"O olho aberto vê o livro"
O livro de imagem e a percepção de mundo da criança
Palestra apresentada na Cinemateca do MAM/RJ por ocasião do
8° Seminário FNLIJ de Literatura Infantil e Juvenil 28.08.2006
Renate Raecke, especialista em ilustração
Foi-me pedido, falar hoje aos senhores sobre ilustrações, mais especificamente sobre as
ilustrações de livros de imagem. Agradeço a seção brasileira da IBBY (Fundação Nacional do
Livro Infantil e Juvenil - FNLIJ) bem como o Goethe-Institut e a Escola Alemã (Escola Alemã
Corcovado) por este convite. Começarei com alguns exemplos de imagem desta exposição, pois
paralelamente a esta semana de livros para crianças será mostrada uma exposição do GoetheInstitut, para a qual escrevi o texto introdutório. Na primeira parte da minha palestra abordarei a
"Ilustração Contemporânea de Livros Infantis na Alemanha".
Na segunda parte abordarei, a pedidos, (e como acordado com os expositores) minhas
experiências em júri nacional e internacional sobre ilustração e explicarei um pouco das idéias e
padrões de ilustrações com o auxílio de exemplos e comparações (da escolha deste ano para a
"Illustrators Exhibition" durante a feira internacional de livros infantis em Bolonha/Itália), sobre os
quais foi discutido no júri.
Parte I
1. Wolf Erlbruch
Há nesta exposição um artista, em cuja obra eu gostaria de entrar bem como mencionar obras
além das expostas na exposição, pois ele foi premiado neste ano com a medalha Hans Christian
Andersen: Wolf Erlbruch, um dos ilustradores alemães de maior êxito dos últimos 20 anos.
Quando a exposição foi elaborada para o Goethe-Institut na Alemanha (em outubro de 2005), a
premiação de Wolf Erlbruch ainda não havia sido decidida - mas hoje, pois nós já o festejamos
como ganhador do Andersen (ainda que a premiação só seja concedida durante o congresso da
IBBY em Pequin em outubro de 2006) é apropriado, eu acho, destacá-lo um pouco dentre os 13
ilustradores da exposição. O HCA Award é uma das maiores premiações que pode ser
concedida para a obra de vida de um ilustrador de livro infantil. Na justificativa do júri
internacional consta:
"Um dos grandes inovadores da ilustração contemporânea de livros infantis é premiado com a
medalha Hans Christian Andersen 2006. Wolf Erlbruch domina uma grande variedade de estilos
artísticos, cita e combina soberano diferentes estilos artísticos dos séculos 19 e 20 e sempre
encontra novos caminhos para atingir crianças de todas as idades. Às vezes simples e natural,
outras vezes denso e complexo, ele é sempre brincalhão, bem humorado e filosófico."
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[The 2006 Hans Christian Andersen Medal for Illustration recognizes one of the great innovators
and experimenters of contemporary children's book illustration. Wolf Erlbruch masters an array of
artistic registers, is as at home citing and combining artistic styles of the 19th and 20th centuries
as he is inventing new ways to reach out to children of all ages. Sometimes simple and elemental, at other times dense and intrincate, he is always playful, humorous, and philosophical.]
Nesta justificativa do júri, sobretudo nesta última frase, se escondem alguns motes, que
caracterizam o êxito das ilustrações de Erlbruch: simples, natural, denso, complexo, brincalhão,
humorado e filosófico. Contemplamos alguns livros de imagem dele.
Já com seu segundo livro de imagem Vom kleinen Maulwurf, der wissen wollte, wer ihm auf den
Kopf gemacht hat [Da pequena toupeira que queria saber quem tinha feito cocô na cabeça dela]
(1989) Erlbruch teve um êxito avassalador. Uma história muito simples: Uma pequena toupeira
envia em um dia de verão a cabeça de seu morro de toupeira e uma notável salsicha marrom
aterriza em sua cabeça (que ele carrega toda má-sorte ao desafio através do livro inteiro com
uma grandeza, como se fosse uma criação exclusiva de casa!). Logo, uma baixaria! A toupeira
deseja saber: Quem foi este!? Ela indaga diferentes animais, o cavalo, o coelho entre outros. O
livro trouxe ao Erlbruch e à editora um enorme êxito, crianças e adultos tomaram
espontaneamente a toupeira. Neste ínterim foi publicada a 31ª edição (ao todo cerca de 900.000
cópias com base na editora M. Bilstein, telefonema em 14.8.06) e o livro deve ser contado entre
os clássicos dos livros de imagens alemãs.
