Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases O modelo cinético dos gases pode ser descrito por três hipóteses fundamentais 1 – O gás é constituído por grande número de partículas (moléculas ou átomos) de massa m em movimento aleatória incessante; 2 – O tamanho das moléculas é desprezível, no sentido de que os diâmetros moleculares são muito menores do que a distância média percorrida pelas moléculas entre duas colisões sucessivas. E na ausência de um campo de forças, estas partículas movem-se em linha reta. (A primeira lei de Newton é obedecida.) 3 – As moléculas só interagem umas com as outras quando em contato nas colisões (elásticas), de modo não muito frequente. - Uma colisão elástica é uma colisão em que a energia cinética de translação total se conserva (isto é, permanece constante). Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases Cálculo da pressão de um gás área A v1 m l - quando m atinge o lado direto da caixa, é refletida e viaja na direção oposta com velocidade -v1; - depois de um certo período de tempo ela retorna à parede da direita, a colisão se repete e assim por diante. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 2 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - se tivesse um manômetro, suficientemente sensível; p tempo para a partícula 1 atravessar a caixa e voltar p tempo para a partícula 2 atravessar a caixa e voltar Δt = 2l/v2 pressão média Δt = 2l/v1 Somente uma partícula na caixa t t duas partículas na caixa - não existe um manômetro que responde ao impacto individual (de uma única partícula). - no laboratório, um manômetro lê um valor médio estacionário da força por unidade de área exercida pelo impacto de um número enorme de moléculas. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 3 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases Cálculo do valor médio da pressão - começando com a 2ª lei de Newton F=ma=m dv d (mv ) = dt dt - a quantidade de movimento antes da colisão é: mv1 e depois é -mv1 - assim a variação da quantidade de movimento é: d(mv) ≈ Δ(mv) = (-mv1) – (mv1) = -2mv1 - então a quantidade de movimento na unidade de tempo (d(mv1)/dt), a força, é a variação da quantidade de movimento numa colisão dividido pelo tempo entre as colisões da partícula com a parede. - o tempo entre as colisões é: dt ≈ Δt = 2l/v1 - logo o número de colisões por unidade de tempo é: v1 /(2l) Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 4 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases 2 mv - assim a força que age sobre uma molécula (partícula) é: F =− 1 l - e a força na parede é: 2 m v1 F p=+ l - assim a pressão exercida por uma molécula é: mv p '= 1 Al p '= Fp A m v 12 p '= V 2 pressão exercida por uma molécula Volume da caixa Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 5 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - se mais moléculas são colocadas na caixa e cada uma movimentando-se paralelamente ao comprimento da caixa com velocidades, v1, v2, v3, v4, v5, ……, a força total, e, portanto, a pressão total p será a soma das forças exercidas por todos as moléculas. área A v2 v4 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 (v +v 2 +v 3 +v 4 +v5 +..... v N ) <v >= 1 N v1 v5 2 m(v 1 +v 2 +v 3 +v 4 + v5 +..... v N ) p= V 2 v3 média dos quadrados das velocidades l o número de moléculas na caixa m <v > p=N V 2 - assim: Volume da caixa pressão para um gás unidimensional - É preciso considerar os efeitos devidos as colisões e as várias direções no movimento. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 6 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - Considerando o efeito devido as colisões no movimento. - vamos admitir as seguintes situações: (a) caso já considerado anteriormente v1 (b) v1 v1 v1 - em (b) uma molécula colide com a outra e cada uma é refletida. - uma das moléculas nunca atinge a parede da direita e, portanto, não pode transferir sua quantidade de movimento a ela. - entretanto, a molécula choca-se com a parede da direita o dobro de vezes que no caso de trajetórias paralelas e, portanto, a quantidade de movimento transferida para a parede num intervalo de tempo não depende do fato das partículas percorrem trajetórias paralelas ou a mesma trajetória. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 7 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - Considerando o efeito devido as colisões no movimento. - portanto: a quantidade de movimento transferida pelas partículas à parede não depende da trajetória, seja ela paralela ou a mesma - em média, apenas 1/3 das moléculas se movem em uma das 3 direções. - com isto temos que N (nº total de moléculas) dever ser dividido por 3. - assim com colisões ou não a pressão exercida pelo gás será: N m <v 2 > p= 3 V - e o efeito das várias direções no movimento …... Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 8 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - Considerando o efeito das várias direções no movimento. - a única componente da velocidade que muda com a colisão é a componente normal (vz) vz vy vy -vz - vx e vy têm a mesma direção, sentido e módulo antes e depois da colisão parede da caixa - como a única coisa que acontece é a inversão do sentido da componente normal; - assim a variação na quantidade de movimento continua sendo: -2mvz m <v z 2 > - logo: p=N V média do quadrado da componente normal da velocidade Considerando somente uma direção Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 9 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - Considerando o efeito das várias direções no movimento. - é preciso considerar as três direções (os três eixos x, y e z). - temos que: v2 = vx2 + vy2 + vz2 - como as componentes da velocidade são todas diferentes e, portanto, cada termo no segundo membro da equação acima tem um valor diferente. - temos que tomar a média de velocidade de todas as moléculas: <v2> = <vx2> + <vy2> + <vz2> - não há razão para ter uma direção preferencial em relação as outras, logo: <vx2> = <vy2> = <vz2> - assim: <vz2> = (1/3)<v2> Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 10 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - Considerando o efeito das várias direções no movimento. - tendo que : <vz2> = (1/3)<v2> e definido a velocidade média quadrática (c) ou velocidade eficaz como: 2 1/2 ou c=(<v >) c= √<v 2 > - então teremos que: N mc p= 3 V 2 massa de uma molécula 1 2 - temos que a energia cinética de translação de qualquer molécula é: ε= 2 mv 1 - a energia cinética média levando em consideração todas as moléculas é: <ε>= mc2 2 - com isso temos que: 2 pV = N<ε> 3 energia cinética média por molécula Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 11 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - este modelo tem como resultado principal as seguinte equações: pV = N mc 2 3 2 pV = N<ε> 3 - estas equações se assemelham bastantes com a lei dos gases ideais. - a lei de Boyle é: p·V = constante - considerando as três hipóteses fundamentais do modelo temos que as equações: pV = N mc 2 3 2 pV = N<ε> 3 descreve o comportamento de um gás ideal. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 12 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - com isto temos o seguinte: Velocidade média quadrática ou raiz quadrada da velocidade quadrática média ou velocidade eficaz quantidade de substância eq. do gás ideal: p·V = n·R·T modelo cinético: pV = N mc 2 3 nº de Avogadro 1 nRT = Nmc 2 3 constante dos gases ( 3RT c= M 1/ 2 ) N = n·NA - lembrando que: N·m = n·M m = M/NA massa molar esta equação mostra que c α T1/2 Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 13 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases - do modelo: 2 pV = N<ε> 3 como: 2 pV = nN A<ε> 3 - e a equação do gás ideal: - lembrado que: R/NA = k constante de Boltzmann N = n·NA 3 RT <ε>= 2 NA p·V = n·R·T 3 <ε>= kT 2 energia cinética média das moléculas do gás Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 14 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases A energia interna (U) de um gás ideal - a energia interna de um amostra de gás ideal é a soma das energias cinéticas de todas as moléculas que compõe a amostra. - isto é: U =ε1 +ε2 +ε3 +ε4 ++εN - temos que: U = N·<ε> ε1 +ε2 +ε3 +ε 4 ++ε N <ε>= N energia cinética média nº de moléculas na amostra - do modelo cinético temos que: - lembrando que: 3 U =N kT 2 N = n·NA R = k·NA 3 <ε>= kT 2 Considerando somente o movimento de translação 3 U = RT 2 energia interna molar Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 15 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases A energia interna (U) de um gás ideal 3 <ε>= kT 2 U = N·<ε> 3 U =N kT 2 3 U = RT 2 - como se pode ser, com base no modelo cinético dos gases (equações acima), a energia cinética média do movimento ao acaso das moléculas do gás (aqui considerando somente movimento de translação) é proporcional a temperatura absoluta. - por esta razão, o movimento ao acaso ou caótico é muitas vezes chamado movimento térmico das moléculas. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 16 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases A natureza do gás - a equação do gás ideal não contém nada que seja característico de um dado gás. - isto implica que em uma dada temperatura específica todos os gases têm a mesma energia cinética. - assim em uma dada temperatura, T: 3 <ε A >= kT 2 3 <εB >= kT 2 - lembrando que: <εi >= 1 mci 2 2 <εA> = <εB> 1 /2 ( ) cA mB = cB mA ou a energia cinética média do gás A é igual a do gás B na temperatura T. 1/2 ( ) cA MB = cB MA - logo o gás que tem maior massa molar, na média, é mais lento. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 17 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases Exercício a) Calcule a energia interna molar e a energia cinética média das moléculas dos gases H2 e N2 à 25,0 °C. Considerando somente movimento de translação. b) Calcule a velocidade média quadrática (velocidade eficaz) para estes dois gases nesta temperatura. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 18 Cinética Química – Moléculas em movimento Modelo cinético dos gases Lei das pressões parciais de Dalton - para uma mistura de gases, a pressão total é a soma das forças por unidade de área produzidas pelos impactos de cada tipo de molécula na parede do recipiente. - assim de acordo com o modelo cinético dos gases teremos que: 2 2 2 N m c N m c N m c p= 1 1 1 + 2 2 2 + 3 3 3 + 3 V 3 V 3 V p1 - ou seja: p2 p3 A lei de Dalton, a pressão total de uma mistura de gases, que não reagem entre si, é igual soma das pressões parciais. p = p1 + p2 + p3 + ··· - a lei de Dalton é, portanto, uma consequência imediata da teoria cinética dos gases. Físico-química B1/DAQBI/UTFPR - João Batista Floriano 19