Os Valores Pessoais e sua Importância na Avaliação dos Atributos da Marca Autoria: Edar da Silva Añaña, Martin Hernani Merino, Walter Meucci Nique Resumo Este artigo investiga a relação entre os valores humanos e a avaliação dos traços de personalidade de uma marca universalmente conhecida, com vistas a identificar possíveis conexões entre ambos os construtos. Utiliza uma amostra de 250 estudantes de três grandes universidades brasileiras, cujos valores pessoais e suas avaliações sobre os traços de personalidade da marca, foram capturados através de questionários com escalas previamente validadas. Utiliza análise fatorial exploratória, escalonamento multidimensional e análise de caminhos para identificar as dimensões latentes existentes em ambas as escalas e avaliar suas inter-relações. O resultado confirma a separação entre Valores Terminais e Valores Instrumentais e identifica a existência de uma dimensão social--pessoal nos valores terminais; identifica ainda a existência de separação dos valores instrumentais em valores morais e de competência. Confirma a existência de relações diretas entre os traços de personalidade da marca e os valores instrumentais, de algumas relações diretas entre os traços de personalidade da marca e os valores terminais e de relações indiretas entre a percepção da marca e os valores terminais, mediadas pelos valores instrumentais. Introdução Valores pessoais são amplamente aceitos como tendo uma grande influência no comportamento humano (Rokeach, 1973; 1981). Segundo Vinson, Scott e Lamont (1977), o termo valor tem sido estudado há muito tempo pela Psicologia, a qual examina os valores do ponto de vista das atitudes e dos motivos pessoais. Nesse contexto, diversos estudos sugerem a aplicação de valores pessoais para a explicação de atitudes ou das decisões de compra de uma classe de produto específico, ou mesmo para a escolha de uma marca particular dentro de uma categoria de produto (Vinson, Scott & Lamont, 1977; Gutman, 1982; Pitts & Woodside, 1983; Durgee, O’Connor & Veryzer, 1996). Contextualizando o conceito, “valor é uma ampla preferência para um determinado evento na vida pessoal sobre outro” (Hofstede, 1984, p. 18). Schwartz e Bilsky (1987), após revisarem as várias definições existentes na literatura, concluem que “valores são conceitos ou crenças, sobre estados finais de desejos ou de comportamentos que transcendem situações específicas, guiam a seleção ou avaliação de comportamento e eventos, e estão ordenados por importância relativa” (p. 551). Ainda segundo estes autores, os valores guiam permanentemente a vida dos seres humanos, e por meio da socialização os homens apreendem as condições culturalmente compartilhadas que lhes permitirão transmitir os valores. Para Floriani (2002), os valores estão presentes no dia-a-dia e na maneira de se conduzir diante de uma determinada situação, enquanto Peter e Olson (2006) defendem que os valores são os objetivos vitais amplos das pessoas, como, por exemplo, querer ter sucesso ou precisar segurança. Uma definição de grande relevância para a presente pesquisa é a de Rokeach (1973, p.5), segundo a qual “... um valor é uma crença duradoura de que um modo específico de conduta ou um estado final da existência é pessoal e socialmente preferível a modos alternativos de conduta ou estados finais da existência”. Na mesma trilha desta definição, Blackwell, Miniard e Engel (2005, p. 223) afirmam que “os valores representam as crenças dos consumidores sobre a vida e os comportamentos aceitáveis”. Uma definição bastante usual no contexto de marketing, e que muito se aproxima dos objetivos deste trabalho, é a de Vinson, Scott e Lamont (1977, p. 49), segundo os quais os valores são “elementos cognitivos centrais, que estimulam a motivação para respostas comportamentais. Eles formam uma estrutura hierárquica interconectada, na qual os valores globais relacionam-se e conectam- -1- se aos valores relacionados ao consumo generalizado, os quais, por sua vez, associam-se aos atributos dos produtos”. A personalidade da marca A personalidade da marca, segundo Aaker (1997, p. 347), é “o conjunto de características humanas associadas a uma marca”. Para Batra, Lehmann e Singh (1993, p. 84) esta seria “o modo pelo qual um consumidor percebe a marca em dimensões que tipicamente capturam a personalidade de uma pessoa, estendida para o domínio das marcas”. Já para Kapferer (2003) uma marca ganha personalidade de acordo com seu discurso e comportamento, os quais evidenciam o tipo de “pessoa” que ela seria. A idéia que as marcas podem ser descritas conforme os seus traços de personalidade parece ter sido originalmente propostas por Martineu em 1958 (Opoku, 2006, p. 17). O conceito de personalidade da marca tem sido considerado importante, entre outras coisas, por ajudar a diferenciar as marcas (Plummer, 1985; McEnally & de Chernatony, 1999) e por atribuir significado ao seu consumo (Fournier, 1998). Para Belk (1998), a existência de traços de personalidade permite ao consumidor expressar-se através dos benefícios simbólicos que são experimentados com a posse ou consumo de uma marca. Aaker (1997) acrescenta que o uso simbólico de uma