www.alexandrepilati.com 1 Literatura brasiliense? Por Alexandre Pilati Brasília faz 50 anos. A data torna oportuna a pergunta sobre se existe ou não uma literatura brasiliense, com características próprias, independente da literatura que se faz em outras partes dos Brasil. Na verdade, o desenvolvimento da literatura em Brasília não ocorre de modo muito diferente de outras literaturas locais ou regionais do país. É claro que há algumas características peculiares, mas, no geral, a formação de uma literatura depende de fatores mais ou menos regulares, tais como a reunião de um conjunto de escritores que esteja consciente do seu papel dentro da sociedade, a formação de um público leitor com que esse escritor dialogue e uma tradição de obras literárias que se tornem referência às novas gerações. Nesses 50 anos, Brasília conseguiu, com algum sucesso, o relacionamento orgânico dessas três variáveis. Um pouco de História Uma das provas de que a literatura brasiliense já é um todo orgânico é a sua história recheada de eventos importantes. Primeiramente, impressiona o volume de textos de Brasília e sobre Brasília publicados nesses 50 anos. Talvez nenhuma outra organização urbana com características semelhantes às da capital do país tenha tantos textos publicados em tão pouco tempo e também tantos autores desejosos de serem reconhecidos como brasilienses. Já no início da década de 60, em 1962, por exemplo, o poeta Joanyr de Oliveira organizou a primeira antologia de poesia do DF, denominada poetas de Brasília. Em 1963, aparece a primeira narrativa www.alexandrepilati.com 2 ficcional ambientada em Brasília; trata-se de uma novela intitulada Luana, de autoria de Garcia Paiva. Mas uma literatura não é feita só de obras e, cientes disso, os autores começaram desde cedo a se organizar em agremiações e movimentos. Uma das mais importantes dessas instituições criadas no DF é a ANE – Associação Nacional de Escritores, criada em 21 de abril de 1963 pelo escritor Almeida Fischer. Desde essa data reúnem-se ali autores para divulgar suas obras e discutir textos. Com respeito aos movimentos, talvez os mais significativos para a tradição de uma literatura com a cara de Brasília sejam aqueles que apareceram em torno da poesia marginal. Em 1977, Chico Alvim e Carlos Emendadas, Saldanha reunindo 13 organizam poetas de a antologia Brasília. Até Águas 1981, surgem, também, alguns grupos importantes de difusão da poesia marginal, tais como aqueles que integram a série POrrETAS, organizada por Climério Ferreira. Há ainda o grupo da Galeria Cabeças, que publicou a revista "Grande Circular" além de realizar diversas atividades de divulgação da poesia e de outras artes. Desses grupos saiu aquele que é talvez o nome mais emblemático da literatura de Brasília: Nicholas Behr. O traço peculiar Embora, como se viu, tenhamos já uma longa tradição de publicação e organização de escritores, a literatura de Brasília ainda regionalista, nordestina ou não como, definiu por gaúcha. um exemplo, A verdade traço eminentemente acontece é que na a literatura nossa opção literária, em termos de tema e de estilo, atende à vocação de Brasília para o cosmopolitismo, como acontece com grandes cidades da linhagem de Rio de Janeiro e São Paulo. www.alexandrepilati.com 3 Nesse sentido, mesmo que a literatura fale de Brasília é comum vermos textos em que o autor se esforça por transcender a região, tentando captar alguma coisa mais profunda da própria experiência da metrópole moderna. O amadurecimento de uma tradição local dependerá, também, de que os escritores locais inspirem-se não apenas nos escritores de fora, mas também naqueles que são fortemente ligados à literatura brasiliense.