ISSN 1809-0915
Teresina-PI | Edição nº 37 | Ano X
Publicação Científica da FAPEPI
COMUNICAÇÃO
Pesquisas piauienses rompem as fronteiras do Estado
FÁRMACO
ENTREVISTA
SUSTENTABILIDADE
Fator anti-hipertensivo é
descoberto na casca do bacuri
José Bringel Filho fala sobre
Apps móveis
Unidades de Conservação do
Piauí são alvo de estudos
A
EA
PIA
www.fapepi.pi.gov.br
S
EXPEDIENTE
N° 37 Ano X
ISSN - 1809-0915
PUBLICAÇÃO SAPIÊNCIA
Publicação produzida pela Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí
Publicação Quadrimestral
CONSELHO EDITORIAL
Ademir Sérgio Ferreira de Araújo
Ana Regina Barros Rêgo Leal
Antônia Jesuíta de Lima
Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Diógenes Buenos Aires de Carvalho
Francisco Chagas Oliveira Atanásio
Hermes Manoel Galvão Castelo Branco
João Batista Lopes
Maria José Lopes de Carvalho
Raimundo Isídio de Sousa
Ricardo de Andrade Lira Rabêlo
Rivelilson Mendes de Freitas
7
Em entrevista
pesquisador apresenta
projetos desenvolvidos
no laboratório Opala
EDITORES, REDAÇÃO E FOTOS:
Cássia Sousa
Nayra Veras
Rosa Rocha
Vanessa Soromo
ESTAGIÁRIO:
Allan Campêlo
REVISÃO DE TEXTOS:
Raimundo Isídio de Sousa
DIAGRAMAÇÃO:
Tanurio Silva
IMPRESSÃO E ACABAMENTO:
Grafiset Gráfica e Editora
TIRAGEM:
3 mil exemplares
AO LEITOR
Para críticas, sugestões e contato:
[email protected]
www.fapepi.pi.gov.br
Av. Odilon Araújo, 372, Piçarra
Teresina-P*t$&1
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
10
Propriedades farmacológicas
são encontradas na casca do
bacuri
26
30
Sistema criado por pesquisadores
da Embrapa Meio-Norte beneficia
famílias no interior do Estado
Pesquisadores investigam
impactos ambientais
causados pelo turismo em
unidades de conservação
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Sumário
15
Dossiê destaca pesquisas em
comunicação desenvolvidas
no Piauí
Projeto Memória possibilita
digitalização do acervo de
periódicos do Piauí
E mais...
artigos, teses e
dicas de livros.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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D
Editorial
os primeiros sinais de fumaça, usados há milhões de
anos para se comunicar, até os dias de hoje, a humanidade desenvolveu uma série de recursos para aperfeiçoar
seu processo de comunicação: do pergaminho ao papel, do pombo-correio à imprensa, do telegrama ao e-mail, do rádio à TV.
Na contemporaneidade, somos bombardeados por informações que nos chegam de todos os lados, seja de um político, um
artista, ou uma marca de refrigerante com sua publicidade no
rádio, internet ou televisão. Com tanto progresso nos meios e
modo de fazer comunicação, é natural que surjam muitas dúvidas e questionamentos sobre como a comunicação nos atinge, de
como altera nosso modo de ver e encarar o mundo. Questionamentos que podem até ser respondidos pelo senso comum, mas
que ganham maior rigor e confiabilidade quando respondidas
pela pesquisa científica.
Conscientes da importância desse tipo de pesquisa para o
desenvolvimento social, a edição de nº 37 da Sapiência traz um
dossiê sobre as pesquisas desenvolvidas no estado do Piauí na
área de comunicação. Na infinidade de possibilidades que podíamos contemplar, optamos por tratar dos resultados de alguns
estudos realizados por pesquisadores das duas Universidades
públicas do estado sobre os mais diferentes tipos de mídia.
Para abrir o nosso dossiê, apresentamos uma reportagem sobre o mestrado em comunicação da UFPI, que tem representado
o principal centro de produção de pesquisas na área no Piauí.
Apesar dos desafios impostos a quem se propõe a tarefa de fazer
pesquisa em comunicação, o mestrado tem ganhado visibilidade
nacional. Por isso, não poderíamos deixar de registrar a conquista do prêmio internacional Donnald Brenner pelos professores
do programa de mestrado da UFPI, assunto da nossa segunda
matéria do dossiê. Encerrando o dossiê, apresentamos a matéria
a respeito da pesquisa realizada por professor do curso de Jornalismo da Uespi, que trata de como a internet tem influenciado no
modo de fazer das rádios no interior do Nordeste. Registramos
também as pesquisas que têm como objeto de estudo o cinema
piauiense. Estudos nessa área têm-se tornado cada vez mais frequentes e demonstram a tendência dos pesquisadores em analisar a produção cultural do estado, trabalho cada vez mais interdisciplinar.
A entrevista desta edição também tem como foco a discussão sobre a comunicação. O Professor Dr. José Bringel Filho,
coordenador do laboratório Opala da Uespi, nos falou sobre o
desenvolvimento da tecnologia digital e sua aplicação na comunicação pública.
Essa edição conta ainda com matérias sobre o turismo sustentável em unidades de conservação no Piauí, os resultados das
pesquisas sobre a descoberta de fatores anti-hipertensivos na
casca do bacuri, artigos, teses, dicas de livros e muito mais. A
equipe Sapiência agradece a todos que contribuíram para a produção desta edição e deseja aos leitores uma boa leitura.
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
Redes
SOCIAIS
AIS
Agradecemos aos nossos
seguidores no Facebook por
ultrapassarmos a marca de
1600 seguidores. Este número
resulta do esforço da gestão da
Fapepi e da Ascom em popularizar o acesso ao conhecimento
científico e tecnológico. Entendemos que as redes sociais são
fundamentais para a interação
e o compartilhamento de informações com os pesquisadores e
a comunidade em geral.
Continue acompanhando
nossas publicações e siga-nos
em nossas redes sociais.
Fapepi PI
@Fapepi_pi
fapepi pi
Por Nayra Veras
ENTREVISTA
Tecnologia digital a favor da
comunicação pública
Foto: Nayra Veras
O professor PhD. Bringel Filho coordena o Laboratório de Sistemas Onipresentes e Pervasivos (OPALA) e fala de que forma o conceito de seres humanos como sensores pode
contribuir para auxiliar na gestão pública.
José de Ribamar Martins
Bringel Filho
Possui pós-doutorado pela Université d’Evry Val d’Essonne, UEVE
France (2011), na área de suporte
a tomada de decisões sensíveis ao
contexto para sistemas ubíquos de
saúde. Tem doutorado pela Université Joseph Fourrier - UJF, Grenoble
I - France (2010), e realizou estágio
doutoral (sanduíche) no National
Institute of Informatics - NII, Tokyo Japão (2009). É mestre em ciência
da Computação pela Universidade
Federal do Ceará (2004), especialista em desenvolvimento para
a Web pela Universidade Federal
do Piauí (2001) e graduado em
Ciência da Computação pela Universidade Federal do Piauí (2000).
Atualmente é Professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e
coordenador do Omnipresent and
Pervasive Systems Laboratory OPALA (UESPI).
D
uas décadas se passaram
desde que a internet se
tornou popular no Brasil.
Naquele contexto, década de 90, a
internet representava a possibilidade de potencializar as atribuições
do computador, tornando possível
conectar pessoas de diferentes par-
tes do mundo. Naquela época, as
tecnologias digitais apresentavam
muito mais previsões que diagnósticos concretos sobre suas possibilidades. Nos dias de hoje, pode-se quase
afirmar que computadores são coisas
do passado. Numa época em que a
internet está cada vez mais presente
nos mobiles (celulares e tablets), o
“boom” são os aplicativos utilizados
para aperfeiçoar e facilitar a comunicação instantânea. Não por acaso,
a pesquisa para o desenvolvimento
de softwares para mobiles tem sido
a tarefa mais comum entre os cientistas de tecnologia. Entusiasta des-
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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ENTREVISTA
sas pesquisas, o professor PhD. José
de Ribamar Martins Bringel Filho
coordena o Laboratório de Sistemas
Onipresentes e Pervasivos (OPALA).
O laboratório está sediado na Universidade Estadual do Piauí (UESPI)
e concentra projetos de Pesquisa &
Desenvolvimento focados em soluções móveis, os chamados APPs. O
carro-chefe resultante de tais projetos é o aplicativo “De olho na cidade”,
que objetiva aproximar o cidadão da
gestão pública através do poder de
fiscalização. Em entrevista à Sapiência, o pesquisador contou sobre
o desenvolvimento do aplicativo, o
desafio para se inovar e os reflexos
dessas pesquisas para o Piauí.
Como são desenvolvidas as pesquisas do Laboratório Opala?
A grande dificuldade do professor cientista é tornar a tecnologia ou
o conhecimento científico em algo
útil para a sociedade. Os projetos
que desenvolvemos no OPALA buscam justamente reduzir esse distanciamento com a sociedade, para que
esta perceba como a tecnologia desenvolvida na universidade interfere
positivamente no seu dia-a-dia. Esse
foi um posicionamento definido coletivamente pelos professores que
compõem o laboratório OPALA,
buscando externalizar para a sociedade o nosso know-how científico,
mas de forma útil para a sociedade.
O “De olho na Cidade” foi o primeiro projeto que realmente teve essa
visibilidade como ferramenta de auxílio social, mas existem outros projetos em andamento.
Como surgiu a ideia do aplicativo “De olho na cidade”?
Surgiu de uma ideia similar de-
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
senvolvida na minha experiência do
doutorado, em 2007. Na ocasião, trabalhávamos com a ferramenta PhotoMap, que permitia mapear fotos de
turismo, enriquecidas com informações sobre os locais das fotos para serem compartilhadas com o público.
Quando cheguei ao Brasil, pensei:
“temos que fazer algo similar, voltado
para ajudar a população”, e a ideia foi
usar a capacidade de coleta de informações gratuitas por meio da participação popular, conceito definido
por mim de “Seres Humanos como
Sensores” (HumanBeing as Sensor –
HBS), em um projeto visível e entendível por qualquer cidadão. A primeira coisa que pensamos foi em criar
uma plataforma em que as pessoas
pudessem mostrar problemas vivenciados no dia a dia em suas cidades,
e que todo mundo pudesse comentar
e compartilhar, transformando em
informação de utilidade pública. Ou
seja, nós trabalhamos com o conceito de seres humanos como sensores,
que utilizam seu sensoriamento natural para identificar fenômenos e
externá-los usando a tecnologia.
Qual a inovação do aplicativo?
O grande diferencial do aplicativo é o contexto em que ele se insere,
que é o da construção colaborativa
de uma informação que normalmente seria cara para se obter por outros
métodos. Veja o seguinte: o prefeito
é uma pessoa só e, para essa pessoa
sozinha, é humanamente impossível
conhecer todos os problemas de uma
cidade com um milhão de habitantes
distribuídos em 115 bairros, como é
o caso de Teresina. A capacidade desse tipo de ferramenta é a exploração
colaborativa para a construção de um
mapa da situação, sem custos para a
administração pública.
A lógica colaborativa é a mesma
de uma rede social comum, como o
facebook, por exemplo? O que a difere?
No caso do facebook, trata-se de
uma rede social que não tem foco no
conteúdo. O que tem sido explorado
hoje são redes sociais específicas, focadas a determinados nichos de conteúdo. Nós focamos nesse cenário
para que a informação fosse útil para
o cuidado de cidades. A nossa proposta é “por que não colocar o cidadão nesse processo, uma vez que ele
é o principal interessado?” O cidadão passa a observar os problemas,
a colaborar e acompanhar a solução.
Como o aplicativo foi desenvolvido?
O projeto do aplicativo começou
na minha disciplina de engenharia
de software, no segundo semestre
de 2012, quando foi proposto aos
alunos aplicar o conhecimento da
disciplina para produzir um produto
inovador. No início, foram apresentados cinco projetos, mas, ao final da
disciplina, resolvemos focar em um
para que ele fosse realmente efetivado e nos concentramos no “De olho
na Cidade”. E foi assim que o projeto
começou a caminhar. Em 2013, foi
que realmente investimos a fundo
no projeto.
