PIPE 2008 II PROJETO INTEGRADO DE PRÁTICA EDUCACIONAL DO CURSO DE LETRAS 18 de fevereiro a 26 de maio de 2008 FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA (2000-2007) Mandrake: a Bíblia e a bengala, de Rubem Fonseca Resenha produzida por Rafaela Nogueira Fonseca 1ª edição Editora Companhia das Letras São Paulo, 2005 200 páginas Contexto José Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 11 de maio de 1925. Formado em Direito, exerceu diversas atividades antes de dedicar-se à literatura. Iniciou sua carreira profissional em dezembro de 1952 na polícia do Rio de Janeiro. Em 1954 foi estudar e dar aulas de relações públicas da polícia na Fundação Getúlio Vargas. Aperfeiçoou-se nos Estados Unidos e estudou administração na New York University. Iniciou sua carreira literária aos 38 anos com o livro de contos Os prisioneiros (1963). Já escreveu três roteiros de cinema e uma novela. Entre diversas obras, escreveu Mandrake a Bíblia e a bengala, em 2005, a qual concorreu ao prêmio Jabuti de 2006 como melhor romance. O autor já ganhou prêmios como Camões, Jabuti e Juan Rulfo e já escreveu outros livros importantes como Feliz AnoNovo, O exterminador e Agosto. Enredo Mandrake: a Bíblia e a bengala é uma novela policial que tem como protagonista o advogado Mandrake, amante dos vinhos portugueses, charutos cubanos e mulheres. O cínico e sedutor advogado criminalista é levado a investigar dois casos insólitos. No primeiro, é procurado por uma colecionadora de livros raros que quer saber o paradeiro de um amigo desaparecido. Não conseguindo resistir à beleza da mulher, Mandrake aceita o caso. Esta trama envolve milionários, bibliófilos, livreiros, um anão misterioso, alguns assassinatos e o principal: o desaparecimento de uma Bíblia impressa por Gutemberg em 1462. Em paralelo a este caso, Mandrake precisa resolver problemas pessoais, ajudar Neide, processada por atropelar um homem, e resolver o caso de um farmacêutico acusado de ter passado informações confidenciais a terceiros por dinheiro. Mandrake termina a história com tiros na perna e fica dependente de uma bengala, objeto-chave da segunda história, na qual um dos seus ex-clientes aparece morto e a arma do crime foi uma de suas bengalas. Mandrake usa um arsenal de recursos para evitar a incriminação de uma suposta condessa e a sua própria, afinal, o homem foi morto com sua bengala e é marido de uma de suas amantes. Mandrake ainda precisa resolver o caso de uma jovem que diz ter sido molestada por um advogado casado e com um nome a zelar. Para resolver estes casos, Mandrake conta sempre com a ajuda do seu sócio Weskler e do tira Raul. Análise Analisando a obra Mandrake: a Bíblia e a bengala de Rubem Fonseca, pode-se dizer que há um narrador-protagonista em ambas as histórias, pois logo no primeiro parágrafo da primeira ele diz: “Meu nome é Mandrake” (p.07), e, a segunda história se inicia da seguinte maneira: “(...) Creio que inspirado num slogan (...)” (p. 121). Como pode ser observado nos trechos citados, os verbos estão conjugados em 1ª pessoa do singular, nos confirmando deste modo que Mandrake, além de ser personagem protagonista, também é o narrador da história. Segundo a tipologia de Norman Friedman (CHIAPPINI, 2002, p.43), o narrador-protagonista não tem acesso aos pensamentos dos demais personagens, logo é possível dizer que a história é narrada a partir do ponto de vista dele. Isto implica, obrigatoriamente, o envolvimento desta personagem com os acontecimentos narrados, segundo Beth Brait (BRAIT, 2004, p.60). Acredita-se que este mecanismo, no caso desta obra, aproxima o leitor da história, fazendo com que esta se torne mais verossímil. Analisando primeiramente “Mandrake e a Bíblia”, pode se dizer que o conflito central se dá pela procura de uma das bíblias da Mogúncia, impressa por Gutemberg em 1462 e pela busca do assassino de três pessoas. Quanto a segunda história, “Mandrake e a bengala”, pode se dizer que o conflito central se desenvolve pela procura de um homem que matou um dos ex-clientes de Mandrake, utilizando como arma do crime uma bengala, que pertencia ao próprio advogado. PIPE 2008 II PROJETO INTEGRADO DE PRÁTICA EDUCACIONAL DO CURSO DE LETRAS 18 de fevereiro a 26 de maio de 2008 FICÇÃO BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA (2000-2007) Paralelos a estes conflitos centrais, há muitos conflitos periféricos, que se afastam do conflito central, tanto na primeira história quanto na segunda estes conflitos são constantes. Pode-se dizer que é através destes conflitos periféricos que a obra pode ser considerada uma novela, porque “(...) não se detém no exame do dia-a-dia real, preocupando-se acima de tudo com o pitoresco (...)” (MOISÉS, Massaud,1967) e possui uma trama central e ao seu redor existem outras tramas, onde são inseridas mais personagens à história. Acerca destes conflitos periféricos, vale ressaltar que sua funcionalidade dentro da narrativa é somente propiciar ao leitor uma fuga temporal, pois muitas vezes estes fazem referência a experiências passadas do protagonista ou mesmo para nos contar sobre outros personagens que não fazem parte da história. Assim o autor prolonga sua obra e a torna mais empolgante. Analisando a obra como um todo, percebe-se que é uma literatura de entretenimento, “uma literatura média, de uma linguagem acessível, cujo principal objetivo é proporcionar uma leitura mais destinada ao lazer” (PAES, 1980), é uma literatura que valoriza mais os episódios, os casos, em detrimento da análise mais profunda da trama central. O autor fica mais preocupado com os conflitos periféricos ao invés de aprofundar-se no conflito central. Talvez a intenção do autor fosse uma paródia de narrativas policiais, mas fracassou, pois uma boa paródia busca confrontar discursos do ponto de vista ideológico, mas nesta, de Fonseca, não se notam elementos que poderiam caracterizar um posicionamento crítico. Chegou-se também a pensar que a obra talvez tenha apelo comercial, pois a linguagem é vulgar, o autor se utiliza de muitos palavrões e palavras de teor erótico, sendo talvez até um chamariz editorial, pois Fonseca usa ingredientes de efeitos imediatos. Pode-se pensar nisso pois tal linguagem não possui uma função na obra. Há também uma distância intransponível entre as obras anteriores de Fonseca e esta, pois nesta o autor limitou-se ao simples do policialesco, com tramas previsíveis, pouco exploradas e com muitos clichês do gênero. Ele deixou a desejar na construção da narrativa e até na criação do clima “noir”. Referências Livros: BRAIT, Beth. A personagem. 7.ed. São Paulo: Ática, 2004. CHIAPPINI, Ligia Moraes Leite. O foco narrativo. 10.ed. São Paulo: Ática, 2002. MOISÉS, Massaud. A criação literária: prosa I. 16.ed., rev. e atual. São Paulo: Cultrix, 1997. PAES, J. P. Por uma literatura brasileira de entretenimento. São Paulo: Comapnhia das Letras, 1980. PINTO, Manuel da Costa. Literatura Brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2004. Endereço eletrônico: JÚNIOR, Arnaldo Nogueira. In: http://www.releituras.com/rfonseca_bio.asp disponível em 01/04/2008 às 18:10 SÁ, Sérgio de. Feiticeiro em forma. In: www.clara-arreguy.com/cb-sergiosa-3007.pdf disponível em 29/03/2008 às 15:00.