zoologia (Sao Paulo) 50:1-29. Viana, P. L., & J. A. Lombardi. 2007. Florística e caracterização dos campos rupestres sobre canga na Serra da Calçada, Minas Gerais, Brasil. Rodriguésia 58:159-177. Vincent, R. C. 2004. Florística, fitosociologia e relações entre a vegetação e o solo em áreas de campos ferruginosos no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais. Page 145. USP, São Paulo. Vincent, R. C., C. M. Jacobi, & Y. Antonini. 2002. Diversidade na adversidade. Ciência Hoje 185:64-67. 12 Capítulo 1 Impactos potenciais do uso do solo e das mudanças climáticas sobre a distribuição geográfica de Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae), uma ave endêmica das montanhas do leste do Brasil 1 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris RESUMO O papa-moscas-de-costas-cinzentas (Polystictus superciliaris) é uma espécie quase ameaçada de extinção. Devido principalmente, à diminuição de seu habitat, causada pelo uso inadequado do solo, pois sua distribuição é limitada às áreas mais elevadas do leste do Brasil. Avaliou-se os impactos sobre sua distribuição (aumento ou diminuição, deslocamento em latitude e altitude), considerando possíveis efeitos ocasionados por meio do uso inadequado do solo e pelas mudanças climáticas. Para isso, foi modelada a sua distribuição atual e estimada a sobreposição entre a área prevista e os cenários de períodos futuros (2020, 2050, 2080). Também foi avaliada a eficiência do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) na conservação da espécie. A área de distribuição prevista por meio do modelo Maxent foi 76,1% menor daquela disponível na literatura e apresentou uma retração, tendo em vista os cenários futuros para 2020, 2050 e 2080. A retração da área de distribuição prevista para os períodos considerados variou de 22,5% a 77,3%. Observou-se um deslocamento do centro da distribuição para o sul (de 102,5 a 275,4 km) e para as áreas mais elevadas (de 1.102 a 1.428 m). Da área prevista, 20% (5.505 km²) encontram-se sob algum tipo de ocupação humana e o SNUC protege parcialmente a espécie, com apenas 12% de sua área, dos 44,2% esperados. A ocorrência de P. superciliaris foi prevista em 85% das UCs das quais se tem registro. Foram observadas seis possíveis barreiras geográficas para a dispersão e separação de possíveis populações isoladas. Tendo em vista estas perspectivas e dependente da capacidade de dispersão e adaptação, a espécie irá se tornar ameaçada no período de 2080. Desta, forma é de grande importância a proteção de seu habitat que contemple sua presença atualmente e nos períodos futuros. Palavras-chave: Deslocamento da distribuição, Maxent, status de conservação, unidades de conservação. 14 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris ABSTRACT The Gray-backed Tachuri (Polystictus superciliaris), is a near-threatened species mainly due to habitat loss caused by inappropriate land use. It is restricted to mountain tops of eastern Brazil. We evaluated the impact of climate change and land use on its range. We modeled the current distribution and estimate the overlap between its current and future range using Maxent. We also assessed the efficiency of the National Park System (SNUC) for the species protection. The actual range of P. superciliaris was 76,1% smaller than that described in literature. Our modeling indicated a decrease in future scenarios (2020, 2050 and 2080), ranging from 22,5% to 77,3%. We observed a shift in the distribution center to the southwest (from 102.5 to 275.4 km) and to high elevations (from 1,102 to 1,428 m). Of the actual range, 20% (5.505 km²) is under human occupation. The SNUC protect only 12% of its actual range, of 44,2% expected. The species was predicted to occur in 85% of the protect areas where it currently occurs. We found six potential geographical barriers for dispersal of P. superciliaris. If the species cannot disperse or adapt, it will become threatened in the future. For this reason the protection of habitat with P. superciliaris current presence and projected in future periods is of great importance. Keywords: Range shift, Maxent, conservation status, reserves. 15 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris INTRODUÇÃO Atualmente o planeta passa por inúmeras alterações climáticas, como aquecimento gradativo, invernos mais frios e derretimento das geleiras. Simulações atuais prevêem um aquecimento ainda maior durante o século XXI (IPCC 2007b). Assim, é provável que muitas espécies sofram mudanças drásticas em suas áreas de distribuição geográfica (IPCC 2007a). De fato, estudos recentes têm mostrado que várias espécies estão respondendo a essas mudanças e essa resposta tende a aumentar no futuro (e.g. Hughes 2000; Parmesan & Yohe 2003). Tem-se, como hipótese, que as mudanças climáticas passadas foram responsáveis por diversas extinções e modificações nas distribuições geográficas de várias espécies da flora e da fauna (e.g., Behling 2002; Bonaccorso et al. 2006; Haffer & Prance 2001; Servant et al. 1993). De maneira semelhante, prevê-se que, no futuro, essas mudanças também aumentarão a ameaça para algumas espécies, especialmente aquelas que vivem em altas latitudes e elevações (Millennium Ecosystem Assessment 2005). Os maiores impactos das mudanças climáticas são preditas para ocorrer nas altas cadeias de montanha, como por exemplo, nos Alpes (Beniston et al. 1997; Hughes 2000; Sérgio 2003). As espécies montanas são mais sensíveis ao clima e apresentam capacidade de ajuste de suas áreas limitadas pela diminuição na disponibilidade de superfície com o aumento da altitude. (Pauli et al. 2007; Rull & VegasVilarrúbia 2006; Thuiller et al. 2005). Desta forma, desenvolver práticas para medir quais e como as espécies são afetadas por estas modificações é essencial para prever efeitos e manejos potenciais para a biodiversidade (Jiguet et al. 2010). Vários algoritmos de modelagem têm sido implementados e utilizados para definir a relação entre a distribuição atual das espécies (com base em seus registros de ocorrência) e as variáveis climáticas atuais, baseando-se no princípio que essa relação reflita o nicho ecológico ou preferências ambientais que tenderiam a ser conservados (conforme Peterson et al. 1999). Estes modelos são utilizados para simular a distribuição potencial futura das 16 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris espécies e investigar possíveis impactos de alterações climáticas sobre as mesmas (Heikkinen et al. 2006; Thuiller et al. 2005; Virkkala et al. 2008). São utilizados, ainda, no planejamento de reservas, na predição de invasões biológicas e identificação de áreas de distribuição ainda desconhecidas (Broennimann & Guisan 2008; Guisan et al. 2006; Wilson et al. 2005). No entanto, poucos pesquisadores têm considerado os impactos potenciais das mudanças climáticas sobre a biodiversidade da Região Neotropical, com ênfase para as aves (e.g. Peterson et al. 2001; Pounds et al. 1999), especialmente no Brasil (Anciães & Peterson 2006; Marini et al. 2009a, b; Marini et al. 2009c; Nunes et al. 2007), país que apresenta uma alta diversidade e elevado número de espécies endêmicas e para onde se projeta, dentro de um século, um aumento de temperatura em até 3,5°C (16,4 %) e um pequeno aumento na precipitação de 2% (IPCC 2007a). As montanhas do leste do Brasil estão inseridas em dois importantes “hotspots” de biodiversidade mundial: os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado, uns dos mais ameaçados do planeta (Mittermeier et al. 1999; Silva & Bates 2002). As montanhas do leste brasileiro são consideradas como importantes centros de endemismo e de diversidade de plantas (Eiten 1992; Giulietti et al. 1997; Safford 1999) e de algumas espécies de aves (Stattersfield et al. 1998; Vasconcelos 2001, 2008; Vasconcelos et al. 2003; Vasconcelos & Rodrigues 2010). Dentre elas, cita-se o papa-moscas-de-costas-cinzentas, Polystictus superciliaris (Aves, Tyrannidae), que é encontrado desde o Morro do Chapéu, no centro da Bahia, até a Serra da Bocaina, no norte de São Paulo (Vasconcelos 2008; Vasconcelos et al. 2003). A espécie ocorre em campos rupestres e campos de altitude entre 900 e 1.950 m (Sick 1997; Vasconcelos et al. 2003). Polystictus superciliaris é classificada como ‘quase ameaçada’ de extinção (“near threatened”), conforme os critérios da International Union for Conservation of Nature (IUCN), devido a sua distribuição restrita e acentuada perda de habitat (BirdLife International 2004). A área de distribuição dessa espécie registrada na literatura segundo 17 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Ridgely & Tudor (1994) pode estar mascarando sua real distribuição, pois não inclui muitos locais onde ocorre, além de incluir muitas áreas onde as condições são desfavoráveis à sua ocorrência. Esta situação é devida à metodologia empregada pelos autores que consiste basicamente da união dos locais de registro, criando uma área de ocorrência. Além de muitas vezes incluir desvios de localização geográfica como no caso de P. superciliaris. Por este motivo, e também pela crescente pressão antrópica sobre seus habitat, a espécie pode estar sendo afetada negativamente (Stattersfield et al. 1998; Vasconcelos et al. 2003). O conhecimento dos impactos da perda de habitat e das mudanças climáticas sobre as espécies são essenciais para se entender como estas poderão persistir a longo prazo. No caso específico de espécies cujo tamanho de área de distribuição geográfica é reduzido, incluindo a maioria das endêmicas de topos de montanha, a perda de habitat é o principal fator influenciador de declínio de populações e de vulnerabilidade para extinção (e.g., Davies et al. 2009). Deste modo, é importante avaliar previamente a distribuição de espécies endêmicas, como é o caso de P. superciliaris, para as quais há pouca informação e que, por isso, podem vir a se tornar ameaçadas no futuro, já que esta abordagem é de grande importância para o delineamento de seus status de conservação (Anderson & Martínez-Meyer 2004; Hernandez et al. 2006) e para determinar seus níveis atuais de ameaça e proteção (Fuller et al. 2006). Estas avaliações também são importantes em regiões onde o desenvolvimento sócioeconômico ocorre rapidamente (Pressey et al. 2007), a exemplo do leste brasileiro, região na qual áreas naturais para conservação são limitadas. Neste contexto, tais procedimentos poderão contribuir para que a gestão e aplicação de recursos para a conservação, que geralmente são escassos, sejam aplicadas corretamente e com sucesso. Sob esta perspectiva, projetou-se a distribuição potencial atual e futura de P. superciliaris, para avaliar possíveis impactos das mudanças climáticas e encontrar novas 18 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris áreas com condições favoráveis para sua presença fora de sua distribuição conhecida e assim nortear a aplicação de recursos para sua conservação. Avaliou-se, também, o percentual da sua área de distribuição que se encontra protegida pelas unidades de conservação, para determinar a necessidade de investimentos em sua proteção e determinação de possíveis áreas para preservação. Pois é possível que a espécie não se encontre completamente protegida, por não ocorrer em muitas reservas que contemplem a proteção de largas extensões de seu habitat. Desta forma espera-se fornecer informações para a proteção de P. superciliaris e preservação de seu habitat, e assim evitar que este endemismo venha a figurar entre as espécies ameaçadas em um futuro próximo. MATERIAIS E MÉTODOS Locais de ocorrência da espécie Para determinar locais de ocorrência de P. superciliaris, foram utilizados registros de campo, além daqueles obtidos por revisão de literatura e de checagem de espécimes depositados em museus. Dos espécimes depositados em coleções, as coordenadas geográficas foram obtidas a partir dos locais de coleta mencionados em suas etiquetas originais, com base em Paynter e Traylor (1991) ou Vanzolini (1992) e