Barreira Cervical: Avaliação de Dois Cimentos por Teste de Fluidos – Estudo Piloto Mariana Martins de Souza, Brany Dardielle Silva Sampaio, Leiliany Acácia das Neves Silva, Lígia Almeida Pinto, Tânia Rocha Coelho Caldeira Introdução O tratamento endodôntico pode levar a uma alteração na cor da estrutura dentária. Assim, o clareamento endógeno tem sido muito utilizado para se obter uma estética bucal harmoniosa [1]. Materiais como Perborato de Sódio e Peróxido de Hidrogênio tem apresentado resultados satisfatórios, no entanto, é comum a ocorrência da reabsorção radicular pós-clareamento interno [2, 3]. Para minimizar tal efeito adverso, tem sido proposta a confecção de uma barreira cervical antes do procedimento clareador [4]. Este trabalho tem como proposta comparar o vedamento proporcionado pelo Cimento de Ionômero de Vidro e pelo Cimento Fosfato de Zinco por meio do Teste de Fluidos. Material e métodos A amostra para o experimento constitui de oito caninos humanos, selecionados de acordo com padrão dimensional vestíbulo-lingual e mesio-distal. Estes foram doados pelo Banco de Dentes da Universidade Estadual de Montes Claros. Cada espécime foi mensurado utilizando paquímetro (5 mm coronários e 3 mm radiculares). Em seguida, foram seccionados com disco de carborundum, ficando os espécimes com 8 mm de comprimento. Os corpos de prova tiveram o canal instrumentado com broca largo dois e três em toda extensão do canal. Foi confeccionada a barreira cervical na porção radicular. Quatro espécimes receberam barreira cervical de Cimento Fosfato de Zinco e quatro de Cimento de Ionômero de Vidro convencional. Todos foram submetidos a três sessões de clareamento com uma mistura de Perborato de Sódio e Peróxido de Hidrogênio 3%, produto manipulado em farmácia. Os espécimes foram incluídos em pipetas plásticas. O vedamento foi feito com Éster de Metacrilato que, depois de seco, foi envolvido com camadas de base para unhas a fim de garantir que não houvesse vazamento. Após a inclusão as pipetas foram mantidas cheias de água destilada, em ambiente úmido. Os corpos de prova foram submetidos ao Teste de Fluidos, antes das sessões de clareamento e logo após as sessões. Estas eram realizadas três vezes com intervalos de cinco dias, para obtenção do efeito do clareador. O Teste de Fluidos foi realizado em um aparato (figura1) composto de um balão de gás pressurizado, que mantém um conjunto hidráulico sob 10 psa. O teste ocorre no sistema sob pressão que faz deslocar uma bolha única no interior da pipeta. Esta é acompanhada durante dois intervalos de tempo. Quatro minutos iniciais foram necessários para estabilizar a infiltração. Fez-se então o registro da posição inicial da bolha. Os oito minutos seguintes indicaram o deslocamento da mesma, um novo registro foi feito, da sua posição final. Os milímetros deslocados indicam a quantidade de água infiltrada durante os oito minutos de teste. A infiltração através da barreira é dada em µL/min (microlitros/minuto). O registro da posição inicial e final da bolha foi obtido através de imagem de câmera fotográfica acoplada na parte superior de uma lupa. Os dados obtidos foram analisados com auxílio do software estatístico Imagel. Resultados O Cimento Fosfato de Zinco e o Cimento Ionômero de Vidro convencional mostraram-se similares quanto ao vedamento cervical, sendo que o Cimento de Ionômero de Vidro apresentou resultados ligeiramente melhores que o Cimento de Fosfato de Zinco (gráfico1). A possibilidade de que a diferença entre os materiais seja apenas devido à variabilidade de amostragem aleatória, considerando os efeitos do clareamento, não é estatisticamente significativa (P = 0,112). O