Diário Net - UDOP – 27/ 10/ 2009 A construção de uma Imagem 27/10/09 - O Arado e o desenvolvimento dos fertilizantes deu início a uma nova era para a agricultura mundial. A Revolução agrícola antecedeu a revolução industrial, tendo em vista a necessidade de alimentar uma população que crescia em proporções geométricas, enquanto a produção de alimentos crescia em proporção aritmética, conforme indica a teoria malthusiana. Na medida em que a produção agrícola aumentava com o advento das novas tecnologias e, ao mesmo tempo, a produção industrial também aumentava, crescia o PIB Mundial e, consequentemente, a concentração de CO2 e outros gases de efeito estufa na atmosfera. As inovações na agricultura e na indústria, nesse sentido, trouxeram enorme aumento de produtividade e, ao mesmo tempo, grande aumento da poluição atmosférica e o principal efeito ambiental percebido hoje no planeta: o aquecimento global. Na década de 70 inicia-se o debate em torno do desenvolvimento de técnicas mais sustentáveis para a produção de alimentos e de manufaturas no mundo. As duas grandes Conferências realizadas no século passado- Estocolmo em 1972 e depois a Rio 92- lançaram as bases para um debate técnico do que seria o início de um novo paradigma produtivo: como produzir mais utilizando menos recursos ambientais, tendo em vista a necessidade crescente de alimentar um número cada vez maior de pessoas e como utilizar os recursos ambientais de forma a preservá-los para as gerações futuras. Lançava - se as bases do desenvolvimento sustentável. Em 2005, o Protocolo de Kyoto forçou países ricos signatários a reduzir em média, 5,2%, das emissões de gases de efeito estufa por vários países ricos do planeta, referentes a 1990. Tal acordo global mostrou-se pouco eficiente diante das novas evidências do aquecimento global e seus efeitos econômicos e sociais. Durante a COP 15, a realizar-se em Copenhague em dezembro próximo, serão negociadas novas metas obrigatórias para as nações industrializadas diminuírem as emissões de carbono. Nesse contexto, países e empresas buscam desenvolver técnicas mais sustentáveis de desenvolvimento, a exemplo da produção e uso dos combustíveis renováveis. As pesquisas têm indicado que o uso crescente de etanol como combustível no Brasil tem reduzido significativamente a quantidade de gás carbônico (CO2) emitido na atmosfera, principal gás causador do efeito estufa. De março de 2003, quando foram lançados os carros flex-fuel, até setembro deste ano, a frota deixou de emitir 49 milhões de toneladas de CO2 de acordo com o Carbonômetro, instrumento criado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA) para ilustrar os benefícios ambientais do etanol de cana em relação à gasolina, aqui no Brasil e, como a atmosfera é de todos, no mundo. O etanol, especialmente o de cana-de-açúcar, emite menos CO2, desde a sua produção até o uso como combustível nos carros flex. No clico completo, a emissão de CO2 pelo etanol é 90% menor que a da gasolina. A cana-de-açúcar captura gás carbônico da atmosfera ao longo de seu ciclo de crescimento, que é renovado anualmente após a etapa de colheita para a produção de etanol. Cada planta chega a absorver 7.650 kg de CO2 durante seu crescimento. Diante de todos os benefícios comprovados do uso do etanol da cana-de-açúcar, o setor busca ampliar os esforços na construção de uma imagem mais positiva desse biocombustível no exterior, ao deixar claro que o nosso etanol é feito a partir da cana e que sua produção não é responsável pelo desmatamento da Amazônia. É preciso mudar a nossa imagem como um dos maiores emissores mundiais de carbono em conseqüência do desmatamento na Amazônia. O esforço deve ser direcionado a combater com muita eficiência o desmatamento ilegal. E justo no momento em que se busca construir uma imagem positiva, é lamentável o episódio da Nota Verde, divulgada no mês passado pelo IBAMA/ Ministério do Meio Ambiente, indicando que carros movidos a etanol podem poluir mais do que aqueles a gasolina. Depois tentaram relativizar, culpando os motores que não são próprios para queimar álcool e sim gasolina (o que é correto), mas o estrago estava feito. Um setor que é tão importante para a economia brasileira, considerando que sua movimentação econômica, ou seja, a somatória das vendas dos diversos elos da cadeia, alcança US$ 86,8 bilhões, merece algum cuidado. O etanol tem, ainda, um valor adicional, não refletido em seu preço, de US$ 0,20 por litro, que é equivalente ao quanto se deixa de gastar em outras tecnologias para remover CO2 da atmosfera. Por mais que o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tenha revisto sua posição, diante da terrível repercussão da divulgação da polêmica Nota Verde, ao indicar que designará um representante para fazer parte de um Grupo de Trabalho composto também pela UNICA e pela ANFAVEA, para discussão de uma nova proposta de medição de emissões veiculares, esse episódio significou um retrocesso ao esforço coletivo da construção da imagem positiva do etanol brasileiro no exterior. Depois de anos de luta para a construção de uma matriz energética limpa, com 20% dela já formada pela biomassa, todos nós, setor privado, governo, instituições da sociedade civil, estamos dispostos a continuar construindo uma matriz cada vez mais limpa. Precisamos, no entanto, saber nos comunicar cada vez mais, e transmitir, de forma clara, todos os benefícios do etanol e de outros combustíveis renováveis, além de indicar que somos, sim, capazes de reduzir o desmatamento no país. O êxito dessa batalha pela consolidação de uma imagem positiva do etanol no exterior depende não só da maior coordenação entre os diversos setores do governo, mas sobretudo do nosso esforço em levar a diante a conclusão do zoneamento agroecológico da cana e do marco regulatório para o etanol. Maurílio Biagi Filho Presidente do Conselho de Administração do Grupo Moema