Quantas pessoas participam do
projeto?
No caso do “De olho na cidade”,
é uma equipe de seis desenvolvedores. A minha participação é como
mentor e gestor do projeto. Também
existe a participação dos prof. Marcus Vinicius e prof. Anchieta Araújo,
em que cuidam da parte de desafios
Quais foram os custos reais para
que o projeto fosse viabilizado?
Inicialmente não foram muitos
custos, porque a gente conseguiu
motivar os alunos a participarem
pelo fato de adotarmos o modelo de
Start Up. Esse é o modelo em que
pessoas investem seu tempo, investem seu know-how com a perspectiva de terem lucro caso o projeto se
torne monetizado, ou seja, os alunos
são cotistas do projeto. Então, não tivemos um custo de pessoal.
Existe também o custo de domínio, de registro na Play Store, que a
gente tem que pagar uma assinatura.
O domínio é R$ 40 reais (quarenta reais) por ano e o Play Store é de
U$25 dólares por ano. A hospedagem nós não pagamos, porque uma
empresa ofereceu gratuitamente. E
esses custos foram os professores
que pagaram.
Nos dias de hoje, ainda se percebe “resistência” ao uso de plataformas que possam contribuir para
a gestão pública, a exemplo do “De
olho na cidade”. Na sua opinião,
quais são as maiores dificuldades
para superar essa resistência?
A motivação é um grande desafio
nesse processo: como motivar a participação das pessoas sem pagá-las
para isso? O grande passo vem da
educação, da politização da população. A consciência política de cada
um é que vai fazer a diferença, o sentimento de cidadão e a sabedoria da
sua inserção dentro da sociedade.
Existem pessoas politizadas, mas
elas são minoria. Eu tive a oportunidade de viver numa sociedade
onde as pessoas verbalizam o que
elas sentem com relação aos seus
anseios sociais. Se uma pessoa joga
um papel no chão, as pessoas verbalizam e não tem medo por causa
disso. Aqui no Brasil, infelizmente,
se você verbaliza, você corre o risco de ser agredido, então, as pessoas não são preparadas. E realmente
é um desafio enorme. Se fosse, por
exemplo, uma rede social com outro foco, eu tenho certeza de que a
aceitação seria maior.
Como você acha que esse problema pode ser solucionado?
A solução que nós estamos adotando agora é ir direto às ONGs que
têm ações voltadas para essa finalidade e tentando encaixar o nosso
objetivo com os objetivos das ONGs.
Por exemplo, uma ONG que fiscaliza a corrupção pode participar do
“De olho na Cidade”, observando os
problemas de corrupção na cidade
e acompanhando a solução. Assim,
o papel da prefeitura passa a ser secundário e não de protagonista. Nós
nascemos com foco nas prefeituras,
mas observamos que os órgãos de
controle foram quem despertaram
maior interesse. Então, nós temos
a parceria com outras instituições, a
exemplo do Tribunal de Contas do
Estado, o que fortalece a nossa proposta.
Verificada a falta de interesse
da população, porque o senhor não
preferiu investir numa tecnologia
que pudesse trazer retorno financeiro?
Eu falo que existem uma série
de motivos. O principal é o motivo
pessoal de querer ser útil para a sociedade, de mostrar que era possível
aplicar o conhecimento científico de
pesquisa em beneficio da sociedade.
Além disso, o know-how, ou seja,
o conhecimento adquirido servirá
para o desenvolvimento de outros
produtos que, futuramente, podem
ter um valor comercial.
Qual avaliação você faz até agora do aplicativo “De olho na cidade”?
O maior benefício do projeto “De
Olho na Cidade” foi ser o divisor de
águas para o curso de computação
da UESPI, que passou de um curso
extremamente esquecido, no sentido
de ter uma evasão enorme de alunos,
em que as pessoas não acreditavam
no que elas estavam fazendo e que
agora se sentem capazes. Conseguimos mostrar que podemos inovar,
mesmo com pouco recurso. O que
temos buscado é aproximar o mercado em relação ao que tem sido
desenvolvido no laboratório para
que tenhamos condições de formar
melhor os nossos alunos para serem profissionais mais qualificados.
Além disso, o projeto viabilizou o
desenvolvimento de novos projetos
como o de um mestrado profissional, que esperamos que seja lançado em 2015, bem como o programa Lagoas Digitais a ser executado
ainda este ano na região das Lagoas
do Norte, que é composto por uma
incubadora, cujo objetivo é poder
captar iniciativas de inovação tecnológica, oferecendo consultoria visando ao desenvolvimento regional e
local. Associado a esse projeto, existe
um projeto de formação, batizado de
“Jovem Inovador”, que busca capacitar jovens daquela região com foco
em tecnologia.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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ENTREVISTA
tecnológicos e divulgação/convênio
com instituições e ONGs, respectivamente. Ao todo, são nove pessoas
diretamente envolvidas no projeto.
Por Allan Campêlo
MATÉRIA
Pesquisa piauiense descobre
fator anti-hipertensivo em
casca de Bacuri
Há quatro anos sendo desenvolvido na UFPI, o estudo mostra resultados positivos.
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
Foto: Allan Campêlo
O
bacuri é uma fruta comum
da região Norte do Brasil
muito utilizado na fabricação de doces e sorvetes. O que
poucos sabem é que o potencial do
bacuri está além da polpa e pode ser
encontrado também na casca que
guarda importantes propriedades
farmacológicas. Subproduto, jogada ao lixo por não ter valor comercial, a casca do bacuri foi alvo de
um longo estudo realizado na Universidade Federal do Piauí (UFPI)
que revelou um fator anti-hipertensivo, capaz de baixar a pressão arterial com pequenas dosagens.
O estudo teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Piauí
(Fapepi), através do Programa Primeiros Projetos (PPP), começou
em 2011 e foi desenvolvido pelo
Núcleo de Pesquisas em Plantas
Medicinais (NPPM), com orientação da professora da UFPI, doutora
em Produtos Naturais e Sintéticos
Bioativos, Aldeídia Pereira.
Com pouca pesquisa relacionada ao tipo de composto encontrado, o trabalho dos pesquisadores
piauienses foi ainda mais difícil.
“Quando não conhecemos a composição química da planta ou do
fruto, temos que começar do zero,
por isso foi um longo período de
trabalho”, destacou a professora
Aldeídia.
“É um dos objetivos do nosso estudo conferir importância a um produto subutilizado e estamos
conseguindo isso com a casca do Bacuri”, destaca Aldeídia Pereira, Coord. da Pesquisa.
A escolha do produto foi bem
avaliada já que atendeu ao propósito de mostrar um trabalho inovador. É um dos propósitos no NPPM
fazer com que produtos próximos à
realidade local sejam aproveitados
tanto na pesquisa científica, como
na geração de renda e estímulo à
população para reaproveitar determinados produtos. “Nós trabalhamos com a casca do Bacuri que,
na grande maioria das vezes, acaba
indo para o lixo e ninguém sabia
como agregar valor a este produto.
Então, avaliamos o potencial farmacológico dele e, para nossa surpresa, os resultados foram bastante
positivos”.
ENTENDA COMO A
PESQUISA SE DESENVOLVEU
O trabalho contou com a dedicação de oito pesquisadores que
desenvolveram a pesquisa tendo
caráter interdisciplinar, o que possibilitou uma melhor execução da
proposta.
Farmacêuticos, biólogos e químicos trabalharam na pesquisa. A
primeira fase foi desenvolvida pelo
setor de química da UFPI, etapa em
que o extrato etanólico da casca do
bacuri foi analisado em sua composição química para que o produto,
mais puro possível, tivesse o potencial farmacológico estudado.
A segunda etapa consistiu na
identificação dos materiais que acabou pela percepção do fator anti-hipertensivo na casca do bacuri.
Na fase de testes, foram ministradas doses do composto em ratos
hipertensos e, como resultado, a
pressão arterial em todas as cobaias
se manteve controlada por horas.
“Buscamos analisar a ação vasorrelaxante do composto. Pelo
perfil de resposta do extrato, identificamos que ele age via sistema
nervoso. Como um produto natural
não tem uma ação única e específica, acreditamos que ele seja um
bloqueador dos canais de cálcio, o
que acaba diminuindo a resistência
vascular e a pressão arterial”, afirma
a professora.
A hipertensão arterial age de
forma a aumentar os níveis de pressão sanguínea e faz com que o coração tenha que exercer um esforço
maior do que o normal para garantir a circulação do sangue.
No Brasil, de acordo com a pesquisa da Vigilância de Fatores de
Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2012, 24,3% da população
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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MATÉRIA
Foto: Allan Campêlo
Aluna do Mestrado em Farmacologia realiza intervenção cirúrgica em rato hipertenso.
brasileira têm hipertensão arterial
contra 22,5% em 2006, ano em que
foi realizada a primeira pesquisa.
Apesar dos bons resultados obtidos com a pesquisa piauiense, a
aplicação em seres humanos é bem
mais complexa. Exatamente para
este propósito, a pesquisa agora se
volta para outro ponto: identificar
como o organismo reage a períodos mais longos com a utilização da
substância e futuramente modificar
o modo de administração do composto. “É possível pensar em utilizar o composto em humanos, mas
temos que fazer ainda muitos testes.
A hipertensão é uma doença crônica e é preciso identificar se o uso da
substância de forma frequente causa algum tipo de dano tóxico ao organismo”, destaca a professora.
Até agora, o composto é usado
de maneira intravenosa, ou seja,
aplicada diretamente na corrente
sanguínea, porém, como para os
humanos é preciso o uso diário, os
pesquisadores piauienses buscam
uma maneira de conseguir ministrar a substância de forma oral.
Com os bons resultados obtidos
com a pesquisa, a professora Aldeídia destaca a participação da Fapepi
neste processo. “A Fapepi teve uma
importância muito grande em nosso projeto, sem a atuação efetiva da
fundação, a concretização deste trabalho seria bem mais difícil”.
Além de render dois resumos
em evento nacionais, uma dissertação de mestrado e dois trabalhos de
iniciação científica, no início deste
ano, o periódico internacional Journal of Medicinal Food aceitou a publicação do artigo “Pharmacological
evidence of α2-adrenergic receptors
in the hypotensive effect of Platonia
insignis Mart.”, destacando a pesquisa piauiense com a casca do bacuri.
Robson Carlos da Silva
ARTIGO
Pedagogo. Mestre em Educação/UFPI, Doutor em História da Educação/UFC, Professor Adjunto I da UESPI
Contato: [email protected]
A Capoeira em Teresina/PI: do pé do
berimbau aos espaços escolares
A
capoeira como manifestação
cultural brasileira e fenômeno social que envolve pessoas
de classes e grupos sociais diversos,
criada e desenvolvida pelos escravos e seus descendentes no Brasil, é
capaz de agregar valores educativos
significativos, possibilitando um
olhar diferenciado sobre a diversidade cultural de nosso povo, constituindo-se historicamente em um dos
instrumentos privilegiados de resistência e estratégia de sobrevivência
no bojo das complexas sociedades
urbanas brasileiras, em que, após
décadas de perseguições e quase chegando à extinção, se reinventou e assume a condição de cultura nacional,
sendo aceita nos currículos escolares
e culminando com sua inscrição do
IPHAN como Patrimônio Cultural
Imaterial Brasileiro.
A pesquisa, que fomentou o Doutorado em História da Educação
Brasileira, pela UFC (Universidade
Federal do Ceará) e amparada no
contexto dos estudos desenvolvidos
no NHIME (Núcleo de Estudos em
História e Memória da Educação),
procurou compreender como se deu
o processo histórico de inserção da
capoeira nos espaços escolares, além
de contribuir para estudos futuros e
posterior adoção de novas fontes de
pesquisa no campo da história cultural brasileira e piauiense.
