Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva DIODOS 1.JUNÇÃO PN Os cristais semicondutores, tanto do tipo “P” como do tipo “N”, não são bons condutores, mas ao transferirmos energia a um destes tipos de cristal, uma pequena corrente elétrica aparece. A finalidade prática não está na utilização dos cristais semicondutores tipo “P” e tipo “N” isoladamente, mas na junção dos dois tipos de cristais. P N junção A junção dos dois tipos de cristais semicondutores, dopados adequadamente, cria um tipo de dispositivo eletrônico com características elétricas bem diferentes das encontradas nos componentes elétricos comuns (resistência, capacitor e indutor). Ao aplicarmos uma diferença de potencial neste novo dispositivo, a corrente elétrica que atravessa a junção dos dois cristais se comporta de maneira diferente quando inverte-se a polarização da tensão aplicada, como mostrado nos dois circuitos abaixo. P N N I I - P + V + V Quando ligamos o pólo positivo da fonte de tensão ao cristal semicondutor tipo “N” e o pólo negativo da fonte de tensão ao cristal semicondutor tipo “P”, o dispositivo à junção praticamente não conduz eletricidade. Ao invertermos a polarização, ligando o pólo negativo da fonte de tensão ao cristal semicondutor tipo “N” e o pólo positivo da fonte de tensão ao cristal semicondutor tipo “P”, a condução de corrente elétrica tem proporções bem maiores em relação ao caso anterior, e o dispositivo torna-se um condutor elétrico. A razão para este tipo de comportamento está na região de união entre os dois cristais, chamada de junção. Ao efetuamos esta união, ocorre uma difusão das cargas elétricas livres em excesso no cristal tipo “N” (no caso os elétrons livres), tentando atravessar a junção para ocupar uma lacuna no cristal tipo “P”, criando novas lacunas no cristal tipo “N”, em um processo chamado recombinação, pois a lacuna é reocupada por um elétron. Cada recombinação desta cria um íon, e os íons irão se acumular na região em torno da junção até o ponto em que não permitirão mais a passagem dos elétrons do material tipo “N” para o material tipo “P” criando-se uma barreira, chamada de barreira de potencial ou camada de depleção. P N íons positivos Cefet/PR – Cornélio Procópio íons negativos camada de depleção (barreira de potencial) 1 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva Ao polarizarmos o cristal tipo “N” com o pólo positivo e o cristal tipo “P” com o pólo negativo de uma fonte de tensão, injetamos energia que aumenta a criação destes pares de íons e aumenta esta barreira de potencial. Caso contrário, com a polarização do cristal tipo “P” com o pólo positivo e o cristal tipo “N” com o pólo negativo da fonte de tensão; com energia suficiente, os életrons adquirem energia suficiente para ultrapassar a barreira de potencial e se locomoverem para o outro pólo da fonte de tensão, o mesmo ocorrendo com as lacunas. De modo geral, ocorrerá a condução de corrente elétrica somente em uma polarização deste novo dispositivo pela fonte de tensão, ou seja, a corrente circulará somente em um sentido no circuito. 2.DIODO À JUNÇÃO O dispositivo criado pela junção de dois cristais semicondutores do tipo “P” e “N” é denominado de diodo à junção, diodo retificador ou somente diodo: o componente eletrônico mais simples. 2.1.SIMBOLOGIA O símbolo esquemático do diodo representa de modo simples a direção de condução da corrente elétrica e os seus terminais. Normalmente é representado por uma seta que indica o sentido inverso de movimentação dos elétrons, e um traço perpendicular que existe na simbologia e no invólucro do próprio componente. anodo P N catodo O terminal do diodo representado por um traço é chamado de catodo e o terminal oposto de anodo. A condução de corrente elétrica (movimento dos elétrons) se dá somente do catodo para o anodo. 