ISSN 1809-0915 Teresina-PI | Edição nº 37 | Ano X Publicação Científica da FAPEPI COMUNICAÇÃO Pesquisas piauienses rompem as fronteiras do Estado FÁRMACO ENTREVISTA SUSTENTABILIDADE Fator anti-hipertensivo é descoberto na casca do bacuri José Bringel Filho fala sobre Apps móveis Unidades de Conservação do Piauí são alvo de estudos A EA PIA www.fapepi.pi.gov.br S EXPEDIENTE N° 37 Ano X ISSN - 1809-0915 PUBLICAÇÃO SAPIÊNCIA Publicação produzida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí Publicação Quadrimestral CONSELHO EDITORIAL Ademir Sérgio Ferreira de Araújo Ana Regina Barros Rêgo Leal Antônia Jesuíta de Lima Bárbara Olímpia Ramos de Melo Diógenes Buenos Aires de Carvalho Francisco Chagas Oliveira Atanásio Hermes Manoel Galvão Castelo Branco João Batista Lopes Maria José Lopes de Carvalho Raimundo Isídio de Sousa Ricardo de Andrade Lira Rabêlo Rivelilson Mendes de Freitas 7 Em entrevista pesquisador apresenta projetos desenvolvidos no laboratório Opala EDITORES, REDAÇÃO E FOTOS: Cássia Sousa Nayra Veras Rosa Rocha Vanessa Soromo ESTAGIÁRIO: Allan Campêlo REVISÃO DE TEXTOS: Raimundo Isídio de Sousa DIAGRAMAÇÃO: Tanurio Silva IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Grafiset Gráfica e Editora TIRAGEM: 3 mil exemplares AO LEITOR Para críticas, sugestões e contato: [email protected] www.fapepi.pi.gov.br Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra Teresina-P*t$&1 FonF FBY 4 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 10 Propriedades farmacológicas são encontradas na casca do bacuri 26 30 Sistema criado por pesquisadores da Embrapa Meio-Norte beneficia famílias no interior do Estado Pesquisadores investigam impactos ambientais causados pelo turismo em unidades de conservação 34 Sumário 15 Dossiê destaca pesquisas em comunicação desenvolvidas no Piauí Projeto Memória possibilita digitalização do acervo de periódicos do Piauí E mais... artigos, teses e dicas de livros. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 5 D Editorial os primeiros sinais de fumaça, usados há milhões de anos para se comunicar, até os dias de hoje, a humanidade desenvolveu uma série de recursos para aperfeiçoar seu processo de comunicação: do pergaminho ao papel, do pombo-correio à imprensa, do telegrama ao e-mail, do rádio à TV. Na contemporaneidade, somos bombardeados por informações que nos chegam de todos os lados, seja de um político, um artista, ou uma marca de refrigerante com sua publicidade no rádio, internet ou televisão. Com tanto progresso nos meios e modo de fazer comunicação, é natural que surjam muitas dúvidas e questionamentos sobre como a comunicação nos atinge, de como altera nosso modo de ver e encarar o mundo. Questionamentos que podem até ser respondidos pelo senso comum, mas que ganham maior rigor e confiabilidade quando respondidas pela pesquisa científica. Conscientes da importância desse tipo de pesquisa para o desenvolvimento social, a edição de nº 37 da Sapiência traz um dossiê sobre as pesquisas desenvolvidas no estado do Piauí na área de comunicação. Na infinidade de possibilidades que podíamos contemplar, optamos por tratar dos resultados de alguns estudos realizados por pesquisadores das duas Universidades públicas do estado sobre os mais diferentes tipos de mídia. Para abrir o nosso dossiê, apresentamos uma reportagem sobre o mestrado em comunicação da UFPI, que tem representado o principal centro de produção de pesquisas na área no Piauí. Apesar dos desafios impostos a quem se propõe a tarefa de fazer pesquisa em comunicação, o mestrado tem ganhado visibilidade nacional. Por isso, não poderíamos deixar de registrar a conquista do prêmio internacional Donnald Brenner pelos professores do programa de mestrado da UFPI, assunto da nossa segunda matéria do dossiê. Encerrando o dossiê, apresentamos a matéria a respeito da pesquisa realizada por professor do curso de Jornalismo da Uespi, que trata de como a internet tem influenciado no modo de fazer das rádios no interior do Nordeste. Registramos também as pesquisas que têm como objeto de estudo o cinema piauiense. Estudos nessa área têm-se tornado cada vez mais frequentes e demonstram a tendência dos pesquisadores em analisar a produção cultural do estado, trabalho cada vez mais interdisciplinar. A entrevista desta edição também tem como foco a discussão sobre a comunicação. O Professor Dr. José Bringel Filho, coordenador do laboratório Opala da Uespi, nos falou sobre o desenvolvimento da tecnologia digital e sua aplicação na comunicação pública. Essa edição conta ainda com matérias sobre o turismo sustentável em unidades de conservação no Piauí, os resultados das pesquisas sobre a descoberta de fatores anti-hipertensivos na casca do bacuri, artigos, teses, dicas de livros e muito mais. A equipe Sapiência agradece a todos que contribuíram para a produção desta edição e deseja aos leitores uma boa leitura. 6 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI Redes SOCIAIS AIS Agradecemos aos nossos seguidores no Facebook por ultrapassarmos a marca de 1600 seguidores. Este número resulta do esforço da gestão da Fapepi e da Ascom em popularizar o acesso ao conhecimento científico e tecnológico. Entendemos que as redes sociais são fundamentais para a interação e o compartilhamento de informações com os pesquisadores e a comunidade em geral. Continue acompanhando nossas publicações e siga-nos em nossas redes sociais. Fapepi PI @Fapepi_pi fapepi pi Por Nayra Veras ENTREVISTA Tecnologia digital a favor da comunicação pública Foto: Nayra Veras O professor PhD. Bringel Filho coordena o Laboratório de Sistemas Onipresentes e Pervasivos (OPALA) e fala de que forma o conceito de seres humanos como sensores pode contribuir para auxiliar na gestão pública. José de Ribamar Martins Bringel Filho Possui pós-doutorado pela Université d’Evry Val d’Essonne, UEVE France (2011), na área de suporte a tomada de decisões sensíveis ao contexto para sistemas ubíquos de saúde. Tem doutorado pela Université Joseph Fourrier - UJF, Grenoble I - France (2010), e realizou estágio doutoral (sanduíche) no National Institute of Informatics - NII, Tokyo Japão (2009). É mestre em ciência da Computação pela Universidade Federal do Ceará (2004), especialista em desenvolvimento para a Web pela Universidade Federal do Piauí (2001) e graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Piauí (2000). Atualmente é Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e coordenador do Omnipresent and Pervasive Systems Laboratory OPALA (UESPI). D uas décadas se passaram desde que a internet se tornou popular no Brasil. Naquele contexto, década de 90, a internet representava a possibilidade de potencializar as atribuições do computador, tornando possível conectar pessoas de diferentes par- tes do mundo. Naquela época, as tecnologias digitais apresentavam muito mais previsões que diagnósticos concretos sobre suas possibilidades. Nos dias de hoje, pode-se quase afirmar que computadores são coisas do passado. Numa época em que a internet está cada vez mais presente nos mobiles (celulares e tablets), o “boom” são os aplicativos utilizados para aperfeiçoar e facilitar a comunicação instantânea. Não por acaso, a pesquisa para o desenvolvimento de softwares para mobiles tem sido a tarefa mais comum entre os cientistas de tecnologia. Entusiasta des- SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 7 ENTREVISTA sas pesquisas, o professor PhD. José de Ribamar Martins Bringel Filho coordena o Laboratório de Sistemas Onipresentes e Pervasivos (OPALA). O laboratório está sediado na Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e concentra projetos de Pesquisa & Desenvolvimento focados em soluções móveis, os chamados APPs. O carro-chefe resultante de tais projetos é o aplicativo “De olho na cidade”, que objetiva aproximar o cidadão da gestão pública através do poder de fiscalização. Em entrevista à Sapiência, o pesquisador contou sobre o desenvolvimento do aplicativo, o desafio para se inovar e os reflexos dessas pesquisas para o Piauí. Como são desenvolvidas as pesquisas do Laboratório Opala? A grande dificuldade do professor cientista é tornar a tecnologia ou o conhecimento científico em algo útil para a sociedade. Os projetos que desenvolvemos no OPALA buscam justamente reduzir esse distanciamento com a sociedade, para que esta perceba como a tecnologia desenvolvida na universidade interfere positivamente no seu dia-a-dia. Esse foi um posicionamento definido coletivamente pelos professores que compõem o laboratório OPALA, buscando externalizar para a sociedade o nosso know-how científico, mas de forma útil para a sociedade. O “De olho na Cidade” foi o primeiro projeto que realmente teve essa visibilidade como ferramenta de auxílio social, mas existem outros projetos em andamento. Como surgiu a ideia do aplicativo “De olho na cidade”? Surgiu de uma ideia similar de- 8 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI senvolvida na minha experiência do doutorado, em 2007. Na ocasião, trabalhávamos com a ferramenta PhotoMap, que permitia mapear fotos de turismo, enriquecidas com informações sobre os locais das fotos para serem compartilhadas com o público. Quando cheguei ao Brasil, pensei: “temos que fazer algo similar, voltado para ajudar a população”, e a ideia foi usar a capacidade de coleta de informações gratuitas por meio da participação popular, conceito definido por mim de “Seres Humanos como Sensores” (HumanBeing as Sensor – HBS), em um projeto visível e entendível por qualquer cidadão. A primeira coisa que pensamos foi em criar uma plataforma em que as pessoas pudessem mostrar problemas vivenciados no dia a dia em suas cidades, e que todo mundo pudesse comentar e compartilhar, transformando em informação de utilidade pública. Ou seja, nós trabalhamos com o conceito de seres humanos como sensores, que utilizam seu sensoriamento natural para identificar fenômenos e externá-los usando a tecnologia. Qual a inovação do aplicativo? O grande diferencial do aplicativo é o contexto em que ele se insere, que é o da construção colaborativa de uma informação que normalmente seria cara para se obter por outros métodos. Veja o seguinte: o prefeito é uma pessoa só e, para essa pessoa sozinha, é humanamente impossível conhecer todos os problemas de uma cidade com um milhão de habitantes distribuídos em 115 bairros, como é o caso de Teresina. A capacidade desse tipo de ferramenta é a exploração colaborativa para a construção de um mapa da situação, sem custos para a administração pública. A lógica colaborativa é a mesma de uma rede social comum, como o facebook, por exemplo? O que a difere? No caso do facebook, trata-se de uma rede social que não tem foco no conteúdo. O que tem sido explorado hoje são redes sociais específicas, focadas a determinados nichos de conteúdo. Nós focamos nesse cenário para que a informação fosse útil para o cuidado de cidades. A nossa proposta é “por que não colocar o cidadão nesse processo, uma vez que ele é o principal interessado?” O cidadão passa a observar os problemas, a colaborar e acompanhar a solução. Como o aplicativo foi desenvolvido? O projeto do aplicativo começou na minha disciplina de engenharia de software, no segundo semestre de 2012, quando foi proposto aos alunos aplicar o conhecimento da disciplina para produzir um produto inovador. No início, foram apresentados cinco projetos, mas, ao final da disciplina, resolvemos focar em um para que ele fosse realmente efetivado e nos concentramos no “De olho na Cidade”. E foi assim que o projeto começou a caminhar. Em 2013, foi que realmente investimos a fundo no projeto. Quantas pessoas participam do projeto? No caso do “De olho na cidade”, é uma equipe de seis desenvolvedores. A minha participação é como mentor e gestor do projeto. Também existe a participação dos prof. Marcus Vinicius e prof. Anchieta