O estudo se assentou no seguinte
problema: Como se deu a trajetória
12
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
histórica da capoeira e o processo de
escolarização dessa cultura a partir
das narrativas de mestres de capoeira
de Teresina-PI? O objetivo principal
foi investigar como se deu a trajetória
histórica da capoeira e o processo de
escolarização dessa cultura a partir
dos testemunhos orais de mestres de
capoeira de Teresina-PI. A pesquisa,
de natureza qualitativa, se amparou
no campo historiográfico da História Cultural, privilegiando como
metodologia o uso das narrativas das
memórias dos mestres de capoeira
piauienses, combinados e cruzados
com diversas fontes, diversos traços e
fragmentos, tais como textos de jornais e de revistas periódicas, imagens
e documentos oficiais ou não oficiais,
na tentativa de revisitar, reconstruir e
dar significado a esse passado.
Os mestres de capoeira, atores
principais dessa história, identificados como detentores do conhecimento sobre sua história e seu processo de escolarização e pioneiros
a ensinar e manter viva a tradição
dessa arte são Mestre Caramuru,
Mestre Tucano, Mestre Zé Carlos e
Mestre Chocolate, selecionados pela
representatividade e autoridade adquirida e reconhecida no universo
da capoeira, forjados nos embates da
dinâmica de desenvolvimento dessa
cultura.
A principal experiência foi perceber a extrema dificuldade que é
contar as histórias dos “povos sem
história”, dos grupos marginalizados e tratados como de menor importância na historiografia oficial,
problema que se agrava quando se
busca uma história que seja contada
pelos próprios sujeitos, que vivenciaram e construíram tal história. Esse
é o caso da capoeira no Piauí, cujas
fontes oficiais parecem não existir,
não havendo o cuidado em se registrar a história de uma cultura em que
os sujeitos são pessoas comuns, sem
significância social a partir do olhar
de quem representa e pode, oficialmente, falar “do” e “sobre” o outro.
A pesquisa apontou para o entendimento de que a capoeira do Piauí
nasceu de forma espontânea, somente pelo prazer e pela alegria de se
praticar uma arte de beleza e plasticidade incomuns, uma luta que dava
respeito a seus praticantes, a partir de
um pequeno foco, no início dos anos
de 1970, chegando até a escola por
volta do ano de 1979, pela “invasão”
literal aos espaços escolares.
As narrativas dos mestres de capoeira revelam que sua prática é importante no imaginário teresinense,
pela vastidão de saberes que a caracterizam como instrumento de conscientização e desenvolvimento da
criticidade, com suas cantigas, gestualidades, histórias, tradições, poesias, segredos, mandingas e magias,
em que corpo e espírito se fundem
e jamais podem ser concebidos em
separados.
Gleison Brito Batista¹ · Fernando Castelo Branco Gonçalves Santana²
· Fábio de Jesus Lima Gomes³
1.Graduando em Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas pelo Instituto Federal do Piauí (IFPI)
2. Especialista em Desenvolvimento Web (UFPI) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI)
3. Doutor em Informática na Educação (UFRGS) – Prof. de Informática do Instituto Federal do Piauí (IFPI)
A
aplicação das Novas Tecnologias da Informação
e Comunicação (NTICs)
para fins educacionais colaboram
para tornar o processo de ensino
e aprendizagem mais agradável e
proveitoso. Os recursos necessários
para a utilização das NTICs, muitas
vezes, não fazem parte do cotidiano
de boa parte dos alunos e professores no Brasil. Grande parte da população não tem acesso à internet,
ocasionando o aumento da exclusão
digital e, consequentemente, social.
No cenário brasileiro, a TV surge
como uma solução para veiculação
de conteúdo de qualidade e, com
o advento da TV Digital Interativa
(TVDi), surge a possibilidade de
interação com o telespectador. Por
meio de processos de digitalização
do sinal da TV, aplicações podem
ser executadas em aparelhos de TV.
Na transição da TV analógica
para a TV digital, ocorreram diversas
mudanças, dentre as quais se destacam: alta qualidade de som e imagem, interatividade com o conteúdo
apresentado e otimização da largura
da banda utilizada na transmissão do
sinal e de vídeos sob demanda. Na
TV analógica, tem-se a transmissão
de áudio e vídeo, enquanto, na TV digital, é acrescido mais um elemento:
dados. Na camada de dados, aplicações e serviços podem ser enviados.
O Decreto nº 5.820/2006, que
dispõe sobre implantação da TVDi
no Brasil, deixou claro que o uso da
tecnologia para fins educacionais
será um dos seus principais objetivos, uma vez que o aluno passa de
um papel passivo de mero telespectador para um papel ativo na interação com o conteúdo transmitido
pela TV, o que possibilita melhorias
no processo de aprendizagem.
Existem atualmente muitos objetos de aprendizagem construídos
para a plataforma Web, porém a internet muitas vezes não é acessível
em nosso país, especialmente em
regiões interioranas. A TV Digital
surgiu no Brasil com a proposta de
levar à comunidade a possibilidade
de inclusão digital e acesso a serviços governamentais voltados à educação, em uma tentativa de prover
serviços antes somente disponíveis
na internet. Dessa maneira, propõe-se uma ferramenta para criação
de objetos de aprendizagem para
TVDi baseados em mapas conceituais hierárquicos desenvolvidos com
o software CMapTools©.
Mapas conceituais são representações gráficas semelhantes a
diagramas utilizados para representar um conjunto de significados
conceituais. Por se tratar de uma
técnica flexível, mapas conceituais
podem ser utilizados como recur-
ARTIGO
Criando objetos de aprendizagem
para TV Digital baseados em mapas
conceituais hierárquicos
sos de aprendizagem.
Na tela inicial das aplicações
construídas com a ferramenta
proposta, o usuário tem acesso ao
mapa conceitual por meio de uma
estrutura de diretórios. Também é
exibida na tela as mídias associadas
a cada nó. Cada mídia é iniciada
quando o telespectador aprendiz
pressionar o botão vermelho do
controle remoto de sua TV. Ao selecionar determinado conceito, a
aplicação exibirá a estrutura de nós
filhos do nó selecionado. Na tela
situada acima das mídias exibidas,
encontra-se o vídeo relativo ao conceito selecionado.
Sendo uma ferramenta voltada
para o âmbito educacional, visa-se
promover um ambiente agradável
de aprendizagem, onde o professor
poderá facilmente desenvolver aplicações para TVDi utilizando mapas
conceituais hierárquicos criados a
partir do CMapTools©. Como trabalhos futuros, pretende-se prover
ao usuário professor a possibilidade de escolher entre vários layouts
para as aplicações, além de poder
criar seus próprios layouts.
Com esta pesquisa, espera-se
promover uma reflexão sobre a adoção da TVDi no meio educacional.
Também se espera que a ferramenta
proposta possa auxiliar no processo
de expansão da educação no Brasil.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
13
Edmilson Araújo de Oliveira Júnior¹ · Maria do Carmo Gomes Lustosa²
· Sidney Gonçalo de Lima³ · Chistiane Mendes Feitosa4
ARTIGO
1. Licenciado em Química, Programa Institucional de Iniciação Científica Voluntária (ICV), UFPI |
2. Aluna do Programa de Pós-Graduação em Química da UFPI | 3 e 4. Professor do Departamento
de Química, do Centro de Ciências da Natureza da UFPI, e membro permanente do Programa de
Pós-Graduação em Química e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas · Contato: [email protected]
Composição química e avaliação anticolinesterásica
de partes aéreas de Crotalaria retusa
N
o semiárido nordestino do
Brasil, existe uma grande
incidência da intoxicação de
equinos por ingestão de plantas tóxicas. Um exemplo importante é a intoxicação por Crotalaria retusa, comum
no município de Teresina-PI. Diversas espécies animais, como suínos,
equinos e bovinos, podem ser afetadas com intoxicação por plantas do
gênero Crotalaria spp. Essas plantas
apresentam altos teores de alcaloides
do tipo pirrolizidinicos (APs). Alguns
APs são toxinas naturais (hepatotóxicas, pneumotóxicos e carcinogênicos)
presentes em mais de 6.000 espécies
de vegetais em diferentes gêneros e
famílias e que acometem humanos e
animais (AISRES et al., 2004).
O objetivo deste trabalho foi determinar a composição química de
constituintes voláteis e fixos por CGEM de Crotalaria retusa, bem como
avaliar seu potencial anticolinesterásico, toxicidade frente à Artemia salina
e toxicidade pela técnica MTT.
As plantas são ricas em uma mistura complexa de metabólitos secundários, e seus efeitos no organismo
podem ser devido a uma ação conjunta de vários componentes (sinergismo) ou de componentes individuais.
No caso da C. retusa, embora apresente APs tal como a monocrotalina, um
metabolito secundário presente em
diferentes partes da planta, e já isolada
de extratos das folhas e das sementes.
Outros componentes presentes nesses extratos podem ser responsáveis
por princípios ativos encontrados
14
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
para a espécie como, por exemplo, o
da inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE), e atividade antioxidante, foco de nosso estudo.
A inibição da acetilcolinesterase
(AChE) humana tem várias aplicações importantes em tratamentos
médicos, especialmente na Doença
de Alzheimer (DA). A DA é uma desordem neurodegenerativa progressiva, afetando em maiores números
idosos, e os principais sintomas dessa doença são a perda de memória,
deficit na linguagem, depressão, alterações no comportamento, agitação,
alterações de humor e psicose (MEDEIROS et al., 2006). O aumento do
nível de ACh no cérebro através da
inibição da AChE é uma alternativa
para o tratamento da DA (DOHI et
al., 2009). Essa elevação dos níveis
de ACh pode ser útil para melhorar
um dos sinais da doença: a deficiência de aprendizagem (MACHADO
et al., 2009).
Atualmente apenas quatro inibidores da AChE são aprovados pela
agência Food and Drug Administration (FDA) dos EUA para o tratamento da DA: donepezil (Aricept®),
galantamina (Reminyl®), rivastigmina(Exelon®) e tacrina (THA, Cognex®). A grande variedade estrutural
dos anticolinesterásicos, hoje conhecidos, e a possibilidade de explorar
diferentes modos de ação dos mesmos têm estimulado o estudo fitoquímico de diversas espécies vegetais
e de micro-organismos que venham
fornecer novos modelos de substân-
cias anticolinesterásicas.
Os extratos hexânico, etanólico e
decocto das folhas de C. retusa apresentaram potencial de inibição frente
à AChE. Esses extratos mostraram-se
atóxicos às larvas de A. salinae em ensaios MTT, o que firma sua importância e amplia as perspectivas de estudo
da espécie diante de novas atividades
biológicas. Os constituintes voláteis
das folhas de C. retusa não têm sido
relatados na literatura como inibidores da acetilcolinesterase e nem um
dos componentes isolados. Assim este
estudo é de grande contribuição na
busca de novos fármacos anticolinesterásicos naturais.
Crotolaria retusa foi objeto de estudo da então aluna Maria do Carmo
no Programa de Iniciação Científica
Voluntário (ICV – UFPI). Mais tarde, o aluno Edmilson Júnior (ICV –
UFPI) deu continuidade, sendo objeto de estudo de seu TCC em 2013,
com o tema “Composição química e
avaliação anticolinesterásica de partes
aéreas de Crotalaria retusa”, desenvolvido no Laboratório de Produtos
Naturais da UFPI em 2013, sob orientação do Prof. Dr. Sidney Gonçalo de
Lima e com colaboração da Profa.
Dra. Chistiane Mendes Feitosa. Alguns resultados foram apresentados
nos Congressos da Sociedade Brasileira de Química e da Associação
Brasileira de Química e também em
Encontros de Iniciação Científica da
UFPI. O grupo está aprofundando
estes estudos e pretende registrar um
pedido de patente junto ao INPI.
Por Nayra Veras
DOSSIÊ
Mestrado em comunicação da
UFPI conquista reconhecimento
nacional
Foto: Arquivo Pessoal
O Programa foi inaugurado em 2011 e, apesar das dificuldades, professores e alunos
mostram que é possível conseguir visibilidade.
A egressa do mestrado em comunicação Marcela Miranda ao lado dos professores da UFPI Ana Regina Rego, Paulo Fernando e do professor convidado Feliciano Bezerra
Q
uais os impactos da propaganda sobre os consumidores? Como a internet altera a vida dos indivíduos?
