I Congresso Internacional de Pesquisa em Letras no Contexto Latino-Americano e
X Seminário Nacional de Literatura, História e Memória
21 a 23 de Setembro de 2011
UNIOESTE – Cascavel/PR
Análise da seleção lexical em textos opinativos: a composição argumentativa do sintagma
nominal em enunciados asseverativos
BALDISSERA, Luana. (UNIOESTE)
BUSSE, Sanimar (UNIOESTE)
RESUMO: Neste trabalho apresentamos algumas reflexões e análises, ainda iniciais, realizadas
na atividade de pesquisa “Análise da seleção lexical em textos opinativos: a composição
argumentativa do sintagma nominal em enunciados asseverativos”, do Programa de Iniciação
Científica Voluntária. A pesquisa tem o objetivo de avaliar os sintagmas nominais, nos processos
de referenciação, em textos opinativos de circulação na mídia escrita. Segundo Koch (2002), um
texto pode ser considerado resultado do processo de articulação de informações, em que se
reserva espaço para ações relacionadas ao momento da enunciação, no qual a constituição
linguística representa um fazer argumentativo. Neste trabalho, pretende-se reconhecer e descrever
os níveis de progressão referencial, que se realizam por meio dos sintagmas nominais, em
determinados ambientes argumentativos do texto, como a explicitação e a negociação de
posicionamentos. A perspectiva persuasiva sobre a qual o locutor define o enunciado desencadeia
estruturas argumentativas que reiteraram e reafirmam determinados sentidos. Em algumas
situações estabelece-se uma hierarquia argumentativa, na qual as proposições assumem
determinado relevo semântico em função do seu papel no fazer argumentativo. Acredita-se que o
sintagma nominal pode abrigar uma nuclearização de informações que, no arranjo de argumentos,
atua no desdobramento das ambiências discursivas e persuasivas. Esse desdobramento também
está ancorado nas informações que se projetam, sob o enunciado, do contexto de interação, dos
interlocutores e do gênero discursivo.
PALAVRAS-CHAVE: artigo de opinativo, argumentação, seleção lexical.
ABSTRACT: In this paper, we present some introductory reflections and analysis that took place
in the research activity “Análise da seleção lexical em textos opinativos: a composição
argumentativa do sintagma nominal em enunciados asseverativos”, from the Programa de
Iniciação Científica Voluntária. Its objective is to evaluate the noun phrases, in the referentiation
process in opinion articles from written media. According to Koch (2002), a text might be
considered the result of the articulation of the information process, and it leaves room to the
actions related at the moment of the discourse, where the linguistic constitution represents an
argumentative action. In this research, we intend to recognize and describe the levels of
referentiation progression that happens through noun phrases in certain argumentative
environments, such as explicitness and negotiation of statements. The persuasive perspective the
announcer defines the discourse, will trigger argumentative structures which reiterate and
reaffirm certain meanings. In some situations, there is an argumentative hierarchy, in which the
propositions carry certain semantic relevance because of its role inside the argumentative action.
It is believed that noun phrases might hold information that arrange argument ramification of
both discursive and persuasive environments. This ramification is also anchored in the
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information projected, under the discourse, interaction context, interlocutors and discourse
genres.
KEY WORDS: opinion article, argument, lexical selection.
PALAVRAS INICIAIS
Partindo do objetivo de descrição e avaliação das estruturas linguísticas que compõem o
processo de progressão argumentativa do texto dissertativo, em especial o processo de
referenciação, pretende-se apresentar, preliminarmente, algumas reflexões sobre referenciação
como possibilidade de descrição das relações entre o perfil de texto argumentativo e o uso de
elementos de referenciação como demarcadores de espaços de interlocução.
Parte-se da perspectiva de que o uso e a seleção de determinadas estruturas em função
anafórica pode implicar no desencadeamento de estratégias argumentativas. Ao referenciar,
retomar ou remeter, o produtor do texto está agindo a partir de um projeto de dizer, cuja ação está
voltada para conquista da adesão do interlocutor. Os traços interlocutivos, estabelecidos no
ambiente argumentativo, estariam, portanto, relacionados a determinadas particularidades dos
movimentos de persuasão e convencimento do interlocutor, o que apresenta a construção do texto
como que voltada para determinada composição do processo.
Busca-se centrar as investigações e as análises nos efeitos de sentido pontuados pela
escolha das estruturas que atuam na função anafórica no interior dos processos de referenciação e
de progressão textual.