ajustados para áreas com ambiente semelhante ao do ponto de coleta. Todos os registros com coordenadas geográficas foram plotados em uma grade com células de 30” (~0.833 x 0.833 km2), removendo-se os registros duplicados dentro de uma mesma célula. Foram utilizados 41 pontos de ocorrência de P. superciliaris espacialmente independentes. Conjunto de dados ambientais e cenários de mudanças climáticas Para as projeções de distribuição atual e futura foram utilizadas seis variáveis bioclimáticas de temperatura e precipitação (temperatura mínima do mês mais frio, 19 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris temperatura máxima do mês mais quente, temperatura média anual, precipitação anual, precipitação do mês mais seco e precipitação do mês mais chuvoso obtidos do conjunto de dados WorldClim (Hijmans et al. 2005); três variáveis topográficas (declive, aspecto e o índice topográfico composto obtidos da base de dados do US Geological Survey's Hydro1k base ‘http://eros.usgs.gov/’) e uma de solo obtida da base de dados FAO (1998). Todas as variáveis utilizadas para a modelagem de nicho atual e períodos futuros foram padronizadas à resolução de 30” (~0.833x0.833km2) e recortadas para o limite político do Brasil, área onde ocorre a espécie estudada. Para as projeções futuras, as mesmas variáveis foram utilizadas para cada período (2020, 2050 e 2080) considerando três modelos gerais de circulação de gases (GCMs): CCMA, HADCM3, CSIRO. Os GCMs representam processos físicos na atmosfera, nos oceanos e na superfície terrestre. Eles são considerados as ferramentas mais avançadas disponíveis atualmente para simular a resposta do sistema climático global ao aumento das concentrações dos gases de efeito estufa. As variáveis também foram usadas levando em conta dois cenários do relatório especial de emissão (SRES) do IPCC (2007b) (A2a e B2a) que refletem os impactos potenciais das diferentes possibilidades de mudanças demográficas, socioeconômicas e da evolução tecnológica na liberação de gases do efeito estufa. Modelagem da distribuição A distribuição potencial atual e futura de P. superciliaris foi modelada utilizando o programa Maxent versão 3.2.19, que estima a distribuição mais uniforme através da área de estudos com base em dados de presença, utilizando um algoritmo de máxima entropia. O programa foi rodado utilizando a configuração padrão. Uma descrição detalhada dos métodos do Maxent pode ser encontrada em Philips et. al. (2006). 20 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris A projeção de distribuição atual foi gerada utilizando 75% dos registros de ocorrência selecionados aleatoriamente e avaliado com os 25% restantes. Os modelos foram avaliados utilizando uma característica operacional relativa (ROC) e a área sob a curva (AUC) (Fielding & Bell 1997). A curva considera a taxa de omissão em relação à área fracional prevista. Modelos com valores AUC próximos a 1,0 podem ser considerados bons e conseguem predizer a presença de condições para a espécie melhor do que o acaso. Modelos com AUC próximos ou inferiores a 0,5 são considerados modelos não melhores do que o acaso. Os dados foram divididos desta forma cinco vezes, dos quais foi calculada a média de AUC, apresentando uma estimativa mais robusta do desempenho preditivo. Para a projeção da distribuição de P. superciliaris, em cada um dos três períodos futuros, obtiveram-se seis projeções (três GCMs x dois cenários SRES) e um consenso entre elas, maximizando a precisão e obtendo uma tendência central. Para a obtenção da área prevista da distribuição final foram utilizados todos os dados disponíveis. Para transformar a distribuição probabilística, atual e futura, em um mapa binário de presença/ausência, selecionou-se um valor limiar que englobasse todas as localidades (Pearson et al. 2007). Para isso, considerou-se a possibilidade de 5% de erro na previsão, pois, eventualmente, alguns registros poderiam representar indivíduos fora de seu nicho ótimo ou em áreas de transição. Todas as células abaixo do valor limiar foram fixadas em ‘0’ e mantidas as probabilidades de ocorrência das acima. A área foi calculada pela soma de todos os pixels que apresentaram probabilidade de condições médias maior que ‘0’ entre as seis projeções de presença e ausência. Por último, foram removidas das áreas previstas, por sobreposição, as terras já convertidas para a agricultura intensiva, áreas urbanas e corpos d’água, usando um mapa de cobertura do solo Eva et al. (2002). Para analisar a resposta de P. superciliaris às alterações climáticas em sua distribuição, cada projeção de distribuição (atual e períodos futuros) foi caracterizada por sua 21 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris área de extensão e ponto central (centróide de sua área de distribuição). A área de distribuição foi calculada somando-se todos os pixels acima do valor limiar. Para avaliar se houve deslocamento na área de distribuição foi calculada a distância entre os centros da área futura e atual, para cada período. Estimou-se, para cada período, a razão entre o tamanho da área futura e a atual, como medida de impacto potencial das mudanças climáticas. Esta medida pressupõe que a espécie seja capaz de se dispersar completamente de sua área atual para uma área prevista para o futuro, sem nenhum impedimento ambiental ou fisiológico (hipótese da dispersão total). Calculou-se, também, o percentual de sobreposição da área de distribuição de cada período futuro em relação ao atual. Essa medida assume que a espécie não seja capaz de se dispersar para novas áreas podendo ocupar apenas as áreas com condições atuais favoráveis e que sejam preditas no futuro como climaticamente favoráveis (hipótese da dispersão nula). Para avaliar se houve um deslocamento altitudinal, foi calculada a diferença entre a altitude média da área futura projetada de cada período e a projeção atual. Para isso, extraiuse a altitude para todos os pixels das áreas previstas, por sobreposição, usando um mapa de relevo obtido da base de dados do US Geological Survey's Hydro1k base (http://eros.usgs.gov/) , para o cálculo posterior de sua média. Conjunto de dados de reservas e representação da espécie Dados sobre a distribuição das áreas protegidas do Brasil foram obtidos a partir das bases disponíveis no ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e no IBAMA/CSR (Centro de Sensoriamento Remoto), órgãos ambientais do Brasil (http://www4.icmbio.gov.br). Este banco de dados é composto por cerca de 1.000 reservas federais, estaduais e municipais, implementadas até 2006 (equivalente às reservas categoria II da IUCN) (MMA 2006). Foram realizadas análises de lacunas, considerando a projeção da distribuição atual de P. superciliaris, além da projeção para os períodos futuros. Para cada 22 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris período foi realizada uma análise com todas as reservas de proteção integral. A distribuição prevista foi sobreposta à distribuição das reservas, sendo calculado o percentual da distribuição da espécie que se encontra em área protegida. Seguiu-se os métodos de Rodrigues et al. (2004) e Catullo et al. (2008) para identificação de um alvo de representação (Scott et al. 1993), dependendo da área com potencial de presença da espécie. Representação é a quantidade de área de distribuição de uma espécie incluída dentro de áreas protegidas, um parâmetro comumente utilizado em planos de conservação para avaliar a necessidade de proteção. As análises foram efeitas considerando as seguintes metas de representação: i) espécie com distribuição restrita (área de presença potencial menor do que 1.000 km2), que deve ter 100% de sua área de distribuição potencial protegida; ii) espécie difundida (área de presença potencial maior de 250.000 km2), que deve ter 10% de sua área de distribuição potencial protegida; iii) espécie com área de presença potencial superior a 1.000 km2 e inferior a 250.000 km2 devem ter um alvo de representação que é obtido pela interpolação entre os dois extremos, utilizando uma regressão linear da área log-transformada da presença potencial (Rodrigues et al. 2004). Uma lacuna total ocorre quando uma espécie não está representada em nenhuma reserva, uma lacuna parcial ocorre quando uma espécie tem a representação apenas parcialmente atendida, e a espécie é considerada coberta quando o alvo de representação é totalmente atendido (Catullo et al. 2008). A representação com a mudança climática para cada período foi avaliada para dois cenários extremos (com dispersão e sem dispersão). RESULTADOS A precisão do modelo de distribuição na predição da presença de condições favoráveis para a presença de P. superciliaris foi melhor que o acaso. A média de AUC, com base nos dados de teste dos cinco modelos gerados, foi de 0,993 ± 0,007. 23 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Distribuição atual A distribuição atual predita de P. superciliaris, com condições favoráveis foi de 30.745 km2 (Figura 1.1). Essa distribuição é 76,1% menor do que a apresentada na literatura (129.012 km2) (Ridgely & Tudor 1994) (Figura 1.2a). Quando extraída da distribuição atual predita, a área convertida pela agricultura intensiva, áreas urbanas e corpos da água (5.505 km2), a área com vegetação natural disponível para a espécie seria, atualmente, de 25.240 km2. 6 5 4 3 7 2 1 Figura 1.1. Distribuição atual prevista do papa-moscas-decostas-cinzentas (Polystictus superciliaris). A escala de cores representa a probabilidade de condições favoráveis dentro de cada pixel acima do valor limiar de sensitividadeespecificidade, da mais baixa (cor azul) para a mais alta (cor vermelha). As áreas em branco são abaixo do limiar de condições favoráveis. As linhas azuis representam possíveis barreiras geográficas para o deslocamento da espécie e possíveis divisoras de populações (os números). 24 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Atual a) 2020 b) 2050 c) 2080 d) Figura 1.2. a) Área de distribuição de Polystictus superciliaris (área hachurada), segundo Ridgely & Tudor (1994) e distribuição real com base em revisão bibliográfica, exemplares de museus e trabalhos de campo (pontos); altitudes acima de 1.000 m estão representadas em cinza; b-d) área com condições favoráveis constantes (atual e períodos futuros) para a presença de P. superciliaris (verde), área com potencial para ocupação/dispersão no futuro e sem condições atualmente (azul), área atual com possibilidade de perda de condições favoráveis (vermelho) nos períodos futuros (2020, 2050 e 2080 respectivamente) e deslocamento do centro de distribuição em relação à distribuição atual (linhas negras). 25 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Distribuição em cenários futuros A área de distribuição de P. superciliaris apresentou uma expressiva contração com relação à área com condições favoráveis, restando para o período de 2080, cerca de um quinto da extensão atual sob a hipótese da dispersão nula (Figura 1.2b-d). Se esta tendência realmente ocorrer, a espécie será incluída na categoria vulnerável segundo o critério B1 (<20,000 km2) of International Union for Conservation of Nature (IUCN et al. 2008). Considerando-se a hipótese da dispersão total, a diminuição na área de distribuição atual para o período de 2080 foi de 64,7% (Tabela 1.1). Na hipótese da dispersão nula, essa diminuição foi de 77,3%. O deslocamento do centro das áreas de distribuição para os períodos futuros apresentou aumento gradativo até o período de 2080. Ele foi 275,4 km sob a hipótese da dispersão total e de 250,7 km, considerando a hipótese da dispersão nula. Além disso, observou-se deslocamento altitudinal médio de 325,5 m e 275,1 m, considerando-se as duas hipóteses, respectivamente (Tabela 1.1). Para todos os períodos futuros, o centro de distribuição apresentou um deslocamento para sudoeste (Figura 1.2 b-d). 