Como uma novela pode influenciar no comportamento de uma
dada comunidade? Estes são alguns questionamentos que podem
ser solucionados com a pesquisa
científica em comunicação e que
começaram a ganhar mais espaço
no estado com a inauguração do
Programa de Pós-graduação Strictu Sensu (mestrado) em Comu-
nicação da Universidade Federal
do Piauí (PPGCOM) em 2011. O
programa tem atraído pesquisadores das diversas subáreas da comunicação e de diferentes regiões do
estado, atendendo a uma demanda
até então carente desse tipo de formação. Através de um trabalho em
rede, os professores do programa
mostram que, apesar das dificuldades, é possível conseguir visibilidade. Exemplo disso é que mesmo
com pouco tempo de existência, o
PPGCOM já adquiriu reconheci-
mento, com premiações nacionais,
a exemplo do Prêmio Luiz Beltrão
de Ciências da Comunicação.
Desde que foi inaugurado, o
mestrado em comunicação já formou duas turmas, totalizando 19
dissertações defendidas nas suas
duas linhas de pesquisa: “Processos e práticas em jornalismo” e
“Mídia e produção de subjetividades”, áreas que concentram profissionais do Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas e Marketing,
mas não somente estes, pois tem
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
15
DOSSIÊ
atraído pesquisadores das ciências
sociais e humanas de uma forma
geral.
De acordo com a coordenadora
do Programa, professora Doutora
Ana Regina Rêgo, as linhas foram
desenhadas de acordo com as diretrizes do MEC para cada uma
das áreas, tendo como foco também a formação dos professores.
Segundo Ana Regina, o objetivo do programa é atender às pessoas que se formam na área de comunicação na região Nordeste. “É
um programa regional e nós temos
recebido alunos tanto do Maranhão quanto do Ceará e do Piauí
todo. Temos gente do interior, mas
temos atraído principalmente alunos que se formam em Teresina
nas diversas universidades e faculdades de Comunicação, sobretudo
em jornalismo.”
Para quem já passou pela experiência de fazer pesquisa em
comunicação, o mestrado em
comunicação realizado no Piauí
representou a oportunidade de
crescimento profissional sem ter
que sair da sua cidade de formação. “Após a especialização que
fiz em 2008, tinha interesse na
pós-graduação, visando o mestrado, mas, devido a projetos pessoais, não pude fazer a pós em outro
Estado. Quando foi anunciado o
Mestrado aqui na UFPI, vi que era
o momento de dar continuidade à
minha formação acadêmica e foi
algo bastante positivo para mim”,
afirma Marcela Miranda, egressa
do mestrado em Comunicação na
linha de pesquisa Processos e práticas em jornalismo.
Para Ana Regina Rêgo, o mestrado em comunicação tem contribuído para desenvolver a massa
crítica do estado do Piauí, princi-
16
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
palmente para aqueles que querem
atuar como formadores. E, apesar
de ser um mestrado acadêmico,
a professora ressalta que as pesquisas nas duas linhas ajudam a
aprimorar tanto a prática do fazer
jornalístico quanto o desenvolvimento do fazer acadêmico.
Sobre as contribuições do
mestrado para a sociedade, Ana
Regina destaca que, além da qualificação de pessoal da área, o programa tem desenvolvido outros
tipos de trabalho que beneficiam
a sociedade, como o trabalho de
digitalização do acervo público
do estado, que, segundo ela, beneficiará pesquisadores de todas as
áreas e não apenas da História e
da Comunicação.
Apesar das contribuições e inovações trazidas pelo mestrado, a
coordenadora pontua que ainda
há um grande diferencial entre
produzir pesquisa e conhecimento no eixo sul e sudeste e produzir
conhecimento nas outras regiões
do País. De acordo com dados da
Coordenação de Aperfeiçoamento
em Nível Superior (Capes), atualmente existem no Brasil 67 cursos
de pós-graduação em Comunicação no Brasil, dos quais 22 são de
doutorado e 45 de mestrado, sendo
a região Sudeste responsável por
abrigar 22 dos cursos de mestrado
ofertados no país
(veja o mapa).
Curso de mestrados e doutorados
Curso de mestrado
Para Ana Regina, isso representa um desafio em termos de
visibilidade das produções. “Eu
acho que é um desafio, mas, exatamente por ser um desafio, ele é
extremamente importante. Nós
temos algumas dificuldades, não
da produção em si, mas da visibilidade dessa produção em nível nacional.” Para superar esse desafio, a
professora ressalta que o mestrado
tem desenvolvido um trabalho em
rede: “Nós temos um trabalho em
rede com outras regiões do país,
grama Ciência sem Fronteiras, por
exemplo, não contempla as áreas
de Humanas e Ciências Sociais
Aplicadas”.
Para superar tais dificuldades,
as alunas destacam o auxílio através de bolsas como fundamentais
para o desenvolvimento de suas
atividades de pesquisa. “Recebi
auxílio da Fapepi nos últimos seis
meses de realização do Mestrado,
que tem duração de dois anos e
foi um auxílio imprescindível vis-
Somos ainda
um programa
pequeno, mas
que se tem
destacado e
eu acho que já
está no caminho
certo.
to que pude apresentar os resultados parciais de minha pesquisa
em alguns eventos científicos da
área, tanto no Brasil como em alguns outros países e assim ter um
feedback de outros pesquisadores,
proporcionando uma troca de
experiências e informações que
agregaram grande valor e conhecimentos a minha pesquisa”, afirma Marcela Miranda. Ao todo 17
alunos já foram contemplados com
bolsas, 11 pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí
(Fapepi) e 11 pela Capes.
PRÊMIO LUIZ BELTRÃO
Apesar do pouco tempo de
existência e das dificuldades encontradas, o mestrado em Comunicação foi premiado na 16ª edição
do Prêmio Luiz Beltrão. O prêmio
Luiz Beltrão de Ciências de Comunicação foi criado como forma
de reconhecimento para pesquisadores e grupos de pesquisa que
estejam destacando-se no meio
acadêmico. O troféu é concedido a
quem produz trabalhos relevantes
na área das ciências da comunicação e contribui para consolidar o
prestígio das comunidades acadêmica e profissional brasileiras.
Para a coordenadora do mestrado, professora Ana Regina, a
premiação resulta de um conjunto
de fatores, como a estruturação do
departamento e a quantidade de
professores doutores. “Nós vamos
receber o prêmio em setembro em
Foz do Iguaçu, exatamente porque
é um núcleo que está começando
a ter uma visibilidade nacional,
mas, a partir de um trabalho desenvolvido por cada um dos professores, com essa formação de
alunos, desde a graduação, com
bolsistas de iniciação científica até
o mestrado”. Além do prêmio Luiz
Beltrão, a professora cita a premiação dos professores Gustavo Said e
do Prof. Dr. Michael Stricklin no
prêmio Donnald Brenner Best Paper Award como um indício de que
o trabalho realizado no mestrado
em Comunicação está no caminho
certo.
“Somos ainda um programa
pequeno em relação aos demais
programas do país, sobretudo da
região Sul e Sudeste, mas é um programa que se tem destacado e eu
acho que já está no caminho certo.”
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
17
DOSSIÊ
com outras universidades. No caso
do meu núcleo, com São Paulo, Rio
Grande do Sul, Rio de Janeiro, Portugal, Espanha; no caso do Gustavo Said, com o Rio Grande do Sul
e Estados Unidos, e isso facilita o
trâmite que a gente tem para dar
visibilidade a nossas produções”.
Marcela Miranda apresentou a
dissertação intitulada “Do riso ao
grito: a atuação dos jornais Gramma e Chapada do Corisco, na década de 1970 em Teresina-PI” e
destacou que uma das maiores dificuldades de se produzir pesquisa
no Estado está na falta de incentivo
à produção de pesquisas científicas
no campo da Comunicação desde
a graduação. “Trata-se de uma área
de pesquisa bastante ampla, que
permite desvendar muitos saberes
e que os alunos ainda na graduação devem passar por essa experiência e não se limitar somente à
formação técnica que o mercado
profissional exige”.
Para Renata Santos, egressa
do mestrado em Comunicação da
UFPI e autora da pesquisa intitulada “Blogs como estratégia de
regionalização em portais piauienses: estudo de caso do portal 180
graus”, da linha de pesquisa “Processos e práticas em jornalismo”, a
produção de pesquisa nessa área
no Estado requer dos estudantes
outros desafios como, por exemplo, encontrar bibliografia nas livrarias de Teresina e mesmo nas
bibliotecas: “Boa parte dos livros
que utilizei comprei pela internet”.
Acrescenta ainda que “análises
que envolvem pesquisa de campo,
como viagens ao interior do Estado, esbarram na falta de investimento, motivada, frequentemente,
pelo preconceito de quem não vê
a importância das mesmas. O pro-
Por Vanessa Soromo
DOSSIÊ
Prêmio Donnald Brenner coroa
parceria de 18 anos entre
pesquisadores
Foto: Steve Brown
Gustavo Said e Michael Stricklin conquistaram a premiação internacional em 2013, na
cidade de Amsterdã, com o artigo que trata das aproximações epistemológicas entre
Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin.
Professores do PPGCOM/UFPI durante Conferência em Amsterdã, onde lançaram livro e conquistaram o Prêmio Donnald Brenner.
“
U
ma pessoa pode pensar de
forma independente? Somos os autores de nossos
pensamentos? Como podemos saber?”. Para responder a essas e outras
questões, os professores Dr. Gustavo
Said e Dr. Michael Stricklin do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (PPGCOM), nível Mestrado, da Universidade Federal do
Piauí (UFPI), tentaram aproximar,
em nível ontológico-epistemológico,
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
os pensamentos de dois importantes
estudiosos: o filósofo russo Mikhail
Bakhtin e o físico e psicólogo inglês
William Stephenson.
O artigo intitulado “Comunicabilidade e Dialogismo: aproximações
epistemológicas entre Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin” foi apresentado em setembro do ano passado, durante a programação do 29º
Congresso da International Society
for the Scientific Study of Subjectivity
(ISSSS) - Q Conference 2013, realizado na cidade de Amsterdã, Holanda.
Durante o evento, os professores
Said e Stricklin também lançaram
o livro “Anais da 1ª Conferência Internacional sobre Metodologia Q:
análises quantitativa e qualitativa
na pesquisa científica”. A publicação organizada pelos dois pesquisadores reúne seis artigos com temas
relacionados a diversas áreas, como
Comunicação, Sociologia e Ciência
Política, escritos por docentes de
universidades internacionais.
A viagem a Amsterdã, além de
produtiva, trouxe significantes surpresas aos professores do PPGCOM
da UFPI. Dentre os mais de 200 trabalhos selecionados pelo Congresso,
a ISSSS conferiu aos pesquisadores
Gustavo Said e Michael Stricklin o
prêmio Donnald Brenner Best Paper
Award, pelo artigo “Comunicabilidade e Dialogismo: aproximações
epistemológicas entre Willian Stephenson e Mikhail Bakhtin”, considerado o melhor trabalho apresentando durante o Congresso.
“Imagina que você tem um texto apresentado num Congresso que
tenha mais de 150 outros trabalhos,
e o seu é escolhido o melhor. Vindo
de uma universidade pequena como
a UFPI se comparada a outras universidades no Brasil e no estrangeiro e com um programa (PPGCOM)
que é recentíssimo. E de repente você
tem o seu trabalho servindo como
DOSSIÊ
estreitados, decidiu que a capital do
Piauí seria o local que vivenciaria
sua aposentadoria e entre tudo isso
conheceu pessoas, uma delas foi o
professor Gustavo Said.
A amizade e parceria de Said e
Stricklin já completaram a maioridade. Para eles, o Prêmio representa
um coroamento dessa parceria. Em
dezoito anos, os dois pesquisadores
já publicaram juntos cerca de seis
trabalhos, e a intenção é que, no futuro, novos trabalhos sejam produzidos a quatro mãos. Segundo Michael
Stricklin, “a meta é fazer uma pesquisa por ano e, para 2014, o tema é
a Copa Mundial”.