Os textos apontam para a apresentação de condições de argumentação assentadas
principalmente em movimentos que se voltam para fins de convencimento e persuasão. A
comprovação do que se afirma pode estar relacionada às informações disponíveis e inseridas em
determinados momentos do texto e que se constituem como +avaliativos, +constativos,
+descritivos, +opinativos e +explicitativos.
Compreende-se
que
a
argumentação
sustenta-se
no
movimento
de
afirmação/confirmação em que estruturas linguísticas sinalizam para o processo de busca por
dados comprovadores do que se argumenta. No movimento de preenchimento informacional
algumas estruturas podem ser descritas e avaliadas a partir do seu perfil argumentativo no
movimento de progressão textual.
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O desenvolvimento da competência linguística compreende o posicionamento do
indivíduo que interage com o discurso do outro, pois ao produzir o seu discurso torna-se sujeito
na perspectiva da avaliação, da reflexão e do domínio das formas de expressão da língua
(BAKHTIN, 2000). A reflexão sobre os traços discursivos do enunciado desvenda os
movimentos argumentativos que algumas estruturas, como o ato da pressuposição, podem
instaurar no estabelecimento dos efeitos de sentido do enunciado.
Para Ducrot (1987), a comunicação apresenta-se como fator essencialmente
argumentativo, em que a fala é compreendida como ato ilocutório, tendo em vista as ações que se
realiza pelo uso da língua a partir de uma atitude ou intenção de convencimento e persuasão do
interlocutor. As informações que emergem do texto podem apresentar-se sob a forma de
pressupostos e subentendidos que revelam as características relevantes para a constituição do
sentido sob determinados efeitos discursivos. O ato comunicativo ultrapassa, assim, a instância da
expressão das idéias e dos pensamentos para revelar movimentos discursivos que buscam a
adesão do interlocutor quanto às proposições apresentadas.
O conhecimento da palavra e o seu emprego remetem, portanto, à ativação das instâncias
semânticas e pragmáticas de seu uso, em que a intenção e a situação comunicativa representam o
ambiente pelo qual os efeitos de sentido constituem-se. Dessa forma, pode-se considerar que os
enunciados permitem a instauração de espaços que compreendem determinados ambientes de
participação do interlocutor para levantamento das informações mostradas e pressupostas. Marcas
linguísticas sinalizam, portanto, o momento de produção, em que a enunciação se revela
condicionada à seleção de informações, organização de argumentos, inserção de justificativas,
apresentação de hipóteses, apresentação de contraposições. Considera-se, portanto, que uma
sequência textual é determinada por um perfil diferenciado dos aspectos sintáticos e semânticos
dos elementos que o compõem.
Considerando que a argumentação é “um ato público, aberto, não pode realizar-se sem
se denunciar enquanto tal”, (DUCROT, 1987, p. 174), é possível que determinadas marcas, e aqui
se destaca a pressuposição e o subentendido, sinalizem conteúdos e informações determinantes
para os efeitos de sentido num processo de inscrição ou não do locutor no enunciado. O
pressuposto pode apresentar-se como um elemento pelo qual o locutor apresenta determinadas
informações que passam a demarcar a instância argumentativa dos enunciados. A fala do locutor
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apresenta-se, assim, como um enigma que o destinatário deve resolver para que os efeitos de
sentido dos enunciados sejam realizados.
A universalidade e a particularidade do processo interlocutivo não correspondem apenas
aos fatos experimentalmente provados, mas às representações ou construções do sujeito da
enunciação. A opção pelos estudos dos autores supracitados justifica-se pelas condições
macrotextuais de realização da estrutura avaliada: o texto e seu contexto de produção. A
interlocução define-se no interior do trabalho como condição para a identificação dos possíveis
arranjos e manobras do produtor do texto na demarcação de instâncias de argumentação tendo em
vista o interlocutor e suas condições de interlocução.
O pano de fundo das discussões em torno do estatuto e das categorias do texto
argumentativo remete à compreensão de processos linguísticos e discursivos que envolvem o
posicionamento do locutor diante da realidade, ultrapassando a instância da simples expressão,
para revelar movimentos discursivos que concorrem para obter a adesão. A escolha dos
argumentos e a sua organização exigem do locutor o conhecimento e o domínio das formas
sintáticas e dos procedimentos semânticos na constituição do texto. O arranjo sintático e
semântico particulariza o “sentido” inscrito e atribuído pelo produtor, arranjo este que se
apresenta como espaço de representação de valores sociais e posicionamentos diante da realidade.
A maneira como o locutor organiza os argumentos pode produzir sequências textuais
que se inscrevem no contexto micro e macro do discurso em que as amarras argumentativas
estabelecidas podem render argumentos que se desvendam ou não no interior do texto. A
percepção da língua como o resultado das relações sintáticas, semânticas e argumentativas pode
levar o produtor, portanto, a criar momentos de argumentação que correspondem à asseveração
de pontos de vista.