Podemos seguir com o próximo livro de Erlbruch do ano 1990: Die fürchterlichen Fünf. Uma
história, que não somente trata do marginalizado na sociedade, mas também do marginalizado
no mundo dos animais de livros de imagem: em oposição ao ratinho doce de açúcar, ao
coelhinho, ao gatinho, ao porquinho e ao ursinho, que povoam o mundo dos livros de imagem
aos milhares, Erlbruch escolhe figuras completamente diferentes. Na história dele um sapo, um
rato, um morcego e uma aranha se encontram. Eles se acham horríveis e sofrem com o
desprezo da sociedade. É justo que a hiena (a quinta na liga), que lhes dá ânimo, ponha seus
talentos musicais no prato da balança e arrisque uma entrada em cena como "banda". A história
de Erlbruch sobre a coragem à individualidade é entendida por adultos e crianças. Seus
personagens com seus defeitos e “cantos” convencem, eles não são "amaciados" para o livro de
imagem. Eles se esquivam de todo jeito de fazer bonitinho e forma de redução lingüística. São
personagens reservados, que não querem se "esconder" na vida. Eles só querem uma coisa:
serem aceitos como são.
(Adaptação de sucesso para o teatro infantil!)
"Credibilidade é a importância máxima da ilustração. Mesmo que os caracteres sejam
caricaturados, eles devem retratar algum grau de credibilidade. [...] Um artista pode desenhar
absurdos que qualquer um sabe ser impossível, com um carácter que todos sabem não existir,
mas é pintado de uma forma tão natural que o observador esquece seu lado imaginário. Para
mim isto é credibilidade." (Klaas Verplancke, ilustrador belga, nascido em 1964, Anuário de
Bolonha 2004, p. 19).
Em 1995 Erlbruch continua com um livro que ao mesmo tempo que é humorado, é filosófico,
simples e complexo: Frau Meier, die Amsel [Senhora Meier e o melro] Enquanto o Sr. Meier, o
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artista, como nós o vimos no começo no retrato, se exercita descontraído e sereno na aquarela
japonesa, Sra. Meier se preocupa inutilmente de manhã à noite com botões caídos, bolos mal
feitos, possíveis quedas de neve, aviões caídos e outras catástrofes. Sua vida se transforma,
quando ela encontra um melro caído do ninho: "Agora", assim está no texto, "Sra. Meier tinha
toda razão para se preocupar, e ela logo esqueceria o sol e o frio, botões, bolos, aviões...".
Enfim: Sra. Meier encontrou um sentido para a vida. Ela pega o melro, cria, cuida e o alimenta até que chega o dia em que o pássaro deve aprender a voar. De maneira singular Erlbruch põe
em imagem, como a Sra. Meier senta com o melro na árvore e o demonstra os movimentos de
vôo. Não é de espantar que a Sra. Meier consiga fazer o pássaro voar, e que ela (observe o
título: Sra. Meier, o melro) desde então, longe de qualquer preocupação, parte todas as manhãs
para um pequeno vôo sob o pasto.
O motivo de um personagem principal sentado em um galho é um motivo de imagem recorrente
nos livros de imagem de Erlbruch, eu poderia, se nós tivéssemos mais tempo, mostrá-los vários
exemplos. Eu me limito a um outro exemplo de imagem da obra Die Werkstatt der
Schmetterlinge com texto de Gioconda Belli, publicada em 1994. Sem querer pensamos na
contínua repetição do motivo no romance de Italo Calvino Der Mann in den Bäumen / Il barone
rampante (1957), no qual o personagem se retira da vida “normal” na terra, isto é, da vida presa
à convenção através da vida perpétua em cima da árvore. Erlbruch toma a posição entre céu e
terra como a de um Robinson moderno que se permite a liberdade à perspectiva nãoconvencional. É uma liberdade, que será concedida pela poesia!