marca é possível porque o consumidor freqüentemente lhe atribui traços de personalidade [humana]. Já Keller (2005) acrescenta que a personalidade da marca reflete a maneira como a pessoa se sente em relação à marca, e não aquilo que ela entende que a marca seja ou aquilo que ela faz. Schiffman e Kanuk (2000) reconhecem que os consumidores atribuem características ou traços descritivos, similares aos de uma pessoa a distintas marcas em uma ampla variedade de categorias de produtos. Já para Plummer (1985; 2000), a personalidade da marca ajuda significativamente na diferenciação dentro de uma categoria de produto. Conforme este autor, uma marca possui três características: 1) atributos físicos, (ex. embalagem, preço, cor); 2) características funcionais ou conseqüências de seu uso; 3) caracterização de uma marca, sua personalidade conforme percebida pelo consumidor. Marcas podem ser caracterizadas como modernas ou clássicas, alegres ou exóticas através da comunicação, da mesma forma como as pessoas são caracterizadas. Assim, de acordo com a personalidade percebida pelo consumidor, este acaba decidindo se a marca é apropriada ou não para si ou para outrem. Os consumidores possuem imagens bastante duradouras de si mesmos, e estas imagens se associam estreitamente com a personalidade. Em conseqüência, os indivíduos tendem a comprar produtos e serviços cujas imagens ou personalidades coincidam de maneira significativa com a imagem que eles têm de si próprios (Schiffman & Kanuk, 2000). Além disso, pesquisadores como Belk (1988) têm investigado como a personalidade de uma marca ajuda a um consumidor a se expressar através de suas posses. Os pesquisadores desta linha salientam a inter-relação entre a imagem que um indivíduo tem de si e suas posses (objetos que consideram como próprios), já que se consideram que as posses de um consumidor confirmam ou estendem sua auto-imagem. Desta forma, a personalidade da marca serve de base para uma diferenciação significativa, especialmente em mercados onde os produtos são semelhantes em relação aos atributos físicos e às características funcionais (PLUMMER, 1985; 2000). Aaker (1997) sugere que a estrutura da personalidade humana (Big Five) permite desenvolver uma escala válida, confiável e generalizável para medir a personalidade da marcas aplicável a toda sorte de produtos. A Escala de Personalidade da Marca, doravante tratada como BPS (Brand Personality Scale), é composta de 42 itens e avalia cinco dimensões básicas: sinceridade, excitação, competência, sofisticação e rusticidade. Já Aaker et al. (2001) propõem que duas das dimensões da escala – rusticidade e sofisticação – representam aspirações associadas, por exemplo, a poder ou status, sendo, em conseqüência, menos relacionados à personalidade humana que as demais dimensões. Dessa forma, enquanto -2- sinceridade, excitação e competência representam efetivamente traços que são inatos dos seres humanos, a sofisticação e a rusticidade são desejos aos quais o indivíduo aspira mas que nem sempre possui. Embora “a maioria das pesquisas a respeito da marca utilizem a BPS” (Azoulay & Kapferer, 2003, p. 144), a escala não é isenta de críticas. Segundo estes autores, a BPS incorpora algumas dimensões que fazem parte da “identidade” da marca que não dizem respeito à “personalidade”. Conforme esta visão, a identidade da marca tem várias dimensões e a personalidade é apenas uma delas. Entre as demais dimensões formadoras da identidade, encontram-se, por exemplo, os valores intrínsecos da marca (sua faceta cultural), os relacionamentos da marca (seu estilo), e os aspectos físicos da marca (seus traços materiais). Para estes críticos, tanto o trabalho de Aaker (1997) quanto o de seus seguidores é equivocado, tendo em vista que a escala, construída a partir de uma conceituação excessivamente ampla, trata como traços de personalidade “todos os atributos não físicos associados à marca” (p. 150), aí incluídos as habilidades intelectuais, gênero e classe social. Entre os aspectos considerados mais críticos na BPS, citam a dimensão “competência” que, por tratar de habilidades ou capacidades cognitivas, não se refere à personalidade. Além disso, alguns itens como “feminina”, “western” e “small-town” podem ter significados diferentes em culturas diferentes, por serem influenciados pelos valores sociais. Outra crítica à BPS, um pouco menos explícita mas não menos interessante para o objetivo do presente trabalho, é a de Plummer (2000), que identifica duas faces na personalidade da marca: a personalidade comunicada e a personalidade percebida (brand personality consumer profiles). Segundo este autor, é importante diferençar a personalidade comunicada – dependente da criatividade e difícil de medir – e a personalidade percebida – esta mensurável através de surveys ou experimentos. A personalidade comunicada se refere àquilo que se deseja que o consumidor sinta em relação à marca, e a personalidade percebida descreve o sentimento dos consumidores acerca daquilo que está sendo comunicado. Ao medi-los (p. 81) “os perfis podem indicar quais dimensões da personalidade são fortes ou fracos e, assim, permitir comparar subgrupos da