Segundo van Dijk (2002, p. 32), o “plano semântico do discurso, composto de elementos
do conhecimento geral e, especialmente, de elementos do modelo situacional (incluindo um
modelo do ouvinte e seu conhecimento, motivações, ações passadas e intenções, e também do
conhecimento comunicativo se origina do processamento e articulação de informações a partir do
compromisso com o seu conteúdo proposicional)”.
Para Koch (2002, p. 17), o texto reserva espaço para uma infinidade de realizações
relacionadas ao momento da enunciação, em que a língua pode ser compreendida como
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“atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos”. As discussões sobre os
processos de referenciação respaldam a identificação de ações desenvolvidas na língua a partir
das condições de inserção das informações no texto, atuando na sinalização de determinadas
intenções.
A perspectiva discursiva sobre a qual o locutor define o enunciado desencadeia
estruturas que podem reiterar e reafirmar determinados movimentos em torno do que se declara
ou avalia no interior do texto. Ao dominar esta especificidade do funcionamento semântico e
argumentativo da língua, o locutor tem a possibilidade de valer-se de habilidades argumentativas
e discursivas ao inserir, apresentar e inscrever as informações e seus possíveis efeitos de sentido.
A REFERENCIAÇÃO E O ATO DE ARGUMENTAR
A referenciação pode ser compreendida como conjunto de informações que dão suporte
ao aparecimento de determinada afirmação, informação, argumento ou dado no interior do texto.
Alguns elementos funcionam, portanto, como pistas que orientam o processo acionando ou não
determinadas informações relevantes no contexto argumentativo.
A retomada ou remissão está, na medida em que se realiza em condições textuais
específicas, relacionada a determinados efeitos de sentido. O objeto (re)criado traz elementos que
inserem uma ação em favor de alguma intenção. O processo de referenciação pode encontrar-se
constituído em espaços sintático-semânticos criados para o acondicionamento da informação, do
argumento ou do dado.
Para Marcuschi (2003, p. 43), a referência deve ser tomada como “ato criativo de
designação”, e a anáfora “como um sistema de relações discursivas”. O processo anafórico pode
representar um índice demarcador de instâncias argumentativas e discursivas. O resgate de
referentes no texto pode acenar para um perfil discursivo em que o texto dissertativo organiza-se
a partir de ações interlocutivas, representadas ora pelo teor mais avaliativo, ora pelo constativo.
Busca-se, portanto, compreender e avaliar o processo ou estratégia de resgate de determinado
referente.
Quanto ao processo de referenciação, é possível descrevê-lo como índice demonstrativo
das condições de interlocução em que, ao optar por uma ou outra instância de inscrição dos
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referentes, o locutor delimita condições e espaços de atuação argumentativa no interior do texto.
A pluralidade de significações e o “sistema social e simbólico de muitos níveis de
estruturação e operação”, destacados por Marcuschi (2003, p. 52), podem compreender as
condições de aparecimento das informações, argumentos e dados no texto. Em se tratando de
uma investigação que se volta para o trabalho com a produção de textos, a partir de condições de
interação social, acredita-se na necessidade de diagnosticar as estratégias de orientação para que
se efetue a anáfora.
Em se tratando do texto dissertativo, de sua especificidade argumentativa na
apresentação de defesa de pontos de vista, os arranjos argumentativos e a ambiência discursiva
apontam para a seleção e organização das informações ultrapassando o aspecto declarativo para
emitir valores e avaliações sobre o mundo.
Nas investigações já realizadas sobre textos opinativos, observou-se que a
argumentatividade
assenta-se
em
ambientes
reconhecidos
como
“macromovimentos
argumentativos”, em que se destaca um determinado “fluxo” informacional.
A investigação sobre a identificabilidade dos referentes nos textos terá como parâmetro
alguns pressupostos apontados por destacados por Neves (2006, p. 88): a) o julgamento, pelo
falante, de que o conhecimento do referente a que se remete já é compartilhado (direta ou
indiretamente) com o ouvinte; b)a escolha, pelo falante, de uma linguagem com tal rigor de
categorização que todos os referentes compartilhados por ele e pelo ouvinte se reduzam ao que
está em questão; c)
o julgamento, pelo falante, de que esse referente particular é o exemplar
mais saliente da categoria, dentro daquele contexto.
