This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL KAY FRANCIS LEAL VIEIRA DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIOLÓGICA NO CONTEXTO ACADÊMICO JOÃO PESSOA – PB 2008 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas Letras e Artes Departamento de Psicologia Mestrado em Psicologia Social Núcleo de Pesquisa: Aspectos Psicossociais de Prevenção e Saúde Coletiva DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIOLÓGICA NO CONTEXTO ACADÊMICO Kay Francis Leal Vieira Mestranda Maria da Penha de Lima Coutinho Orientadora João Pessoa – PB 2008 2 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Universidade Federal da Paraíba Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social Núcleo de Pesquisa: Aspectos Psicossociais de Prevenção e Saúde Coletiva DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIOLÓGICA NO CONTEXTO ACADÊMICO Kay Francis Leal Vieira Dissertação de mestrado, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia Social. João Pessoa 2008 3 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Universidade Federal da Paraíba Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social Núcleo de Pesquisa: Aspectos Psicossociais de Prevenção e Saúde Coletiva DEPRESSÃO E SUICÍDIO: UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIOLÓGICA NO CONTEXTO ACADÊMICO Kay Francis Leal Vieira Dissertação aprovada em 25 de fevereiro de 2008. BANCA AVALIADORA ____________________________________________________ Profª Dra. Maria da Penha de Lima Coutinho (UFPB) Orientadora ____________________________________________________ Profº. Dr. Valdiney Veloso Gouveia (UFPB) Membro ____________________________________________________ Profª Dra. Natália Ramos (Universidade Aberta de Lisboa) Membro 4 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Aos meus filhos, Pedro e Júlia, que abriram mão de momentos especiais; que sentiram minha ausência e sofreram por ela, ora por saudade ora por impaciência; à vocês que vêem com alívio e felicidade este fim de etapa, meu reconhecimento pelo sacrifício, pois souberam amar o suficiente para suportar as dificuldades da caminhada para podermos juntos compartilhar a alegria da vitória. 5 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. AGRADECIMENTOS À Deus, fonte de inspiração e sabedoria, pelas oportunidades e pela força interior necessária para seguir adiante; Ao meu esposo Jairo, por todo o amor, companheirismo e compreensão nos momentos de ausência e estresse, e por sempre acreditar em mim; Aos meus filhos, Pedro e Júlia, pelo que eles são e pelo que eles transformaram a minha vida; Aos meus pais, primeiras referências do saber e do gosto pelos estudos, em especial à minha mãe e amiga, Kay, pela ajuda, demonstrando na prática que ser avó é ser mãe duas vezes; Ao meu irmão David, pela amizade e companheirismo; Às minhas avós, Leó e Lindalva, pela grandiosa sabedoria transmitida em meio a tanta simplicidade; À minha cunhada Silvia, pelo suporte e ajuda necessários nessa caminhada; À minha irmã Elayne, que mesmo à distância sempre representou uma fonte de incentivo, força e credibilidade; À professora Dra.Maria da Penha de Lima Coutinho, de quem levo ensinamentos tanto na vida profissional quanto pessoal, pela brilhante orientação e pela confiança em mim depositada; Ao professor Dr. Valdiney, por toda ajuda e contribuições nesse trabalho e por me mostrar que “as aparências enganam”; À professora Natália, pela gentileza e disponibilidade em fazer parte da banca avaliadora; Ao professor Natanael, pela acessibilidade e gentileza com que trata as pessoas que o cercam; À professora Ana Alayde, por toda colaboração e conhecimentos transmitidos em meio a tanta doçura; Aos meus colegas do Núcleo de Pesquisa, com especial gratidão à Evelyn, pela amizade, disponibilidade e carinho, e à minha amiga Alexandra, com a qual sempre pude contar durante essa caminhada; Às minhas colegas de Mestrado, pelas experiências e conhecimentos compartilhados, em particular à Camila, minha amiga de tantos anos, pelos momentos vividos e pelo carinho demonstrado; Aos estudantes de Psicologia, pela participação na coleta de dados e pela demonstração de confiança neste estudo; À CAPES, pelo apoio financeiro, fundamental para a realização desta pesquisa. 6 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A idéia do suicídio é uma grande consolação: ajuda a suportar muitas noites más. (Friedrich Nietzsche) 7 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. RESUMO Na atualidade os fenômenos da depressão e do suicídio encontram-se cada vez mais presentes em todos os espaços sociais.Embora nenhum acontecimento ou conjunto de circunstâncias possam prever o suicídio, existem certas vulnerabilidades que tornam um indivíduo mais propenso a cometer esse ato do que outros. Dentre essas vulnerabilidades há um grande destaque para as doenças mentais, sendo a mais comum, a depressão, responsável por 30% dos casos mundialmente relatados. Esta pesquisa objetivou apreender as representações sociais dos estudantes de Psicologia acerca da depressão e do suicídio, bem como investigar o índice epidemiológico destes fenômenos no contexto acadêmico. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do CCS/UFPB e compreendeu uma pesquisa descritiva, com procedimentos multimétodos. Participaram do estudo 233 alunos, de ambos os sexos, matriculados no curso de Psicologia de uma universidade pública. Na coleta dos dados utilizou-se a técnica da Associação Livre de Palavras, o Inventário de Depressão de Beck (BDI), a Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), o questionário sócio-demográfico e Entrevistas em Profundidade. A Associação Livre foi utilizada com três estímulos indutores: depressão, suicídio e eu – mesmo e seus dados foram processados pelos softwares Tri-DeuxMots, e Evoc. Para a análise do BDI e da BSI foi utilizado o programa estatístico SPSS. Os conteúdos apreendidos pelas Entrevistas em profundidade foram submetidos à Análise de Conteúdo Temático.O BDI avaliou um índice de 10,73% de estudantes com a sintomatologia depressiva.Constatou-se mediante análise da BSI, a presença da ideação suicida em 11% da amostra. Os dados analisados com a utilização dos softwares anteriormente citados demonstraram similaridades em suas descrições, atuando como complementares na compreensão das representações sociais da depressão e do suicídio. Mediante a análise de conteúdo temático das entrevistas, observou-se que os fenômenos pesquisados encontravamse bastante presentes no cotidiano dos participantes, uma vez que estes demonstraram suas representações enfatizando fatos ocorridos em suas relações interpessoais. Através da análise dos dados pôde-se observar que a depressão foi representada semelhante a descrição clínica categorizada nos distúrbios psicoafetivos. O suicídio emerge como uma fuga frente às adversidades advindas do meio ambiente somada a fragilidade da subjetividade dos jovens acadêmicos. A autoimagem dos estudantes, de uma forma geral, emerge de forma positiva, coincidindo com o que se espera dos acadêmicos de psicologia. As auto-representações assumem contorno diferenciado em relação ao tempo de vínculo ao curso de psicologia, ora ancorado em manifestações referentes à proximidade do enfrentamento da realidade profissional, ora concentrando-se em manifestações sóciocognitivas. O índice epidemiológico da depressão, assim como a presença da ideação suicida entre os jovens acadêmicos demonstra a necessidade de uma maior atenção a essa população, no sentido de promover diferenciados serviços de apoio psicológico na formação desses futuros profissionais. Palavras-chave: Depressão; Suicídio; Estudantes de psicologia; Representação Social. 8 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ABSTRACT At our present time the depression and suicide phenomenon have become ever more present in all social levels. Although no event or set of circumstances can foresee suicide, certain vulnerabilities exist that makes an individual more inclined to commit this act than others. Amongst these vulnerabilities, mental illness is the most prominent, of which depression is responsible for 30% of the cases world-wide. To instrumentalize this inquiry, a psychosocial method was used, anchored to the Theory of the Social Representations of Moscovici and in the Theory of the Central Nucleus of Abric. This research objectified in understanding the social representations of Psychology students concerning depression and suicide, as well as investigating the epidemiologic index of these phenomena in the academic context. This study was approved by the Ethics Committee of CCS/UFPB and undertook a descriptive research with multi-method procedures. The study comprised of 233 students of both genders and registered the Psychology course of a public university. In the collection of the data, the Free Association of Words technique, the Inventory of Depression of Beck (BDI), Suicidal Idealization Scale of Beck (BSI), a social-demographic questionnaire and an in depth interview were all used. The Free Association was used with three inductive stimuli: depression, suicide and I-myself and the data were processed by the Tri-Deux-Mots and Evoc software. For the analysis of the BDI and the BSI the SPSS statistical program was used. The contents learned from the in depth interviews were submitted to the Analysis of the Thematic Content. The BDI evaluated that 10.73% of the students has depressive symptomology. BSI analysis also evidenced the presence of the suicidal idealization in 11% of the sample. The data analyzed with the use of software previously cited demonstrated similarities in its descriptions, acting as complementary in the understanding of the social representations of depression and suicide. By means of the analysis of thematic content of the interviews, it was noted that the researched phenomena was quite present in the daily life of the participants. Where they show that their representations emphasize facts occurred in their interpersonal relationships. The analysis of the data showed that depression was represented similar to the clinical description categorized in the psycho-affective disturbances. Suicide emerges as an escape front to the adversities of the environment added to the fragility of the subjectivity of the young academics. The auto-image of the students, in general, emerges as positive one, coinciding with what is expected of psychology students. The auto-representations assume differentiated contours in relation to the time of bond to the psychology course, however anchored in referring manifestations to the proximity of the confrontation of the professional reality and concentrating in social-cognitive manifestations. The epidemiologist index of depression, as well as the presence of the suicidal idealization among the young academics, demonstrates the necessity of an increased attention to this population on the part of the of superior education institutions. So to promote specific services of psychological support in the formation of these future professional. Word-key: Depression; Suicide; Psychology Students; Social representation. 9 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. SUMÁRIO LISTA DE TABELAS................................ ................................ ................................ .....xi LISTA DE FIGURAS ................................ ................................ ................................ ...xiii APRESENTAÇÃO ................................ ................................ ................................ ........ 15 CAPÍTULO I 1. DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA ................................ ................................ ............. 20 1.1 Objetivo ................................ ................................ ................................ ................ 24 1.1.1 Objetivos geral ................................ ................................ ............................... 24 1.1.2 Objetivos específicos ................................ ................................ ..................... 24 CAPÍTULO II 2. DEPRESSÃO ................................ ................................ ................................ .............. 26 2.1 Desenvolvimento Sócio-histórico da Depressão................................ ...................... 26 2.2 Diagnóstico e Classificação da Depressão ................................ .............................. 28 2.3 Etiologia................................ ................................ ................................ ................. 31 2.4 Teorias Explicativas ................................ ................................ ............................... 32 2.4.1 Explicações Psicodinâmicas................................ ................................ .......... 32 2.4.2 Explicações da Aprendizagem ................................ ................................ ...... 33 2.4.3 Explicações Cognitivas................................ ................................ ................. 34 2.4.4 Explicações Fisiológicas................................ ................................ ............... 34 2.4.5 Explicações Humanístico-Existenciais ................................ .......................... 35 2.5 Tratamento da Depressão ................................ ................................ ...................... 35 CAPÍTULO III 3.SUICÍDIO................................ ................................ ................................ ..................... 38 3.1 Concepção Sócio-histórica do Suicídio................................ ................................ ....38 3.2 Definições do Suicídio ................................ ................................ ............................ 40 3.3 Teorias Explicativas do Suicídio................................ ................................ .............. 41 3.3.1 Teorias Psicológicas ................................ ................................ ....................... 42 3.3.2 A Teoria Psiquiátrica ................................ ................................ ...................... 44 3.3.3 As Teorias Sociológicas................................ ................................ .................. 45 3.4 Epidemiologia ................................ ................................ ................................ ......... 46 3.5 Tipos de Suicídio................................ ................................ ................................ ..... 48 3.6 Fatores de Risco e fatores de Prevenção ................................ ................................ ..50 3.7 Estratégias Nacionais de Prevenção do Suicídio ................................ ...................... 54 3.8 Depressão e Suicídio ................................ ................................ ............................... 56 10 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO IV 4. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS................................ ....................... 63 4.1 Uma abordagem dimensional ................................ ................................ ................. 64 4.2 Uma abordagem estrutural................................ ................................ ..................... 67 4.3 As representações sociais da depressão e do suicídio ................................ .............. 70 CAPÍTULO V 5. MÉTODO ................................ ................................ ................................ .................... 75 5.1 Tipo de Estudo ................................ ................................ ................................ ....... 75 5.2 Locus do Estudo................................ ................................ ................................ ..... 75 5.3 Amostra ................................ ................................ ................................ ................. 76 5.4 Instrumentos................................ ................................ ................................ ........... 76 5.4.1 Técnica de Associação Livre de Palavras................................ ....................... 76 5.4.2 Escala de Ideação Suicida de Beck – BSI................................ ....................... 77 5.4.3 Inventário de Depressão de Beck - BDI ................................ ........................ 78 5.4.4 Entrevistas em Profundidade................................ ................................ .......... 78 5.5 Aspectos Éticos ................................ ................................ ................................ ...... 79 5.6 Procedimento para coleta dos dados ................................ ................................ ....... 79 5.7 Análise dos Dados................................ ................................ ................................ ..80 5.7.1 Análise da Técnica de Associação Livre de Palavras................................ ...... 80 5.7.2 Análise do Inventário de Depressão de Beck-BDI................................ .......... 83 5.7.3 Análise da Escala de Ideação Suicida de Beck – BSI ................................ ..... 83 5.7.4 Análise das Entrevistas ................................ ................................ ................. 84 CAPÍTULO VI 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO................................ ................................ .................. 86 6.1 Perfil dos participantes ................................ ................................ ............................... 86 6.2 Resultados e discussão dos dados apreendidos pela TALP................................ .......... 87 6.2.1. Análise e discussão dos dados obtidos pelo software Tri-Deux-Mots...................... 87 6.2.2 Análise e discussão dos dados obtidos pelo software EVOC................................ ....90 6.3 Resultados e discussão dos dados apreendidos pelo BDI ................................ ............ 96 6.4 Resultados e discussão dos dados apreendidos pela BSI ................................ ........... 100 6.5 Resultados e discussão dos dados apreendidos pelas Entrevistas............................... 106 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................ ................................ ......................... 139 REFERÊNCIAS ................................ ................................ ................................ ............ 146 ANEXOS ................................ ................................ ................................ ...................... 152 ANEXO A – Autorização do Comitê de Ética do CCS/UFPB ................................ ........ 152 ANEXO B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido................................ ............ 153 ANEXO C – Inventário de Depressão de Beck - BDI................................ ..................... 154 ANEXO D – Escala de Ideação Suicida de Beck - BSI................................ ................... 157 11 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. LISTA DE TABELAS Tabela 1 –Perfil sócio-demográfico dos estudantes do curso de Psicologia (N=233)........ 86 Tabela 2 – Freqüência de maiores escores do Inventário de Depressão de Beck – BDI (N=25) ................................ ................................ ................................ ................................ ........ 98 Tabela 3 – Perfil dos estudantes com depressão segundo o Inventário de Depressão de Beck – BDI (N=25) ................................ ................................ ................................ ..................... 99 Tabela 4 – Perfil dos estudantes com Ideação Suicida segundo a Escala de Ideação Suicida de Beck – BSI (N=27) ................................ ................................ ................................ ........ 101 Tabela 5 – Freqüência de ideação suicida conjuntamente com a depressão (N=27)........ 103 Tabela 6 – Classes, Categorias e Subcategorias emergentes da Análise de Conteúdo Temático, com suas respectivas freqüências e percentagens. ................................ .......... 107 12 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. LISTA DE FIGURAS Figura 1 –Análise Fatorial de Correspondência das Representações Sociais da Depressão e do Suicídio................................. ................................ ................................ ................................ . 88 Figura 2 – Quadrante de distribuição das evocações livres dos estudantes de Psicologia no Teste de Associação Livre de Palavras para o estímulo-indutor “depressão” (N=233). ........... 91 Figura 3 – Quadrante de distribuição das evocações livres dos estudantes de Psicologia no Teste de Associação Livre de Palavras para o estímulo-indutor “suicídio” (N=233) ............... 93 Figura 4 – Percentagens de participantes com sintomatologia da depressão (N=233)............ 96 Figura 5 – Freqüência de escores no Inventário de Depressão de Beck – BDI(N=233) ......... 97 Figura 6 – Percentagem de participantes com ideação suicida.(N=233) .............................. 100 Figura 7 – Percentagem de estudantes que conhecem entre seus colegas universitários alguém que já tenha pensado / tentado ou consumado o ato suicida. ................................ ................. 102 Figura 8 – Presença de ideação suicida em indivíduos com histórico de tentativas prévias de suicídio. ................................ ................................ ................................ ............................... 106 Figura 9 – Percentagens das Classes Temáticas das Entrevistas................................ ......... 108 Figura 10 – Percentagem das Categorias pertencentes à Classe Temática DEPRESSÃO. ... 109 Figura 11 –Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Descrição da DEPRESSÂO ................................ ................................ ................................ ..................... 110 Figura 12 – Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Manifestações da DEPRESSÂO. ................................ ................................ ................................ ..................... 113 Figura 13 –Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Fatores desencadeantes da DEPRESSÃO................................ ................................ ................................ .................. 115 Figura 14 – Percentagens das Subcategorias pertencentes à Categoria Tratamento da DEPRESSÂO. ................................ ................................ ................................ ..................... 116 Figura 15 - Percentagens das Categorias pertencentes à Classe Temática SUICÍDIO......... 119 Figura 16 - Percentagens das subcategorias pertencentes à Categoria Descrição do SUICÍDIO ................................ ................................ ................................ ........................... 120 13 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Figura 17 - Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Personalidade Suicida.123 Figura 18 - Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Tipos de Suicídio....... 126 Figura 19 - Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Fatores contribuintes do SUICÍDIO ................................ ................................ ................................ ........................... 128 Figura 20 - Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Métodos do SUICÍDIO.133 Figura 21 - Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Correlação DEPRESSÃO/SUICÍDIO. ................................ ................................ ................................ ... 135 14 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 1. APRESENTAÇÃO: Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a partir da década de 1990, a depressão vem ocupando uma posição de destaque, no rol dos problemas de saúde coletiva; sendo considerada a quarta de todas as doenças mais onerosas, em todo o mundo. Desde o seu surgimento vem sendo conceituada e classificada de modo diferente, adotando parâmetros, autores e escolas distintas, suscitando controvérsias com relação ao termo. No senso comum, o termo designa alterações psicológicas simples e perturbações psiquiátricas graves, a flutuações de humor ou de caráter. Pode designar tanto um estado afetivo normal quanto um sintoma, uma síndrome, uma doença ou várias doenças (Coutinho, 2005). De acordo com Paim (1983), nos estados depressivos, as funções psíquicas encontramse perturbadas em seu conjunto. Os sintomas mais destacados são: a tristeza vital, a angústia e a inibição da psicomotricidade. Entretanto, afirma o autor, ao lado desses sintomas axiais, os enfermos deprimidos se queixam de um sentimento de impotência psíquica, que os impede de realizar as suas tarefas habituais, diminuição da capacidade de concentração e enfraquecimento da vontade. A memória se encontra comprometida em suas capacidades de fixação e de evocação. Na maioria dos casos, os pacientes revelam redução da atividade voluntária: permanecem quase sempre sentados ou deitados, numa atitude de inércia, com a fisionomia triste, abatida e contraída; revelando uma expressão de profundo sofrimento. Nos casos mais acentuados, a expressão fisionômica reflete tristeza, inquietação e grande ansiedade. A depressão emerge como resultante de uma inibição global da pessoa que afeta a função da mente, altera a maneira como a pessoa vê o mundo, sente a realidade, entende as coisas e manifesta suas emoções. Deste modo, segundo Camon (2001), é considerada uma 15 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. doença do organismo como um todo, que compromete o ser humano na sua totalidade, sem separação entre o psíquico, o social e o físico. Assim como a depressão, o suicídio vem sendo considerado um grave problema de Saúde Pública, uma vez que representa uma questão que se agrava a cada dia, traduzindo-se em índices extremamente significativos. Dados da OMS (2000), mostram que a taxa mundial de suicídio é estimada em torno de 16 por 100 mil habitantes, com variações conforme sexo, idade e país. Estima-se que as tentativas de suicídio sejam 20 vezes mais freqüentes que os suicídios consumados. Conforme Prieto e Tavares (2005), observou-se um aumento de 60% nos índices de suicídio nas ultimas décadas, considerando-se os dados do mundo inteiro. A morte por suicídio passou a ocupar a terceira posição entre as causas mais freqüentes de falecimento na população entre 15 e 44 anos de idade em alguns paises. Atualmente, segundo a OMS, os jovens representam o grupo de maior risco em 30 paises. A taxa oficial de mortalidade por suicídio, no Brasil, é estimada em 4,1 por 100 mil habitantes, para a população como um todo; estando, para o sexo masculino, em torno de 6,6 por 100 mil e para o sexo feminino, em 1,8 por 100 mil. Tanto o suicídio como a depressão, é uma realidade que nos cerca, mas que possui um caráter mascarado, visto que seus dados não são totalmente confiáveis, devido a preconceitos e tabus relacionados a essa temática. Para Cassorla (1998), as estatísticas sobre os atos suicidas são falhas e subestimadas, e isso se deve a vários fatores, que incluem desde dificuldades de conceituação até aspectos sócio-culturais. De acordo com Silva e Boemer (2006), o ato suicida tem como característica ser clandestino, ou seja, sem testemunhos, dissimulado, ocorrendo como se estivesse transgredindo regras expressas por nossa sociedade capitalista, na qual a morte é banida, não enfrentada e evitada. 16 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Neste estudo, suicídio é entendido como o ato de pôr um fim à própria vida, a exemplo do que preconiza Durkheim (2003), que define esse fenômeno como “todo o caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo praticado pela própria vítima, ato que a vítima sabia dever produzir esse resultado” (p.15). Apesar da inexistência de estudos comprobatórios sobre a relação entre o transtorno depressivo e a ideação suicida, sabe-se que dentre os fatores psiquiátricos associados ao suicídio, em primeiro lugar está à depressão, alteração afetiva predominante no ato suicida, desde sua ideação, intenção, até o suicídio de fato (Ballone, 2003). Para o desenvolvimento do presente estudo utilizou-se o aporte teórico/metodológico da Teoria das Representações Sociais (TRS), desenvolvida pelo francês Serge Moscovici, partindo-se do pressuposto de que o grupo pesquisado, no caso os estudantes de Psicologia, têm um conhecimento socialmente construído que os permite elaborar um conhecimento prático acerca da depressão e do suicídio. Estudar essas temáticas na perspectiva das Representações Sociais significa analisá-las não apenas através dos aportes teóricos, normativos e científicos, mas com vista a um novo olhar, voltado para a construção de um conhecimento prático e compartilhado por um determinado grupo de pertença. Sendo assim, será possível perceber como essas representações emergem, os significados e as relações que estabelecem entre si, e em que medida uma determina a outra (Coutinho, 2005). Este estudo desenvolve-se em seis capítulos. O primeiro refere-se à Delimitação do Problema, cuja finalidade é de contextualizar as temáticas introdutórias, justificando assim, a relevância e o alcance da presente pesquisa, bem como apresentar os seus objetivos. O segundo e o terceiro capítulos dizem respeito à Fundamentação Teórica, sendo que aquele apresenta a temática da depressão, enquanto este aborda o comportamento suicida e a relação existente entre estes dois fenômenos. 17 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. No quarto capítulo é apresentado o aporte teórico que fundamenta a presente pesquisa, a Teoria das Representações Sociais, enfatizando a abordagem dimensional e estrutural existentes. No quinto capítulo é descrito o Percurso Metodológico, no qual se encontra delineado todo procedimento que envolve a amostra, o campo de investigação, os instrumentos utilizados e as etapas do processo de análise. O sexto capítulo apresenta os Resultados e Discussão dos Dados, bem como as Considerações Finais. 