O PROCESSO DE TRABALHO EM ENFERMAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE CUIDADOS PALIATIVOS. Karyn Albrecht SIQUEIRA, 1. Aline MASSAROLI, 1. Ana Paula LICHESKI, 1 Maria Denise Mesadri GIORGI, 2. Introdução: O Processo de Trabalho em Enfermagem no decorrer dos anos têm-se modificado, mediante os avanços tecnológicos, o progresso, as mudanças culturais e interações com outras profissões. Em muitos momentos a enfermagem foi autoritária, prescritiva, distante do paciente e família, detentora do saber, usando a tecnologia como uma “barreira de proteção” contra os sentimentos e envolvimento com o outro. Uma área que traduz este comportamento e que atualmente vêm se modificando são os cuidados paliativos. Esta visão vem se modificando na práxis e na formação dos profissionais. Durante nosso percurso de ensinagem no Curso de Graduação em Enfermagem, temos nos deparado, nos mais diversos cenários de prática, com pacientes em cuidados paliativos com câncer avançado e familiares. O câncer ainda hoje é uma doença estigmatizada, associada à dor, ao sofrimento e que carrega diversos significados, como perda, luto, terminalidade. O paciente traz em si uma “sentença de morte”, muitas vezes sem mesmo ter conhecimento da mesma. Ainda hoje estes pacientes são chamados de “pacientes terminais”, um adjetivo ainda não muito explicado, mas que amedronta. Ao trabalharmos o tema em sala de aula, durante a disciplina de Saúde da Mulher, da Criança, do Adolescente, do Adulto e do Idoso no Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI, numa aula sobre enfermagem em oncologia, este aspecto em especial foi amplamente discutido e os alunos sentiram-se desafiados a aprender mais, pois percebem a fragilidade da assistência de enfermagem prestada a estes pacientes. Esta disciplina é 1 Discente do 7º período do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI- Itajaí/SC Relatora, Enfermeira, Mestre em Assistência de Enfermagem. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIVALI- Itajaí/SC. Rua: Odílio Garcia, 388, Cordeiros, Itajaí/SC. CEP: 88310-180. [email protected] 2 ministrada no sexto período, sendo que os alunos já passaram por vários e diferentes locais de estágio e percebem as dificuldades enfrentadas pelos profissionais de enfermagem e acadêmicos para atender estes pacientes. Dentre as estratégias realizadas para a reflexão do tema, uma delas foi uma resenha crítica que abordasse o tema. Objetivo: Este estudo teve como objetivo realizar uma resenha crítica em relação ao processo de trabalho de enfermagem na assistência do paciente em cuidados paliativos. Metodologia: Dentre os grupos trabalhados, iremos destacar um grupo, que escolheu um artigo sobre cuidados paliativos sob o olhar da Teoria Humanística de Enfermagem de Paterson e Zderad, intitulado “Cuidados paliativos ao portador de câncer: reflexões sob o olhar de Paterson e Zderad”. As reflexões que se seguiram à resenha crítica, serão apresentadas neste estudo. Resultados: De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos podem ser entendidos como as medidas que aumentam a qualidade de vida dos indivíduos e de seus familiares que enfrentam uma doença terminal, trabalhando na prevenção e alívio do sofrimento com identificação precoce, avaliação correta e tratamento de dor, além de outros problemas físicos, psicológicos, sociais e espirituais. Na equipe de Cuidados Paliativos, a enfermeira desempenha um papel ímpar, cujo cuidado abrange uma visão humanística que considera não somente a dimensão física, mas também as preocupações psicológicas, sociais e espirituais do paciente. O fato de o paciente ser portador de uma doença terminal, não impede que a relação enfermeiro-paciente seja deteriorada, mas sim, deve ocorrer um estreitamento da relação que trará benefícios para ambos, na qual o paciente é partícipe das tomadas de decisão sobre a sua terapêutica. Os enfermeiros oncológicos enfrentam dificuldades para desenvolver meios para providenciar um cuidado de enfermagem humanizado que permita a manutenção da saúde simultaneamente em confronto com a natureza terminal da doença. Assim, os cuidados paliativos estão sendo considerados os mais valiosos instrumentos para melhorar as