DISCURSO do presidente do BNDES, Sr. Carlos Lessa.
ÍNTEGRA
Excelentíssimo senhor José Alencar, vice-presidente dos Estados Unidos do Brasil;
Sr. Marcio Fortes de Almeida, Ministro Interino de Desenvolvimento, Indústria e Comércio;
excelentíssimo senhor Anderson Adauto Pereira, Ministro dos Transportes; Sr.
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, Secretário Executivo do Ministério de Relações
Exteriores; Sr. Enrique Garcia, Presidente da Corporação Andina de Fomento; Sr. Paulo
Paiva, Vice-presidente do BID; Sr. Demian Fiocca, Secretário de Assuntos Internacionais
do Ministério do Planejamento; autoridades internacionais, senhores Embaixadores,
senhores Ministros de países-irmãos; senhores que nos honram com sua presença em
nossa casa; autoridades do poder Executivo, Legislativo e Judiciário; senhores deputados
federais e estaduais, senhores governadores e, muito especialmente, excelentíssimo
senhor governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT; senhores prefeitos, senhores
vereadores, senhores secretários de estado; senhores empresários, senhores diretores
do CAF, meus colegas de diretoria do BNDES, minhas senhoras, meus senhores. Depois
do gesto ritual, quero abrir os braços e dizer que nós, do BNDES, nos sentimos
inteiramente privilegiados por poder promover esse encontro dos países do continente
sul-americano para que juntos possamos, ao longo de três dias de trabalhos, examinar
um elenco bastante maduro de projetos de infra-estrutura, identificados país a país como
importantes para cada nação e importantes para a integração no continente.
Meus senhores, toda vez em que olho o mapa do Novo Mundo, sempre fico
levemente inconfortável quando percebo o que aconteceu na parte norte do continente,
em relação à parte sul. Há 200 anos que a parte norte do Novo Mundo está ligada de
costa a costa; há 200 anos existem sinergias de imensa importância entre os lados do
novo mundo banhados pelos dois maiores oceanos da Terra. Nós estamos chegamos ao
terceiro milênio e não completamos estas ligações fundamentais. Na verdade, o nosso
continente ainda padece de uma histórica extroversão e, para que ninguém ponha o boné,
eu acuso o Brasil disto que é olhar muito para o oceano, olhando relativamente pouco
para o seu interior.
Creio que o processo de integração é um processo que vem visitando o sonho e por que não dizer - na retórica de nossas reuniões há muitos e muitos e muitos anos, há
muitas décadas. Eu mesmo, se retrocedesse os relógios da minha biografia, iria me
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encontrar muito jovem, no início dos anos 1960, ajudando a meu grande amigo Gerson
Augusto da Silva a dar a forma à proposta brasileira para o tratado que deu origem à
ALALC, Zona de Livre Comércio. Tive a felicidade de ter sido convidado, também muito
jovem, para ir trabalhar na CEPAL ligando-me, logo de início, a sonho da integração. Nós
não construímos ainda os fundamentos materiais inequívocos e irreversíveis desse
processo no continente. Creio que as coisas andaram e amadureceram muito. A iniciativa
da IIRSA promoveu um levantamento importantíssimo de possibilidades de projetos de
infra-estrutura. Creio eu que todos os nossos países aprenderam a desenvolver o
conceito de projeto e, com isso, tiveram presente a necessidade histórica de fazer com
que o nosso corpo seja mais do que a soma das partes. Sejamos, portanto, um conjunto
histórico e geopolítico definido no cenário mundial.
Quero crer, pela pré-leitura dos projetos que para nós foram encaminhados, que a
realização em conjunto ou na sua maioria desse projeto certamente produzirá um salto
qualitativo na direção de um continente integrado, de longa data, pelo espírito. Somos, em
imensa maioria, filhos da Península Ibérica.
Estaremos, porém, integrados pela nossa identidade potencializada por ess tema
concreto da infra-estrutura, que é o tema desta reunião de trabalho. Estaremos
integrados por nossas virtudes e mesmo pelos nossos defeitos.
A presença do Exmo. Senhor Vice-Presidente da República a esta mesa mostra a
importância de avançarmos por uma real e efetiva integração. Agradeço muito pela
presença do nosso Vice-Presidente. Todos que conhecem a agenda dos principais
executivos da República sabem das limitações de tempo. Ele fez questão de estar
conosco para dar a essa reunião de trabalho ainda maior significado histórico e político.
Fico particularmente satisfeito com a nossa mesa: vejo o nosso embaixador
Samuel, que é um dos operadores principais de um processo de acercamento real dos
países irmãos; Dr. Marcio, que representa meu ministério preocupadíssimo com o
fortalecimento do comércio; o meu Ministro dos Transportes; o Ministério do Planejamento
presente; o nosso Paulo Paiva, que agora é o vice-presidente do BID; Enrique Garcia, que
passa a ser uma alma irmã no BNDES. Nós, BNDES e CAF, temos um pré-acordo
matrimonial cujos termos definitivos ainda não foram acertados. Porém, acreditamos que
já construímos uma relação tão sólida que pode até suportar alguns pequenos
enfrentamentos, não é isso?
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Eu gostaria muito rapidamente de falar sobre o BNDES, não para os brasileiros.
Nossos principais superintendentes estarão à disposição de todos os visitantes para
esclarecer, em detalhes, como o BNDES trabalha, o que pode fazer e o que não pode
fazer. Nós queremos estreitar muito essas ligações com as delegações que nos visitam inclusive no plano do trabalho sem paletó, arregaçando as camisas para aprofundar o
conhecimento recíproco.
