Estudo piloto para determinar a segurança e viabilidade da administração na orofaringe de colostro da própria mãe a recém-nascidos de extremo baixo peso A Pilot Study to Determine the Safety and Feasibility of Oropharyngeal Administration of Own Mother’s Colostrum to Extremely Low Birth Weight Infants Nancy A. Rodriguez, Paula P. Meier, Maureen W. Groeret et al Adv Neonatal Care. 2010 August ; 10(4): 206–212 Apresentação: Bárbara Lalinka de Bilbao Basilio, Médica Residente de Medicina Intensiva Pediátrica www.paulomargotto.com.br HRAS/HMIB/SES/DF Brasília, 4 de maio de 2013 COLOSTROTERAPIA! Nossa Unidade de Neonatologia! Você pode consultar integralmente este artigo!Aqui e Agora! (clique aqui!) A pilot study to determine the safety and feasibility of oropharyngeal administration of own mother's colostrum to extremely lowbirth-weight infants. Rodriguez NA, Meier PP, Groer MW, Zeller JM, Engstrom JL, Fogg L. Adv Neonatal Care. 2010 Aug;10(4):206-12 Introdução Avanços na Neonatologia resultaram no decréscimo da mortalidade de neonos recém-nascidos de extremo baixo peso-RNEBP (<1000g) Aproximadamente 80% dos nascidos com 24 semanas sobreviverão à alta médica, comparados à 50% há 15 anos Introdução Entretanto, a sobrevida desses neonatos está associada com morbidades a curto e a longo prazo: Infecção hospitalar Enterocolite necrosante Hemorragia intraventricular Leucomalácia periventricular Sequelas: desabilidades motoras e cognitivas, comprometimento visual e/ou auditivo e paralisia cerebral Introdução Infecção hospitalar Adquirida após 48h de internação Alta prevalência Associação com outras morbidades (crescimento inadequado, sequela neurológica, aumento do tempo de internação e alto custo) Até 65% dos RNEBP apresentarão pelo menos uma infecção durante a internação na UTI Neonatal A bacteremia normalmente resulta de acesso vascular prolongado para nutrição parenteral Estudos evidenciam que o risco de aquisição de infecção hospitalar é modificável através do uso do leite materno (“da própria mãe”) em comparação ao uso de fórmulas lácteas Objetivos Determinar a segurança da administração do colostro da própria mãe, por via oral, aos RNEBP em seus primeiros dias de vida Medir a concentração de IgA secretória e Lactoferrina nas secreções de aspirado traqueal e urina Background Proteção do Colostro da Própria Mãe Proteção antimicrobiana e antinflamatória Fatores protetores do colostro X Gestação (relação inversamente proporcional) Necessidade de via alternativa de administração do colostro quando a via oral está proibida Administração Orofaríngea de Colostro Administração de pequenas quantidades de colostro diretamente na mucosa oral Como “imunoterapia” ou complemento à dieta trófica Background Fatores Imunológicos sIgA: inibe a adesão de patógenos aos tratos respiratório e intestinal, mantém a integridade das mucosas e promove mecanismo de “barreira” Interleucina-6: estimula o crescimento e diferenciação de linfócitos B em células secretoras de IgA Lactoferrina: bactericida, bacteriostática, antiviral, antinflamatória e imunomoduladora Desenho do Estudo Quase-experimental Grupo único Pré-teste x Pós-teste Variável independente: administração orofaríngea do colostro da própria mãe Variáveis dependentes: concentração de IgA Secretória (sIgA) e lactoferrina no aspirado traqueal e na urina antes e após a administração do colostro Materiais e Métodos 44 UTIs Neonatais terciárias: Peso de nascimento: < 1000g IG: < 28 semanas AIG Excluídos: portadores de anomalias congênitas, desordens renais ou gastrintestinais, necessidade de vasopressor (>10mcg/kg/min), história materna de abuso de substâncias ou mãe HIV positiva Aprovado pelos Comitês de Ética Institucionais Materiais e Métodos Pesquisadores principais doutorandos O consentimento livre e esclarecido foi obtido antes do nascimento dos bebês N: 5 bebês Peso médio: 657g IG média: 25,5 semanas 2 Caucasianos / 2 Afro-americanos / 1 Oriente médio 3 meninos 2 meninas Materiais e Métodos sIgA e lactoferrina foram dosados (ELISA) nos aspirados traqueais e na urina, antes e após a administração de colostro Antes da análise, as amostras foram descongeladas, os volumes medidos e centrifugadas a 1500rpm por 30 minutos A primeira amostra do aspirado traqueal foi obtida ainda na sala de parto, antes da administração de surfactante Procedimentos Coleta do Colostro Orientadas 24 horas antes do parto Realizada por bomba elétrica ou extração manual Coleta realizada a cada 2-3h, num total de 8 vezes em 24 horas Receberam 6 frascos estéreis, onde deveriam colocar 1mL de colostro (em cada frasco) por extração manual, o mais cedo possível após o parto Receberam orientações verbais e escritas Receberam orientações sobre os procedimentos de higiene Todas as amostras de colostro foram imediatamente após o término da extração refrigeradas Procedimentos Preparo das Seringas Foram necessários 4,8mL tratamento de 48 horas de colostro