26 27 4178 3937 851 5505 3268 2589 649 2020 22,247 2050 23,837 2080 10,837 Atual 30,745 2020 19,036 2050 15,537 6,986 2080 5505 68.3 55.3 52.0 44.2 61.2 48.3 49.4 44.2 64.8 22.5 27.6 * 17.0 15.5 13.8 11.7 77.3 49.5 38.1 * Sem Dispersão 17.0 13.8 13.1 11.7 Com Dispersão 251 170 103 * 275 216 138 * 275 136 110 * 326 186 126 * Sudoeste Sudoeste Sudoeste * Sudoeste Sudoeste Sudoeste * Área utilizada Área Área protegida Deslocamento dentro da Perda de Deslocamento Direção do do centróide da protegida em todas as distribuição área (%) altitudinal (m) deslocamento área (km) esperada (%) reservas (%) (km²) Atual 30,745 Área Estimada (km²) Tabela 1.1. Estimativa da área de distribuição de P. superciliaris para a atualidade e períodos futuros; área predita que se encontra impactada; nível de proteção esperada e efetivada em UCs; variação na extensão e perda de área, direção e deslocamento do centróide da área, e deslocamento altitudinal nos períodos futuros em relação à atualidade, sob as hipóteses de dispersão total e nula. Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Cobertura pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) A área predita com condições favoráveis para a presença de P. superciliaris, atinge de 27 a 42 Unidades de Conservação (UC) (cenário atual e cenários futuros). Essas UC protegem uma área total que vai de 7.248 a 9.635 km2, de acordo com o cenário específico (Tabela 1.2). Desta área protegida pelas reservas, apenas 49% apresenta ambiente com condições favoráveis para a presença de P. superciliaris (Tabela 1.2) e representa apenas 11,7% da área de distribuição predita para a atualidade, quando para a espécie ser considerada protegida teria de representar pelo menos 44,2% (Tabela 1.1). O percentual da área de distribuição predita, representada nas UC para a espécie ser considerada protegida aumenta gradativamente nos períodos futuros. Ou seja, ocorre uma diminuição da área de distribuição total prevista e conseqüentemente o aumento da necessidade de representação para até 61,2 e 68,3%, considerando a hipótese da dispersão total e nula, respectivamente (Tabela 1.2). Tabela 1.2. Número de Unidades de Conservação com alta adequação para a presença de P. superciliaris atualmente e períodos futuros, considerando a variação na extensão da área; área total das UCs e percentual de área nelas representadas. Atual N° UCs UCs cuja a área diminuiu UCs cuja a área aumentou UCs que perderam adequação UCs adicionadas UCs que a área ficou constante Area das UCs (km2) % de área adequada nas UCs Área representada nas UCs (km2) 27 0 0 0 0 0 7.248 49% 3.5866 Com Dispersão 2020 2050 2080 30 42 30 16 16 10 5 7 7 1 2 8 4 17 11 5 2 2 7.558 9.635 7.494 39% 34% 25% 2.9245 3.2910 1.838 Sem Dispersão 2020 2050 2080 26 25 19 16 16 10 5 7 7 1 2 8 0 0 0 5 2 2 7.230 6.828 5.216 26% 24% 12% 2.628 2.402 1.187 Da mesma forma, nos períodos futuros, observou-se a perda de condições favoráveis em até 8 UC’s, considerando a hipótese da dispersão nula e o acréscimo de até 17 novas UC’s, considerando a hipótese da dispersão total (Tabela 1.2). Das UC’s que apresentam 28 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris condições favoráveis atualmente (27), 19 mantiveram, pelo menos em parte, condições favoráveis em todos os cenários futuros (Tabela 1.3). Das 13 UC’s previstas pelo modelo que apresentam registros de ocorrência para a espécie, 12 mantiveram, em parte, condições para todos os períodos futuros (Tabela 1.3). A maioria das reservas apresentou uma retração em suas áreas de ocorrência potencial para a espécie em relação ao cenário atual, sendo as mais afetadas, nos cenários futuros, aquelas localizadas no norte do estado de Minas Gerais e na Bahia, como é o caso do Parque Estadual do Morro do Chapéu (BA), Parque Estadual Biribiri e Parque Nacional das Sempre-Vivas (MG) que apresentaram a extinção de condições para o período de 2080 (Tabela 1.3). 29 Tabela 1.3. Unidades de conservação preditas com condições favoráveis para a presença de Polystictus superciliaris na atualidade e períodos futuros UF Bioma Area (km²) Atual 2020 2050 2080 1 2 Unidade de Conservação Município EE Córrego dos Fechos MG Nova Lima Ce/Ma 4.7 x x x x - EE Cercadinho MG Belo Horizonte Ce/Ma 1.9 x x x - x EE de Bananal SP Bananal Ma 7.9 x x x x - x EE Tripuí MG Ouro Preto Ce/Ma 3.9 x x x x - MN da Serra da Piedade MG Sabará, Caeté Ce/Ma 16.8 x x x x x PE Biribiri MG Diamantina Ce 148.4 x x x - x PE Campos do Jordão SP Campos do Jordão Ma 71.5 x x x x - PE das Furnas do Bom Jesus SP Pedregulho Ce 18.6 x - PE de Pedra Azul ES Domingos Martins Ma 8.4 x - x PE de Forno Grande ES Castelo Ma 6.9 x x - x PE do Desengano RJ Campos de Goytacazes, Sta.Ma. Madalena, S. Ma 187.0 x - x Fidélis PE do Itambé MG Santo Antônio do Itambé, Serro Ce/Ma 55.8 x x x x x PE do Pico Marumbi PR Morretes Ma 21.4 x x - PE dos Três Picos RJ Cachoeiras de Macacu, Teresópolis Ma 406.2 x x - x PE Grão-Mogol MG Grão Mogol Ca/Ce 295.0 x x x - x PE Ibitipoca MG Lima Duarte, Santa Rita Ce/Ma 13.2 x x x x PE Itacolomi MG Mariana e Ouro Preto Ce/Ma 65.1 x x x x x PE Mananciais de Campos do SP Campos do Jordão Ma 182.6 x x x - Jordão PE Morro do Chapéu BA Morro do Chapéu Ca 401.8 x x x PE Rio Pardo MG Rio Pardo de Minas Ca/Ce/Ma 106.7 x x x - PE Rio Preto MG São Gonçalo do Rio Preto Ce 104.0 x x x x x PE Serra do Brigadeiro MG Araponga, Divino, Ervália, Fervedouro Ce/Ma 130.2 x x x - x PE Serra do Mar - N. Cunha- SP Cunha Ma 66.2 x - Indaiá Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris 30 - x x x x x x x x x - x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x - x x x x x x x - x x x x - - 31 - x x - - - - - x x x x x x x x x - PNM Brejo Grande MG Paraisópolis Ma 2.1 x x x PNM Ecológico M. Sagui da MG Manhumirim Ma 3.8 x Serra PNM Mangabeiras MG Belo Horizonte Ce/Ma 2.1 x x x PNM Ribeirão do Campo MG Conceição do Mato Dentro Ce/Ma 26.5 x x x x RB de Araras RJ Petrópolis, Miguel Pereira Ma 18.7 x x RB Serra dos Toledos MG Itajubá Ma 9.4 x x x x RB Serra Pedra do Coração MG Caldas Ma 0.1 x x x x Legenda: Bioma, Am = Amazônia, Ca = Caatinga, Ce = Cerrado e Ma = Mata Atlântica; 1 = Vasconcelos, 2009; 2 = Áreas com fitofisionomias 952.1 200.7 34.8 119.3 1,246.7 862.2 1,711.1 272.1 92.0 1,058.1 247.6 274.9 143.9 Area (km²) Atual 2020 2050 2080 1 2 453.2 x x - - - - Am Ma Ce/Ma Ce/Ma Ca/Ce/Ma Ma Ce/Ma Ce/Ma Ma Ce Ma Ma Ma Bioma Ma x RR PN do Monte Roraima Uiramutã Baependi, Aiuruoca, Itamonte Belo Horizonte Itamarandiba Mucugê, Andaraí, Lençóis, Palmeiras, Ibicoara Parati, Angra dos Reis, Ubatuba São Roque de Minas, Delfinópolis Jaboticatubas, Morro do Pilar Petrópolis, Guapimirim, Magé, Teresópolis Bocaiúva, Olhos-D'água, Diamantina, Buenópolis Itatiaia, Resende, Bocaina de Minas, Itamonte Ibitirama, Alto Caparaó MG MG MG BA SP-RJ MG MG RJ MG RJ-MG ES-MG PE Serra do Papagaio PE Serra do Rola Moça PE Serra Negra PN da Chapada Diamantina PN da Serra da Bocaina PN da Serra da Canastra PN da Serra do Cipó PN da Serra dos Órgãos PN das Sempre-Vivas PN de Itatiaia PN do Caparaó Município Ubatuba Natividade da Serra, S. Luís do Paraitinga, Cunha UF SP PE Serra do Mar - N. Santa SP Virgínia Unidade de Conservação PE Serra do Mar - N. Picinguaba Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris DISCUSSÃO Distribuição geográfica A distribuição atual prevista de P. superciliaris se mostrou 75% menor do que a apresentada na literatura (Ridgely & Tudor 1994) (Figura 1.2a). Esta diferença pode estar relacionada à metodologia empregada por estes autores, que não é bem detalhada, mas que é semelhante à metodologia do mínimo polígono convexo (Odum & Kuenzler 1955), que consiste na união de todos os pontos de ocorrência em um polígono, não levando em consideração as preferências de habitat das espécies. Desta forma, muitas áreas com condições desfavoráveis podem ser consideradas como favoráveis. As duas áreas disjuntas apresentadas na Figura 1.2a (hachuradas) poderiam ser explicadas porque na época da delimitação da distribuição da espécie havia dois conjuntos de pontos afastados, sugerindo duas populações disjuntas. Levantamentos, recentes, no entanto, demonstram que a espécie se distribuiu ao longo de toda a Cadeia do Espinhaço, desde sua porção meridional (Quadrilátero Ferrífero) até sua porção mais setentrional, conhecida como Chapada Diamantina e também na Serra da Canastra a oeste e parte da Serra da Mantiqueira e Serra do Mar ao sul (Vasconcelos 2008; Vasconcelos & D'Angelo Neto 2007; Vasconcelos et al. 2003; Vasconcelos & Rodrigues 2010). A distribuição atual prevista revela que realmente podem existir, algumas populações isoladas em regiões serranas (Figura 1.1) como Serra do Mar (1), isolada da Serra da Mantiqueira (2) pelo Vale do Paraíba do Sul, que é isolado do Espinhaço Meridional (3), isolado do Espinhaço Central (4) por uma barreira recentemente evidenciada em um estudo filogeográfico (Costa et al. 2010) e por sua vez é isolada do Norte de Minas Gerais (5). A presença de áreas no sul do estado da Bahia, representadas por baixadas e chapadas de formação geológica mais recente, que apresenta características fitofisionômicas distintas dos campos rupestres, isola a Chapada Diamantina (6) do Norte de Minas Gerais. Esta região que 32 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris pode servir como uma barreira natural à dispersão da espécie já foi postulada como a possível barreira que provavelmente levou à vicariância de dois grupos de espécies de aves na Cadeia do Espinhaço: os beija-flores Augastes lumachella e A. scutatus, e os tapaculos Scytalopus diamantinensis e S. petrophilus (Vasconcelos 2009; Whitney et al. 2010). Porém, na ausência de estudos filogeográficos e de informações sobre a capacidade de dispersão e transposição de áreas desfavoráveis por parte de P. superciliaris, não se pode afirmar se há ou não interrupção do fluxo gênico nestas regiões para esta espécie. Desta forma, estudos de fluxo gênico entre estas populações são ainda necessários para se testar estas hipóteses. Outra possível população isolada ocorre na região da Serra da Canastra (7), oeste de Minas Gerais. Distribuição geográfica em cenários futuros As alterações climáticas poderão ser um importante fator propulsor da redução da área de distribuição da espécie. Mesmo que venha a cessar a conversão da vegetação natural em plantações, pastagens e mineração, que são responsáveis pela perda de aproximadamente 1/5 da área atual, está prevista uma diminuição de 38,1-77,3% da área de distribuição atual da espécie. O centro da distribuição de P. superciliaris apresentou um deslocamento latitudinal gradativo em direção sudoeste. Da mesma forma, apresentou um deslocamento altitudinal . Os resultados mostram que esta espécie, endêmica de áreas elevadas, respondeu de forma semelhante a outras espécies montanas (e.g., Bussche et al. 2008; Popy et al. 2010), tendendo a ocupar áreas mais altas e a se deslocar para latitudes mais elevadas, de acordo com o aumento da temperatura. Parmesan & Yohe (2003) consideraram que cada quilômetro de deslocamento latitudinal da área de distribuição seria equivalente ao deslocamento de um metro em altitude. Em parte, a modelagem de distribuição de P. superciliaris apresentou esse padrão ou esteve próxima a ele. 33 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Marini et al. (2009a), em uma análise de lacunas, encontraram, para P. superciliaris, uma área maior para a distribuição atual (55.000 km2) em relação à observada no presente trabalho. Esta diferença pode estar relacionada ao fato de Marini et al. (2009a) terem utilizado um número maior de algoritmos e pode estar refletindo a diferença na resolução (de ~4,5 x 4,5 km2, em relação a ~1 x 1 km2), englobando, assim, áreas consideradas desfavoráveis na presente análise. Caso a diferença seja devido à resolução, ressalta-se a importância de um refinamento da análises, principalmente no caso de espécies com distribuição restrita, tais como as endêmicas de topos de montanha, para não se superestimar suas áreas, levando-se em consideração a disponibilidade de bases de dados, com informações mais refinadas. Desconsiderando