18 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO I DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA 19 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO I Delimitação do Problema A depressão, na sociedade contemporânea, vem se apresentando de forma bastante significativa, configurando índices bastante elevados. Esse transtorno ocasiona um sofrimento psíquico que interfere, significativamente, na diminuição da qualidade de vida, na produtividade e incapacitação social do indivíduo, atingindo desde crianças até pessoas idosas, rompendo barreiras de idade, classe sócio-econômica, cultura, raça e espaço geográfico (Coutinho et al, 2003). De acordo com a Organização M undial de Saúde (OMS), a depressão ocupa uma posição de destaque no rol dos problemas de Saúde Pública, possuindo uma prevalência de 17% em toda a vida. Segundo Versiani (2004), embora possa ocorrer em episódios – de longa duração – ou apenas uma vez na vida de uma pessoa; a depressão é considerada uma doença crônica, mais incapacitante que males como diabetes ou insuficiência cardíaca. O Ministério da Saúde afirma que a depressão acomete, ao longo da vida, entre 10% e 25% das mulheres e entre 5% e 12% dos homens (Brasil, 2006). Assim como a depressão, o comportamento suicida vem sendo considerado um sério problema de Saúde Pública, despertando interesse de pesquisadores no campo das mais diferentes ciências. Fenômeno complexo, o suicídio configura um assassinato, onde vítima e agressor são a mesma pessoa. Dutra (2002), define-o como o desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Conforme Botega (2007), em termos globais, a mortalidade por suicídio aumentou 60% nos últimos 45 anos. Nesse período, os maiores coeficientes de suicídio mudaram de faixa, da população idosa para a jovem. 20 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Entretanto, sabe-se que as estatísticas sobre os atos suicidas são falhas e subestimadas, pois o número de suicídios que consta nas estatísticas oficiais é extraído das causas de morte assinaladas nos atestados de óbito. Porém, esses atestados nem sempre são confiáveis, uma vez que a família e a própria sociedade comumente pressionam para que a causa seja falsificada. De acordo com Cassorla (1998), certamente, a subestimação estatística é mais intensa quando se trata de crianças e adolescentes, em que os atos autodestrutivos são negados ou até escondidos pela família, diante de maiores sentimentos de culpa e/ou vergonha pelo ato. Além disso, como destaca Cassorla (1992), uma grande proporção de suicídios é confundida com acidentes, principalmente, quando se trata de crianças e adolescentes. Outro fator complicador, nas estatísticas, é que não existem meios de verificar os suicídios inconscientes, dentre eles os acidentes e as doenças. Diferentemente de outros sintomas, como por exemplo, a ansiedade, poucos estudos objetivam relacionar a ocorrência do suicídio e da depressão. Entretanto, sabe-se que, freqüentemente, existem pensamentos sobre a morte, nos quadros depressivos. Trata-se não apenas da ideação suicida típica, mas, sobretudo, da preferência em estar morto a viver “desse jeito” (Ballone, 2005). Os estudantes universitários, sempre foram considerados colaboradores da ciência, participando de várias pesquisas, nas mais diferentes áreas, tanto como participantes, opinando acerca dos mais variados objetos sociais, quanto alvo, ele próprio, de investigação. Recentemente, porém, os universitários têm despertado outro tipo de interesse nos pesquisadores, no que diz respeito à saúde e à qualidade de vida dessa população. Uma pesquisa realizada pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), por meio do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Assuntos Comunitários e Estudantis (Fonaprace), revelou que 39% dos estudantes das 21 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. instituições federais de ensino superior (Ifes) passam por alguma dificuldade emocional. Segundo o diagnóstico, realizado pelo psicólogo Marcelo Tavares, professor da Universidade de Brasília (UnB), dos 39% de alunos com crises psicológicas, pelo menos 5,5% faz uso de medicação psiquiátrica e 24% já procuraram ajuda psicológica. Além disso, estima-se que entre 10 a 20% dos estudantes das universidades federais estejam em processo agudo de crise, que requer apoio psicológico imediato. De acordo com Figueiredo e Oliveira (1995), o estudante, ao ingressar na universidade, passa por situações de crise acidentais, uma vez que sai do seu ambiente familiar e se depara com um mundo desconhecido, podendo viver vários conflitos. Isto, afirmam as autoras, gera um desequilíbrio emocional, decorrente da insegurança surgida nessas novas relações. A não superação dessa crise, decorrente da não-adaptação às novas vivências ou ao novo ambiente, poderá se constituir para o aluno em um fator causador de estresse, gerando problemas orgânicos, dificuldades de relacionamento, baixa produtividade escolar, angústias, estados de depressão e, em situações mais acentuadas, ocorrer perda do interesse pela vida, que o leva ao suicídio. O ingresso no ensino superior, conforme preconiza Almeida (2005), marca o início da transição para o mundo do trabalho, assim como a autonomia própria do jovem adulto. Este processo tem lugar numa fase importante do desenvolvimento psicossocial do estudante, uma vez que as suas preocupações e problemáticas são muitas vezes um espelho de dificuldades na resolução de tarefas normativas de desenvolvimento, características da transição da adolescência para a fase adulta. Conforme Cardoso et al (2004), o jovem adulto tem um grande desafio na construção final da sua personalidade, e é com a entrada no ensino superior que essa construção atinge o ponto crucial. Nessa fase da vida, destacam os autores, é atribuído um novo papel ao jovem, que envolve ao mesmo tempo poder e responsabilidade, exigindo do estudante grande nível 22 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. de maturidade para poder responder aos desafios que lhes são postos a nível acadêmico sem se desviar de seus objetivos pessoais. Os profissionais da saúde, dentre eles o da Psicologia, durante o curso de graduação, são preparados para cuidar, proporcionar bem-estar, salvar vidas. Palavras como depressão e suicídio, quando mencionadas, apenas é correlacionado ao aspecto clínico do tratamento. A temática é tratada de forma técnica, sem que os sentimentos a ela relacionados sejam abordados, mesmo quando esses fenômenos se tornam realidade (Igue, Rolim e Stefanelli, 2002). No que diz respeito à formação do profissional de saúde, em especial a do psicólogo, Dutra (2000) afirma que nem sempre os estudantes recebem uma formação adequada para se trabalhar com a morte, principalmente com as condutas autodestrutivas, demonstrando inabilidades para lidar com pacientes suicidas. Dessa maneira, percebe-se a necessidade de se conhecer as representações que os universitários do curso de Psicologia possuem acerca de temas como a depressão e o suicídio. Foi utilizado para tanto, a abordagem da Teoria das Representações Sociais (TRS), partindose do pressuposto de que esse grupo possui um conhecimento socialmente partilhado acerca das citadas temáticas, que os permite elaborarem um conhecimento prático em relação a elas. Segundo Moscovici (1978), a Teoria das Representações Sociais implica em compreender a realidade e sua interação com os outros. A presente pesquisa, relevante para o campo da Psicologia Social e para as ações que atendam aos problemas associados à qualidade de vida, no contexto universitário; pretende desenvolver os seguintes objetivos: 23 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. OBJETIVO GERAL: Apreender as representações sociais dos estudantes, do Curso de Psicologia de uma universidade pública, acerca da depressão e do suicídio. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Analisar as representações sociais acerca da depressão e do suicídio sob o ponto de vista dos estudantes do Curso de Psicologia da citada universidade; Identificar o índice de depressão nos estudantes de Psicologia da citada instituição); Traçar um perfil sócio - demográfico dos universitários de Psicologia de uma instituição pública. Identificar a presença de ideação suicida entre os estudantes de Psicologia; Comparar as representações sociais dos universitários entre os diferentes períodos por eles cursados; Identificar os diferentes campos semânticos acerca da depressão e do suicídio elaborados pelos participantes.. 24 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO II FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – DEPRESSÃO 25 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO II DEPRESSÃO 2.1 DESENVOLVIMENTO SÓCIO-HISTÓRICO DA DEPRESSÃO: A Bíblia é uma fonte, que inaugura uma história, arbitrária e não-científica da depressão: a história de Saul, descrita no I livro de Samuel. Conta a Bíblia que aquele, ao ser nomeado rei por seu pai, tomou decisões incorretas e precipitadas. Por esse motivo, foi punido por Deus e por seu progenitor, sendo substituído no trono. Revoltado, voltou às costas para o criador do universo e desde então, passou a ser afligido por demônios através de uma dor imensa e uma tristeza profunda (Coutinho e Saldanha, 2005). A mitologia grega, por sua vez, também relata histórias de pessoas cujo sofrimento é associado a “males da alma”. Um bom exemplo, entre tantos casos mitológicos, refere-se à descrição feita por Homero na Ilíada acerca do sofrimento depressivo de Ájax. De acordo com Solomon (2002), a história da depressão no Ocidente está, estreitamente, ligada à história do pensamento ocidental e pode ser dividida em cinco estágios principais, conforme se observa na descrição a seguir. A visão da depressão, no mundo antigo, era, surpreendentemente, semelhante à nossa. Hipócrates declarava ser a depressão uma doença, essencialmente, cerebral que deveria ser tratada com remédios orais; e a questão primordial entre os médicos que o seguiam, era sobre a natureza humoral do cérebro e a formulação correta desses remédios orais. Na Idade Média, a depressão era vista como a manifestação do desfavor de Deus, uma indicação de que o sofredor estava excluído do bem-aventurado conhecimento da salvação divina. Foi nessa época que a doença foi estigmatizada; em episódios extremos, os que sofriam dele eram tratados como infiéis. 26 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. O Renascimento romantizou a depressão e nos trouxe o gênio melancólico, nascido sob o signo de Saturno, cuja apatia significava insight e cuja fragilidade era o preço pago pela visão artística e a complexidade da alma. Os séculos XVII a XIX compuseram a era da ciência, quando experimentos buscavam determinar a composição e a função do cérebro, e elaborar estratégias biológicas e sociais para refrear as mentes que saiam do controle. A era moderna começou, no início do século XX, com Sigmund Freud e Karl Abraham; cujas idéias psicanalíticas da mente e do eu nos deram boa parte do vocabulário, ainda em uso, para descrever a depressão e suas origens; e com as publicações de Emil Kraepelin, que propôs uma moderna biologia da doença mental como uma aflição que pode ser separada de uma mente normal ou superimposta a ela. A palavra depressão origina-se do latim e é composta de duas outras palavras: de (baixar) “premère” e (pressionar), isto é, “deprimère” que, literalmente, significa “pressionar para baixo”. (Coutinho e Saldanha, 2005). O termo depressão foi, inicialmente, usado em inglês para descrever o desânimo em 1660, e que entrou para o uso comum em meados do século XIX Solomon (2002). Segundo Ballone (2005), o termo depressão pode significar: um sintoma que faz parte de inúmeros distúrbios emocionais, sem ser exclusivo de nenhum deles; como também uma síndrome traduzida por muitos, e variáveis sintomas somáticos; ou ainda, uma doença caracterizada por marcantes alterações afetivas. Do ponto de vista psicopatológico, os quadros depressivos têm como elemento central a tristeza. Entretanto, eles caracterizam-se por uma multiplicidade de sintomas afetivos; instintivos e neurovegetativos; ideativos e cognitivos; relativos à autovaloração; volição e à psicomotricidade. Também podem estar presentes sintomas psicóticos e fenômenos biológicos (marcadores biológicos) associados (Dalgalarrondo, 2000). 27 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. No cotidiano, a palavra depressão é utilizada de forma genérica, abrangendo um grande número de doenças, principalmente, aquelas ditas mentais; distorcida do seu significado real. No senso comum, designa desde alterações psicológicas e perturbações psiquiátricas graves a flutuações de humor ou de caráter (Coutinho, 2005). 2.2 DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO DA DEPRESSÃO: Segundo o DSM - IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – 4ª edição) os seguintes critérios são utilizados para o diagnóstico da depressão: Estado deprimido: sentir-se deprimido a maior parte do tempo; Anedonia: interesse diminuído ou perda de prazer para realizar as atividades de rotina; Sensação de inutilidade ou culpa excessiva; Dificuldade de concentração: habilidade freqüentemente diminuída para pensar e concentrar-se; Fadiga ou perda de energia; Distúrbios do sono: insônia ou hipersonia, praticamente, diárias; Problemas psicomotores: agitação ou retardo psicomotor; Perda ou ganho significativo de peso, na ausência de regime alimentar; Idéias recorrentes de morte ou suicídio. De acordo com o número de itens respondidos, afirmativamente, o estado depressivo pode ser classificado em três grupos: 1) Depressão menor: 2 a 4 sintomas por duas ou mais semanas, incluindo estado deprimido ou anedonia; 28 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 2) Distimia: 3 ou 4 sintomas, incluindo estado deprimido, durante dois anos, no mínimo; 3) Depressão maior: 5 ou mais sintomas por duas semanas ou mais, incluindo estado deprimido ou anedonia. Já a Classificação Internacional de Doenças – CID 10 descreve a depressão sob os seguintes critérios: 1- Humor depressivo; 2- Perda do interesse (pelas atividades habitualmente agradáveis); 3- Diminuição da energia (ou aumento da fadigabilidade); 4- Perda da confiança ou da auto-estima; 5- Sentimentos inapropriados de culpa ou de recriminação; 6- Ideação ou comportamento suicida; 7- Problemas de concentração; 8- Atraso ou agitação psicomotora; 9- Perturbações do sono de qualquer tipo; 10- Aumento ou diminuição do apetite. Coutinho e Saldanha (2005) alertam para o fato de que devem estar presentes pelo menos dois dos três primeiros sintomas. A presença de quatro sintomas indica um episódio ligeiro; de seis, episódio de gravidade moderada; de oito, episódio grave. O episódio depressivo pode ser classificado, na prática, quanto à sua gravidade, etiologia ou sintomatologia. Sendo assim, classificando-se a depressão através dos níveis de gravidade, de acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2006), a depressão pode ser: 29 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Leve: Apresentando dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda de interesse (anedonia), falta de energia e mais dois dentre os expostos anteriormente (CID-10). O paciente não pára suas funções completamente. Moderada: Dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda de interesse (anedonia), falta de energia e mais três dentre os expostos, anteriormente (CID-10). O individuo apresenta dificuldade em executar suas funções. Grave ou Severa: Dois dos sintomas a seguir: humor deprimido, perda de interesse (anedonia), falta de energia e pelo menos mais quatro dentre os expostos, anteriormente (CID10), alguns em grande intensidade; mas considerável inquietação e agitação, ou retardo psicomotor; às vezes, com sintomas psicóticos, como delírios e alucinações. Quanto à sua causa, a depressão pode ser classificada como: Depressão endógena: Trata-se de um tipo de depressão onde, predominam, os sintomas classificados como endógenos, de natureza mais neurobiológica, mais independente de fatores psicológicos. Segundo Dalgalarrondo (2000), os sintomas típicos são: anedonia; hiporeatividade geral; tristeza vital; lentidão psicomotora; perda de apetite e de peso corporal; sintomas mais intensos pela manhã, melhorando ao longo do dia; insônia terminal (indivíduo acorda de madrugada e não consegue mais dormir); diminuição da latência do sono REM (inversão da arquitetura do sono); ideação de culpa. Depressão Reativa: Refere-se ao tipo de depressão desenvolvida como uma reação a um fator estressor externo, representando uma associação entre fatores precipitantes internos e externos; e formas moderadas dessa patologia. De acordo com Coutinho (2005), é entendida como um sofrimento psíquico e/ou dor moral desencadeada por uma situação ou 30 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. acontecimento desagradável; que interfere, significativamente, na diminuição da qualidade de vida, na produtividade e capacitação social do indivíduo. Quanto aos sintomas, a depressão pode ser classificada em neurótica ou psicótica. A depressão neurótica: segundo Abreu (2003), caracteriza-se por apresentar, pelo menos, cinco dos itens a seguir: perda do interesse ou falta de motivação; demora em responder aos estímulos prazerosos; piora dos sintomas pela manhã; agitação ou retardamento psicomotor; significativa perda de peso; resposta anterior a terapias biológicas (como terapia eletro convulsiva) ou a medicamentos antidepressivos, durante um episódio anterior com sintomas desencadeantes similares. A depressão psicótica: é um tipo grave que ocorre associado aos sintomas depressivos, um ou mais sintomas psicóticos, como delírios de ruína ou culpa, delírio hipocondríaco ou de negação de órgãos, alucinações com conteúdos depressivos (Dalgalarrondo, 2000). 2.3 ETIOLOGIA: O transtorno depressivo possui uma etiologia multifatorial, composta por fatores de ordem biológica, genética e psicossocial. Os fatores biológicos associam a depressão a causas físicas ou orgânicas, isto é, pode ocorrer, secundariamente, em relação a determinadas doenças físicas, ou em relação a determinados medicamentos. Do ponto de vista genético, sabe-se que esse transtorno, em si, não é herdado, apenas a predisposição o é; não há evidência de uma herança direta. Segundo Abreu (2003), em especial para a forma de depressão psicótica, bem como o distúrbio bipolar, o risco herdado é maior. 31 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. As mulheres são mais suscetíveis à depressão do que os homens, o que indica causas, possivelmente, genéticas para esse transtorno, se considerarmos as diferenças sexuais e ignorarmos as culturais e educacionais. Essa explicação fica reforçada quando se tem informação de que essa maior incidência no sexo feminino é, significativa, depois da puberdade. Nesse sentido, afirma Abreu (op cit), pode haver uma facilitação biológica, ligada aos níveis de certos hormônios femininos associados com a depressão, bem como ao fato de que o cérebro da mulher processa a informação emocional de modo, ligeiramente, diferente do cérebro do homem, o que pode aumentar o risco de incidência. No que se refere ao campo psicossocial, sabe-se que são vários os fatores que podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. Uma perda significativa, uma doença crônica, conflitos de relacionamento, uma mudança brusca de estilo de vida, a aposentadoria e dificuldades financeiras; estão entre exemplos, bastante, freqüentes capazes de desencadear a doença. 2.4 TEORIAS EXPLICATIVAS 2.4.1 Explicações Psicodinâmicas A teoria da depressão de Freud mais aceita, gira em torno das conseqüências de perda. Em um ensaio intitulado Luto e Melancolia, autor observou algumas semelhanças entre depressão e luto (os sentimentos de tristeza e pesar que ocorrem quando alguém amado morre), e embasou sua teoria nessas semelhanças. Primeiramente, Freud observou que tanto o luto quanto a depressão ocorrem após a perda de um objeto amado. Em segundo, reconheceu que, amiúde, experimentamos sentimentos ambivalentes em relação a objetos de amor perdidos. Podemos amá-la , mas, ao mesmo tempo, sentirmos raiva ou até mesmo odiarmos a pessoa por ter nos deixado ou nos 32 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. rejeitado. Em terceiro, mostrou que os deprimidos são injustificável e freqüentemente autocríticos, e sentem raiva de si mesmos, incriminam-se por coisas que não são culpa sua. Freud sugeriu que isso ocorre porque elas tentam lidar com a perda introjetando, simbolicamente, o objeto perdido e quando o introjetam torna-se parte do seu próprio eu, os sentimentos negativos que estavam associados ao objeto perdido, voltando-se para si Portanto, para Freud, o fator crucial na depressão é a raiva internalizada, e o evento que dispara o processo é a perda. Teorias psicodinâmicas, mais recentes, apontam para o papel do estresse como causador da depressão, e sugerem que uma perda pode ser um dos seus tipos. Segundo Holmes (2001), as evidências são abundantes de que estresse agudo e crônico, de muitos tipos, pode conduzir a esse transtorno, mas a abordagem psicodinâmica não supriu evidências concernentes como um causa o outro. 2.4.2Explicações da Aprendizagem Segundo Holmes (2001), os teóricos da aprendizagem oferecem duas explicações para a depressão. A primeira é a de que é causada por baixos níveis de gratificação ou altos níveis de punição (ou ambos). Pesquisas indicam que baixos níveis de gratificação e altos níveis de punição podem resultar em humor entristecido ou disforia leve, mas até o momento, eles não foram, diretamente, ligados a níveis clínicos de depressão. A segunda é que os comportamentos depressivos são aprendidos ou mantidos, porque resultam em gratificações (ex. atenção, preocupação) de outros. No entanto, em vista das pesquisas indicarem que os indivíduos deprimidos são evitados, em vez de gratificados por outros, não parece que muitas depressões resultem de gratificações. 33 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 2.4.3 Explicações Cognitivas Existem duas teorias cognitivas explicativas da depressão. A primeira sugere que devido à atenção e à recordação seletiva, os indivíduos desenvolvem cognições negativas que os conduzem a esse transtorno. Há evidências de que os indivíduos deprimidos têm cognições negativas e que eles prestam atenção e recordam, seletivamente, material depressivo; mas não há fortes evidências de que cognições negativas causam níveis clínicos dessa doença. Ao contrário, parece que cognições negativas podem predispor os indivíduos, quando estão sob estresse. As condições negativas podem também servir para mantê-la, uma vez que se estabeleça (Holmes, op cit). A segunda sugere que a depressão é decorrente de sentimentos de desamparo em controlar os aspectos negativos da vida. Essa explicação do desamparo aprendido, de acordo com o autor supracitado, foi típica de investigação intensiva durante os últimos anos, mas os resultados têm sido inconsistentes e fracos. Os indivíduos deprimidos, em geral, sentem-se, de fato, desamparados, mas na maioria desses casos, esses sentimentos parecem ser um resultado e não sua causa. 2.4.4 Explicações Fisiológicas Do ponto de vista fisiológico, a depressão é considerada como originária de um baixo nível de atividade neurológica, nas áreas do cérebro que são responsáveis pelo prazer. Isso é atribuído a diminuição dos níveis de norepinefrina ou serotonina. Dividindo-se assim, em dois tipos, fisiologicamente, causadores desse distúrbio; um devido à pequena quantidade de norepinefrina; e outro de serotonina. A diminuição desses neurotransmissores podem também explicar os distúrbios de sono, alimentação e função sexual, que, freqüentemente, acompanham a depressão. 34 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Apoio para a explicação fisiológica é suprida por achados que drogas que aumentam e reduzem os níveis de reurotransmissores, exercem o efeito de reduzir e aumentar a depressão e que os níveis do metabólito da norepinefrina aumentam e reduzem com aumentos e reduções da depressão (Holmes, 2001). 2.4.5 Explicações Humanístico – existenciais Os teóricos humanístico-existenciais acreditam que a depressão origina-se do reconhecimento de que nós não atingiremos nossas metas pessoais e uma conseqüente desistência da responsabilidade, que é uma morte simbólica. 2.5 TRATAMENTO DA DEPRESSÃO Para o tratamento da depressão existem dois caminhos: o psicoterapêutico e o medicamentoso. De acordo com Abreu (2003), em conjunto, é o que existe de mais eficaz, pois apenas a psicoterapia pode não ser suficiente, por haver um desequilíbrio no funcionamento do corpo. Por outro lado, apenas medicamento não resolve, pela razão complementar: a depressão se caracteriza por ser um distúrbio do humor, do afeto, tendo repercussões em todo o psiquismo, não existindo remédio milagroso, capaz de trabalhar com essa esfera, que é alcançada na psicoterapia. Tratamento Medicamentoso Segundo o Ministério da Saúde (Brasil, 2006), aproximadamente, ⅔ das pessoas com episódio depressivo melhoram com o primeiro antidepressivo. Existe um prazo de cerca de duas semanas para o medicamento começar a fazer efeito, sendo de seis meses a duração mínima do tratamento completo. Geralmente, produzem, em média, uma melhora dos sintomas de 60% a 70%, no prazo de um mês, 35 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. enquanto a taxa de placebo é em torno de 30% (Souza, 1999). Em casos de tratamento da depressão leve, não são indicados os antidepressivos, sendo recomendada primeiramente a psicoterapia. Tratamento Psicoterapêutico As intervenções psicoterápicas podem ser de diferentes formas, como por exemplo, psicoterapia de grupo, psicodinâmica breve, terapia comportamental, cognitivo-comportamental, de grupo, de família, dentre outras. Abreu (2003) alerta para o fato de ser bastante alta a freqüência da repetição de episódios depressivos numa mesma pessoa: cerca de 50% dos que já tiveram um distúrbio depressivo terão outro, em algum momento de suas vidas. De acordo com a autora, esse fato ocorre devido a um tratamento, exclusivamente, medicamentoso. Em um trabalho psicoterapêutico, o psicólogo vai ajudar a mudar a perspectiva a partir da qual o individuo se percebe e percebe sua vida em geral. Ao ver a vida de um novo ângulo, irá reagir de forma diferente, ficando, portanto, mais resistente à instalação da depressão. 36 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO III FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – SUICÍDIO 37 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO III O SUICÍDIO 3.1 CONCEPÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DO SUICÍDIO: De acordo com Jamison (2002), ninguém sabe quem foi o primeiro a cortar a própria garganta com um pedaço de sílex, a ingerir um punhado de bagas venenosas, ou cair, intencionalmente, sobre sua lança num campo de batalha. Também não sabemos quem foi o primeiro que pulou por impulso – ou premeditadamente – de um alto penhasco; que entrou sem alimento numa tempestade de gelo; ou se fez ao mar sem a menor intenção de voltar. E nunca saberemos quem foi, o porquê ou como, o primeiro homem a se matar o fez, pois as observações registradas acerca do suicídio são, necessariamente, muito mais recentes do que suas primeiras ocorrências. Os compêndios da história revelam que, para o Direito Canônico, a religião cristã sempre condenou o suicídio. Os documentos antigos tratam de vários suicídios. No entanto, a Bíblia descreve um número relativamente pequeno deles, e como afirma Alves (1999) assim mesmo, quase todos estavam condicionados por acontecimentos externos, como no caso de cabos-de-guerra, que se matavam para não serem aprisionados pelo inimigo. Um caso bastante conhecido, relatado pela Bíblia diz respeito ao suicídio de Judas Iscariotes, um apóstolo de Cristo que o teria traído por 30 moedas. Arrependido, suicidou-se, posteriormente. Porém, foram encontrados em Jerusalém e revelados pela imprensa mundial, recentemente, documentos sobre ele que afirmam que o mesmo fora o mais íntimo e confiável apóstolo de Jesus Cristo, e que teria sido escolhido para entregar o Filho de Deus para revelálo como o Salvador e assim redimir os pecados da humanidade. 38 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Entre alguns povos orientais, dominados pelo fanatismo religioso ou imbuídos de tendências para o abandono de si mesmo, para o desdém pelos bens terrenos, o suicídio tornou-se fato banal. Na China antiga, este fenômeno constituía ato bastante comum. Na História do Egito, ficou célebre o caso de Cleópatra, que se deixou picar por uma cobra, depois de ter experimentado diferentes venenos em condenados, chegando à conclusão de que a picada de uma víbora era o meio de morte mais suave. Na Grécia, foram numerosos os suicídios de reis em determinadas circunstâncias, ora como expiação, ora para não cair em mãos dos inimigos. Durante a Idade Média, foram raros, devido ao anátema religioso lançado aos suicidas, entretanto, Alves (1999) destaca que com a Renascença, os suicídios parecem ter aumentado em número. Mesmo em tempos recentes, diversos acontecimentos políticos implicaram uma verdadeira onda desse ato. Nesse sentido, foram, particularmente, numerosos os provocados pela ascensão do nazi-fascismo, em diversos países europeus, quando as perseguições políticas e raciais criaram um clima em que o suicídio passava a representar a forma de morte mais suave e um meio de se livrar de grandes tormentos físicos e morais. Na atualidade, podemos observar esse fenômeno nos atentados que ocorrem em decorrência do fanatismo religioso, onde os chamados “homens-bomba” se suicidam e provocam a morte de muitos. Sem dúvida, o mais conhecido ocorreu no dia 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, onde houve uma série de ataques contra alvos civis. Na manhã desse dia, quatro aviões comerciais foram desviados de suas rotas, sendo dois deles jogados contra as torres do World Trade Center, em Manhattan, Nova Iorque. Um terceiro avião foi reportado pelas autoridades norte-americanas como tendo sido intencionalmente derrubado contra o Pentágono pelos seqüestradores, no Condado de Arlington, Virgínia. Os destroços do quarto avião foram vistos espalhados num campo próximo de Shanksville, Pensilvânia. Os 39 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. atentados causaram a morte de 2973 pessoas e o desaparecimento de mais 24 (Wikipédia, 2006). Como objeto de estudo, o suicídio vem sendo observado desde o século XVIII. Segundo Ordaz e Vala (1997), muitos foram os autores que se dedicaram à investigação desse fenômeno, como por exemplo, Esquirol, Adler, Freud entre outros, que o relacionaram a desordens mentais hereditárias. Já o grande sociólogo Durkheim, atribuiu-o a causas externas ou sociais, discutindo-o enquanto fato social. 