efeito de diferentes materiais não depende de qual o nível de clareamento está presente. Não há uma interação estatisticamente significativa entre material e clareamento (P = 0,098). Discussão A barreira cervical é indicada para evitar reabsorção radicular externa em dentes que passaram por clareamento endógeno [4]. Porém, nenhum estudo aponta um material capaz de vedar completamente a porção cervical, impedindo que haja alguma infiltração [5]. ________________ Comumente são usados, para o clareamento, produtos contendo Peróxido de Hidrogênio, Peróxido de Carbamida e o Perborato de Sódio [2]. Ao passo que as técnicas mais comuns são a termocatalítica, Walking bleach ou a combinação de ambas [6]. No presente estudo foi utilizada a técnica Walking bleach, que consiste em colocar o clareador intracoronal e selar provisoriamente, aguardando por, pelo menos, três dias [2]. A característica essencial de um material usado como uma barreira tem de ser a capacidade de vedação adequada [1]. Dentre eles lista-se o IRM, baseado em óxido de zinco e eugenol [7], Cavit e Cavitec [8], Cimpat [9], Cimento de Ionômero de Vidro, e resina composta [10]. No presente estudo, comparou-se a qualidade do selamento do Cimento Fosfato de Zinco e do Cimento de Ionômero de Vidro e verificou-se que não houve diferença significante, embora o ionomérico tenha sido ligeiramente superior, corroborando com a literatura consultada que relata comportamento similar desde que a espessura da barreira seja de 3mm [10]. Considerações finais Os resultados dos Testes de Fluidos sem o uso do material clareador e após as sessões de clareamento não apresentaram diferenças significativas de infiltração. Logo, ambos os materiais, são indicados para confecção da barreira cervical no clareamento endógeno. Referências [1] BRITO JÚNIOR, M. et al. Sealing ability of mta Used as cervical barrier in intracoronal bleaching. Acta Odontol. Latinoam. 2009 ISSN 0326-4815 Vol. 22 Nº 2 / 2009 / 118-122. [2] BARATIERI, L. N.; MAIA, E.; ANDRADA, M. A. C.; ARAÚJO, E. Caderno de dentística: clareamento dental. São Paulo: Santos, 2004. [3] COSTA, A.P; SOUZA, A.D. S; MACHADO, M.E. L; NABESHIMA, C.K. Comparação de dois tipos de tampão cervical durante clareamento dental interno. REV ASSOC PAUL CIR DENT 2010;64(5):391-94. [4] GOMES, M. E. O., RIBEIRO, B. C. I., YOSHINARI, G. H. Análise da eficácia de diferentes materiais utilizados como barreira cervical em clareamento endógeno. RGO. 2008; 56 (3): 275-9. [5] FERREIRA, F.M; GÓIS, E.G. O; VALE, M.P. P; JANSEN, W.C; PAIVA, S.M; PORDEUS, I.A. Desempenho de cimentos de ionômero de vidro nacionais e importados frente à microinfiltração em molares decíduos. In: Anais da 20ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica; 2003; São Paulo. [6] ERHARDT, M.C.G; SHINOHARA,M.S; PIMENTA,L.A. Clareamento Dental Interno. RGO. 51 (1):23-29, jan/fev/mar.,2003. [7] ZMENER, O; BANEGAS, G; PAMEIJER, C.H. Coronal microleakage of three temporary restorative materials: an in vitro study. J Endod. 2004 Aug;30(8):582. [8] LEE, Y.C. et al. Microleakage of endodontic temporary restorative materials. J Endod. 1993 Oct; 19(10):516-20. [9] VALERA, M.C; CAMARGO, C.H.R; TEIXEIRA, A.U; CAMARGO, S.E.A. Microinfiltração de materiais restauradores temporários usados durante o clareamento denta l interno. Cienc Odontol Bras 2007 out./nov.; 10 (4): 26-31 [10] YUI, K.C; RODRIGUES, J.R; MANCINI, M.N; BALDUCCI, I; GONCALVES, S.E. Ex vivo evaluation of the effectiveness of bleaching agents on the shade alteration of blood-satined teeth. Int Endod J 2008;41:485-492. Gráfico 1. Material versus filtração: avaliação de dois cimentos. Figura 1. Aparato para Teste de Fluidos.