as diferenças metodológicas, é evidente a diminuição da área de P. superciliaris para os períodos futuros em ambos estudos. A resposta futura da espécie às alterações climáticas dependerá da disponibilidade de ambientes com vegetação arbustiva onde a mesma se alimenta e nidifica (Hoffmann et al. 2007; Vasconcelos & Lombardi 1996) e/ou da sua capacidade de adaptação às novas condições ambientais. Cobertura pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação De todas as UC’s onde P. superciliaris foi registrado até o momento (n=14) (Vasconcelos 2009), 85% (n=12) foram previstas pelo modelo. Outras 15 UCs foram previstas com condições favoráveis na atualidade e em períodos futuros e, aparentemente, apresentam características fitofisionômicas atuais favoráveis para sua presença (M. F. Vasconcelos com. pess.) (Tabela 1.3). No entanto, a espécie ainda não foi registrada nesses locais em virtude da falta de pesquisas, ou, ainda, devido à incapacidade de colonização dessas áreas pela espécie. Atualmente, a espécie é encontrada em UC’s com mais de 1.000 km2, como é o caso dos Parques Nacionais da Serra da Canastra e da Chapada Diamantina (1.711 km2 e 1.246 km2, respectivamente), até UC’s pequenas, com menos de 20 km2, como é o caso do Parque 34 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris Estadual do Ibitipoca e do Monumento Natural da Serra da Piedade (13 km2 e 16 km2, respectivamente). Contudo, os parques pequenos podem não ter extensão o suficiente para manter o habitat favorável à manutenção de uma população viável. Desconsiderando o tamanho da UC, a espécie aparenta ser menos abundante no Norte de sua distribuição (M. F. Vasconcelos, com. Pess.), o que incluiu a Chapada Diamantina, aumentando a sua abundância em direção ao Sul. Desta forma, uma das maiores UC’s com distribuição prevista, apresenta uma baixa eficiência para a conservação da espécie. A representação da espécie nas UC’s é apenas 1/4 do esperado para a atualidade e tende a diminuir gradativamente nos cenários futuros devido à diminuição de sua área de distribuição. A diminuição na representação de P. superciliaris em relação ao esperado indica que as UC’s que hoje abrigam habitat adequado, sob cenários de alterações ambientais no futuro vêm a se tornar ineficientes e insuficientes para a conservação da espécie. CONCLUSÕES A aplicação das técnicas de modelagem de distribuição mostraram-se uma importante ferramenta para se compreender diversos aspectos sobre a distribuição atual e futura de P. superciliaris, proporcionando a obtenção de informações importantes para reavaliar o seu status de conservação e prover idéias para possíveis planos de conservação, bem como subsidiar questionamentos de grande importância sobre a espécie, ainda a serem investigados. Um exemplo seriam as possíveis barreiras geográficas como isolamento de populações, relacionadas ou não à sua capacidade de dispersão visando evidenciar a possibilidade de ocupação de novas áreas no futuro. A capacidade de transpor as possíveis barreiras observadas é um importante indício da possibilidade de persistência da espécie perante as possíveis alterações climáticas, como simuladas, vindo a colonizar novas áreas. Com relação a programas de translocação e reintrodução de espécies da família Tyrannidae de pequeno porte e exclusivamente insetívoras, não se tem relato, muito menos 35 Capítulo 1: Distribuição potencial de Polystictus superciliaris de sua viabilidade. Entretanto, sugere-se que este procedimento seja evitado, concentrando esforços no controle de emissão de gases do efeito estufa, diminuição e utilização ordenada do solo, investimento no planejamento e criação de novas UC’s, contemplando cenários atuais e futuros. Por fim, mas não menos importante, sugere-se o investimento em pesquisas sobre a ecologia de base desta e de outras espécies que são praticamente desconhecidas na Região Neotropical. Essas informações são essenciais para a conservação de P. superciliaris como de toda a biota altimontana do leste brasileiro. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anciães, M., & A. T. Peterson. 2006. Climate change efects on Neotropical manakin diversity based on ecological niche modeling. 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Para identificar possíveis estratégias de manejo e lacunas de informação, foi realizada a Análise de Viabilidade de População (AVP) usando o programa Vortex. Avaliamos a viabilidade da espécie no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM), sob diferentes cenários de alterações ambientais e opções de manejo. O tamanho da população mínima viável varia de 5.500 a 9.800 indivíduos, necessitando de uma área de habitat favorável de 21.070 a 23.650 ha. A opção de manejo mais adequada em áreas menores de 21.070 ha é o controle de queimada. O PERM não apresenta área de ambiente favorável o suficiente para a manutenção de uma população viável em isolamento. Sua capacidade suporte é de apenas 458 indivíduos. A implementação de um controle de queimadas eficiente, pode aumentar a probabilidade de persistência da espécie de 15,2% para 27,8% a população pode se tornar viável. Se considerarmos o efeito das alterações climáticas sobre a área de ocupação da espécie, para os cenários de 2050 e 2080 a probabilidade de persistência cai para 5 e 1% respectivamente. Para o cenário de 2020 há pouca diferença em relação ao cenário básico. Palavras-chave: Espécie endêmica, AVP, Vortex, tamanho de reserva, opção de manejo. 46 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris ABSTRACT The Gray-backed Tachuri (Polystictus superciliaris) is a near-threatened species mainly due to habitat loss. It is restricted to the mountain tops of eastern Brazil. Projections indicate a decrease in its occurrence range due to climate change. To identify possible management strategies and information gap we conducted a Population Viability Analysis (PVA) using the program Vortex. We assess the viability of the species at the Serra do Rola Moça State Park (PERM), under different scenarios of environmental change and management options. The minimum viable population size estimate, ranges from 5.500 to 9.800 individuals, requiring an area of suitable habitat from 21.070 to 23.650 ha. The most appropriate management option in areas smaller than 21.070 hectares is the fire control. PERM has no enough range of favorable environment to maintain a viable population in isolation. Its carrying capacity is estimated in only 458 individuals. The implementation of an efficient fire management may increase the species persistence of 15.2% to 27.8%. Then the population can become viable. If we consider the effect of climate change on the range occupied by the species, for the scenarios of 2050 and 2080 the probability of persistence falls to 5 and 1% respectively. For the 2020 scenario there is little difference from the basic scenario. Keywords: Endemic species, PVA, Vortex, reserve size, management option. 47 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris INTRODUÇÃO A Terra, de tempos em tempos, sofre perdas de espécies(e.g. Haynes 2002; La Marca et al. 2005). Tem-se, como hipótese que as mudanças climáticas passadas foram responsáveis por diversas dessas extinções e modificações nas distribuições geográficas de várias espécies da flora e da fauna (e.g., Behling 2002; Bonaccorso et al. 2006; Haffer & Prance 2001; Servant et al. 1993). De modo semelhante, as alterações climáticas e a perda de habitats atuais são considerados os principais fatores que levam à extinção e á ameaça de extinção de muitas espécies, tais como as endêmicas que têm distribuição geográfica restrita (e.g. Davies et al. 2009). Um dos principais objetivos da Biologia da Conservação é o de conservar a diversidade biológica por meio da manutenção de ecossistemas e habitats naturais, além de, obviamente, as espécies que o habitam (Trombulak et al. 2004). Para que isto aconteça muitas vezes é necessário o manejo das espécies e avaliar viabilidade de suas populações (Possingham et al. 1993). Uma forma de obter esta informação sobre o status da população é a de proceder a análise de viabilidade de população (AVP) (Lindenmayer et al. 1993). A AVP que, funciona por meio de modelagem matemática, é alimentada com informações sobre a história de vida da espécie, tais como taxas de sobrevivência e fecundidade. Essas são algumas das variáveis de entrada usadas para que a estimativa de risco de extinção de uma população possa ser obtida (Akçakaya & Sjögren-Gulve 2000; Engen & Saether 2000). Os resultados do AVP são variados e tem sido questionado quanto à sua eficiência (Boyce 1992; Ludwig 1999; McCarthy et al. 1996; Possingham et al. 1993). No entanto, esses modelos permitem entender o que pode determinar a extinção ou persistência de populações pequenas e fragmentadas, simular e identificar opções prioritárias de manejo (fornecendo bases para a escolha das mais baratas e/ou mais efetivas para a conservação), determinar a população mínima viável (PMV) e também o tamanho e desenho 48 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris de reservas (e.g. Burgman & Lamont 1992; Cross & Beissinger 2001; Duca et al. 2009; Hamilton & Moller 1995; McCarthy & Lindenmayer 1999; Possingham et al. 1993; Shaffer 1981). Em AVP, o tamanho da população é o principal determinante da persistência ou não de populações de uma variedade de espécies animais (Berger 1990; Brown 1971; Jones & Diamond 1976; Newmark 1987; Pimm et al. 1988; Soulé et al. 1988; Toft & Schoener 1983). A PMV é o número mínimo de indivíduos necessário para que uma população persista em um determinado intervalo de tempo futuro (Harris et al. 1987; Shaffer 1981). Estas estimativas são importantes para espécies endêmicas e de distribuição restritas. Polystictus superciliaris é uma espécie endêmica dos topos de montanha do leste do Brasil (Vasconcelos 2008; Vasconcelos & Rodrigues 2010) que habita parte de dois importantes “hotspots” de biodiversidade mundial: Mata Atlântica e Cerrado, considerados dos mais ameaçados do planeta (Mittermeier et al. 1999; Myers et al. 2000; Silva & Bates 2002). Ela é classificada como ‘quase ameaçada’ (“Near threatened”) de extinção, conforme os critérios adotados pela IUCN, devido a sua restrita área de distribuição e acentuada perda de habitat (BirdLife International 2008). A espécie também apresenta tendência de diminuição de sua área de distribuição devido às mudanças climáticas (veja o Capítulo 1 desta tese). Estimativas recentes sugerem que, se o ritmo atual de destruição de habitats persistir, principalmente do bioma Cerrado, até 2030 restará poucos habitats naturais, exceto os contidos em reservas (Machado et al. 2004). O processo acelerado de conversão destes habitats em paisagens agrícolas e a falta de representatividade no sistema de unidades de conservação (Silva et al. 2006) poderão fazer com que somente as áreas protegidas de habitats sejam insuficientes para a proteção da P. superciliaris. 49 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Desta forma a utilização do APV é uma importante ferramenta para orientar a aplicação de recursos, ajudando a escolher a melhor opção de manejo relacionando custo e benefício, no manejo de P. superciliaris e, assim, evitar que uma população diminua a nível crítico que torne sua persistência inviável(Redford 1992). Portanto, com base na probabilidade de extinção obtida, a espécie poderá vir a ser classificada em alguma categoria de ameaça (IUCN et al. 2008). Outro benefício da aplicação da AVP é a possibilidade de ajudar a determinar quais tipos de informações seriam necessárias para reduzir a incerteza sobre a escolha de novas ações de manejo no futuro (Possingham et al. 1993). O objetivo deste capítulo é determinar se o Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM) poderá manter uma população mínima viável de P. superciliaris sob possíveis cenários de alterações em seu habitat, devido às mudanças climáticas. Para isso, foi (1) estimado o tamanho mínimo de uma população viável, e (2) estimada a área mínima necessária de habitat favorável (AMHF), (3) avaliado, a eficácia potencial de possíveis estratégias de manejo e (4) identificadas quais as informações mais importantes para diminuir as incertezas de previsão do modelo. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O estudo ocorreu de 2005 a 2009 no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM), município de Nova Lima (20°03’S, 44°00’W), Estado de Minas Gerais, sudeste do Brasil. O PERM possui 3.942 ha e está localizado na porção sul da cadeia do Espinhaço, entre dois importantes biomas, o da Mata Atlântica e o Cerrado. A região apresenta clima do tipo mesotérmico (Cwb de Köpen) com regime de precipitação bem definido, apresentando verões chuvosos e invernos secos (Nimer 1979). 50 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris A população de P. superciliaris estudada habita uma área de canga com vegetação arbustiva a uma altitude de 1500 m. Canga é um termo utilizado para descrever depósitos superficiais de hematita (Jacobi & Carmo 2008). No Quadrilátero Ferrífero, cangas são ilhas de afloramentos de minério de ferro localizadas nos topos de montanha (Jacobi et al. 2007). Esses afloramentos contem uma vegetação dominada por arbustos e um grande número de ciperáceas, gramíneas e orquídeas (Jacobi & Carmo 2008). As espécies de plantas mais comuns são as arbustivas Baccharis reticularia DC. (Asteraceae), Lychnophora pinaster Mart. (Asteraceae), Tibouchina multiflora Cogn. (Melostomataceae), orquídeas Acianthera teres (Lindl.) Borba (Orchidaceae) e Sophronitis caulescens (Lindl.) Van den Berg & Chase (Orchidaceae), gramíneas Andropogon ingratus Hack. (Poaceae) e Paspalum scalare Trin. (Poaceae), e as ciperáceas Bulbostylis wimbriata Clarke (Cyperaceae) e Lagenocarpus rigidus Nees (Cyperaceae) (Jacobi et al. 2007). Há poucos estudos específicos sobre a fauna e a flora desse tipo de ambiente, que se encontra sob grande pressão antrópica devido à expansão urbana, extração ilegal de plantas ornamentais (orquídeas e bromélias), trânsito de veículos “off-road”, mineração e turismo ecológico mal planejado (Vincent et al. 2002). O Quadrilátero Ferrífero, que engloba a área de estudos, é considerado de importância biológica especial (a mais alta categoria) em Minas Gerais devido ao elevado endemismo de anfíbios e plantas, à alta riqueza em espécies de vertebrados e à presença dos campos ferruginosos, um ambiente único no Estado (Drummond et al. 2005). História de vida e atributos de uma população de Polystictus superciliaris Polystictus superciliaris é uma espécie que só se alimenta de insetos capturados em arbustos e é generalista na estratégia de forrageamento (Hoffmann et al. 2007). Ela é encontrada em altitudes entre 900 e 1.950 m, onde habita os campos rupestres e campos de altitude (Sick 1997; Vasconcelos et al. 2003). 51 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris A arquitetura de seu ninho é em forma de cesto alto, construído em forquilha de galhos de arbustos e situado geralmente a menos de 1 metro acima do solo (Hoffmann & Rodrigues in press; Vasconcelos & Lombardi 1996). É uma espécie monogâmica cujos pares mantém territórios de tamanho médio de 4,3 ha (Hoffmann 2006). A espécie põe de 1 a 2 ovos e os jovens começam a se reproduzir após completarem o primeiro ano de vida (Hoffmann & Rodrigues in press). Informações a respeito da longevidade dos indivíduos da espécie são inexistentes. No entanto, alguns indivíduos anilhados foram registrados no mesmo território por cinco anos sucessivos (D. Hoffmann, obs. pess.). Todavia, utilizamos nesta análise idade máxima de reprodução e longevidade de 10 anos Duca et al. (2009). A taxa de mortalidade anual de indivíduos adultos no PERM foi estimada em 23% (D. Hoffmann, obs. pess.). A taxa de mortalidade dos indivíduos jovens foi derivada da taxa de sobrevivência dos adultos, como Greenberg e Gradwohl (1997) estimou para Epynecrophylla fulviventris, com a sobrevivência dos adultos sendo negativamente relacionada com a idade, declinando cerca de 6,2% ao ano (a taxa de mortalidade dos adultos é 6,2% maior que a dos jovens). A densidade populacional na área foi estimada como próxima a 0,44 indivíduos / ha, com base nos quatro anos de estudos. A presença de espaços desocupados e de indivíduos flutuantes (sem par) sugerem que o habitat não se encontra saturado (D. Hoffmann, obs. pess.). O sucesso reprodutivo médio no PERM durante quatro anos foi de 50,5% e a produtividade anual indica que 53,4 % das fêmeas produziram pelo menos um filhote por estação (Hoffmann & Rodrigues in press; D. Hoffmann, obs. pess.). Outros detalhes sobre a biologia de P. superciliaris podem ser encontrados em Hoffmann (2006) e Hoffmann & Rodrigues (in press). As ameaças que afetam o sucesso reprodutivo de P. superciliaris no PERM são o parasitismo de filhotes por larvas de dípteros (Philornis sp.) e perda de ninhos por predação (Hoffmann & Rodrigues in press; D. Hoffmann, obs. pess.). Na estação reprodutiva de 2007, 52 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris houve perda de 50% (n=4) dos ninhos provocada por temporais que ainda causaram a mortalidade de duas fêmeas reprodutivas (D. Hoffmann, obs. pess). Implementação do modelo APV e cenários futuros Para avaliar o tamanho mínimo viável de uma população de P. superciliaris e possíveis opções de manejo foram criados e implementados no programa Vortex versão 9.9 (Lacy et al. 2005) alguns cenários para uma população isolada. O Vortex é um programa que modela o efeito dos processos determinísticos e estocásticos sobre a dinâmica de populações (Miller & Lacy 2005). É um dos programas mais utilizados para AVP de espécies ameaçadas (Lindenmayer et al. 1995). Avaliou-se a probabilidade de extinção de uma população de P. superciliaris sob diferentes cenários e opções de manejo. Para cada cenário foram conduzidas 500 iterações em um horizonte temporal de 100 anos (e.g. Harris et al. 1987; Miller & Lacy 2005). Considerou-se um risco de quase-extinção quando a população chega a menos de 50 indivíduos, uma vez que observamos que simulações com esse tamanho inicial possuem probabilidade de extinção total. Os parâmetros demográficos utilizados foram aqueles obtidos de uma população monitorada no PERM (Hoffmann 2006). A capacidade suporte (K) foi estimada pela divisão da área com habitat favorável (984,7 ha) pelo tamanho de área de vida de um indivíduo (considerado como a área defendida por um casal dividido por dois que é igual a 2,15 ha). O tamanho populacional inicial de cada modelo foi considerado igual à metade da sua respectiva capacidade suporte (e.g. Brito & Fonseca 2006). Considerou-se ainda uma distribuição etária estável calculada automaticamente pelo programa VORTEX (e.g. Lunney et al. 2002). Assumiu-se não existir depressão endogâmica. Os cenários foram criados para refletir várias possibilidades de condições onde as populações de P. superciliairs podem ser encontradas. O cenário básico é o que melhor 53 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris representa a população monitorada no PERM, pois a maioria dos parâmetros utilizados foi obtida de dados coletados nesse parque. O cenário básico foi utilizado como base para comparações com outros cenários. Cenário básico A maior parte dos dados a respeito da história de vida, ameaças e aspectos demográficos utilizados nesse cenário foram coletados no PERM. Em virtude do relativo curto intervalo de tempo no qual este estudo foi realizado (quatro anos), os dados sobre história de vida foram complementados com informações da literatura. Utilizou-se as taxas de sobrevivência do presente estudo (número médio de indivíduos que sobreviveram do início ao término de cada estação reprodutiva acompanhada), mesmo sendo estas oriundas de um curto intervalo de tempo de amostragem, pois estas são próximas às taxas de sobrevivência calculadas tendo como base 14 anos de estudo sobre Epynecrophylla fulviventris (Thamnophilidae) no Panamá (Greenberg & Gradwohl 1997) e que tem sido utilizado como base em outros estudos (Duca et al. 2009) Da mesma forma a variância da taxa de sobrevivência foi próxima à estimada por Johnston et al. (1997) para Tachyphonus luctuosus (Emberizidae) em 10 anos de coleta. A capacidade suporte (K) para P. superciliaris foi estimada em 458 indivíduos. Os dados utilizados para compor o cenário básico são apresentados na Tabela 2.1. No cenário básico foi incluído uma catástrofe denominada incêndios, em virtude do grande número de focos registrados anualmente na região. 54 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Tabela 2.1 Valores dos parâmetros utilizados na composição do cenário básico para simulação populacional no programa VORTEX PARÂMETROS VALOR Número de iterações Número de anos Duração do ano (dias) Definição de extinção FONTE* 500 100 365 dias Quase-extinção (N=50) 1 Número de populações SISTEMA REPRODUTIVO Sistema reprodutivo Idade da primeira reprodução para fêmeas (♀) Monogâmico 1 ano a, b c Idade da primeira reprodução para machos (♂ ) Idade máxima de reprodução (♂ e ♀) Número máximo de reprodução por ano 1 ano 10 anos 2 c d, e a, b, c Número máximo de filhotes por ninhada Razão sexual no nascimento (em % de machos) Reprodução dependente de densidade % de fêmeas reproduzindo em baixa densidade (♀), P(0) 2 50% a, b, c Padrão Vortex 71% c 58% c 0 2 Padrão Vortex Padrão Vortex Calculado pelo Vortex Padrão Vortex 5% f 43% 53% 4% a, b, c a, b, c a, b, c 57% 43% a, b, c a, b, c 22% g (6,2% menor que dos adultos) c % de fêmeas reproduzindo próximo da capacidade suporte (♀), P(K) Efeito Alee, A Parâmetro de inclinação, B TAXAS REPRODUTIVAS % de fêmeas reproduzindo % da variação ambiental na reprodução Distribuição de ninhadas por ano 0 ninhada 1 ninhada 2 ninhadas Distribuição do número de filhotes por fêmea e por ninhada 1 filhote 2 filhotes TAXAS DE MORTALIDADE % de mortalidade de Fêmeas Mortalidade entre 0 e 1 ano de idade SD na mortalidade entre 0 e 1 ano de idade devido à Variação Ambiental Mortalidade anual após 1 ano de idade SD na mortalidade após 1 ano de idade % de mortalidade de Machos Mortalidade entre 0 e 1 ano de idade 10% 23% 10% 0% 22% SD na mortalidade entre 0 e 1 ano de idade devido à Variação Ambiental 55 10% c c g (6,2% menor que dos adultos) c, h Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Mortalidade anual após 1 ano de idade SD na mortalidade após 1 ano de idade NÚMERO DE CATÁSTROFES Fogo Freqüência e extensão de ocorrência Global/local Freqüência Severidade (proporção dos valores normais) Reprodução Sobrevivência MONOPOLIZAÇÃO DE PARCEIROS % de machos reproduzindo TAMANHO DA POPULAÇÃO INICIAL Distribuição etária estável Tamanho da população inicial CAPACIDADE SUPORTE Capacidade suporte (K) SD na K devido à Variação Ambiental 23% 10% c c, h c Fixo 10% Padrão Vortex i 0.75 (25%) 1 (não) j j 82% c 229 (igual K/2) a, c 458 9 c k * Fontes: a) Hoffmann (2006); b) Hoffmann & Rodrigues (in press); c) dados coletados para a população de P. superciliaris no PERM; d) Snow & Lill (1974); e) Stuchbury & Morton (2001); f) Miller & Lacy (2005) g) Greenberg & Gradwohl (1997); h) McCarthy(1996); i) IEF; j) na ausência de informações diretas da influência do fogo, foi utilizado os mesmos valores de outros trabalhos realizados em áreas abertas (Duca et al. 2009; França & Marini 2010); k) Brito & Grelle (2006) l) Parysow & Tazik (2002); Cenário de alterações climáticas Para simular os impactos potenciais das mudanças climáticas sobre a extensão da área ocupada por P. superciliaris no PERM em 2020, 2050 e 2080, reduziu-se a capacidade suporte em 3%, 26% e 76% do valor utilizado no cenário básico. Esses percentuais representam a perda de área com habitat favorável em relação ao número de indivíduos por ela suportado, com base na modelagem de distribuição (Capítulo 1). Assumiu-se 2% de variações ambientais em K para cada caso, sendo mantidos todos os demais parâmetros do