LITERATURA INFANTIL — ETERNO CAVALO DE BATALHA p o r F R E D E R I cluir que, apesar de pregarmos Ainda não há muito que se Inovações e revoluções e modebateu em «Sol Nascente» o dernismos e espíritos do séproblema insolúvel até agora culo, em matéria de contos da literatura infantil. Será, ; ara crianças marchamos na portanto, ocioso, vir mais uma cauda do progresso. Lá fora vez batalhar no mesmo camtem-se feito qualquer coisa de po, exibir uma chaga tantisnovo neste sentido. Mas o que slmas outras vezes posta a nú, se tem feito lá fora não pode armar em Magriço de uma entre nós aplicar-se sem uma causa estafada mas que, mesadaptação cuidada em função m o assim, parece ter fôlego das condições de existência da para eternizar-se? nossa cniança, condições essas Pensamos que não. E' certo que implicam a situação ecoque aqui e além há (entre nómica e o grau de instrução este e o artigo a que indirece de educação, a posição da tamente se alude) ldentpdade nossa infância apegada por no modo de encarar a questão tradição às quatro paredes do —o que, até certo ponto, será lar familiar. Portanto, até uma parcela de justificação mesmo a utilização de literada verdade de alguns dos nostura importada não pode deisos pontos de vista. Pelo mexar de merecer dos contistas nos julgamos ter a certeza de infantis um critério escrupuque a maioria do público—do losamente orientado. público interessado, bem entendido—concordará com nos Tem-se usado o maravilhoso co em que é necessário estua cada passo; melhor—tem-se dar cuidadosamente o proabusado dele. Mas do maraviblema da literatura infantil lhoso que é somente maraviMas—preguntar-nos-ão — não lhoso. Daquele que faz erguetemos nós de sobra literatura rem-se cidades e castelos ou infantil? De facto, temo-la sumlrem-se dragões e génios de sobra. O pior é que, por mauls pelas simples interfemais paradoxal que Isso nos rência e omnipotência de um pareça, não temos literatura pauzinho mágico. Quere isto infantil absolutamente nedizer (esta condenação do exnhuma (convimos em que isto cesso) que deva pôr-se de parecerá a muita gente senparte o factor maravilhoso na sata afirmação leviana de meliteratura infantil? De modo nino em busca de evidência). nenhum. O maravilhoso é Procuremos entende~-nos. A sempTe uma projecção do huliteratura infantil pprece ter mano; mas uma projecção merecido de muitos o melhor ampliada. Um diabo, p o r de seu esforço, de sua boa vonexemplo, generalizando, um tade. Abundam, em proporção ser maléfico é-nos represencom o acanhado do nosso meio tado por um homem, uma tradicionalmente refractário, planta ou uma pedra, homem, as publicações infantis, os 11planta ou pedra com atributos vrinhos de histórias azuis de maldade característicos. (histórias amenas de multas Evidentemente que um diaVelhas Totónias). No entanto bo só deveria ser apresentado é acanhado (será preferível sob a forma de um homem. ler-se o superlativo) o horiTodavia o autor pode permizonte desses contos. Acanhado tir-se—todo aquele que se suse atendermos—e como se põe autor acha-se no direito compreende que haja quem de permitir-se todos os absurnão atenda?—às condições de dos—colocar a acção da hisvida de hoje tão diversas das tória num mundo que não condições de vida de ontem seja humano (exteriormente (há quem diga que não; que humano), quere dizer, no o homem de 1938 é igual ao mundo vegetal, no mundo mide 1908, como este era Igual neral ou, ainda, nesse massaao de mil oitocentos e qualcrado ambiente do reino aniquer coisa; de mais há quem mal—que é como quem diz no tenha notado que ainda há seio dos animais irracionais. adeptos dos faraós...). Porque, Qual é o resultado da expese persistimos na adaptação riência? Surgirem pinheiros, de velhos contos hindus (por calhaus ou simplesmente burvezes esse seria o mais peros pensando e agindo como queno dos males), na deturhomens maus (ou bons; mas pação de aventuras mais ou maus porque falamos de diamenos cavalheirescas de uma bos). A variedade de ambienidade média toda convenções tes para localização de intrie mentiras (convenções e gas fáceis de histórias para mentiras em nome de uma meninos não compensa dos maior compreensão por parte erros em que possivelmente da criança), na renovação induzirá os pequeninos leitoconstante das edições moira res, erros que teremos de desencantada e fadas e varinhas bravar porquanto, se tal