Uma outra imagem da obra Die Werkstatt der Schmetterlinge mostra a força dos personagens de
Erlbruch: O conto de fadas é um tipo de história da criação: Na imagem vemos a sábia velha,
que dá ao "jovem" designer ordens e regras, como devem ser vistas suas criaturas que são
criadas na oficina. É uma imagem, que também mostra, com que meios Erlbruch trabalha
(colagem com diferentes papéis) e contém referências às suas inspirações/influências (carimbo
japonês).
Eu chego agora na imagem, que deu o título à palestra, é uma ilustração do Neues ABC Buch [O
novo abecedário] de Karl Philipp Moritz (1790) com ilustrações de Wolf Erlbruch (2000).
Karl Philipp Moritz (1756-1793), um pedagogo apaixonado e iluminista, não só quis transmitir
com seu livro do abecedário os fundamentos elementares da leitura, mas também do
pensamento.
Pouco mais de dois séculos depois Erlbruch ilustra a nova edição do livro do abecedário de
Moritz. Suas imagens para este abecedário histórico transformam em realidade as intenções
iluministas do autor. Praticamente não existe um exemplo melhor para mostrar a força própria de
uma ilustração. Os desenhos e colagens de Erlbruch transportam um texto antigo à nossa
época. "A primeira imagem mostra o olho com o qual eu vejo as imagens." Erlbruch fez uma
colagem frugal com uma figura elíptica em forma de olho, sobre uma superfície verde. À sua
frente se encontra, com as costas para um espectador que lê, uma criança. Está parada de tal
forma que olha exatamente dentro da parte branca do olho, uma vez que sua cabeça redonda de
cabeleira preta forma a pupila escura de um olho que nos vê. Perceber e ser percebido no
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mesmo instante! "O olho aberto vê o livro" - o olho como chave: para conectar a linguagem, a
imagem e a consciência!
A imagem com a letra G = Geruch [cheiro]: exemplo da "citação" de Erlbruch: Alice no país das
maravilhas, iris japonesa (aparece com freqüência! texto: "Eu posso ver a linda cor de uma flor.
Mas o perfume da flor eu não posso ver."
A imagem para a letra P = Pokal [taça]: Com a tábula redonda decadente, Erlbruch cita a arte
dos anos 20, por exemplo de um George Grosz.
Texto: "O dono da casa é um homem rico. Ele tem muito mais do que se precisa. Ninguém
precisa de uma taça de ouro."
Com um último exemplo de Erlbruch eu quero elucidar a variedade de sua obra: Die
Menschenfresserin. Erlbruch produziu em 1996 imagens (colagens) de força penetrante para um
texto da francesa Valérie Dayre construído como conto de fadas / parábola, que levaram a fortes
discussões. Breve sobre o conteúdo: trata-se de uma mulher, que era tão má, que chegava a
desejar comer uma criança! As pessoas em sua vizinhança escondiam seus filhos, naturalmente,
mas quanto mais tempo elas as escondiam, mais insuportável ficava a cobiça da mulher.
Finalmente, quando ela não encontra mais nenhuma vítima nas ruas, ela devora em seu desejo
incontrolável seu próprio filho. A discussão naturalmente incendiou com a pergunta: Pode-se
mostrar tais imagens à uma criança (o formato de livro de imagem propõe isto) - talvez sejamos
unânimes, que todos nós teríamos problemas com isto. Apesar disso a crítica estava convencida
da transformação artística, que levou ao termo o sofrimento da mulher: Aqui não age nenhuma
pessoa brutal, mas muito sofrida, envolvida em seu vício e saudade e incapaz de se libertar
disto. No momento decisivo em que a mãe engole seu próprio filho, Erlbruch se apresenta com
uma página vazia (esquerda) de livro - na página do lado oposto (à direita) é refletido o
acontecimento sem palavras através do espanto do macaco de brinquedo, que até este
momento estava sem vida.
2. Ilustradores alemães contemporâneos
Quando Karl Philipp Moritz criou seu abecedário mencionado anteriormente, o livro de imagem
ainda era um bem valioso no quarto da criança, que naturalmente era reservado às classes
abastadas. Naquela época em que só se começava a conceder uma formação escolar
generalista às crianças (na Europa), estes livros foram pensados para dar às crianças uma
imagem de mundo através da visualização / ilustração: As crianças deviam poder recriar para si
uma imagem, isto é, elas deveriam se apropriar de uma imagem do mundo em três partes: ver,
nomear e explicar.
