literatura e realidade(s):
uma abordagem
organização
Heidrun Krieger Olinto
Karl Erik Schøllhammer
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Literatura e realidade(s) – uma abordagem
Heidrun Krieger Olinto e Karl Erik Schøllhammer
A presente coletânea de ensaios é resultado de uma seleção dos trabalhos apresentados na nona edição do Seminário Internacional de Estudos de Literatura: literatura e realidade (s). O seminário, que aconteceu na puc-Rio em outubro 2008, organizado pelo grupo de pesquisa
do cnpq “Tendências atuais nos estudos da literatura”, foi dedicado à discussão das relações complexas entre literatura e realidade e suas consequências em termos estéticos, políticos e éticos para os escritores e para
os gêneros ficcionais. Durante dois dias, o debate foi organizado em quatro sessões, cada uma com dois painéis que ofereceram abordagens várias
à discussão dessas questões, ao abordar as pesquisas mais recentes na área
de acordo com quatro temas principais.
O painel “Escritas da violência” foi resultado da parceria com o projeto de pesquisa integrado do iel-Campinas/Departamento de Literatura
Brasileira da usp apoiado pela Fapesp. O tema geral era a relação dinâmica
entre a violência no Brasil e as produções literárias e artísticas, sendo analisadas as características estéticas e estilísticas dessas expressões comparadas
com exemplos de outros contextos. Algumas propostas de seus produtores
foram discutidas sob a perspectiva das possibilidades de intervenção histórica. Nas últimas décadas, a presença particularmente importante do tema
da violência na produção cultural tornou-se evidente, atualizando a discussão teórica e analítica dos elementos estéticos dessas obras assim como
da relação dos mesmos com o componente histórico.
O segundo painel abordou o tema “O desafio ético da literatura”.
A emergência da ética no cerne da experiência estética representa hoje
o único elemento transformador da literatura e da obra de arte, capaz
de criar novas relações intersubjetivas no contexto no qual se dá como
um puro evento, isto é, um “puro acontecer”, sem remeter a uma substância oculta em forma de valores morais metafísicos, e sem se restringir ao escopo de uma experiência existencial. Tanto na literatura quanto
nas artes plásticas contemporâneas, existe a procura de um efeito estético
com força ética de transformação efetiva, como a preocupação de colocar
a referencialidade na ordem do dia, abrindo caminho para um novo tipo
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de realismo, que visa a realizar o aspecto performático e transformador
da linguagem literária e da expressão artística. Outra perspectiva emerge
hoje na literatura e em certas experiências artísticas, reivindicando a presença do real na obra não apenas na temática, mas, por exemplo, por
meio da acentuação de suas qualidades materiais, afetivas e estético-expressivas e firmando um compromisso com a criatividade técnica e artística, à procura da criação literária de efeitos de realidade. Assim, o desafio ético não se coloca apenas em termos de uma literatura “engajada” e
politicamente comprometida, mas como a exigência criativa de marcar a
presença de uma sensibilidade ética no contexto da produção midiática
generalizada de “realidade”.
Tanto na literatura quanto nas artes visuais, assistimos a uma preocupação com a referencialidade que foi discutida no painel “Novos Realismos”. A volta ao realismo se expressa na acentuação do aspecto performático da linguagem literária, destacando o efeito afetivo e sensível em
detrimento da questão representativa. Uma nova evocação de “realidade”
se evidencia hoje nas tendências expressivas da literatura e das artes à procura de “efeitos” de realidade na transgressão dos limites representativos
do realismo histórico. Tal tendência tenta demarcar seu espaço por uma
“sede” geral de “realidade” que, com facilidade, se verifica no cinema, na
fotografia, nos grandes meios de comunicação, em particular na televisão, em que a notícia imediata, as diferentes formas de documentarismo,
os programas de auditório, os reality shows e a televisão interativa hoje
representam aquilo que mais atrai o público, oferecendo a possibilidade
de se testemunhar, em tempo presencial, tanto a intimidade de personagens conhecidos ou anônimos quanto os eventos dramáticos, nos focos de
conflito do mundo, de maneira permanente.
A sessão “Literatura sem fronteira” discutiu as fronteiras movediças
do fenômeno literário, do seu circuito de comunicação e da elaboração
do seu sentido nos dias atuais. Centrado nas novas relações entre críticos,
teóricos, escritores e artistas tanto no processo criativo quanto na compreensão do seu objeto de investigação, o seminário se empenhou em aprofundar o diálogo com os estudos culturais e midiáticos que inauguraram
perspectivas complexas e estimulantes para a crítica literária. Os debates
em torno dos estudos literários – seja em manuais, livros, revistas especializadas, teses e eventos acadêmicos – evidenciam um campo disciplinar em constante expansão e rearticulação. Essa situação contrasta com
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querelas hegemônicas anteriores, marcadas, em suas extremidades, pela
ênfase nas abordagens textualistas e contextualistas, geralmente fundadas
em pressupostos epistemológicos, estéticos e políticos antagônicos. A nova
intransparência, aliada ao caráter provisório de soluções propostas para a
investigação do fenômeno literário, demanda uma atenção constante por
parte dos estudiosos da área, não apenas pela dificuldade em delimitar
o objeto de análise, mas também em função da crescente convicção nas
ciências humanas e sociais de que projetos teóricos diferentes, em seu conjunto, não produzem nem traduzem objetos mais completos, mas objetos distintos.
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