se —então somos forçados a connão fizer, corremos o risco de sot nascente C O A L V os ver recear um seixo ou um lagarto inofensivo. Mas voltemos propriamente ao conceito de maravilhoso. Ficámos em que o maravilhoso é sempre uma projecção da reauoaoe. Temos que ver agora quando é que essa projecção sai dos limites da possibilidade de realizações humanas, mesmo aceitando uma certa amplitude que seja exagero, mas exagero humano. Concretizando. Um determinado mancebo (o tema é idiota; no entanto servimo-nos dele porque é dos mais generalizados) pretende ir salvar a donzela amada de um perigo iminente. Para isso com toda a força da suo vontade, mas unicamente da sua vontade (sem auxílio de passarinhos mensageiros, de princesas encantadas que se transformam em cavalos alados), êle logra vencer contratempos e riscos sem fim, que outro qualquer, de vontade fraca ou, até, de vontade média, em circunstancias análogas não conseguiria ultrapassar. Aqui — e desde que os obstáculos vencidos sejam de facto obstáculos possíveis—mesmo que haja ampliação da força humana, o maravilhoso não é de deitar fora porque dessa luta titânica do mancebo que chega, enfim, aos braços da sua amada, pode resultar a conclusão de que «somos nós quem traça o nosso próprio caminho, somos nós que fazemos o destino». Demais, o público miúdo de hoje prefere as aventuras i n trépidas de cavaleiros do Oeste americano, de aeronautas arrojados que se lançam na conquista de mundos desconhecidos, de marinheiros audazes em briga constante com os elementos furiosos. O público m i ú d o prefere justamente aquelas histórias que são menos histórias e um pouco mais de vida, relegando para o canto das inutilidades a fada e a varinha. Diga-se de passagem que o gosto das crianças é amplamente satisfeito. O que não quere dizer que o problema da literatura infantil se resolva com capitais Morgan ou Texas Jack. Claro que Morgan, Jack ou Holmes são exemplos flagrantes de tenacidade e força de vontade. Mas na criança não nos Interessa estimular, exclusivamente, a força de vontade. Outros problemas, e muitos, nos devem prender a atenção. A higiene, a solidariedade, a gradual aquisição de conhecimentos, e tantos, tantos outros, são aspectos a considerar E S e ponderar na literatura infantil. E não esquecer, sobretudo, que se Impõe uma literatura humana, uma literatura em que o mundo seja mundo com suas grandezas e misérias (para quê teimar em mostrá-lo cõr de rosa?), com suas cobardias e altruísmos, tudo adentro dos muros da possibilidade humana, e não uma l i teratura em que o mundo seja apenas um baile de máscaras, ura teatro de feira, um antro de fantasmas. Apontar às crianças o caminho da vida, ensaiar-lhes os primeiros passos; nunca afastá-las dele, entravar-lhes o andar—eis a missão principal da literatura infantil. A influência do tempo na crítica literária (continuação da página anterior) A crítica faz-se de conhecimento e de comparação. Ora ninguém menos indicado para fazer crítica do que o literato especializado noutro sector, a não ser que excepcionalmente dotado. Não é ao poeta, ao romancista, ao dramaturgo, mas ao crítico, que deve pedir-se crítica. O elemento de que essencialmente vivem as diversas manifestações literárias, a emoção, prejudica o exercício da critica, de sua natureza anti-emotlva. Esse facto, junto aos preconceitos de escola e de grupo, que leva a aceitar-se como bons apenas os processos literários seguidos e mais nenhum outro, dá como resultado a insensibilidade critica com que se anulam reputações lite árias, ainda há pouco consideradas sólidas, levando a desorientação às gerações que se preparam, ou privando-as de conhecerem e admirarem valores que só diminuíram porque escreveram noutro t°mpo, com outro estilo e enfren*ando assuntos de outra época. Essa Insensibilidade critica é ainda, paradoxalmente, de natureza emotiva. E' a pajxão pelos seus processos literários que leva esses literatos a condenarem todos os processos alheios. Julgo interessante coartar os efeitos dessa tentativa de desagregação literária. E', no fundo, uma obra de inteligência, porque de maior consciência crítica. E seria sumamente interessante que o crítico, especiallzando-se, renunciasse a outro género literário que não fosse o ensaio, e que o literato, seguindo irresistível vocação, desistisse de exercer toda e qualquer acitvidade crítica. sete