A perspectiva discursiva sobre a qual o locutor define o enunciado desencadeia
estruturas que podem reiterar e reafirmar determinados movimentos em torno do que se declara
ou avalia no interior do texto. Ao dominar a especificidade do funcionamento semântico e
argumentativo da língua, o locutor tem a possibilidade de valer-se de habilidades argumentativas
e discursivas ao inserir, apresentar e inscrever as informações e seus possíveis efeitos de sentido.
Quanto à disponibilidade de referentes, apresentados por Neves (2006, p. 89), serão
observados os elementos relacionados à apresentação da informação de longo termo de que
dispõem os interlocutores, sua introdução ou re-introduzida em diferentes momentos do texto; em
relação ao referente, a construção com base em informação perceptualmente disponível na
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situação comunicativa, envolvendo o que se inscreve no texto e o que se estabelece no nível do
pressuposto.
Segundo Neves (2006, p. 75), ao estabelecer a interação linguística, compondo seus
enunciados, que os falantes instituem os objetos-de-discurso, isto é, as entidades que constituem
termos das predicações, entidades oriundas de uma construção mental, e não de um mundo real, o
que significa que a primeira noção de referência é a de construção de referentes. O texto escrito
aponta para o envolvimento do locutor para com o contexto da sua produção, porque atua sobre
categorias opinativas e reflexivas, cujo espaço de constituição reside na persuasão e no
convencimento.
ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS
Neste trabalho, apresentamos um exercício de análise, considerando-se que a pesquisa se
encontra ainda em fase inicial. A proposta de análise toma os eventos linguísticos a partir do seu
surgimento nas situações de interação, para, por meio de alguns elementos da semântica
argumentativa, observar a atuação dos elementos do sintagma nominal no processo de inserção e
retomada de referentes.
Os recortes aqui analisados foram coletados de artigos opinativos, assinados e
publicados na revista Veja, nos meses de maio e junho de 2011. São textos em que se explicitam
pontos de vista sobre temática que envolve questões polêmicas.
Entende-se que os artigos de opinião constituem-se como locus ideal para a identificação
de processos argumentativo-retóricos de convencimento e adesão do interlocutor. Segundo o
recorte teórico adotado, parte-se da hipótese de que no exame da construção do texto como
discurso, prioritariamente deve-se levar em conta a identidade dos seres envolvidos na
enunciação, sua posição frente ao “contrato comunicativo”, que comanda e rege os enunciados,
as condições da situação e a cenografia em que se dá o emprego dos elementos linguísticos.
A referenciação pode fornecer pistas para o processo de criação, desenvolvimento e
manutenção da argumentação. A proposta de trabalho parte da hipótese, conforme já aludido,
exemplificada a seguir.
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a) Pode-se dizer que o referente se localiza no interior do movimento argumentativo,
portanto, a retomada é local e a estrutura sintetiza o conteúdo. Apesar do movimento de
retomada re-apresentar o conteúdo proposicional do objeto de discurso referenciado, o
elemento anafórico pode circular num ambiente cujas informações alteram o teor
argumentativo do referente. Nesta perspectiva, não se tem mais apenas a retomada, mas a
recriação das condições de aparecimento do objeto de discurso em determinada realidade.
b) Por outro lado, a estrutura anafórica pode localizar-se no conjunto de informações que
envolvem o contexto comunicativo como um todo. São movimentos enunciativos cuja
configuração discursiva está relacionada a um perfil avaliativo. Trata-se de uma postura
interlocutiva voltada para determinadas orientações, em que a estrutura anafórica traz em
seu conteúdo informações que, ao retomar, remeter e referenciar passa a inserir, demarcar
e resgatar o objeto do discurso sob óticas particulares. Esta estrutura pode ser reconhecida
como elemento que atua como senha ou pista para determinada conclusão. Nos exemplos
a seguir, observam-se tentativas de manutenção do enlace argumentativo desencadeado
nas afirmações que comportam os objetos de discurso retomados. Considera-se que as
construções revelam intenções de referendar uma avaliação sobre o que se retoma.
A seguir, o recorte retirado do texto “Chancela para a ignorância, de Lya Luft, publicado
na Revista Veja, do dia 25 de maio de 2011, pode ser tomado como índice para tal avaliação.
O recorte (A.1) inicia-se com um enunciado altamente asseverativo, marcado pela
estrutura verbo ser, no presente do indicativo + PN, conforme Busse e Sella (2004). Para
sustentar a asseveração, que entra no enunciado como uma ação de verdade, são dispostos
argumentos e informações que a sustentam.
(A.1) Educar é ajudar a crescer. A educação se divide em duas grandes salas ligadas por muitas portas.
Uma das salas se chama formação. A outra, informação.