Araújo, em que cuidam da parte de desafios Quais foram os custos reais para que o projeto fosse viabilizado? Inicialmente não foram muitos custos, porque a gente conseguiu motivar os alunos a participarem pelo fato de adotarmos o modelo de Start Up. Esse é o modelo em que pessoas investem seu tempo, investem seu know-how com a perspectiva de terem lucro caso o projeto se torne monetizado, ou seja, os alunos são cotistas do projeto. Então, não tivemos um custo de pessoal. Existe também o custo de domínio, de registro na Play Store, que a gente tem que pagar uma assinatura. O domínio é R$ 40 reais (quarenta reais) por ano e o Play Store é de U$25 dólares por ano. A hospedagem nós não pagamos, porque uma empresa ofereceu gratuitamente. E esses custos foram os professores que pagaram. Nos dias de hoje, ainda se percebe “resistência” ao uso de plataformas que possam contribuir para a gestão pública, a exemplo do “De olho na cidade”. Na sua opinião, quais são as maiores dificuldades para superar essa resistência? A motivação é um grande desafio nesse processo: como motivar a participação das pessoas sem pagá-las para isso? O grande passo vem da educação, da politização da população. A consciência política de cada um é que vai fazer a diferença, o sentimento de cidadão e a sabedoria da sua inserção dentro da sociedade. Existem pessoas politizadas, mas elas são minoria. Eu tive a oportunidade de viver numa sociedade onde as pessoas verbalizam o que elas sentem com relação aos seus anseios sociais. Se uma pessoa joga um papel no chão, as pessoas verbalizam e não tem medo por causa disso. Aqui no Brasil, infelizmente, se você verbaliza, você corre o risco de ser agredido, então, as pessoas não são preparadas. E realmente é um desafio enorme. Se fosse, por exemplo, uma rede social com outro foco, eu tenho certeza de que a aceitação seria maior. Como você acha que esse problema pode ser solucionado? A solução que nós estamos adotando agora é ir direto às ONGs que têm ações voltadas para essa finalidade e tentando encaixar o nosso objetivo com os objetivos das ONGs. Por exemplo, uma ONG que fiscaliza a corrupção pode participar do “De olho na Cidade”, observando os problemas de corrupção na cidade e acompanhando a solução. Assim, o papel da prefeitura passa a ser secundário e não de protagonista. Nós nascemos com foco nas prefeituras, mas observamos que os órgãos de controle foram quem despertaram maior interesse. Então, nós temos a parceria com outras instituições, a exemplo do Tribunal de Contas do Estado, o que fortalece a nossa proposta. Verificada a falta de interesse da população, porque o senhor não preferiu investir numa tecnologia que pudesse trazer retorno financeiro? Eu falo que existem uma série de motivos. O principal é o motivo pessoal de querer ser útil para a sociedade, de mostrar que era possível aplicar o conhecimento científico de pesquisa em beneficio da sociedade. Além disso, o know-how, ou seja, o conhecimento adquirido servirá para o desenvolvimento de outros produtos que, futuramente, podem ter um valor comercial. Qual avaliação você faz até agora do aplicativo “De olho na cidade”? O maior benefício do projeto “De Olho na Cidade” foi ser o divisor de águas para o curso de computação da UESPI, que passou de um curso extremamente esquecido, no sentido de ter uma evasão enorme de alunos, em que as pessoas não acreditavam no que elas estavam fazendo e que agora se sentem capazes. Conseguimos mostrar que podemos inovar, mesmo com pouco recurso. O que temos buscado é aproximar o mercado em relação ao que tem sido desenvolvido no laboratório para que tenhamos condições de formar melhor os nossos alunos para serem profissionais mais qualificados. Além disso, o projeto viabilizou o desenvolvimento de novos projetos como o de um mestrado profissional, que esperamos que seja lançado em 2015, bem como o programa Lagoas Digitais a ser executado ainda este ano na região das Lagoas do Norte, que é composto por uma incubadora, cujo objetivo é poder captar iniciativas de inovação tecnológica, oferecendo consultoria visando ao desenvolvimento regional e local. Associado a esse projeto, existe um projeto de formação, batizado de “Jovem Inovador”, que busca capacitar jovens daquela região com foco em tecnologia. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 99 ENTREVISTA tecnológicos e divulgação/convênio com instituições e ONGs, respectivamente. Ao todo, são nove pessoas diretamente envolvidas no projeto. Por Allan Campêlo MATÉRIA Pesquisa piauiense descobre fator anti-hipertensivo em casca de Bacuri Há quatro anos sendo desenvolvido na UFPI, o estudo mostra resultados positivos. 10 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI Foto: Allan Campêlo O bacuri é uma fruta comum da região Norte do Brasil muito utilizado na fabricação de doces e sorvetes. O que poucos sabem é que o potencial do bacuri está além da polpa e pode ser encontrado também na casca que guarda importantes propriedades farmacológicas. Subproduto, jogada ao lixo por não ter valor comercial, a casca do bacuri foi alvo de um longo estudo realizado na Universidade Federal do Piauí (UFPI) que revelou um fator anti-hipertensivo, capaz de baixar a pressão arterial com pequenas dosagens. O estudo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí (Fapepi), através do Programa Primeiros Projetos (PPP), começou em 2011 e foi desenvolvido pelo Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais (NPPM), com orientação da professora da UFPI, doutora em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, Aldeídia Pereira. Com pouca pesquisa relacionada ao tipo de composto encontrado, o trabalho dos pesquisadores piauienses foi ainda mais difícil. “Quando não conhecemos a composição química da planta ou do fruto, temos que começar do zero, por isso foi um longo período de trabalho”, destacou a professora Aldeídia. “É um dos objetivos do nosso estudo conferir importância a um produto subutilizado e estamos conseguindo isso com a casca do Bacuri”, destaca Aldeídia Pereira, Coord. da Pesquisa. A escolha do produto foi bem avaliada já que atendeu ao propósito de mostrar um trabalho inovador. É um dos propósitos no NPPM fazer com que produtos próximos à realidade local sejam aproveitados tanto na pesquisa científica, como na geração de renda e estímulo à população para reaproveitar determinados produtos. “Nós trabalhamos com a casca do Bacuri que, na grande maioria das vezes, acaba indo para o lixo e ninguém sabia como agregar valor a este produto. Então, avaliamos o potencial farmacológico dele e, para nossa surpresa, os resultados foram bastante positivos”. ENTENDA COMO A PESQUISA SE DESENVOLVEU O trabalho contou com a dedicação de oito pesquisadores que desenvolveram a pesquisa tendo caráter interdisciplinar, o que possibilitou uma melhor execução da proposta. Farmacêuticos, biólogos e químicos trabalharam na pesquisa. A primeira fase foi desenvolvida pelo setor de química da UFPI, etapa em que o extrato etanólico da casca do bacuri foi analisado em sua composição química para que o produto, mais puro possível, tivesse o potencial farmacológico estudado. A segunda etapa consistiu na identificação dos materiais que acabou pela percepção do fator anti-hipertensivo na casca do bacuri. Na fase de testes, foram ministradas doses do composto em ratos hipertensos e, como resultado, a pressão arterial em todas as cobaias se manteve controlada por horas. “Buscamos analisar a ação vasorrelaxante do composto. Pelo perfil de resposta do extrato, identificamos que ele age via sistema nervoso. Como um produto natural não tem uma ação única e específica, acreditamos que ele seja um bloqueador dos canais de cálcio, o que acaba diminuindo a resistência vascular e a pressão arterial”, afirma a professora. A hipertensão arterial age de forma a aumentar os níveis de pressão sanguínea e faz com que o coração tenha que exercer um esforço maior do que o normal para garantir a circulação do sangue. No Brasil, de acordo com a pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012, 24,3% da população SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 11 MATÉRIA Foto: Allan Campêlo Aluna do Mestrado em Farmacologia realiza intervenção cirúrgica em rato hipertenso. brasileira têm hipertensão arterial contra 22,5% em 2006, ano em que foi realizada a primeira pesquisa. Apesar dos bons resultados obtidos com a pesquisa piauiense, a aplicação em seres humanos é bem mais complexa. Exatamente para este propósito, a pesquisa agora se volta para outro ponto: identificar como o organismo reage a períodos mais longos com a utilização da substância e futuramente modificar o modo de administração do composto. “É possível pensar em utilizar o composto em humanos, mas temos que fazer ainda muitos testes. A hipertensão é uma doença crônica e é preciso identificar se o uso da substância de forma frequente causa algum tipo de dano tóxico ao organismo”, destaca a professora. Até agora, o composto é usado de maneira intravenosa, ou seja, aplicada diretamente na corrente sanguínea, porém, como para os humanos é preciso o uso diário, os pesquisadores piauienses buscam uma maneira de conseguir ministrar a substância de forma oral. Com os bons resultados obtidos com a pesquisa, a professora Aldeídia destaca a participação da Fapepi neste processo. “A Fapepi teve uma importância muito grande em nosso projeto, sem a atuação efetiva da fundação, a concretização deste trabalho seria bem mais difícil”. Além de render dois resumos em evento nacionais, uma dissertação de mestrado e dois trabalhos de iniciação científica, no início deste ano, o periódico internacional Journal of Medicinal Food aceitou a publicação do artigo “Pharmacological evidence of α2-adrenergic receptors in the hypotensive effect of Platonia insignis Mart.”, destacando a pesquisa piauiense com a casca do bacuri. Robson Carlos da Silva ARTIGO Pedagogo. Mestre em Educação/UFPI, Doutor em História da Educação/UFC, Professor Adjunto I da UESPI Contato: [email protected] A Capoeira em Teresina/PI: do pé do berimbau aos espaços escolares A capoeira como manifestação cultural brasileira e fenômeno social que envolve pessoas de classes e grupos sociais diversos, criada e desenvolvida pelos escravos e seus descendentes no Brasil, é capaz de agregar valores educativos significativos, possibilitando um olhar diferenciado sobre a diversidade cultural de nosso povo, constituindo-se historicamente em um dos instrumentos privilegiados de resistência e estratégia de sobrevivência no bojo das complexas sociedades urbanas brasileiras, em que, após décadas de perseguições e quase chegando à extinção, se reinventou e assume a condição de cultura nacional, sendo aceita nos currículos escolares e culminando com sua inscrição do IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro. A pesquisa, que fomentou o Doutorado em História da Educação Brasileira, pela UFC (Universidade Federal do Ceará) e amparada no contexto dos estudos desenvolvidos no NHIME (Núcleo de Estudos em História e Memória da Educação), procurou compreender como se deu o processo histórico de inserção da capoeira nos espaços escolares, além de contribuir para estudos futuros e posterior adoção de novas fontes de pesquisa no campo da história cultural brasileira e piauiense. O estudo se assentou no seguinte problema: Como se deu a trajetória 12 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI histórica da capoeira e o processo de escolarização dessa cultura a partir das narrativas de mestres de capoeira de Teresina-PI? O objetivo principal foi investigar como se deu a trajetória histórica da capoeira e o processo de escolarização dessa cultura a partir dos testemunhos orais de mestres de capoeira de Teresina-PI. A pesquisa, de natureza qualitativa, se amparou no campo historiográfico da História