3.2 DEFINIÇÕES DO SUICÍDIO: O comportamento suicida é classificado, com freqüência, em três categorias: ideação suicida, tentativa de suicídio e suicídio consumado. Segundo Werlang et al (2005), apesar de haver poucos dados disponíveis, alguns estudos clínicos e epidemiológicos sugerem a presença de um possível gradiente de severidade e de heterogeneidade entre essas diferentes categorias. Assim, num dos extremos tem-se a ideação (pensamentos, idéias, planejamento e desejo de se matar) e, no outro, o suicídio consumado, com a tentativa entre eles. Suicídio é, traduzindo-se a palavra, a morte de si mesmo (CASSORLA, 1992); é uma palavra originada do latim, derivada da junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (ação de matar). Num sentido geral, é um ato voluntário através do qual um indivíduo possui a intenção e provoca a própria morte.De acordo com Stevenson (1992), não existe uma definição única aceitável ; entretanto, a morte deve ter sido auto-infligida. Esse autor também alerta para o fato de que, sem a existência de um bilhete, por parte do suicida, pode ser um diagnóstico difícil. A definição desse fenômeno implica, necessariamente, um desejo consciente de morrer e a noção clara de que o ato executado pode resultar nisso. Caso contrário, é 40 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. considerado morte por acidente ou negligência. Entretanto, o fato de estar consciente de que vai efetuar um ato suicida não elimina o estado de confusão mental que o indivíduo experimenta antes da ação. Utiliza-se também, na literatura, o termo parassuicídio, que segundo Vega Piñero et al (2002) refere-se a condutas cuja intenção não é acabar com a própria vida, mas sim modificar o ambiente. Essas condutas são características da adolescência e de pessoas imaturas, como forma de reação a um conflito, sendo diagnosticadas em numerosas ocasiões de transtornos de personalidade. São denominadas também de “chamadas de atenção” e em algumas ocasiões tem caráter de chantagem emocional. O suicídio é uma realidade que nos cerca, embora muitas vezes não desejemos ou não possamos aceitá-lo, talvez porque tal situação nos coloca diante de um fenômeno que sempre provocará perplexidade no ser humano, que é a morte voluntária (Dutra, 2002). Segundo Minayo (1998), é um fenômeno universal, registrado desde a alta antiguidade, rememorado pelos mitos das sociedades primitivas, criticado pelas religiões, como ato de rebelião contra o Criador, aparecendo ainda, em muitos escritos filosóficos, como ato de suprema liberdade. 3.3 TEORIAS EXPLICATIVAS DO SUICÍDIO: Como fato social, o suicídio tem aguçado o interesse de psiquiatras, psicólogos, juristas e sociólogos. De acordo com Alves (1999), a origem do gesto humano de voltar-se contra si mesmo de modo violento, a ponto de destruir sua própria existência, tem causa múltipla. O desencantamento humano com as ideologias que fenecem no dobrar do milênio, a vida complexa das grandes cidades, o desemprego, a criminalidade, o medo da violência urbana e rural são fatores sociais que influenciam na “taxa social do suicídio” Também fatores menos genéricos e mais particulares podem fazer recrudescer a taxa de suicídio em uma determinada sociedade, como a desagregação familiar, as doenças e, de 41 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. um modo geral, a imitação, as paixões amorosas, o alcoolismo, as drogas, a impotência sexual masculina, a frigidez, retaliações políticas, as vicissitudes dos planos econômicos e até o período do ano, no verão, o índice se eleva (Alves, 1999). As teorias explicativas tentam esclarecer a conduta suicida. Detalharemos agora as justificativas que cada teoria dá para a ocorrência do ato suicida. 3.3.1. Teorias Psicológicas: * Psicanalíticas: Para Freud, o suicídio é resultante da pulsão entre Eros e thanat, com predomínio final para este último. A idéia de suicídio seria parte do homicídio, pois considera esse ato um crime, ao qual se deu um giro de 180 graus, dando destaque à existência da ambivalência amor-ódio, que segundo ele, está presente na dinâmica de todo suicida. Outro aspecto importante seria a associação da agressividade e, portanto do instinto de morte, com o ato suicida. Jung supõe que o ato suicida ocorre quando existe uma situação em que só a morte pode pôr fim, aquilo que o eu está envolto, ou seja, um conflito de tal envergadura que, aliado a uma falta de vitalidade, torna impossível encontrar uma solução emergente. Para ele, esse ato destrói a harmonia entre o consciente e o inconsciente, derivada de impulsos agressivos reprimidos (Vega-Piñero et al, 2002). Segundo Alfred Adler, o suicídio ocorre, principalmente, em indivíduos dependentes que, em geral, tentam obter gratificações dos demais, possuidores de fortes sentimentos de inferioridade ou baixa auto-estima, que centram seus pensamentos em si mesmos, e tentam sobressair a qualquer preço. Ainda de acordo com este autor, isso proporciona a essas pessoas a sensação de serem donas da vida e da morte, de serem onipotentes (Corrêa e Barrero, 2006). 42 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. O psicanalista Karl Menninger propôs que em todos os seres humanos existem fortes propensões para a autodestruição, e o suicídio seria apenas uma de suas manifestações, que se apresenta de três formas: “suicídio crônico” “palmo a palmo”, em que o indivíduo organiza lentamente sua morte à custa, por exemplo, de condutas anti-sociais, alcoolismo, uso de drogas, comer ou fumar em excesso, entre outros; o suicídio localizado, como a automutilação, as propensões a acidentes, a impotência, a frigidez, etc.; e o suicídio orgânico, ocasionado por processos destrutivos internos, focais ou generalizados. A Karl Menninger deve-se os três desejos implícitos em todo ato suicida: (1) o de morrer; (2) o de matar; (3) o de ser morto (Corrêa e Barrero, 2006). * Cognitivas: Beck e cols. descobriram que a desesperança estava mais ligada ao suicídio consumado do que a experiência subjetiva da depressão. Em sua Teoria Cognitiva, ele considera o modo como a unidade estrutural e organizacional que contém determinados esquemas, como uma suborganização, específica dentro da organização da personalidade, que incorpora os componentes básicos da mesma: os cognitivos, os afetivos, os comportamentais e os motivacionais (Corrêa e Barrero, op. cit). O modo suicida estaria caracterizado pelos componentes a seguir enumerado: Componentes Cognitivos: Pensamentos suicidas. Pensamentos relacionados com o eu (inadequado, incompetente, desamparado, desesperançado, etc.). Pensamentos relacionados com o entorno (os demais me aborrecem, me abandonaram, evitam-me, ninguém me quer, ninguém precisa de mim). 43 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Pensamentos relacionados com o futuro (as coisas não mudarão, não suporto por mais tempo esse sofrimento que nunca terminará). Componentes Afetivos: Disforia. Mistura de emoções diversas (tristeza, raiva, culpa, depressão, medo, angústia, sentimentos de solidão, desesperança, humilhação). Componentes Comportamentais: Comportamentos autodestrutivos (tentativa de suicídio). Planificação suicida. Ameaças e gestos suicidas. 3.3.2. A Teoria Psiquiátrica A explicação psiquiátrica é que os suicidas possuem alguns transtornos mentais, que implicam num comportamento anormal. Baseia-se na alta prevalência de transtornos mentais que aparecem nesses sujeitos (Vega-Piñero, et al, 2002). Segundo Corrêa e Barrero (2006), essa foi, a primeira teoria, que tentou explicar as causas do suicídio, que surgiu no princípio do século XIX, iniciada com Pinel e seu discípulo Esquirol. Desde o fim do século XVII, foram os médicos, e em particular os alienistas, que iniciaram o debate sobre a etiologia do suicídio. No século XVII, alguns livros já discutiam o assunto, associando-o a loucura ou a melancolia. A teoria psiquiátrica do suicídio foi, entretanto, primeiramente sistematizada por Esquirol, a partir de 1927 com seu livro Les Monomanies. Segundo ele, esse fenômeno apresenta todas as características das alienações mentais e o ser humano só atenta contra sua vida, quando está mergulhado no delírio; concluindo então que os suicidas são alienados. 44 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A partir dos trabalhos, principalmente de Esquirol, os médicos passaram a discutir três concepções diferentes sobre a etiologia do suicídio. A primeira, aquela de Esquirol que dizia que o ato suicida seria secundário, uma alienação não específica; a segunda, defendida por Bourdin, associava a uma doença mental específica, a monomanie suicidee; e a terceira, que se tornou majoritária, na segunda metade do século XIX, separava-o em diferentes causas; a alienação mental era reconhecida, entretanto, como a mais comum. Apesar das diferenças dos autores, algo era consensual entre eles: a importância das afecções mentais como causa do suicídio e defesa da descriminalização desse ato (Corrêa e Barrero, 2006). Na atualidade, essa teoria é conservada em plena vigência, pois, embora nem todos, que cometam suicídio, tenham um transtorno mental, a mortalidade decorrente desse ato entre as pessoas que têm tal tipo de transtorno é, significativamente, maior do que a observada na população geral. Segundo os autores supracitados, mais de 90% das pessoas que se suicidam têm uma doença mental diagnosticável, no momento em que cometem esse ato. Por esse motivo, as doenças psiquiátricas são um fator de risco conhecido e seu tratamento adequado é um dos pilares da prevenção do suicídio. 3.3.3 As Teorias Sociológicas: A teoria sociológica do suicídio surgiu no final do século XIX, por intermédio do francês Emile Durkheim. Este autor é reconhecido como o pai da Sociologia e o precursor dos estudos sociológicos do suicídio. Ele focalizou os efeitos prejudiciais que a sociedade exerce sobre os indivíduos e, em seu trabalho mais conhecido Lê Suicide (1897), estabeleceu um modelo para as investigações desse ato. Segundo esse mesmo autor, não são os indivíduos que se suicidam, mas a sociedade através deles, e postula que a incidência desse fenômeno numa determinada sociedade depende do nível de integração social e das regras nela existentes . Dependendo do nível de 45 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. integração, os suicídios classificam-se em egoístas ou altruístas e, obedecendo aos níveis de regulação existentes, dividem-se em anômicos ou fatalistas. Cerca de trinta anos após o livro de Durkheim, em 1930, Maurice Halbwachs publica seu livro Les causes du suicide, este critica em vários pontos a obra daquele, mas contribui para uma melhor compreensão dos aspectos sociológicos do suicídio. A principal contribuição de Halbwachs, segundo Corrêa e Barrero (2006), foi, a tentativa de resolver o conflito individual X coletivo. Esses autores consideram-na importante, na compreensão de aspectos sociais do suicídio e na reflexão de aspectos desse conflito. Entretanto, num nível presumivelmente genético, estudos de adoção mostram que os parentes biológicos de um suicida são muitas vezes mais suicidas do que os parentes adotivos daquela pessoa. Gêmeos idênticos tendem a partilhar a propensão ao suicídio, mesmo que sejam separados ao nascer e não tenham conhecimento um do outro. Gêmeos não idênticos não têm essa tendência. Desta forma, percebe-se a influência tanto dos elementos externos, como da importância da genética como fatores predisponentes da ideação suicida. 3.4 EPIDEMIOLOGIA: As estatísticas sobre atos suicidas são falhas e subestimadas, e isso se deve a vários fatores, que incluem desde dificuldades de conceituação até aspectos sócio-culturais. De acordo com Cassorla (1998), certamente, a subestimação estatística é mais intensa quando se trata de crianças e adolescentes, em que os atos autodestrutivos são negados ou até escondidos pela família, diante de maiores sentimentos de culpa e/ou vergonha pelo ato. Mesmo os serviços de saúde têm dificuldade em associar componentes suicidas a eventos que os solicitam. O ato suicida é facilmente identificado, no caso de enforcamento ou de morte provocada por um ferimento à bala, estando à arma ainda nas mãos do suicida; porém a morte 46 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. resultante de uma combinação de dosagens subletais de álcool e outras substâncias, ou até mesmo um simples acidente automobilístico, por exemplo, tornam as conclusões difíceis de serem tiradas. Segundo Stevenson (1992), há uma tendência para o sub-relato de suicídios, que reflete, indubitavelmente, em algum grau, a tentativa de poupar-se aos membros da família, um trauma emocional desnecessário. Além disso, a morte por esse ato pode ter impacto sobre certos temais legais, tais como benefícios obtidos por seguros. Prieto e Tavares (2005), destacam que há algum tempo, a Organização Mundial de Saúde (OMS, 1975), já ressaltava a possibilidade de que as diferenças entre as taxas de incidência e de suicídio entre os diversos países deve-se, em grande parte, à falta de uniformidade nos procedimentos de notificação. E, poderia se assegurar, com confiança, que as diferenças dos índices refletiam variações na incidência do fenômeno, se os mesmos métodos e regras para verificar se uma morte ocorreu por suicídio ou não, fossem aplicados em todos os países. A taxa oficial de mortalidade no Brasil, de acordo com dados da OMS, é de 4,1 por 100 mil para a população como um todo, estando para o sexo masculino, em torno de 6,6 por 100 mil habitantes, e para o sexo masculino, em 1,8 por 100 mil habitantes Segundo Cassorla (1998), sabe-se que o suicídio é a terceira causa de morte entre aquelas consideradas como violentas ou externas, no estado de São Paulo. Além disso, 28% do total dos suicídios ocorridos na Grande São Paulo acontecem entre jovens entre 15 e 24 anos. Se nos reportarmos ao Nordeste, percebemos que essa taxa não é muito diferente . No Rio Grande do Norte, segundo os estudos de Dutra (1998), constatou-se que no período de 1985 a 1996 ocorreram 561 suicídios. Desse total, 26% foram de jovens entre 15 e 24 anos, estatísticas essas, que se aproximam dos dados verificados em São Paulo. A autora ainda 47 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ressalta que esses números podem ser considerados alarmantes, considerando-se que se trata de um estado nordestino, sem os problemas de uma cidade como São Paulo, que abriga uma metrópole de mais de 10 milhões de habitantes. O Rio Grande do Norte, diferentemente daquele, é um estado semi-industrializado, possuindo características sócio-culturais e demográficas distintas. Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) relatam que 900.000 pessoas cometeram suicídio em 2003, representando uma morte a cada 35 segundos. Para cada óbito por suicídio, há no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido, cujas vidas são, profundamente, afetadas emocional, social e economicamente (Botega, 2007). Conforme a Secretaria de Segurança Pública do estado da Paraíba, ocorreram no ano de 2006, 22 (vinte e dois) casos de suicídio no estado. Para o ano de 2007, até o mês de setembro, já eram 16 (dezesseis). 3.5 TIPOS DE SUICÍDIO: Segundo Solomon (2002), os suicidas dividem-se em quatro grupos: O primeiro, aquele que comete o ato sem pensar no que está fazendo. Tais pessoas são as mais impulsivas e as mais propensas a serem levadas ao suicídio por um evento externo específico; seu comportamento suicida tendem a ser repentinos. O segundo, meio apaixonado pela morte consoladora, comete suicídio como vingança, como se o ato não fosse irreversível. Tais pessoas não estão fugindo da vida, mas correndo para a morte, desejando não o fim da existência, mas a presença da obliteração. O terceiro comete suicídio por uma lógica falha em que a morte parece ser a única saída de problemas intoleráveis. Esses indivíduos consideram as opções, planejam seus 48 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. suicídios e escrevem bilhetes. Geralmente, acreditam não somente que a morte vá melhorar sua condição, mas também que ela removerá um fardo das pessoas que os amam. O último grupo comete suicídio através de uma lógica racional. Tais pessoas – devido a uma doença física, instabilidade mental ou uma mudança nas circunstancias de vida – não desejam experimentar a dor da vida e acreditam que o prazer que elas podem vir a sentir é insuficiente para compensar a dor atual. Para Durkheim (2003), os suicídios podem ser divididos em três categorias sociais: suicídio egoísta, o altruísta e o anômico. O egoísta: ocorre como resultado de um afastamento da sociedade, resultando numa individualização desmesurada; que resulta de uma falta de integração, na sociedade; e está associado com sentimentos de depressão e apatia. O autor atribui o aumento das taxas de suicídio à decadência de afiliação à família e à religião, duas instituições que servem para integrar e regular a sociedade. O altruísta: difere do egoísta por características marcantes. Enquanto este se deve ao intenso individualismo, aquele decorre do fato de o indivíduo estar sob obediência do coletivo. O individuo se identifica tanto com a coletividade que é capaz de tirar sua própria vida por ela, sendo visto como algo que ocorre, principalmente, em sociedades coletivas, onde os indivíduos suicidam-se para o bem comum, se sacrificando pela comunidade. O anômico: ocorre como resultado de uma mudança brusca na ordem social aceita e nas normas que prescrevem o comportamento na sociedade. Esse tipo de suicídio é o mais comum após crises sociais ou políticas, e ocorre entre indivíduos que estão tentando ajustar-se a novos status sociais ou ocupacionais. 49 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 3.6 FATORES DE RISCO E FATORES DE PREVENÇÃO: A prevenção do suicídio se dá mediante o reforço dos fatores ditos protetores, bem como através da diminuição dos fatores de risco, tanto no nível individual como coletivo. Risco, segundo Benincasa e Rezende (2006), é um conceito da Epidemiologia Moderna e refere-se à probabilidade da ocorrência de algum evento indesejável. Os de risco são elementos com grande probabilidade de desencadear ou associar-se ao desencadeamento de um evento indesejado, não sendo, necessariamente, o fator causal. Já os de proteção são recursos pessoais ou sociais, que atenuam ou neutralizam o impacto do risco. Os autores supracitados acrescentam ainda que a percepção dos riscos volta-se à perspectiva do controle preventivo dos mesmos, buscando, por meio da educação, influir nos comportamentos deletérios para a saúde do corpo e do meio ambiente. Os fatores de risco têm sido mais abordados pela literatura do que os de proteção. Segundo Botega et al (2006), dentre os principais fatores de risco destacam-se: transtornos mentais (como por exemplo, a depressão), perdas recentes, perdas de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, personalidade com fortes traços de impulsividade de agressividade, certas situações clínicas (como doenças crônicas incapacitantes, dolorosas, desfigurantes), ter acesso fácil a meios letais. O Ministério da Saúde (Brasil, 2006) alerta para o fato de existirem alguns sinais na história de vida e no comportamento das pessoas, que indicam que um determinado indivíduo possui um maior risco para o comportamento suicida. São eles: (1) comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a família e amigos, pouca rede social; (2) doença psiquiátrica; (3) alcoolismo; (4) ansiedade ou pânico; (5) mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia; (6) mudança no hábito alimentar e de sono; (7) tentativa de suicídio anterior; (8) odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha de si; (9) uma perda recente importante – morte, divórcio, separação, etc; (10) 50 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. história familiar de suicídio; (11) desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento, etc; (12) sentimentos de solidão, impotência, desesperança; (13) cartas de despedida; (14) doença física crônica, limitante ou dolorosa; (15) menção repetida de morte ou suicídio. Alguns fatores sócio-demográficos indicam indivíduos sob maior risco de suicídio: sexo masculino, faixa etária entre 15 e 35 anos ou acima dos 75 anos, extratos econômicos extremos (muito ricos ou muito pobres), residentes em áreas urbanas, desempregados (principalmente perda recente do emprego), aposentados, ateus, solteiros ou separados e migrantes (WHO, 2003). Conforme Botega et al (2006), um dos grupos de maior risco para o suicídio é o dos indivíduos que já tentaram cometer esse ato em algum momento de suas vidas. Tal risco foi estimado em 100 vezes maior do que o da população em geral. Segundo os autores, os estudos têm demonstrado que a adesão desses indivíduos ao tratamento é baixa, mas que, por outro lado, existem estratégias eficazes no sentido de evitar novas tentativas. Pessoas com histórico de suicídio na família são muito mais propensas a se matar. De acordo com Solomon (2002), isso ocorre em parte porque tornam o impensável pensável. Por outro lado, ocorre também porque a dor de viver quando alguém que se ama aniquilou-se pode ser quase intolerável. Existem três características próprias do estado em que se encontra a maioria das pessoas sob risco de suicídio: ambivalência, impulsividade e rigidez/constrição (Brasil, 2006). A ambivalência é a atitude interna característica dos indivíduos que pensam ou tentam se matar; ao mesmo tempo querem viver e morrer. O predomínio do desejo de vida sobre o de morte é o fator que possibilita a prevenção do suicídio. O suicídio é entendido como um ato impulsivo que pode ser transitório e durar apenas alguns minutos ou horas. Geralmente, é desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia. Em relação à terceira característica, a 51 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. rigidez/constrição, o Ministério da Saúde afirma que o estado cognitivo de quem apresenta comportamento suicida é, geralmente, de constrição. A consciência da pessoa passa a funcionar de forma dicotômica: tudo ou nada. Os pensamentos, os sentimentos e as ações estão constritos, ou seja, constantemente pensam sobre suicídio como única solução e não são capazes de perceber outras maneiras de solucionar seus problemas. Análoga a essa condição é a “visão em túnel”, que representa o estreitamento das opções disponíveis de muitos indivíduos em vias de se matar. Quatro sentimentos principais são apresentados como indicadores de risco para a consumação, ou pelo menos tentativa, do ato suicida. São denominados de “regra dos 4D”, devido ao fato de todos os sentimentos começarem com a letra “D”. São eles: depressão, desesperança, desamparo e desespero (Brasil, 2006). No que se refere aos fatores de proteção do suicídio, Botega et al (2006) destacam os seguintes: pessoas que possuem bons vínculos afetivos, sensação de estar integrado a um grupo ou comunidade, religiosidade, estar casado ou com companheiro fixo, ter filhos pequenos. Pessoas com maior envolvimento religioso, de um modo geral, possuem menores taxas de suicídio. A religiosidade também é apontada como auxiliar no enfrentamento de doenças graves. Entre os muçulmanos as taxas de suicídio são mais baixas quando comparadas às outras religiões, provavelmente, por causa do pesado julgamento moral sobre o suicídio e conseqüente senso de punição, além de outras características culturais, como por exemplo, a proibição do consumo de álcool (Botega et al, 2006). Uma percepção mais otimista da vida, com razões para se continuar vivendo opondose ao sentimento de desesperança, é um fator de proteção contra o suicídio, como por exemplo, apego aos filhos pequenos e o sentimento de importância na vida de outras pessoas. No sexo feminino, a gravidez e a maternidade auxiliam para que as mulheres tenham menores 52 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. taxas de suicídio, em especial nos anos próximos da gestação. Nesses casos, é válido ressaltar, que há uma exceção para os casos de depressão pós-parto. Outra forma de proteção, encontrada, particularmente, no sexo masculino, é ter uma ocupação, estar empregado, sentindo-se produtivo e socialmente mais integrado por meio de seu trabalho. De forma geral, o sentimento de “pertencer”, no sentido de possuir forte ligação, seja à comunidade, a um grupo religioso ou étnico, a uma família ou a algumas instituições, protegem o individuo do suicídio (Botega et al, 2006). A prevenção do comportamento suicida refere-se não apenas ao objetivo de evitar a morte das pessoas, mas também em considerar as sérias implicações na sociedade que são provocadas pela ocorrência desses atos. A literatura sobre o suicídio mostra que o componente inconsciente está implicado em todo ato suicida, seja o ato consumado ou simplesmente um gesto ou comportamento autodestrutivo. Segundo Dutra (2002), o abuso de drogas, bastante comum nos dias atuais, é um bom exemplo de autodestrutividade. Dados da OMS (2000) indicam que o suicídio, geralmente, aparece associado a doenças mentais – sendo que a mais comum, atualmente, é a depressão, responsável por 30% dos casos relatados em todo o mundo. Outras doenças como o alcoolismo, a esquizofrenia e transtornos de personalidade também são citados como fatores predisponentes. Por trás do comportamento suicida há uma combinação de fatores biológicos, emocionais, socioculturais, filosóficos e até religiosos que, embaralhados, culminam numa manifestação exacerbada contra si mesmo. Para decifrá-los, os estudiosos recorrem a “autópsia psicológica”, um procedimento que tem por finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevistas e, assim, delinear as características psicossociais que levaram à morte violenta. (Vomero, 2003). 53 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A psicóloga Blanca Guevara, da Pontifica Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), especialista em autópsia psicológica, em entrevista à Revista Super Interessante de janeiro de 2003, afirma que existem causas imediatas predisponentes – como a perda do emprego, fracasso amoroso, morte de um ente querido ou falência financeira – que agem como o último empurrão para o suicídio. A análise das características psicossociais do indivíduo revela os motivos que, ao longo da vida, o auxiliaram a estruturar o comportamento suicida. Pode mostrar as razões para morrer que estavam enraizadas no estilo de vida e na personalidade. 3.7 ESTRATÉGIAS NACIONAIS DE PREVENÇÃO DO SUICÍDIO: No Brasil, até há pouco tempo, o suicídio não era visto como um problema de saúde pública. Entre as causas externas de mortalidades, ele encontrava-se na sombra dos elevados índices de homicídio e de acidentes de transito, 7 e 5 vezes maiores, em média e respectivamente (Botega et al, 2006). No entanto, a necessidade de se discutir a violência, de modo geral, trouxe à tona o problema do suicídio. No final do ano de 2005, o Ministério da Saúde montou um grupo de trabalho com a finalidade de elaborar um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, com representantes do governo, de entidades da sociedade civil e das universidades. Em 14 de agosto de 2006, foi publicada uma portaria com as diretrizes que deverão orientar tal plano. Dentre os principais objetivos a serem alcançados destacam-se: 1) Desenvolver estratégias de promoção de qualidade de vida e prevenção de danos; 2) Informar e sensibilizar a sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido; 54 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 3) Fomentar e executar projetos estratégicos fundamentados em estudos de eficácia e qualidade, bem como em processos de organização da rede de atenção e intervenções nos casos de tentativas de suicídio; 4) Promover a educação permanente dos profissionais de saúde da atenção básica, inclusive do Programa Saúde da Família, dos serviços de saúde mental, das unidades de urgência e emergência, de acordo com os princípios da integralidade e da humanização. Antes mesmo da finalização de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, esperado para 2007, com destinação de verba orçamentária específica, o Ministério da Saúde já lançou um manual de prevenção destinado a equipes de saúde mental e uma bibliografia comentada sobre o comportamento suicida. Recentemente, foi publicado outro manual destinado ao treinamento das equipes da rede básica de saúde. Há hoje, considerável informação a respeito do que, em vários países, já foi feito para a prevenção do suicídio, do que deu certo e do que não funcionou. Já temos evidências científicas disponíveis, agora, segundo Botega (2007), é esperar o esforço final da área técnica do Ministério da Saúde, para fazer do Brasil o primeiro país da América Latina a elaborar e a executar ações de prevenção do comportamento suicida. O Brasil, como primeiro país da América Latina a elaborar e apresentar Diretrizes Nacionais de Prevenção do Suicídio, está viabilizando não só a explicitação da preocupação com um fenômeno que tende a ficar à margem das discussões sociais e políticas como também acenando com a possibilidade de escrever um capítulo mais otimista em relação à intervenção do Estado nos problemas de saúde pública que são enfrentados por uma nação. As diretrizes são, certamente, o primeiro passo em uma jornada que busca intervir sobre um complexo fenômeno humano, destacando as possibilidades inestimáveis de um olhar preventivo sobre o que afeta a saúde de nossa sociedade (Botega et al, 2006). 