Colégio Santa Dorotéia Projeto: Família e Escola pensando juntas a educação. Serviço de Orientação Educacional - 2014 TEMPO LIVRE ... UM A BUSC A DE SENTI DO Estamos próximos de um tempo, que a grosso modo, o chamamos de tempo livre das crianças: o período das fér ias. Existe um tempo livre das crianças? E o tempo livre de adultos, com o está sendo exercido? Do ponto de vista do adult o, quanto menor é a criança, mais livr e é o seu tempo. Desde o nascimento, a cr iança tem o seu tempo regido pelo adulto, pois est á absolutamente isent a de responsabilidades e obr igações. É somente com o despont ar dos primeiros gestos de autonomia que a criança pode realizar (se o adulto permit ir) momentos e f rações de uso do tempo que sejam de sua escolha e de sua iniciat iva pessoal. Esta, se empenha na explor ação de materiais, em manipulações e construções, e parece impelida por um a necessidade intensa de compreender, exper imentar e raciocinar sobre a sua relação com as coisas que a circundam. É por isso que jamais dever iam ser menosprezados os brinq uedos das crianças (que muitas vezes o adulto chama de “ passatempo”). Na realidade, nesses momentos a criança trabalha, experimenta e ref lete. Ela ocupa seu tempo livr e muito ser iamente. À medida que a cr iança cresce, aument am as necessidades dela de movimento e de socialização, mot ivo pelo qual seu tempo livr e torna-se aquele “espaço de br incar” que implica a companhia de outras crianças, que tende sempre a exorbitar dos seus limites e que o adulto procura f acilit ar e, ao mesmo tempo, controlar. Na f ase da Educação Inf antil, a cr iança tem várias hor as de tempo programado, nem mais nem menos do que o adulto que trabalha. Muitas vezes, o pai ou a mãe lembram ao f ilho: “ Você deve ir para a escola como eu devo ir para o trabalho”... E o tempo da escola t ende a se prolongar cada vez m ais. Depois, os deveres par a ser em f eitos. O tempo livr e, consequentement e, restringe-se cada vez mais para a criança e com ele também suas possibilidades de exercitar autonom ia na organização da própria jornada. O f also tempo livre: o f inal de semana. Enquanto as crianças são bem pequenas, é f ácil par a os pais levá- las consigo para unir o út il ao agradável: f azer a compra do supermercado ou visitar parent es e am igos. No entant o chega o momento em q ue a criança não aceita mais, a não ser reclamando e f azendo cara f eia, participar destas operações de interesse só de adultos. É importante dar aos momentos de tempo livr e (um passeio, uma série de jogos entre adultos e crianças, uma troca de conf idências) o valor de um “est ar juntos” – não superf icial nem momentâneo, que tenha em si possibilidades de cr escimento comunitár io par a todos, adultos e crianças. Essas considerações sobre o tempo livr e das cr ianças podem nos f ornecer uma boa ref lexão sobre o nosso tempo livr e de adultos e até sobre o nosso modo de conceber o tempo de vida e como usá-lo. 1 Sabe-se que o modo com que o adult o concebe o tempo livre, especialmente hoje, está int imamente ligado a uma concepção de tempo t ípica das sociedades industrializadas: o t empo é concebido como um grande recipiente dentro do qual são acumuladas as atividades prioritár ias, e é considerado em t ermos de “quant idade” que deve ser dividida entre essas vár ias ocupações. Trata-se de ocupações f uncionais para o nosso sistem a social, que se ref erem a papéis bem determinados. Grande parte do tempo é, portanto, reser vada às at ividades de trabalho, enquanto o chamado “tempo livre” tor na- se um per íodo todo preenchido por ocupações, important íssimas, até mesmo as menos reconhecidas porque consideradas “improdutivas”, como cuidados com os f ilhos, trabalhos dom ésticos, apoio aos pais e/ou par entes idosos etc. A obser vação cot idiana das crianças nos põe diante dos olhos um modelo dif erente, com o qual poder íamos nos deixar ensinar. Antes de t udo, aprendemos com as crianças que o tem po não é um recipiente, mas um event o vivido, ou uma série de eventos e exper iências relacionais, uma série de escolhas que nos ajudam a crescer com os outros e no meio dos outros. Tudo isso exige, porém, algumas condições básicas que na educação têm prioridade absoluta: • o autorrespeito, responsabilizar; a conf iança nos próprios recursos, a capacidade de se • o valor do relacionamento com o outr o e com os outros, a busca da realização como companheiros numa experiência comum; • a busca de sentido por meio daquilo que não é instrumental, mas gratuito, aprendendo a sabor ear, com o gratuito, a dimensão da liberdade. Acredito que essas premissas são necessárias par a nós, adultos: de um lado, para educar as crianças a um uso do tem po que respeite o seu valor; de outro, para aprendermos, nós m esmos, a f azer também o nosso tempo “ocupado” um tempo “livre”, resgatado da f alta de sentido e sempr e à disposição do desejo de amadurecer e crescer. GAY, Rita Cialfi. Códigos do universo infantil. São Paulo: Paulinas, 2005. (Adaptação) Neste final de ano e início de “tempo livre ”, fica aí o nosso convite, que tem por objetivo, desencadear um verdadeiro tempo livre salutar. • Buscar alternat ivas de uso do tempo livr e para e com as crianças. Experiências que não “preencham ” o tempo para ligar uma obrigação à outra, mas que sejam em si mesmas relaxantes, divertidas, út eis e que façam crescer. Dezembro/2014 Maria Helena Vaz Coordenação/Orientação Educacional 2