Cultural, privilegiando como metodologia o uso das narrativas das memórias dos mestres de capoeira piauienses, combinados e cruzados com diversas fontes, diversos traços e fragmentos, tais como textos de jornais e de revistas periódicas, imagens e documentos oficiais ou não oficiais, na tentativa de revisitar, reconstruir e dar significado a esse passado. Os mestres de capoeira, atores principais dessa história, identificados como detentores do conhecimento sobre sua história e seu processo de escolarização e pioneiros a ensinar e manter viva a tradição dessa arte são Mestre Caramuru, Mestre Tucano, Mestre Zé Carlos e Mestre Chocolate, selecionados pela representatividade e autoridade adquirida e reconhecida no universo da capoeira, forjados nos embates da dinâmica de desenvolvimento dessa cultura. A principal experiência foi perceber a extrema dificuldade que é contar as histórias dos “povos sem história”, dos grupos marginalizados e tratados como de menor importância na historiografia oficial, problema que se agrava quando se busca uma história que seja contada pelos próprios sujeitos, que vivenciaram e construíram tal história. Esse é o caso da capoeira no Piauí, cujas fontes oficiais parecem não existir, não havendo o cuidado em se registrar a história de uma cultura em que os sujeitos são pessoas comuns, sem significância social a partir do olhar de quem representa e pode, oficialmente, falar “do” e “sobre” o outro. A pesquisa apontou para o entendimento de que a capoeira do Piauí nasceu de forma espontânea, somente pelo prazer e pela alegria de se praticar uma arte de beleza e plasticidade incomuns, uma luta que dava respeito a seus praticantes, a partir de um pequeno foco, no início dos anos de 1970, chegando até a escola por volta do ano de 1979, pela “invasão” literal aos espaços escolares. As narrativas dos mestres de capoeira revelam que sua prática é importante no imaginário teresinense, pela vastidão de saberes que a caracterizam como instrumento de conscientização e desenvolvimento da criticidade, com suas cantigas, gestualidades, histórias, tradições, poesias, segredos, mandingas e magias, em que corpo e espírito se fundem e jamais podem ser concebidos em separados. Gleison Brito Batista¹ · Fernando Castelo Branco Gonçalves Santana² · Fábio de Jesus Lima Gomes³ 1.Graduando em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI) 2. Especialista em Desenvolvimento Web (UFPI) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI) 3. Doutor em Informática na Educação (UFRGS) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI) A aplicação das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) para fins educacionais colaboram para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais agradável e proveitoso. Os recursos necessários para a utilização das NTICs, muitas vezes, não fazem parte do cotidiano de boa parte dos alunos e professores no Brasil. Grande parte da população não tem acesso à internet, ocasionando o aumento da exclusão digital e, consequentemente, social. No cenário brasileiro, a TV surge como uma solução para veiculação de conteúdo de qualidade e, com o advento da TV Digital Interativa (TVDi), surge a possibilidade de interação com o telespectador. Por meio de processos de digitalização do sinal da TV, aplicações podem ser executadas em aparelhos de TV. Na transição da TV analógica para a TV digital, ocorreram diversas mudanças, dentre as quais se destacam: alta qualidade de som e imagem, interatividade com o conteúdo apresentado e otimização da largura da banda utilizada na transmissão do sinal e de vídeos sob demanda. Na TV analógica, tem-se a transmissão de áudio e vídeo, enquanto, na TV digital, é acrescido mais um elemento: dados. Na camada de dados, aplicações e serviços podem ser enviados. O Decreto nº 5.820/2006, que dispõe sobre implantação da TVDi no Brasil, deixou claro que o uso da tecnologia para fins educacionais será um dos seus principais objetivos, uma vez que o aluno passa de um papel passivo de mero telespectador para um papel ativo na interação com o conteúdo transmitido pela TV, o que possibilita melhorias no processo de aprendizagem. Existem atualmente muitos objetos de aprendizagem construídos para a plataforma Web, porém a internet muitas vezes não é acessível em nosso país, especialmente em regiões interioranas. A TV Digital surgiu no Brasil com a proposta de levar à comunidade a possibilidade de inclusão digital e acesso a serviços governamentais voltados à educação, em uma tentativa de prover serviços antes somente disponíveis na internet. Dessa maneira, propõe-se uma ferramenta para criação de objetos de aprendizagem para TVDi baseados em mapas conceituais hierárquicos desenvolvidos com o software CMapTools©. Mapas conceituais são representações gráficas semelhantes a diagramas utilizados para representar um conjunto de significados conceituais. Por se tratar de uma técnica flexível, mapas conceituais podem ser utilizados como recur- ARTIGO Criando objetos de aprendizagem para TV Digital baseados em mapas conceituais hierárquicos sos de aprendizagem. Na tela inicial das aplicações construídas com a ferramenta proposta, o usuário tem acesso ao mapa conceitual por meio de uma estrutura de diretórios. Também é exibida na tela as mídias associadas a cada nó. Cada mídia é iniciada quando o telespectador aprendiz pressionar o botão vermelho do controle remoto de sua TV. Ao selecionar determinado conceito, a aplicação exibirá a estrutura de nós filhos do nó selecionado. Na tela situada acima das mídias exibidas, encontra-se o vídeo relativo ao conceito selecionado. Sendo uma ferramenta voltada para o âmbito educacional, visa-se promover um ambiente agradável de aprendizagem, onde o professor poderá facilmente desenvolver aplicações para TVDi utilizando mapas conceituais hierárquicos criados a partir do CMapTools©. Como trabalhos futuros, pretende-se prover ao usuário professor a possibilidade de escolher entre vários layouts para as aplicações, além de poder criar seus próprios layouts. Com esta pesquisa, espera-se promover uma reflexão sobre a adoção da TVDi no meio educacional. Também se espera que a ferramenta proposta possa auxiliar no processo de expansão da educação no Brasil. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 13 Edmilson Araújo de Oliveira Júnior¹ · Maria do Carmo Gomes Lustosa² · Sidney Gonçalo de Lima³ · Chistiane Mendes Feitosa4 ARTIGO 1. Licenciado em Química, Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária (ICV), UFPI | 2. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Química da UFPI | 3 e 4. Professor do Departamento de Química, do Centro de Ciências da Natureza da UFPI, e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Química e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas · Contato: [email protected] Composição química e avaliação anticolinesterásica de partes aéreas de Crotalaria retusa N o semiárido nordestino do Brasil, existe uma grande incidência da intoxicação de equinos por ingestão de plantas tóxicas. Um exemplo importante é a intoxicação por Crotalaria retusa, comum no município de Teresina-PI. Diversas espécies animais, como suínos, equinos e bovinos, podem ser afetadas com intoxicação por plantas do gênero Crotalaria spp. Essas plantas apresentam altos teores de alcaloides do tipo pirrolizidinicos (APs). Alguns APs são toxinas naturais (hepatotóxicas, pneumotóxicos e carcinogênicos) presentes em mais de 6.000 espécies de vegetais em diferentes gêneros e famílias e que acometem humanos e animais (AISRES et al., 2004). O objetivo deste trabalho foi determinar a composição química de constituintes voláteis e fixos por CGEM de Crotalaria retusa, bem como avaliar seu potencial anticolinesterásico, toxicidade frente à Artemia salina e toxicidade pela técnica MTT. As plantas são ricas em uma mistura complexa de metabólitos secundários, e seus efeitos no organismo podem ser devido a uma ação conjunta de vários componentes (sinergismo) ou de componentes individuais. No caso da C. retusa, embora apresente APs tal como a monocrotalina, um metabolito secundário presente em diferentes partes da planta, e já isolada de extratos das folhas e das sementes. Outros componentes presentes nesses extratos podem ser responsáveis por princípios ativos encontrados 14 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI para a espécie como, por exemplo, o da inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), e atividade antioxidante, foco de nosso estudo. A inibição da acetilcolinesterase (AChE) humana tem várias aplicações importantes em tratamentos médicos, especialmente na Doença de Alzheimer (DA). A DA é uma desordem neurodegenerativa progressiva, afetando em maiores números idosos, e os principais sintomas dessa doença são a perda de memória, deficit na linguagem, depressão, alterações no comportamento, agitação, alterações de humor e psicose (MEDEIROS et al., 2006). O aumento do nível de ACh no cérebro através da inibição da AChE é uma alternativa para o tratamento da DA (DOHI et al., 2009). Essa elevação dos níveis de ACh pode ser útil para melhorar um dos sinais da doença: a deficiência de aprendizagem (MACHADO et al., 2009). Atualmente apenas quatro inibidores da AChE são aprovados pela agência Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para o tratamento da DA: donepezil (Aricept®), galantamina (Reminyl®), rivastigmina(Exelon®) e tacrina (THA, Cognex®). A grande variedade estrutural dos anticolinesterásicos, hoje conhecidos, e a possibilidade de explorar diferentes modos de ação dos mesmos têm estimulado o estudo fitoquímico de diversas espécies vegetais e de micro-organismos que venham fornecer novos modelos de substân- cias anticolinesterásicas. Os extratos hexânico, etanólico e decocto das folhas de C. retusa apresentaram potencial de inibição frente à AChE. Esses extratos mostraram-se atóxicos às larvas de A. salinae em ensaios MTT, o que firma sua importância e amplia as perspectivas de estudo da espécie diante de novas atividades biológicas. Os constituintes voláteis das folhas de C. retusa não têm sido relatados na literatura como inibidores da acetilcolinesterase e nem um dos componentes isolados. Assim este estudo é de grande contribuição na busca de novos fármacos anticolinesterásicos naturais. Crotolaria retusa foi objeto de estudo da então aluna Maria do Carmo no Programa de Iniciação Científica Voluntário (ICV – UFPI). Mais tarde, o aluno Edmilson Júnior (ICV – UFPI) deu continuidade, sendo objeto de estudo de seu TCC em 2013, com o tema “Composição química e avaliação anticolinesterásica de partes aéreas de Crotalaria retusa”, desenvolvido no Laboratório de Produtos Naturais da UFPI em 2013, sob orientação do Prof. Dr. Sidney Gonçalo de Lima e com colaboração da Profa. Dra. Chistiane Mendes Feitosa. Alguns resultados foram apresentados nos Congressos da Sociedade Brasileira de Química e da Associação Brasileira de Química e também em Encontros de Iniciação Científica da UFPI. O grupo está aprofundando estes estudos e pretende registrar um pedido de patente junto ao INPI. Por Nayra Veras DOSSIÊ Mestrado em comunicação da UFPI conquista reconhecimento nacional Foto: Arquivo Pessoal O Programa foi inaugurado em 2011 e, apesar das dificuldades, professores e alunos mostram que é possível conseguir visibilidade. A egressa do mestrado em comunicação Marcela Miranda ao lado dos professores da UFPI Ana Regina Rego, Paulo Fernando e do professor convidado Feliciano Bezerra Q uais os impactos da propaganda sobre os consumidores? Como a internet altera a vida dos indivíduos? Como uma novela pode influenciar no comportamento de uma dada comunidade? Estes são alguns questionamentos que podem ser solucionados com a pesquisa científica em comunicação e que começaram a ganhar mais espaço no estado com a inauguração do Programa