O novo trabalho será apresentado no mês de setembro, em Salt
Lake City, nos Estados Unidos,
quando será realizado o 30º Congresso da Sociedade Internacional
para Estudo Científico da Subjetividade. Na oportunidade, será entregue a premiação conquistada na
Foto: Vanessa Soromo
Capa do o livro “Anais da 1ª Conferência
Internacional sobre Metodologia Q: análises
quantitativa e qualitativa na pesquisa
científica”, lançado na Q Conference 2013.
referência para um Congresso Internacional. Isso é, no mínimo, animador. Digamos que o Prêmio seja uma
recompensa pelo esforço coletivo
que está sendo desenvolvido aqui no
Programa”, ressalta Gustavo Said.
Michael Stricklin definiu, em
uma única palavra, o que significou
ganhar o Prêmio Donnald Brenner
- Satisfação. “O sentimento de satisfação é básico do lado positivo da
vida de uma pessoa. E quando nós
podemos somar as nossas atividades e os resultados são positivos dá
uma grande satisfação”, completa
Stricklin.
O professor americano se apaixonou pelas terras piauienses em
1996, quando veio pela primeira vez
a Teresina ministrar uma aula de
internet. De lá para cá, muitas coisas aconteceram: foram realizadas
diversas viagens e intercâmbios, os
laços com o Departamento de Comunicação da Universidade foram
Michael Stricklin, ao lado de Gustavo Said, mostra imagens referentes à Copa do Mundo no Brasil.
O material foi utilizado durante o novo estudo dos pesquisadores que será apresentado em Salt Lake
City, nos Estados Unidos.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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DOSSIÊ
Holanda em 2013.
“Nós apresentamos o trabalho
em Amsterdã no ano passado, concorremos ao prêmio, saiu o resultado
– nós ganhamos – e, no congresso do
ano seguinte, que é esse ano, eles vão
entregar o prêmio. É legal porque,
você ganha lá, mas recebe depois,
fica um ano curtindo”, declara Gustavo Said.
É reservado aos que conquistam
o Prêmio Donnald Brenner a publicação do texto em inglês na Revista
Operant Subjectivity, certificado e
uma recompensa financeira. Além
disso, o artigo vai se transformar em
capítulo de livro na Espanha e já foi
publicado na revista online “Questões Transversais – Revista de Epistemologias da Comunicação”.
Há quem acredite que as melhores ideias, os “insights” costumam
surgir em momentos ordinários. O
momento no qual os professores Said
e Stricklin tiveram a ideia de aproximar os pensamentos de Bakhtin e
Stephenson corrobora essa crença.
Em um certo dia, a dupla de pesquisadores foi a um restaurante de Teresina e de praxe regaram a conversa
com muitos autores, até que perceberam que o físico e psicólogo inglês
e o filósofo russo tinham sobretudo,
de um ponto de vista epistemológico, algo em comum. “Realmente foi
em uma mesa de restaurante que a
ideia surgiu. Depois disso, claro, para
fazer a pesquisa, nós fizemos várias
reuniões. Mike trazendo algumas
ideias, eu trazendo algumas ideias,
até que a pesquisa ganhasse corpo e
pudesse ser planejada de forma mais
consistente”, lembra Said.
Segundo Michael Stricklin, que
foi o último orientando de doutorado do professor Stephenson na década de 70 e que trabalha há muitos
anos com a Metodologia Q, criada
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
pelo estudioso, “as ideias não vêm de
muro branco. Surgem de uma situação e nós temos que estar prontos
para pegar a ideia quando aparece.
Se não estiver pronto para pegar,
nunca pega”, afirma.
O Prêmio Donnald Brenner Best
Paper Award poderia ser apenas
mais uma conquista na trajetória
acadêmica desses professores e pes-
As ideias não
vêm de muro
branco. Surgem
de uma situação
e nós temos que
estar prontos
para pegar a
ideia quando
aparece. Se não
estiver pronto
para pegar,
nunca pega.
quisadores. Mas, de acordo com eles,
a premiação reflete um processo coletivo de produção de conhecimento
que vem acontecendo no Piauí na
área da Comunicação, que envolve
parcerias entre universidades públicas, faculdades particulares, o fortalecimento de grupos de pesquisa, um
ambiente de cooperação acadêmica,
a realização de eventos e o apoio
de agências de fomento à pesquisa
como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi), a
Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (Capes)
e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq).
Said e Stricklin acreditam também que uma premiação como a
Donnald Benner contribui para aumentar a percepção pública da importância da Comunicação, da pesquisa e dos trabalhos desenvolvidos
pelos docentes e serve principalmente como estímulo para as novas gerações de pesquisadores.
“Todo processo de transferência
de conhecimento a partir de programas como o Programa de Iniciação
Científica, o trabalho em sala de
aula, a criação dos grupos de estudos, as orientações de mestrado, eu
acho que isso tudo é importante. E,
para que o aluno se sinta estimulado,
é preciso que ele reconheça de fato
no professor um pouco desse esforço, perceba o trabalho do professor
como algo estimulante. Então, eu
acredito que um prêmio como esse
ou qualquer outro tipo de atividade
que o professor esteja desenvolvendo
serve como estímulo para os alunos,
os pesquisadores em formação”, conclui Gustavo Said.
“Quando chegamos na sala de
aula cheia de pessoas jovens e podemos mostrar nossos livros, mostrar
nossos trabalhos, mostrar o diploma
que ganhamos em uma premiação,
eu acredito que isso vai instigar as
pessoas de uma maneira muito bonita, positiva, um motivo para elas
investirem o seu suor, a sua imaginação. E bom, o que mais um professor
está procurando, além de abrir um
espaço novo nas cabeças dos seus
alunos?!”, finaliza Michael Stricklin.
Por Allan Campêlo
DOSSIÊ
Rádios Comunitárias e o
crescimento da interatividade
através da internet
Primeiro doutor em Comunicação Social da UESPI chama atenção para fenômeno ainda
pouco abordado.
Foto: Arquivo pessoal
S
abe o rádio? Aquele que tremeu com a chegada da televisão, que cambaleou com os
teóricos da comunicação prevendo
o seu fim e que resistiu como um
dos meios mais populares até hoje?
Então, ele continua a surpreender,
a se renovar e provocar fenômenos
comunicacionais que transcendem
as ondas sonoras.
Quando se fala em comunicação, é comum pensar em grandes
redes de TV ou Rádio, ou associar à
comunicação que acontece de pessoa para pessoa, porém, por vezes,
esquecemos o meio termo dessas
significâncias e é, nesse momento,
que se pode perceber a comunicação comunitária.
O professor da Universidade
Estadual do Piauí (UESPI), doutor
em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo
(UMESP), Orlando Berti, se propôs
a estudar em sua tese os “Processos
comunicacionais nas rádios comunitárias no Sertão do Nordeste
brasileiro na internet”, o fenômeno,
ainda pouco abordado, que mostra o desenvolvimento do processo
de interatividade entre a internet e
as rádios comunitárias. O projeto
contou com a orientação da professora e doutora pela Universidade
de São Paulo (USP) Cicília Peruzzo,
Professor Orlando Berti em visita a Rádio Livramento FM no interior da Paraíba.
referência em comunicação comunitária em todo o país.
O início do estudo se deu de
forma mais efetiva com uma dissertação de mestrado apresentada
em 2006. O professor Orlando Berti viajou, conheceu e transformou
em dissertação a pesquisa sobre as
rádios comunitárias legalizadas no
sertão de nosso estado.
“Em minha dissertação, eu andei 19 mil km para estudar todas
as rádios comunitárias legalizadas
do sertão do Piauí. Eu costumava
dizer para as pessoas que faziam
as rádios que elas são mais importantes do que qualquer outra rede
de comunicação nacional. Esses
comunicadores mostram a falta
de um médico ou de um dentista,
problemas que acontecem em um
quarteirão e pela magnitude das
grandes redes nacionais nunca teriam destaque.”
Proximidade, talvez esta seja, de
fato, a palavra certa para descrever,
com clareza, o que no mínimo deve
ser a relação entre uma rádio co-
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
21
DOSSIÊ
Foto: Arquivo pessoal
Com mais 15 mil km percorridos para concluir sua tese de doutorado, Orlando conheceu
grande parte do sertão nordestino para compreender a comunicação comunitária.
munitária e as pessoas para quem
a ela se dirige. Sem fins lucrativos
ou qualquer produção comercial,
e principalmente prezando por ter
valor representativo para uma comunidade específica, é assim que
esse tipo de emissora deve ser de
acordo com a lei 9.621, que vigora
no Brasil desde 1998.
Com o crescimento nem tão recente da popularidade das mídias
digitais, as rádios comunitárias
ganharam um aliado a mais para
auxiliar na busca pela interatividade e representatividade de seus
ouvintes. Orlando buscou identificar como essa interação entre rádio
comunitária e internet estava acontecendo. “Um dos fenômenos mais
interessantes que encontrei quando
estava analisando como abordar
a comunicação comunitária foi a
questão da migração sazonal nas
cidades do interior do Piauí. Locais
em que aproximadamente 80% dos
homens, durante seis meses do ano,
saem da cidade para trabalhar em
22
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
colheitas, por exemplo, e utilizam
a internet para interagir com as rádios comunitárias e manter contato
com seus familiares. E isso mostra
a força da internet dentro das rádios comunitárias, mesmo com um
Piauí que ainda sofre com os altos
índices de exclusão digital”.
Para a construção de sua tese de
doutorado, Orlando Berti percorreu oito estados do nordeste brasileiro e se deparou com uma realidade pouco conhecida dos estudantes
e docentes de comunicação: “Pedi
carona, andei de moto, carro, nem
sempre pude dormir porque não
tinha local, mas fui muito bem
recebido por onde passei e vi que
esses comunicadores têm o desejo
de fazer acontecer. Infelizmente a
maioria ainda reproduz, copia muito de programas de grandes emissoras, mas tem o desejo de melhorar, percebi isso quando pedi mais
proximidade na programação, produções mais voltadas à realidade
da comunidade e vi que eles foram
bastante receptivos ao que sugeri”.
Depois de delimitar o que realmente seria compreendido no trabalho, foram analisadas 8 rádios,
uma de cada estado. A escolha se
deu através dos menores Índices de
Desenvolvimento Humano (IDH).
Diversas outras rádios foram visitadas, somente no sertão do Piauí
foram 30, e diferentes concepções
de comunicação comunitária puderam ser identificadas no trabalho. “Todos acreditavam em um
conceito diferente para o que realmente deve ser uma rádio comunitária. Alguns achavam que devia
ser mais política, outros apostavam
tudo na interatividade. Não temos
um padrão e talvez isso seja o mais
interessante”, destaca.
Apesar do interessante fenômeno estudado, o professor Orlando
Berti destaca que a academia ainda
deve muito à comunidade, pesquisas que propiciem melhorias na comunicação. “Eu não creio que seja
por maledicência e talvez nem fosse tão interessante se a maioria dos
estudos fossem voltados para essa
linha de pesquisa, mas a academia
precisa olhar mais para estes acontecimentos. Alunos e professores
precisam meter o pé na lama para
dar respostas que a comunidade
necessita. Não é fácil, mas tem que
ser feito!”, finaliza.
Antes mesmo de ser concluída,
a tese do professor Orlando Berti,
deu origem a outro projeto: o “Núcleo de Extensão e Pesquisa em Comunicação Alternativa, Comunitária e Popular”, desenvolvido pelos
alunos de Comunicação Social do
campus de Picos da UESPI. O projeto segue desenvolvendo a prática
de analisar como a comunicação
comunitária está crescendo e de
que forma a academia pode contribuir para esta expansão.
Por Vanessa Soromo | Colaboração Rosa Rocha
MATÉRIA
Obras do cineasta Douglas
Machado são objeto de estudo
de pesquisadores piauienses
O filme “Cipriano” (2001) e o documentário “Um Corpo Subterrâneo” (2007) foram
analisados pelo doutor em História, José Luís de Oliveira, e pela mestre em Imagem e
Som, Patrícia Vaz, respectivamente. Os estudos dos dois pesquisadores demonstram o
quão interessante pode ser a cooperação entre diferentes áreas do saber.
Foto: Arquivo Pessoal
P
esquisadores nascidos no Piauí
ou que se graduaram no Estado
estão dedicando-se ao estudo
de histórias, costumes, figuras e obras
piauienses. Dois exemplos significativos dessa tendência são as pesquisas
de José Luís de Oliveira e Silva, para
a obtenção do título de doutor em
História pela Universidade Federal de
Goiás (UFG), e de Patrícia Costa Vaz,
para a obtenção do título de mestre em
Imagem e Som pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Ambos
os pesquisadores trabalharam com
obras de Douglas Machado, cineasta
piauiense que conta com importantes
produções no currículo, algumas delas reconhecidas internacionalmente.