O BNDES tem 51 anos de existência, o que o torna uma instituição singular no
cenário brasileiro. Na verdade, o nosso BNDES está indissoluvelmente ligado à história
da industrialização brasileira. Não há, na verdade, segmento industrial ou mesmo setor de
infra-estrutura que não tenha a co-assinatura ou, às vezes, assinatura única do BNDES.
Cometemos alguns erros do passado. A história nos absolve, a partir da conversão
deste país - antes um grande cafezal - em oitava economia industrial do mundo. Nós
acreditamos que o BNDES é uma instituição extremamente importante para o Brasil;
como todas as corporações, temos muito orgulho de nossos membros, que têm muito
orgulho de fazer parte do BNDES. Hoje operamos um volume um volume patrimonial
bastante expressivo.
O BNDES tem crescido seu papel como banco financiador de exportações. Hoje,
42% das operações do BNDES financiam exportações. Estamos extremamente
interessados em aprofundar a presença do BNDES, dando apoio às exportações para os
países irmãos.
Depois que assumi a presidência do Banco tive a satisfação de aprovar uma
operação importante com o governo da Colômbia, muitas operações com a Venezuela,
algumas operações com o Equador e com a Argentina. Estamos prontos para dar
profundidade a esse papel que o BNDES vem historicamente assumindo. Aliás, o
Excelentíssimo Senhor Presidente da República tem, nas visitas e reuniões mantidas
com os dirigentes máximos do continente, por diversos momentos anunciado a criação de
linhas especiais que articulem melhor as relações do BNDES com os países irmãos. Nós
estamos buscando operacionalizar essas linhas e esperamos construir, prontamente,
linhas equivalentes com todos os países do continente. isso diz respeito a comércio
porém agora eu vou começar a falar do sonho.
Estamos interessados em que o comércio se multiplique de forma exponencial. Nós
achamos que ainda é muito tênue, muito fraca, muito pequena a integração comercial do
continente. Nós acreditamos que os nossos povos, somados, têm potencialidade para ir
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muito além do que fazemos - porém essa potencialidade permanecerá no espaço da
retórica se nós não construirmos a infra-estrutura que crie as externalidades, as sinergias,
as parcerias, as cumplicidades; a infra-estrutura que estenda a mão e reduza
determinadas barreiras de desconhecimento.
Conheço o que aconteceu no extremo Norte, a partir de uma estrada que liga o
Brasil à Venezuela. É absolutamente espetacular o que aconteceu depois que essa
estrada foi asfaltada, em termos de crescimento, de circulação de caminhões. Hoje, entre
a cidade de Boa Vista e Caracas, houve a quintuplicação dos caminhões que trafegam
diariamente pelas estradas -
e ainda nem está perfeitamente ligada ao resto do
continente.
Infra-estrutura, senhores, é para nós a locomotiva do desenvolvimento econômico
e social. Quando
uma sociedade tem vontade de ser, realiza intervenções pela
engenharia, que é a ciência aplicada do homem no domínio e na colocação da natureza a
serviço do homem; potencializa o desenvolvimento, e o faz por muitos mecanismos. A
infra-estrutura gera as externalidades que definem, em última estância, o nível de
produtividade macro-econômica média de todo o processo produtivo. Gera encomendas
encadeadas que viabilizam o desenvolvimento de atividades industriais de suporte,
multiplica empregos.
A infra-estrutura é a locomotiva do desenvolvimento. Precisamos colocar a
locomotiva sul-americana funcionando a todo vapor. Há uma dimensão do sonho que,
creio, é perfeitamente possível numa etapa associada e subseqüente à jornada que agora
iniciamos: pensar, a nível continental, em determinadas cadeias produtivas que
interliguem nossas competências e potencialidades.
Penso que alguns ramos estão pré-vocacionados para esse exercício. Um deles,
certamente, é o petróleo - e a petroquímica - mas outro, de nível muito mais prosaico,
está ligado à aviação. Freqüências e interligações aéreas entre os países sul-americanos
estão mais precárias. É mais fácil ir a Miami do que viajar para um país fronteiriço. Pensar
também
todo o sistema portuário sul-americano como integrando um único macro-
sistema, mais a navegação de cabotagem...
Gostaria de terminar dizendo aos senhores que nós, do BNDES, nos sentimos
extremamente privilegiados por vivermos esse momento de trabalho. Quero dar boasvindas também em nome da minha cidade. Eu sou natural do Rio de Janeiro, uma cidade
absolutamente encantadora - e nisso não tem nenhum provincianismo. Estou
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absolutamente convencido de que o poeta tinha toda a razão quando disse que nada vale
a pena se a alma for pequena. É necessário sonhar com os pés no chão. Se há capítulo
onde é possível fazer esse exercício é na infra-estrutura, que permite o sonho do futuro e
aguça observações sobre as restrições do presente.
A Cordilheira dos Andes é certamente uma beleza, mas é um terrível problema de
engenharia. Eu não gosto é do famoso discurso da restrição financeira; em nome dela, a
alma pode ficar tão pequena a ponto de perder-se no presente. O presente percebido
apenas como presente é de absoluta mediocridade.
Acho que
aprendemos que o exercício da retórica não nos leva muito longe.
Temos que valorizar ao máximo a idéia de que somos, no sonho, todos irmãos da
Península Ibérica, com a contribuição das mais variadas etnias do mundo. Fizemos um
coquetel único que é marcado por virtudes e por defeitos – ambos são nossos e deles
devemos nos orgulhar. Muito obrigado e sejam bem vindos.
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DISCURSO do presidente do BNDES, Sr. Carlos Lessa.