para o Usando-se técnica estéril, o investigador principal encheu 12 seringas com 0,2mL de colostro em cada As seringas foram identificadas com o nome do paciente, data e hora da preparação As seringas prontas foram mantidas sob refrigeração Procedimentos Administração Antes do início do protocolo, foi colhida uma amostra de urina A seringa foi colocada em banho-maria por 5 minutos As gotas de colostro foram administradas: 7 gotas (em 2 minutos) no lado direito da boca e, sem retirar a seringa da boca, mais 7 gotas (em 2 minutos) no lado esquerdo A administração foi realizada a cada 2 horas, por um período de 48 horas, iniciada com 48h de vida Durante a administração a frequência cardíaca, a frequência respiratória, a saturação de oxigênio e a pressão arterial foram monitoradas Procedimentos Administração A data e a hora de cada administração foi anotada As amostras de aspirado traqueal e urina póstratamento foram colhidas 6 horas após o término do protocolo e novamente duas semanas após As amostras colhidas foram centrifugadas e imediatamente congeladas a -80ºC para a análise bioquímica subsequente Resultados Foram colhidas 15 amostras de urina dos 5 pacientes, mas 1 teve volume insuficiente para análise Foram colhidas 15 amostras de aspirado traqueal dos 5 pacientes, mas 8 tiveram volume insuficiente para análise Em todas as administrações a saturação de oxigênio permaneceu estável ou aumentou discretamente Não houve episódios de apneia, bradicardia, hipotensão ou outros efeitos adversos Todos os bebês sugaram o tubo orotraqueal durante a administração das gotas Resultados DISCUSSÃO Este estudo é o primeiro a investigar a segurança e a viabilidade da administração de colostro da própria mãe na orofaringe de recém-nascidos de extremo baixo peso na UTI. A utilização do colostro da mãe desta maneira exige uma mudança de pensamento, possibilitando ver o colostro como uma potencial imunoterapia e não simplesmente como uma alimentação. Como tal, a administração de colostro na orofaringe pode ser uma alternativa complementar a dieta trófica nos primeiros dias de vida dos recém-nascidos com peso extremamente baixo. As mães estavam dispostos a participar neste estudo; 88% das mulheres que foram abordadas concordaram em participar deste estudo. Na verdade, muitas das mães queriam que seus bebês participassem e recebessem gotas de colostro, porque elas sentiram que seria benéfico. Elas perceberam que, de acordo com o tratamento padrão na UTIN, uma criança com extremo baixo peso ao nascer não iria "provar" o seu leite até pelo menos 32 semanas de idade gestacional pós-concepção, quando são introduzidos alimentos por via oral. As mães do estudo conheciam seus bebês que provariam o seu colostro logo em 48 horas após o nascimento, em oposição a 8 semanas mais tarde. Este protocolo também foi bem recebido pelos enfermeiros e médicos no local da pesquisa. Este estudo piloto demonstrou que este protocolo para a administração de colostro na orofaringe foi bem tolerado por até mesmo os bebês menores e mais doentes com peso extremamente baixo. A saturação de oxigênio manteve-se estável e nenhum evento adverso ocorreu. Uma observação interessante durante o administração de colostro na orofaríngea foi que as crianças pareciam "provar" o colostro, como observado por sucção no tubo orotraqueal. Esta observação pode ter implicações no desenvolvimento. As mães reagiram positivamente às respostas dos seus bebês quanto ao “provar" o colostro, uma observação que pode ter benefício psicológico para estas mulheres. Os dados deste estudo são limitados pelas seguintes razões: Em primeiro lugar, mais de 50% da amostras de secreção traqueal foram insuficientes em quantidade para análise. Isso levanta a questão da viabilidade do uso de secreção traqueal em estudos futuros. Outra limitação deste estudo foi a falta de valores de referência para os marcadores imunológicos em recém-nascidos de extremo baixo peso nos primeiros dias devida, porque os valores de referência existentes são apenas para prematuros maiores e recémnascidos a termo. Portanto, sem um valor de referência para slgA e lactoferrina, ficou difícil determinar a adequação à linearidade dos testes Em resumo, os resultados deste estudo piloto mostrou que a administração de colostro da própia mãe no orofaringe orofaríngea é fácil, barato e bem tolerado pelos recém-nascidos doentes de extremo baixo peso. Apesar das limitações, incluindo uma amostra pequena e falta de dados, as informações a partir deste estudo, particularmente em termos de recrutamento, coleta de amostra e análise pode ser útil a orientação para futuros estudos. Pesquisas futuras devem investigar as referências de normalidade para estes marcadores imunológicos em crianças com peso extremamente baixo e determinar os efeitos imunes e as implicações do desenvolvimento de bebês com peso extremamente baixo que recebam essa intervenção. De particular interesse é saber que esta intervenção é fácil, barata e pode fornecer proteção contra pneumonia pela ventilação mecânica nos bebês de extremo baixo peso na UTI Neonatal. As evidências atuais sugerem que muitos dos 130 oligossacarídeos do leite humano inibem a aderência de bactérias a superfícies mucosas. Eles podem ser especialmente importantes na proteção da área da orofaríngea e isso pode ser um mecanismo de proteção contra pneumonia em crianças dependentes do ventilador, quando o colostro da própria mãe é administrado na orofaringe. Mais pesquisas se justifiam nesta área . REFERENC IAS (EM FORMA DE LINKS!) 