O Tsunami e o mercado
Outubro de 2008
Em 2004, as Ilhas Tailandesas do sudeste foram
atingidas por um Tsunami, matando milhares de
pessoas, principalmente turistas. Na Ilha fashion de
Phuket que era uma das mais badaladas do mundo,
morreram 5.000 pessoas e mais de 100.000 mil
pessoas em ilhas adjacentes.
Quando estive um ano depois do desastre ecológico
em Phuket, fiquei extremamente impressionado, não só
com a reconstrução, como também com a quantidade
de turistas europeus que lotavam as ilhas de Phuket, Phi
Phi e outras.
Sem dúvida, as marcas continuaram através
dos sinais de fuga para os refúgios nas montanhas
e treinamento constante da população local como
prevenção de eventos catastróficos futuros.
O que mais me marcou foi a decisão das pessoas
que, atraídas por suas deslumbrantes paisagens,
voltavam para as inúmeras ilhotas da região. Meu
primeiro pensamento foi de como o ser humano tem a
capacidade de absorver e se adaptar aos momentos
mais críticos de sofrimento, reerguer suas cidades e
seguir a vida, dia apos dia.
Na realidade estamos em um tsunami financeiro em
que a analogia comparativa no fundo é a mesma: muitos
morrerão e Wall Street será devastada, como suas
ilhas, ou grandes centros financeiros e daqui a um ano,
estaremos de novo encantados pela sua beleza, como
no caso do Paradise Tailandês, onde milhares de turistas
lotam seus hotéis, pois a vida continua, dia após dia.
Wall Street receberá também de volta seus turistas
investidores.
Todo este refrão: Wall Street acabou, o mercado não
será mais o mesmo, chegou a era da desalavancagem,
tudo isso não é real. A demanda de aplicação de
capital, tanto por parte daqueles que necessitam
de remuneração superior a determinados atuariais,
como também os compromissos assumidos pelas
previdências, seguradoras e outras entidades que têm
demanda de remuneração da poupança previdenciária e
seguradora, trará o capital sempre para o risco, por uma
necessidade suprema de rentabilizá-lo acima dessas
metas, assim como fizeram esses capitais irem para
os sub-primes. Além do fato de que o PIB financeiro
representa hoje um dos maiores contribuintes de
impostos aos governos.
A economia se sofisticou, a nossa vida também e não
há mais volta ao passado. Podemos sentir até saudade
da época em que não tínhamos celulares e internet.
Parecia que o tempo era maior, sempre nos sobrava
tempo para fazer alguma coisa parecida com pensar,
coisa que os novos tempos não permitem, pois se
permitissem, não teríamos chegado a esta insanidade
de alavancagem dos ativos, em 40 até 50 vezes, como
no caso do sub prime. É mais ou menos assim, todo
mundo sabe, mas ninguém acredita que um dia a casa
vai cair ou ruir como um castelo de cartas, e o que
estamos vendo é o sistema prestes a ruir. Será que vai?
Tenho convicção que não. As instituições financeiras
podem quebrar, mas o sistema não vai quebrar, agora
ele vai, sim, passar como um tsunami de larga escala
e muitos irão à lona. Alguns países terão uma maior ou
menor intensidade de recessão, mas não quebrarão.
Sabem por que motivo? Pelo motivo da inércia do
capital. O que é inércia do capital, em palavras simples, é
o que está acontecendo agora com o fluxo de capital: ele
volta para o mesmo lugar, que são os títulos do Tesouro
americano, a uma taxa bem baixinha, dez anos, 2,5%
aa, justamente do país que está mais exposto à crise
e que sairá desta empreitada de resgate com o maior
déficit fiscal do mundo, disparado. Os títulos emitidos
pelo governo americano são justamente os ativos
mais procurados como porto seguro para o capital que
busca refúgio dos riscos de mercado, e no dólar que é
a moeda suprema e vai ainda continuar sendo por um
longo tempo. Nós não temos tempo para pensar, pois
se pensássemos corretamente, o mundo deveria ficar
longe do dólar. Mas, o engraçado de tudo isto é que a
nossa primeira percepção de risco aqui no Brasil nos faz
correr para comprar dólares como segurança. É tempo
de parar para pensar.
Enfim, o que fazer com o nosso capital? É sempre
com esta pergunta que me deparo diante de pessoas
que encontro e me perguntam. Tenho dito algumas
coisas simples, mas profundas, umas de observação
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minha e outras que lí, como a de Warren Buffet:
“A hora de temer o mercado é quando as pessoas
estão corajosas e a hora de ser corajoso é quando as
pessoas estão temerosas”.
Complementando esta citação, eu diria que o
mercado é como um prédio alto em um incêndio, se você
está pendurado no 15º andar, sua chance de salvação
é apenas uma, através de um helicóptero, pois se cair
você morre. Por outro lado, se você estiver no 3º andar
ou abaixo, a possibilidade de pular e apenas quebrar
alguns ossos, é grande.
