A.4.2 - Ensino de Química O Estudo Interdisciplinar entre Cinética Química e Progressão Aritmética/Geométrica Julio Cesar B. Fernandes 1 1. Pesquisador da Universidade Municipal de São Caetano do Sul – USCS-Campus Centro; *[email protected] Palavras Chave: Ensino de Cinética de Reações de 1ª ordem, Progressão Aritmética e Geométrica, Interdisciplinaridade. Introdução Na atualidade, um dos grandes desafios na educação é superar a dificuldade dos discentes em inter-relacionar conteúdos de disciplinas afins. Os discentes têm chegado à escola com pré-conceitos muitos dos quais oriundos de um modelo trabalhista baseado no “aprendiz-prático”, onde o mesmo repete funções pré-estabelecidas. Quem nunca ouviu de seus alunos indagações como: “– Professor, por que eu preciso aprender isso?”; “– Professor, onde eu trabalho a gente aprende na prática!” Nestes casos, a relação entre Teoria e Prática é deixada em segundo plano, a aprendizagem não é significativa e é incutido no indivíduo que o mais importante é sua habilidade manual e não o seu conhecimento aplicado às resoluções de problemas práticos. Isto afeta a formação do educando e sua capacidade de autoaprendizagem futura e uma mudança de mentalidade se faz necessária. Através da interdisciplinaridade é possível desmistificar esta visão distorcida e contribuir para que conteúdos abstratos de disciplinas como Química e Matemática sejam efetivamente compreendidos. O estudo de degradação de materiais com base nos modelos teóricos de Cinética Química de 1ª ordem é um ótimo modelo de previsão para determinar o tempo necessário para a decomposição de materiais o qual pode ser contextualizado com problemas ambientais ou de saúde. De modo geral, problemas de previsão em cinética química são resolvidos utilizando as leis de velocidade integradas, porém, conceitos matemáticos de derivada e integral, não são conteúdos normalmente fornecidos no curso de ensino médio ou técnico. A proposta deste trabalho é utilizar os conceitos de progressão aritmética e geométrica para desenvolver expressões matemáticas que permitam prever o tempo de degradação de materiais que obedecem a uma cinética química de 1ª ordem. Resultados e Discussão Usando os conceitos de progressão aritmética (PA) e geométrica (PG) [1] foram deduzidas duas expressões matemáticas que permitem prever o tempo de degradação de materiais cuja velocidade de reação segue uma cinética de 1ª ordem (Tabela 1). Na dedução matemática destas expressões é fundamental a interpretação semântica do conceito de tempo de meiavida (t1/2) para uma reação de 1ª ordem: “... é o tempo necessário para que a concentração de uma substância reduza a metade do seu valor inicial” [2]. Interpretando esta definição é facilmente demonstrado por indução matemática, que para cada variação de tempo igual ao tempo de meia-vida, a quantidade de material degradado é reduzido a metade (Tabela 1). Logo, os dados de tempo variam em uma progressão aritmética crescente cuja razão é o tempo de meia-vida, enquanto que os dados de quantidade degradada de material variam em uma progressão geométrica decrescente cujo quociente é igual à meio. Tabela 1. Indução matemática para a determinação das expressões para a cinética de reação de 1ª ordem baseado nos conceitos de progressão aritmética e geométrica. Índice Tempo Quantidade (n) (PA) (PG) 1 t1 = 0 Q1 2 t2 = t1 + t1/2 Q2 = 1/2Q1 = Q1/2 1 3 t3 = t2 + t1/2 = t1 + 2t1/2 Q3 = 1/2Q2 = Q1/2 2 4 t4 = t3 + t1/2 = t1 + 3t1/2 Q4 = 1/2Q3 = Q1/2 3 n tn = (n-1)t1/2 (1) Qn = Q1/2 (n-1) (2) Note na Tabela 1, que t1 é igual a zero, o que simplifica a expressão obtida num tempo qualquer (índice, n) como função apenas do tempo de meia-vida. As expressões para a progressão aritmética dos dados do tempo (1) e para a progressão geométrica dos dados de quantidade degradada (2) relacionam-se entre si pelo índice n, comum às duas equações matemáticas. Aplicamos a proposta para vários problemas. Veja um exemplo na área de saúde: O metil mercúrio é uma forma orgânica de mercúrio mais tóxica que o mercúrio metálico. Ele é obtido na metabolização do mercúrio metálico por certas bactérias. A meia-vida do metil mercúrio (H3C-Hg) a no corpo humano é de 70 dias numa cinética de 1 ordem. Quantos dias são necessários para a quantidade de metilmercúrio cair a 10% do valor inicial após uma ingestão acidental? Inicialmente, determinamos o índice n. Tem-se: (n-1) Qn = 10%; Q1=100%, logo: 10=100/2 · n = 4,3219 t1/2 = 70 dias, logo: t4,3219 = (4,3219 -1)×70 = 232,5 dias. Resolvendo pela lei da velocidade integrada [2], tem-se: Calculando k pelo tempo de meia-vida, seu valor é -1 0,009902 dias . Substituindo na expressão (5), sabendose que [Q]t é 10% e [Q]0 é 100%, determinamos que o tempo t é igual a 232,5 dias. Em suma, o mesmo valor é obtido por ambos os métodos. Conclusões As expressões deduzidas com base em progressão aritmética e geométrica para a velocidade de degradação de um material foram aplicadas na resolução de questões de cinética química para reações de 1ª ordem contextualizado com problemas na área de saúde e ambiental. Os resultados foram idênticos àqueles obtidos pelo método da lei da velocidade integrada. Desta forma tal proposta se mostra viável de ser implementada em cursos de ensino médio e técnico, preferencialmente no último ano, onde os conceitos de PA/PG já foram previamente estabelecidos. ____________________ [1] Lezzi, G., Hazzan, S. Fundamentos de Matemática Elementar, Atual Ed., 7ª edição, Vol. 4, Cap. II e III, 2004, p. 6-38. [2] Atkins P., Jones, L. Principios de Quimica. Questionando a Vida Moderna e o Meio Ambiente; Capítulos 13; Bookman; Edição: 5ª; 2006, p.577-622. 67ª Reunião Anual da SBPC