2.2.CURVA VxI: Um dos melhores meios para se analisar o comportamento de um componente elétrico é a curva da tensão pela corrente elétrica. A curva da corrente versus a tensão aplicada a um diodo é mostrada na figura abaixo: I Tensão de ruptura corrente de fuga diodo. tensão de joelho V Os pontos denominados definem os principais parâmetros de especificação de um Cefet/PR – Cornélio Procópio 2 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva 2.3. FUNCIONAMENTO: Além das características descritas sobre a junção P-N, vamos verificar alguns detalhes no comportamento do diodo à junção com base no gráfico VxI. O exposto no gráfico mostra a polarização do diodo na condução (valores positivos da tensão) que é chamada de polarização direta e na não-condução (valores negativos da tensão) que é chamada de polarização reversa. A grosso modo, podemos dizer que o diodo é um condutor na polarização direta e um isolante na polarização reversa, porém, alguns detalhes devem ser levados em conta. Na polarização direta, existe uma barreira de potencial na junção, e é necessário energia para atravessá-la, que se reflete em uma queda de tensão quando o diodo está conduzindo. Esta queda de tensão é denominada tensão de joelho, e é o valor de tensão necessário para se ultrapassar a barreira de potencial e iniciar a condução de corrente no diodo. Na condução, o diodo se comporta quase como um curto-circuito (condutor), mas na prática apresenta uma pequena resistência elétrica, que pode ser vista como uma pequena inclinação na curva VxI. Na polarização reversa, o diodo praticamente não conduz, somente uma corrente elétrica superficial circula, de valor geralmente desprezível, devido à cargas elétricas e impurezas entre a superfície do cristal com o meio. Mas para um valor de tensão muito alto, a rigidez dielétrica do diodo pode ser ultrapassada, causando uma circulação instantânea de corrente e a queima do diodo, pela dissipação excessiva de potência. 2.4.ESPECIFICAÇÕES: Os diodos retificadores disponíveis no mercado são identificados por códigos, dados pelos fabricantes. Cada código especifica uma série de valores para qual o diodo foi construído, e os principais são: • Potência máxima: especificação máxima de potência que o diodo pode suportar; • Corrente máxima CC: poderemos ter a especificação da corrente máxima que o diodo suporta quando polarizado diretamente ao invés da potência máxima, chamada de “cc”, porque o diodo conduz somente em um sentido (corrente contínua); • Tensão máxima: valor máximo de tensão direta que o diodo suporta quando polarizado diretamente, e na prática é utilizado como o valor da tensão de joelho, porque são valores próximos; • Ir (corrente reversa): valor da corrente que circula quando o diodo é polarizado reversamente, e na maioria dos circuitos é um valor desprezível. • Vrm, Vbr, BV, PRV, PIV (tensão reversa máxima ou tensão de ruptura, “breakdown”): valor máximo de tensão que o diodo suporta na polarização reversa. • Vvalor da tensão de joelho); • Rc (resistência de corpo): valor de resistência que o diodo apresenta na polarização direta, geralmente de pequeno valor. 2.5.APROXIMAÇÕES: Para cálculos em circuitos elétricos que envolvem diodos, podemos considerar alguns dos valores acima ou despreza-los, desde que não haja interferência nos valores de tensão e corrente que se deseja obter no circuito. Para isto, podemos considerar o diodo retificador como um circuito equivalente à uma chave unidirecional, que é aberto na polarização reversa e fechado na polarização direta, em série com outros componentes representativos dos valores que devem ser considerados. 2.5.1.Diodo ideal: O diodo ideal é o diodo sem perdas: sem queda de tensão interna (V), resistência de Cefet/PR – Cornélio Procópio 3 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva corpo e corrente reversa nulas, se comportando como uma chave unidirecional: quando a corrente circula do catodo para o anodo é uma chave fechada e no sentido contrário, uma chave aberta. 2.5.2. 