Quais as possibilidades, que resultado as imagens têm hoje? Certo é: as crianças são
bombardeadas por imagens. Elas tiveram há muito tempo, por exemplo ainda na minha infância,
em sua maior parte só imagens de livros, que elas moldavam, são hoje imagens da televisão, de
filmes, de outdoors, de jogos de computadores etc. Muitas destas imagens nossas crianças
notam inconscientemente e as salvam em sua memória despercebidas de nossa própria
percepção. A imagem de mundo compõe-se de várias impressões visuais salvas. O
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reconhecimento e denominação de objetos, da lâmpada, mesa e cama, do leão, elefante e galo,
gosta de brincando ser realizada - muito mas importantes são as imagens de mundo marcadas
individualmente, das quais os artistas nos dão uma noção: Destas - e somente destas queremos e devemos cuidar: Eu acho que existe algo que une os artistas aqui expostos, mesmo
com sua escrita/técnica artística tão diferente: O que os une é que eles desenham uma imagem
de mundo individual também marcada por suas próprias experiências de vida: Eles oferecem
aventuras engraçadas ou poesias sutis, figuras estranhas ou carácteres com um traçado reto.
Eles nos oferecem imagens individualistas e também em parte não convencioniais, com as quais
devemos nos envolver. Nem todos correspondem àquilo que estamos acostumados a ver - mas
todos correspondem ao que esperamos das imagens: Nós podemos nos encontrar nas
saudades humanas e nos divertimentos animais; podemos nos espelhar em comentários irônicos
ou acontecimentos bizarros. Estas imagens são exatamente as que ficam em nossas cabeças,
que nos acompanham uma vida inteira. E mais exatamente são as que o livro de imagem precisa
- sem se e porém.
Com Jutta Bauer e Rotraut Susanne Berner temos na exposição dois exemplos de ilustração de
um texto literário. Ambos os textos têm um leve toque filosófico, que para as ilustradoras era um
desafio extremo.
O texto de Peter Stamm Warum wir vor der Stadt wohnen (2005) é um texto que, por sua
maneira poética sutil e por outro lado além da realidade, é extremamente difícil de ilustrar.
Retrata a fantástica odisséia de uma família numerosa que busca um lar. De maneira sutil,
poética e um tanto intrincada Stamm descreve os lugares muito bizarros nos quais a família se
estabelece: sempre o lugar escolhido não é aceito por um membro da família. Jutta Bauer
contrapõe ao lado do texto enriquecido de inúmeros detalhes suas imagens, que nem se
esforçam em traduzir as fantasias ricas descritas em palavras pelo autor.
Ela se entrega completamente à poesia e à musicalidade do texto, idealiza em suas imagens as
visões do autor, sem representá-las fielmente em palavras. Suas imagens traduziram
congenialmente a leveza do texto.
Rotraut Susanne Berner ilustrou um texto de Jürg Schubiger Mutter, Vater, ich und sie (1997),
que assim como Peter Stamm, é um autor suíço. Um pequeno narrador em primeira pessoa
descreve seu cotidiano com a mãe, o pai e sua pequena irmã, que no texto não tem nome e só
descrita como "ela". O autor conta aparentemente de forma ingênua as perguntas existenciais,
que movem as crianças - trata-se da vida e da morte, do céu e da terra. Berner demonstra com
suas linhas simples a proximidade com o desenho infantil, isto é, com a perspectiva narrativa das
crianças - e demonstra com cada ilustração, que ela, bem como o autor, sabe mais da vida do
que a narradora criança. É exatamente este arco de tensão que dá vida ao livro.
P. 13 "No mundo tudo combina e em nenhum lugar há uma lacuna"
P. 28 "Existem pessoas que podem imaginar o grande sem o diminuir?"
P. 39 "No corpo é escuro e de cima se vê para fora."
P. 53 "Morrer é normal para todas as pessoas, animais e plantas, mas não para quem está
morrendo."
