Extrativismo e Sustentabilidade no Amapá: uma abordagem multidisciplinar Fábio de Andrade Abdala e Leonel Teixeira1 Contexto do Trabalho O presente texto é resultado do Seminário Internacional Biodiversidade, Conservação e Desenvolvimento: Gerenciamento de Recursos Comuns: Aspectos Comparativos entre Casos Brasileiros e Mexicanos, realizado em Macapá, entre 16 e 22 de junho de 2002. Organizado pelo programa LEAD, o encontro reuniu brasileiros e mexicanos com o objetivo de conhecer e discutir as experiências locais de desenvolvimento sustentável, assim como compará-las a outras iniciativas em regiões mexicanas e brasileiras. O público reunido primou pela diversificação, sendo constituído por profissionais de ambos os governos nacionais, bem como agrônomos, sociólogos, oceanógrafos, advogados, professores, jornalistas, entre outros. Portanto, aqui é apresentada uma “visão externa” e multidisciplinar sobre algumas dimensões da sustentabilidade do extrativismo florestal no Amapá e seus desafios para inserção nos níveis nacional e global. O Amapá e seu Programa de Desenvolvimento Sustentável O Amapá tem uma situação única entre todos os Estados da Amazônia. Só 1% de sua área de 140.276 km2 foi desmatada. Assim, a floresta de mata firme, que ocupa 70% do território, conserva sua biodiversidade praticamente intacta.O Estado tem também outra particularidade: localizado no extremo norte do Brasil, situa-se na fronteira dos domínios amazônico, guianense e oceânico. Isto se traduz em paisagens bem distintas como planície, campos inundáveis, mangues, cerrados e florestas densas. O Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá (PDSA), implementado pelo governo estadual, envolve estratégias políticas nas áreas sócio-ambientais, econômicas, de infra-estrutura e de uma nova governança local. Neste âmbito destacamos dois projetos, a saber: i) conservação e uso da Biodiversidade de plantas com aplicação fitoterápicas e fitocosméticas; e ii) novo modelo de gestão territorial baseado no uso sustentado de florestas e em assentamento agroextrativistas. Primeiras Impressões Em nosso trabalho procuramos refletir sobre a sustentabilidade do manejo de recursos comuns pela sociedade civil e comunidades; a relação entre participação política e bom manejo; e, por fim, a inserção da dimensão ambiental no processo de tomada de decisões de grupos sociais envolvidos no manejo. Neste sentido, cinco dimensões da relação homem-floresta devem ser destacadas da experiência amapaense, a saber: abundância e escassez de recursos; tradições e culturas locais; tensão cidade-floresta; revalorização dos produtos florestais; utopia da sustentabilidade. Os autores são Fellows do Programa LEAD Internacional. Fábio Abdala, cientista político, coordena a área de estudos no Projeto Apoio ao Monitoramento e Análise (AMA), e Leonel Teixeira, Engº Civil, atua no Subprograma Políticas de Recursos Naturais (SPRN), ambos vinculados ao Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil. 1