1a aproximação: Leva em conta a queda de tensão (tensão de joelho) do diodo: equivalente à uma chave unidirecional com uma fonte de tensão (de valor igual a tensão de joelho) contrária à polarização do diodo. Vγ 2.5.3. 2a aproximação: Considera a queda de tensão e a resistência de corpo do diodo: Vγ Rc 3.CIRCUITOS A DIODO Os tipos de circuitos a seguir são construídos com diodos retificadores somente ou com a combinação de diodos e outros componentes como resistências e capacitores. São os principais tipos de circuitos a diodo utilizados na eletrotécnica ou em muitas áreas da eletricidade em geral (eletrônica digital, telecomunicações, automação,.....). 3.1.RETIFICADORES Os retificadores são circuitos que convertem a energia elétrica (tensão e corrente) da forma alternada para contínua, ou em termos; a corrente na entrada de um circuito deste tipo muda periodicamente de sentido de circulação e a saída resulta em uma corrente contínua (um sentido de circulação), ocorrendo o mesmo com a polarização da tensão. São circuitos de ampla utilização, pois a energia elétrica que chega às residências, lojas e indústrias é fornecida na forma de corrente alternada, mas muitos equipamentos eletrônicos funcionam somente com corrente contínua. Cefet/PR – Cornélio Procópio 4 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva 3.1.1.Retificador de meia-onda Considere o circuito abaixo, desprezando a queda de tensão no diodo e na resistência: Rs Vf Vf t A forma de onda da tensão nos terminais da resistência será Vs t A tensão gerada na polarização reversa do diodo é bloqueada. 3.1.2.Retificador de onda completa O circuito mostrado abaixo é um tipo de retificador de onda completa, pois um dos semiciclos da tensão não é perdido como no retificador de meia onda, ou seja, a totalidade da tensão na entrada do circuito é retificada. Este circuito é montado com um transformador com derivação central (center tap), o que não chega a ser uma desvantagem, porque a maioria dos circuitos eletrônicos requer um valor de tensão menor em relação a tensão fornecida pela rede elétrica. A Vf V2 Rl B As tensões geradas nos pontos A e B em relação à derivação central são iguais mas defasadas de 1800 elétricos: quando a tensão no ponto A está no valor de pico positivo a tensão no ponto B está no valor de pico negativo, e vice-versa. Cefet/PR – Cornélio Procópio 5 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva V2/2 VA t VB V2/2 t Isto se deve ao fato de que o enrolamento do secundário do transformador, da derivação para o ponto A e da derivação para o ponto B são iguais, mas dispostos em sentido contrário, da derivação para cada ponto. A tensão vista pela carga R é metade da tensão do enrolamento secundário do transformador (V2/2), porque a derivação divide o enrolamento em duas partes. Como os dois diodos contam um semiciclo da tensão dos pontos A e B, a tensão resultante na carga será a tensão de um dos semiciclos de A e B. V2/2 Vl t 3.1.3.Retificador em ponte Este tipo de circuito também é um retificador de onda completa, mas não utiliza um transformador para auxiliar a retificação e retifica integralmente os dois semiciclos da forma de onda. Vf Cefet/PR – Cornélio Procópio Rl 6 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva Vf Vl t 4.OUTROS TIPOS DE DIODO 4.1. O DIODO ZENER Outro tipo importante de diodo, além do diodo retificador, é o diodo zener, chamado também de diodo regulador de tensão, diodo de tensão constante ou diodo de ruptura. Sua característica principal é a regulação de tensão: na polarização reversa, mantém a tensão nos seus terminais constante, compensando a variação da tensão aplicada com a variação da corrente. Este comportamento se deve ao fato de que o diodo zener é fabricado para funcionar na região de ruptura, onde um diodo retificador não funciona. 