O importante neste momento é saber em que andar
você está, e como não vai saber, vá investindo devagar,
aos poucos, com cautela. Você precisa de conforto
psicológico para operar nos mercados de grande
volatilidade e stress. Se você comprou pouco e subiu,
fica feliz porque já tem uma boa compra e se o mercado
caiu, também fica feliz por ter comprado pouco e porque
você tem dinheiro para mais ou até desistir. O que não
pode é ficar como um torcedor na arquibancada. Crie
sempre uma porta de saída, mas não deixe de investir,
pois no momento das crises é que se fazem os grandes
investimentos e negócios.
Como saber em que andar está e se este é o melhor
momento de entrar ou não na bolsa?
RSID3
35
30
25
20
15
10
5
0
2005
2006
2007
2008
2006
2007
2008
2006
2007
2008
IDNT3
12
10
8
6
4
2
0
2005
LAME
25
20
15
1) O referencial do PL é um fator para avaliar, mesmo
com o desconto do crescimento a ser atribuído. A
queda será tão menor quanto o mesmo for.
2) Outro fator importante são os preços históricos
versus o tempo de investimento feito pela
empresa ao longo de alguns anos, em que você
ganha toda a produtividade e experiência, por
preços históricos de três ou quatro anos atrás.
Isto é um dado extremamente importante,
principalmente quando existe eficiência de
gestão. Praticamente, você leva isto de graça.
Vou colocar alguns gráficos para melhor
avaliação.
10
5
0
2005
BTOW3
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
2005
2006
2007
2008
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3) O terceiro item é a escolha das empresas. Procure
aquelas que estão comprometidas com o negócio.
Exemplo: Empresas em que os acionistas
controladores estão colocando seu capital em um
momento de crise, com o objetivo de preservar a
empresa. Este é um dos sinais relevantes, pois
muitos receberam este capital como parte do IPO.
Na realidade, a alocação de capital é a arte da
simplicidade, em que cada vez mais os vencedores serão
os mais claros e objetivos na sua forma de perceber os
caminhos a serem seguidos. Agora mesmo, estamos
vendo uma série de empresas tradicionais - Sadia,
Aracruz, Votorantin - perdendo uma importante parte
do patrimônio financeiro em função de operações
sofisticadas de opções flexíveis com barreiras, que
nem perderei tempo em explicar, porque no fundo não
as entendemos, pois se os gestores as entendessem,
saberiam que existe uma palavra em mercado que se
chama descontinuidade.
Engraçado, não é? Mas é assim. Os modelos
trabalham, usam modelos estatísticos de risco
considerando volatilidades passadas e usam stress
de probabilidade alta, mas sempre o mercado prega
peças que desmontam estes modelos, aparentemente
perfeitos, que é a descontinuidade dos parâmetros não
mensurados nos modelos de riscos.
Juntando Bonds Brasileiros e enxugamento de
recursos dos IPOs, 70% dos lançamentos que foram
comprados por estrangeiros e mais as operações
cambiais em balcão com as empresas exportadoras, que
estavam brincando de Banco, pois tinham uma mesa de
trading, fez com que o dólar tivesse uma trajetória de
alta espetacular como uma das nossa maiores maxidesvalorizações, criando assim um ambiente de restrição
creditícia. E isto, o Brasil sendo Investment Grade, que
aliás só ajudou a nós, do mercado de investimento, a
perder mais dinheiro, pois todos acreditamos que as
notas de rating nos dariam direito a esquecer o quanto
temos de ineficiência administrativa, tributária e jurídica,
e mais uma vez acreditamos na mentira de que já éramos
país do primeiro mundo.
Quem sabe, agora, depois desta lambança deles,
talvez seja mesmo a hora dos emergentes.
Mas voltando as Ilhas de Phuket, Tailandesas, foram
criados uma série de alarmes, várias rotas de fugas para
o topo da montanha e serão feitos investimentos em
radares preventivos das marés, como forma de antever
outros Tsunamis.
Em uma linguagem mais simples, são eventos não
imaginados em velocidades e prazos descontínuos.
Simples, não? Na realidade toda a nossa retração de
crédito atual também não foi percebida a tempo pelas
nossas autoridades, que também acreditaram na própria
mentira de que poderíamos estar descolados da crise.
E assim segue a vida. Nada como um dia após o outro.
Rio de Janeiro, 13 de outubro de 2008.
Saul Sabbá
Ninguém no Brasil aplicou em ativos americanos
denominados sub-prime - muito em função da nossa
legislação ser mais rígida na aplicação de capital no
exterior, assim, não temos uma contaminação direta por
ativos. Mas, as instituições que sofreram com o subprime são as mesmas que alavancaram os nossos IPOs
e os nossos Corporate Bonds, enfim fomos pego pelo
rabo. O crédito externo secou as linhas e os bancos e
empresas começaram a ter que buscar suas rolagens ou
liquidações, aqui, pelos lados do Brasil.
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