RESUMO “BOM-CRIOULO” – UMA HISTÓRIA PASSIONAL Dois marinheiros - Amaro, apelidado o Bom-Crioulo, “um latagão de negro, muito alto e corpulento, figura colossal de cafre... com um formidável Sistema de músculos” e Aleixo “um belo marinheiro de olhos azuis” brutalizados e solitários pela vida a bordo de um navio, afeiçoam-se e entretêm relações homossexuais. Ao desembarcarem na cidade do Rio de Janeiro, vão viver em um cômodo alugado por uma portuguesa, ex-prostituta, D. Carolina. Mas o idílio amoroso entre Amaro e Aleixo é interrompido pelo dever de voltar ao mar: “Decorreu quase um ano sem que o fio tenaz dessa amizade misteriosa, cultivada no alto da Rua da Misericórdia, sofresse o mais leve abalo. Os dois marinheiros viviam um para o Outro: completavam-se /.../ Mas Bom-Crioulo um dia foi surpreendido com a notícia de que estava nomeado para servir noutro navio”. Os encontros passam, então, a se espaçar no tempo e Aleixo, longe do domínio do negro, é conquistado pela portuguesa, amasiando-se com Carolina. Amaro, longe de seu amante, passa a perder o controle sobre a própria vida. Seu corpo antes forte e vigoroso, passa a se tomar débil: é o sofrimento de amor. Após uma briga, seguida de punição no navio, é hospitalizado. Lá, fica sabendo que Aleixo vive com uma mulher. Roído de ciúmes, sentindo-se abandonado, Bom-Crioulo foge do hospital e assassina Aleixo. NATURALISMO Desenvolve o chamado romance de tese, de caráter eminentemente documental, procurando fazer um retrato pretensamente mais científico do fato narrado, conferindo ao relato um tom de documento fotográfico. O Naturalismo é considerado um Realismo intensificado, construindo romances nos quais os personagens aparecem animalizados, agem movidos por instintos. Em o “Bom Crioulo” a homossexualidade é tratada de forma escancarada, sem meios-tons. O homoerotismo é localizado em vários personagens, sendo retratado inclusive entre os oficiais da Marinha de Guerra: “O comandante, diziam, não gostava de saias, era homem de gênio esquisito, sem entusiasmo pela mulher, preferindo viver a seu modo, lá com a sua gente, com os seus marinheiros...” Obra dividida em 12 capítulos. A ação se passa na segunda metade do século XIX, no Rio de Janeiro. Romance narrado em 3ª pessoa, narrador onisciente. Presença do discurso direto dá à narrativa uma maior verossimilhança. O uso do discurso indireto livre, dessa foram, é oferecido ao leitor como a oportunidade de penetrar na cabeça dos personagens e de reconhecer-lhes os desejos mais recônditos. Foco naturalista, privilegia a observação detalhista dos fatos, descreve com tons de cores, cheiros, gostos. Gradativamente expõe, na figura de Amaro, Aleixo e Carolina, os vícios humanos, a impulsão instintiva do homem, em um triângulo mais vinculado ao desejo, à luxúria que ao amor. Não se deixa envolver, fica de fora dos fatos, perscrutando os personagens, desvendando-os para o leitor. TEMPO e ESPAÇO É possível dividir a obra em dois tempos e dois espaços. 1º momento – no mar, a bordo de uma corveta. O ambiente a bordo traduz o trabalho árduo, uma vida sem privacidade, que possibilita a eclosão das mais diversas perversões. A promiscuidade, fruto da solidão. 2º momento – em terra, na rua da Misericórdia, subúrbio do Rio de Janeiro. A promiscuidade da vida citadina, pobre no decorrer do 2º reinado (segunda metade, ainda monarquia), e que condiciona as ações das personagens, presas às engrenagens sociais. Embora distintos, ambos são descritos em seus aspectos degradantes, ressaltando a miséria daqueles que ali vivem. Romance repleto de descrições detalhadas, ricas, um olhar sobre espaços determinantes para o comportamento das personagens. O 1º capítulo: apresenta uma cena de forte violência, uma surra de chibatadas que simultaneamente denuncia o preconceito (um marinheiro é castigado por ter sido flagrado se masturbando) e exalta o protagonista (forte, rijo, belo, aguenta herculeamente as chicotadas.) O leitor ainda se choca, neste capítulo ante o masoquismo do carrasco e do oficial. O 2º capítulo; tem uma cena que antecede a do 1º capítulo. Nele o leitor conhece a vida do protagonista, sua chegada à Marinha, seu êxtase ante a nova forma de vida, diferente daquela como escravo na fazenda. Também o fastio que o vai dominando quando a nova vida se torna rotineira. Ainda a chegada de Aleixo e os primeiros sinais de envolvimento entre os personagens. PERSONAGENS Vinculadas ao naturalismo, as personagens não se desenvolvem com grande profundidade psicológica. (OBS. O psicologismo é característico do Realismo e não do Naturalismo). São personagens tipos, também denominadas planas. Suas ações são previsíveis, não evoluem no decorrer da narrativa. AMARO: protagonista, é um ex-escravo convocado para a marinha. Homem forte, com 30 anos e que não conseguiu realizar-se sexualmente com as mulheres. Sua construção se dá por ações instintivas que o dominam e o impedem de entender a situação conflituosa que vive. ALEIXO: grumete, belo rapaz de olhos azuis, que embarca no sul. Tem 15 anos e é seduzido sexualmente por Amaro. Não tem escrúpulos para trocá-lo por uma mulher, Dona Carolina. Sempre ligado a quem o circunda de favores e proteção. D. CAROLINA: portuguesa de 38 anos, amiga, torna-se rival de Amaro na sua relação com Aleixo. Ela tinha salvo o ex-escravo em um assalto e tornou-se sua inimiga por depois conquistar o namorado do crioulo. Mulher de negócios, aluga quartos na rua da Misericórdia a pessoas de “certa ordem”, gente que não se fizesse de muito honrada e de muito boa. Explora um amante – um açougueiro -, faz de si mesma uma mercadoria. HERCULANO: marinheiro um tanto melancólico. Sua descrição remete a uma pessoa suja. Foi preso e castigado por ter sido apanhado se masturbando. AGOSTINHO: Homem de grande estatura, reforçado, especialista em dar chibatadas. SANTANA: marinheiro que sofreu castigo por ter brigado com Herculano. Era gago, chorava com facilidade e era manhoso.