“Escolher um documentário
piauiense para estudar no mestrado
não se tratou apenas de uma escolha
baseada em afinidade, mas também
uma forma de dar visibilidade às produções audiovisuais feitas em estados
fora do eixo Rio e São Paulo. Foi uma
forma de ‘revelar outros Brasis’”, explica Patrícia Vaz, que descobriu sua paixão pelo cinema documentário ainda
na graduação, nas aulas do professor
Doutor Paulo Fernando de Carvalho
Lopes, quando cursava Comunicação
Social na Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
Mestre em Imagem e Som, Patrícia Vaz.
A pesquisa de Patrícia Vaz consiste no estudo do processo criativo
de “Um Corpo Subterrâneo” (2007).
No documentário, Douglas Machado visitou as cidades de Cajueiro da
Praia, Piripiri, Gilbués e Oeiras em
busca dos mortos mais recentes. A
partir de depoimentos de familiares e amigos de pessoas falecidas, o
cineasta abordou questões como a
construção do outro, através de memória do luto.
Segundo a mestre em Imagem
e Som, sua pesquisa (Na urdidura
das ruínas: o percurso criativo de
A dissertação de
Patrícia Vaz está
disponível online no
endereço:
http://www.bdtd.ufscar.br
Douglas Machado em “Um Corpo
Subterrâneo” propõe o mergulho na
construção do documentário, indo
além da análise do filme pronto.
“Percorremos os caminhos da criação através do dossiê genético do diretor (cadernos de anotações, roteiros de edição, still, versões editadas,
entrevistas do cineasta, dentre outros), além de dados de sua biografia
e filmografia.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
23
MATÉRIA
Foto: Nayra Veras
COMUNICAÇÃO,
CINEMA
E HISTÓRIA
O
doutor em História, José
Luís de Oliveira e Silva
também escolheu uma
das produções cinematográficas de
Douglas Machado para ser o objeto de estudo da sua tese, intitulada
“Discursos de memória, expectativa
e identidade: o fazer cinematográfico de Cipriano e o agenciamento
das imagens do sertão na cultura
piauiense (1997-2003)”.
De acordo com o pesquisador
e professor do Instituto Federal do
Piauí (IFPI), cinco conceitos amplos
atuaram como alicerces de seu estudo: Expectativa, Memória, Identidade, Sertão e Inter-Texto. Além
destes, outros conceitos e teorias
revelaram-se fundamentais para o
sucesso da pesquisa.
“As quase 400 páginas da tese não
tratam apenas de descrever ou analisar a narrativa de Cipriano. Interessou-me ver principalmente como
o filme foi absorvido, como ele foi
interpretado na sociedade piauiense. Onde foi que eu fui buscar esses
discursos relacionados ao filme?
Busquei na imprensa do Piauí. Por
isso eu necessitei também analisar,
estudar, buscar uma bibliografia que
não pertence a minha área, que é a
de Comunicação”, explica José Luís
de Oliveira.
A tese mostra que, de 1997 a
2001, período que antecede a estreia
do filme Cipriano, considerado o
primeiro longa-metragem piauiense,
foram publicadas semanalmente matérias sobre a obra cinematográfica.
De acordo com os dados levantados
pela pesquisa, os três principais jornais da capital costumavam publicar,
24
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
O resumo da
pesquisa de José
Luís se encontra
nesta edição,
na seção “Teses” (pág. 28)
na mesma semana, textos sobre o filme (um impresso pautava o outro).
No final de quatro anos, centenas de
matérias foram publicadas, na maioria das vezes, seguindo a mesma linha: “o filme é o espelho da alma do
piauiense”, “o filme vai trazer a identidade do Piauí”.
O estudo revela ainda que, no
dia do lançamento de “Cipriano”, algumas publicações anunciaram sua
estreia. Um fato curioso observado pelo pesquisador foi que, após o
dia da estreia, durante uma semana,
nenhuma matéria ou nota referente à obra foi divulgada na imprensa
piauiense. A identificação desta e de
outras situações encontradas pelo
pesquisador José Luís levou a investigar, de forma mais profunda, os vários significados e intenções do que
Doutor em História, José Luís de Oliveira e Silva.
era dito ou não dito pela imprensa
referente a “Cipriano”.
“Algumas coisas me chamaram
a atenção. Muitas vezes tinha uma
matéria sobre Cipriano que parecia
Ctrl-C/Ctrl-V de uma outra matéria
já publicada antes. E a matéria parecia um pouco sem sentido. Mas,
quando se olhava todo o layout da
página, percebia-se que muitas vezes
a matéria vinha a construir um sentido geral de crítica ou de valorização
do estado”, lembra o pesquisador. A
partir dessas conclusões, José Luís de
Oliveira revela a importância e os diversos significados de uma produção
cinematográfica como “Cipriano”.
“O Cinema não se constrói apenas
enquanto imagem. O Cinema é imagem, mas imagem em movimento, o
Cinema é som, o Cinema é silêncio.
E o filme Cipriano é um bom exemplo de como o Cinema é acima de
tudo outros discursos elaborados sobre ele”, finaliza.
Por Cássia Sousa
MATÉRIA
Pesquisa aponta necessidade
de mudança no ensino de
temas sexuais nos cursos de
Medicina
De autoria da pesquisadora Andrea Rufino Cronemberger, a pesquisa mostra que 96,3%
dos professores brasileiros de cursos de Medicina abordam a sexualidade, mas apenas
sob o viés orgânico, biológico e patológico.
N
as últimas décadas, houve
diversas mudanças sociais
e culturais em relação à sexualidade. Comportamentos antes
tidos como patológicos passaram a
ser considerados normais, e o próprio tema da sexualidade passou a
ser discutido mais abertamente na
sociedade, seja no âmbito midiático
seja no escolar. Entretanto, isto ainda
não ocorre de modo satisfatório.
É o que assinala a pesquisa intitulada “Estudo transversal e descritivo
sobre o ensino da sexualidade nas
escolas médicas brasileiras”, desenvolvida pela pesquisadora Andrea
Rufino Cronemberger, professora do
curso de Medicina da Universidade
Estadual do Piauí (UESPI), durante
o doutorado na Universidade Federal
de São Paulo (UNIFESP). Ela explica
que orientação sexual, direitos sexuais e reprodutivos são temas pouco
abordados pelos professores de disciplinas que trazem a sexualidade
como conteúdo.
“A pesquisa mostrou que 96,3%
dos professores das escolas médicas
brasileiras abordam a sexualidade
nas aulas que ofertam. No entanto,
este ensino mostrou-se não padro-
nizado e fragmentado em várias disciplinas. Vários temas sexuais que
representam a construção social da
sexualidade e que dão sentido aos
comportamentos sexuais não foram
abordados. Estes resultados apontam
para a necessidade de mudarmos o
ensino da sexualidade ofertada aos
alunos de medicina. Se mudarmos
esta realidade, poderemos formar
profissionais médicos mais preparados para ofertar assistência integral
em saúde sexual e reprodutiva da população”, explica a professora.
O estudo foi realizado entre março
de 2010 e julho de 2011. Foram entrevistados 207 professores, oriundos
de 144 escolas médicas. De acordo
com Andrea Rufino, 110 escolas encaminharam respostas aos questionários. Ela explica que, para chegar a
essa amostra, selecionou previamente
faculdades ou universidades que tinham cursos de Medicina concluídos
até julho de 2011. Depois, entrou em
contato com os coordenadores dos
cursos e divulgou a pesquisa solicitando contato com professores das
disciplinas de Ginecologia, Urologia,
Psiquiatria e outras que abordassem o
tema da sexualidade em suas ementas.
A pesquisa foi publicada na revista científica The Journal of Sexual
Medicine e obteve financiamento da
Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado do Piauí (Fapepi).
DAS 144 ESCOLAS
INCLUÍDAS NO
ESTUDO, MAIS
DA METADE SÃO
PRIVADAS.
2,1%
14,6%
27,1%
56,2%
56,2% Privadas
27,1% Federais
14,6% Estaduais
2,1% Municipais
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
25
Por Allan Campêlo | Colaboração Rosa Rocha
MATÉRIA
Projeto busca alternativas
para combate de doenças e
produção de alimentos através
da criação de peixes
Foto: Arquivo pessoal
Com reconhecimento internacional, pesquisa já beneficia famílias no Piauí.
Sisteminha já beneficia famílias no interior do Piauí.
U
m criatório caseiro de peixes parece uma ideia bem
comum, mas, se for aliado
a uma extensa pesquisa acadêmica,
esse modelo de produção alimentícia pode tornar-se também uma alternativa para controle de doenças.
O grande desafio é tornar esse sistema viável, pois a criação de peixes
em pequenos espaços e com grande
densidade ainda possui custos elevados, principalmente para aquelas
26
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
pessoas que mais precisam: as que
têm baixa renda. Apesar do desafio,
projeto desenvolvido pela Embrapa
Meio Norte tem tornado possível
essa produção em cidades do interior do Piauí.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) e doutor em Genética e
Bioquímica pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), professor
Luiz Carlos Guilherme, desenvolveu
um sistema que utiliza pequenos
espaços para criação de peixes que
atuam no controle biológico de larvas e mosquitos. Ainda no início de
seu doutorado, o pesquisador desenvolveu o projeto “Dengoso”, que
utiliza peixes da família Poecilidae,
conhecidos como “barrigudinhos”.
Estes peixes cresciam em pequenos
tanques e se alimentavam de larvas
do mosquito Aedes aegypti, o que,
segundo o professor, poderia causar uma redução quase que total
da proliferação do mosquito. “Em
relação à dengue, pode-se obter até
100% de controle de pontos estratégicos como piscinas em clubes
abandonados, ou água acumulada
em locais de difícil escoamento.
Realizamos um acompanhamento para garantir que o sistema está
atingindo seu objetivo”, afirma.
Desde o fim de seu doutorado
em 2005, Luiz Guilherme concentrou seus estudos em adaptar o
projeto à realidade de cada local.
Assim, a partir de 2013, o projeto
foi modificado e adaptado à realidade piauiense. Os municípios
de Parnaíba e Campo Maior desenvolvem o projeto com a participação de alunos e professores da
Universidade Estadual do Piauí
MATÉRIA
Foto: Arquivo pessoal
Tanques têm capacidade para até 150 peixes da espécie Tilápia.
(UESPI) e da Universidade Federal do Piauí (UFPI). Atualmente
12 pessoas estão envolvidas no
trabalho e, em breve, realizarão
atividades de educação ambiental
nas escolas municipais para falar
da importância de se evitar criadouros e a proliferação do mosquito.
Com a reformulação do trabalho, novos propósitos foram adquiridos. O “Sisteminha”, como foi batizado, une produção alimentícia,
educação ambiental e geração de
renda, ganhando destaque com o
apoio da Embrapa Meio Norte.
O “Sisteminha” tem como foco
garantir que famílias de renda baixa possam tirar o seu sustento de
um sistema interligado de produção alimentícia. Em pequenos espaços, peixes, galinhas e até porquinhos da índia são criados, e o
adubo gerado por estes animais é
aplicado para o desenvolvimento de hortaliças que também são
aproveitadas no preparo da comida dos agricultores. “Os benefícios das pesquisas do Sisteminha,
além de sociais e econômicos (já
que garantem segurança alimentar
e reduz os gastos da família com
compras em supermercados), são
também ambientais. Por exemplo,
a irrigação das culturas é feita com
os efluentes dos tanques onde são
criados os peixes, que os torna riquíssimos em nutrientes. Portanto,
no Sisteminha, a prática de reciclagem é constante, o resíduo de uma
cultura é o insumo da outra”, completa o professor.
O professor Luiz Guilherme
também destaca que a criação de
outras espécies pode ser em breve
uma realidade do projeto: “o cultivo de camarão marinho em água
doce pode garantir o acesso das
pessoas que vivem longe da região
costeira, até mesmo as comunidades que vivem no sertão piauiense,
ao recurso pesqueiro de alto valor
nutritivo e de mercado”.