de Pós-graduação Strictu Sensu (mestrado) em Comu- nicação da Universidade Federal do Piauí (PPGCOM) em 2011. O programa tem atraído pesquisadores das diversas subáreas da comunicação e de diferentes regiões do estado, atendendo a uma demanda até então carente desse tipo de formação. Através de um trabalho em rede, os professores do programa mostram que, apesar das dificuldades, é possível conseguir visibilidade. Exemplo disso é que mesmo com pouco tempo de existência, o PPGCOM já adquiriu reconheci- mento, com premiações nacionais, a exemplo do Prêmio Luiz Beltrão de Ciências da Comunicação. Desde que foi inaugurado, o mestrado em comunicação já formou duas turmas, totalizando 19 dissertações defendidas nas suas duas linhas de pesquisa: “Processos e práticas em jornalismo” e “Mídia e produção de subjetividades”, áreas que concentram profissionais do Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas e Marketing, mas não somente estes, pois tem SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 15 DOSSIÊ atraído pesquisadores das ciências sociais e humanas de uma forma geral. De acordo com a coordenadora do Programa, professora Doutora Ana Regina Rêgo, as linhas foram desenhadas de acordo com as diretrizes do MEC para cada uma das áreas, tendo como foco também a formação dos professores. Segundo Ana Regina, o objetivo do programa é atender às pessoas que se formam na área de comunicação na região Nordeste. “É um programa regional e nós temos recebido alunos tanto do Maranhão quanto do Ceará e do Piauí todo. Temos gente do interior, mas temos atraído principalmente alunos que se formam em Teresina nas diversas universidades e faculdades de Comunicação, sobretudo em jornalismo.” Para quem já passou pela experiência de fazer pesquisa em comunicação, o mestrado em comunicação realizado no Piauí representou a oportunidade de crescimento profissional sem ter que sair da sua cidade de formação. “Após a especialização que fiz em 2008, tinha interesse na pós-graduação, visando o mestrado, mas, devido a projetos pessoais, não pude fazer a pós em outro Estado. Quando foi anunciado o Mestrado aqui na UFPI, vi que era o momento de dar continuidade à minha formação acadêmica e foi algo bastante positivo para mim”, afirma Marcela Miranda, egressa do mestrado em Comunicação na linha de pesquisa Processos e práticas em jornalismo. Para Ana Regina Rêgo, o mestrado em comunicação tem contribuído para desenvolver a massa crítica do estado do Piauí, princi- 16 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI palmente para aqueles que querem atuar como formadores. E, apesar de ser um mestrado acadêmico, a professora ressalta que as pesquisas nas duas linhas ajudam a aprimorar tanto a prática do fazer jornalístico quanto o desenvolvimento do fazer acadêmico. Sobre as contribuições do mestrado para a sociedade, Ana Regina destaca que, além da qualificação de pessoal da área, o programa tem desenvolvido outros tipos de trabalho que beneficiam a sociedade, como o trabalho de digitalização do acervo público do estado, que, segundo ela, beneficiará pesquisadores de todas as áreas e não apenas da História e da Comunicação. Apesar das contribuições e inovações trazidas pelo mestrado, a coordenadora pontua que ainda há um grande diferencial entre produzir pesquisa e conhecimento no eixo sul e sudeste e produzir conhecimento nas outras regiões do País. De acordo com dados da Coordenação de Aperfeiçoamento em Nível Superior (Capes), atualmente existem no Brasil 67 cursos de pós-graduação em Comunicação no Brasil, dos quais 22 são de doutorado e 45 de mestrado, sendo a região Sudeste responsável por abrigar 22 dos cursos de mestrado ofertados no país (veja o mapa). Curso de mestrados e doutorados Curso de mestrado Para Ana Regina, isso representa um desafio em termos de visibilidade das produções. “Eu acho que é um desafio, mas, exatamente por ser um desafio, ele é extremamente importante. Nós temos algumas dificuldades, não da produção em si, mas da visibilidade dessa produção em nível nacional.” Para superar esse desafio, a professora ressalta que o mestrado tem desenvolvido um trabalho em rede: “Nós temos um trabalho em rede com outras regiões do país, grama Ciência sem Fronteiras, por exemplo, não contempla as áreas de Humanas e Ciências Sociais Aplicadas”. Para superar tais dificuldades, as alunas destacam o auxílio através de bolsas como fundamentais para o desenvolvimento de suas atividades de pesquisa. “Recebi auxílio da Fapepi nos últimos seis meses de realização do Mestrado, que tem duração de dois anos e foi um auxílio imprescindível vis- Somos ainda um programa pequeno, mas que se tem destacado e eu acho que já está no caminho certo. to que pude apresentar os resultados parciais de minha pesquisa em alguns eventos científicos da área, tanto no Brasil como em alguns outros países e assim ter um feedback de outros pesquisadores, proporcionando uma troca de experiências e informações que agregaram grande valor e conhecimentos a minha pesquisa”, afirma Marcela Miranda. Ao todo 17 alunos já foram contemplados com bolsas, 11 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) e 11 pela Capes. PRÊMIO LUIZ BELTRÃO Apesar do pouco tempo de existência e das dificuldades encontradas, o mestrado em Comunicação foi premiado na 16ª edição do Prêmio Luiz Beltrão. O prêmio Luiz Beltrão de Ciências de Comunicação foi criado como forma de reconhecimento para pesquisadores e grupos de pesquisa que estejam destacando-se no meio acadêmico. O troféu é concedido a quem produz trabalhos relevantes na área das ciências da comunicação e contribui para consolidar o prestígio das comunidades acadêmica e profissional brasileiras. Para a coordenadora do mestrado, professora Ana Regina, a premiação resulta de um conjunto de fatores, como a estruturação do departamento e a quantidade de professores doutores. “Nós vamos receber o prêmio em setembro em Foz do Iguaçu, exatamente porque é um núcleo que está começando a ter uma visibilidade nacional, mas, a partir de um trabalho desenvolvido por cada um dos professores, com essa formação de alunos, desde a graduação, com bolsistas de iniciação científica até o mestrado”. Além do prêmio Luiz Beltrão, a professora cita a premiação dos professores Gustavo Said e do Prof. Dr. Michael Stricklin no prêmio Donnald Brenner Best Paper Award como um indício de que o trabalho realizado no mestrado em Comunicação está no caminho certo. “Somos ainda um programa pequeno em relação aos demais programas do país, sobretudo da região Sul e Sudeste, mas é um programa que se tem destacado e eu acho que já está no caminho certo.” SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 17 DOSSIÊ com outras universidades. No caso do meu núcleo, com São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Portugal, Espanha; no caso do Gustavo Said, com o Rio Grande do Sul e Estados Unidos, e isso facilita o trâmite que a gente tem para dar visibilidade a nossas produções”. Marcela Miranda apresentou a dissertação intitulada “Do riso ao grito: a atuação dos jornais Gramma e Chapada do Corisco, na década de 1970 em Teresina-PI” e destacou que uma das maiores dificuldades de se produzir pesquisa no Estado está na falta de incentivo à produção de pesquisas científicas no campo da Comunicação desde a graduação. “Trata-se de uma área de pesquisa bastante ampla, que permite desvendar muitos saberes e que os alunos ainda na graduação devem passar por essa experiência e não se limitar somente à formação técnica que o mercado profissional exige”. Para Renata Santos, egressa do mestrado em Comunicação da UFPI e autora da pesquisa intitulada “Blogs como estratégia de regionalização em portais piauienses: estudo de caso do portal 180 graus”, da linha de pesquisa “Processos e práticas em jornalismo”, a produção de pesquisa nessa área no Estado requer dos estudantes outros desafios como, por exemplo, encontrar bibliografia nas livrarias de Teresina e mesmo nas bibliotecas: “Boa parte dos livros que utilizei comprei pela internet”. Acrescenta ainda que “análises que envolvem pesquisa de campo, como viagens ao interior do Estado, esbarram na falta de investimento, motivada, frequentemente, pelo preconceito de quem não vê a importância das mesmas. O pro- Por Vanessa Soromo DOSSIÊ Prêmio Donnald Brenner coroa parceria de 18 anos entre pesquisadores Foto: Steve Brown Gustavo Said e Michael Stricklin conquistaram a premiação internacional em 2013, na cidade de Amsterdã, com o artigo que trata das aproximações epistemológicas entre Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin. Professores do PPGCOM/UFPI durante Conferência em Amsterdã, onde lançaram livro e conquistaram o Prêmio Donnald Brenner. “ U ma pessoa pode pensar de forma independente? Somos os autores de nossos pensamentos? Como podemos saber?”. Para responder a essas e outras questões, os professores Dr. Gustavo Said e Dr. Michael Stricklin do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), nível Mestrado, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), tentaram aproximar, em nível ontológico-epistemológico, 18 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI os pensamentos de dois importantes estudiosos: o filósofo russo Mikhail Bakhtin e o físico e psicólogo inglês William Stephenson. O artigo intitulado “Comunicabilidade e Dialogismo: aproximações epistemológicas entre Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin” foi apresentado em setembro do ano passado, durante a programação do 29º Congresso da International Society for the Scientific Study of Subjectivity (ISSSS) - Q Conference 2013, realizado na cidade de Amsterdã, Holanda. Durante o evento, os professores Said e Stricklin também lançaram o livro “Anais da 1ª Conferência Internacional sobre Metodologia Q: análises quantitativa e qualitativa na pesquisa científica”. A publicação organizada pelos dois pesquisadores reúne seis artigos com temas relacionados a diversas áreas, como Comunicação, Sociologia e Ciência Política, escritos por docentes de universidades internacionais. A viagem a Amsterdã, além de produtiva, trouxe significantes surpresas aos professores do PPGCOM da UFPI. Dentre os mais de 200 trabalhos selecionados pelo Congresso, a ISSSS conferiu aos pesquisadores Gustavo Said e Michael Stricklin o prêmio Donnald Brenner Best Paper Award, pelo artigo “Comunicabilidade e Dialogismo: aproximações epistemológicas entre Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin”, considerado o melhor trabalho apresentando durante o Congresso. “Imagina que você tem um texto apresentado num Congresso que tenha mais de 150 outros trabalhos, e o seu é escolhido o melhor. Vindo de uma universidade pequena como a UFPI se comparada a outras universidades no Brasil e no estrangeiro e com um programa (PPGCOM) que é recentíssimo. E de repente você tem o seu trabalho servindo como DOSSIÊ estreitados, decidiu que a capital do Piauí seria o local que vivenciaria sua aposentadoria e entre tudo isso conheceu pessoas, uma delas foi o professor Gustavo Said. A amizade e parceria de Said e Stricklin já completaram a maioridade. Para eles, o Prêmio representa um coroamento dessa parceria. Em dezoito anos, os dois pesquisadores já publicaram juntos cerca de seis trabalhos, e a intenção é que, no futuro, novos trabalhos sejam produzidos a quatro mãos. Segundo Michael Stricklin, “a meta é fazer uma pesquisa por ano e, para 2014, o tema é a Copa Mundial”. O novo trabalho será apresentado no mês de setembro, em Salt Lake City, nos Estados Unidos, quando será realizado o 30º Congresso da Sociedade Internacional para Estudo Científico da Subjetividade. Na oportunidade, será entregue a premiação conquistada na Foto: Vanessa Soromo Capa do o livro “Anais da 1ª Conferência Internacional sobre Metodologia Q: análises quantitativa e qualitativa na pesquisa científica”, lançado na Q Conference 2013. referência para um Congresso Internacional. Isso é, no mínimo, animador. Digamos que o Prêmio seja uma recompensa pelo esforço coletivo que está sendo desenvolvido aqui no Programa”, ressalta Gustavo Said. Michael Stricklin definiu, em uma única palavra, o que significou ganhar o Prêmio Donnald Brenner - Satisfação. “O sentimento de satisfação é básico do lado positivo da vida de uma pessoa. E quando nós podemos somar as nossas atividades e os resultados são positivos dá uma grande satisfação”, completa Stricklin. O professor americano se apaixonou pelas terras piauienses em 1996, quando veio pela primeira vez a Teresina ministrar uma aula de internet. De lá para cá, muitas coisas aconteceram: foram realizadas diversas viagens e intercâmbios, os laços com o Departamento de Comunicação da Universidade foram Michael Stricklin, ao lado de Gustavo Said, mostra imagens referentes à Copa do Mundo no Brasil. O material foi utilizado durante o novo estudo dos pesquisadores que será apresentado em Salt Lake City, nos Estados Unidos. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 19 DOSSIÊ Holanda em 2013. “Nós apresentamos o trabalho em Amsterdã no ano passado, concorremos ao prêmio, saiu o resultado – nós ganhamos – e, no congresso do ano seguinte, que é esse ano, eles vão entregar o prêmio. É legal porque, você ganha lá, mas recebe depois, fica um ano curtindo”, declara Gustavo Said. É reservado aos que conquistam o Prêmio Donnald Brenner a publicação do texto em inglês na Revista Operant Subjectivity, certificado e uma recompensa financeira. Além disso, o artigo vai se transformar em capítulo de livro na Espanha e já foi publicado na revista online “Questões Transversais – Revista de Epistemologias da Comunicação”. Há quem acredite que as melhores ideias, os “insights” costumam surgir em momentos ordinários. O momento no qual os professores Said e Stricklin tiveram a ideia de aproximar os pensamentos de Bakhtin e Stephenson corrobora essa crença. Em um certo dia, a dupla de pesquisadores foi a um restaurante de Teresina e de praxe regaram a conversa com muitos autores, até que perceberam que o físico e psicólogo inglês e o filósofo russo tinham sobretudo, de um ponto de vista epistemológico, algo em comum. “Realmente foi em uma mesa de restaurante que a ideia surgiu. Depois disso, claro, para fazer a pesquisa, nós fizemos várias reuniões. Mike trazendo algumas ideias, eu trazendo algumas ideias, até que a pesquisa ganhasse corpo e pudesse ser planejada de forma mais consistente”, lembra Said. Segundo Michael Stricklin, que foi o último orientando de doutorado do professor Stephenson na década de 70 e que trabalha há muitos anos com a Metodologia Q, criada 20 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI pelo estudioso, “as ideias não vêm de muro branco. Surgem de uma situação e nós temos que estar prontos para pegar a ideia quando aparece. Se não estiver pronto para pegar, nunca pega”, afirma. O Prêmio Donnald Brenner Best Paper Award poderia ser apenas mais uma conquista na trajetória acadêmica desses professores e pes- As ideias não vêm de muro branco. Surgem de uma situação e nós temos que estar prontos para pegar a ideia quando aparece. Se não estiver pronto para pegar, nunca pega. quisadores. Mas, de acordo com eles, a premiação reflete um processo coletivo de produção de conhecimento que vem acontecendo no Piauí na área da Comunicação, que envolve parcerias entre universidades públicas, faculdades particulares, o fortalecimento de grupos de pesquisa, um ambiente de cooperação acadêmica, a realização de eventos e o apoio de agências de fomento à pesquisa como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Said e Stricklin acreditam também que uma premiação como a Donnald Benner contribui para aumentar a percepção pública da importância da Comunicação, da pesquisa e dos trabalhos desenvolvidos pelos docentes e serve principalmente como estímulo para as novas gerações de pesquisadores. “Todo processo de transferência de conhecimento a partir de programas como o Programa de Iniciação Científica, o trabalho em sala de aula, a criação dos grupos de estudos, as orientações de mestrado, eu acho que isso tudo é importante. E, para que o aluno se sinta estimulado, é preciso que ele reconheça de fato no professor um pouco desse esforço, perceba o trabalho do professor como algo estimulante. Então, eu acredito que um prêmio como esse ou qualquer outro tipo de atividade que o professor esteja desenvolvendo serve como estímulo para os alunos, os pesquisadores em formação”, conclui Gustavo Said. “Quando chegamos na sala de aula cheia de pessoas jovens e podemos mostrar nossos livros, mostrar nossos trabalhos, mostrar o diploma que ganhamos em uma premiação, eu acredito que isso vai instigar as pessoas de uma maneira muito bonita, positiva, um motivo para elas investirem o seu suor, a sua imaginação. E bom, o que mais um professor está procurando, além de abrir um espaço novo nas cabeças dos seus alunos?!”, finaliza Michael Stricklin. Por Allan Campêlo DOSSIÊ Rádios Comunitárias e o crescimento da interatividade através da internet Primeiro doutor em Comunicação Social da UESPI chama atenção para fenômeno ainda pouco abordado. Foto: Arquivo pessoal S abe o rádio? Aquele que tremeu com a chegada da televisão, que cambaleou com os teóricos da comunicação prevendo o seu fim e que resistiu como um dos meios mais populares até hoje? Então, ele continua a surpreender, a se renovar e provocar fenômenos comunicacionais que transcendem as ondas sonoras. Quando se fala em comunicação, é comum pensar em grandes redes de TV ou Rádio, ou associar à comunicação que acontece de pessoa para pessoa, porém, por vezes, esquecemos o meio termo dessas significâncias e é, nesse momento, que se pode perceber a comunicação comunitária. O professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), doutor em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Orlando Berti, se propôs a estudar em sua tese os “Processos comunicacionais nas rádios comunitárias no Sertão do Nordeste brasileiro na internet”, o fenômeno, ainda pouco abordado, que mostra o desenvolvimento do processo de interatividade entre a internet e as rádios comunitárias. O projeto contou com a orientação da professora e doutora pela Universidade de São Paulo (USP) Cicília Peruzzo, Professor Orlando Berti em visita a Rádio Livramento FM no interior da Paraíba. referência em comunicação comunitária em todo o país. O início do estudo se deu de forma mais efetiva com uma dissertação de mestrado apresentada em 2006. O professor Orlando Berti viajou, conheceu e transformou em dissertação a pesquisa sobre as rádios comunitárias legalizadas no sertão de nosso estado. “Em minha dissertação, eu andei 19 mil km para estudar todas as rádios comunitárias legalizadas do sertão do Piauí. Eu costumava dizer para as pessoas que faziam as rádios que elas são mais importantes do que qualquer outra rede de comunicação nacional. Esses comunicadores mostram a falta de um médico ou de um dentista, problemas que acontecem em um quarteirão e pela magnitude das grandes redes nacionais nunca teriam destaque.” Proximidade, talvez esta seja, de fato, a palavra certa para descrever, com clareza, o que no mínimo deve ser a relação entre uma rádio co- SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 21 DOSSIÊ Foto: Arquivo pessoal Com mais 15 mil km percorridos para concluir sua tese de doutorado, Orlando conheceu grande parte do sertão nordestino para compreender a comunicação comunitária. munitária e as pessoas para quem a ela se dirige. Sem fins lucrativos ou qualquer produção comercial, e principalmente prezando por ter valor representativo para uma comunidade específica, é assim que esse tipo de emissora deve ser de acordo com a lei 9.621, que vigora no Brasil desde 1998. Com o crescimento nem tão recente da popularidade das mídias digitais, as rádios comunitárias ganharam um aliado a mais para auxiliar na busca pela interatividade e representatividade de seus ouvintes. Orlando buscou identificar como essa interação entre rádio comunitária e internet estava acontecendo. “Um dos fenômenos mais interessantes que encontrei quando estava analisando como abordar a comunicação comunitária foi a questão da migração sazonal nas cidades do interior do Piauí. Locais em que aproximadamente 80% dos homens, durante seis meses do ano, saem da cidade para trabalhar em 22 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI colheitas, por exemplo, e utilizam a internet para interagir com as rádios comunitárias e manter contato com seus familiares. E isso mostra a força da internet dentro das rádios comunitárias, mesmo com um Piauí que ainda sofre com os altos índices de exclusão digital”. Para a construção de sua tese de doutorado, Orlando Berti percorreu oito estados do nordeste brasileiro e se deparou com uma realidade pouco conhecida dos estudantes e docentes de comunicação: “Pedi carona, andei de moto, carro, nem sempre pude dormir porque não tinha local, mas fui muito bem recebido por onde passei e vi que esses comunicadores têm o desejo de fazer acontecer. Infelizmente a maioria ainda reproduz, copia muito de programas de grandes emissoras, mas tem o desejo de melhorar, percebi isso quando pedi mais proximidade na programação, produções mais voltadas à realidade da comunidade e vi que eles foram bastante receptivos ao que sugeri”. Depois de delimitar o que realmente seria compreendido no trabalho, foram analisadas 8 rádios, uma de cada estado. A escolha se deu através dos menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Diversas outras rádios foram visitadas, somente no sertão do Piauí foram 30, e diferentes concepções de comunicação comunitária puderam ser identificadas no trabalho. “Todos acreditavam em um conceito diferente para o que realmente deve ser uma rádio comunitária. Alguns achavam que devia ser mais política, outros apostavam tudo na interatividade. Não temos um padrão e talvez isso seja o mais interessante”, destaca. Apesar do interessante fenômeno estudado, o professor Orlando Berti destaca que a academia ainda deve muito à comunidade, pesquisas que propiciem melhorias na comunicação. “Eu não creio que seja por maledicência e talvez nem fosse tão interessante se a maioria dos estudos fossem voltados para essa linha de pesquisa, mas a academia precisa olhar mais para estes acontecimentos. Alunos e professores precisam meter o pé na lama para dar respostas que a comunidade necessita. Não é fácil, mas tem que ser feito!”, finaliza. Antes mesmo de ser concluída, a tese do professor Orlando Berti, deu origem a outro projeto: o “Núcleo de Extensão e Pesquisa em Comunicação Alternativa, Comunitária e Popular”, desenvolvido pelos alunos de Comunicação Social do campus de Picos da UESPI. O projeto segue desenvolvendo a prática de analisar como a comunicação comunitária está crescendo e de que forma a academia pode contribuir para esta expansão. Por Vanessa Soromo | Colaboração Rosa Rocha MATÉRIA Obras do cineasta Douglas Machado são objeto de estudo de pesquisadores piauienses O filme “Cipriano” (2001) e o documentário “Um Corpo Subterrâneo” (2007) foram analisados pelo doutor em História, José Luís de Oliveira, e pela mestre em Imagem e Som, Patrícia Vaz, respectivamente. Os estudos dos dois pesquisadores demonstram o quão interessante pode ser a cooperação entre diferentes áreas do saber. Foto: Arquivo Pessoal P esquisadores nascidos no Piauí ou que se graduaram no Estado estão dedicando-se ao estudo de histórias, costumes, figuras e obras piauienses. Dois exemplos significativos dessa tendência são as pesquisas de José Luís de Oliveira e Silva, para a obtenção do título de doutor em História pela Universidade Federal de Goiás (UFG), e de Patrícia Costa Vaz, para a obtenção do título de mestre em Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ambos os pesquisadores trabalharam com obras de Douglas Machado, cineasta piauiense que conta com importantes produções no currículo, algumas delas reconhecidas internacionalmente. “Escolher um documentário piauiense para estudar no mestrado não se tratou apenas de uma escolha baseada em afinidade, mas também uma forma de dar visibilidade às produções audiovisuais feitas em estados fora do eixo Rio e São Paulo. Foi uma forma de ‘revelar outros Brasis’”, explica Patrícia Vaz, que descobriu sua paixão pelo cinema documentário ainda na graduação, nas aulas do professor Doutor Paulo Fernando de Carvalho Lopes, quando cursava Comunicação Social na Universidade Federal do Piauí (UFPI). Mestre em Imagem e Som, Patrícia Vaz. A pesquisa de Patrícia Vaz consiste no estudo do processo criativo de “Um Corpo Subterrâneo” (2007). No documentário, Douglas Machado visitou as cidades de Cajueiro da Praia, Piripiri, Gilbués e Oeiras em busca dos mortos mais recentes. A partir de depoimentos de familiares e amigos de pessoas falecidas, o cineasta abordou questões como a construção do outro, através de memória do luto. Segundo a mestre em Imagem e Som, sua pesquisa (Na urdidura das ruínas: o percurso criativo de A dissertação de Patrícia Vaz está disponível online no endereço: http://www.bdtd.ufscar.br Douglas Machado em “Um Corpo Subterrâneo” propõe o mergulho na construção do documentário, indo além da análise do filme pronto. “Percorremos os caminhos da criação através do dossiê genético do diretor (cadernos de anotações, roteiros de edição, still, versões editadas, entrevistas do cineasta, dentre outros), além de dados de sua biografia e filmografia. