PARA TODA A ORDEM "FESTA DO PATROCÍNIO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA” 17 de Novembro de 2007 Prot. Nº PG102/2007 Meus queridos Irmãos e Irmãs em Hospitalidade. Este ano, o dia 17 de Novembro é a data em que a Ordem celebra a Festa do Patrocínio da SS.ma Virgem Maria. Esta Festa tornou-se oficial na Ordem por deliberação do Capítulo Geral que se realizou em Roma, em 1736. Ao introduzir esta celebração no calendário litúrgico da Ordem, esse Capítulo Geral desejou não só reconhecer formalmente a longa história de devoção à Mãe de Deus no âmbito da Ordem, mas também consagrá-la, assim como os seus membros e a sua missão de Hospitalidade, à nossa Mãe Divina, invocada sob o título de "Patrocínio da Santíssima Virgem Maria". A história de devoção a Nossa Senhora dentro da Ordem vem desde a sua própria origem, pois S. João de Deus manifestou um amor particular e uma devoção filial à Mãe de Deus, em quem confiava para receber ajuda e força no ministério e a quem recorria em todas as sua dificuldades. Cada uma das suas Cartas começava com as palavras: “Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora, a Virgem Maria sempre intacta” (1GL, 1), e encorajava as outras pessoas a fazerem tudo para a glória de Deus "e de Nossa Senhora, a Virgem Maria". Cumprindo a nossa missão de hospitalidade – acolher, acompanhar e assistir as pessoas nos momentos em que são mais vulneráveis, quando estão doentes ou em particular necessidade –, a Ordem confiou sempre na orientação da Bem-aventurada Virgem Maria e invocou constantemente a sua protecção sobre quantos temos o privilégio de servir nos nossos Centros e Serviços em todo o mundo. O belo exemplo da jovem mulher, Maria, a percorrer os caminhos da Palestina para estar perto da sua tia, já idosa, que estava grávida e carinhosamente a assistir nesse tempo de necessidade, é um exemplo vivo que serve como modelo de hospitalidade para nós. A sensibilidade de Maria e o seu amor por Isabel é inspirador. Acabava de dar hospitalidade ao Filho de Deus, no seu seio, e, mesmo assim, não estava preocupada com o grande mistério que se desenvolvia na sua própria vida até ao ponto de se esquecer das necessidades da sua prima Isabel. 1 Maria fará o mesmo por nós, quando vivemos momentos de necessidade; por isso, não hesitemos em dirigir-nos a Ela, mesmo se nem sempre fomos filhos ou filhas tão perfeitos como poderíamos ter sido. Maria ama-nos apaixonadamente porque ela compartilhou a paixão do seu filho, que “me libertou, porque me quer bem” (Sl 18, 20). Independentemente das circunstâncias em que nos encontramos, Maria sabe como nos sentimos, depois de o seu coração ter sido trespassado por uma espada de dor, como profetizou Simeão (Lc 2, 35). O que não deve ter representado para ela, como Mãe, a noite em que Jesus veio despedir-se dela, antes de partir para os eventos que conduziriam à sua morte! Quão dolorosa deverá ter sido essa separação! O sentimento de profunda solidão que Jesus experimentou ao longo da provação que conduziu à sua morte. A Sua Mãe também deve ter sentido um isolamento terrível, uma profunda sensação de desamparo e terror, ao saber que Jesus estava nas mãos de pessoas cruéis, corruptas e violentas. Pela sua sensibilidade, saber que o seu filho não tinha rival em bondade, delicadeza, compaixão e perdão, intensificou ainda mais o seu sofrimento. Maria, unida com o Filho à obra da salvação (LG 57), continua a amar-nos, pois fomos comprados por um alto preço (1Cor 7, 20). Maria é, portanto, a nossa mais poderosa defensora, com o Filho, que nunca lhe recusaria fosse o que fosse que ela lhe pedisse, como se tornou evidente nas Bodas de Caná. Logo que se apercebeu que havia uma situação embaraçosa para os noivos, nem sequer esperou que Jesus respondesse ao pedido que lhe fizera, pois sabia que o iria satisfazer. Dirigindo-se aos criados, disse-lhes que fizessem tudo o que ele ordenasse. Maria dá-nos o mesmo conselho, que façamos tudo o que ele, o seu Filho, nos disser, e descobriremos que, seja o que for que nos preocupe, receberá uma resposta numa medida que ultrapassará em muito os nossos maiores desejos. Ao preparar-nos para celebrar esta Festa especial da nossa Ordem, recorramos a Maria, nossa Mãe, renovemos a nossa confiança nela e por ela, pronunciemos todos os dias o nosso fiat, o nosso sim a Deus. Peçamos à nossa bendita Mãe, Rainha de Hospitalidade, esperança e orientação para aqueles em cujas mãos está o poder