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Dois exemplos devem seguir, dois escritos artísticos que não poderiam ser mais diferentes um
do outro:
Klaus Ensikat (nascido em 1937) e Nadia Budde (1967): 30 anos entre eles e eles representam,
como veremos em suas imagens, duas gerações de fato.
Klaus Ensikat ilustra o texto de Erwin Strittmatter Ponyweihnacht (2005). Para o entendimento da
história e da ilustração devamos saber que ambos os artistas, tanto o autor quanto o ilustrador,
são artistas da ex-RDA. Assim se pode entender a história - e só assim é possível entender o
que o iustrador fez com o texto. Klaus Ensikat, ao lado de Wolf Erlbruch, a propósito, o único
ganhador alemão do HCA Award (1994) no campo da ilustração, representa um estilo clássico
com suas ilustrações. Ele é ao mesmo tempo um cronista: o interior e a imagem das ruas são
ilustrações fiéis de um época, de uma paisagem etc. Quando se sabe, quão difícil era na RDA
criticar o regime, lê-se texto e imagem com particular alegria. Natal e pôneis, dois ingredientes,
que se oferecem para uma história natalina para crianças boa de venda. A manada de pôneis
desaparece (em busca de comida) na noite de Natal congelante. Sobretudo as crianças da
família estão preocupadas com a sobrevivência dos cavalhinhos. No refeitório de uma empresa
fiel à RDA os pôneis são capturados pelo zelador e recebem uma primeira ajuda, antes que a
família possa novamente buscá-los. Ensikat mostra prazerosamente, o que os pôneis acham do
refeitório e das faixas de partido penduradas na parede: Eles rasgaram a decoração de festa da
parede e o zelador teve de remover várias pás de lixo de excremento de cavalo(!!)!
Quão diferente é o desenho artístico de Nadia Budde: De um jogo clássico de ninar (contar
carneirinhos) ela desenvolve uma história "maluca" arrebatadora em Flosse, Fell und Federbett
(2004): "Você não consegue dormir à noite / e a coisa com o carneiro / não funciona mais com
você... /...tente então um outro animal!"
Budde 1: "Você pode fazer batota com abelhões ou dormitar com lagostas."
Budde 2: "trotear com baratas ou com traças, correr com lebres, saltar com cachorros."
Budde 3: "Você poderia viajar com passarinhos cantadores"
Budde 4: "ou voar com cabras."
A artista, sem dúvida, cresceu em uma outra época de ilustrações, como Ensikat. Com humor
lingüístico e gráfico ela tenta seduzir para um jogo com animais que não a faz adormecer, que
podem substituir "os carneirinhos eternos de ontem": salamandras e hienas, ratos e castores,
baratas e traças [compare com Erlbuch!]. Um livro de imagem excitante, no qual linguagem e
imagens se harmonizam em contato com uma tipografia adequada.
Para visualizar várias abordagens e possibilidades na ilustração, escolhi ainda três exemplos da
exposição, que todos com medo de criança têm aver, três abordagens muito diferentes, como
iremos ver:
Jacky Gleich ilustra um texto de Bruno Blume Mitten in der Nacht (2002). Com uma linha
expressiva e cores vigorosas, Jacky Gleich pinta sonhos que explodem com figuras terríveis. O
verde-negro escuro, o azul noturno e o amarelo veneno são as cores predominantes. Olhos e
boca muito abertos de medo indicam o pânico da criança. A ilustradora quis, como ela diz, "dar
aos medos uma aparência" e ficar emocionalmente "bem próxima à criança".
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Se alguém, no uso da língua alemã, tem um "coração de coelho", ele é um "coelho medroso".
Philipp Waechter escolhe conseqüentemente para sua história sobre medo Rosi in der
Geisterbahn (2005) uma coelha sagaz como heroína do título, que encontra seus pesadelos
noturnos de uma outra forma, como a pequena narradora em primeira pessoa na obra de Jacky
Gleich. Rosi segue resoluta ao psicólogo, a um intérprete de sonho, quando seus pesadelos
noturnos se tornam insuportáveis. O experte receita para ela um conselho contra "medo de
monstro" e Rosi sabe desde então o que é para fazer. Ela vai para o trem fantasma no parque
de diversão e se dirije para a jaula do leão e do monstro. Perigo previsto - perigo extinto! De
maneira alegre e irônica é narrado e desenhado, como Rosi aprende a superar seus medos e ao
mesmo tempo ensinando outros (a saber os monstros!) a temer.