população” (grifamos). Na mesma linha de raciocínio, Farias e Kovacs (2006) alertam que as empresas utilizam estratégias de redução dos riscos percebidos com o intuito de minimizar o risco inerente perante as suas marcas. Entretanto, algumas estratégias são melhor percebidas do que outras, dependendo do produto e segmento em questão, uma vez que “certas estratégias disponibilizadas por organizações podem ser nulas para alguns consumidores e, para outros segmentos, podem ter efeito positivo” (p. 2) (grifamos). A marca como representação do produto Kapferer (2003) afirma que criar uma marca é transformar a categoria de produto, portanto, a marca se inscreve em uma lógica de diferenciação da produção. Assim, a empresa tenta responder melhor às expectativas de sua clientela e se concentra para fornecer aos clientes, de maneira constante e repetida, a combinação ideal de atributos tangíveis e intangíveis, funcionais e hedonistas, visíveis e invisíveis, em condições economicamente viáveis para ela. Para isso, é importante que o produto marcado conserve um valor superior ao do produto sem marcar ou ao produto da concorrência. Este valor superior é amplamente reconhecido por Kapferer (2003, p. 49), que afirma que “os produtos são mudos; é a marca que lhes dá significado. Decodificam-se os produtos por meio da perspectiva da marca, suas lentes”. Dessa maneira, a marca orienta a percepção dos produtos. Para entender a conceituação de marca é necessário partir desde sua gênese. Segundo Kapferer (2003; 2004) a marca nasce, em geral, não como uma marca, mas como um produto/serviço novo e único, cujas características são diferentes daquelas da concorrência e pertinentes em relação às expectativas do público-alvo, gerado pelo know-how de uma -3- empresa. Com o tempo, afirma Kapferer (2003), através da sua comunicação (a embalagem, a propaganda, etc.) a marca dota-se de traços, imagens, e representações que conferem um rosto, um estilo, uma maneira de ser. Assim, ela passa a carregar uma personalidade, que vai além de seu know-how. Há, portanto, uma inversão da relação da marca com o objeto: a marca não é mais o nome de um produto, mas é o produto que enverga a marca; é ele que exibe os sinais exteriores de uma marca interior. A marca, uma vez estampada, transforma o produto, dotando-o de traços objetivos e subjetivos. Neste estágio, acrescenta Keller (2005), as marcas adquirem, para os consumidores, significados exclusivos que facilitam suas atividades do diaa-dia, enriquecem sua vida. A cadeia de meios e fins A teoria da cadeia de meios e fins, iniciada com o trabalho de Gutman (1982), parte do pressuposto que os valores definem estados finais desejáveis de existência e que, devido a isso, desempenham um papel dominante nas escolhas. Os produtos, neste caso, são os meios utilizados pelo ser humano para atingir o estado final desejado (valor). Como o consumo gera conseqüências – positivas ou negativas – a escolha do produto para atender a determinado valor depende tanto do tipo de valor a ser atendido, quanto da situação, quanto dos atributos do produto em si. Como as pessoas têm a sua disposição uma grande diversidade de produtos capazes de satisfazer os seus valores, o agrupamento destes produtos em classes ou marcas visa formar o chamado “conjunto evocado” e, com isso, facilitar o processo de escolha. A cadeia de meios e fins apresentada por Gutman (1982), representa a conexão entre os atributos existentes nos produtos, as conseqüências do consumo e os valores pessoais dos consumidores. A teoria, segundo o próprio Gutman reconhece, é uma continuação das obras de Rokeach (1973; 1981), de Vinson, Scott e Lamont (1977) e de Howard (1977). A conexão com o trabalho de Rokeach (1973) é mais ou menos óbvia, na medida em que os valores instrumentais de Rokeach seriam, para Gutman, os meios dos quais os indivíduos se valem para atingir determinados estados finais desejáveis (os fins). Logo, a conexão meios-fins estaria implícita já no trabalho de Rokeach, porém com outra denominação. Um pouco mais tarde, Reynolds e Gutman (1994) concluíram que o mapa cognitivo do consumidor, durante o processo de escolha, parte de duas premissas: (a) que os valores são ligados a conseqüências desde que a estas sejam dadas valências positivas ou negativas, dependendo dos valores; e (b) que as conseqüências são diretamente relacionadas a atributos, desde que consumidores venham a adquirir os produtos que possam produzir as conseqüências desejadas (benefícios). Vinson, Scott e Lamont (1977), apresentam o sistema de valor-atitude do consumidor, como um sistema de crenças hierarquizadas do centro para a periferia; neste sistema os valores globais ocupam o ponto mais central, os valores de domínio específico aparecem numa posição intermediária e as crenças referentes aos atributos dos produtos aparecem na periferia. Assim, os valores globais seriam crenças duradouras, relativas aos estados finais de existência ou modos de comportamento ideal; os valores de domínio específico seriam crenças desenvolvidas na interação econômica, social ou religiosa; e as crenças referentes aos atributos dos produtos seriam aquelas referentes às