55 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 3.8 DEPRESSÃO E SUICÍDIO: Embora nenhuma doença ou conjunto de circunstâncias possam prever o suicídio, certas vulnerabilidades, moléstias ou eventos tornam alguns indivíduos muito mais propensos a se matar do que outros. O elemento mais comum é a psicopatologia ou doença mental. Entre os diversos tipos de doença mental, bem poucas estão particular ou poderosamente ligadas à morte auto-infligida: os distúrbios de ânimo (depressão e depressão maníaca), esquizofrenia, distúrbios de personalidade limítrofe e anti-social, alcoolismo e abuso de drogas (Jamison, 2002). Segundo Corrêa e Barrero (2006), a relação entre suicídio e depressão é estreita, a ponto daquele ser, ainda hoje, considerado por muitos um sintoma ou uma conseqüência exclusiva deste. De fato, a importância da associação entre um e outro é um dos dados mais conhecidos e replicados na literatura psiquiátrica. Além disso, o comportamento suicida é freqüentemente considerado um dos sintomas característicos, senão específico, da depressão, mesmo nos grandes sistemas nosográficos de classificação, como o CID 10, ou em escalas e inventários internacionalmente conhecidos para avaliação dos sintomas depressivos, como o Inventário de Depressão de Beck, utilizado no presente estudo. Porém, o comportamento suicida não está, exclusivamente, associado com a depressão, mas com praticamente todos os diagnósticos psiquiátricos. Mais de 90% das pessoas que se matam tem um diagnóstico psiquiátrico, e, praticamente, todos estão associados a uma maior mortalidade por suicídio, quando comparados a população geral (Corrêa e Barrero, 2006). Entretanto, muitos pacientes com sintomatologia depressiva, nunca se tornam suicidas, assim como muitos suicídios são cometidos por pessoas que não vinham passando por um processo depressivo. Segundo Solomon (2002), os dois elementos não são partes de uma única equação lúcida, uma ocasionando a outra. São entidades separadas que com freqüência coexistem, 56 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. influenciando-se mutuamente. O autor afirma ainda que não existe nenhuma correlação forte entre a severidade da depressão e a probabilidade do suicídio; alguns suicídios parecem ocorrer durante disfunções severas, embora algumas pessoas em situações desesperadas apeguem-se à vida. Para Corrêa e Barrero (2006), é difícil estabelecer características distintivas entre os pacientes deprimidos que se suicidam e os que não. Entretanto, algumas considerações podem ser feitas a partir da convergência dos vários estudos epidemiológicos realizados: 1. A mortalidade por suicídio é cerca de duas vezes maior nos homens do que nas mulheres deprimidas. Esse dado torna-se ainda mais importante ao lembrarmos que a prevalência da depressão é, aproximadamente, duas vezes maior do que nos homens; 2. Fatores de risco observados em outras patologias, como história de tentativa de suicídio prévia ou história familiar de depressão, são, igualmente, importantes nos pacientes com depressão maior; 3. Uma história de internação psiquiátrica é também um importante preditor de risco suicida. Os pacientes com historia de internação têm um risco duas vezes maior de se matarem do que os que nunca foram internados, de forma que a decisão clínica de se hospitalizar ou não um paciente pode ser considerada um bom preditor de risco; 4. O risco suicida é maior logo após uma internação e nos períodos iniciais da depressão, em geral, poucos meses após ser diagnosticada. Atrás de um ato suicida há sempre uma motivação desencadeante. Na maioria dos casos, essa motivação diz respeito a quadros psicopatológicos, havendo grande destaque para o transtorno depressivo. No entanto, existe também, como, destaca Brandão (2004), a ocorrência do suicídio de motivação moral por si só, no qual entre os motivos desencadeantes 57 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. podem estar às causas ideológicas, os motivos religiosos, a vergonha, a culpa, as perdas amorosas, enfim, a perda das relações objetais. Apesar de o suicídio envolver questões socioculturais, genéticas, psicodinâmicas, filosófico-existenciais e ambientais, na quase totalidade dos casos o transtorno mental é um fator vulnerável que necessita estar presente para que, culmine no suicídio do individuo, quando somado a outros fatores. Bertolote e Fleischmann (2002 apud Botega et al, 2006) realizaram uma revisão sistemática de 31 artigos publicados entre 1959 e 2001. No total, 15.629 casos de suicídio em indivíduos com idades acima de 10 anos foram avaliados quanto à presença de transtorno mental, seja por avaliação psiquiátrica ocorrida antes do suicídio, ou pelo método de autópsia psicológica após o mesmo. O estudo mostrou que em 97% dos casos de suicídio caberia um diagnóstico de transtorno mental na ocasião do ato fatal. A associação entre depressão e suicídio é inequívoca. O risco deste aumenta mais de 20 vezes em indivíduos com episódio depressivo, sendo maior ainda em sujeitos com comorbidades com outros transtornos psiquiátricos ou doenças clínicas. Dados de autópsia psicológica mostram que, aproximadamente, metade dos indivíduos que faleceram por suicídio estava sofrendo de depressão; se considerarmos os indivíduos com outros transtornos mentais, para os quais a sintomatologia depressiva era central, como nos transtornos de ajustamento com sintomas depressivos, a porcentagem sobe para cerca de 80% (Botega et al, 2006). De acordo com Holmes (2001), as mulheres são três vezes mais propensas a tentarem o suicídio do que os homens, embora os estes sejam três vezes mais propensos a serem bem sucedidos em suas tentativas. A razão para essa diferença ainda não está bem definida, mas acredita-se que isso se deva ao fato delas serem mais propensas a sofrerem de depressão do 58 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. que eles, reconhecendo-se assim, o importante papel desempenhado pela depressão frente aos atos suicidas. Porém, outra hipótese também é destacada para explicar essa diferença: os homens usam técnicas mais violentas (revólveres, saltos de prédio) do que as mulheres (overdose, corte dos pulsos), aumentando assim, as chances das tentativas serem bem-sucedidas. Durkheim, em sua obra O Suicídio destaca a influência da depressão sobre o ato suicida, quando define os tipos de suicídio nos estados psicopáticos. O suicídio melancólico, segundo ele, relaciona-se, geralmente, a um estado de extrema depressão, exagerada tristeza, que faz com que o doente já não consiga mais apreciar de maneira sadia as relações que ele tem com as pessoas e as coisas que o cercam. Segundo Ballone (2003), os sintomas depressivos mais associados ao suicídio dizem respeito ao severo prejuízo da auto-estima, aos sentimentos de desesperança e à incapacidade de enfrentar e resolver problemas. Esses sintomas podem não estar presentes no inicio do quadro, mas à medida que a depressão vai se tornando mais grave, a baixa da auto-estima vai piorando, vão surgindo sentimentos de inutilidade e, progressivamente, o sujeito vai ficando mais desesperado. Para Holmes (2001), os indivíduos deprimidos cometem suicídio porque, a partir do seu ponto de vista a vida não vale a pena ser vivida. Como já foi dito anteriormente, as estatísticas a respeito do suicídio são falhas e subestimadas. O mesmo ocorre com as estatísticas que buscam descrever a relação entre esse fenômeno e o transtorno depressivo. É provável que a taxa de suicídio entre indivíduos deprimidos seja bastante elevada, porém, não podemos afirmar com certeza, devido ao fato de que muitos pacientes, severamente, deprimidos não dispõem de energia para se matar. Nesses casos, destaca Holmes (2001), os suicídios ocorrem depois que o individuo começa a melhorar. Os indivíduos ainda 59 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. encontram-se deprimidos, mas à medida que melhoram, obtêm mais energia e, aí sim, são capazes de executar o ato. Segundo Jamison (2002), nas suas formas grave, a depressão paralisa todas as forças vitais que nos faz humano; deixando em troca um estado árido, desesperante e entorpecido. É uma condição estéril, fatigante e agitada; sem esperança ou capacidade. Ainda conforme a autora, para os indivíduos com essa doença, o risco de suicídio é mais alto se ela for muito grave, a hospitalização for exigida ou o ato fora tentado alguma vez. Depressões brandas ou moderadas, embora com freqüências dolorosas e debilitantes, não carregam com elas o mesmo risco alto de suicídio. De acordo com Wilkinson; Moore e Moore (2003), o suicídio é, habitualmente, uma característica da doença depressiva grave, mas, ocasionalmente, mesmo doentes, ligeiramente, deprimidos consumaram esse ato, totalizando 15% dos indivíduos depressivos. Esse fato ressalta ainda mais o caráter complexo e multifacetado desse fenômeno. Segundo Baptista (2004), há variações entre as estatísticas que correlacionam depressão e suicídio, no entanto, a correlação entre essas duas variáveis pode ser identificada na maioria das pesquisas. Também é questionada a idéia de que 15% dos pacientes com depressão se suicidam, podendo esse ser um dado superestimado, já que, hoje em dia, os métodos medicamentosos e psicoterapêuticos são bem diferenciados dos de uma ou duas décadas passadas, podendo haver um viés nas pesquisas longitudinais anteriores, além do que, existem, hoje em dia, variadas formas, tipos e níveis de diagnóstico de depressão, o que pode obscurecer tais estatísticas. Malone (2000 apud Baptista 2004) relatou que indivíduos depressivos que tentaram suicídio relatam maior depressão subjetiva, desesperança e ideação suicida do que os depressivos que nunca tentaram suicídio, além do que o número, a duração e a severidade dos episódios depressivos não foram diferentes entre os dois grupos. No entanto, o autor não 60 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. controlou uma série de variáveis que poderiam estar enviesando esses dados (análise por faixa etária, inicio dos episódios), além do fato de a amostra utilizada no estudo (N=84) ter sido pequena. Baptista (2004) destaca também outro estudo realizado com o objetivo de investigar a relação entre depressão e suicídio. Trata-se de um levantamento epidemiológico de quase mil estudantes secundários chineses, na zona urbana (randomizados), onde os pesquisadores encontraram o humor depressivo isolado como preditor de 35% da variação da ideação suicida em homens e 25% em mulheres. Os resultados sugerem que eles não consideram o suicídio até estarem com um nível mais significativo de depressão, ao passo que elas podem começar a pensar em suicídio com menores níveis de depressão. No entanto, as características culturais específicas de cada país ou região podem estar influenciando os resultados na pesquisa relatada. De um modo geral, como já foi dito anteriormente, na maioria das pesquisas é possível identificar a existência da correlação entre depressão e suicídio. Sendo assim, faz-se necessário a implementação de medidas preventivas, de diagnóstico precoce da depressão, no intuito de prevenir também o suicídio. 61 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO IV FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS 62 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO IV A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS A Teoria das Representações Sociais é uma forma sociológica de Psicologia Social, originada na Europa por Serge Moscovici (1961), através da publicação de seu estudo La Psychanalyse: Son image et son public. Segundo Farr (1998), ela difere, marcadamente, das formas psicológicas de Psicologia Social, que são atualmente predominantes nos Estados Unidos da América. Esse contraste ocorre entre uma tradição de pesquisa européia e uma americana de Psicologia Social Moderna. Segundo Jodelet (2001), a representação social é [...] uma forma de conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social. Igualmente, designada como saber de senso comum ou ainda saber ingênuo, natural, esta forma de conhecimento é diferenciada, entre outras do conhecimento cientifico. O termo representação social surgiu com Moscovici, no campo da Psicologia Social, porém a origem desse conceito provém de estudos realizados por Durkheim, no campo da Sociologia, sob a denominação de representação coletiva. Em 1912, quando publica “As formas elementares da vida religiosa”, ele elabora o conceito de representações coletivas, em que propõe um conjunto sistemático de elementos que tentam explicar uma multiplicidade de fenômenos sociais (Nóbrega, 2001). Do ponto de vista de Durkheim, as representações coletivas abrangiam uma cadeia de formas intelectuais que incluíam ciência, religião, mito, modalidades de tempo e espaço, etc. de fato, qualquer emoção ou crença que ocorresse dentro de uma comunidade, estava incluída. Nesse sentido, Moscovici (2003) alerta que isso representa um sério problema, pois, segundo 63 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ele, pelo fato de se querer incluir demais, inclui-se muito pouco: querer compreender tudo é perder tudo. A noção durkheimiana classifica e opõe as representações coletivas às representações individuais, considerando que o pensamento social possui uma matéria e estados específicos que somente podem ser interpretados por fatores outros. Para Durkheim, as representações coletivas têm suas leis próprias, e pertence à outra natureza, que é diferenciada do pensamento individual. Segundo Nóbrega (op cit.), a oposição entre o individual e o coletivo, tanto marca a falha de Durkheim sobre a noção das representações coletivas, como explica o fato de que esse conceito tenha sido negligenciado pelos estudiosos durante muito tempo. 4.1 UMA ABORDAGEM DIMENSIONAL: Já Moscovici (1978) busca explicar como os pensamentos se estruturam e se organizam em relação ao contexto social. Para tanto, ele acrescenta novos elementos às idéias contidas na teoria da representação coletiva, fazendo com que a noção de representação social se situe na fronteira entre a psicologia e a sociologia. Moscovici (2003) afirma que um grande estímulo ao seu estudo das representações sociais foi a necessidade de reabilitar o conhecimento do senso comum, o qual está fundamentado nas experiências cotidianas, na linguagem e nas práticas sociais. No período da Guerra, o autor começou a preocupar-se com o impacto da ciência na cultura das pessoas. Na época, defendia-se, na sociedade, que o conhecimento do senso comum era contaminado, errado e deficiente; ele reagiu a essa idéia, enfatizando a importância do senso comum. Nesse sentido, Moscovici assinala algumas diferenças entre o universo retificado, âmbito do conhecimento científico, e o universo consensual, do qual faz parte o conhecimento 64 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. do senso comum. Enquanto, o primeiro tenta estabelecer explicações do mundo, imparciais e independentes das pessoas, procurando apoiar-se no que considera fatos puros; o segundo prospera através da negociação e da conversação, apoiando-se na memória coletiva e no consenso. A representação social refere-se à maneira do indivíduo pensar e interpretar o cotidiano, ou seja, constitui-se em um conjunto de imagens, dotado de um sistema de referência que o permite interpretar sua vida e a ela dar sentido. A elaboração e funcionamento de uma representação podem ser compreendidos através dos processos de objetivação e ancoragem, que compreendem a imbricação a articulação entre a atividade cognitiva e as condições sociais em que são forjadas as representações. Jodelet (2001) afirma que, de acordo com a Teoria das Representações Sociais, a objetivação é o processo pelo qual o indivíduo reabsorve um excesso de significações, materializando-as, ou seja, é um processo de construção formal de um conhecimento, pelo indivíduo. Já a ancoragem, como instrumento do saber, é uma modalidade que permite compreender como os elementos de representação não só exprimem relações sociais, mas também contribuem para construí-las. A ancoragem, portanto, assegura o elo entre a função cognitiva de base da representação e a sua função social, bem como fornece à objetivação os elementos imaginativos para servir na elaboração de novas representações. Segundo Moscovici (2003), a objetivação une a idéia de não-familiaridade com a de realidade, torna-se a verdadeira essência da realidade. Objetivar é descobrir a qualidade icônica de uma idéia, ou ser impreciso; é reproduzir um conceito em uma imagem. Sobre a ancoragem o autor afirma que é um processo que transforma algo estranho, perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada. (p. 61). 65 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. O processo de objetivação é organizado sob três condições estruturantes: construção seletiva, esquematização estruturante e naturalização. A ancoragem também é organizada sob três condições estruturantes: a atribuição de sentido, a instrumentalização do saber e o enraizamento no sistema do pensamento. Inicialmente, conforme o modelo proposto por Moscovici, as representações sociais possuíam duas funções: formação de condutas e orientação das comunicações sociais. Posteriormente, Abric (1994) acrescentou outras duas funções às representações, justificadas pela evolução das pesquisas realizadas a propósito das cognições e práticas sociais. Foram elas: a função identitária, que permite salvaguardar a imagem positiva do grupo e sua especificidade, e a função justificadora, que permite aos atores manterem ou reforçarem os comportamentos de diferenciação social, nas relações entre grupos (Nóbrega, 2001). Segundo Vala e Monteiro (2004), as representações sociais apresentam uma dimensão funcional e prática, que acaba por ser evidente na organização dos comportamentos, das atividades comunicativas, na argumentação e na explicação cotidianas e na diferenciação dos grupos sociais. Moscovici (2003) classifica e analisa os três tipos de sistemas indutores das representações: difusão, propagação e propaganda. A primeira pode ser caracterizada por uma indiferenciação dos laços entre o emissor e o receptor da mensagem. Ao contrario, da segunda que exige uma organização mais complexa das mensagens. Essa modalidade de comunicação tem propriedades semelhantes às do conceito de atitude (Nóbrega, 2001). E a terceira, diferentemente das duas anteriores, é uma forma de comunicação de um grupo cuja dinâmica encontra-se inscrita nas relações sociais conflituosas e que tem por objetivo engendrar a ação relativa à representação que ele se faz do objeto do conflito. 66 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 4.2 UMA ABORDAGEM ESTRUTURAL: Para Abric (1998, 2003), as representações sociais são orientadas por um duplo sistema (central e periférico), que permite compreender uma das características básicas das representações, que pode parecer contraditória: sendo, simultaneamente, estáveis e rígidas, por serem determinadas por um núcleo central, profundamente, ancorado no sistema de valores partilhado pelos membros do grupo; e móveis e flexíveis por se abastecerem das experiências individuais, integrando os dados do vivido e da situação específica, tomando como referência à evolução das relações e das práticas sociais, nas quais se inserem os indivíduos ou os grupos. Enquanto uma modalidade de conhecimento particular, a representação social tem por função a orientação de comportamentos e a facilitação da comunicação entre os indivíduos, considerando a indissociabilidade entre a experiência subjetiva e a inserção social dos sujeitos. Por conseguinte, as representações sociais dos estudantes de Psicologia pesquisados sobre os transtornos psicoafetivos podem ser compreendidas como uma interpretação coletiva da realidade vivida e falada por aquele grupo social, direcionando comportamentos e comunicações. Desse modo, identificar as representações sociais acerca da depressão e do suicídio é compreender as formas que as pessoas utilizam para criar, transformar e interpretar essas problemáticas, vinculadas à sua realidade. Como também conhecer seus pensamentos, sentimentos, percepções e experiências de vida compartilhadas; destacadas nas modalidades diferenciadas de comunicação, de acordo com o contexto cultural e a classe social a que pertencem; e as instituições às quais se está vinculado, prolongando-se para além das dimensões intrapsíquicas e concretizando-se em fenômenos sociais palpáveis de serem identificados e mapeados (Coutinho, 2005). 67 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Estudar esses dois eixos temáticos ancorados nas Representações Sociais significa estudá-los não apenas através dos aportes teóricos, normativos e científicos, mas com vistas a um novo olhar, voltado para a construção de um conhecimento prático e compartilhado por um determinado grupo de pertença. (Coutinho, 2005; Coutinho e Saldanha, 2005). Apreender as representações sociais dos acadêmicos de Psicologia acerca da depressão e do suicídio significa compreender os processos de classificação e nomeação que permitem entender os transtornos psicoafetivos do anonimato e ancorá-los numa rede de significação, a partir do consenso desse grupo. Em seu ambiente social, são veiculadas as crenças, opiniões, sentimentos acerca desses eixos temáticos entre o grupo de pertencimento. Para se obter a estruturação dos elementos do núcleo central e periférico, utilizou-se a Teoria do Núcleo Central, considerada como uma proposição teórico-metodológica complementar ao estudo de Moscovici, de modo a torná-lo mais heurístico, tanto na prática social quanto na pesquisa. Essa teoria propõe-se a identificar e analisar os processos que determinam as representações sociais, enquanto conjuntos sócio-cognitivos organizados e estruturados em dois subsistemas: um sistema central e um sistema periférico (Abric, 1998; 2003). O conhecimento do conteúdo de uma representação social não é suficiente para definila, sendo necessário identificar os elementos centrais – o núcleo central. Este possibilita à representação, sua significação, determina os laços que unem entre si os elementos do conteúdo e que regem sua evolução e sua transformação. É um elemento unificador e estabilizador das representações sociais (Abric, 2003). O outro subsistema estrutural – o sistema periférico – organizado em torno do primeiro; funciona na periferia da representação social, servindo de “pára-choque entre uma realidade que a questiona e um núcleo central que não deve mudar facilmente” (Flament, 2001, p. 178). Essa afirmação assinala que, para ser protegido o núcleo central e para ser assegurada a estabilidade de uma representação social, 68 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. na sua periferia, comportam as verbalizações mais subjetivas e menos, freqüentemente, proferidas pelo grupo de pertença acerca do objeto representacional; e por esse motivo, absorvidos pelos esquemas periféricos. Desse modo, esse sistema serve de dispositivo para amortecer o confronto entre a realidade subjetiva e os elementos consensuais, constitutivos do núcleo central de uma representação social. As representações sociais referem-se à maneira como as pessoas pensam e interpretam o cotidiano, constituindo um conjunto de imagens, dotado de um sistema de referência que permite interpretar sua vida e a ela dar sentido, compartilhando sua interpretação com seu meio social e cultural (Coutinho e Saldanha, 2005). Desse modo, acessar as representações sociais da depressão e do suicídio é procurar compreender as formas que as pessoas utilizam para criar, transformar e interpretar essas problemáticas vinculadas à sua realidade. De acordo com Coutinho (2005), é também [...] conhecer seus pensamentos, sentimentos, percepções e experiências de vida compartilhadas, destacadas nas modalidades diferenciadas de comunicação, de acordo com o contexto cultural e a classe social a que pertencem e as instituições às quais se está vinculado, prolongando-se para além das dimensões intrapsíquicas e concretizando-se em fenômenos sociais palpáveis de serem identificados e mapeados (p.26) Compreende-se aqui que, estudar as representações sociais é buscar conhecer o modo como um grupo humano, neste estudo os estudantes de Psicologia, constroem um conjunto de saberes acerca de determinado objeto, no caso a depressão e o suicídio. O referencial teórico da Teoria das Representações Sociais é aqui adotado, enfatizando um saber real, contribuindo para o entendimento de como indivíduos, futuros profissionais da psicologia, através de suas representações, dão significado às temáticas pesquisadas. 69 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 4.3 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA DEPRESSÃO E DO SUICÍDIO. Os fenômenos depressão e suicídio vêm se apresentando como alvos freqüentes de estudos acerca das representações sociais elaboradas pelos mais diversos grupos de afiliação. Observou-se na literatura existente um número bem mais acentuado de pesquisas que investigaram as representações do transtorno depressivo em relação ao comportamento suicida. Os tópicos a seguir descrevem alguns estudos realizados utilizando-se como aporte teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. As representações sociais da depressão; Coutinho (2005) realizou uma investigação acerca das representações sociais da depressão elaboradas por crianças com sintomatologia. Para tanto, utilizou como instrumento de screening o Inventário de Depressão Infantil (CDI), e em seguida fez uso da Técnica de Associação Livre de Palavras, Entrevistas semi-estruturadas e do Desenho-estória com Tema. Através da análise dos dados, a autora percebeu que para as crianças pesquisadas representaram a depressão como uma doença causada pela tristeza, dor e separação, enquanto que o ser depressivo foi representado como uma pessoa nervosa, que chora e não interage. Um outro estudo foi realizado por Coutinho et al (2003) em escolas públicas e grupos de conveniência para idosos, na cidade de João Pessoa, PB. Participaram da amostra 32 crianças e 31 idosos. Foram utilizados os instrumentos: Inventário de Depressão de Beck BDI, Inventário de Depressão Infantil – CDI, Entrevistas Semi-Estruturadas e a Técnica de Associação Livre de Palavras. Os resultados apontaram convergências e divergências quanto às concepções, causas e tratamentos da depressão. Observou-se que nas representações dos atores sociais elementos figurativos como: a tristeza e a morte, oriundos de situações traumáticas, carências existenciais, isolamento social e sentimentos de rejeição. Percebeu-se 70 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. que ambos os grupos apreenderam suas representações não apenas pelo conhecimento teórico e comunicação informal, mas também pelo conjunto de problemas imediatos que se defrontam na vida cotidiana. Na pesquisa realizada por Barros et al (2006), que teve como objetivo apreender as representações sociais da depressão elaboradas por adolescentes inseridos no contexto do ensino médio, os resultados indicaram que os grupos apresentaram algumas divergências, sendo a mais significativa delas relacionadas às causas da depressão. Os adolescentes da escola pública atribuíram esta patologia à causas mais voltadas à dimensão psicossocial, objetivadas em fatores concretos oriundos das inibições sociais e econômicas. Diferentemente, os adolescentes da escola privada atribuíram às causas da depressão a dimensões afetivas e psicológicas. Fonseca (2007), objetivou estudar, através do suporte teórico – metodológico das Representações Sociais (RS), a depressão sob o ponto de vista dos estudantes universitários dos cursos de Psicologia e Medicina. A forma como os participantes representaram a doença foi diferenciada: para os estudantes do primeiro curso foram evidenciados os fatores emcocionais, enquanto para o segundo os fatores orgânicos foram mais comumente apontados como determinantes da depressão. Um estudo desenvolvido por Monteiro, Coutinho e Araújo (2007), teve como objetivo apreender as representações sociais da depressão elaboradas por adolescentes com e sem sintomatologia depressiva no contexto do ensino médio em escolas públicas e privadas. Utilizaram o Inventário de Depressão Infantil - CDI no rastreamento da amostra e o teste de associação livre de palavras entre os 210 participantes.Os resultados indicaram que as representações sociais elaboradas pelos estudantes sem sintomatologia ancoram a depressão na morte e na dor, ao passo que os adolescentes com sintomatologia depressiva basearam-se na solidão e na droga. Esses resultados sugerem que a depressão pode interferir 71 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. negativamente no cotidiano, nas atividades escolares, na auto-estima e na sociabilidade na adolescência. As representações sociais do transtorno depressivo também foram alvo de investigação no estudo de Santana (2007). Neste, os participantes foram idosos vinculados a instituições de curta e longa permanência, onde se observou que considerando-se os resultados de ambos os grupos, as representações sociais da sintomatologia da depressão foram ancoradas em elementos psicoafetivos e orgânicos, relacionados diretamente com a realidade social do contexto e das instituições onde se encontravam inseridos os participantes da pesquisa. Desta maneira, independente das diferenças individuais e/ou grupais, a depressão foi representada figurativamente como sendo sinônimo de doença, tristeza e dor na alma. Saraiva (2007) realizou sua investigação utilizando um tipo específico da depressão, a pós parto, objetivando apreender as representações sociais desta patologia elaboradas por mães puérperas com e sem sintomatologia. Tais representações denotaram uma aproximação com a concepção de depressão descrita tradicionalmente pela nosologia psiquiátrica. Comparado as manifestações registradas nas falas das puérperas, a autora constatou que o campo semântico que emergiu das mães com sintomatologia de depressão aglutinava poucos elementos consensuais, significando que, para representar a depressão, as mães deprimidas tiveram dificuldades em emitir palavras para expressarem este transtorno. As representações sociais do suicídio; Como já foi dito anteriormente as representações sociais do comportamento suicida tem sido pouco investigadas pela literatura especializada. Dentre os poucos estudos realizados encontra-se o de Igue, Rolim e Stefanelli (2002), que objetivou apreender as representações que os membros de uma equipe de enfermagem de uma instituição psiquiátrica possuía acerca do suicídio. Observou-se que os participantes representaram este fenômeno como um ato 72 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. decorrente de uma escolha própria, uma auto e hetero - agressão, causada por uma falta de perspectiva diante da vida. Araújo (2007) investigou as representações sociais da ideação suicida elaboradas por adolescentes inseridos no contexto escolar. A autora observou que, para os participantes, a ideação suicida mostrou-se consistentemente associada a fatores relacionados à depressão (sentimentos de desesperança e solidão).Percebeu-se também a associação do pensamento de morte à solidão, tragédia, raiva e também a palavra ajuda como e,elemento representativo para esse fenômeno. 