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 23 MATÉRIA Foto: Nayra Veras COMUNICAÇÃO, CINEMA E HISTÓRIA O doutor em História, José Luís de Oliveira e Silva também escolheu uma das produções cinematográficas de Douglas Machado para ser o objeto de estudo da sua tese, intitulada “Discursos de memória, expectativa e identidade: o fazer cinematográfico de Cipriano e o agenciamento das imagens do sertão na cultura piauiense (1997-2003)”. De acordo com o pesquisador e professor do Instituto Federal do Piauí (IFPI), cinco conceitos amplos atuaram como alicerces de seu estudo: Expectativa, Memória, Identidade, Sertão e Inter-Texto. Além destes, outros conceitos e teorias revelaram-se fundamentais para o sucesso da pesquisa. “As quase 400 páginas da tese não tratam apenas de descrever ou analisar a narrativa de Cipriano. Interessou-me ver principalmente como o filme foi absorvido, como ele foi interpretado na sociedade piauiense. Onde foi que eu fui buscar esses discursos relacionados ao filme? Busquei na imprensa do Piauí. Por isso eu necessitei também analisar, estudar, buscar uma bibliografia que não pertence a minha área, que é a de Comunicação”, explica José Luís de Oliveira. A tese mostra que, de 1997 a 2001, período que antecede a estreia do filme Cipriano, considerado o primeiro longa-metragem piauiense, foram publicadas semanalmente matérias sobre a obra cinematográfica. De acordo com os dados levantados pela pesquisa, os três principais jornais da capital costumavam publicar, 24 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI O resumo da pesquisa de José Luís se encontra nesta edição, na seção “Teses” (pág. 28) na mesma semana, textos sobre o filme (um impresso pautava o outro). No final de quatro anos, centenas de matérias foram publicadas, na maioria das vezes, seguindo a mesma linha: “o filme é o espelho da alma do piauiense”, “o filme vai trazer a identidade do Piauí”. O estudo revela ainda que, no dia do lançamento de “Cipriano”, algumas publicações anunciaram sua estreia. Um fato curioso observado pelo pesquisador foi que, após o dia da estreia, durante uma semana, nenhuma matéria ou nota referente à obra foi divulgada na imprensa piauiense. A identificação desta e de outras situações encontradas pelo pesquisador José Luís levou a investigar, de forma mais profunda, os vários significados e intenções do que Doutor em História, José Luís de Oliveira e Silva. era dito ou não dito pela imprensa referente a “Cipriano”. “Algumas coisas me chamaram a atenção. Muitas vezes tinha uma matéria sobre Cipriano que parecia Ctrl-C/Ctrl-V de uma outra matéria já publicada antes. E a matéria parecia um pouco sem sentido. Mas, quando se olhava todo o layout da página, percebia-se que muitas vezes a matéria vinha a construir um sentido geral de crítica ou de valorização do estado”, lembra o pesquisador. A partir dessas conclusões, José Luís de Oliveira revela a importância e os diversos significados de uma produção cinematográfica como “Cipriano”. “O Cinema não se constrói apenas enquanto imagem. O Cinema é imagem, mas imagem em movimento, o Cinema é som, o Cinema é silêncio. E o filme Cipriano é um bom exemplo de como o Cinema é acima de tudo outros discursos elaborados sobre ele”, finaliza. Por Cássia Sousa MATÉRIA Pesquisa aponta necessidade de mudança no ensino de temas sexuais nos cursos de Medicina De autoria da pesquisadora Andrea Rufino Cronemberger, a pesquisa mostra que 96,3% dos professores brasileiros de cursos de Medicina abordam a sexualidade, mas apenas sob o viés orgânico, biológico e patológico. N as últimas décadas, houve diversas mudanças sociais e culturais em relação à sexualidade. Comportamentos antes tidos como patológicos passaram a ser considerados normais, e o próprio tema da sexualidade passou a ser discutido mais abertamente na sociedade, seja no âmbito midiático seja no escolar. Entretanto, isto ainda não ocorre de modo satisfatório. É o que assinala a pesquisa intitulada “Estudo transversal e descritivo sobre o ensino da sexualidade nas escolas médicas brasileiras”, desenvolvida pela pesquisadora Andrea Rufino Cronemberger, professora do curso de Medicina da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), durante o doutorado na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Ela explica que orientação sexual, direitos sexuais e reprodutivos são temas pouco abordados pelos professores de disciplinas que trazem a sexualidade como conteúdo. “A pesquisa mostrou que 96,3% dos professores das escolas médicas brasileiras abordam a sexualidade nas aulas que ofertam. No entanto, este ensino mostrou-se não padro- nizado e fragmentado em várias disciplinas. Vários temas sexuais que representam a construção social da sexualidade e que dão sentido aos comportamentos sexuais não foram abordados. Estes resultados apontam para a necessidade de mudarmos o ensino da sexualidade ofertada aos alunos de medicina. Se mudarmos esta realidade, poderemos formar profissionais médicos mais preparados para ofertar assistência integral em saúde sexual e reprodutiva da população”, explica a professora. O estudo foi realizado entre março de 2010 e julho de 2011. Foram entrevistados 207 professores, oriundos de 144 escolas médicas. De acordo com Andrea Rufino, 110 escolas encaminharam respostas aos questionários. Ela explica que, para chegar a essa amostra, selecionou previamente faculdades ou universidades que tinham cursos de Medicina concluídos até julho de 2011. Depois, entrou em contato com os coordenadores dos cursos e divulgou a pesquisa solicitando contato com professores das disciplinas de Ginecologia, Urologia, Psiquiatria e outras que abordassem o tema da sexualidade em suas ementas. A pesquisa foi publicada na revista científica The Journal of Sexual Medicine e obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi). DAS 144 ESCOLAS INCLUÍDAS NO ESTUDO, MAIS DA METADE SÃO PRIVADAS. 2,1% 14,6% 27,1% 56,2% 56,2% Privadas 27,1% Federais 14,6% Estaduais 2,1% Municipais SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 25 Por Allan Campêlo | Colaboração Rosa Rocha MATÉRIA Projeto busca alternativas para combate de doenças e produção de alimentos através da criação de peixes Foto: Arquivo pessoal Com reconhecimento internacional, pesquisa já beneficia famílias no Piauí. Sisteminha já beneficia famílias no interior do Piauí. U m criatório caseiro de peixes parece uma ideia bem comum, mas, se for aliado a uma extensa pesquisa acadêmica, esse modelo de produção alimentícia pode tornar-se também uma alternativa para controle de doenças. O grande desafio é tornar esse sistema viável, pois a criação de peixes em pequenos espaços e com grande densidade ainda possui custos elevados, principalmente para aquelas 26 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI pessoas que mais precisam: as que têm baixa renda. Apesar do desafio, projeto desenvolvido pela Embrapa Meio Norte tem tornado possível essa produção em cidades do interior do Piauí. O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e doutor em Genética e Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), professor Luiz Carlos Guilherme, desenvolveu um sistema que utiliza pequenos espaços para criação de peixes que atuam no controle biológico de larvas e mosquitos. Ainda no início de seu doutorado, o pesquisador desenvolveu o projeto “Dengoso”, que utiliza peixes da família Poecilidae, conhecidos como “barrigudinhos”. Estes peixes cresciam em pequenos tanques e se alimentavam de larvas do mosquito Aedes aegypti, o que, segundo o professor, poderia causar uma redução quase que total da proliferação do mosquito. “Em relação à dengue, pode-se obter até 100% de controle de pontos estratégicos como piscinas em clubes abandonados, ou água acumulada em locais de difícil escoamento. Realizamos um acompanhamento para garantir que o sistema está atingindo seu objetivo”, afirma. Desde o fim de seu doutorado em 2005, Luiz Guilherme concentrou seus estudos em adaptar o projeto à realidade de cada local. Assim, a partir de 2013, o projeto foi modificado e adaptado à realidade piauiense. Os municípios de Parnaíba e Campo Maior desenvolvem o projeto com a participação de alunos e professores da Universidade Estadual do Piauí MATÉRIA Foto: Arquivo pessoal Tanques têm capacidade para até 150 peixes da espécie Tilápia. (UESPI) e da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Atualmente 12 pessoas estão envolvidas no trabalho e, em breve, realizarão atividades de educação ambiental nas escolas municipais para falar da importância de se evitar criadouros e a proliferação do mosquito. Com a reformulação do trabalho, novos propósitos foram adquiridos. O “Sisteminha”, como foi batizado, une produção alimentícia, educação ambiental e geração de renda, ganhando destaque com o apoio da Embrapa Meio Norte. O “Sisteminha” tem como foco garantir que famílias de renda baixa possam tirar o seu sustento de um sistema interligado de produção alimentícia. Em pequenos espaços, peixes, galinhas e até porquinhos da índia são criados, e o adubo gerado por estes animais é aplicado para o desenvolvimento de hortaliças que também são aproveitadas no preparo da comida dos agricultores. “Os benefícios das pesquisas do Sisteminha, além de sociais e econômicos (já que garantem segurança alimentar e reduz os gastos da família com compras em supermercados), são também ambientais. Por exemplo, a irrigação das culturas é feita com os efluentes dos tanques onde são criados os peixes, que os torna riquíssimos em nutrientes. Portanto, no Sisteminha, a prática de reciclagem é constante, o resíduo de uma cultura é o insumo da outra”, completa o professor. O professor Luiz Guilherme também destaca que a criação de outras espécies pode ser em breve uma realidade do projeto: “o cultivo de camarão marinho em água doce pode garantir o acesso das pessoas que vivem longe da região costeira, até mesmo as comunidades que vivem no sertão piauiense, ao recurso pesqueiro de alto valor nutritivo e de mercado”. Questionado sobre as recompensas do projeto, o professor Luiz Guilherme destacou o lado social de seu trabalho. “O melhor prêmio é ver, a cada dia, mais crianças crescerem bem nutridas, sem risco de adquirirem doenças com base em restrição alimentar ou serem acometidas com a dengue e, com certeza, a educação ambiental que um projeto como esse desenvolve”. Em 2012, o Sisteminha ficou em terceiro lugar no prêmio para tecnologias sociais da Fundação Banco do Brasil. No dia 24 de Abril deste ano, em Córdoba, na Espanha, o trabalho recebeu, como vencedor, o prêmio internacional “Red Innovagro”, na categoria inovação tecnológica. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 27 Jonas Rodrigues de Moraes Shirlei Marly Alves Professor da Faculdade do Médio Parnaíba (FAMEP), SEDUC-PI, Secretaria Municipal de Educação de Caxias - MA | Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), 2014 [email protected] TESES Professora da Universidade Estadual do Piauí Defesa: Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013 [email protected] A Ativid@de de Tutores na Educação a Distância: Uma Análise Bakhtiniana do Prescrito e do Vivido nos Ambientes Virtuais de Aprendizagem E sta pesquisa tem como objetivo descrever e interpretar as normas do trabalho de tutoria na Educação a Distância, bem como as renormalizações promovidas no cotidiano dessa atividade. A hipótese levantada é de que a divisão do trabalho docente e as interações a distância preponderam como fatores determinantes dessas renormalizações. Teoricamente, o estudo se fundamenta na Ergologia, corrente de estudos que concebe o trabalho humano como atividade situada, no qual se efetiva um debate entre as normas antecedentes e as contínuas arbitragens promovidas pelos trabalhadores, bem como nas postulações de Bakhtin e o Círculo acerca do dialogismo, constitutivo da atividade de linguagem. A pesquisa é do tipo qualitativa, tendo sido realizado um estudo de caso na Universidade Estadual do Piauí, vinculada ao Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Procedeu-se à seleção dos dados no documento regulador do trabalho de tutoria do Núcleo de Educação a Distância (NEAD), em entrevistas com a tutora colaboradora da pesquisa e em observação das suas interações com professor e alunos no ambiente virtual de aprendizagem, gerando-se um diversificado conjunto de enunciados concretos. As análises mostram que o enunciador institucional no texto regulatório dialoga com um interlocutor-tutor dotado dos saberes procedimentais específicos de seu trabalho, antecipando uma resposta ativa de máxima adesão ao prescrito, sob a ameaça da perda do posto de trabalho. A tutora participante da pesquisa, por sua vez, no diálogo, apresenta uma forte adesão às determinações relativas ao tempo de dedicação ao trabalho, ao tempo em que cria uma série de renormalizações devidas, principalmente, à ausência do professor no ambiente virtual de aprendizagem e à busca de garantir a permanência e a motivação dos alunos (no) do curso, fatos verificados também nos enunciados com que efetiva seu trabalho. O estudo permite concluir que a atividade de tutoria na EAD, por constituir parte do trabalho da docência e desenvolver-se em interações a distância, é marcada por diversos conflitos para aquele que a desenvolve, o que move esse trabalhador a diversas arbitragens no sentido de manter estável a sua atividade. 28 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI Polifonia e Hibridismos Musicais: Relações Dialógicas entre Luiz Gonzaga, Gilberto Gil e Torquato Neto E sta pesquisa busca discorrer e analisar a produção musical, o dialogismo e as inter-relações entre o compositor Luiz Gonzaga (1912-1989) e os artistas Gilberto Gil (1942) e Torquato Neto (1944-1972). O universo estético e a trajetória dos artistas em discussão são investigadas por meio dos processos de polifonia, territorialização, hibridação, performance, entre outros postulados – categorias que constituem bases importantes para a construção deste trabalho. Outra abordagem pertinente neste estudo consiste na procura incessante por verificar os processos de invenção e instituição de marcadores identitários territoriais da região Nordeste pela inter-relação entre universal e local nas composições dos três artistas. Luiz Gonzaga ganhou projeção a partir da reinvenção do baião, mas também o sanfoneiro do Araripe se apropriou de outros ritmos musicais, os quais exerceram funções discursivas e determinantes para a institucionalização de Nordeste e de nordestino. Desse modo, a sonoridade gonzagueana teve a capacidade de expressar um sentimento de nordestinidade que reverberou e encontrou ressonância em seus ouvintes/receptores. Nessa proposta, procura-se também compreender de que modo os artistas Gilberto Gil e Torquato Neto – integrantes do movimento tropicalista – apropriaram-se do universo musical gonzagueano e dos gêneros tidos como oriundos do Nordeste, bem como de outras paisagens sonoras. Compreende-se que, nas canções desses compositores, há um diálogo visível com o modus operandi de Luiz Gonzaga, no que se refere a ritmos, performance, elementos melódicos, textuais, além de signos que remetem à cultura acústica do sertão nordestino. A relação da história com a música, o dialogismo, os processos de polifonia e hibridização das canções dos referidos compositores possibilitou constatar que existiu entre eles um intenso diálogo. Marcio André de Oliveira dos Santos José Luís de Oliveira e Silva Discursos de Memória, Expectativa e Identidade: o fazer cinematográfico de Cipriano e o agenciamento das imagens do sertão na cultura piauiense (1997-2003) A pesquisa trata das relações entre História e Cinema, tem como objeto o filme Cipriano (Douglas Machado, 2001) – considerado o primeiro longa-metragem piauiense – e como problemática o desafio de entender as formas como o filme em análise, e os discursos que são construídos ao seu redor traduzem o universo sertanejo piauiense e como esses significados se relacionam com as estereotipias que historicamente foram tomadas como referências para pensar esse universo. Mais do que simplesmente descrever o processo de criação de Cipriano, a preocupação esteve localizada na possibilidade de verticalizar as análises de um conjunto amplo e diversificado de fontes (matérias publicadas em jornais e revistas, programas de rádio e TV, material de divulgação, encartes de festivais de Cinema e, claro, o próprio filme objeto desta pesquisa). Essas análises foram embasadas sobre chaves conceituais elaboradas a partir de um arcabouço teórico-metodológico igualmente amplo e diverso de onde se sobressaem as chaves imagem, sertão, identidade e memória. A partir desse exercício historiográfico, (re)construiu-se o que chamei de evento Cipriano, ou seja, o universo discursivo formado pelo filme, pelos discursos carregados de expectativas em relação à memória e à identidade do ser sertanejo e piauiense, que deveriam ser visíveis no filme, e pelas diversas formas de se apropriar da obra, motivadas por interesses pessoais ou de determinados grupos. A pesquisa foi perpassada por um duplo desafio. Primeiramente, há o desafio posto ao meu ofício enquanto historiador: elaborar uma operação historiográfica que seja sustentada em uma fonte escorregadia como o é a cinematográfica e que assume a forma de intertextos que envolvem linguagens as mais diversas. O segundo desafio foi adentrar um campo de discussão controverso como o é aquele que trata de questões identitárias e de memória, em especial daquelas que incidem sobre as imagens do sertão na cultura brasileira. Atento a esse duplo desafio que envolve a pesquisa, deixo claro que a minha prática, propositalmente, trilhou dois caminhos, os quais acabaram por se entrecruzar ao final: as reflexões acerca das imagens do sertão se conectaram com aquelas que tratam do ofício do historiador e de questões e temas que se revelam sempre problemáticas ao seu metier. TESES Professor Adjunto do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Piauí | Defesa: Instituto de Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2012 [email protected] Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI Defesa: Universidade Federal de Goiás – UFG, 2013 [email protected] Políticas raciais comparadas: movimentos negros e Estado no Brasil e Colômbia (1991-2006) A tese discute e analisa o conjunto de relações político-institucionais estabelecidas entre movimentos negros e Estado no Brasil e Colômbia sob uma perspectiva comparativa entre os anos de 1991 e 2006. Procura-se mostrar que ambos os países apresentam histórias de formação racial e nacional que se assemelham e se diferenciam substancialmente. Tais semelhanças e diferenças se expressam no “mito da democracia racial” e na ideologia da mestiçagem, dois mecanismos que funcionam como mantenedores das desigualdades raciais em ambos os países de modo a influenciar os modos pelos quais os movimentos negros brasileiros e colombianos têm negociado políticas de superação das desigualdades raciais junto aos poderes estatais, argumento que Brasil e Colômbia adotaram “políticas raciais racistas” entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, proibindo a entrada de imigrantes negros, asiáticos e árabes e incentivando a entrada de imigrantes europeus. A principal justificativa era de que estes últimos impulsionariam o desenvolvimento econômico, quando, na realidade, o propósito era o de embranquecer a população existente naquele momento, composta majoritariamente por “negros e mestiços”. Após os anos de 1990 e devido ao estreitamento das relações político-institucionais entre movimentos negros e o Estado, a ideia de “políticas raciais” sofre modificações importantes e ganha novos contornos, passando a significar políticas públicas de promoção da igualdade racial e de reconhecimento identitário dos afrodescendentes. Nesse sentido, as políticas de ação afirmativa passam a ser demandadas pelos movimentos negros de ambos os países como “políticas raciais antirracistas”, visando à superação de desigualdades raciais entre brancos e negros. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 29 Por Vanessa Soromo MATÉRIA Pesquisadores estudam o turismo em unidades de conservação no Piauí Foto: Arquivo Pessoal Rodrigo Melo e Valdecir Galvão investigam os impactos ambientais produzidos pelas visitações às UC’s e buscam estratégias que desenvolvam o turismo sustentável. Pesquisador Rodrigo Melo registra visitação na APA do Delta do Parnaíba. O Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC) e a Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta do Parnaíba são preciosidades da natureza no Piauí. Elas fazem parte das 39 Unidades de Conservação (UC’s) que o estado possui e são objeto de estudo de duas importantes pesquisas apoiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi). Uma delas intitula-se “Turismo de Baixo Carbono em Unidades de Conservação no Piauí”, e é desenvolvida pelo professor Rodrigo de Sousa Melo, bolsista do Programa de Bolsas de Doutorado e de Auxílio para Docentes de Instituições de Ensino Superior, edital 008/2012 Capes/Fapepi. Segundo o pesquisador e profes- 30 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI sor do curso de Turismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI), campus Parnaíba, “a pesquisa consiste na análise dos impactos do turismo em Unidades de Conservação, com ênfase no inventário das fontes de emissão de dióxido de carbono (CO2) dos visitantes e prestadores de serviços turísticos. Para isso, utilizou-se como categorias analíticas os consumos de energia e de água, os gastos com combustíveis em deslocamentos terrestres, aéreos e aquáticos e a produção de lixo orgânico e inorgânico”. A Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba está situada no bioma Marinho e enquadra-se como uma Unidade de Uso Susten- tável (UUS) e o Parque Nacional de Sete Cidades está localizado no bioma Caatinga