expectativas do consumidor acerca do seu desempenho. Externamente, influenciando todo o sistema de crenças, estariam as forças do ambiente socioeconômico, cultural e familiar, no qual o indivíduo se acha inserido. Na avaliação de Gutman (1982), os valores globais de Vinson, Scott e Lamont (1977) seriam, na verdade, uma redefinição dos valores terminais de Rokeach, e os valores de domínio específico, uma simples ligação entre os valores e os atributos dos produtos. Howard (1977), citado por Gutman (1982), sugere que o significado total de uma marca é composto por uma estrutura semântica correspondente a uma série de categorias hierarquicamente organizadas, que ajuda o consumidor a decidir. Assim, a estrutura avaliativa dos produtos seria composta por dois níveis, encabeçados pelos valores terminais e -4- instrumentais respectivamente. Os valores terminais seriam, neste caso, determinantes para a escolha da classe de produto, enquanto os instrumentais determinariam a escolha da marca. Entre os trabalhos que deram continuidade à teoria dos meios e fins de Gutman (1982), encontram-se os de Valette-Florence e Rapacchi (1991), Hofstede et al. (1998; 1999), Vriens e Hofstede (2000). Embora cada um deles aborde o tema à sua maneira, todos convergem para o mesmo ponto: os produtos possuem atributos (concretos e abstratos), cujo consumo gera conseqüências (funcionais ou psicológicas), importantes para satisfazer valores (terminais ou instrumentais). Já a marca, como uma imagem representativa do produto, possui atributos físicos, funcionais e de personalidade, os quais, mediados por todas as forças que interferem sobre a percepção do consumidor (valores, emoções, aspectos cognitivos e experienciais, etc.) levam o consumidor a defini-lo como “é próprio para mim” ou “não é próprio para mim”; ou mesmo “eu sou próprio para ele (Plummer, 2000). Ou ainda, conforme Ferrell e Hartline (2005), a percepção e a fidelidade aumentam a familiaridade do consumidor com a marca. Quando essa familiaridade combina com um alto grau de qualidade, o risco inerente à compra da marca diminui sensivelmente. Dessa forma, (p. 204) “associações de marca incluem a imagem e atributos ou benefícios da marca que, direta ou indiretamente dão a ela uma certa personalidade”. Como o produto ajuda a satisfazer valores, e a marca é uma representação do produto, parece natural que os valores – ao menos alguns deles – influenciem a percepção do consumidor a respeito da marca. Na crítica de Azoulay e Kapferer (2003), a própria BPS, por partir de um conceito excessivamente abrangente, já estaria capturando outros aspectos além da personalidade em si, como valores, estereótipo do consumidor e itens referentes à performance. O presente trabalho não busca discutir os dois construtos envolvidos nem as escalas utilizadas para medi-los; busca – isto sim – explorar as relações existentes entre ambos, com vistas a conhecer suas interfaces e levantar insights que possam, no futuro, ser aproveitados pelos profissionais de marketing, na concepção e comunicação de marcas, à luz dos valores preponderantes no grupo prospectado de consumidores. Ou mais especificamente, busca confirmar possível encadeamento entre valores terminais, valores instrumentais e atributos da marca, e verificar o comportamento dos valores instrumentais enquanto mediadores da relação entre valores terminais e atributos da marca. Coleta dos dados e caracterização da amostra Os dados foram colhidos em três universidades da Grande Porto Alegre, através de questionário composto de três partes: (a) a Escala de Personalidade da Marca de Aaker (BPS), (b) a Escala de Valores de Rokeach (RVS) e (c) dados demográficos. A Escala da Personalidade da Marca de Aaker (1997) consiste de quarenta e dois traços de personalidade, agrupados em quinze facetas e estas em cinco dimensões (sinceridade, excitação, competência, sofisticação, e robustez). A referida escala foi aplicada para conhecer o grau de concordância que cada indivíduo atribui aos traços de personalidade da marca McDonald’s. A Escala de Valores de Rokeach (1973) consiste em duas listas contendo dezoito valores em cada uma delas. Uma das listas refere-se aos valores instrumentais (modos preferidos de conduta social) e a outra aos valores terminais (estados preferidos de ser/estar). Esta escala foi aplicada com o intuito de conhecer o grau de importância que cada indivíduo atribui aos valores nela contidos. Por fim, os dados demográficos foram solicitados visando caracterizar a composição da amostra. Tanto a BPS quanto a RVS, foram operacionalizadas com escalas de cinco pontos. Para os traços de personalidade, a escala ia de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), e para os valores da RVS iam de 1 (nada importante) a 5 (muito importante). Antes da coleta dos dados propriamente dita, foi realizado um pré-teste do questionário, em -5- uma amostra de 10 alunos da Escola de Administração da UFRGS, com o objetivo de identificar e eliminar problemas potenciais (Malhotra, 2001). O resultado foi satisfatório, recomendando apenas pequenas modificações e ajustes. Um segundo pré-teste foi ainda realizado, com as mesmas características