Nos excertos pode-se observar a orientação dada pelos elementos anafóricos, que ora
expandem o ambiente argumentativo, como em educação, ora colocam-se em segundo plano,
deixando destaque para a informação do enunciado, como em uma das salas e a outra.
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O trecho, na sequência, foi coletado do artigo Conceito e Preconceito, de Lya Luft,
publicado na revista Veja, no dia 08 de junho de 2011.
A estrutura asseverativa do verbo ser + PN novamente é utilizada e gera no enunciado
um efeito altamente argumentativo. Para sustentar a afirmação que dá abertura ao texto, utiliza-se
uma nova asseveração que, além de expandir o ambiente argumentativo,
(A.2) Preconceito e campanhas antipreconceito são o item da moda. Porque tudo é moda, mania, às
vezes obsessão passageira.
A estratégia argumentativa consiste em explicitar uma visão e uma crítica ao
comportamento humano, em que até o que é essencial ao ser humano, como o respeito, entrou no
circuito das tendências do mercado. Em obsessão passageira, a gradação argumentativa tem seu ápice
argumentativo. Nesta situação, o referente encontra-se num processo de (re)construção atributiva,
pois seu conteúdo proposicional não se encontra delimitado pela estrutura anafórica – no caso o
pronome, mas pelo enlace semântico-argumentativo das estruturas que o compõem. Destaque-se
que, para fins metodológicos, nos recortes prevalece um movimento anafórico local, uma vez que
os enunciados foram retirados de seu contexto maior – o texto.
Em (A.3), retirado do texto Este nosso Brasil, publicado na Revista Veja, do dia 22 de
junho de 2011, pode-se observar que no interior do conjunto de informações que são retomadas
ou referenciadas destaca-se a constituição de um processo anafórico que, na tentativa de instaurar
um movimento argumentativo, esboça uma (re)criação do objeto do discurso de um ponto de
vista avaliativo.
(A.3) Às vezes parece que nem sabemos direito quem nos governa, quem são os lideres, os grandes
cuidadores do país. Saber causaria angústia, então fechamos os olhos. Desconhecidos, ou sabidamente
ruins, alguns meras promessas, estão em altíssimos postos, parte de nosso destino depende deles.
O processo de referenciação pode evidenciar determinada organização sintáticosemântica, tendo em vista que esta estrutura corresponde às relações intermediadas por formas de
ação, a partir de condições dinâmicas de interdependência. As descrições de movimentos
argumentativos que correspondem a processos de adesão podem ultrapassar as avaliações
realizadas no espaço da frase.
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O aspecto discursivo da anáfora apresenta-se condicionado às instruções de sentido que
se manifestam no texto, ou seja, há certo jogo de condicionantes aos quais os sentidos encontramse atrelados. Enquanto instância discursiva, a anáfora pode determinar as condições pelas quais as
estruturas manifestam-se no enunciado, ou seja, apresentar pistas para detecção dos processos
argumentativos.
Trata-se de um jogo em que marcas, evidências ou indícios estão atrelados a condições
discursivas, revelando, além de um conteúdo implícito ou pressuposto, relações semânticoargumentativas que recuperam ou asseguram determinado perfil discursivo de texto.
A investigação sobre as instâncias responsáveis pelo processo de referenciação,
enquanto estrutura responsável pela instauração de movimentos argumentativos no interior do
texto dissertativo encontra-se demarcada pela compreensão de processos de interação e
interlocução definidos pelo locutor durante a sua produção.
AINDA ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Por tratar-se de uma proposta ainda inicial, apresentamos algumas considerações
teóricas sobre o papel do processo de referênciação no movimento argumentativo.
A constituição do texto revela instâncias que evocam ambiências instadas em ações e
movimentos de controle sobre os argumentos apontando para a relevância de determinadas
informações e proposições para a constituição dos efeitos de sentido.
Trata-se de uma descrição e avaliação do processo de referenciação e anáfora a partir de
movimentos argumentativos, entendendo o enunciado como produto de uma ação ilocutória.
Parte-se da perspectiva de que, além da descrição do perfil sintático-semântico e argumentativo, é
necessário que se estabeleça um cotejo entre textos dissertativos de diferente circulação social,
tendo em vista que o texto dissertativo escolar é uma tentativa de aproximação do texto
opinativo.
Compreende-se a necessidade de uma investigação teórica que se volte para os professos
de referenciação a partir do estudo da língua na perspectiva sócio-cognitivo-interacional, da
referência enquanto atividade discursiva, retomada e remissão e progressão textual, focalizando
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as descrições e análises para os índices de argumentatividade demarcados pela referenciação e
anáfora.
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VAN DIJK, T. Cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 2002.
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