cenário básico. Cenários com opções de manejo: Como opções de manejo, foram consideradas duas possibilidades: controle de queimada e proteção de ninhos. A influência da opção de manejo foi avaliada na 56 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris probabilidade de extinção da espécie considerando o tamanho inicial da população como sendo a metade da capacidade suporte. I. Controle de queimada (CQ) O CQ remove o efeito da ocorrência de incêndios (catástrofe no cenário básico) sobre a reprodução. II. Proteção de ninhos (PN) A PN aumenta o percentual de fêmeas de P. superciliaris reproduzindo com sucesso. O aumento na porcentagem de fêmeas reproduzindo foi estimado considerando o número de protetores de ninhos com eficiência de 80% em relação à taxa de predação (43%) observada nos quatro anos de estudo (2005, de 2007 a 2009). Desta forma considerou-se que 34,4% dos ninhos protegidos tiveram sucesso. Para um aumento de cinco fêmeas com sucesso reprodutivo por estação são necessários, anualmente, 14 protetores de ninho. Cenários de populações mínimas viáveis Para avaliar o tamanho mínimo esperado de uma população qualquer persistir com número aproximadamente constante de indivíduos, ao longo de 100 anos, variou-se a capacidade suporte e o número inicial de indivíduos em relação ao cenário básico devido à reprodução dependente de densidade. A capacidade suporte foi estabelecida em 50, 100, 200, 400, 800 aumentando gradativamente até 11.000 indivíduos. O número inicial de indivíduos (Ni) foi igual à capacidade suporte (K) e à metade da capacidade suporte (K/2). Análise de Sensibilidade Como parâmetros para análise de sensibilidade selecionaram-se a taxa de mortalidade de jovens, a taxa de mortalidade de fêmeas adultas e a porcentagem de fêmeas e machos reproduzindo. Para cada um desses parâmetros, o programa foi executado no cenário básico, variando o valor em 10% e 5% para mais e para menos. Através desta análise, é possível 57 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris determinar quais os parâmetros têm maior potencial para alterar a probabilidade de extinção da população. RESULTADOS Probabilidade de persistência da população no PERM As simulações no Vortex, considerando todos os cenários utilizados, indicaram que a população de P. superciliaris no PERM apresenta uma probabilidade de persistência de 1,2% (cenário de 2080) a 15,2% (cenário básico) nos próximos 100 anos (considerando-se uma população inicial sempre igual à metade da capacidade suporte). A taxa de crescimento estocástico, que é o crescimento influenciado por fatores assincrônicos que provocam variações nas taxas vitais, foi negativa em todos os cenários, demonstrando que a população apresenta tendência ao declínio (Tabela 2.2). Para os cenários simulando os possíveis efeitos das alterações climáticas sobre a capacidade suporte, a probabilidade de persistência da população no período de 2020 variou muito pouco quando comparado como cenário básico (Tabela 2.2). No entanto para os períodos de 2050 e 2080 a probabilidade de sobrevivência da espécie é bem menor (5 e 1% respectivamente), chegando praticamente à extinção, em relação aos períodos anteriores (Figura 2.1). Tabela 2.2 Resultados da análise de viabilidade da população de P. superciliaris no PERM, por um período de 100 anos, usando o programa VORTEX, baseado em seis cenários alternativos com população inicial (Ni) igual a metade da capacidade suporte. Cenário Taxa de crescimento determinístico Básico 2020 2050 2080 Controle de queimada Proteção de ninhos -0.015 -0.015 -0.179 -0.015 -0.008 -0.007 Taxa de crescimento estocástico (± DP) -0.024 (0.150) -0.023 (0.148) -0.028 (0.151) 0 (0.136) -0.019 (0.148) -0.018 (0.149) Probabilidade de sobrevivência N° final de indivíduos (± DP) N° de anos até a extinção 0.152 0.168 0.050 0.012 0.278 0.298 22.07 (48) 24.02 (50) 7.54 (24) 2.22 (9) 37.71 (60) 41.05 (64) 43.3 43.9 30.7 7.7 45.9 48.2 58 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Probabilidade de sobrevivência 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 10 20 30 40 50 60 70 75 90 100 Ano Atual 2020 2050 2080 Figura 2.1 Probabilidade de sobrevivência de uma população de P. superciliaris sob diferentes cenários de alterações climáticas para os períodos de 2020, 2050, 2080 e com catástrofes de temporais, no PERM. Os cenários apresentam representam variação na capacidade suporte (K) e tamanho da população inicial (Ni = K/2) permanecendo os valores dos outros parâmetros os mesmos do cenário básico. A linha pontilhada representa limite de 5%. Análise de sensibilidade O aumento no percentual de fêmeas reproduzindo e a diminuição na taxa de mortalidade de fêmeas adultas, pela análise de sensibilidade foram os fatores que mais afetaram a probabilidade de persistência da população de P. superciliaris no PERM. Todavia, o percentual de machos reproduzindo e a taxa de mortalidade de jovens também afetaram a persistência da população, porém de forma mais branda (Figura 2.2). 59 Probabilidade de sobrevivência Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris 0.65 0.6 0.55 0.5 0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 -10 -5 0 Nível de variação (%) 5 10 Mortalidade ♀ % de ♂ reproduzindo Mortalidade jovens % de ♀ reproduzindo Figura 2.2 Análise de sensibilidade, com efeitos da variação de 5 % e 10 % na taxa de mortalidade de jovens e fêmeas, e na taxa de fêmeas e machos reproduzindo, sobre a probabilidade de persistência. Os outros parâmetros são os mesmos do cenário básico. População mínima viável e área mínima de hábitat favorável A AMHF para a manutenção de uma população viável de P. superciliaris, com base nas informações da população estudada no PERM, é de 21.070 ha com a população oscilando próximo à capacidade suporte (K) e em torno de 23.650 ha com o tamanho da população oscilando em volta da metade da capacidade suporte (K/2), considerando um limite de 5% e (Figura 2.3). Considerando a AMHF e a presença de dois indivíduos de P. superciliaris a cada 4,3 ha (Hoffmann 2006), o número mínimo de indivíduos de P. superciliaris para que a população possa persistir nos próximos 75-100 anos, varia entre 5.500 (K/2) a 9.800 (K) indivíduos. 60 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Probabilidade de sobrevivência 1.00 0.80 0.60 0.40 0.20 0.00 Área (ha) Ni (K) Ni (K/2) Figura 2.3 Relação entre a probabilidade de sobrevivência e atamanho da área (ha) com condições favoráveis para manutenção de uma população de P. superciliaris. A linha com círculo aberto representa simulações com tamanho de população inicial igual à metade da capacidade suporte (K/2) e a linha lisa, igual à capacidade suporte (K). A linha pontilhada representa um limite de 5%. Avaliação das estratégias de manejo Considerando-se as estratégias de manejo, a PN e o CQ se mostraram eficientes aumentando a probabilidade de persistência da população de P. superciliaris em relação ao cenário básico (sem manejo) (Figura 2.4). Por outro lado, apresentaram uma diferença relativamente pequena entre si (2%) (Figura 2.4). Há indícios de que os efeitos das estratégias de manejo sobre a persistência da espécie em áreas com condições favoráveis, acima de 21100 ha possam ser consideradas insignificantes, num limiar de 5%. Já que o efeito sobre a população diminui gradativamente com o aumento da área com ambiente favorável e com o aumento do tamanho da população (Figura 2.4). 61 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Probabilidade de sobrevivência 1.00 0.90 0.80 0.70 0.60 0.50 0.40 0.30 0.20 0.10 0.00 Área (ha) Sem manejo Manejo do fogo Proteção de ninho Figura 2.4 Relação entre a probabilidade de sobrevivência e a área com condições favoráveis para cada uma das opções de manejo: proteção de ninho e controle de queimada. Controle de queimadas remove o efeito da catástrofe na reprodução; proteção de ninhos aumenta a taxa de fêmeas reproduzindo com sucesso (14 protetores equivalente a 5 fêmeas adicionais). A linha pontilhada representa um limite de 5%. DISCUSSÃO Probabilidade de persistência da população no PERM e análise de sensibilidade De acordo com a análise de viabilidade, a população de P. superciliaris no PERM, sob as condições atuais, encontra-se em declínio com uma probabilidade de sobrevivência muito baixa para os próximos cem anos. Considerando-se os possíveis cenários de alterações climáticas com redução de área, a probabilidade de sobrevivência para o período de 2020 é semelhante ao cenário básico. Considerando as condições dos períodos de 2050 e 2080 a espécie apresenta altas possibilidades de vir a se extinguir no PERM. A análise de sensibilidade indicou que o percentual de fêmeas reproduzindo com sucesso foi o parâmetro com maior impacto na persistência da população de P. superciliaris 62 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris no PERM. Esse resultado diverge de muitas espécies de vertebrados cujos indivíduos têm maior longevidade para os quais a taxa de sobrevivência é o parâmetro mais importante para determinar a persistência das populações (e.g. Goldingay & Possingham 1995; Lunney et al. 2002; McCarthy 1996). Da mesma forma como os resultados das simulações realizados para o PERM mostraram, Duca et al. (2009) e França (2008) indicaram que a variação na taxa de fêmeas reproduzindo foi a principal causa da persistência de populações de Neuthraupis fasciata (Thraupidae) e Suiriri islerorum (Tyrannidae), respectivamente. Sob o ponto de vista de gestão e manejo, o conhecimento destes fatores torna-se importante apenas quando se tem capacidade e condições para manipulá-los (Baxter et al. 2006). Opções de manejo As possíveis opções de manejo indicadas para aumentar o tempo de persistência da população de P. superciliaris são as que afetam diretamente o percentual de fêmeas reproduzindo, como por exemplo a PN (Duca et al. 2009; França 2008). Embora a PN fosse a melhor estratégia de manejo para P. superciliaris, a diferença foi muito pequena em relação ao CQ, a segunda melhor. Constatou-se que as opções de manejo apresentam um efeito significativo sobre a persistência da espécie em relação ao cenário básico. Essas estratégias são eficientes para aumentar a possibilidade de persistência da espécie, em reservas com áreas com habitat favorável menores que 21.070 ha. A partir deste ponto os benefícios do manejo passam a diminuir. Desta forma, com a presença de P. superciliaris em uma área com habitat favorável menor que 21.070 ha com necessidade de manejo e considerando a pequena diferença entre as melhores estratégias de manejo e que os orçamentos para a conservação de espécies geralmente são limitados, a melhor estratégia é aquela que apresenta os menores custos (Baxter et al. 2006; Wilson et al. 2006). Para N. fasciata, apesar de ser menos eficiente, o CQ apresentou o melhor custo-benefício no caso de orçamentos e áreas pequenas (Duca et al. 2009). 63 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Da mesma forma, consideramos ser o CQ a melhor opção de manejo para a conservação de P. superciliaris em áreas menores que 21.070 ha. Esta opção de manejo poderá beneficiar várias espécies, uma vez que suas persistências podem estar correlacionadas (Nicholson & Possingham 2006; Sarkar et al. 2004). Além disso, não há uma diferença muito grande na eficiência de PN em relação ao CQ, em virtude da PN por protetores excluir apenas os predadores (Melvin et al. 1992) e não ser eficientes na proteção de intempéries ambientais, como temporais que afetam negativamente a taxa de sobrevivência e reprodução de fêmeas. População mínima viável e área mínima de hábitat favorável Considerando-se o possível efeito da densidade sobre a reprodução, que é o fator que mais influencia a persistência da população, a PMV de P. superciliaris estimada situa-se entre 5.500 (Ni = K/2) a 9.800 (Ni = K) indivíduos, considerando o tamanho da população inicial em relação à capacidade suporte. Este número está acima do limiar estimado para populações de aves (50 a 5500 indivíduos), por meio de observações e modelagens (Hamilton & Moller 1995; Soulé et al. 1988). Considerando-se a PMV e a capacidade suporte entre 9800 e 11000, a AMHF necessária, com a presença de vegetação arbustiva onde os indivíduos da espécie se alimentam (Hoffmann et al. 2007), é de 21.070 a 23.650 ha. Desta forma devem estar livres de ameaças as populações de P. superciliaris maiores que 5.500 indivíduos em áreas com habitat apropriado maiores que 23.650 ha. Além de necessitar de uma área maior que a necessária para S. islerorum (5.000 ha AMHF) (França 2008), que apresenta uma situação crítica, o habitat de P. superciliaris tem pouca representação nas unidades de conservação e vem sofrendo perda e fragmentação crescentes (Silva et al. 2006). Desta forma, a disponibilidade de habitat apropriado para criar reservas para a manutenção de uma população viável pode ser restrita. 