de encontrar soluções pacíficas para os conflitos que estão a causar tanta destruição e um sofrimento inaudito a inúmeras pessoas, em tantas partes do nosso mundo. Para renovarmos as nossas vidas e a nossa Ordem, que Maria seja a nossa intercessora e o nosso modelo. Maria fez sempre o que era agradável ao Pai celeste, desde o momento em que consentiu ser a Mãe do seu Filho – a sua fidelidade, o seu compromisso total e o seu amor por ele demonstra a sua fé profunda. Ela ter-se-ia de boa vontade colocado no lugar de Jesus, se isso lhe fora permitido, mas não era essa a vontade do Pai. Maria revela as suas qualidades de líder religiosa através do seu acompanhamento e da sua presença junto dos discípulos de Jesus, após a sua morte, quando todos haviam perdido a fé nele, e tinham perdido também o rumo das suas vidas e a esperança. Maria, apesar da angústia e sofrimento pessoais, manteve viva a chama do amor e da fé em Jesus até o Espírito Santo vir fortalecer. É digno de nota o facto de Maria, Mãe de Deus, ser reconhecida e respeitada por todas as principais religiões. Recordo alguns monges budistas que, estando doentes, vieram visitar a nossa Casa de Saúde de Kwangju, na Coreia, e, sempre que ao passavam diante de uma estátua de Nossa Senhora, paravam e faziam uma profunda inclinação, explicando depois que, assim como respeitavam a mãe do Buda, também respeitavam a Mãe de Jesus, que, para eles, foi um profeta. Igualmente, no Alcorão, o Livro Sagrado dos muçulmanos, Maria é a única mulher mencionada é, referida sempre em associação com o seu filho – Maria, a Mãe de Jesus. No Vietname, quando o Governo comunista nacionalizou o hospital da Ordem, em Bien-Hoa, em 1975, alguns dos símbolos religiosos não foram retiradas do lugar. Num dos corredores, um quadro de Nossa Senhora, Mãe do Bom conselho, continua a ser aí venerado decorridos mais de 30 anos após a nacionalização. 2 Em conclusão, rezo para que todos os membros da Ordem beneficiem da protecção amorosa, da orientação e da presença de Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho, em todos os momentos das suas vidas, mas especialmente quando tiverem alguma necessidade particular que lhes cause preocupação, quer pessoalmente, quer a algum dos seus entes queridos. Recorramos a ela através da oração para as necessidades da nossa Ordem, especialmente para que ela nos ajude a renovar a nossa Ordem conforme os ensinamentos do Concílio Vaticano II. Peçamos-Lhe pelo nosso mundo atribulado, que está a ficar cada vez mais violento e desumano. Peçamos a Maria, Mãe dos nossos Jovens, muitos dos quais são, como dizia S. João de Deus, como um barco sem remes (LB, 8), andando à deriva, sem rumo nem esperança num futuro melhor. Rezemos a Maria por tantas pessoas doentes, pobres e marginalizadas que nunca saberão quanto são amadas por Deus, porque a sociedade ou as outras pessoas lhes viraram as cosas. Isto deve causar a Deus uma grande tristeza, porque ele não tem outras mãos, para tocar, curar, aliviar os doentes e ajudar as pessoas deficientes, a não ser as nossas; ele não tem outros pés para procurar quem vive na solidão e se sente perdido, senão os nossos; ele não tem outra voz para consolar e confortar os que andam acabrunhados e infelizes, excepto a nossa; ele não tem outro coração para mostrar amor àqueles que não se sentem amados, senão o nosso. Deus ordenou as coisas desta forma para que pudéssemos ser nós os seus parceiros neste grande ministério de assistência, cura, resgate e santificação. Sem nós, de certo modo, Deus está de mãos atadas. Finalmente, era para mim motivo de inspiração e conforto durante a minha visita às Províncias, por ocasião dos Capítulos Provinciais, ler e ouvir os relatórios sobre a dedicação que os seguidores de S. João de Deus – Irmãos e Colaboradores –, reservam a tantas pessoas que acorrem aos nossos Centros e Serviços quando se encontram em necessidade e são recebidas com amor genuíno, preocupação e competência profissional. Que Nossa Senhora, Mãe do Bom Conselho, S. João de Deus, e todos os nossos santos e mártires, e tantos Irmãos e Colaboradores que nos precederam e foram verdadeiramente marcados com o sinal da hospitalidade, continuem a guiar e a inspirar todos nós. Os meus melhores votos para que todos tenham uma agradável e santa celebração por ocasião da Festa do Patrocínio da bem-aventurada Virgem Maria. Com uma saudação fraterna, em S. João de Deus, Ir. Donatus Forkan, O.H. Superior Geral 3