1. Hoekstra RE, Ferrera TB, Couser RJ, Payne NR, Connett JE. Survival and long-term neurodevelopmental outcome of extremely premature infants born at 23–26 weeks gestation age at a tertiary center. Pediatrics. 2004;(113):el–6.[PubMed] 2. Mcguire W, Clerihew L, Fowlie PW. Infection in the preterm infant. British Medical Journal. 2004;329(7477):1277–1280. [PMC free article][PubMed] 3. Strodbeck F. The role of early enteral nutrition in protecting premature infants from sepsis. Critical Care Nursing Clinics of North America. 2003;15 (1):79–87.[PubMed] 4. Fanaroff AA, Hack M, Walsh MC. The NICHD neonatal research network: changes in practice and outcomes during the first 15 years. 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Margotto Elevadas taxas de sepse tardia associadas com uso de leite humano pasteurizado pode ser explicada por alguns motivos: O processo de pasteurização afeta negativamente a qualidade do leite pela destruição parcial de imunocomponentes e perda parcial da atividade bactericida A colonização precoce do intestino pode ser afetada se bactérias não patogênicas maternas e componentes bifidogênicos são destruídos pelo calor, levando a uma microbiota intestinal mais virulenta, com aumento de risco de infecção sistêmica pela translocação bacteriana Fornecer leite da própria mãe pasteurizado ao recém-nascido de muito baixo peso durante a sua internação na UTI Neonatal é uma intervenção que não melhora os resultados relacionados à infecção. Com base nos resultados do presente estudo, PARECE APROPRIADO NÃO INCLUIR A PASTEURIZAÇÃO quando se aplicar estratégias para a redução de morbidades relacionadas a infecções a curto prazo Atenção para coleta, armazenagem e rotulagem dos procedimentos deve ser enfatizada para garantir a segurança e qualidade do leite coletado. Para os recém-nascidos pré-termos, a pasteurização do leite da própria mãe, mostra uma tendência ao aumento de infecção, embora sem alcançar significação estatística. Práticas deveriam se concentrar na coleta, estocagem e rotulação, para garantir segurança e qualidade do leite ordenhado MENSAGEM LEITE DA PRÓPRIA MÃE CRU PARA O SEU PRÉ-TERMO NA UTI NEONATAL (um trabalho diuturno de toda a Equipe!Começa ao nascer!) Leite materno e a regulação intestinal Jaques Belik (Canadá). Realizado e pulmonar no recém-nascido por Paulo R. Margotto Nesta Palestra é enfocado o papel da tetrahidrobiopterina (BH4), um cofator presente no leite humano (e AUSENTE NAS FÓRMULAS) importante para o funcionamento da enzima sintetase endotelial (e-NOS) do óxido nítrico, na geração do óxido nítrico (NO). A deficiência do BH4 leva ao não acoplamento da e-NOS e ao invés de produzir o NO, vai produzir o superóxido que vai gerar o peroxinitrato e isto leva a diminuição da vasodilatação; o peroxinitrato, leva a remodelação vascular. A falta de BH4, em estudos animais, leva á produção de hipertensão pulmonar. A nível intestinal, o BH4 exerce importante papel protetor para a enterocolite necrosante. Há um aumento da geração de óxido nítrico no leite humano a partir do primeiro dia ao 4º dia e há uma similaridade entre o pico de NO e o nível de BH4. Ao comparar a concentração de BH4 no colostro e com a fórmula, foi observado que as fórmulas usadas no Canadá não tem nenhum BH4 e o leite materno tem 500 vezes mais. Assim, a possibilidade do leite materno proteger a ECN com base no BH4 é real, pela facilitação da vasodilatação intestinal. O leite materno, além de conter BH4, contem arginina que é o substrato para geração do NO. Parece haver áreas perfusão watershed no intestino que poderia ser de risco para lesão por isquemia e reperfusão. Portanto, o padrão anatômico da vasculatura intestinal tem muito a ver com a predisposição do RN a enterocolite necrosante: a vasoconstricção e isquemia são um elementos importantes neste processo. E a pasteurização destruiria o BH4? A literatura não mostra nenhuma evidência para este fato. Pergunta enviada ao Prof. Belik ([email protected])assim me respondeu: Eu creio que a pasteurização destrói o BH4, mas seria importante confirmar isto. Há muito tempo que estou querendo obter dados a respeito aqui em Toronto, já que todo o nosso leite vindo do Banco de Leite é pasteurizado. Dra. Nara Borges (R2), Dra. Fabiana Márcia, Dr. Paulo R. Margotto, Dra. Bárbara Lalinka e Dra. Aissa (R2)