73 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO V PERCURSO METODOLÓGICO - MÉTODO 74 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO V MÉTODO 5.1 TIPO DE ESTUDO O presente estudo trata de uma pesquisa de campo, ancorada em uma abordagem multimétodo de cunho qualitativo e quantitativo, fundamentado nos aportes teóricos e metodológicos das Representações Sociais. Qualitativo porque se fundamenta na pesquisa qualitativa, que segundo Gonzalez Rey (2002) debruça-se sobre o conhecimento de um objeto complexo: a subjetividade, cujos elementos estão implicados, simultaneamente, em diferentes processos constitutivos do todo, dos quais mudam em face do contexto em que se expressa o sujeito concreto. Ainda de acordo com o autor acima citado, a pesquisa qualitativa se diferencia da quantitativa por estar orientada à produção de idéias, ao desenvolvimento da teoria, e nela o essencial é a produção do pensamento, não o conjunto de dados sobre os quais se buscam significados de forma despersonalizada na estatística. O cunho quantitativo desta pesquisa diz respeito aos dados obtidos através do teste de Associação Livre de Palavras que serão processados pelos softwares Evoc e Tri-Deux-Mots, e interpretados por meio da Análise Fatorial de Correspondência (AFC). 5.2 LOCUS DO ESTUDO; O presente estudo foi realizado numa universidade pública do estado da Paraíba. 75 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 5.3 AMOSTRA; A amostra foi do tipo não-probabilística, intencional e acidental; constituída por 233 estudantes universitários do curso de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, de ambos os sexos, regularmente matriculados desde o 1º ao último período. A justificativa da amostra se deu mediante duas razões; a primeira refere-se a faixa etária dos participantes, predominantemente jovem, levando-se em consideração o significativo crescimento dos fenômenos pesquisados neste período do desenvolvimento. O outro motivo diz respeito à formação e atuação destes futuros profissionais da saúde, mais especificamente da saúde mental. 5.4 INTRUMENTOS; Para obtenção dos dados, foram utilizados os seguintes instrumentos: a Associação Livre de Palavras, o Questionário Sócio-demográfico, a Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), o Inventário de Depressão de Beck (BDI), bem como um questionário sóciodemográfico, contendo algumas informações sobre os participantes. 5.4.1 Técnica de Associação Livre de Palavras; O Teste de Associação Livre de Palavras, originalmente, desenvolvido por Jung na prática clínica, teve como objetivo realizar diagnóstico psicológico sobre a estrutura da personalidade do sujeito. Esse teste foi adaptado no campo da Psicologia Social por Di Giacomo (1981) e desde então vem sendo, amplamente, utilizado nas pesquisas sobre as representações sociais. 76 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Nóbrega e Coutinho (2003) destacam que, diferentemente dos objetivos clínicos de Jung, os pesquisadores em Representações Sociais visam identificar as dimensões latentes nas RS, através da configuração dos elementos que constituem a trama ou rede associativa dos conteúdos evocados em relação a cada estímulo indutor. O Teste de Associação Livre de Palavras é um tipo de investigação aberta que se estrutura através da evocação de respostas dadas a partir de um ou mais estímulos indutores. Estes devem ser previamente definidos em função do objeto a ser pesquisado ou objeto da representação, levando-se em consideração também as características da amostra ou sujeitos da pesquisa. 5.4.2 Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI); A Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI – Beck Scale for Suicide Ideation) foi validada aqui no Brasil por Cunha com et al (1997). É uma versão de auto-relato de outro instrumento clínico, a SSI, Scale for Suicide Ideation, apresentada por Beck, Kovacs e Weissman (1979). A SSI consistia num instrumento sistemático, que fornecia indicadores de risco de suicídio, num tipo de entrevista semi-estruturada. A BSI é constituída por 21 itens. Os primeiros 19 itens, apresentados com três alternativas de respostas, refletem gradações da gravidade de desejos, atitudes e planos suicidas. Os dois últimos itens, não incluídos no escore final, de caráter informativo, fornecem importantes subsídios sobre o paciente, a respeito do número de tentativas prévias de suicídio e quanto à seriedade da intenção de morrer na última delas. A BSI foi estruturada de forma a permitir que os cinco primeiros itens possam ser usados como triagem da ideação suicida. Assim sendo, se a resposta do examinado for 0 ao grupo de afirmações 4 – “indicando ausência de intenção ativa” – ou ao grupo de número 5 – “indicando evitação de morte, se confrontado com uma situação ameaçadora para a vida” – 77 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ele deverá ser orientado a passar imediatamente ao item 20, deixando de dar resposta aos 14 seguintes (Cunha, 2001). Tais itens são mais específicos, a respeito de planos e atitudes, com uma intenção suicida subjacente. Caso tenha havido qualquer escolha diferente de 0, no item 4 ou 5, o examinando fará escolhas referentes aos grupos de afirmações dos itens 6 a 19. Quanto ao item 20, deve ser respondido por todos os examinandos, tenham ou não preenchido os 14 itens anteriores. Já o item 21 só será respondido por sujeitos com história de alguma tentativa prévia de suicídio. 5.4.3 Inventário de Depressão de Beck (BDI); Outro instrumento a ser utilizado é o Inventário de Depressão de Beck (BDI). O BDI (Beck Depression Inventory) é a sigla pela qual é, universalmente, conhecido o instrumento Inventário de Depressão, para medida da intensidade da depressão, um dos primeiros recursos dimensionais desse tipo. O BDI foi, originalmente, criado por Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh (1961) e revisado por Beck, Rush, Shaw e Emery (1979/1982). É uma escala de auto-relato, de 21 itens, cada um com quatro alternativas, subentendendo graus crescentes de gravidade da depressão, com escores de 0 a 3. (Cunha, 2001). O BDI é indicado para sujeitos de 17 a 80 anos, embora citem a existência de pesquisas desenvolvidas aquém e além desse período etário. Também, na literatura, encontram-se varias referências a estudos em amostras de adolescentes. 78 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 5.4.4 Entrevistas em Profundidade; Foram realizadas 20 (vinte) entrevistas em profundidade, também conhecidas como entrevistas abertas, que segundo Minayo (1998a), é aquela em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto, sem respostas ou condições prefixadas pelo pesquisador. De acordo com a autora, esse tipo de entrevista não é, simplesmente, um trabalho de coleta de dados, mas uma situação de interação social entre o pesquisador e o entrevistado. Trata-se de uma condição de aprofundamento de uma relação intersubjetiva, em que o afetivo, o existencial, o contexto do dia-a-dia, as experiências e a linguagem do senso comum são condições essenciais para apreender o objeto de um estudo qualitativo (Minayo, 1998a, p. 124). 5.5 ASPECTOS ÉTICOS; Considerando os aspectos éticos referentes à pesquisa envolvendo seres humanos, o presente estudo foi submetido à avaliação, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba. 5.6 PROCEDIMENTO PARA COLETA DOS DADOS; A fase de coleta dos dados foi realizada nos meses de novembro e dezembro de 2006, de forma coletiva a todos os participantes. Foi feito um contato prévio com os professores, que concordaram em ceder um tempo de suas aulas para que os alunos participassem da pesquisa em sala de aula. Os estudantes foram previamente informados a respeito dos objetivos e procedimentos da pesquisa, bem como, da confiabilidade dos dados e do anonimato da sua colaboração. Em 79 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. seguida, foi solicitado que assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo com as normas da Resolução 196/96 sobre Pesquisa Envolvendo Seres Humanos. Os instrumentos foram utilizados na seguinte ordem: Teste de Associação Livre de Palavras (ALP), Questionário Sócio-demográfico, BDI – Inventário de Depressão de Beck, e por fim, a BSI – Escala de Ideação Suicida de Beck. Quanto às entrevistas, estas foram realizadas de maneira individual, aleatoriamente, sem levar em consideração os resultados apreendidos pelos instrumentos anteriores. Também foi solicitado que assinassem o Termo de Consentimento Livre e esclarecido, sendo as entrevistas gravadas com o devido consentimento dos participantes. 5.7 ANÁLISE DOS DADOS; 5.7.1 Análise da Técnica de Associação Livre de Palavras; Os dados obtidos através do teste de Associação Livre de Palavras foram processados por dois softwares: o Evoc e o Tri-Deux-Mots. Antes dos dados serem lançados nos softwares, foram realizadas etapas sucessivas de organização do material coletado. Cada etapa caracteriza-se da seguinte forma: Elaboração do Dicionário: O dicionário é formado a partir da digitação de todas as respostas dos participantes referentes aos três estímulos indutores. Organização de Categorias: A organização das categorias dá-se a partir de critérios de similaridade semântica entre as palavras. O agrupamento das palavras com similaridade semântica tem a função de evitar a redundância e torná-las, estatisticamente, significativas. Banco de Dados: O banco de dados é construído a partir de todas as variáveis fixas e de opinião referentes a cada estímulo indutor, evocadas pelos participantes. 80 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Análise da Técnica de Associação Livre de Palavras através do software TriDeus-Mots O Tri-Deux-Mots (Cibois, 1998) compreende um conjunto de cinco programas computacionais, Impmot, Tabmot, Ecapem, Anecar e Planfa, que, mediante o seu processamento, possibilita a representação gráfica da atração e do distanciamento obtidos entre as variáveis fixas, identificadas pelo Questionário sócio-demográfico e as variáveis de opinião, obtidas pelas respostas dos participantes aos estímulos indutores coletados pela técnica de Associação Livre de Palavras. Esse conjunto de programas computacionais revelase bastante apropriado para o tratamento de questões abertas, questões fechadas e associação livre de palavras (Oliveira; Amâncio; Sampaio, 2001). Os dados foram interpretados por meio da análise fatorial de correspondência (AFC). Esse procedimento fornece uma representação gráfica composta por eixos ou fatores (F1 e F2), que revelam a atração obtida entre as variáveis fixas e as de opiniões, que são formadas pelas respostas de associação do sujeito, face aos estímulos indutores, que foram: depressão (Estímulo 1), suicídio (Estímulo 2) e eu mesmo (Estímulo 3). Análise da Técnica de Associação Livre de Palavras através do software EVOC O outro programa computacional utilizado para processar os dados apreendidos pela técnica de Associação Livre, o Evoc (Vergés, 2002), compreende um conjunto de 16 programas informatizados, que permite a identificação dos temas que emergem do núcleo central e do sistema periférico das representações sociais, a partir das respostas a cada um dos estímulos indutores, de acordo com Abric (1998) e Sá (1998). A partir do banco de dados construído para o processamento do Tri-Deux-Mots, aproveitou-se a mesma disposição de variáveis fixas e de opinião utilizadas; e foram 81 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. elaborados três bancos de dados correspondentes ao conjunto de palavras emitidas, a partir de cada um dos três estímulos indutores. Após a preparação do banco de dados, foi processado o software, de modo a realizar uma análise lexicográfica, demonstrando, graficamente, as palavras pertencentes ao núcleo central e ao sistema periférico das representações sociais. É identificada à freqüência de aparecimento dos termos evocados e a ordem de aparecimento das respostas registradas. O primeiro lugar é reservado para a evocação preferida pelo participante; e os demais lugares seqüenciais são, automaticamente, estabelecidos pelo programa, obedecendo à ordem da emissão das respostas (o segundo lugar é a primeira resposta dada pela participante e assim por diante). O gráfico construído permite o estabelecimento de quatro quadrantes, representados num esquema figurativo, em que podem ser identificadas. No quadrante superior esquerdo, as evocações que, provavelmente, constituem parte do núcleo central. Já no inferior direito, as evocações que provavelmente pertencem ao sistema periférico, enquanto que as demais evocações são consideradas como intermediárias e merecedoras de interpretação dentro do contexto dos resultados obtidos. Entre os elementos periféricos ocorre o inverso, com as palavras evocadas com menor freqüência e de pouco preferência. Os elementos intermediários apresentam variações nesses valores, com as palavras contidas no quadrante inferior esquerdo tendo uma freqüência de evocação inferior à freqüência média das palavras e as mais preferidas, ao passo que o quadrante superior direito possui uma freqüência maior que a freqüência média, combinada com as evocações menos prioritárias. 82 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 5.7.2 Análise do BDI – Inventário de Depressão de Beck; O Inventário de Depressão de Beck (BDI) foi utilizado para identificar a presença da depressão nos estudantes, bem como avaliar a severidade desse transtorno. Segundo Cunha (2001), os critérios de corte para os diferentes níveis de depressão são os seguintes: 0-9 depressão mínima; 10-16 depressão leve; 17-29 depressão moderada; 30-63 depressão severa. A autora citada ressalta, porém, que os pontos de corte podem variar conforme o propósito do examinador e a amostra. 5.7.3 Análise da BSI – Escala de Ideação Suicida de Beck; Nos casos que, em resposta ao item 4 ou 5, o sujeito revelar a existência de alguma intenção suicida, respondendo, portanto, aos itens 6 a 19, pode-se avaliar a gravidade da ideação suicida, somando os escores dos itens individuais (de 1 a 19) e obtendo um total. De acordo com Cunha (2001), os itens 20 e 21 são meramente informativos e não são recomendados pontos de corte específicos. A presença de qualquer escore diferente de 0, em qualquer item, revela a existência de ideação suicida. A BSI possibilita a análise sob dois pontos de vista: a) a presença ou não da ideação suicida; e b) a intensidade com que cada indivíduo deseja morrer, se tem intenções, planos detalhados, ou se tem em vista algum método, preparando-se para chegar à execução de um ato suicida e, naturalmente, o grau com que admite isso. 83 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 5.7.4 Análise das Entrevistas Todas as entrevistas foram gravadas mediante permissão concedida, anteriormente, pelo participante. Após a gravação de todas as entrevistas, as narrativas foram transcritas e os conteúdos apreendidos foram analisados por meio da análise de conteúdo temático. De acordo com Bardin (2002), a análise de conteúdo constitui: um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens... (p. 42). Segundo a autora citada, a análise das entrevistas deve seguir a ordem das etapas descrita a seguir. A primeira, de constituição do corpus, foi formada pelos textos transcritos das entrevistas; em seguida, foi feita a leitura flutuante, livre para tornar possível detalhar, tornando-as mais orientadas e concisas, o que permitiu a composição das Unidades de Análise, que consiste na emersão e definição das categorias emergentes e empíricas, codificadas e validadas, internamente, por dois pesquisadores que trabalham com o mesmo referencial teórico-metodológico. Destaca-se que as categorias empíricas foram elaboradas a posteriori, para que fosse possível a apreensão de todos os conteúdos que emergiram a partir das narrativas dos participantes, transcritas das entrevistas. Depois da composição das unidades temáticas, foi a vez da codificação e recortes, por meio do agrupamento do material decomposto em subcategorias e categorias simbólicas e, finalmente, da descrição das categorias identificadas. 84 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO VI RESULTADOS E DISCUSSÃO 85 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CAPÍTULO VI RESULTADOS E DISCUSSÃO 6.1 PERFIL DOS PARTICIPANTES; Em conformidade ao segundo objetivo específico, foi traçado um perfil dos participantes, com a finalidade de se conhecer, de forma mais aprofundada, aspectos relacionados à vida dos atores sociais. Esse perfil encontra-se descrito na tabela 1. Tabela 1: Perfil sócio-demográfico dos estudantes do curso de Psicologia (N=233). 86 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 6.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS APREENDIDOS PELA TÉCNICA DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS – TALP. 6.2.1 Análise e discussão dos dados obtidos pelo software Tri-Deux-Mots; Os dados coletados através da Técnica de Associação Livre de Palavras foram processados pelo software Tri-Deux-Mots, e analisados pela Análise Fatorial de Correspondência (AFC), que oferece uma leitura gráfica das variações semânticas na organização do campo espacial; revelando aproximações e oposições das modalidades. É possível também apreender a atração entre as variáveis fixas (período do curso, faixa etária e sexo) e as de opinião, que correspondem às palavras evocadas pelos sujeitos para cada um dos estímulos utilizados («depressão», «suicídio» e «eu mesmo»). A análise dos resultados foi orientada pela leitura do gráfico a seguir: 87 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Figura 1 – Análise Fatorial de Correspondência das Representações Sociais da Depressão e do Suicídio. Em relação ao fator 1, no lado esquerdo do gráfico, em itálico, emergiu o campo semântico elaborado pelos estudantes dos últimos períodos do curso (7º, 8º, 9º e 10º períodos), que se auto-representaram como pessoas otimistas, que se encontram em processo de busca, o que lhes traz cansaço e ansiedade. A depressão foi representada como uma 88 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. tristeza, uma melancolia, que gera ansiedade, angústia, dor, apatia e incapacidade, podendo levar à morte. O suicídio também foi objetivado pelo elemento morte, sendo ele motivado por um sentimento de desesperança perante a vida. Observa-se que, apesar da vivência da transação entre o estudante e o profissional, estes universitários conservam o otimismo durante essa busca por sua identidade profissional. O cansaço a que os estudantes se referem, provavelmente, pode estar relacionado ao período no qual os dados foram coletados, ou seja, próximo ao término do período letivo da universidade. Percebe-se que a depressão foi ancorada no conhecimento erudito oriundo da nosologia da psicologia clínica e da psicanálise. O elemento morte, presente tanto na objetivação da depressão, quanto do suicídio, indica a existência de uma relação entre as representações sociais desses dois fenômenos. Ainda no fator 1, no lado direito, em oposição às respostas dos participantes matriculados nos últimos períodos do curso, emergiu o campo semântico elaborado pelos estudantes com idades entre 23 e 27 anos, que se auto-representaram como pessoas extrovertidas, amorosas e ligadas à família. A depressão foi representada como uma tristeza, enquanto que o suicídio representa uma fuga, uma desistência da vida diante de uma desilusão. Observa-se que esse grupo de afiliação se auto-representou ancorando-se em manifestações sociais, afetivas e comportamentais, caracterizando uma auto-imagem positiva. A representação dada à depressão é oriunda da nosologia clínica, destacando-se seu principal elemento, a tristeza. O suicídio, representado como uma fuga, e pode ser compreendido como uma saída encontrada pelo individuo para a solução de seus problemas. Em relação ao fator 2, na parte superior, emergiu o campo semântico elaborado pelos estudantes dos primeiros períodos (1º, 2º e 3º período), que se auto-representaram como estudantes, tímidos e leais. A depressão foi representada como uma doença, causadora de 89 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. medo, angústia e escuridão, decorrentes de uma desilusão na vida. O suicídio também foi representado como uma doença, decorrente de um desequilíbrio, que causa medo e tristeza, caracterizando o fim da vida. Percebe-se que as auto-representações desse grupo de afiliação foram ancoradas em manifestações próprias de acadêmicos de início de curso de graduação, enfocando sua timidez, lealdade e papel social de estudante. Observa-se também que, para os universitários do inicio do curso, as representações da depressão e do suicídio são bastante semelhantes, uma vez que os atores sociais utilizaram evocações similares para representarem esses dois fenômenos. Por contraste, na parte inferior do fator 2, surgiu o campo semântico constituído pelos estudantes do 4º, 5º e 6º períodos, que se auto-representaram como esforçados, perseverantes e estressados. A depressão foi representada como uma solidão, causadora de um sofrimento psíquico, que se deve buscar ajuda. O suicídio foi representado como um ultimato, problema para o qual se faz necessário o apoio da família. Observa-se que esses estudantes se auto-representaram ancorando-se em manifestações decorrentes de sua dinâmica acadêmica, indicando dificuldades nesse percurso, mas também destacando vontade de seguir em frente. A depressão e o suicido foram ancorados nos sintomas clínicos, onde se enfoca para os dois fenômenos a necessidade de ajuda, no caso do suicídio, uma ajuda mais específica, a da família. Mais uma vez, percebemse, através das evocações dadas pelos atores sociais, semelhanças entre as representações sociais dos dois estímulos. 90 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 6.2.2 Análise e discussão dos dados obtidos pelo software EVOC; A partir dos dados obtidos no Teste de Associação Livre de Palavras e do seu processamento pelo EVOC, foi possível elaborar as Figuras 1 e 2, contendo as palavras evocadas, a sua freqüência e a ordem média de aparecimento das respostas. Figura 2 – Quadrante de distribuição das evocações livres dos estudantes de Psicologia no Teste de Associação Livre de Palavras para o estímulo-indutor “depressão” (N=233). De acordo com a Figura 2, para o estímulo-indutor «depressão», cada palavra evocada foi registrada com sua respectiva freqüência acima ou abaixo de 10; e ordem de aparecimento da resposta acima ou abaixo de 2,6. As respostas dos participantes indicaram, no quadrante superior esquerdo, no seu núcleo central, as evocações «tristeza, dor, sofrimento e ruim». Os sentimentos de tristeza, sofrimento e dor psíquica, enquanto elementos unificadores e estabilizadores das representações sociais acerca da depressão, expressa o sofrimento psíquico que acompanha a vivência subjetiva e social dos acadêmicos investigados, que se relacionam 91 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ao senso comum, já identificados em outros grupos de pertencimento, como crianças, adolescentes, adultos jovens. Essa representação social acerca da depressão está ancorada no conhecimento erudito, manifesto pela nosologia psiquiátrica ou pela psicologia clínica, cujos estudos remetem às descrições internacionais da depressão, enquanto transtorno psico-afetivo ou do humor, a exemplo, do que apresenta a CID-10 da Organização Mundial da Saúde (WHO, 2007) combinada com o DSM -IV, da Associação Psiquiátrica Americana (APA, 1994). A outra evocação que emerge, no núcleo central da representação social da depressão, ao lado da tristeza, do sofrimento e da dor, refere-se ao elemento «ruim»; que expressa uma dimensão afetivo-atitudinal em relação ao sofrimento psíquico, denunciando duas vivências possíveis experimentadas pelo grupo investigado: por um lado, a indireta informação de que conhecem a dor do sofrimento psíquico e, por outro lado, a presença de um sentimento de alteridade, uma vez que, muito embora não tenham experimentado esse transtorno psicoafetivo, eles se identificam, na relação com o seu grupo de pertença, com os colegas depressivos, representando socialmente esse sofrimento psíquico. Os sistemas periféricos próximos e distantes, localizados, respectivamente, nos quadrantes superior direito/inferior esquerdo e no quadrante inferior direito da Figura 2, parecem desdobrar o conceito unificador de «tristeza, dor e sofrimento», nos elementos denotativos de «angústia, ansiedade, estresse», que revelam o conjunto de sintomas presentes no sentimento de abandono («solidão, vazio, isolamento, ausência e carência»), no «choro», associado aos elementos de «descrença, frustração e medo», e às queixas psicossomáticas, do tipo «doença, fadiga e desânimo». O elemento «remédio» pode sinalizar a objetivação da depressão ancorada no seu tratamento, principalmente, dando ênfase às manifestações físicoorgânicas do sofrimento psíquico. Essa constatação também vem reforçar a convergência do 92 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. senso comum com os estudos eruditos, as pesquisas científicas, que manifestam conceituações da vivência do adoecer psíquico, situadas na esfera físico-orgânica. Destaca-se, ainda, nesse conjunto de evocações, que emergiram do estímulo “depressão”, que os estudantes pesquisados, consensualmente, associaram o sofrimento e a dor psíquica ao elemento «suicídio», presente no sistema periférico próximo da estrutura representacional da depressão. Figura 3 – Quadrante de distribuição das evocações livres dos estudantes de Psicologia no Teste de Associação Livre de Palavras para o estímulo-indutor “suicídio” (N=233). De acordo com a Figura 3, para o estímulo-indutor «suicídio», cada palavra evocada foi registrada com sua respectiva freqüência acima ou abaixo de 10, e com a ordem de aparecimento da resposta, acima ou abaixo de 2,4. As respostas dos estudantes de Psicologia apresentaram, no núcleo central, o elemento «morte», ancorando, portanto, a representação social do suicídio no comportamento suicida classificado por Werlang, Borges e Fensterseifer (2005), na sua maior gravidade: o ato consumado. Ainda, na centralidade dessa representação 93 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. social, o elemento «morte» vem acompanhado das objetivações «desespero, depressão e fraqueza», que assinalam a ancoragem em fatores desencadeantes do ato suicida, focalizados no estado de sofrimento psíquico, de desesperança, de angústia e de fraqueza do ser suicida. Observa-se que, eles centralizam e estabilizam a representação social do suicídio, apresentando uma dimensão valorativa e atitudinal ao suicida, atribuindo-lhe uma condição negativa de um ser fraco («fraqueza»). Com respeito ao vocábulo fraqueza, chamam a atenção os dois sentidos possíveis para significado do ser fraco. Por um lado, percebe-se um estado de qualidade de fraco, enquanto: falta de força, de vigor, de solidez ou energia; debilidade, fragilidade, desânimo e desalento. Nesse sentido, portanto, a fraqueza deve ser entendida como uma manifestação, predominantemente, orgânica. De outro lado, pode significar uma avaliação negativa na direção de uma falha ou defeito, como covardia, falta de obstinação, ou seja, o lado fraco de um caráter de um ser, o que revela uma propensão para ceder a sugestões, imposições ou impressões. Fraqueza aqui deve ser encarada como uma manifestação psicológica. Essas duas esferas da representação social do suicídio, a partir da evocação «fraqueza», são corroboradas pelas manifestações valorativas de que o suicídio é um ato de «covardia e fuga», elementos presentes no sistema periférico próximo, ilustrado no quadrante superior direito da Figura 3. Nesse quadrante, ainda são evidenciados elementos psicoafetivos em que é ancorada a representação social da depressão («tristeza, dor, angústia, solidão e sofrimento»), assim como a expressão «loucura» componente da espera neuro-psíquica. Chama atenção a expressão «escolha» observada na periferia próxima ao núcleo central, denotando, provavelmente, uma interpretação da realidade psicossocial que envolve os adultos jovens universitários, enquanto, profundamente, nefasta e sofrida, que naturaliza o senso comum do ato suicida, como uma preferência ou opção, ação eleita ou escolhida («escolha») diante do sofrimento e da dor psíquica que desbota ou desvanece o brilho da 94 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. existência desses estudantes de Psicologia. Nessa direção, compreendem-se as expressões «perda e luto», no contexto do prejuízo, do dano, da desgraça e do desaparecimento de um jovem no auge da sua mocidade, como conseqüência da concretização do ato suicida. A reação psicossocial a esse estado de morbidez, que acompanha os elementos representacionais do suicídio expressados pelos participantes, congrega palavras pouco consensuais, pois que agrupadas na periferia distante ilustrada no quadrante inferior direito da Figura 3, mas denotadoras de forte apelo de resistência: «nunca, desejo e vida». A menção à «família» parece resgatar os elos de vida que os trazem à realidade e os mantém vigilantes e escudados, frente aos impulsos destrutivos advindos do sofrimento psíquico. O «desamor» e a «punição» são os elementos aversivos que os protegem de pensamentos suicidas e da concretização do ato de atentar contra sua própria vida. As representações sociais acerca do suicídio parecem apontar para situações contrastantes, que oscilam entre a vida e a morte, possivelmente, sinalizando para uma tênue linha divisória que separa o viver e o morrer. Essa oscilação encontra-se presente na naturalização do suicídio, enquanto uma possibilidade muito próxima dos estudantes de Psicologia investigados, sugerindo a convivência com ideação suicida dentro do seu grupo de pertencimento. As evocações constantes dos sistemas central e periférico das representações sociais da «depressão» e do «suicídio» elaboradas pelos estudantes parecem demonstrar uma estrutura representacional semelhante e interligada. Este paralelo está posto uma vez que as objetivações registradas para o estímulo-indutor suicídio são, expressamente, carregadas do elemento «depressão», no núcleo central, e das próprias representações sociais desse objeto social, no sistema periférico que emergiu do estímulo suicídio «tristeza, dor e sofrimento». Por sua vez, esses últimos elementos constituem o núcleo central da representação social da depressão elaborada pelos participantes. 95 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Entretanto, de acordo com os elementos constantes do núcleo central dos dois objetos representacionais, observa-se que essas semelhanças e interligações apontam, ainda, para uma maior interdependência do suicídio com relação à depressão. Do ponto de vista da representação social da depressão, os atores sociais investigados evocaram o suicídio no seu sistema periférico. 