64 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Prioridades para pesquisas futuras Devido à fragmentação da paisagem e à disponibilidade de áreas relativamente restritas nas elevações do leste brasileiro, são necessários maiores estudos relacionados à capacidade de dispersão/deslocamento da espécie para novas áreas. Estes tipos de estudos poderão facilitar a identificação de novas áreas com possibilidade de conectividade e, assim, auxiliar no planejamento de novas unidades de conservação com capacidade para manutenção de populações viáveis. Considerando-se que a taxa de reprodução e mortalidade de fêmeas são os principais fatores que afetam a persistência da população de P. superciliaris, ressalta-se a importância no investimento em estudos para avaliar a relação desses fatores com as variações ambientais (queimadas e temporais). Essas informações ajudarão a reduzir as incertezas nos parâmetros do modelo, proporcionando uma maior precisão na escolha das possíveis opções de manejo. CONCLUSÕES A probabilidade de persistência de 15,2% de P. superciliaris no PERM reflete o fato da capacidade suporte de 458 indivíduos estar bem abaixo do mínimo estimado para a persistência população nos próximos 100 anos (K = 9.800). O CQ aumenta a probabilidade de persistência para 27,8%, no entanto não é o suficiente. Mesmo assim, destaca-se a importância de um controle mais efetivo dos incêndios criminosos que atingem diferentes partes do PERM anualmente. Pois mesmo não sendo completamente eficaz para a conservação de P. superciliaris, melhora sua situação e pode beneficiar outras espécies que se encontram em situações mais amenas. Este controle pode ser realizado de forma direta (aumento no efetivo de bombeiros) e também de forma preventiva (conscientização da população de entorno). 65 Capítulo 2: Viabilidade de uma população de Polystictus superciliaris Considerando a existência de disponibilidade de recursos, a capacidade de ocupação e reprodução de P. superciliaris em áreas revegetadas (D. Hoffmann, obs. pess ) e a presença de áreas impactadas por mineração nas imediações do PERM sugere-se a revegetação como uma boa estratégia adicional. A revegetação de áreas com vegetação arbustiva de campo rupestre pode ser uma alternativa para aumentar a capacidade suporte. Se as mudanças na área com condições apropriadas se concretizarem, devido às alterações climáticas como simulado para os períodos de 2050 e 2080, a população de P. superciliaris no PERM poderá vir a se extinguir. Desta forma destaca-se a necessidade de se avaliar a conectividade do PERM com outras áreas de ambiente favorável para a espécie, e procurar meios de evitar o seu isolamento para tentar manter um fluxo de indivíduos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Akçakaya, H. R., & P. Sjögren-Gulve. 2000. Population viability analysis in conservation planning: an overview. Ecological Bulletins 48:9-21. Baxter, P. W. J., M. A. McCarthy, H. P. Possingham, P. W. Menkhorst, & N. Mclean. 2006. Accounting for management costs in sensivity analyses of matrix population models. Conservation Biology 20:893-905. Behling, H. 2002. South and southeast Brazilian grasslands during Late Quaternary times: a synthesis. Palaeogeography Palaeoclimatology Palaeoecology 177:19-27. Berger, J. 1990. 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O seu habitat vem sofrendo com a fragmentação e degradação, provocando assim incertezas quanto ao real status de conservação da espécie. Dessa forma, estimou-se o tamanho da população de P. superciliaris, reavaliando o seu status de conservação, segundo os critérios da IUCN e NatureServe. O tamanho da população foi estimado como sendo a abundância média (de uma população monitorada por quatro anos) multiplicada pela área com habitat favorável. A população foi estimada em 659.849 ± 120.520 indivíduos. Projeções indicam uma diminuição no tamanho da população em >30% nos próximos 10 anos devido à diminuição da área de ocorrência em virtude das alterações climáticas. Com base nessas informações, a espécie pode ser considerada ‘vulnerável’. No entanto, por se tratar de uma projeção, recomendamos a manutenção da espécie na categoria ‘quase-ameaçada’, ressaltando a importância do monitoramento e de estimativas da abundância da espécie ao longo de sua distribuição. Palavras-chave: Conservação, espécies ameaçadas, IUCN, tamanho de população. 75 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris ABSTRACT In recent years the Gray-backed Tachuri (Polystictus superciliaris) has been recorded in several locatities along its range, increasing its area of occupancy. However, its habitat has been suffering with fragmentation and degradation. These factors cause uncertainties concerning the conservation status of the species. In this way, we estimate the population size of P. superciliaris and reevaluated its conservation status, following IUCN and NatureServe criteria. Population size was estimated as average abundance (of a population monitored through four years) multiplied by the range with suitable habitat. The population was estimated at 659,849 ± 120,520 individuals. Projections indicate a decrease in population size of more than 30% for the next ten years. This decrease is caused by range retraction caused by climate changes. Based on this information, the species can be considered 'vulnerable'. However since this is a projection, we recommend maintaining the species in category 'near-threatened'. We emphasie the importance of monitoring and estimate the abundance of the species along its distribution. Keywords: Conservation, endangered species, IUCN, population size. 76 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris INTRODUÇÃO O papa-moscas-de-costas-cinzentas (Polystictus superciliaris) é uma espécie encontrada em altitudes entre 900 e 1.950 m, onde habita os campos de altitude e campos rupestres (Sick 1997; Vasconcelos et al. 2003), vegetações inseridas em dois importantes “hotspots” de biodiversidade mundial: os biomas da Mata Atlântica e do Cerrado que são considerados uns dos mais ameaçados do planeta (Mittermeier et al. 1999; Myers et al. 2000; Silva & Bates 2002). A principal ameaça ao Cerrado e à sua biodiversidade é o acelerado processo de conversão da vegetação nativa em áreas agrícolas e uma deficiência na extensão representada no sistema de áreas protegidas (Silva et al. 2006). Estimativas recentes sugerem que a maioria de habitat natural, fora de reservas no Cerrado, será destruída até 2030, caso o ritmo atual de destruição continuar (Machado et al. 2004), fazendo com que muitas espécies possam ser consideradas ameaçadas, mesmo não figurando oficialmente nas atuais listas vermelhas (Garcia & Marini 2006). Um exemplo seria P. superciliaris, endêmica das montanhas do leste do Brasil (Vasconcelos 2008; Vasconcelos & Rodrigues 2010) e classificada como ‘quase ameaçada’ (“Near threatened”) de extinção, conforme os critérios adotados pela IUCN, devido a sua restrita área de distribuição e acentuada perda de habitat (BirdLife 2004; BirdLife International 2008). As informações sobre a espécie, até pouco tempo atrás, eram escassas, sendo a mesma considerada incomum (Stotz et al. 1996). Assim, a espécie não possui o tamanho global estimado de sua população e há suspeitas que a população esteja em declínio devido à degradação do habitat (BirdLife International 2008). Na última avaliação do status da espécie, foi sugerido que a sua extensão de ocorrência seja maior do que a apresentada na literatura (BirdLife International 2008) e que, se confirmado, a espécie poderia mudar para a categoria fora de perigo. Como proposta de medida de conservação, BirdLife International 77 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris ressaltou a necessidade de estudos sobre a ecologia e distribuição de P. superciliaris (BirdLife International 2008). Estudos recentes sobre a distribuição (Vasconcelos 2008; Vasconcelos & Rodrigues 2010) e sobre ecologia da espécie como sua biologia reprodutiva (Hoffmann & Rodrigues, in press), dieta e táticas de forrageamento (Hoffmann et al. 2007), distribuição potencial (Capítulo 1) e viabilidade de uma população (Capítulo 2) apresentam algumas dessas informações. Com o essas informações o objetivo desse e estimar o tamanho populacional da espécie ao longo de sua área de ocorrência e reavaliar seu status de conservação. MATERIAL E MÉTODOS Extensão de ocorrência e projeção futura Como extensão da área de ocorrência, utilizou-se a área calculada através da modelagem de distribuição potencial (MDP) e a sua projeção para períodos futuros (Capítulo 1). Área com ambiente favorável Para calcular a área com ambiente favorável, inicialmente foi extraído o valor do índice de vegetação (NDVI) para cada local de ocorrência de P. superciliaris (n=41), obtendo-se um gradiente de ambiente favorável. O índice foi extraído de uma imagem de satélite LandSat de 2006 com resolução 0,1x0,1 km, obtida no site http://glcfapp.glcf.umd.edu. Maiores informações sobre índices de vegetação podem ser obtidos em Ponzoni & Shimabukuro (2007). Para determinar a área com ambiente favorável, foi realizada a intersecção da área de extensão (distribuição potencial) com a área com gradiente de vegetação utilizado. Densidade da população local 78 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris Uma população de P. superciliaris foi monitorada no Parque Estadual da Serra do Rola Moça (PERM), Belo Horizonte, MG, Brasil, por quatro anos. Foram realizados censos por transecto no início e término de cada estação reprodutiva. Para calcular a abundância anual na área foi aplicada a seguinte equação: n = [n1*2] + n2 Onde n1 é o número de pares estabelecidos no início de cada período reprodutivo e n2 o número de indivíduos solitários, obtidos por censo. A densidade média da população local (D) foi obtida através da média da densidade de cada ano monitorado. A densidade anual foi calculada pela divisão do número de indivíduos observados em cada período (n) pela área amostrada. Estimativa do tamanho populacional global Para a estimativa do tamanho da população, assumiu-se que a espécie utiliza toda a área com habitat favorável disponível. Assim, multiplicou-se a área de habitat favorável disponível pela densidade média da população (D). Avaliação do status O status da espécie foi reavaliado segundo os critérios adotados pela IUCN (2010) e da NatureServe (Faber-Langendoen et al. 2009) e a sua tabela de classificação (NatureServe 2009). RESULTADOS Para os quatro anos de monitoramento da população de P. superciliaris no PERM foi estimada densidade de 43,8 ± 8,0 ind/km2 (Tabela 3.1). A extensão de ocorrência da espécie pela MNC é de 30.745 km² com uma projeção de diminuição de cerca de 38% em sua área com condições favoráveis nos próximos dez anos (Capítulo 1). 