condições de vida dos portadores de neoplasias e da sua família, além de proporcionar um cuidado humanizado. A medicina paliativa surge associando a essa filosofia o trabalho da equipe de saúde multidisciplinar no controle da dor e no alívio de sintomas. O Modelo dos Cuidados Paliativos abrange dois aspectos importantes para o cuidar: a abordagem holística e uma prática profissional interdisciplinar. Assim, associar os Cuidados Paliativos com a Teoria Humanística de Enfermagem é bastante propício por envolver a valorização do ser humano no processo saúde-doença, no intuito de sempre beneficiar o paciente, preservando sua autonomia e capacidade de tomar decisões. Na Teoria Humanística de Enfermagem, a enfermagem é vista, no contexto humano, como uma resposta confortadora de uma pessoa para outra em um momento de necessidade, com vistas ao desenvolvimento do bem-estar e do vir-a-ser. Nesse contexto, a presença do profissional de saúde é a qualidade de estar aberto, receptivo, pronto, disponível para a outra pessoa, nesse caso o paciente, de modo recíproco. Tanto na filosofia da Teoria Humanística de Enfermagem como nos Cuidados Paliativos, o enfermeiro alimenta o potencial de co-experimentar e apoiar o processo vivido pelo paciente. Enfermeiro e paciente se humanizam ao fazerem eleições responsáveis na situação intersubjetiva e transacional do cuidado, conduzindo a uma enfermagem humanística. O enfermeiro deve manter a individualidade do outro, ter compaixão da sua dor, e descobrir o tempo de cada indivíduo. Assim, cabe ao profissional conhecer o modo como o paciente vive, seu mundo de experiências, para poder atender às suas necessidades. As ações de cuidado inseridas na perspectiva humanística e na terapêutica paliativa vão além do desempenho de determinados procedimentos técnicos. Envolvem o estar-com e o estar-ali, os quais implicam a presença ativa do enfermeiro. O estar-com requer atenção no ser cuidado, manter-se atento a uma abertura da situação compartilhada, bem como comunicar essa disponibilidade, pois é um compromisso existencial dirigido ao acréscimo e ao desenvolvimento do potencial humano. Contudo, tanto na teoria humanística como nos cuidados paliativos é possibilitado ao paciente uma auto-realização, permitindo que o ser humano conheça o verdadeiro significado da sua existência. Vale ressaltar que a enfermagem não rejeita os avanços tecnológicos da saúde, pelo contrário, unem-se aos cuidados paliativos valorizando o cuidado ao paciente. Considerações Finais: O aluno de graduação, no decorrer do seu aprendizado, fica exposto à diversas situações penosas, que leva a um amadurecimento enquanto pessoa. Vivemos esta realidade e sabemos o quanto é difícil conviver com o ser humano em diversas situações que são na maioria das vezes de sofrimento. Um destes quando o paciente está com cuidados paliativos. Seja no hospital ou no seu domicilio, ele apresenta-se mais fragilizado, sensível, exposto as mais diversas situações para tentar amenizar a dor e tudo o que está sentindo. Este paciente é visitado e tratado pelo médico, cuidado pela enfermagem, recebe sessões de fisioterapia, é invadido pôr diversos tipos de exames, medicamentos, procedimentos. Entretanto, na maior parte das vezes ele necessita de uma equipe que cuide, conforte, aconchegue, medique, enxugue suas lágrimas, estimule positivamente e faça com que ele enfrente este momento tão difícil. Enfim, um cuidado humanizado O que resulta de nossas reflexões, é que apesar dos diversos estudos sobre o processo de trabalho e os cuidados paliativos é que o cuidado deste paciente e família sugere uma interação maior do enfermeiro, uma relação de aproximação, de quebra de comportamentos, protocolos, normas e regras onde o compartilhamento dos saberes resultem numa assistência humanizada. Palavras Chave: Cuidados paliativos. Trabalho. Enfermagem. Temática: Formação e capacitação. Referências BOFF, L. Saber cuidar: ética do ser humano – compaixão pela terra. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. SANTOS, M. C. L; PAGLIUCA, L. M. F; FERNANDES, A. M. C. Cuidados paliativos ao portador de câncer: reflexões sob o olhar de Paterson e Zderad. Rev. Latino-am Enfermagem. 15(2), mar-abr, 2007.