6.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS APREENDIDOS PELO INVENTÁRIO DE DEPRESSÃO DE BECK – BDI. Em concordância com o terceiro objetivo específico, foi feito um levantamento para se investigar o índice epidemiológico da depressão nos alunos do Curso de Psicologia. Nestes, observou-se que dos 233 estudantes, 25 apresentaram pontuação acima do ponto de corte (16) proposto por Cunha (2001), o que representa um índice de 10,73% da amostra total, conforme demonstra a figura 4. 100 89,27 80 60 Sem sintomatologia Com sintomatologia 40 20 10,73 0 Figura 4: Percentagens de participantes com sintomatologia da depressão. 96 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. O BDI classifica os níveis de escores em quatro grupos: Depressão Mínima (0 a 9 escores); Depressão Leve (10-16); Depressão Moderada (17-29); Depressão Severa (30-63). Os resultados do Inventário de Depressão de Beck aplicado aos estudantes de Psicologia revelam que a maioria deles (71,67%) classifica-se no primeiro grupo, o qual não corresponde a um quadro de depressão, como pode ser verificado na figura a seguir. Nesta mesma, pode-se constatar que 17,6% dos estudantes estão na classificação de depressão leve, enquanto 7,73% classificam-se como depressão moderada. Observou-se também a ocorrência de sete casos de depressão severa, o que corresponde a 3% da amostra. 80 71,67 70 60 Depressão Mínima 50 Depressão Leve 40 Depressão Moderada 30 Depressão Severa 17,6 20 7,73 10 3 0 Figura 5: Freqüência de escores no Inventário de Depressão de Beck - BDI (N=233). Utilizando o ponto de corte proposto por Cunha (2001), o de 16 escores, observou-se um índice de 10,73% da amostra total, somando-se os estudantes com depressão moderada e severa. A tabela a seguir traça um perfil de acordo com os sintomas da depressão mais eminentes na população estudada, sendo possível, pois, assinalar as principais manifestações desse transtorno. 97 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Tabela 2: Freqüência de maiores escores do Inventário de Depressão de Beck - BDI (N=25). Os principais elementos representativos da depressão, encontrados nos participantes foram os relacionados à tristeza, à autocrítica, à insatisfação, à ideação suicida e ao sentimento de culpa. Observou-se que esses elementos são similares aos apontados pela nosologia psiquiátrica como principais sintomas da depressão. Observou-se também o aparecimento da ideação suicida, objeto de nossa investigação, como uma das características mais eminentes no quadro depressivo. A partir dos dados apreendidos pelo questionário sócio-demográfico foi possível traçar um perfil desses universitários que pontuaram no Inventário de Depressão de Beck (BDI), conforme demonstra a Tabela 3. De acordo com esse perfil, constatou-se que dos 25 estudantes com depressão, 20 (80%) eram do sexo feminino e 5 (20%) do sexo masculino. A maioria (92%) encontrava-se na faixa etária dos 18 aos 22 anos. Em relação ao estado civil, todos os estudantes afirmaram serem solteiros; e apenas 12% deles trabalhavam. No que se refere à renda familiar, observou-se que 8 estudantes (32%) possuíam renda de até 3 salários mínimos, 9 (36%) estudantes possuíam renda familiar entre 4 a 7, 8 (32%) afirmaram possuir renda entre 8 a 11. Quanto à habitação: 16% dos estudantes afirmaram 98 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. morar sozinhos; a maioria, ou seja, 44% moravam com os pais; 20% moravam com colegas e outros 20% possuíam outro tipo de moradia. Tabela 3: Perfil dos estudantes com depressão segundo o Inventário de Depressão de Beck - BDI (N=25). 99 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 6.4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS APREENDIDOS PELA ESCALA DE IDEAÇÃO SUICIDA DE BECK – BSI; Em conformidade ao quarto objetivo específico, o de identificar a presença da ideação suicida, nos estudantes de Psicologia, constatou-se mediante análise dos dados coletados pela Escala de Ideação Suicida de Beck, a presença da ideação suicida em 27 indivíduos, o que corresponde a 11% da amostra, conforme demonstra a figura 6. 100 89 80 60 Sem sintomatologia Com sintomatologia 40 20 11 0 Figura 6: Percentagem de participantes com ideação suicida.(N=233) Detalhando-se os dados apreendidos através do questionário sócio-demográfico, foi possível traçar um perfil específico desses indivíduos que apresentaram ideação suicida. Esse perfil encontra-se descrito a seguir na tabela 4. 100 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Tabela 4: Perfil dos estudantes com Ideação Suicida segundo a Escala de Ideação Suicida de Beck - BSI (N=27) Dos 27 estudantes que apresentaram ideação suicida, 63% destes eram do sexo feminino, e 37% do sexo masculino; a faixa etária da maioria (74,1%) encontrava-se entre 1822 anos de idade. Em relação ao período do curso, percebe-se que 30% dos estudante com ideação suicida encontravam-se matriculados nos primeiros períodos, 37% estavam cursando os períodos considerados do meio do curso (4º, 5º e 6º períodos) e 33% eram alunos concluintes ou pré-concluintes (a partir do 7º período). No que se refere ao estado civil dos participantes, observou-se que a quase totalidade dos participantes (96,3%) era solteira, e 88,9% não trabalhavam. Em relação à renda familiar desses estudantes observou-se que 11,1% possuíam renda familiar de até 3 salários mínimos, 44,4% de 4 a 7 salários mínimos e 44,4% de 8 a 11 salários mínimos. Importante ressaltar o valor do salário mínimo na época que era de R$ 350,00 (trezentos e cinqüenta reais). 101 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A respeito da habitação desses indivíduos com ideação suicida, percebeu-se que 11,1% residiam sozinhos, 40,7% com os pais, 33,3% com colegas e 14,8% afirmaram possuir outro tipo de habitação. Foi perguntado também no questionário sócio-demográfico, a título informativo, se os participantes conheciam, entre seus colegas universitários, alguém que já tivesse pensado e/ou tentado cometer o suicídio, onde se observou que 77,8% dos estudantes afirmaram positivamente. 90 80 77,8 Conhece alguém que já tenha pensado, tentado ou mesmo consumado o suicídio 70 60 50 40 30 22,2 20 10 Não conhece alguém que tenha pensado, tentado ou consumado o suicídio. 0 Figura 7: Percentagem de estudantes que conhecem entre seus colegas universitários alguém que já tenha pensado / tentado ou consumado o ato suicida. Através da análise dos dados apreendidos pela Escala de Ideação Suicida e, também, pelo Inventário de Depressão de Beck, pôde-se perceber que dos estudantes que apresentaram ideação suicida, a maioria (84,61%) apresentou também sintomatologia depressiva, seja ela leve, moderada ou severa. Entretanto, foi registrada a presença da ideação suicida em indivíduos que não apresentaram o transtorno depressivo, fato esse que corrobora com alguns estudiosos, como por exemplo, Solomon (2002) e Jamison (2002), no que tange a relação entre a depressão e o 102 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. suicídio como fenômenos para os quais não existe relação de causalidade, e sim de coexistência, um influenciando o outro. Tabela 5: Freqüência de ideação suicida conjuntamente com a depressão. (N=27) Os resultados, apreendidos por meio da Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI), permitiram não só detectar a presença ou não dos pensamentos suicidas, mas também possibilitou uma maior compreensão dos fatores a eles relacionados, como por exemplo, as razões ou motivos que cada indivíduo tem para desejar sua própria morte, os preparativos para uma possível concretização do ato e a intensidade com a qual esses pensamentos lhe vêem a mente. Em relação à duração da ideação suicida, a maioria dos participantes da pesquisa (67%) afirmou ter breves períodos com idéias de se matar, que passam rapidamente, e que esses pensamentos de morte ocorrem raramente (81,5%). Esses dados referem-se à intensidade da ideação suicida, que nessa população pode ser compreendida como fraca/leve. A gravidade e a duração dos pensamentos suicidas correlacionam-se com a probabilidade de tentativa de suicídio, que é, por sua vez, o principal fator de risco para o suicídio completo (Silva et al, 2006). No que se refere à aceitação, por parte dos estudantes, dos pensamentos de morte que lhes vem à mente, percebe-se que 55,6% da amostra declararam ter um julgamento imparcial sobre o ato suicida, revelando que não aceitam, nem rejeitam a idéia de se matar. Tal fato 103 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. demonstra que o suicídio é uma possibilidade cogitada por eles para a resolução de seus problemas atuais, representando uma saída frente às adversidades encontradas. A Organização Mundial de Saúde (2003) alerta, nesse sentido, que se torna preocupante quando o suicídio passa a ser a única alternativa para suas dificuldades. A maioria dos participantes (63%) afirmou ser capaz de se controlar quanto a cometer o suicídio, e 51,9% dos estudantes relataram que não chegariam a cometer o suicídio por causa da família, dos amigos, da religião ou de um possível dano por uma tentativa mal sucedida. Esses dados corroboram com o que afirma a literatura (Botega et al, 2006; Prieto e Tavares, 2005; Silva et al, 2006)) no que tange aos fatores de risco e de proteção, estando inclusas nestes últimos as pessoas com bons vínculos afetivos e familiares e que possuam algum tipo de religião. A respeito das razões que os participantes afirmaram ter para cometer o suicídio, observou-se que 48,1% dos estudantes declaram que essas se baseiam, principalmente, numa fuga de seus problemas, enquanto que para 40,7% as razões têm em vista influenciar os outros, e também representam uma maneira de solucionar seus problemas pessoais. Esses dados corroboram com o senso comum, verificados em estudos sobre as representações sociais do suicídio realizados por Vieira, Saraiva e Coutinho (2007). Aproximadamente, 60% dos participantes afirmaram não terem elaborado um plano específico sobre como cometeriam o suicídio. No que se refere ao método que utilizariam para concretizar esse ato, 63% dos estudantes relataram não terem acesso a um método ou a uma oportunidade de se matar. Entendendo que o ato suicida representa, ao mesmo tempo, um ato de coragem e de covardia, percebeu-se que os indivíduos mesmo apresentando desejo de pôr um fim à própria vida, não têm certeza se chegariam realmente a praticá-lo, pois 55,6% dos participantes afirmaram que não estavam certos de que teriam a coragem o a capacidade de se matarem, 104 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. enquanto 44,4% confessaram que não concretizariam o ato, ou seja, não chegaria a cometer o suicídio por não terem coragem, ou a capacidade necessária para tal ato, apesar da existência das ideações suicidas. No que se refere às expectativas futuras, 55,6% dos participantes relataram que esperam não fazer uma tentativa de suicídio, enquanto que 44,4% afirmaram que não estavam certos de que fariam uma tentativa. A respeito dos preparativos para a realização do ato suicida, observou-se que a grande maioria (85,2%) relatou não terem feito maiores preparativos para esse acontecimento, pois 77,8% disseram nunca terem chegado a escrever um bilhete suicida e também não terem tomado providências em relação ao que aconteceria depois que eles tivessem cometido o suicídio. Aproximadamente, 52% dos participantes afirmaram estar tentando evitar contar as pessoas sobre o seu desejo de se matar, provavelmente, devido ao fato de o suicídio ser considerado um tabu, mesmo nos dias atuais, representando motivo de vergonha, sinônimo de loucura ou insanidade mental. O último aspecto, investigado pela BSI, diz respeito às tentativas anteriores de suicídio, onde se observou que 59,3% dos participantes informaram nunca terem realizado uma tentativa de suicídio, 37% tentaram se matar uma vez e 3,7% tentaram cometer o suicídio mais de duas vezes ao longo da vida. Esses resultados mostram-se bastante preocupantes, uma vez que se sabe que a tentativa prévia de suicídio é considerada um fator bastante relevante para uma nova tentativa ou mesmo para o suicídio consumado. Desses estudantes, que já tentaram cometer o suicídio em algum momento de suas vidas, observou-se que 55% dos mesmos apresentaram novamente ideação suicida no momento da realização da coleta dos dados. Ressalta-se aqui, a importância da reincidência do comportamento suicida, através dos pensamentos recorrentes de morte. A figura 9 ilustra a 105 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. percentagem de estudantes com histórico de tentativas prévias de suicídio que estão apresentando mais uma vez pensamentos de morte. 60 55 50 45 40 Presença de ideação suicida 30 Ausência de ideação suicida 20 10 0 Figura 8: Presença de ideação suicida em indivíduos com histórico de tentativas prévias de suicídio. 6.5 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS DADOS APREENDIDOS PELAS ENTREVISTAS. Com o objetivo de descrever os conteúdos das representações sociais, bem como ratificar as evocações apreendidas através da Técnica de Associação Livre de Palavras, foram realizadas entrevistas com 20 estudantes de psicologia, escolhidos aleatoriamente, de acordo com a disponibilidade e interesse dos mesmos. O número de entrevistas foi estabelecido segundo o critério de saturação definido por Sá (1998). Os resultados obtidos, através dessa técnica e submetidos à Análise de Conteúdo Temático, foram agrupados em classes temáticas, categorias e subcategorias, conforme demonstra a tabela a seguir. 106 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Tabela 6: Classes, Categorias e Subcategorias emergentes da Análise de Conteúdo Temático, com suas respectivas freqüências e percentagens. 107 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Conforme os dados contidos na Tabela 6, observa-se a emersão de um total de 463 interlocuções, formando três classes temáticas, dez categorias e quarenta e sete subcategorias. As três classes temáticas foram: DEPRESSÃO, SUICÍDIO, RELAÇÃO DEPRESSÃO / SUICÍDIO, havendo uma maior ênfase para a temática do suicídio, responsável por mais da metade das interlocuções apreendidas (52,5%). As classes temáticas DEPRESSÃO e RELAÇÃO DEPRESSÃO / SUICÍDIO apresentaram um total de 35,2% e 12,3%, respectivamente, conforme ilustrado na figura a seguir. 60 52,6 50 40 Depressão 35,2 Suicídio 30 12,2 20 Relação Depressão/Suicídio 10 0 Figura 9: Percentagens das Classes Temáticas das Entrevistas. A maior incidência de interlocuções, sobre a temática do suicídio, pode ser justificada mediante a complexidade do ato; e também pelo fato da grande vivência do comportamento suicida, seja através de experiências pessoais, familiares ou sociais, conforme foi demonstrado anteriormente na Figura 7. Aos participantes, foi perguntado se o mesmo conhecia entre seus colegas universitários alguém que já havia pensado, tentado ou mesmo chegado a falecer por suicídio. Detalhando a primeira classe temática, DEPRESSÃO, observou-se o surgimento de quatro categorias: Descrição, correspondendo a 39,9% das interlocuções; Manifestações, responsável por 31,3% dos recortes analisados; Fatores desencadeantes, com 14,7% ; e, por 108 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. fim, a categoria Tratamento, representando 14,1% das unidades temáticas, conforme pode ser observado na figura 10. 45 40 35 39,9 Descrição 31,3 30 Manifestações 25 20 15 10 14,7 14,1 Fatores desencadeantes Tratamento 5 0 Figura 10: Percentagem das Categorias pertencentes à Classe Temática DEPRESSÃO. Percebe-se nessa figura, uma maior ênfase nas falas dos estudantes de Psicologia, no que se refere à conceituação e à descrição dos sintomas característicos da depressão, em relação às causas e ao tratamento. A explicação para esse fato, provavelmente, encontra-se no currículo do curso, cujas disciplinas abordam de forma mais aprofundada a definição e a sintomatologia dos transtornos. Com vistas clínicas, essa atitude prepara o estudante para a identificação da depressão, com a finalidade de realizar o diagnóstico. A primeira categoria da classe temática DEPRESSÃO, refere-se à Descrição dessa patologia, tendo suas unidades temáticas agrupadas em três subcategorias: Transtorno do Humor; Dificuldade de diagnóstico; e Apatia, conforme figura 11. 109 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 45 40 40 40 35 Transtorno do Humor 30 25 20 20 Dificuldade de diagnóstico Apatia 15 10 5 0 Figura 11: Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Descrição da DEPRESSÂO. De acordo com a figura 11, percebe-se que as três subcategorias da Descrição da depressão apresentaram as seguintes percentagens quanto às unidades temáticas: 40% correspondentes ao Transtorno do Humor; 40% relacionado à Dificuldade de diagnóstico; e 20% à subcategoria Apatia. A primeira descreve a depressão como um distúrbio do humor, representando um sofrimento psíquico caracterizado, principalmente, pelo humor depressivo. Para esses estudantes, a depressão representa, principalmente, uma oscilação do humor, na qual prevalece o sentimento de tristeza, conforme pode ser observados pelas interlocuções a seguir: “(...) estado de espírito ( ) instabilidade ( ) profundo estado de humor ( 2) é viver uma angústia sem fim ( doença que traz uma profunda tristeza ( ) é simplesmente sofrer intensamente ( ) quando uma pessoa fica muito triste ( 4) abala todo o sistema psicológico ( ) tem que ter no mínimo duas semanas ( ) estado de tristeza profunda ( 2 ). é um vazio ( ) é um estado de extrema angústia (2 ) um estado constante de não saber o que fazer ( ) um estado de anedonia ( ) distúrbio do humor ( ) é uma doença (3) sofrimento psíquico muito grande ( )” Essa associação entre depressão e tristeza já foi constatada em estudos anteriores sobre a representação social desse transtorno, elaborada tanto por crianças, adolescentes, adultos jovens ou idosos (Coutinho, 2005; Barros, 2005; Fonseca, 2007; Santana, 2007). 110 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A segunda subcategoria da Descrição da depressão reflete a dificuldade de diagnóstico dessa doença, muitas vezes confundida com o sentimento de tristeza. Para os participantes, a depressão é um transtorno de difícil percepção, sendo seus sintomas muitas vezes mascarados, o que leva a um diagnóstico tardio. Os participantes manifestaram, por repetidas vezes, a incerteza de que eles ou pessoas próximas tivessem sofrido de tal transtorno. Como já foi descrito, anteriormente, no referencial teórico deste estudo, o DSM -IV reconhece a tristeza (humor deprimido) como um dos sintomas mais comuns ao estado depressivo. Dessa forma, o conhecimento prático corrobora com a visão científica da depressão e justifica a importância desse sentimento, no que se refere à identificação e ao manejo do quadro, mediante exemplos das falas: “ (...)doença difícil de se diagnosticar (5 ) é um termo que se popularizou ( ) está muito no senso comum ( ) sem entender de fato o que é uma depressão( ) é mais um apelo do que uma vontade de ficar só( ) passa despercebida ( ) existe uma diferença entre o estado depressivo e a doença depressão ( ) depressão não é uma tristeza ( ) é diferente ( ) todo mundo fica triste alguma vez na vida ( ) não seria necessariamente uma depressão ( ) ) penso que é algo duradouro (2) poderia sim existir características de um momento depressivo( ) mas não seria uma depressão( ) ele teve mas não chegou a receber mesmo um diagnóstico ( já tive muita tristeza( ) muitas vezes achei que tivesse depressão ( ) mas depois entendi que estive triste muitas vezes ( ) já tive períodos de estar muito triste ( 2) mas não sei se tive depressão ( ) as pessoas acham que todo tipo de tristeza é depressão ( )”. Esses recortes apontam também para a existência de uma banalização do termo depressão, utilizado para descrever qualquer tipo de oscilação do humor. Percebe-se, conforme preconiza Coutinho (2005), que a palavra depressão é uma constante no linguajar do nosso cotidiano, passando a ser integrante do conhecimento do senso comum e da maneira de pensar de diferentes grupos sociais. No conhecimento elaborado pelos estudantes de Psicologia, observou-se uma significativa importância do elemento tristeza na construção da representação social da depressão, visto que, no percurso de toda a elaboração do conhecimento, esse elemento foi, constantemente, evocado no discurso dos participantes, ora para definir o fenômeno, ora para enfatizar a dificuldade de se diferenciar a simples tristeza do transtorno depressivo. 111 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Por fim, a terceira categoria da Descrição da depressão mostra essa patologia através do comportamento apático de seus indivíduos portadores. As representações sociais dos participantes ancoram-se na apatia apresentada pelo indivíduo, objetivada pelo olhar perdido, distante. De modo geral, é possível constatar, de acordo com as falas dos atores sociais, apresentadas a seguir, que o ser depressivo é aquele que apresenta inibição psicomotora, e que se encontra desmotivado com a vida. “(...) estado de constante apatia em relação à vida ( ) enorme vontade de parar o tempo ( ) deixarmos tudo para outro dia ( ) adiar responsabilidades ( ) evitar o sol ( ) e qualquer outro tipo de luz ( ) é um estado em que você se sente desmotivado ( )” é você não ver o outro ( ) não ver o mundo ( ) nada lhe traz prazer ( ) sem vontade de fazer as coisas ( ) ela olhava e parecia que não via nada (2)”. A depressão, conforme enfatiza Santana (2006), é uma doença que compromete a autodeterminação e a funcionalidade do indivíduo, que passa a sentir-se “desligado” do mundo, sem entusiasmo ou interesse por nada. A segunda categoria que emergiu na classe temática DEPRESSÃO refere-se às suas Manifestações. Conforme ilustra a figura 12, essa categoria foi composta por quatro subcategorias: Psicoafetiva, responsável por 45,1% das interlocuções dessa categoria; a Cognitiva, representando 7,8% das falas dos participantes; a Comportamental, com 35,3% dos recortes analisados; e, por último, a categoria Psicossomática, totalizando 11,8% das unidades temáticas. 112 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 45,1 36,3 11,8 Psicoafetivas Cognitivas Comportamentais Psicossomáticas 7,8 Figura 12: Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Manifestações da DEPRESSÂO. As Manifestações relacionadas à subcategoria Psicoafetiva, referem-se aos sintomas característicos da depressão, no que diz respeito aos sentimentos dos indivíduos com essa patologia, conforme pode ser observado nas falas apresentadas a seguir: “(...) tristeza (5 ) melancolia ( ) cansaço ( ) apatia ( 3) desistência ( ) mal estar ( ) sensação de desânimo ( 3 ) desengano ( ) angústia ( ) ansiedade(2) medo ( ) aquela coisa de não aceitar de si mesmo( ) baixa auto-estima ( ) ela só chorava ( )”. As interlocuções agrupadas, na subcategoria Cognitiva, referem-se aos pensamentos advindos do transtorno depressivo, com maior ênfase para a ideação suicida, indicando uma possível relação entre os pensamentos de morte e a depressão, de acordo com a análise dos recortes a seguir: “ (...)pensamento de morte ( 2 ) pensa em se matar ( ) pensava não ser capaz de fazer as coisas ( )”. A subcategoria Comportamental refere-se às Manifestações, da depressão, que se refletem no comportamento do indivíduo depressivo que, de acordo com os participantes, são, principalmente, o isolamento e a indisposição, conforme pode ser observado nas falas a seguir: 113 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. “(...) vontade de não fazer nada ( ) vontade de ficar só ( ) isolamento ( 4 ) indisposição motivacional pra sair de casa ( ) algo que você vai se desmotivando com o tempo ( )vivia trancada no quarto ( ) o quarto sempre escuro ( )ele começava a se isolar( 2 ) a se fechar ( 2 )a não querer falar com ninguém ( ) a se culpar por ter falhado ( ) só queria ficar sozinha( ) sem ver ninguém ( )”. Por último, na subcategoria Psicossomática, encontram-se agrupadas as interlocuções referentes aos sintomas físicos desencadeados pelo psicológico, a exemplo dos recortes a seguir: “(...) chega a provocar dores no corpo ( ) arrepios ( ) problemas físicos apetite ( 2) mudanças no sono ( ) “. ( ) falta de As interlocuções dos participantes demonstram que a depressão é representada pelos estudantes de Psicologia como uma doença que afeta todas as esferas do organismo (psicoafetiva, cognitiva, comportamental e psicossomática), ratificando o que afirma a literatura específica sobre o comprometimento global, causado pela depressão na vida do indivíduo (Camon, 2001; Coutinho, 2003; Versiani, 2004). Entretanto, apesar de afetar todas as esferas da vida do indivíduo, observou-se que os prejuízos mais, intensamente, sentidos e que determinam de forma mais significativa a representação social dos participantes, referem-se aos aspectos psicoafetivos objetivados, principalmente, no sentimento de tristeza. Na categoria Fatores desencadeantes da depressão, observou-se que as representações sociais dos estudantes de Psicologia, no que diz respeito às causas dessa patologia, envolvem aspectos multifatoriais. As subcategorias formadas sobre os fatores contribuintes para o desenvolvimento da depressão foram: Psicológico, Social e Físico-orgânico. A figura 13 ilustra a percentagem de cada uma dessas subcategorias. 114 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 60 54,2 50 40 29,1 30 16,7 20 Psicológicos Sociais Físco-orgânicos 10 0 Figura 13: Percentagem das Subcategorias pertencentes à Categoria Fatores desencadeantes da DEPRESSÂO. A primeira subcategoria agrupa as evocações dadas pelos participantes em relação aos fatores psicológicos que podem desencadear o transtorno depressivo. Sendo assim, a subcategoria Psicológicos, é responsável por 16,7% das interlocuções pertencentes à categoria Fatores desencadeantes, apresenta as motivações de ordem afetiva e/ou emocional como justificadoras do aparecimento da depressão. Percebe-se que, sob a ótica desses estudantes de Psicologia, o aparecimento da depressão está relacionado a uma perda afetiva ou a um momento de estresse emocional, conforme pode ser observado nas interlocuções apresentadas a seguir: “ (...) porque um parente morreu ( ) porque acabou um relacionamento( ) pessoas que vivem em constante estresse( ) um evento bastante traumático ( )”. A subcategoria Social, responsável por 54,2% dos recortes analisados, agrupa as unidades temáticas referentes aos fatores de ordem social, apontados pelos estudantes como desencadeadores de um processo depressivo. Nesses fatores sociais estão inclusos, também, os de ordem familiar e profissional, ou seja, todas as relações interpessoais do sujeito, conforme demonstram os recortes a seguir: 115 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. “ (...)passando por um momento difícil ( 2 ) ( ) existe a depressão que todo mundo pode passar por ela( ) porque perdeu um emprego ( )causas sociais mesmo ( ) depende de como aquela pessoa foi formada ( ) o tipo de criação que ela teve ( ) o meio em que ela está inserida ( ) ele tenta disfarçar pra ninguém perceber que ele tem depressão ( 2 ) no contexto familiar ou pessoal ( )cada vez que ele errava ( ) que ele falhava ( )”. Recortes semelhantes a esses foram encontrados em um estudo anterior realizado por Sá (2004) que objetivou apreender as representações sociais da depressão elaboradas por profissionais da saúde mental, pessoas deprimidas e familiares. Por fim, a terceira subcategoria, Físico-orgânico, demonstra o senso comum das causas da depressão, ancorando-se em fatores químicos, genéticos e neurológicos. A depressão, conforme pôde ser observado através das falas dos participantes apresentadas a seguir, representa uma disfunção cerebral a qual todos os indivíduos estão sujeitos. “(...) existe a depressão por fatores químicos ( ) a química que surge no cérebro( ) eu acho que tem causas genéticas ( ) doença do cérebro ( 3 ) que seria a depressão bipolar( ) ”. A última categoria da classe temática DEPRESSÃO refere-se às formas de Tratamento desse transtorno, e é composta por quatro subcategorias: Psicoterapêutico, responsável por 26,1% das interlocuções dos participantes; Medicamentoso, correspondendo à 43,5% das unidades temáticas; a Ajuda de amigos e familiares, com 8,7% das evocações; e por fim,a Ajuda religiosa, representando 21,7% dos recortes analisados. A figura a seguir demonstra a percentagem dessas subcategorias pertencentes à categoria Tratamento da Depressão. 50 43,5 Psicoterapêutico 40 30 Medicamentoso 26,1 21,7 20 10 8,7 Ajuda de amigos e familiares Ajuda religiosa 0 Figura 14: Percentagens das Subcategorias pertencentes à Categoria Tratamento da DEPRESSÂO. 116 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Na primeira subcategoria Psicoterapêutico, encontram-se agrupadas as falas dos participantes, no que diz respeito ao tratamento profissional especializado. Os atores sociais focaram suas interlocuções em acontecimentos de suas vidas, diferentemente do que se esperava dessa população, uma vez que, como estudantes de Psicologia. Acreditava-se que suas representações fossem baseadas no conhecimento científico. Ao contrário, os participantes enfatizaram, na maioria de suas falas, experiências pessoais anteriores, conforme pode ser observado nas falas a seguir: “ (...)minha mãe me colocou numa psicóloga ( ) depois me levou num psiquiatra ( ) só obtive êxito quando procurei ajuda profissional ( ) nunca cheguei a procurar ajuda profissional ( ) ele faz terapia ( ) precisei de um acompanhamento psicoterapêutico ( )”. Em relação à segunda subcategoria, Medicamentoso, observou-se a associação do uso de remédios para o tratamento da depressão, ancorados em experiências pessoais anteriores, assim como se observou na subcategoria acima descrita. As falas, apresentadas a seguir, remetem a episódios anteriores, onde os atores sociais reconhecem que, ao apresentarem um episódio depressivo, faz-se necessária a intervenção medicamentosa prescrita por um profissional. “ (...)fiquei tomando remédios ( ) deve ser tratada por medicamentos( ) já tomei medicamentos( 2 ).meu namorado toma medicamentos ( 2 )e aparentemente nem parece ter depressão ( ) precisei de ajuda profissional ( ) que pudesse passar um medicamento ( ) por ter sido uma coisa mais profunda ( )”. A subcategoria Ajuda de amigos e familiares também se relaciona com a história de vida dos participantes, enfatizando-se a importância dessa ajuda para o tratamento da depressão. Nas unidades temáticas apresentadas a seguir, apesar de pouco significativa em termos percentuais, expressa-se a idéia de que a sintomatologia deve ser tratada por meio de 117 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. intervenções sociais, ou seja, através de pessoas próximas ao doente, que teriam o poder de ajudar na recuperação do ser depressivo. “(...)o fato de eu ter amigos e familiares próximos me ajudou ( ) na recuperação que foi longa ( )”. Por fim, a subcategoria, Ajuda religiosa, é composta por interlocuções referentes ao auxílio espiritual, recebido durante o episódio depressivo, justificando, de certa forma, a opção por esse tipo de ajuda ao invés da profissional. Esses recortes são, perceptivelmente, baseados, mais uma vez, em experiências pessoais dos participantes da pesquisa, conforme pode ser observado nos recortes a seguir: “(...)eu já tinha o auxílio de uma instituição religiosa( ) foi um auxílio muito grande ( ) então não precisei de auxílio profissional( ) foi mais um auxílio eclesiástico ( )buscaram forças em si mesmos e em Deus ( )”. Esse tipo de tratamento espiritual, baseado no sobrenatural e no imponderável, foi encontrado também em estudo sobre a representação social da depressão pós-parto, realizado por Saraiva (2007), onde as puérperas com sintomatologia depressiva afirmaram acreditar e esperar pela ajuda divina para recupera-se do estado no qual se encontravam. A segunda Classe Temática, denominada SUICÍDIO, foi constituída por cinco categorias: Descrição, responsável por 30,9% das unidades temáticas; Personalidade suicida, com 10,3%; Tipos de Suicídio, representando 14% dos recortes analisados; Fatores contribuintes, com 37%; e Método utilizado, correspondendo a 7,8% das interlocuções. 