O terceiro na banda, Nikolaus Heidelbach, toma um caminho muito sutil e complexo, para
descrever os medos das crianças. Die dreizehnte Fee (2002): O título lembra o conto de fadas A
Bela Adormecida dos Irmãos Grimm, no qual 12 fadas são convidadas a apresentar seus
presentes à princesa recém-nascida. Para a décima terceira fada nenhum prato de ouro estava
mais disponível, logo, ninguém a enviou um convite - uma decisão com conseqüências fatais,
como se sabe: A bela adormecida dormiu por 100 anos!
Heidelbach faz uma professora contar a seus alunos o conto da bela adormecida. Na manhã
seguinte as crianças relatam seus pesadelos noturnos, nos quais uma fada má aparece - com
feitiços absurdos:
P. 23 "E eu tive de repente duas cabeças, disse Alfred Rehbach. "Aquela de sempre e uma
ainda de ossos."
P. 25 "E eu fui um coelho a noite inteira", disse Christine Piperis, "e a fada tinha com ela uma
cobra comprida, que sempre chegava mais perto, e eu não pude mais mexer, só olhar..."
Parte II
Ilustração Internacional / Experiências de Bolonha
Eu tenho que finalizar o primeiro parágrafo neste ponto, mesmo que eu não tenha podido
apresentar aqui todos os ilustradores / ilustradoras representados na exposição com exemplos
ilustrados. Devem seguir alguns exemplos, que eu escolhi dentre vários pontos de vista do
trabalho de júri para a “Illustrators Exhibition” em 2006 em Bolonha. Irei descrevê-los com
algumas palavras-chave do trabalho de júri: Eu me concentrei em meus exemplos ilustrados na
seleção deste ano do júri em Bolonha, porque são as ilustrações mais atuais de um concurso
internacional e porque as ilustrações me eram acessíveis como membro do júri. Mas muito do
que gostaria de mencionar com o auxílio destes exemplos, nós discutimos igualmente em outros
júri, por exemplo na Bienal de Ilustração de Bratislava (BIB).
Não irei, para usar o tempo no momento apenas para as ilustrações, apresentar regras e
condições do concurso internacional, mas naturalmente estou disposta a responder perguntas
após minha apresentação.
Eu começo com as ilustrações de Aljoscha Blau para o texto de Heinz Janisch: Rote Wangen. O
livro foi premiado na primavera de 2006 durante a Feira do Livro para Crianças em Bolonha com
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o Bologna Ragazzi Award (BRAW – Fiction). Alojscha Blau nasceu na Rússia, vive e trabalha em
Berlim / Alemanha. Um neto relata o que seu avô lhe contou sobre sua vida. O júri elogiou a
qualidade narrativa das ilustrações, a atmosfera, naturalmente a qualidade artística das
ilustrações.
Além do livro premiado de Alojscha Blau ainda mostro aos senhores alguns exemplos, sobre os
quais nós discutimos em Bolonha.
Em todos os júri internacionais, nos quais eu trabalhei, existia uma consenso entre os jurados,
que nós retrabalhávamos juntos toda vez: Nós procuramos o que? Eu relato aos senhores em
palavras-chave alguns dos critérios, que nos acompanhavam na busca pelo “melhor”:
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
Ø
qualidade artística (pintura, cor, composição da imagem, perspectiva etc.)
técnicas diferentes – mostrar diversidade!
aceitar linguagens de imagem tradicionais e não-convecionais ao mesmo tempo
deixar valer formas de ver nacionais ao lado de ilustrações compreenssíveis
internacionalmente (globalmente)
estar aberto a possibilidades de técnica novas (artes gráficas em computação)
transformação de uma história em imagem, que é muito mais que visualizar
visões – imagination – fantasia
O artista russo Boris Diodorov, que comigo esteve no júri da BIB em 2001, transmititu em uma
fórmula simples:
Nós buscamos papel que “respire”!
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1 "O olho aberto vê o livro" O livro de imagem e a - Goethe