NELLY NOVAES COELHO: POR UMA ESTÉTICA DA LITERATURA
INFANTO-JUVENIL
Thiago Alves Valente (UENP-CP/CRELIT)
[email protected]
Cláudia Alves (UENP-CP/CRELIT – IC Fundação Araucária)
[email protected]
Palavras-chave: Nelly Novaes Coelho, crítica, leitor, mercado.
Resumo:
Um mercado aquecido como aquele voltado para a literatura infantil e juvenil
brasileira deveria contar com um aparato crítico melhor
aparelhado
para
atender demandas do público leitor formado por professores e pesquisadores
da área. Torna-se cada vez mais necessário, portanto, estudar a crítica literária
que se constrói tanto voltada para a análise imanente das obras literárias
quanto para a relação da Literatura com a Pedagogia. Para isso, mais que
recorrer às referências bibliográficas a pesquisa pode apontar ao leitor de hoje,
principalmente aquele que atua nas salas de aula, conceitos como leitura e
literatura, bem como a forma como se articulam historicamente nas práxis que
envolvem o ler e o escrever institucionalizados. Embora pareça tímida em
relação ao volume de publicações diariamente postas aos potenciais
consumidores, essa crítica, mesmo que não veiculada em maior proporção ao
público docente escolar, tem se constituído como base fundamental para as
devidas valorizações estéticas de obras e autores nacionais e internacionais.
Para compreender, enfim, a construção desse trajeto de crítica literária para a
literatura infantil e juvenil brasileira, faz-se necessária uma abordagem histórica
desse processo, o que encontra na professora e pesquisadora Nelly Novaes
Coelho um ponto relevante de problematização sobre questões estéticas
e pedagógicas na década de 60.
Introdução:
O surgimento da literatura infanto-juvenil acontece no momento em que se
consolidam instituições como família e a escola burguesa. Sendo assim, a
criança passa a ser o centro,o beneficiário maior dessas instituições, a escola
passa a ser obrigatória, complementando
a educação dos pequenos,
entretanto, ela assume outros papéis que a tornam imprescindível no quadro
da vida social, e o livro passa a ser uma ferramenta importante neste processo.
Estudando a origem da literatura infantil, seu surgimento no Brasil, encontra-se
duas escritoras e estudiosas do meio literário infantil, ambas professoras, que
levou a um estudo mais detalhado de suas pesquisas e a uma comparação de
seus firmamentos teóricos.
Em Problemas da Literatura Infantil, Cecília Meireles aborda a origem da
Literatura Infantil, e questiona se há realmente uma literatura infantil, como
caracteriza-la, uma vez classifica-la dentro da Literatura geral é uma tarefa
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
árdua, pois segundo ela, muitos deles não possuem atributos literários, a não
ser o de simplesmente estar escrito.Podemos dizer que a literatura infantil sofre
uma crise que perdura até nossos dias, uma crise que segundo Cecília
Meireles não é de carência, e sim de abundancia, há uma infinidade de livros,
temas, finalidades sendo oferecidos no mercado, cabe aos pais e nós,
educadores, ter discernimento para encontrar a leitura apropriada para nossos
pequenos leitores.
Em O Ensino da Literatura,de Nelly Novaes Coelho publicado em 1966, que
busca orientar os alunos do curso secundário a encontrar caminhos para uma
nova abordagem da expressão literária, sendo realizadas com técnicas
metodológicas diferentes. No capitulo A literatura Infantil no Curso Normal, a
autora se dirige aos futuros professores mostrando a importância da Literatura
Infantil na fase inicial da escola e para a formação da criança. Neste capítulo
Nelly Novaes afirma que não podemos esquecer que o objetivo primordial é
preparar didaticamente nossos alunos para o uso que deverão fazer da
literatura infantil com seus futuros alunos, as crianças. É devido a isso que é de
grande importância saber que tipo de livro selecionar, o que vai ser transmitido
a estes pequenos leitores, uma vez que eles aceitam com facilidade histórias
fantásticas, cheias de fantasia, como contos, fábulas. Mas como educadores
precisamos estar atentos quanto aos valores que elas estarão recebendo
nestas leituras, pois a uma leitura de estória de pura e gratuita fantasia atrai
mais que aquela que visa educar.
Materiais e métodos:
Inicialmente foram realizadas leituras para o conhecimento da historia da
Literatura Infantil, posteriormente foram feitos fichamentos e discussões da
bibliografia. Analisando as obras, duas delas foram selecionadas para objeto
de estudo, levando em conta proximidades e distanciamentos em suas
afirmações e direcionamentos que nos atuais dias são de extrema valia.