118 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 40 35 37 30,9 30 Descrição 25 Personalidade suicida 20 15 Tipos de suicídio 14 10,3 10 Fatores contribuintes 7,8 Método utilizado 5 0 Figura 15: Percentagens das Categorias pertencentes à Classe Temática SUICÍDIO. Conforme demonstra a figura 15, percebe-se que as maiores percentagens de interlocuções ocorreram na categoria Fatores contribuintes, o que leva a crer que os participantes focaram suas representações do suicídio nos acontecimentos que levariam uma pessoa a cometer tal ato. Descrevendo, de modo específico, a primeira categoria da classe temática SUICÍDIO, percebe-se que essa se refere à Descrição desse ato, tendo suas unidades temáticas agrupadas em seis subcategorias: Dificuldade de conceituação, responsável por 9,3% das unidades temáticas; Fuga, com 18,7%; Aspecto social também com 18,7% dos recortes analisados; Preconceito, com 17,3%; Desesperança, com 25,3%; e Fim, responsável por 10,7% das interlocuções, conforme ilustra a figura 16. 119 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 30 Dificuldade de conceituação Fuga 25,3 25 18,7 20 15 10 9,3 18,7 17,3 Aspecto social 10,7 Preconceito Desesperança 5 Fim 0 Figura 16: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Descrição do SUICÍDIO. A primeira das subcategorias supracitadas reflete a dificuldade encontrada pelos participantes em definir o ato suicida, conforme demonstra as falas dos participantes apresentadas a seguir. “ (...)é difícil falar de algo tão complexo ( ) é meio paradoxal( ) algo totalmente anormal ( ) algo grotesco ( ) eu acredito que isso é muito simplório ( ) você limitar o sofrimento daquele sujeito a um querer chamar atenção ( ) eu acho que é uma coisa muito mais complexa ( )”. A baixa percentagem de interlocuções na subcategoria Dificuldade de conceituação também pode ser interpretada como reflexo da dificuldade encontrada pelos estudantes de Psicologia em encontrar palavras que definam esse fenômeno, para o qual, como ressalta Stevenson (1992), não existe uma definição única aceitável devido à complexidade do ato. A segunda subcategoria denominada Fuga, traduz a representação do ato suicida como uma escolha feita pelo indivíduo para a solução de seus problemas, caracterizando assim, uma fuga diante do sofrimento vivido, conforme pôde ser observado nas seguintes interlocuções: “ (...)ato de fuga ( 7 ) forma de aliviar o sofrimento( ) um ato de revolta( ) rebeldia( ) uma opção ( ) você está fugindo dos problemas ( ) fugindo da vida( ) ao cometer o suicídio você está fazendo uma escolha( )”. A fuga como elemento representativo do suicídio também foi constatado mediante análise dos dados coletados através da Técnica de Associação Livre de Palavras, onde se 120 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. observou que, para os participantes, o suicídio emerge como uma fuga frente às adversidades advindas do meio ambiente, somada a fragilidade da subjetividade do indivíduo. A terceira subcategoria, Aspecto social, relaciona o suicídio ao contexto no qual o indivíduo encontra-se inserido, indicando que para a compreensão desse fenômeno, é necessário que se leve em conta os aspectos sociais da vida do suicida, conforme preconizam as seguintes falas: “(...)é muito difícil entender o suicídio sem levar em conta o contexto ( )tem acontecido muito ultimamente( ) o suicídio como uma questão que não é de responsabilidade de uma pessoa ( ) o suicídio é em último caso um ato individual ( ) eu não acho que o suicídio seja um ato individual ( ) por um fator externo que desencadeou ( ) ele culmina no comportamento de uma pessoa ( ) mas até chegar a esse ponto, tem todo um contexto ( ) tem toda uma configuração pra se chegar a ele ( ) eu não creio que ninguém se suicide de uma hora pra outra ( ) tem toda uma história ( ) nessa hora acho que o apoio social é o que mais pesa ( ) porque você sente que ainda há alguém por você ( ) que se importa com você ( )”. Como foi dito anteriormente, os estudos pioneiros nesse sentido são os do sociólogo Émile Durkheim para o qual o suicídio representa um ato social e não individual. Durkheim estudou as conexões entre os indivíduos e a sociedade, acreditando que pudesse demonstrar o quanto um ato individual é o resultado do meio social que o cerca. Na quarta subcategoria Preconceito, encontra-se agrupadas as falas dos participantes relacionadas às atitudes frente ao suicídio. Os participantes referem-se às dificuldades encontradas para se falar sobre esse fenômeno devido a sentimentos de vergonha e/ou culpa perante uma tentativa. Percebe-se, através das falas dos participantes que o suicídio é um tema que não faz parte das conversas familiares do dia-a-dia das famílias, pois se acredita que falar sobre esse tema seria o mesmo que incentivar sua prática, conforme pôde ser interpretado através das interlocuções apresentadas a seguir: “(...) suicídio é um tabu( ) suicídio não é uma coisa que a gente sai falando por aí( ) as pessoas não gostam muito de falar sobre isso( ) tem um certo preconceito por quem já tentou ( ) não sei te dizer o real motivo( ) porque esse assunto ficou meio que proibido ( ) meus pais não queriam falar sobre esse assunto( ) perguntar a minha irmã o que realmente aconteceu, nem pensar( ) até hoje não sei( ) é uma coisa que ninguém fala lá em casa( ) 121 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. acho que eles tem vergonha( ) ou medo( ) de que pelo fato de relembrar vá fazer com que minha irmã tente de novo( )”. De fato, o efeito imitativo do suicídio já é conhecido pela suicidologia, o que motivou a Organização Mundial de Saúde a considerar que cuidados por parte da imprensa ao noticiar casos de suicídio constitui um dos pilares básicos dessa organização na prevenção do suicídio (Corrêa e Barrero, 2006). A subcategoria Desesperança descreve o suicídio mediante o sentimento de desilusão perante a vida, característico do indivíduo que comete esse ato. De acordo com as falas dos atores sociais apresentadas a seguir, a pessoa que se suicida é alguém que não conseguiu enxergar uma saída para seu sofrimento, alguém que não conseguiu encontrar esperanças para continuar vivendo. “(...)falta de esperança( 2 ) o sujeito olhar e não ver mais saída ( 3 ) mesmo que haja uma saída ( ) não tem mais esperança( ) não tem um escape ( ) a pessoa está num estado de angústia bastante exacerbada ( 2 ) a esperança se aniquila ( ) ela fica sem esperança( ) e quer morrer mesmo ( ) o suicídio vem quando você não acredita mais que possa mudar ( ) enquanto você acredita que existe uma possibilidade ( ) mesmo que não seja do jeito que você quer ( ) mas que existe essa possibilidade ( ) eu creio que o suicídio não aconteceria ( ) é como se o suicídio fosse a última esperança ( )”. A desesperança perante a vida é descrita pela literatura especializada como um dos sentimentos mais comuns do indivíduo com risco de suicídio (Correa e Barrero, 2006; Botega et al, 2006; Baptista, 2004). Segundo o Manual de Prevenção ao Suicídio, elaborado pelo Ministério da Saúde, a desesperança é apontada como um dos fatores de risco para a consumação, ou pelo menos tentativa, do ato suicida. Esse sentimento faz parte da chamada “regra dos 4D”, que destaca como indicadores de risco para o comportamento suicida, além da desesperança, a depressão, o desamparo e o desespero (Brasil, 2006). A última subcategoria da Descrição do Suicídio foi denominada Fim, uma vez que descreve as representações do suicídio objetivadas nesse elemento. De acordo com os recortes descritos a seguir, o suicídio representa a atitude final, o fim da vida e, dessa forma, o fim do sofrimento e da angústia vividos. 122 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. “(...) a atitude final( )é o fim de tudo ( ) ) é quando a possibilidade de mudança de alguma coisa ( ) alguém que não vê que tem uma alternativa ( 2 ) ela se vê acuada ( ) então vê no suicídio a única porta pra escapar daquilo ( 2)”. Essa representação do suicídio pode ser entendida não só como o fim da vida, mas também e, principalmente, como o fim do sofrimento que o individuo estava vivenciando, pois conforme destaca Silva e Boemer (2006), o individuo que busca comete o suicídio é alguém que, não suportando mais tanto sofrimento, vê na morte o único descanso, a única saída para aliviar sua dor. A segunda categoria formada na Classe Temática SUICÌDIO foi denominada Personalidade Suicida, uma vez que abrange as representações dos estudantes de Psicologia no que diz respeito as características pessoais da pessoa que apresenta comportamentos autodestrutivos. Essa categoria foi formada por cinco subcategorias que representam os tipos de Personalidade Suicida sob a ótica dos participantes da pesquisa: a Personalidade Patológica, representando 32% das unidades temáticas; a Impulsiva, com 16%; a Covarde, também responsável por 16% dos recortes analisados; a Corajosa, com 24%; e a Depressiva, correspondendo a 12% das interlocuções analisadas. 35 32 30 24 25 20 15 10 Patológica Impulsiva 16 16 Covarde 12 Corajosa Depressiva 5 0 Figura 17: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Personalidade Suicida. 123 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Conforme demonstra a figura 17, a maioria dos estudantes de Psicologia investigados acredita que a pessoa que comete o suicídio apresenta uma Personalidade Patológica. De fato, a literatura ressalta que, de acordo com estudos realizados através de autópsia psicológica, observou-se que a maioria dos indivíduos que cometeram suicídio apresentava algum tipo de transtorno mental no momento de sua morte (Botega et al, 2006). Nessa subcategoria encontram-se agrupadas as falas dos participantes no que se refere à associação do ato suicida com um estado de alienação mental do indivíduo, conforme pode ser observado nas interlocuções descritas a seguir: “(...) é algo totalmente anormal ( ) o individuo que comete o suicídio esta num estado de transe total ( ) ou num universo paralelo ( )porque ele perde a noção da gravidade da situação ( ) suicídios decorrentes de alienação ( ) de causas religiosas ( ) ou uma filosofia ( ) por causa de algum culto ( )”. A subcategoria Personalidade Impulsiva agrupa as falas que descrevem a pessoa com comportamento suicida, como alguém que não pensa duas vezes antes de agir, como pode ser observado nas interlocuções abaixo apresentadas. “(...) devem ser pessoas que agem sem pensar ( 2 ) pessoas impulsivas (2)”. Tal representação encontra-se confirmada pelo conhecimento científico, uma vez que a impulsividade é considerada um fator de risco para o comportamento suicida (Prieto e Tavares, 2005; Werlang, Borges e Fensterseifer, 2005). A terceira subcategoria foi denominada Personalidade Covarde, pois, de acordo com as falas dos participantes apresentadas a seguir, a pessoa que comete o ato suicida é alguém que se acovardou perante a vida. Ao invés de tentar superar os problemas cotidianos, o indivíduo decide pôr um fim à própria vida na tentativa de livrar-se do sofrimento vivido. “ (...)pessoas que acham mais fácil fugir( ) ao encarar seus problemas ( )ato de covardia (2)”. 124 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Em contraste com essa subcategoria, emergiram interlocuções referentes à Personalidade Suicida, associando o suicídio a um ato de coragem. Essas interlocuções foram agrupadas, na subcategoria Personalidade Corajosa, uma vez que descrevem as representações do suicida ancorando-se no sentimento de coragem para realizar o ato, como pode ser observado nas seguintes falas: “(...)ato de coragem ( 4 ) suicídio é uma ação muito forte ( ) então você tem que ter muita coragem ( )”. Observou-se que o suicídio é visto pelos estudantes como algo paradoxal, pois representa para alguns um ato de covardia, enquanto para outros consiste num ato de extrema coragem, uma vez que a pessoa abriu mão da própria vida. Se por um lado, os participantes descrevem o suicídio como uma fuga dos problemas, por outro reconhecem que é preciso ter coragem para decidir e cometer esse ato. Por fim, a subcategoria Personalidade Depressiva demonstra as representações sociais do suicida associando-o com o ser depressivo, conforme se observou nas interlocuções apresentadas a seguir. Para os participantes o indivíduo que comete o suicídio é alguém que sofre de depressão e que em decorrência dessa patologia começa a desenvolver o comportamento suicida, seja através da ideação, da tentativa ou mesmo do suicídio consumado. “(...)o suicídio pode ser oriundo de um processo depressivo ( ) é o ápice da depressão ( )pessoas que estão acometidas de uma profunda depressão( )”. De fato, o senso comum corrobora com o saber científico, uma vez que se sabe que a depressão constitui um forte fator de risco para o suicídio. De acordo com OMS (2000), a depressão é responsável por 30% dos casos de suicídio mundialmente relatados. Essa doença, conforme ressalta Corrêa e Barrero (2006), envolve o modo como a pessoa pensa e sente, fazendo com que as pessoas deprimidas experimentem extremos sentimentos de tristeza, desesperança, assim como irritabilidade, perda de interesse ou prazer em atividades que antes 125 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. lhes eram prazerosas, e perda de energia. Além disso, destacam os autores, os deprimidos têm maiores níveis de ansiedade, alterações de sono, apetite e libido, maiores preocupações com sua saúde física e pensamentos de morte ou suicídio. A terceira categoria que emergiu na Classe Temática SUICÍDIO refere-se aos tipos desse fenômeno classificados, sob a ótica dos participantes desta pesquisa, em três grupos. Sendo assim, a categoria Tipos de suicídio foi composta por três subcategorias: Suicídio real, responsável por 44,1% das unidades temáticas; Chamar atenção, com 32,4%; e Suicídio indireto, correspondendo a 23,5% dos recortes analisados. 50 44,1 40 32,4 30 23,5 20 Suicídio real Chamar atenção Suicídio indireto 10 0 Figura 18: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Tipos de Suicídio. Conforme demonstra a figura 18, para os atores sociais, o suicídio é classificado em três tipos, sendo o primeiro denominado de Suicídio real por haver nesses casos a verdadeira intenção de se matar. Esse tipo de suicídio é classificado pelos participantes como o ato de tirar a própria vida, quer se tenha conseguido obter êxito ou apenas realizado uma tentativa, a exemplo dos recortes a seguir. “(...) pessoa que tira a própria vida (7) quando a pessoa vai de contra a vida dela ( ) quando ela tenta se matar( 3 ) destruição ( )ato praticado pela própria pessoa ( ) ele causa uma angústia ( ) um sofrimento muito grande ( )”. 126 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Na subcategoria Chamar atenção, encontram-se agrupadas as falas dos participantes em relação a outro tipo de suicídio, aquele no qual a verdadeira intenção não é morrer, mas sim chamar a atenção dos outros para si e para seu sofrimento, conforme pode ser observado nas interlocuções a seguir apresentadas. De acordo com Vega Piñero (2002), essas condutas são características da adolescência ou de pessoas imaturas, possuindo em alguns casos caráter de chantagem emocional. “ (...)aqueles que querem chamar atenção ( 2 ) mas acabam sendo vítimas ( ) no adolescente é tido como chantagem ( ) no adulto e no idoso é algo pra chamar atenção ( ) não acredito que aquilo ali tenha sido realmente uma tentativa( ) foi mais pra chamar atenção( )ela tá mais querendo protestar mesmo ( ) querendo modificar a realidade ( ) que ela não foi capaz de modificar com a vida dela ( ) eu acredito que ela esteja também querendo chamar a atenção ( )”. O terceiro tipo de suicídio definido pelos participantes se refere a uma forma de comportamento autodestrutivo realizado indiretamente, sem que haja o reconhecimento da intenção mórbida desse ato. Os exemplos de Suicídio indireto incluem o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, o uso de drogas, o tabagismo, a condução imprudente de um automóvel, ou seja, a negligência, de uma forma geral, com a própria saúde, conforme pode ser percebido nas seguintes falas: “(...) pessoa que bebe( ) que fuma( ) que anda em alta velocidade( ) de certa forma ela ta cometendo suicídio ( ) uso de drogas( ) o próprio cigarro( ) alguns estilos de vida que você sabe que são danosos( ) mas que continua qualquer que seja a causa ( )”. A quarta categoria formada, na classe temática SUICÍDIO, refere-se aos Fatores contribuintes do comportamento suicida, ou seja, dos fatores motivacionais que levam o indivíduo a pensar, tentar ou mesmo cometer o suicídio. Essa categoria foi composta por onze subcategorias: Psicológicos, responsável por 13,3% das unidades temáticas; Sexualidade, com 2,2%; Aparência física, também com 2,2%; Desestruturação familiar, correspondendo a 7,8 das interlocuções; Tentativas 127 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. anteriores, com 8,9%; Cognitivos, com 28,9%; Acadêmicos, representando 10%; Problemas financeiros, com 5,6%; Doenças crônicas, com 1,1% Adolescência, com 4,4%; Perdas recentes, responsável por 15,6% dos recortes analisados. Psicológicos 35 28,9 30 Sexualidade 25 Aparência física 20 15 15,6 13,3 7,8 8,9 10 5 2,2 2,2 0 10 5,6 4,4 1,1 Desestruturação familiar Tentativas anteriores Cognitivos Acadêmicos Problemas financeiros Figura 19: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Fatores contribuintes do SUICÍDIO. A grande quantidade de fatores apontados pelo senso comum como contribuintes para o ato suicida corrobora com o saber científico, à medida que é de conhecimento da literatura especializada que o suicídio é um fenômeno complexo que possui etiologia multifatorial. Na subcategoria Psicológicos, encontram-se agrupadas as interlocuções descritas a seguir, que apontam, como fatores desencadeantes do comportamento suicida, os problemas emocionais, seja advindo de um estresse ou mesmo de um quadro depressivo. Para os participantes, o suicídio pode ser causado por problemas psicológicos pelos quais o individuo esteja passando, problemas estes que o levaria a apresentar sentimentos de desengano e desesperança perante a vida. “(...) pessoas que vivem em constante estresse ( ) desengano ( ) se sente triste ( ) não vê saída ( ) depressão (3) pessoas que não tem mais tolerância aos problemas( ) começa num estado em que ele ta se questionando ( ) perdendo os valores da vida( ) até que chega ao ponto de cometer o suicídio( ) também já tinha uma depressão diagnosticada( )”. 128 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Já na subcategoria Sexualidade, encontram-se as falas dos participantes no que se refere à influência da opção sexual no desenvolvimento do comportamento suicida. De fato, estudos revelam que indivíduos com orientação sexual minoritária apresentam maior risco de cometer suicídio (Bahls & Bahls, 2002). “ (...)após várias tentativas ( ) se descobriu homossexual ( )”. A subcategoria Aparência física representa as unidades temáticas que apontam a influência da imagem corporal como fator contribuinte para o risco de suicídio. Os recortes a seguir referem-se à narração de episódios, onde se atribui a causa desse fenômeno à baixa auto-estima decorrente da não aceitação da aparência física. “(...)se sentia mal em relação a aparência física ( ) em relação à obesidade ( )”. A quarta subcategoria referente aos Fatores contribuintes do SUICÍDIO foi denominada Desestruturação familiar, uma vez que agrupa as interlocuções dos participantes que relacionam às causas do suicídio à falta de estrutura familiar, bem como pressões sofridas por membros da família, conforme se observou nas interlocuções a seguir. “(...) falta estrutura familiar ( ) ela tava passando por problemas familiares ( ) minha mãe é uma pessoa extremamente manipuladora ( ) dominadora ( ) aí minha irmã não agüentou a pressão ( ) o pessoal fala que ele tinha problemas com os pais ( ) brigavam muito ( )”. Essa representação é confirmada pelo conhecimento científico que aponta a família e os amigos como elementos fundamentais no tocante ao tipo de apoio e direcionamento que esses podem fornecer em momentos difíceis da vida, além da construção da percepção do mundo e, conseqüentemente, dos traços comportamentais individuais (Baptista 2004). Na subcategoria Tentativas anteriores, encontram-se agrupadas as unidades temáticas que ressaltam a importância da existência de uma tentativa de suicídio anterior para o acontecimento de uma nova ou mesmo para a concretização do mesmo. Observou-se que as 129 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. falas dos participantes apresentadas a seguir foram baseadas em episódios vivenciados por cada participante, onde os mesmos relatam exemplos de indivíduos que se suicidaram, ou que pelo menos tentaram, justificando esse tipo de comportamento a existência de alguma tentativa prévia. “(...)ele já tinha tentado outras vezes ( ) ela comentou que já havia tentado suicídio ( ) uma amiga minha tentou recentemente o suicídio ( ) ela ta no hospital ainda ( ) não conseguiu, mas tentou( ) conheci uma menina que tinha uma cicatriz no pulso ( )conheço uma pessoa que tentou três vezes ( )em todas as vezes ele escrevia uma carta de despedida ( )”. Com base em dados da Organização Mundial de Saúde, Botega, Mauro e Cais (2004) relatam que 15 a 25% das pessoas que tentam o suicídio, tentarão novamente se matar no ano seguinte, e 10% das pessoas que tentam o suicídio conseguem efetivamente matar-se nos próximos dez anos. Conforme demonstra a Figura 19, a subcategoria Cognitivos apresentou a maior percentagem de unidades temáticas pertencentes à categoria Fatores contribuintes, o que indica que a maioria dos participantes acredita que a ideação suicida representa um forte fator preditivo do suicídio. Os recortes analisados e descritos a seguir referem-se a narrativas de pensamentos de morte ocorridos tanto pelos participantes como por pessoas próximas. Percebe-se, de acordo com as falas dos estudantes, que boa parte reconheceu já terem pensado em cometer o suicídio em algum momento de suas vidas. “(...) tinha pensamentos de morte ( ) pensando besteira ( ) veio a idéia( ) foi muito difícil ela tirar da cabeça esses pensamentos de morte ( ) o suicida tem sempre que idealizar as coisas antes( ) eu já vi casos de crianças idealizando isso ( )já pensei várias vezes ( ) as vezes passa pela minha cabeça pensamentos de morte ( ) quando to com problemas ( ) aí eu penso que se eu morresse seria melhor ( ) seria mais fácil ( )eu fiquei pensando sobre esse tema e colocando pra mim ( ) se um dia eu faria ( ) se um dia eu chegaria a esse ponto ( ) de perder mesmo o sentido da vida ( )eu só pensei me colocando no lugar dele ( )eu já pensei em me matar (4) mas acho que não chegaria a cometer( ) fiquei até assustada em me pegar pensando nisso ( )eu fiquei bem triste e pensei em morrer também ( )meu namorado já pensou ( ) ele pensou em cometer o suicídio e contou pra mim ( )ele contou que as vezes tinha vontade de se matar” A presença da ideação suicida é considerada um grande fator de risco para o suicídio consumado. A maioria das pessoas com idéias de morte comunica seus pensamentos e 130 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. intenções suicidas, dando sinais ou fazendo comentários sobre sua vontade de pôr um fim à própria vida (Brasil, 2006). Estima-se que 60% dos indivíduos que se suicidaram tinham, previamente, ideação suicida. A gravidade e a duração dos pensamentos suicidas correlacionam-se com a probabilidade de tentativa de suicídio, que é, por sua vez, considerada um dos principais fatores de risco para o suicídio consumado (Silva et al, 2006). A subcategoria Acadêmicos apresenta as unidades temáticas referentes à associação do comportamento suicida com problemas acadêmicos. Esses problemas podem agrupar diversos fatores, como por exemplo, dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento escolar, problemas de relacionamento com colegas, a exemplo do que preconizam as interlocuções descritas a seguir. “(...) desavenças no curso ( 2 ) decepções acadêmicas ( ) ele prestou vestibular pra um curso ( ) e mentiu, dizendo que tinha feito pra outro( ) decepção quando a cidade toda descobriu ( ) dentro do curso ele teve brigas( ) a não aprovação no mestrado ( ) era estudante de psicologia ( )”. A oitava subcategoria referente aos Fatores contribuintes do Suicídio, foi denominada Problemas financeiros, pois se encontram nela as interlocuções relacionadas aos fatores econômicos, referidos pelos participantes como desencadeadores do comportamento suicida. Dívidas, pobreza e baixa qualidade de vida são apontadas, pelos estudantes de psicologia, como fatores contribuintes do ato suicida. Como pode ser observado nos seguintes recortes: “(...) quando algumas pessoas estão muito endividadas ( ) a pessoa que passa fome ( ) muito pobre ( ) não tem saneamento básico ( ) pode se suicidar porque não encontrava outra solução ( )”. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (2000), a maioria das pessoas que comete suicídio passou por acontecimentos estressantes nos três meses, anteriores ao suicídio, sendo os problemas financeiros apontados como um desses acontecimentos. 131 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A subcategoria Doenças crônicas ressalta a influência de patologias sofridas pelo individuo como fator contribuinte para o comportamento suicida, mediante análise das interlocuções apresentadas a seguir. “(...) quando tem uma doença incurável ( )”. Nesse sentido, há por parte da literatura específica, o reconhecimento de que a partir da fase adulta, faixa etária de investigação da presente pesquisa, há o maior surgimento de doenças. De acordo com Corrêa e Barrero (2006), a partir dessa faixa etária, ocorre também o surgimento de certas patologias que, apesar de, isoladamente, não levar a um maior risco de suicídio, tem que ser consideradas, quando coexistem outros fatores de risco. Entre essas patologias, os autores citam como exemplos a doença de Parkinson; a diabetes; e a Aids. A décima subcategoria formada agrupa as falas dos participantes que representam o aparecimento do comportamento suicida ancorando-se no período da Adolescência. Observou-se através dos recortes analisados e descritos a seguir que esse período do desenvolvimento humano é apontado como justificador da presença da ideação suicida ou mesmo da realização de uma tentativa de suicídio. “(...) mas era coisa de pré-adolescente ( ) eu era adolescente ( ) mas eu acho que é coisa de adolescência mesmo ( ) agora eu vejo que era coisa de adolescente ( )”. Werlang, Borges e Fensterseifer (2005) afirmam que a adolescência é um período propício ao aparecimento das idéias suicidas, uma vez que faz parte do processo de desenvolvimento de estratégias; para lidar com problemas existenciais como, por exemplo, compreender o sentido da vida e da morte. A questão se torna preocupante apenas quando o suicídio passa a ser a única alternativa para suas dificuldades. Por fim, a última subcategoria referente aos Fatores contribuintes do suicídio denominou-se Perdas recentes por agrupar as unidades temáticas que associam o aparecimento do comportamento suicida a algum tipo de perda sofrida, recentemente, pelo 132 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. indivíduo. Essa perda, de acordo com as falas dos participantes apresentadas a seguir, é na maioria das vezes, de ordem afetiva, podendo ser uma morte na família ou mesmo uma separação conjugal. Porém, também foram indicadas como motivação para o suicídio as perdas matérias, com destaque especial para a perda do emprego. “(...) foi no início do processo de separação ( ) ela tinha terminado o relacionamento ( ) terminou o casamento ( ) ela voltou a morar com a minha mãe ( ) que é uma relação muito delicada ( ) pra ela foi muito angustiante ( ) ter que voltar( ) e ainda voltar derrotada ( ) sem casamento ( ) sem emprego ( ) sem nada ( ) Há pouco tempo minha mãe faleceu ( ) então ficou só eu e meu irmão ( ) o término do namoro ( )”. A quinta e última categoria formada na Classe Temática SUICÍDIO diz respeito aos Métodos utilizados para cometer esse ato. Essa foi formada por cinco subcategorias assim denominadas: Medicação, responsável por 26,3% das unidades temáticas; Substâncias tóxicas, com 31,6%; Uso de armas, com 5,3%; Saltos de prédio, correspondendo a 21%; e Afogamento, representando 15,8% dos recortes analisados, conforme ilustra a figura 20. 35 30 31,6 26,3 25 20 5 Substãncias tóxicas 15,8 15 10 Medicação 21 Uso de armas Saltos de prédio 5,3 Afogamento 0 Figura 20: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Métodos do SUICÍDIO. Todas as unidades temáticas pertencentes às subcategorias citadas são baseadas em relatos dos participantes, de episódios de tentativas que foram realizados por eles ou por pessoas próximas; ou até mesmo do suicídio consumado, por pessoas do seu convívio. 