79 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris O NDVI nos pontos de registro de P. superciliaris variou entre -0,11 e 0,32 (valores que vão de -1 a +1, solo exposto a matas densas respectivamente). A área com habitat favorável foi de 14.944 km2, 49% da área com condições climáticas favoráveis para a ocorrência da espécie. Assim, o tamanho da população global estimada foi de 659.849 ± 120.520 ind/km² (Figura 3.1). Com base nas novas informações disponíveis na literatura e neste trabalho, P. superciliaris pode ser considerada uma espécie “vulnerável” segundo os critérios da IUCN (2010) (Tabela 3.2). Utilizando os critérios e a tabela de classificação proposta pela NatureServe (2009), com os valores da Tabela 3.3, a espécie pode ser considerada ‘vulnerável’ ou com igual probabilidade como ‘aparentemente segura’. Tabela 3.1 Abundância e densidade de P. superciliaris no PERM em quatro anos de monitoramento. Ano n ([n1*2]+n2) N° pares reprodutivos (n1) N° ind. solitários (n2) Área (km²) Densidade (ind./km²) 2005 24 11 2 0,48 50,0 2007 24 11 2 0,48 50,0 2008 20 9 2 0,48 41,7 2009 16 6 4 33,3 Média 21 9,3 2,5 0,48 * 43,8 DP 3,8 2,4 1,0 * 8,0 Tabela 3.2 Critérios da IUCN utilizados para reavaliação do status de conservação de P. superciliaris a nível global. Critérios A. Redução da população B. Área geográfica: B1 (extensão de ocorrência) e/ou B2 (área de ocupação) C. População pequena e em declínio D. População muito pequena e restrita E. Análise quantitativa Aplicabilidade Justificativa Classificação Sim Projeção de redução da população com base no declínio da extensão de ocorrência >30% VU A3c (Vulnerável) Sim Não Não Não Com base na extensão de ocorrência (B1) o habitat se encontra fragmentado (a) e em declínio contínuo (b)[na extensão de ocorrência(i); na área de ocupação (ii); área, extensão e qualidade de ambiente (iii) e n° de indivíduos (v) O tamanho da população é muito grande para ser classificado sob esse critério (>10.000)A população é muito grande para ser classificado sob esse critério Não foi conduzida análise quantitativa. 80 B1a+b(i,ii,iii,v) (Quase ameaçada) - Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris Figura 3.1 Registros de ocorrência (círculos) e extensão de ocorrência de P. superciliaris prevista pelo modelagem de distriuição. Em azul, área com índice de vegetação favorável para a presença da espécie e em verde, como desfavorável. 81 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris Tabela 3.3 Informações utilizadas na tabela de classificação NatureServe (NatureServe 2009), para a reavaliação do status de conservação de P. superciliaris. Critérios Valores Comentários 20,000-200,000 km² Estimado por modelagem de nicho (Capítulo 1). A = 30.745 km2 26-125 células com 4 km² Com base nos registros de ocorrência da espécie (n=41) (Capítulo 1) Número de ocorrências 21 - 80 Registros de ocorrência (n=41) (Capítulo 1) Tamanho populacional 100,000 - 1,000,000 indivíduos 659.849 indivíduos / A habitat*D (14.944*43,8 ind/km²) Área de extensão Área de ocupação N° de células de 4 km² com registros de ocorrência Boa viabilidade / Integridade ecológica: Número de ocorrência algumas a muitas (13-125) ocorrências com boa viabilidade Percentual da área Excellente percentagem (>40%) de área com excelente ou boa viabilidade ou integridade ecológica Percentual da área de distribuição potencial (com condições climáticas) com um índice de vegetação favorável para a presença de P. superciliaris. (14.944 / 30.745 = 49%) Tendências à curto prazo Declínio de 10 - 30% Tendência à diminuição nos próximos 10 anos em virtude de possíveis impactos das mudanças climáticas e perda de habitat (Capítulo 1) Ameaças por impactos Alto - médio Agricultura (pastagens), mineração, queimadas, mudanças climáticas (deriva de habitat, tempestades) DISCUSSÃO Densidade da população Como observado para P. superciliaris, a abundância de outros pequenos tiranídeos campestres é relativamente baixa (Parker III & Willis 1997). Da mesma forma, P. superciliaris apresentou, uma densidade média inferior (22 pares/km²) em relação à encontrada para espécies florestais como Myrmeciza athrotorax (56,5 pares/km²) na floresta amazônica (Robinson & Terborgh 1997) e Formicivora littoralis (45 pares/km²) em ambiente de restinga (Mattos et al. 2009). Mesmo com uma densidade baixa em relação a outras 82 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris espécies, ela pode ainda não representar a real situação de P. superciliaris ao longo de toda a sua extensão de ocorrência, pois o monitoramento da população foi realizado no interior de uma unidade de conservação. Além desse fator, há indícios de que a abundância da espécie esteja relacionada à densidade de arbustos, extrato de forrageamento (Hoffmann et al. 2007), que na área de estudos é elevada. A espécie parece não ser muito abundante no norte do estado de Minas Gerais e na Bahia (M. F. Vasconcelos, com. Pess.) e não se tem notícias de registros recentes da espécie na Serra da Bocaina (MZUSP, 1961), limite sul da distribuição. No Parque Nacional do Itatiaia, apesar de haver um registro recente, a espécie é considerada rara (http://ricardo-gagliardi.sites.uol.com.br/avesPNI.pdf). Desta forma, como considerado por Stotz et. al. (1996), a espécie ainda pode ser considerada incomum ao longo da sua distribuição, mesmo apresentando uma recente ampliação na área de ocupação, fora da área de ocorrência conhecida na literatura (Capítulo 1; Ridgely & Tudor 1994). Status de conservação Polystictus superciliaris é listado como “quase-ameaçado” de extinção segundo os critérios da IUCN, em virtude das pressões antrópicas sobre o ambiente, provocando fragmentação de habitat e declínio contínuo na extensão de ocorrência e área de ocupação, o que leva a uma diminuição no número de indivíduos (BirdLife International 2008). A extensão de ocorrência recentemente estimada para P. superciliaris através da MDP (Capítulo 1) é relativamente menor da encontrada na literatura (Ridgely & Tudor 1994), porém não é o suficiente para enquadrá-lo em alguma categoria de ameaça. A estimativa do tamanho populacional global pode ser superestimada devido a variação da abundância da espécie ao longo de sua área de ocorrência. Mesmo assim, não é o suficiente para considerá-la ameaçada, já que o número estimado é bem maior do que o limite máximo (<10.000 indivíduos) para classificá-la como ‘vulnerável’. 83 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris No entanto, se for considerada a projeção dos impactos potenciais das mudanças climáticas sobre a extensão da ocorrência de P. superciliaris (Capítulo 1), que nos próximos 10 anos pode levar a uma redução maior do que 30% em sua população, a espécie pode ser considerada ’vulnerável’. Quando se considera os critérios de classificação da NatureServe (2009), a espécie é classificada como ‘vulnerável’ e ‘aparentemente segura’ nas mesmas proporções, sendo muito semelhante ao encontrado sob os critérios da IUCN, onde prevalece a avaliação ‘vulnerável’. A principal diferença entre os dois sistemas é que a tabela de avaliação da NatureServe (2009) permite imparcialidade maior em relação ao avaliador (FaberLangendoen et al. 2009). Considerando-se os dois sistemas de avaliação, recomenda-se a manutenção da espécie como ‘quase-ameaçada’, já que sua classificação como ‘vulnerável’ é uma projeção de algo que poderá vir a acontecer. Com relação a rebaixar para uma categoria para ‘fora de perigo’, em virtude da ampliação da área de ocupação por novos registros, tal como cogitado por BirdLife International (2008), não seria aconselhável, pois todas as simulações de impactos potenciais indicam uma tendência ao declínio em virtude da diminuição da área de habitat favorável. Da mesma forma, pelo fato da área de distribuição atual prevista ser menor da encontrada na literatura e que foi utilizada em avaliações anteriores. Avaliação de ameaças, habitat e tendências O habitat ocupado pela espécie apresenta fortes tendências ao declínio, caso a degradação continue nos ritmos atuais (Machado et al. 2004). Sua fragmentação pode ser outro problema, levando-se em consideração que não se tem conhecimento sobre a capacidade de P. superciliaris se dispersar e ocupar novas áreas. Um estudo filogeográfico recente (Costa et al. 2010) indicou a existência de algumas populações isoladas por barreiras 84 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris geográficas pouco evidentes (Capítulo 1, Figura 1.1 [barreira entre 3 e 4]), sendo indício de que a capacidade de dispersão é reduzida. A espécie é encontrada em várias UCs, embora sua área de distribuição seja apenas parcialmente protegida (Capítulo 1). Para agravar a situação, algumas dessas UCs apresentam menos de 750 ha de habitat favorável que é a área mínima para a manutenção de uma população mínima viável (Capítulo 2). Um exemplo é a Estação Ecológica de Fechos, que possui condições climáticas favoráveis. No entanto, não apresenta o habita adequado (Capítulo 1, obs. pess.). Outra ameaça relacionada às possíveis alterações climáticas é a incidência de temporais que afetam o sucesso reprodutivo e a sobrevivência principalmente de fêmeas. RECOMENDAÇÕES A espécie merece um acompanhamento constante frente às tendências negativas que pode vir a enfrentar, para isso: Sugere-se monitoramento temporal da distribuição da espécie para avaliar, possíveis mudanças na extensão e no deslocamento altitudinal, fatores que podem afetar a sua persistência. Recomenda-se a realização de estudos sobre a densidade e a abundância da espécie em outros locais ao longo de sua área de ocorrência, para se ter uma estimativa mais precisa do seu tamanho populacional global, e poder avaliar quais áreas ao longo de extensão de ocorrência são as mais importantes para a conservação. Ressalta-se a necessidade de proteção de áreas contínuas de habitat favorável com capacidade para a manutenção de populações mínimas viáveis. 85 Capítulo 3: Reavaliação do status de conservação de Polystictus superciliaris REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BirdLife. 2004. Polystictus superciliaris In: IUCN 2006. 2006 IUCN Red List of Threatened species. BirdLife International. 2008. Polystictus superciliaris. In: IUCN, editor. IUCN 2010 Red List of Threatened Species. Costa, L. C., A. C. A. Nascimento, A. V. Chaves, M. F. Vasconcelos, & F. R. Santos. 2010. Filogeografia de Polystictus superciliaris. Page 82 in SBG, editor. 56° Congresso Brasileiro de Genética. SBG, Guarujá, SP. Faber-Langendoen, D., L. Master, J. Nichols, K. Snow, A. Tomaino, R. Bittman, G. Hammerson, B. Heidel, L. Ramsay, & B. Young 2009. NatureServe conservation status assessments: methodology for assigning ranks. NatureServe, Arlington, VA. Garcia, F. I., & M. Â. Marini. 2006. 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Papeis Avulsos de Zoologia (Sao Paulo) 50:1-29. 88 Conclusões finais e recomendações 1) A modelagem de nicho mostrou-se mais eficaz na predição da distribuição de P. superciliaris incorporando uma parcela menor de áreas com ambiente desfavorável para a presença da espécie, em relação à utilizada na literatura. 2) A espécie apresentou respostas às projeções de alterações climáticas de forma semelhante a outras espécies de montanhas, como da Europa. 3) O Sistema de Unidades de Conservação brasileiro não apresenta potencial para proteger a espécie em sua totalidade. 4) Caso as alterações ambientais continuem nos ritmos atuais até 2080, P. superciliaris, figurará no livro vermelho de espécies ameaçadas globalmente. 5) O Parque Estadual do Rola Moça apresenta capacidade para a manutenção de uma população de P. superciliaris muito próxima ao mínimo necessário para ser viável. 6) Para Unidades de Conservação menores que 750 ha, a melhor forma de manejo para a persistência de P. superciliaris é o controle de queimadas e/ou controle da perda de habitat favorável. 7) Com base nas projeções futuras a espécie pode ser considerada ‘vulnerável’. No entanto, sugere-se sua manutenção como ‘quase-ameaçada’. 8) Sugere-se o monitoramento e o estudo de abundância da espécie, que se mostra bem irregular ao longo da sua área de ocorrência, podendo influenciar no seu status de conservação. 9) Sugere-se, por fim, um estudo de sua capacidade de dispersão. 89