Questionado sobre as recompensas do projeto, o professor Luiz Guilherme destacou o lado social de seu
trabalho. “O melhor prêmio é ver,
a cada dia, mais crianças crescerem
bem nutridas, sem risco de adquirirem doenças com base em restrição
alimentar ou serem acometidas com
a dengue e, com certeza, a educação
ambiental que um projeto como esse
desenvolve”.
Em 2012, o Sisteminha ficou em
terceiro lugar no prêmio para tecnologias sociais da Fundação Banco do
Brasil. No dia 24 de Abril deste ano,
em Córdoba, na Espanha, o trabalho
recebeu, como vencedor, o prêmio
internacional “Red Innovagro”, na
categoria inovação tecnológica.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
27
Jonas Rodrigues de Moraes
Shirlei Marly Alves
Professor da Faculdade do Médio Parnaíba (FAMEP),
SEDUC-PI, Secretaria Municipal de Educação de Caxias
- MA | Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo (PUC-SP), 2014
[email protected]
TESES
Professora da Universidade Estadual do Piauí
Defesa: Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013
[email protected]
A Ativid@de de Tutores na Educação
a Distância: Uma Análise Bakhtiniana
do Prescrito e do Vivido nos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem
E
sta pesquisa tem como objetivo descrever e interpretar as normas do trabalho de tutoria na Educação a
Distância, bem como as renormalizações promovidas
no cotidiano dessa atividade. A hipótese levantada é de que
a divisão do trabalho docente e as interações a distância preponderam como fatores determinantes dessas renormalizações. Teoricamente, o estudo se fundamenta na Ergologia,
corrente de estudos que concebe o trabalho humano como
atividade situada, no qual se efetiva um debate entre as normas antecedentes e as contínuas arbitragens promovidas
pelos trabalhadores, bem como nas postulações de Bakhtin
e o Círculo acerca do dialogismo, constitutivo da atividade
de linguagem. A pesquisa é do tipo qualitativa, tendo sido
realizado um estudo de caso na Universidade Estadual do
Piauí, vinculada ao Programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Procedeu-se à seleção dos dados no documento
regulador do trabalho de tutoria do Núcleo de Educação a
Distância (NEAD), em entrevistas com a tutora colaboradora da pesquisa e em observação das suas interações com professor e alunos no ambiente virtual de aprendizagem, gerando-se um diversificado conjunto de enunciados concretos.
As análises mostram que o enunciador institucional no texto
regulatório dialoga com um interlocutor-tutor dotado dos
saberes procedimentais específicos de seu trabalho, antecipando uma resposta ativa de máxima adesão ao prescrito,
sob a ameaça da perda do posto de trabalho. A tutora participante da pesquisa, por sua vez, no diálogo, apresenta uma
forte adesão às determinações relativas ao tempo de dedicação ao trabalho, ao tempo em que cria uma série de renormalizações devidas, principalmente, à ausência do professor
no ambiente virtual de aprendizagem e à busca de garantir
a permanência e a motivação dos alunos (no) do curso, fatos verificados também nos enunciados com que efetiva seu
trabalho. O estudo permite concluir que a atividade de tutoria na EAD, por constituir parte do trabalho da docência
e desenvolver-se em interações a distância, é marcada por
diversos conflitos para aquele que a desenvolve, o que move
esse trabalhador a diversas arbitragens no sentido de manter
estável a sua atividade.
28
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
Polifonia e Hibridismos Musicais: Relações
Dialógicas entre Luiz Gonzaga, Gilberto Gil
e Torquato Neto
E
sta pesquisa busca discorrer e analisar a produção musical, o dialogismo e as inter-relações entre o compositor Luiz Gonzaga (1912-1989) e os artistas Gilberto
Gil (1942) e Torquato Neto (1944-1972). O universo estético
e a trajetória dos artistas em discussão são investigadas por
meio dos processos de polifonia, territorialização, hibridação, performance, entre outros postulados – categorias que
constituem bases importantes para a construção deste trabalho. Outra abordagem pertinente neste estudo consiste na
procura incessante por verificar os processos de invenção e
instituição de marcadores identitários territoriais da região
Nordeste pela inter-relação entre universal e local nas composições dos três artistas. Luiz Gonzaga ganhou projeção
a partir da reinvenção do baião, mas também o sanfoneiro
do Araripe se apropriou de outros ritmos musicais, os quais
exerceram funções discursivas e determinantes para a institucionalização de Nordeste e de nordestino. Desse modo, a
sonoridade gonzagueana teve a capacidade de expressar um
sentimento de nordestinidade que reverberou e encontrou
ressonância em seus ouvintes/receptores. Nessa proposta,
procura-se também compreender de que modo os artistas
Gilberto Gil e Torquato Neto – integrantes do movimento
tropicalista – apropriaram-se do universo musical gonzagueano e dos gêneros tidos como oriundos do Nordeste,
bem como de outras paisagens sonoras. Compreende-se
que, nas canções desses compositores, há um diálogo visível
com o modus operandi de Luiz Gonzaga, no que se refere
a ritmos, performance, elementos melódicos, textuais, além
de signos que remetem à cultura acústica do sertão nordestino. A relação da história com a música, o dialogismo, os processos de polifonia e hibridização das canções dos referidos
compositores possibilitou constatar que existiu entre eles um
intenso diálogo.
Marcio André de Oliveira dos Santos
José Luís de Oliveira e Silva
Discursos de Memória, Expectativa e
Identidade: o fazer cinematográfico de
Cipriano e o agenciamento das imagens do
sertão na cultura piauiense (1997-2003)
A
pesquisa trata das relações entre História e Cinema,
tem como objeto o filme Cipriano (Douglas Machado, 2001) – considerado o primeiro longa-metragem
piauiense – e como problemática o desafio de entender as formas como o filme em análise, e os discursos que são construídos ao seu redor traduzem o universo sertanejo piauiense e
como esses significados se relacionam com as estereotipias que
historicamente foram tomadas como referências para pensar
esse universo. Mais do que simplesmente descrever o processo
de criação de Cipriano, a preocupação esteve localizada na possibilidade de verticalizar as análises de um conjunto amplo e diversificado de fontes (matérias publicadas em jornais e revistas,
programas de rádio e TV, material de divulgação, encartes de
festivais de Cinema e, claro, o próprio filme objeto desta pesquisa). Essas análises foram embasadas sobre chaves conceituais elaboradas a partir de um arcabouço teórico-metodológico
igualmente amplo e diverso de onde se sobressaem as chaves
imagem, sertão, identidade e memória. A partir desse exercício
historiográfico, (re)construiu-se o que chamei de evento Cipriano, ou seja, o universo discursivo formado pelo filme, pelos
discursos carregados de expectativas em relação à memória e
à identidade do ser sertanejo e piauiense, que deveriam ser visíveis no filme, e pelas diversas formas de se apropriar da obra,
motivadas por interesses pessoais ou de determinados grupos.
A pesquisa foi perpassada por um duplo desafio. Primeiramente, há o desafio posto ao meu ofício enquanto historiador:
elaborar uma operação historiográfica que seja sustentada em
uma fonte escorregadia como o é a cinematográfica e que assume a forma de intertextos que envolvem linguagens as mais diversas. O segundo desafio foi adentrar um campo de discussão
controverso como o é aquele que trata de questões identitárias
e de memória, em especial daquelas que incidem sobre as imagens do sertão na cultura brasileira. Atento a esse duplo desafio
que envolve a pesquisa, deixo claro que a minha prática, propositalmente, trilhou dois caminhos, os quais acabaram por se
entrecruzar ao final: as reflexões acerca das imagens do sertão
se conectaram com aquelas que tratam do ofício do historiador
e de questões e temas que se revelam sempre problemáticas ao
seu metier.
TESES
Professor Adjunto do Departamento de Ciência Política
da Universidade Federal do Piauí | Defesa: Instituto de
Estudos Sociais e Políticos, Universidade do Estado do Rio
de Janeiro, 2012
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Piauí – IFPI
Defesa: Universidade Federal de Goiás – UFG, 2013
[email protected]
Políticas raciais comparadas: movimentos
negros e Estado no Brasil e Colômbia
(1991-2006)
A
tese discute e analisa o conjunto de relações político-institucionais estabelecidas entre movimentos negros e Estado no Brasil e Colômbia sob uma
perspectiva comparativa entre os anos de 1991 e 2006. Procura-se mostrar que ambos os países apresentam histórias
de formação racial e nacional que se assemelham e se diferenciam substancialmente. Tais semelhanças e diferenças se
expressam no “mito da democracia racial” e na ideologia da
mestiçagem, dois mecanismos que funcionam como mantenedores das desigualdades raciais em ambos os países de
modo a influenciar os modos pelos quais os movimentos
negros brasileiros e colombianos têm negociado políticas de
superação das desigualdades raciais junto aos poderes estatais, argumento que Brasil e Colômbia adotaram “políticas
raciais racistas” entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, proibindo a entrada de imigrantes negros,
asiáticos e árabes e incentivando a entrada de imigrantes
europeus. A principal justificativa era de que estes últimos
impulsionariam o desenvolvimento econômico, quando, na
realidade, o propósito era o de embranquecer a população
existente naquele momento, composta majoritariamente
por “negros e mestiços”. Após os anos de 1990 e devido ao estreitamento das relações político-institucionais entre movimentos negros e o Estado, a ideia de “políticas raciais” sofre
modificações importantes e ganha novos contornos, passando a significar políticas públicas de promoção da igualdade
racial e de reconhecimento identitário dos afrodescendentes. Nesse sentido, as políticas de ação afirmativa passam a
ser demandadas pelos movimentos negros de ambos os países como “políticas raciais antirracistas”, visando à superação
de desigualdades raciais entre brancos e negros.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
29
Por Vanessa Soromo
MATÉRIA
Pesquisadores estudam o
turismo em unidades de
conservação no Piauí
Foto: Arquivo Pessoal
Rodrigo Melo e Valdecir Galvão investigam os impactos ambientais produzidos pelas
visitações às UC’s e buscam estratégias que desenvolvam o turismo sustentável.
Pesquisador Rodrigo Melo registra visitação na APA do Delta do Parnaíba.
O
Parque Nacional de Sete Cidades (PNSC) e a Área de Proteção Ambiental (APA) do Delta
do Parnaíba são preciosidades da natureza no Piauí. Elas fazem parte das 39
Unidades de Conservação (UC’s) que
o estado possui e são objeto de estudo
de duas importantes pesquisas apoiadas
pela Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado do Piauí (Fapepi). Uma delas
intitula-se “Turismo de Baixo Carbono
em Unidades de Conservação no Piauí”,
e é desenvolvida pelo professor Rodrigo
de Sousa Melo, bolsista do Programa de
Bolsas de Doutorado e de Auxílio para
Docentes de Instituições de Ensino Superior, edital 008/2012 Capes/Fapepi.
Segundo o pesquisador e profes-
30
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
sor do curso de Turismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI), campus Parnaíba, “a pesquisa consiste na
análise dos impactos do turismo em
Unidades de Conservação, com ênfase no inventário das fontes de emissão
de dióxido de carbono (CO2) dos
visitantes e prestadores de serviços
turísticos. Para isso, utilizou-se como
categorias analíticas os consumos de
energia e de água, os gastos com combustíveis em deslocamentos terrestres, aéreos e aquáticos e a produção
de lixo orgânico e inorgânico”.
A Área de Proteção Ambiental
do Delta do Parnaíba está situada
no bioma Marinho e enquadra-se
como uma Unidade de Uso Susten-
tável (UUS) e o Parque Nacional de
Sete Cidades está localizado no bioma Caatinga e é definido como uma
Unidade de Proteção Integral (UPI).
Estas características peculiares de
cada UC’s foram determinantes para
torná-las objeto da pesquisa de Melo.
“Ademais, ambas possuem um fluxo
turístico crescente e não contemplam
programas para a avaliação e monitoramento dos impactos da visitação”,
afirma o pesquisador.