do primeiro, quando então o instrumento foi considerado adequado para a coleta de dados. Ao todo foram aplicados 250 questionários, 83 na PUCRS, 84 na UFRGS e 83 na UNISINOS. Dos 250 respondentes, 29 tiveram que ser eliminados por se tratar de outliers multivariados em pelo menos um dos construtos, restando, portando, 221 questionários válidos. A detecção dos outliers multivariados foi feita através da distância (D2) de Mahalanobis, eliminando-se, “de forma conservadora”, aqueles que apresentaram significância menor que 0,001 (Hair et al., 2005, p. 73). A caracterização da amostra válida encontra-se na Tabela 1. Tabela 1 - Caracterização da Amostra, considerando apenas as respostas válidas Sexo Masculino Feminino Total Universidade UNISINOS EA - UFRGS PUCRS Total UNISINOS EA - UFRGS PUCRS Total UNISINOS EA - UFRGS PUCRS Total Média de Idade 24,18 24,19 21,12 23,05 26,12 25,88 21,67 24,59 25,08 25,16 21,38 23,82 Respostas Válidas 38 31 41 110 33 42 36 111 71 73 77 221 Desvio Padrão 4,417 4,118 3,356 4,200 6,264 5,456 3,278 5,483 5,403 4,972 3,309 4,936 Análise dos dados Após a análise inicial dos dados, destinada a identificar observações atípicas e eventuais elementos faltantes, foi procedida a Análise Fatorial Exploratória – AFE dos elementos de ambas as escalas, com vistas a identificar um conjunto menor de novas dimensões compostas e, com isto, facilitar o trabalho de análise. Conforme Hair et al. (2005, p. 97/8) “o tamanho da amostra [para realização da AFE] deve ser maior que 100 e, como regra geral, ter pelo menos cinco vezes mais observações do que o número de variáveis a serem analisadas”. No caso presente, ambos os construtos apresentam-se dentro do limite estabelecido, ainda que a Escala de Aaker, com suas 42 variáveis, esteja muito próxima do limite inferior. O número de fatores extraídos de ambas as escalas foi decidido em função da conveniência, sempre buscando o melhor ajuste em todos os fatores e respeitando a indicação do Gráfico de Scree. A extração de cinco fatores em ambas as escalas, foi a alternativa que melhor se ajustou às recomendações de Costello e Osborne (2005): fatores com cargas superiores a 0,30, poucas cargas cruzadas (valores superiores a 0,32 em mais de dois itens) e nenhum fator com menos de três itens. No caso específico na RVS, a primeira aproximação, com autovalores superiores a um, indicou a existência de nove fatores, porém dois deles apresentaram Alfas de Cronbach inferiores a 0,6. Outras alternativas foram tentadas, até chegar-se à solução com cinco fatores, indicada pelo Gráfico de Scree. A solução encontrada, conforme se vê na Tabela 2, apresenta uma variável (vida excitante) com carga fatorial inferior a 0,30 e algumas outras com cargas cruzadas. A manutenção de todas as variáveis da escala original na análise, foi decidida após verificar-se que a retirada dos itens problemáticos não faria melhorar substancialmente o -6- ajuste, nem alteraria a ordem dos fatores. Entre os cinco fatores identificados, dois (maturidade e estabilidade) reúnem valores terminais, outros dois (sociabilidade e intelectualidade) são tipicamente instrumentais e o quinto (desafio) é um misto de valores terminais e instrumentais. Todos os fatores apresentaram Alfas de Cronbach superior a 0,60. Tabela 2 - Componentes da Escala de Valores de Rokeach (1973) COMPONENTES (T) Maturidade ,733 ,724 ,673 ,664 ,645 ,603 ,572 ,489 ,445 ,417 ,398 ,280 (I) Sociabililidade (T) Estabilidade Felicidade* Sent. de realização Segurança familiar Liberdade Prazer Amiz. verdadeira Um mundo de paz Auto-respeito Harmonia interior Honesto ,296 Mundo de beleza ,298 Vida excitante Prestativo* ,619 Tolerante ,619 Polido ,581 Animado ,351 ,531 Auto-controlado ,494 Responsável ,486 Liberal ,440 Corajoso ,358 ,421 Amoroso ,410 Asseado ,401 Salvação* Segurança nacional Amor maduro ,414 Igualdade ,446 Obediente -,388 ,426 Sabedoria ,360 Capaz* ,431 Ambicioso Vida confortável* ,289 Reconhec. social Independente* Imaginativo ,303 Intelectual Lógico * Serão utilizadas, mais tarde, como variáveis substitutas. ,322 (M) Desafio (I) Intelectualidade Alfa de Cronbach ,312 0,715 ,410 ,346 ,405 ,318 ,322 ,365 ,332 ,326 ,306 ,452 0,781 ,317 ,342 ,303 ,720 ,677 ,587 ,467 ,437 ,421 ,292 0,828 ,394 ,657 ,579 ,573 ,541 ,340 0,633 ,644 ,603 ,556 ,520 0,625 O mapeamento espacial dos valores, realizado através do Escalonamento Multidimensional, demonstrou ser possível identificar um hemisfério de valores terminais e outro de valores nitidamente instrumentais, o que está perfeitamente de acordo com Rokeach (1973; 1981). Segundo este autor, os valores instrumentais são crenças relativas a modos preferidos de conduta ou modos de comportamento como, por exemplo, divertir-se, agir de -7- forma independente, mostrar autoconfiança, etc., e os valores terminais são estados de ser/estar preferidos ou estados psicológicos amplos como, por exemplo, ser feliz, estar em paz, ser bem-sucedido, etc.. Além de identificar os hemisférios instrumentais e terminais, o mapeamento espacial dos valores buscou ainda confirmar a divisão dos primeiros em valores morais e valores de competência, e dos últimos em valores pessoais e valores