e é definido como uma Unidade de Proteção Integral (UPI). Estas características peculiares de cada UC’s foram determinantes para torná-las objeto da pesquisa de Melo. “Ademais, ambas possuem um fluxo turístico crescente e não contemplam programas para a avaliação e monitoramento dos impactos da visitação”, afirma o pesquisador. O doutor em Geociências - Meio Ambiente Valdecir Galvão, coordenador do projeto “Análise Geoambiental do Sistema Flúvio-Deltaico do Rio Parnaíba, Estado do Piauí, Visando Incremento de Atividades Turísticas, Sob a Égide do Desenvolvimento Sustentável”, corrobora a afirmação de Melo. Segundo Galvão, a ausência de um planejamento efetivo para a administração dos impactos ambientais resultantes do turismo é um problema encontrado em muitas unidades de conservação piauienses. Uma das UC’s que se encontram nesta situação é o Delta do Parnaíba, o objeto de estudo do pesquisador. “Acredito que é imprescindível um estudo de impacto decorrente das atividades turísticas para posteriormente determinar qual a capacidade de carga turística para o local, para que não ocorra um impacto indesejado e irreversível”, ressalta Galvão. Turismo Sustentável A Organização Mundial de Turismo (OMT) define o Turismo Sustentável como “a gestão de todos os recursos de tal forma que as necessidades econômicas, sociais e estéticas possam ser satisfeitas mantendo-se ao mesmo tempo a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de apoio à vida”. Os pontos elementares desta ideia, que se popularizou na década de 90 e que se deriva do conceito de desenvolvimento sustentável, permeiam os objetivos, metas e atividades dos estudos que estão sendo desenvolvidas por Valdecir Galvão e Rodrigo Melo. Ambas as pesquisas configu- plinares, capazes de preencher essa lacuna do conhecimento no nosso Estado”, ressalta Rodrigo Melo, responsável pelo projeto “Turismo de Baixo Carbono em Unidades de Conservação no Piauí”. Para o pesquisador Valdecir Galvão, os avanços das pesquisas científicas são essenciais para que o turismo nas Unidades de Conservação Piauienses se desenvolva de maneira sustentável, gradual e planejado. “Acredito que, com o início do curso de mestrado para o próximo ano, as pesquisas nessa área vão aumentar e se desenvolver de uma forma mais dinâmica e incisiva. É através da pesquisa que se descobre o funcionamento do ambiente e suas fragilidades. Somente através dela é que se poderá saber como e se será possível e desenvolvido alguma atividade no local, em virtude de sua fragilidade e assim poder planejar melhor as atividades”, declara Valdecir Galvão, coordenador do projeto “Análise Geoambiental do Sistema Flúvio-Deltaico do Rio Parnaíba, Estado do Piauí, Visando Incremento de Atividades Turísticas, Sob a Égide do Desenvolvimento Sustentável”. MATÉRIA ram-se de suma importância para o contexto atual do Piauí, estado que possui um significante patrimônio ambiental, mas pouco explorado por estudos científicos que abordem a intrincada rede de relações estabelecida entre Meio Ambiente, Turismo, Sustentabilidade e temas afins. Segundo Rodrigo Melo, no estado do Piauí, há algumas pesquisas publicadas, com caráter disciplinar, que abordam apenas uma das dimensões da sustentabilidade e, em face da complexidade e da multidimensionalidade da questão ambiental, tais estudos promovem uma visão fragmentada e desconectada da relação entre turismo e meio ambiente, tornando-se pouco eficazes para subsidiar o processo de tomada de decisões. “Nesse contexto, entendo que se faz necessário desenvolver estudos que promovam a conexão das dimensões da sustentabilidade e do turismo em diversos contextos sociais, econômicos e ambientais do Estado. Propostas como o Mestrado e o Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPI) são essenciais para a elaboração de estudos interdisci- Foto: Arquivo Pessoal Valdecir Galvão é bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR-Piauí), edital nº 007/2013 Fapepi/CNPq, que tem como principal objetivo estimular a fixação de recursos humanos com experiência em ciência, tecnologia e inovação e/ou reconhecida competência profissional em instituições de ensino superior e pesquisa. O objetivo central da pesquisa desenvolvido por Galvão é a elaboração de uma análise geoambiental do sistema flúvio-deltaico do rio Parnaíba, que possibilitará a identificação e caracterização dos subambientes do Delta mais favoráveis ao interesse turístico. A partir disso, saber qual a fragilidade ambiental e qual o tempo de resiliência para cada subambientes identificados, com a finalidade de qualificar os impactos (ou possíveis impactos) que os subambientes desse sistema podem sofrer com a atividade turística e, posteriormente, determinar qual a capacidade de carga para os ambientes flúvio-deltaicos. Pesquisador Valdecir Galvão em trabalho de campo. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 31 A EA PIA DICAS DE LIVROS O DNA DA CONSPIRAÇÃO: O DEPOIMENTO DE DOIS OFICIAIS DE EXÉRCITO QUE NÃO ADERIRAM AO GOLPE MILITAR DE 1964 Autores: Jônatas de Barros Nunes, Gastão Rúbio de Sá Weyne Número de Páginas: 470 (São Paulo: Scortecci) Ano: 2012 E-mail: [email protected] A obra nasceu da ideia de dois oficiais da reserva do Exército Brasileiro que vivenciaram sofrimentos com a implantação do Regime Militar em 1964. Fatos e episódios explicitados no livro evidenciam e fornecem um bom ângulo de visão sobre a vida castrense intramuros, mostrando a mobilidade do esqueleto militar da conspiração. Esta, após sucessivos reveses, foi afinal vitoriosa em 1964, conseguindo tomar de assalto o Poder e entravando a democracia no Brasil por vinte e um anos. O livro mostra a agonia do regime, decorrente da conspiração reincidente e exibe fragmentos da personalidade de inúmeros perseguidores. 32 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI A EA PIA DICAS DE LIVROS ENTRE VAQUEIROS E FIDALGOS: SOCIEDADE, POLÍTICA E EDUCAÇÃO NO PIAUÍ (1820-1850) NAÇÃO, PAÍS MODERNO E POVO SAUDÁVEL: POLÍTICA DE COMBATE À LEPRA NO PIAUÍ EDUCAÇÃO, POLÍTICA E RELIGIÃO NO MUNDO ANTIGO. Autor: Marcelo de Sousa Neto Número de Páginas: 335 Ano: 2013 E-mail: [email protected] Autor: Antônia Valtéria Melo Alvarenga Número de Páginas: 343 Ano: 2014 E-mail: [email protected] Organizadores: José Renato de Araujo e José Lourenço Pereira da Silva Número de Páginas: 221 Ano: 2012 E-mails: [email protected]; [email protected] O livro é reflexo da tese de doutorado defendida pelo autor em 2009 e tem como tema principal a biografia do Padre Marcos de Araujo Costa. Através da reconstrução da sua trajetória de vida, o autor recupera a análise da sociedade, da política e da educação no Piauí na primeira metade do século XIX, em um momento de profundas transformações. A leitura proporciona revisitar algumas das dimensões sociais do Piauí do século XIX, suas tensões e contradições, contribuindo para o debate historiográfico sobre o período. A obra resulta de pesquisas sobre a Lepra no Piauí no contexto da modernização e desenvolvimento do Brasil, quando se deu o estabelecimento da política nacional de combate à lepra, no período entre 1930 e 1960. Ao longo do texto, a autora mostra que o Piauí, durante os primeiros anos da República, não possuía uma estrutura institucional mínima de saúde pública, o que favoreceu a proliferação de diversas endemias por seu território, embora no imaginário do piauiense estivesse presente a ideia de que o Estado gozava de excelente salubridade. A obra reúne trabalhos de estudiosos provenientes de diversas instituições dedicados à cultura helênica e seu legado. O livro é composto por 13 artigos com o tema “educação, política e religião no mundo antigo”. A educação é entendida como a forma mais apropriada de conhecer o mundo e a si mesmo. O livre debate ideias para o exercício da cidadania e do governo é o aspecto principal da política grega. No tocante à religião, os autores destacam como a religião penetra todos os aspetos da vida social. SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI 33 PROJETO Memória do Jornalismo Piauiense Profa. DrªAna Regina Rêgo Coordenadora do Projeto Memória do Jornalismo e do PPGCOM-UFPI, membro do Conselho Editorial da Sapiência. O jornalismo enquanto prática social estrutura sua narrativa no presente a partir de condições de produção deste mesmo presente. Seu discurso aborda diversos aspectos da sociedade de sua atuação. Através dele, inúmeras vozes ganham vida e muitas outras são relegadas ao silêncio. Sua missão é prestar um serviço público levando informações de qualidade e interesse público, entretanto, variáveis intermitentes em seu processo de construção o desviam, muitas vezes, de seus objetivos. 34 SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI Concordamos com Le Goff (2003) quando enquadra o jornalista como um dos profissionais da memória, muito mais do que com Nora (1974), que imputa aos meios de comunicação a predominância da história sobre a memória nos dias atuais, embora reconheça sua influência nesse processo. Nesse contexto, o jornalismo enquanto lugar de memória se coloca disponível para o trabalho do pesquisador em um momento posterior ao momento de sua construção, em que a temporalidade da categoria se impõe ao presente. Trata-se de uma análise a qualquer tempo, em que se considera o tempo presente de sua construção já situado no passado, a partir de um presente de observação. Enquadradas, manipuladas ou somente trabalhadas, o jornalismo guarda, em si, memórias sociais que podem ser acessadas a qualquer momento e que não se encontram cristalizadas, mas fazem parte de um jogo em que podem ser confrontadas e até modificadas. Ficamos assim com a escolha de Ricouer (2012) para quem os lugares de memória continuam como de memória. Diante desse contexto e do péssimo estado de conservação dos periódicos piauienses nos diversos acervos incluindo a Casa Anísio Brito, que impossibilita que muitos pesquisadores tenham acesso ao jornalismo do Piauí, foi que, em 2010, ao retornamos do doutorado, criamos, a partir do núcleo de pesquisa que coordenamos no PPGCOM-UFPI, NUJOC-Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação, o Projeto Memória do Jornalismo e, com o incentivo da Profa. Dra. Jacqueline Dourado, criamos ainda o Projeto Memória do curso de Jornalismo da UFPI. A iniciativa consiste em digitalizar o acervo de periódicos (jornais, revistas, almanaques e outros) do Piauí desde o século XIX até os dias atuais, disponíveis no Arquivo Público do Piauí, acervos dos próprios meios de comunicação e acervos pessoais. O projeto funciona a partir do engajamento dos bolsistas do NUJOC em nível de graduação e de pós-graduação (mestrado), assim como bolsistas do PET - Programa de Educação Tutorial do Curso de História da UFPI - e conta com a parceria do Núcleo de História da Educação também desta IES. Durante os anos de 2011, 2012 e 2013, foram digitalizados cerca de 10 mil fotogramas equivalentes a 2.500 exemplares de jornais e revistas disponíveis no Arquivo Público do Piauí e em acervos pessoais. O Projeto Memória do Jornalismo tem o apoio do CNPq e da CAPES. O primeiro financiou, através da pesquisadora responsável, equipamentos que facilitaram o processo de digitalização; a CAPES, por sua vez, através do Programa Pro-Equipamentos, financiou uma digitalizadora de microfilmes, comprada já em 2014 e que está acelerando o processo de digitalização a partir dos acervos de microfilmes da própria coordenadora do projeto, assim como do PET da História e do NUPEM também do curso de História, todos da UFPI. O maior apoio, no entanto, tem vindo da administração superior da UFPI, assim como do Departamento de Comunicação e do Programa de Pós-Graduação, com disponibilização de espaço, equipamentos e cessão de bolsas para completar o número de alunos que necessitamos para o projeto. Publicação Científica da FAPEPI