O doutor em Geociências - Meio
Ambiente Valdecir Galvão, coordenador do projeto “Análise Geoambiental
do Sistema Flúvio-Deltaico do Rio
Parnaíba, Estado do Piauí, Visando
Incremento de Atividades Turísticas,
Sob a Égide do Desenvolvimento Sustentável”, corrobora a afirmação de
Melo. Segundo Galvão, a ausência de
um planejamento efetivo para a administração dos impactos ambientais
resultantes do turismo é um problema encontrado em muitas unidades
de conservação piauienses. Uma das
UC’s que se encontram nesta situação é o Delta do Parnaíba, o objeto de
estudo do pesquisador. “Acredito que é
imprescindível um estudo de impacto
decorrente das atividades turísticas para
posteriormente determinar qual a capacidade de carga turística para o local,
para que não ocorra um impacto indesejado e irreversível”, ressalta Galvão.
Turismo Sustentável
A Organização Mundial de Turismo (OMT) define o Turismo Sustentável como “a gestão de todos os recursos de tal forma que as necessidades
econômicas, sociais e estéticas possam
ser satisfeitas mantendo-se ao mesmo
tempo a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais, a diversidade biológica e os sistemas de apoio
à vida”. Os pontos elementares desta
ideia, que se popularizou na década de
90 e que se deriva do conceito de desenvolvimento sustentável, permeiam
os objetivos, metas e atividades dos
estudos que estão sendo desenvolvidas
por Valdecir Galvão e Rodrigo Melo.
Ambas as pesquisas configu-
plinares, capazes de preencher essa
lacuna do conhecimento no nosso
Estado”, ressalta Rodrigo Melo, responsável pelo projeto “Turismo de
Baixo Carbono em Unidades de Conservação no Piauí”.
Para o pesquisador Valdecir Galvão, os avanços das pesquisas científicas são essenciais para que o turismo nas Unidades de Conservação
Piauienses se desenvolva de maneira sustentável, gradual e planejado.
“Acredito que, com o início do curso
de mestrado para o próximo ano, as
pesquisas nessa área vão aumentar e se
desenvolver de uma forma mais dinâmica e incisiva. É através da pesquisa
que se descobre o funcionamento do
ambiente e suas fragilidades. Somente através dela é que se poderá saber
como e se será possível e desenvolvido
alguma atividade no local, em virtude
de sua fragilidade e assim poder planejar melhor as atividades”, declara
Valdecir Galvão, coordenador do projeto “Análise Geoambiental do Sistema Flúvio-Deltaico do Rio Parnaíba,
Estado do Piauí, Visando Incremento
de Atividades Turísticas, Sob a Égide
do Desenvolvimento Sustentável”.
MATÉRIA
ram-se de suma importância para o
contexto atual do Piauí, estado que
possui um significante patrimônio
ambiental, mas pouco explorado por
estudos científicos que abordem a intrincada rede de relações estabelecida
entre Meio Ambiente, Turismo, Sustentabilidade e temas afins. Segundo
Rodrigo Melo, no estado do Piauí, há
algumas pesquisas publicadas, com
caráter disciplinar, que abordam apenas uma das dimensões da sustentabilidade e, em face da complexidade e
da multidimensionalidade da questão
ambiental, tais estudos promovem
uma visão fragmentada e desconectada da relação entre turismo e meio
ambiente, tornando-se pouco eficazes
para subsidiar o processo de tomada
de decisões.
“Nesse contexto, entendo que se
faz necessário desenvolver estudos
que promovam a conexão das dimensões da sustentabilidade e do turismo em diversos contextos sociais,
econômicos e ambientais do Estado.
Propostas como o Mestrado e o Doutorado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (UFPI) são essenciais para
a elaboração de estudos interdisci-
Foto: Arquivo Pessoal
Valdecir Galvão é bolsista do Programa de Desenvolvimento Científico Regional (DCR-Piauí), edital
nº 007/2013 Fapepi/CNPq, que tem
como principal objetivo estimular a
fixação de recursos humanos com
experiência em ciência, tecnologia e
inovação e/ou reconhecida competência profissional em instituições de
ensino superior e pesquisa.
O objetivo central da pesquisa
desenvolvido por Galvão é a elaboração de uma análise geoambiental
do sistema flúvio-deltaico do rio
Parnaíba, que possibilitará a identificação e caracterização dos subambientes do Delta mais favoráveis ao
interesse turístico. A partir disso,
saber qual a fragilidade ambiental e
qual o tempo de resiliência para cada
subambientes identificados, com a finalidade de qualificar os impactos (ou
possíveis impactos) que os subambientes desse sistema podem sofrer
com a atividade turística e, posteriormente, determinar qual a capacidade de carga para os ambientes
flúvio-deltaicos.
Pesquisador Valdecir Galvão em trabalho de campo.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
31
A
EA
PIA
DICAS DE LIVROS
O DNA DA CONSPIRAÇÃO: O DEPOIMENTO DE DOIS OFICIAIS DE EXÉRCITO
QUE NÃO ADERIRAM AO GOLPE MILITAR DE 1964
Autores: Jônatas de Barros Nunes, Gastão Rúbio de Sá Weyne
Número de Páginas: 470 (São Paulo: Scortecci)
Ano: 2012
E-mail: [email protected]
A obra nasceu da ideia de dois oficiais da reserva do Exército Brasileiro que vivenciaram sofrimentos com a implantação do
Regime Militar em 1964. Fatos e episódios explicitados no livro evidenciam e fornecem um bom ângulo de visão sobre a vida castrense intramuros, mostrando a mobilidade do esqueleto militar da conspiração. Esta, após sucessivos reveses, foi afinal vitoriosa
em 1964, conseguindo tomar de assalto o Poder e entravando a democracia no Brasil por vinte e um anos. O livro mostra a agonia
do regime, decorrente da conspiração reincidente e exibe fragmentos da personalidade de inúmeros perseguidores.
32
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
A
EA
PIA
DICAS DE LIVROS
ENTRE VAQUEIROS E
FIDALGOS: SOCIEDADE,
POLÍTICA E EDUCAÇÃO
NO PIAUÍ (1820-1850)
NAÇÃO, PAÍS MODERNO
E POVO SAUDÁVEL:
POLÍTICA DE COMBATE
À LEPRA NO PIAUÍ
EDUCAÇÃO,
POLÍTICA E RELIGIÃO
NO MUNDO ANTIGO.
Autor: Marcelo de Sousa Neto
Número de Páginas: 335
Ano: 2013
E-mail: [email protected]
Autor: Antônia Valtéria Melo Alvarenga
Número de Páginas: 343
Ano: 2014
E-mail: [email protected]
Organizadores: José Renato de Araujo e
José Lourenço Pereira da Silva
Número de Páginas: 221
Ano: 2012
E-mails: [email protected];
[email protected]
O livro é reflexo da tese de doutorado defendida pelo autor em 2009 e tem
como tema principal a biografia do Padre Marcos de Araujo Costa. Através da
reconstrução da sua trajetória de vida,
o autor recupera a análise da sociedade,
da política e da educação no Piauí na
primeira metade do século XIX, em um
momento de profundas transformações.
A leitura proporciona revisitar algumas
das dimensões sociais do Piauí do século
XIX, suas tensões e contradições, contribuindo para o debate historiográfico sobre o período.
A obra resulta de pesquisas sobre a
Lepra no Piauí no contexto da modernização e desenvolvimento do Brasil, quando se deu o estabelecimento da política
nacional de combate à lepra, no período
entre 1930 e 1960. Ao longo do texto, a
autora mostra que o Piauí, durante os
primeiros anos da República, não possuía
uma estrutura institucional mínima de
saúde pública, o que favoreceu a proliferação de diversas endemias por seu território, embora no imaginário do piauiense
estivesse presente a ideia de que o Estado
gozava de excelente salubridade.
A obra reúne trabalhos de estudiosos
provenientes de diversas instituições dedicados à cultura helênica e seu legado.
O livro é composto por 13 artigos com
o tema “educação, política e religião no
mundo antigo”. A educação é entendida
como a forma mais apropriada de conhecer o mundo e a si mesmo. O livre debate
ideias para o exercício da cidadania e do
governo é o aspecto principal da política
grega. No tocante à religião, os autores
destacam como a religião penetra todos
os aspetos da vida social.
SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
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PROJETO
Memória do
Jornalismo
Piauiense
Profa. DrªAna Regina Rêgo
Coordenadora do Projeto Memória
do Jornalismo e do PPGCOM-UFPI,
membro do Conselho Editorial da
Sapiência.
O
jornalismo enquanto prática social estrutura sua
narrativa no presente a
partir de condições de produção
deste mesmo presente. Seu discurso
aborda diversos aspectos da sociedade de sua atuação. Através dele,
inúmeras vozes ganham vida e muitas outras são relegadas ao silêncio.
Sua missão é prestar um serviço público levando informações de qualidade e interesse público, entretanto, variáveis intermitentes em seu
processo de construção o desviam,
muitas vezes, de seus objetivos.
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SAPIÊNCIA 37 Publicação Científica da FAPEPI
Concordamos com Le Goff
(2003) quando enquadra o jornalista como um dos profissionais da
memória, muito mais do que com
Nora (1974), que imputa aos meios
de comunicação a predominância
da história sobre a memória nos
dias atuais, embora reconheça sua
influência nesse processo. Nesse
contexto, o jornalismo enquanto lugar de memória se coloca disponível
para o trabalho do pesquisador em
um momento posterior ao momento de sua construção, em que a temporalidade da categoria se impõe ao
presente. Trata-se de uma análise a
qualquer tempo, em que se considera o tempo presente de sua construção já situado no passado, a partir
de um presente de observação. Enquadradas, manipuladas ou somente trabalhadas, o jornalismo guarda,
em si, memórias sociais que podem
ser acessadas a qualquer momento e
que não se encontram cristalizadas,
mas fazem parte de um jogo em que
podem ser confrontadas e até modificadas. Ficamos assim com a escolha de Ricouer (2012) para quem
os lugares de memória continuam
como de memória.
Diante desse contexto e do
péssimo estado de conservação
dos periódicos piauienses nos diversos acervos incluindo a Casa
Anísio Brito, que impossibilita que
muitos pesquisadores tenham acesso ao jornalismo do Piauí, foi que,
em 2010, ao retornamos do doutorado, criamos, a partir do núcleo
de pesquisa que coordenamos no
PPGCOM-UFPI, NUJOC-Núcleo
de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação, o Projeto Memória do Jornalismo e, com o incentivo da Profa.
Dra. Jacqueline Dourado, criamos
ainda o Projeto Memória do curso
de Jornalismo da UFPI.
A iniciativa consiste em digitalizar o acervo de periódicos (jornais,
revistas, almanaques e outros) do
Piauí desde o século XIX até os dias
atuais, disponíveis no Arquivo Público do Piauí, acervos dos próprios
meios de comunicação e acervos
pessoais.
O projeto funciona a partir do
engajamento dos bolsistas do NUJOC em nível de graduação e de
pós-graduação (mestrado), assim
como bolsistas do PET - Programa
de Educação Tutorial do Curso de
História da UFPI - e conta com a
parceria do Núcleo de História da
Educação também desta IES. Durante os anos de 2011, 2012 e 2013,
foram digitalizados cerca de 10 mil
fotogramas equivalentes a 2.500
exemplares de jornais e revistas
disponíveis no Arquivo Público do
Piauí e em acervos pessoais.
O Projeto Memória do Jornalismo tem o apoio do CNPq e da CAPES. O primeiro financiou, através
da pesquisadora responsável, equipamentos que facilitaram o processo
de digitalização; a CAPES, por sua
vez, através do Programa Pro-Equipamentos, financiou uma digitalizadora de microfilmes, comprada
já em 2014 e que está acelerando o
processo de digitalização a partir
dos acervos de microfilmes da própria coordenadora do projeto, assim
como do PET da História e do NUPEM também do curso de História,
todos da UFPI.
O maior apoio, no entanto, tem
vindo da administração superior da
UFPI, assim como do Departamento de Comunicação e do Programa
de Pós-Graduação, com disponibilização de espaço, equipamentos e
cessão de bolsas para completar o
número de alunos que necessitamos
para o projeto.
Publicação Científica da FAPEPI
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ufg 2013