sociais, conforme preconizado por Rokeach (1973; 1981). Conforme se vê na Figura 1, apenas três valores instrumentais e outros três terminais, localizam-se em hemisférios opostos aos “seus”, mas ainda assim respeitam a orientação horizontal previsível. Os valores terminais “salvação” e “segurança nacional”, valores de alcance nitidamente social aparecem no hemisfério superior-esquerdo, quando deveria constar no inferior-esquerdo; e o oposto ocorre com o valor instrumental “animado”. No lado direito ocorre comportamento semelhante com os valores “reconhecimento social”, (ser) “independente” e (ser) “imaginativo”. Val. Terminais ↔ Val. Instrumentais Val. Morais ↔ Val. Competência Val. Sociais ↔ Val. Pessoais Figura 1 - Mapa Espacial dos Valores Alguns dos “maus posicionamentos” de valores podem ter sido influenciados pela faixa etária dos respondentes, tendo em vista que a amostra é composta exclusivamente por estudantes jovens, muitos deles recém saídos da adolescência e ainda na fase de afirmação dos valores. Dessa forma, parece lícito especular que valores terminais como a salvação, a segurança nacional e o reconhecimento social, entre outros, em jovens daquela idade, tenham sido influenciados, de alguma maneira pelo estigma do grupo de referência. Assim como aconteceu com os valores, também a BPS (Aaker, 1997) foi submetida a AFE. Os cinco fatores identificados são compatíveis com as dimensões da escala original: sofisticação, competência, sinceridade, robustez e excitação da marca, ainda que as variáveis -8- formadoras não sejam exatamente as mesmas. Os fatores identificados e os respectivos Alfas de Cronbach, encontram-se na Tabela 3. Tabela 3 – Componentes da Escala de Personalidade da Marca (Aaker, 1997) Sofisticação Competência COMPONENTES I II Fascinante* ,797 Bela ,760 Atrativa ,675 Sedutora ,649 Emocionante ,593 Espirituosa ,580 Moderna ,555 Distinta ,466 Familiar ,448 Alegre ,416 Sentimental ,356 Amistosa ,283 Jovem ,267 Vencedora* -,740 Líder -,703 Confiante -,610 Trabalhadora -,603 Inteligente ,224 -,596 Técnica -,568 Corporativa ,219 -,479 Sincera* Honesta Confiável -,215 Saudável ,398 Interiorana ,314 Segura de si -,439 Realista Rude* Masculina Corajosa -,421 Robusta -,327 Feminina ,358 ,367 Naturistai Original* Autêntica Audaciosa Imaginativa ,277 -,212 Única Contemporânea Independente -,222 Sempre atualizada ,323 -,200 * Utilizadas, mais tarde, como variáveis substitutas Sinceridade III Robustez IV Excitação V ,345 -,222 ,277 Alfa de Cronbach 0,836 ,308 ,236 ,206 -,224 -,247 0,776 ,201 ,254 ,798 ,774 ,651 ,517 ,464 ,452 ,421 -,218 0,717 ,218 ,675 ,621 ,609 ,584 ,455 ,389 ,340 ,315 ,230 ,714 ,595 ,506 ,479 ,474 ,418 ,411 ,344 0,668 0,741 Dois traços de personalidade da marca (jovem e amistosa) apresentaram carga fatorial inferior a 0,30 no Fator I. As variáveis “saudável” e “segura de si”, pertencentes ao fator -9- “sinceridade”, também apresentam cargas altas (>0,32) no fator “competência da marca”, sugerindo a existência de alguma ambigüidade entre estes dois fatores. Fenômeno semelhante ocorreu com a as variáveis “corajosa”, “robusta”, “feminina” e “naturista”; neste caso, o fator “robustez” compartilha cargas com os fatores “competência” e “sofisticação”, respectivamente. Assim como no caso dos valores, aqui também as variáveis com cargas baixas ou ambíguas foram mantidas na análise para facilitar a compreensão, por não prejudicarem substancialmente o ajuste, nem alterar ordem das variáveis dentro dos fatores. O mapeamento espacial das variáveis da Escala de Aaker (1997) buscou verificar a existência da dimensão emocional↔funcional nos atributos da marca, conforme sugere Keller (2005), e identificar possíveis indícios de separação entre os traços de personalidade reais e aspiracionais, sugeridos por Aaker et al. (2001). Traços atuais ↔ Aspirações IV II I V III Atrib. emocionais ↔ Atrib. funcionais Figura 2 - Mapa espacial das variáveis da Escala de Personalidade da Marca O resultado, como se vê na Figura 2, revela um razoável antagonismo entre o fator III (sinceridade da marca) e os fatores II (competência) e V (excitação). Este antagonismo sugere que os respondentes vêem com alguma reserva a capacidade da marca, de carregar consigo produtos/serviços que sejam honestos e atuais, ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, o fator II (competência) posicionado externamente aos demais, como se não fizesse parte do mesmo construto, é compatível com a crítica de Azoulay e Kapferer (2003), quanto à presença de variáveis indicativas de conhecimento ou habilidades, na escala de personalidade. A evidência de existência de incompatibilidade entre aquele fator e o construto como um todo, no caso atual, ganha força ainda pela presença da variável “jovem” – um fator demográfico – que, - 10 - aqueles autores, pode ser influenciado tanto pelos valores como pelas características etárias dos respondentes. A dicotomia entre traços reais e aspiracionais de personalidade, sugeridos por Aaker et al. (2001) também é perceptível. Conforme se vê na Figura 2, algumas variáveis do fator IV (Ex.: corajosa, masculina, feminina) e outras do hemisfério superior do Fator I (Ex.: distinta, bela, sedutora), sugerem representar mais um “desejo de ser” do que um traço atual de personalidade dos respondentes. Enquanto isso, variáveis relacionadas à família, amizade, sinceridade, confiabilidade e outras condizentes com traços atuais de personalidade, aparecem localizadas no hemisfério inferior. O possível dualismo entre atributos emocionais e funcionais, sugerido por Keller (2005), não chega a ser tão evidente como aquele que foi tratado no parágrafo anterior. Conforme se pode ver no eixo horizontal da Figura 2, atributos como “masculina”, “feminina”, “interiorana” e “saudável”, quando presentes em uma marca, realmente sugere alguma funcionalidade, ao mesmo tempo em que outros como “alegre”, “moderna” e “imaginativa”, sugerem emoção. Entretanto, não se pode desconhecer que outras variáveis também indicativas de funcionalidade, como “jovem”, “técnica” e “trabalhadora”, aparecem no lado esquerdo da figura, contradizendo o pressuposto do autor aqui referido. Visto isto, parece interessante analisar as possíveis relações entre os fatores representativos da personalidade da marca e dos valores, à luz da teoria da cadeia de meios e fins. Conforme os autores desta corrente, o consumo de bens e serviços – logo, da marca – busca satisfazer valores, instrumentais ou terminais. Como os valores instrumentais representam modos de conduta ou comportamentos, e os terminais, os estados finais desejados, é presumível que os valores instrumentais sirvam de meios para atingir os terminais. Portanto, se o consumo busca satisfazer aos valores, e se os valores instrumentais são meios para atingir os terminais, parece natural que os instrumentais ocupem um espaço intermediário entre os atributos da marca e os terminais. Em outras palavras, o encadeamento marcaÆvalores instrumentaisÆvalores terminais, parece ser algo natural. No caso presente, contudo, além dos fatores tipicamente terminais (estabilidade e maturidade) ou tipicamente instrumentais (sociabilidade e intelectualidade), foi identificado ainda um fator misto (desafio), composto por dois valores instrumentais e dois terminais. Por não ter sido encontrado, na literatura revisada, qualquer referência a fatores híbridos (contendo tanto valores terminais, quanto instrumentais), optou-se por separar, para efeito de analise, as variáveis de uns e de outros, formando assim os fatores “desafio-t” e “desafio-i”. Como o fator “desafio-i” ficou restrito a duas variáveis (capaz e ambicioso), optou-se por verificar também possível subordinação deste aos dois outros fatores instrumentais. Nos fatores da BPS, a competência da marca foi considerada possível mediadora da relação entre as demais dimensões da personalidade e os valores, tendo em vista as restrições apresentadas por Azoulay e Kapferer (2003) e já relatadas no presente trabalho. Por ter sido utilizada a rotação oblíqua na AFE, todas as dimensões da BPS foram admitidas como possivelmente correlacionadas. A identificação de relações entre os construtos foi feita através da análise de caminhos, com a utilização das variáveis de maior carga fatorial como substitutas de cada dimensão. A utilização de variáveis substitutas, segundo Hair et al. (2005, p. 110), é admitida “quando a meta do pesquisador é apenas identificar variáveis apropriadas para aplicação subseqüente com outras técnicas estatísticas”. A análise de caminhos, segundo o mesmo autor (p. 466), “é baseada na especificação das relações em uma série de equações do tipo regressão, que podem então ser estimadas pela determinação da quantia de correlação atribuível a cada efeito, em cada equação simultaneamente”. O diagrama de caminhos, com as relações significantes e os coeficientes padronizados correspondentes, encontra-se na Figura 3. As medidas de - 11 - ajustamento do modelo foram bastante satisfatórias: χ2 = 38,97(39 DF); p = 0,47; GFI=0,969; RMR= 0,052; RMSEA=0,000; NFI=0,823; TLI=1,0. Figura 3 - Diagrama de caminhos ligando as cinco dimensões da Escala de Personalidade da Marca aos fatores representativos dos Valores Instrumentais e Terminais Conforme se pode ver na Figura 3, embora o modelo admitisse correlações entre todas as dimensões da BPS, apenas os fatores “sofisticação” e “sinceridade da marca” apresentaram correlação significante. O fator “sinceridade da marca” não apresentou carga significativa sobre nenhuma dimensão dos valores. A ausência de significância entre este fator e qualquer outro, é motivo de desconforto para os autores, tendo em vista que isto não só contraria os pressupostos teóricos, como também não oferece uma justificativa plausível, além da correlação significativa com a “sofisticação”, que poderia eventualmente estar explicando a mesma dependência. A competência da marca, testada inicialmente como possível conseqüente aos quatro outros fatores da BPS, recebeu carga significativa apenas do fator “excitação”. O fator instrumental “desafio” foi testado tanto como possível antecedente como conseqüente aos dois outros fatores instrumentais. O resultado, conforme se vê pela Figura 3, indica que a percepção de marca “vencedora” tem relação com a capacidade dos respondentes (formação do valor instrumental “capaz”) e que esta influencia significativamente os valores instrumentais ligados à intelectualidade e à visão pró-social. Verifica-se também que os indivíduos que valorizam mais a idéia de “felicidade” e de “vida confortável”, enxergam negativamente a rusticidade da marca, e que o mesmo acontece entre a intelectualidade dos respondentes e a sofisticação da marca. Finalmente, constata-se que o fator terminal “estabilidade” relaciona-se tanto com visão pró-social dos respondentes (sociabilidade), quanto com a sua capacidade de valorizar a sofisticação de uma marca. Já o fator terminal “maturidade” (representado pela variável “felicidade”) relaciona-se com valores instrumentais ligados à intelectualidade e à capacidade, mas não chega a ter influência direta positiva sobre qualquer atributo da marca avaliada. - 12 - Considerações finais A presente pesquisa, de cunho descritivo, buscou identificar relações entre os valores pessoais dos respondentes e a sua forma de perceber uma marca conhecida universalmente. Utilizou uma amostra de 250 estudantes, de três grandes universidades brasileiras, os quais responderam a um instrumento de coleta contendo questões referentes aos seus valores e opiniões acerca da marca McDonald’s. O questionário utilizou duas escalas de medida validadas previamente no contexto brasileiro: a Escala de Valores de Rokeach (1973) e a Escala de Personalidade da Marca de Aaker (1997). Os dados de cada uma das escalas, dos 221 questionários válidos, foram submetidos à Análise Fatorial Exploratória, para a identificação de dimensões latentes e, posteriormente, ao escalonamento multidimensional das variáveis, para avaliação das dimensões espaciais de ambos os construtos. Finalmente foi feita a análise de caminhos para identificar relações significativas entre os fatores representativos de ambas as escalas. O resultado confirma a existência de relações significativas, diretas e indiretas, entre as percepções da marca e os valores terminais, que era o objetivo maior do presente trabalho. Como a percepção depende de inúmeras condicionantes – e os valores são apenas uma delas – é recomendável que outros estudos sejam feitos para determinar o grau de importância dos valores no conjunto de fatores formadores da percepção. As relações significativas que foram identificadas confirmam ainda que os valores instrumentais, mormente aqueles ligados à capacidade intelectual e à ambição dos respondentes, mediam a relação entre os valores terminais e a percepção de marca. Isto sugere que os modos habituais de conduta e comportamento dos indivíduos funcionam como uma lente – ou como uma das lentes – através da(s) qual(is) a marca é percebida e avaliada. Ou seja: indivíduos com valores terminais semelhantes podem enxergar a marca de forma absolutamente diferente, conforme a sua capacidade intelectual ou o seu grau de ambição. Devido ao pequeno tamanho da amostra, não foi possível montar um modelo estrutural completo, com todas as variáveis e suas dimensões latentes. Como a modelagem de equações estruturais exige um mínimo de casos por variável incluída, o número de variáveis foi reduzido através da utilização de variáveis substitutas. Assim, o alto grau de ajustamento que foi conseguido poderá estar superestimado uma vez que apenas as “melhores” variáveis foram incluídas no modelo. Provavelmente não ocorreria ajuste tão generoso em um modelo completo, que incluísse também as variáveis menos ajustadas. Face à limitação descrita no parágrafo anterior, parece interessante que outras pesquisas sejam realizadas, mormente pesquisas de cunho confirmatório, com vistas a identificar com precisão os valores associados às avaliações, assim como para medir o grau de importância dos valores no complexo sistema de filtros que levam o indivíduo a perceber uma marca como “própria para mim” ou “imprópria para mim”. O trabalho apresenta importantes implicações gerenciais, tendo em vista que identifica relações que sugerem dependência da avaliação da marca aos valores terminais dos consumidores e constata que os valores instrumentais funcionam como interface entre os valores terminais e os atributos da marca avaliada. A constatação de que os valores interferem, direta ou indiretamente, na percepção de alguns atributos da marca poderá oferecer interessante subsídio para o desenvolvimento de marcas conforme os valores preponderantes no grupo social, na cultura ou no segmento que esta pretenda prospectar. - 13 - Referências Bibliográficas: AAKER, J. L. Dimensions of brand personality. Journal of Marketing Research, v. 34, n. 3, (Aug) 1997. AAKER, J. L.; BENET-MARTÍNEZ, V.; GAROLERA, J. G. Consumption symbols as carriers of culture: A study of Japanese and Spanish brand personality constructs. Journal of Personality and Social Psychology, v. 81, n. 3, 2001. AZOULAY, A.; KAPFERER, J.N. Do brand personality scale really measure brand personality? Brand Management, v. 11, n. 2, (Nov) 2003. BATRA, R.; LEHMANN, D.R.; SINGH, D.. The brand personality component of brand goodwill: some antecedents and consequences. IN: AAKER, D.; BIEL, A. Brand Equity and Advertising. 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