Resultados e Discussão:
As obras foram publicadas em datas diferentes, 1951 o livro da Meireles e 1966
o livro da Coelho, mas em alguns aspectos seus textos se assemelham, como
por exemplo, o aspecto do livro infantil divertir, educar e instruir. Ambas
expõem que cada idade precisa de uma literatura adequada, que o livro é um
meio usado para mostrar à criança o mundo com seus perigos, belezas e
valores, e também um meio de explorar o mundo interior da criança. Cecília
Meireles aborda estas e outras questões, como a importância de contar
historias, os contos de fadas, a moral de cada tempo, pois, segundo ela, a
literatura traz em suas narrações os ensinamentos e o que era de valor moral
para a época em que foi escrita.
Mesmo não estando declarado, percebe-se que o conceito de literatura infantil
que Nelly Novaes tem consigo é de uma literatura pedagógica, de ensinar e
passar valores; Cecília Meireles em seu texto afirma que tudo é uma literatura
só, mas ao longo dessa leitura percebe-se que para ela a fantasia é um fator
importante, mas sem abrir mão da transmissão de valores e conhecimentos
para a criança.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
O mercado oferece uma diversidade de livros infantis, livros didáticos, de
temas, abordagens diferentes, alguns desses são simplesmente de leitura
instrumental ou utilitária, nesta diversidade, alguns não oferecem nenhum
ensinamento ao seu leitor; outros seguem a linha dos livros que iniciaram essa
linha literária, simplesmente moralizam. Nelly Novaes trata dessas questões
em seu texto, afirmando para seus alunos que é necessário distinguir que tipo
de literatura ofertamos a nossos estudantes, e Cecília afirma que além de todo
esse cuidado, em nossos dias, precisamos nos atentar que tipo de herói
mostramos para as crianças, pois temos heróis às avessas, que prendem a
atenção de quem lê, para saber de suas estratégias para sempre conseguir
fugir do mocinho da historia.
Necessidades e falhas de uma literatura infantil que, tanto Coelho, quanto
Meireles, apontam, cada uma em sua época, perduram até o presente
momento, pois a variedade de títulos é imensa. O que ambas fazem, além de
afirmarem que há problemas na literatura infantil e que nossas crianças
precisam agregar valores essenciais para seu crescimento pessoal e social, é
nortear pais e educadores, indicar caminhos, para que o momento de leitura
não seja baseada em simplesmente a hora de brincar e nem o momento de
moralização, mas que, nesse momento, a criança sinta aquela historia, viaje
em sua imaginação, carregue para toda sua vida o que leu e o que aprendeu
no livro.
Conclusões:
A literatura infantil se consolidou com a burguesia se firmando na sociedade,
surge então o centro dessa instituição: a criança. E junto surge o brinquedo, a
Pedagogia, o livro, a escola. No Brasil, para suprir a demanda de crianças na
escola, professores se formaram num tempo muito curto, enquanto a imprensa
colocava no mercado livros e livros para os pequenos. Os estudos feitos na
teoria de Nelly Novaes Coelho, comparando com a de Cecília Meireles,
demonstram os valores e conceitos que perpassam as abordagens das
autoras.
Agradecimentos:
Agradeço à Fundação Araucária, por meio da UENP, pela concessão da bolsa
para realização da pesquisa. E ao professor Dr. Thiago Alves Valente
pela atenção e tempo dispensado na orientação da presente pesquisa.
Referencias:
CADEMARTORI, Ligia. O que é literatura infantil. SãoPaulo: Brasiliense, s.d.
(Coleção Primeiros Passos)
CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do homem. Revista Ciência e
Cultura 24(9): 803: 809, set 1972.
COELHO, Nelly Novaes. O ensino da literatura: sugestões metodológicas
para o secundário e normal. São Paulo: FTD, 1966.
Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.
KHÉDE, Sônia Salomão (org.) Literatura infanto-juvenil: um gênero
polêmico. 2. ed. São Paulo: Mercado Aberto, 1986.
LAJOLO, M; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: História &
histórias. 6 ed. São Paulo: Ed. Ática, 2006.
MEIRELES,Cecília. Problemas da Literatura infantil. 2ed. São Paulo:
Summus, 1951.
ZILBERMAN,Regina.Como e porque ler literatura infantil brasileira.Rio
de Janeiro: Objetiva, 2005.
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