4.1.1. Símbolo Os símbolos esquemáticos abaixo representam um diodo zener, com a linha que representa o catodo em um formato que se assemelha à letra “z”. símbolo usual símbolo alternativo 4.1.2. Curva VxI Como o diodo retificador, o diodo zener não é um dispositivo linear, sendo importante a análise do seu comportamento mediante a aplicação de diversos níveis de tensão. I Vz V Iz Izm Da figura acima: Vz é a tensão zener específica do diodo; Izm é a máxima corrente zener especificada pelo fabricante; Iz é a corrente zener que circula no diodo Cefet/PR – Cornélio Procópio 7 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva 4.1.3. Funcionamento Do exposto no gráfico acima, podemos observar que o comportamento do diodo zener se assemelha com o diodo retificador comum, diferenciando na polarização reversa. O diodo retificador, na região reversa, não conduz até que se atinja a tensão reversa máxima, ocorrendo a queima do diodo. O diodo zener, na região reversa, inicia a condução de corrente a partir da tensão zener, que é especificada de acordo com o diodo. Para valores acima da tensão zener, o diodo aumenta a corrente que passa através dele, mas mantém a tensão nos seus terminais igual ao valor da tensão zener, ou seja, um valor constante de tensão que é compensado pela corrente. Assim, ao ligarmos uma carga em paralelo com o diodo zener na polarização reversa, a tensão se mantém constante no valor da tensão zener do diodo, como demonstra o gráfico VxI. Obs.: Para que o diodo zener mantenha a tensão nos seus terminais constante e igual à tensão zener, é necessário que a tensão aplicada no diodo seja maior que a tensão zener. Na região de polarização direta, o diodo zener se comporta como um diodo retificador. 4.1.4.Especificações Seguem abaixo as principais especificações do diodo zener: • Vz = tensão zener do diodo; • Izm= máxima corrente zener especifica para o diodo; • Pzm=Vz.Izm=potência especificada; • Pz=Vz.Iz=potência dissipada num diodo zener para um valor de corrente; • resistência zener=resistência apresentada pelo diodo zener na região reversa, na regulação de tensão. Desde que Pz seja menor que Pzm, o diodo zener funciona na região reversa sem se danificar, sendo disponíveis em potências na faixa de ¼ W até mais de 50W. A resistência zener produz uma pequena variação da tensão nos terminais do diodo, mas é geralmente de valor pequeno, ou seja, o dido não mantém um valor exato em seus terminais com o aumento da tensão aplicada (não é ideal). As especificações para o funcionamento na região direta são semelhantes ao diodo retificador. 4.1.5. Regulação de tensão Como exposto anteriormente, o diodo zener para funcionar como regulador de tensão deve ser polarizado reversamente com uma tensão aplicada em seus terminais maior que a tensão zener. É sempre utilizada uma resistência em série com o diodo zener para limitação da corrente, mas a resistência deve se limitar a um valor que mantenha a tensão no diodo acima da tensão zener. Vs Rs V1>Vz Vf I No circuito acima, aplicando a Lei das Malhas: Vf=V1+Vs Vf=Vz+I.Rs Rs=(Vf-Vz).I Cefet/PR – Cornélio Procópio 8 Diodos Prof. Luiz Marcelo Chiesse da Silva 4.2.DIODO EMISSOR DE LUZ (LED) O LED – light emitter diode (diodo emissor de luz) comporta-se como um diodo comum, mas irradia energia em forma de luz quando polarizado diretamente. A maior parte da energia é dissipada na forma luminosa, não de calor. Utilizando-se elementos como o gálio, arsênio e fósforo para a dopagem podem ser produzidos led’s de diversas cores, até o infravermelho. A queda de tensão é maior em comparação com um diodo retificador, dependendo da cor que o led emite, com valores usuais de 1,5V à 2,5V para correntes de 10mA à 50mA e o brilho (intensidade luminosa) varia com a corrente. O led é utilizado no lugar das lâmpadas comuns, como as incandescentes, com as sequintes vantagens: • utiliza baixa tensão; • possui maior vida útil; • chaveamento mais rápido. 4.2.1. Símbolo Um bom exemplo da ampla utilização dos led’s é o display de sete segmentos. Cefet/PR – Cornélio Procópio 9