133 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. A subcategoria denominada Medicação agrupa as interlocuções referentes ao uso de remédios para a busca da própria morte, como pode ser observado nas falas a seguir: “(...) ela tentou o suicídio tomando uma caixa de remédios ( ) ela tomou um remédio ( ) ela se embebedou e tomou meia cartela de Valium ( ) ela tomou 2 litros de vinho ( )e tomou 6 a 8 comprimidos ( )”. Já na subcategoria Substâncias tóxicas encontram-se os recortes relacionados ao uso de algum tipo de veneno ou água sanitária por parte do suicida, como pode ser observado nos recortes a seguir: “(...) ela tomou água sanitária ( ) tomou um veneno ( 5 )”. A subcategoria Uso de armas apresenta as unidades temáticas descritas abaixo que relacionam às mortes auto-infligidas mediante utilização de armas de fogo. Foi, surpreendente, baixa a freqüência desse tipo de representação por parte dos participantes, uma vez que a literatura apresenta esse tipo de método como um dos mais comumente utilizados. “(...) ele deu um tiro ( )”. A quarta subcategoria relacionada aos Métodos utilizados refere-se aos Saltos de prédio. Nesta subcategoria há um importante fator destacado nas interlocuções, que diz respeito ao efeito imitativo do suicídio. Nesse sentido, percebe-se que o conhecimento do senso comum apresentado a seguir concorda com o que preconiza o conhecimento científico, no que tange a vulnerabilidade de alguns indivíduos que, ao tomarem conhecimento de um suicídio, sentem-se estimulados a cometer também esse ato. “(...) cheguei até a sentar no parapeito da minha janela ( ) mas olhei e achei que ia doer muito ( ) e falei assim :não, não ( ) se lembra quando teve uma época que todo mundo se jogava de um prédio ?( )”. Por fim, a última subcategoria dos Métodos utilizados foi denominada Afogamento, uma vez que contém relatos de episódios de tentativas de suicídio, onde o individuo buscou a morte tentando afogar-se, conforme demonstram as falas a seguir: 134 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. “(...)“...pensou mas não teve coragem de se jogar lá na Lagoa ( ) ficou parado ( ) mas não conseguiu ir adiante ( )”. Os dados descritos na categoria Métodos utilizados apontam para uma diversidade de meios usados para se cometer o suicídio. Vale ressaltar que a utilização desses métodos depende também de fatores econômicos, culturais e políticos. Como exemplo disso, destaca Baptista (2004), a existência de leis de porte de armas ou controle de venda de substâncias tóxicas. A terceira e última Classe foi denominada Relação Depressão / Suicídio, uma vez que contém as representações dos estudantes de psicologia pesquisados, no que diz respeito à existência ou não de algum tipo de relação entre esses dois fenômenos. Essa Classe Temática foi formada por uma única categoria, Correlação, sendo composta por três subcategorias: Existência, responsável por 66,7% das unidades temáticas; Dúvidas, com 7%; e Inexistência, correspondendo a 26,3% dos recortes analisados, conforme ilustra a figura 21. 80 70 66,7 60 50 40 26,3 30 Existência Dúvidas Inexistência 20 10 7 0 Figura 21: Percentagem das subcategorias pertencentes à Categoria Correlação DEPRESSÃO/SUICÍDIO. A subcategoria Existência agrupa as falas dos participantes, que afirmaram acreditar na existência de uma relação entre depressão e suicídio. Os dados indicam que a maioria, dos 135 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. estudantes de psicologia, informou acreditar na existência de uma correlação entre depressão e comportamento suicida, à medida que apontam essa patologia como um fator desencadeante do suicídio. Os recortes analisados e apresentados a seguir refletem a crença de que o ser depressivo possui maior chance de vir a cometer o suicídio do que os indivíduos sem essa patologia. “(...) quando a pessoa está depressiva ela corre um risco maior ( ) acredito que tem tudo a ver( ) quanto mais deprimida a pessoa está mais chances ela tem de tentar se matar( ) a depressão é o principal motivo para que uma pessoa venha a tentar o suicídio ( ) acho que tem toda relação(3) quanto mais grave a depressão( 2) quanto mais severos os sintomas( ) e quanto mais tempo dure a depressão ( ) mais chances o individuo tem de cometer suicídio ( 2) ou pelo menos tentar( ) todos os casos de suicídio que eu já ouvi falar foram de pessoas que estavam passando por um processo depressivo( ) eu acredito que existe uma correlação sim( 5 ) porque quando você não encontra sentido pra viver( ) pra acreditar em você( ) ou acreditar na própria vida( ) isso pra muita gente seria o ponto final( ) eu acho que de alguma forma há indícios sim( ) eu acho que todo suicida era depressivo( ) eu acredito plenamente( ) eu acredito firmemente que é uma decorrência ( 3) é como se fosse o estágio mais perigoso que a depressão pode atingir ( ) seria terminar num suicídio ( )última fase de uma depressão mais profunda ( ) a depressão se não tiver um acompanhamento de um profissional pode trazer uma tentativa de suicídio( ) na grande maioria dos casos existe uma relação direta da depressão com o suicídio.( ) uma relação de desencadear ( ) eu acho que dificilmente uma pessoa vai fazer isso sem estar passando por uma depressão ( ) eu acho que tem a ver e muito ( )”. Essa representação corrobora com os estudos realizados pelo conhecimento científico, pois na literatura especializada o comportamento suicida é um dos sintomas característicos, senão específico, da depressão (Corrêa e Barrero, 2006). Os grandes sistemas nosográficos de classificação, como CID 10 e DSM -IV, e algumas escalas internacionalmente reconhecidas para a avaliação dos sintomas depressivos, como o Inventário de Depressão de Beck, também reconhecem a associação entre esses dois fenômenos. Embora o comportamento suicida não esteja associado, exclusivamente, com a depressão, mas com quase todos os diagnósticos psiquiátricos, observou-se que as falas dos participantes atribuem a depressão um papel fundamental no surgimento da ideação suicida, que levaria a uma tentativa ou mesmo ao suicídio consumado. De acordo com as representações apreendidas, a pessoa que comete o suicídio era alguém que vinha passando por um episódio depressivo, que fez com que ele buscasse a própria morte. 136 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Na subcategoria Dúvidas, encontram-se as unidades temáticas referentes às falas dos participantes que não souberam opinar sobre a possível existência de uma correlação entre depressão e suicídio. Os recortes a seguir demonstram que eles possuíam dúvidas ou receio em afirmar seu posicionamento quanto a essa temática. “(...) não sei se dá pra fazer uma relação de causalidade ( ) não necessariamente a depressão vai sempre levar ao suicídio( 2 ) acredito sim que exista relação, mas não muito estreita ( )”. Por fim, na subcategoria Inexistência ,encontram-se as interlocuções referentes à negação da associação entre depressão e suicídio, onde se observou mediante análise dos recortes a seguir, que os estudantes reconheceram que nem toda depressão leva a um ato suicida ou mesmo que esses dois fenômenos não possuem relação alguma. “(...) nem toda depressão faz com que o indivíduo pense em morrer ( 2 ) nem todo mundo que tem depressão chega a tentar o suicídio( ) não é todo suicida que é depressivo ( 2 ) nem todo depressivo vai se tornar suicida ( ) não tem esse grau de obrigatoriedade ( ) eu não consigo ver uma relação entre depressão e suicídio ( ) eu não acho que a pessoa se suicida porque está depressivo ( ) suicídio não está ligado à depressão ( ) quando você está depressivo você não tem disposição para cometer (2 )tem que ter muita mobilidade ( ) coisa que uma pessoa com depressão não tem ( )eu pensei e não estava com depressão ( ) “. Apesar da relação entre depressão e suicídio ser reconhecida pela suicidologia, sabe-se que muitos pacientes com sintomatologia depressiva nunca se tornaram suicidas, assim como muitos suicídios são cometidos por pessoas que não vinham passando por um processo depressivo. Nesse sentido, afirma Solomon (2002), acredita-se que esses dois fenômenos são entidades separadas que com freqüência coexistem, influenciando-se mutuamente. 137 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CONSIDERAÇÕES FINAIS 138 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Atendendo ao objetivo principal de apreender as representações sociais dos estudantes de Psicologia acerca da depressão e do suicídio, o presente estudo, através dos resultados obtidos, possibilitou uma análise científica do que se chama senso comum. Essa análise baseou-se no pressuposto de que o conhecimento do senso comum permite-nos compreender esses fenômenos, a partir de um conhecimento socialmente elaborado e partilhado. Foi possível conhecer os pensamentos, sentimentos e percepções dos participantes da pesquisa, identificando nessas representações suas opiniões, crenças, valores e atitudes. Mediante análise dos dados coletados, pôde-se observar que a depressão foi representada pelos estudantes de forma semelhante à descrição clínica, categorizada nos distúrbios psicoafetivos, independentemente, das variáveis sócio-demográficas pesquisadas. Em relação a essas variáveis, mediante análise feita através do software Tri-Deux-Mots, observou-se que ocorreu o não-aparecimento da variável sexo, o que indica que as representações sociais dos estudantes a respeito dos estímulos dados não foram, significativamente, diferentes entre homens e mulheres. Já as variáveis relacionadas ao período no qual o estudante estava inserido, bem como sua faixa etária; apresentaram diferenças significativas em relação aos estímulos estudados. O suicídio, objetivado pelos estudantes através do elemento morte, representa para esse grupo uma fuga, uma saída escolhida pelo individuo, face às adversidades advindas do meio externo. Investigou-se também a experiência desses indivíduos com o fenômeno suicídio e percebeu-se que os estudantes em sua totalidade afirmaram conhecer dentre seus colegas universitários alguém que já tivesse pensado, tentado ou mesmo chegado a óbito, em decorrência do ato suicida. 139 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. Observou-se que as evocações dadas ao estímulo depressão foram, muitas vezes, as mesmas dadas ao estímulo suicídio, significando uma semelhança entre as representações sociais desses dois fenômenos, para o grupo pesquisado. Tanto para a depressão quanto para o suicídio foi dada a objetivação «morte», o que implica dizer que ambos os fenômenos encontram-se interligados, podendo os dois levar o individuo a óbito. Outra similaridade encontrada, nas representações da depressão e do suicídio, refere-se à descrição desses dois fenômenos, ambos representados como «doença» e enfatizando-se a ajuda da «família» para a melhora dos quadros. A auto-imagem dos estudantes, de uma forma geral, emergiu de forma positiva, coincidindo com o que se espera dos acadêmicos de psicologia. As auto-representações assumem contorno diferenciado em relação ao tempo de vínculo ao curso de psicologia, ora ancorado em manifestações referentes à proximidade do enfrentamento da realidade profissional, ora concentrando-se em manifestações sócio-cognitivas. Observou-se que as auto-representações, desse grupo de afiliação, foram ancoradas em manifestações próprias do período no qual o estudante estava inserido. Os acadêmicos de início do curso ressaltaram sua timidez e seu papel social de estudante, enquanto os alunos concluintes enfatizaram a busca por sua identidade profissional e o otimismo perante a vivência da transação entre sua condição de estudante e de psicólogo. No que se refere à análise realizada mediante utilização do software EVOC, observouse que as evocações constantes dos sistemas central e periférico das representações sociais da «depressão» e do «suicídio» elaboradas pelos estudantes de Psicologia parecem demonstrar uma estrutura representacional semelhante e interligada. Esse paralelismo está posto, uma vez que, as objetivações registradas para o estímuloindutor suicídio são, expressamente, carregadas do elemento «depressão»; no núcleo central, e das próprias representações sociais desse objeto social, no sistema periférico o qual emergiu 140 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. do estímulo suicídio «tristeza, dor e sofrimento». Estes elementos, por sua vez, constituem o núcleo central da representação social da depressão, elaborada pelos participantes. Associada aos aspectos psicoafetivos, encontra-se uma manifestação atitudinal, o elemento «ruim», que complementa a estrutura central acerca da depressão. Entretanto, de acordo com os elementos constantes do núcleo central dos dois construtos representacionais, observa-se que essas semelhanças e interligações apontam, ainda, para uma maior interdependência do suicídio com relação à depressão. Do ponto de vista da representação social do transtorno depressivo, os atores sociais investigados evocaram o suicídio no seu sistema periférico. No que se refere à investigação da ocorrência desses fenômenos, na comunidade acadêmica; observou-se que 10,73% dos estudantes de psicologia apresentaram sintomatologia depressiva, conforme análise do Inventário de Depressão de Beck. Os sintomas dessa patologia destacados, por essa população, apresentaram-se de forma semelhante aos principais sintomas descritos pela nosologia psiquiátrica. A presença da ideação suicida foi encontrada em 11% dos estudantes de psicologia, índice similar ao encontrado na investigação da incidência da depressão. Entretanto, observou-se que apenas 55,56% dos estudantes com ideação suicida haviam obtido pontuação superior ao ponto de corte considerado, no instrumento utilizado para a investigação do transtorno depressivo. Sendo assim, constatou-se que 29,63% apresentaram apenas uma manifestação de alguns sintomas característicos dessa patologia, mas que não constituiu um quadro de depressão. Complementando os dados apreendidos, observou-se que 14,81% dos estudantes que apresentaram ideação suicida no momento da pesquisa, não apresentaram nenhuma espécie de manifestação depressiva. Esse fato ressalta a complexidade do comportamento suicida, sendo 141 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. necessário para sua compreensão à análise de diversos fatores, uma vez que a etiologia desse fenômeno é definida pela literatura específica como multifatorial. Levando-se em consideração que 85,19% dos estudantes com ideação suicida apresentaram também o transtorno depressivo, seja, de forma leve, moderada ou severa, os dados apontam para a existência de uma relação entre a depressão e a ideação suicida, sendo a primeira entendida como um fator de risco para a ocorrência do segundo. Por ser um ato definitivo e irreversível, a prevenção do suicídio faz-se por meio da tentativa de diminuição dos fatores de risco, tanto no nível individual como coletivo, bem como através do reforçamento dos fatores de proteção. Sendo assim, o diagnóstico precoce e o tratamento correto da depressão, pode ser entendida como uma das maneiras mais eficazes de prevenção do suicídio. Um histórico de tentativas anteriores também representa um forte indicador de risco para o ato suicida, devendo, pois, ser levado em consideração, na tentativa de prevenir, a consumação do ato. O índice epidemiológico da depressão, assim como a presença da ideação suicida encontrados na amostra pesquisada, demonstra a necessidade de uma maior atenção a esses jovens acadêmicos, no sentido de promover diferenciados serviços de apoio psicológico na formação desses futuros profissionais. Por meio da entrevista em profundidade e da análise temática do conteúdo, que emergiu das interlocuções dos participantes da pesquisa; foi possível refletir sobre a dimensão dos fenômenos pesquisados, bem como a interligação existente entre eles. Através da análise das classes temáticas, categorias e subcategorias emergentes observou-se que, tanto a depressão quanto o comportamento suicida, afetam todas as esferas da vida do indivíduo, influenciando suas relações interpessoais do dia-a-dia. Os dados apreendidos através das entrevistas foram de extrema importância, uma vez que possibilitou uma maior compreensão das representações sociais dos estudantes de 142 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. psicologia, acerca dos fenômenos pesquisados. Através dessa técnica foi possível também se obter uma ratificação de alguns aspectos enfatizados na Associação Livre de Palavras, analisados e discutidos com a utilização dos softwares Tri-Deux–Mots e Evoc. A utilização da abordagem multimétodo foi de suma importância, uma vez que proporcionou uma complementaridade de informações imprescindíveis para a compreensão de fenômenos tão complexos, como a depressão e o suicídio. As falas dos atores sociais, apresentadas no conteúdo temático das entrevistas, enriqueceram não só a análise das representações sociais apreendidas através da Técnica de Associação Livre de Palavras, como também possibilitou uma compreensão mais detalhada dos sentimentos do ser depressivo e do indivíduo que apresenta comportamento suicida. As representações sociais acerca da depressão e do suicídio, elaboradas pelos estudantes de psicologia, foram permeadas de conhecimento oriundo do senso comum, interligadas com experiências de vida dos atores sociais, intercalando-se também com o conhecimento erudito. O conhecimento dessas representações é de suma importância, não só pelo significado da futura atuação profissional desses indivíduos; mas também da qualidade de vida dos mesmos, que necessitam de uma maior atenção, no que se refere à saúde mental e ao bem-estar biopsicossocial. Considerando que as representações sociais dos indivíduos interferem na forma como eles vêem, e lidam com a patologia, reconhece-se que a análise aqui apresentada não é conclusiva, necessitando de uma maior complementação, no sentido de apreender as representações sociais dos indivíduos que apresentaram o transtorno depressivo, bem como a ideação suicida. Reconhece-se também a necessidade de uma possível ampliação deste estudo, abrangendo uma maior quantidade de estudantes de psicologia, ou mesmo, de outros cursos. 143 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. No que se refere à aplicabilidade do estudo, acredita-se que a investigação de transtornos como a depressão e a ideação suicida na comunidade acadêmica, especificamente em estudantes de psicologia, possa possibilitar, uma maior preocupação com a qualidade de vida e com a formação profissional desses universitários, propondo um acesso mais fácil aos serviços de ajuda psicológica da instituição. Além disso, acredita-se, também que a compreensão da forma como esses indivíduos vêem e lidam com os fenômenos pesquisados, sob a ótica da Teoria das Representações Sociais, possibilita uma complementaridade entre o saber cientifico e o senso comum. 144 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. REFERÊNCIAS 145 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. REFERÊNCIAS Abreu, M.C. (2003). Depressão e Maturidade. Brasília Plano. Abric, J.C.(1994). Pratiques sociales et représentations. Paris, PUF. Abric, J. C. (1998). A abordagem estrutural das representações sociais. In A. S. Moreira & D. C. Oliveira. (Orgs.), Estudos Interdisciplinares de representações sociais (pp. 27-38). Goiânia: AB. Abric, J. C. (2003). L’analyse structurale des représentations sociales. In S. Moscovici & F. Buschini (Orgs.), Les Méthodes des Sciences Humaines (pp. 375-392). Paris:PUF. Almeida, N. (2005). Ideação Suicida em Estudantes do Ensino Superior. 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Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação na assistência que vem recebendo na Instituição. Solicito sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos científicos e publicar em revista cientifica. Por ocasião da publicação dos resultados, seu nome será mantido em sigilo. O pesquisador estará a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere necessário em qualquer etapa da pesquisa. Estamos interessados em saber como os universitários têm se sentido ultimamente, bem como as opiniões que possuem a respeito de determinados assuntos. Ao final deste questionário também lhe são pedidas algumas informações complementares. Todas as informações são confidenciais e não existem respostas consideradas certas ou erradas. Apesar deste estudo não oferecer benefício imediato aos participantes, contribuirá ao banco geral do conhecimento psicológico. Os resultados finais deste estudo estarão disponíveis no primeiro semestre de 2008. Para obtê-los, favor contatar os responsáveis pela pesquisa através dos meios acima citados. Consentimento: Certifico haver lido o anteriormente descrito e compreendo que sou livre para interromper minha participação na pesquisa em qualquer momento sem que isso acarrete penalização. Pela presente, dou meu consentimento para participar do estudo. João Pessoa, ________ de __________________ de 2007. _______________________________________________ Assinatura do participante 153 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ANEXO C – Inventário de Depressão de Beck BDI 1. a) Não me sinto triste. b) Eu me sinto triste. c) Estou sempre triste e não consigo sair disto. d) Estou tão triste ou infeliz que não consigo suportar. 2. a) Não estou especialmente desanimado quanto ao futuro. b) Eu me sinto desanimado quanto ao futuro. c)Acho que nada tenho a esperar. d)Acho o futuro sem esperança e tenho a impressão de que as coisas não podem melhorar. 3. a) Não me sinto um fracasso. b) Acho que fracassei mais do que uma pessoa comum. c) Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos. d) Acho que, como pessoa, sou um completo fracasso. 4. a) Tenho tanto prazer em tudo como antes. b) Não sinto mais prazer nas coisas como antes. c) Não encontro um prazer real em mais nada. d) Estou insatisfeito ou aborrecido com tudo. 5. a) Não me sinto especialmente culpado. b) Eu me sinto culpado grande parte do tempo. c) Eu me sinto culpado na maior parte do tempo. d) Eu me sinto sempre culpado. 6. a) Não acho que esteja sendo punido. b) Acho que posso ser punido. c) Creio que vou ser punido. d) Acho que estou sendo punido. 7. a) Não me sinto decepcionado comigo mesmo. b) Estou decepcionado comigo mesmo. c) Estou enjoado de mim. d) Eu me odeio. 8. a) Não me sinto de qualquer modo pior que os outros. b) Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas ou erros. c) Eu me culpo sempre por minhas falhas. d) Eu me culpo por tudo de mal que acontece. 154 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 9. a) Não tenho quaisquer idéias de me matar. b) Tenho idéias de me matar, mas não as executaria. c) Gostaria de me matar. d) Eu me mataria se tivesse oportunidade. 10. a) Não choro mais que o habitual. b) Choro mais agora que o habitual. c) Agora, choro o tempo todo. d) Costumava ser capaz de chorar, mas agora não consigo mesmo que o queira. 11. a) Não sou mais irritado agora do que já fui. b) Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que costumava. c) Agora eu me sinto irritado o tempo todo. d) Não me irrito mais com coisas que costumavam me irritar. 12. a) Não perdi o interesse pelas outras pessoas. b) Estou menos interessado pelas outras pessoas do que costumava estar. c) Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras pessoas. d) Perdi todo o interesse pelas outras pessoas. 13. a) Tomo decisões tão bem quanto antes. b) Adio as tomadas de decisões mais do que costumava. c) Tenho mais dificuldades de tomar decisões do que antes. d) Absolutamente não consigo mais tomar decisões. 14. a) Não acho que de qualquer modo pareço pior do que antes. b) Estou preocupado em estar parecendo velho ou sem atrativo. c) Acho que há mudanças permanentes na minha aparência, que me fazem parecer sem atrativo. d) Acredito que pareço feio. 15. a) Posso trabalhar tão bem quanto antes. b) É preciso algum esforço extra para fazer alguma coisa. c) Tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa. d) Não consigo mais fazer qualquer trabalho. 16. a) Consigo dormir tão bem como o habitual. b) Não durmo tão bem como costumava. c) Acordo 1 a 2 horas mais cedo do que o habitual e acho difícil voltar a dormir. d) Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não consigo voltar a dormir. 17. a) Não fico mais cansado do que o habitual. b) Fico cansado mais facilmente do que costumava. c) Fico cansado em fazer qualquer coisa. d) Estou cansado demais para fazer qualquer coisa. 18. a) O meu apetite não está pior do que o habitual. 155 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. b) Meu apetite não é tão bom como costumava ser. c) Meu apetite é muito pior agora. d) Absolutamente não tenho mais apetite. 19. a) Não tenho perdido muito peso se é que perdi algum recentemente. b) Perdi mais do que 2 quilos e meio. c) Perdi mais do que 5 quilos. d) Perdi mais do que 7 quilos. 20. a) Não estou mais preocupado com a minha saúde do que o habitual. b) Estou preocupado com problemas físicos, tais como dores, indisposições do estômago ou constipação. c) Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa. d) Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em qualquer outra coisa. 21. a) Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por sexo. b) Estou menos interessado por sexo do que costumava. c) Estou menos interessado por sexo agora. d) Perdi completamente o interesse por sexo. 156 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. ANEXO D – Escala de Ideação Suicida de Beck BSI 1. a) Tenho um desejo de viver que é de moderado a forte. b) Tenho um desejo fraco de viver. c) Não tenho desejo de viver. 2. a) Não tenho desejo de morrer. b) Tenho um desejo fraco de morrer. c) Tenho um desejo de morrer que é de moderado a forte. 3. a) Minhas razões para viver pesam mais que minhas razões para morrer. b) Minhas razões para viver ou para morrer são aproximadamente iguais. c) Minhas razões para morrer pesam mais que minhas razões para viver. 4. a) Não tenho desejo de me matar. b) Tenho um desejo fraco de me matar. c) Tenho um desejo de me matar que é de moderado a forte. 5. a) Se estivesse numa situação de risco de vida, tentaria me salvar. b) Se estivesse numa situação de risco de vida, deixaria vida ou morte ao acaso. c) Se estivesse numa situação de risco de vida, não tomaria as medidas necessárias para evitar a morte. Se você assinalou as afirmações “a”, em ambos os grupos 4 e 5, passe para o item 20. Se você assinalou “b” ou “c”, seja no grupo 4 ou 5, prossiga respondendo o item 6. 6. a) Tenho breves períodos com idéias de me matar que passam rapidamente. b) Tenho períodos com idéias de me matar que duram algum tempo. c) Tenho longos períodos com idéias de me matar. 7. a) Raramente ou ocasionalmente penso em me matar. b) Tenho idéias freqüentes de me matar. c) Penso frequentemente em me matar. 8. a) Não aceito a idéia de me matar. b) Não aceito nem rejeito a idéia de me matar. c) Aceito a idéia de me matar. 9. a) Consigo me controlar quanto a cometer suicídio. b) Não estou certo se consigo me controlar quanto a cometer suicídio. c) Não consigo me controlar quanto a cometer suicídio. This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. 10. a) Eu não me mataria por causa da minha família, de meus amigos, de minha religião, de um possível dano por uma tentativa mal sucedida. b) Eu estou um tanto preocupado a respeito de me mata,r por causa da minha família, de meus amigos, de minha religião, de um possível dano por uma tentativa mal sucedida. c) eu não estou ou estou só um pouco preocupado a respeito de me matar, por causa da minha família, de meus amigos, de minha religião, de um possível dano por uma tentativa mal sucedida. 11. a) Minhas razões para querer cometer suicídio tem em vista principalmente influenciar os outros, como conseguir me vingar das pessoas, torná-las mais felizes, fazê-las prestar mais atenção em mim, etc. b) Minhas razões para querer cometer suicídio não tem em vista apenas influenciar os outros, mas também representam uma maneira de solucionar meus problemas. c) Minhas razões para querer cometer suicídio se baseiam principalmente numa fuga de meus problemas. 12 a) Não tenho plano específico sobre como me matar. b) Tenho considerado maneiras de me matar, mas não elaborei detalhes. c) Tenho um plano específico para me matar. 13 a) Não tenho acesso a um método ou a uma oportunidade de me matar. b) O método que usaria para cometer suicídio leva tempo e realmente não tenho uma boa oportunidade de usá-lo. c) Tenho ou espero ter acesso ao método que escolheria para me matar e, também, tenho ou teria oportunidade de usá-lo. 14 a) Não tenho a coragem ou a capacidade para cometer suicídio. b) Não estou certo se tenho a coragem ou a capacidade para cometer suicídio. c) Tenho a coragem e a capacidade para cometer suicídio. 15. a) Não espero fazer uma tentativa de suicídio. b) Não estou certo de que farei uma tentativa de suicídio. c) Estou certo de que farei uma tentativa de suicídio. 16. a) Eu não fiz preparativos para cometer suicídio. b) Tenho feito alguns preparativos para cometer suicídio. c) Meus preparativos para cometer suicídio já estão quase prontos ou completos. 17. a) Não escrevi um bilhete suicida. b) Tenho pensado em escrever um bilhete suicida ou comecei a escrever, mas não terminei. c) Tenho um bilhete suicida pronto. 18. a) Não tomei providências em relação ao que acontecerá depois que eu tiver cometido suicídio. b) Tenho pensado em tomar providências em relação ao que acontecerá depois que eu tiver cometido suicídio. 158 This document is created with trial version of Document2PDF Pilot 2.5.73. c) Tomei providências definidas em relação ao que acontecerá depois que eu tiver cometido suicídio. 19. a) Não tenho escondido das pessoas o meu desejo de me matar. b) Tenho evitado contar às pessoas o meu desejo de me matar. c) Tenho tentado não revelar, esconder ou mentir sobre a vontade de cometer suicídio. 20. a) Nunca tentei suicídio. b) Tentei suicídio uma vez. c) Tentei suicídio duas ou mais vezes. Se você tentou suicídio anteriormente, por favor, continue no próximo grupo de afirmações. 21. a) Durante a última tentativa de suicídio, meu desejo de morrer era fraco. b) Durante a última tentativa de suicídio, meu desejo de morrer era moderado. c) Durante a última tentativa de suicídio, meu desejo de morrer era forte. 159