Seminário internacional “ Herança, identidade, educação e cultura: gestão dos sítios e lugares de memória ligados ao tráfico negreiro e à escravidão” Nome da Palestra: O que é turismo cultural Palestrante: Hervé Barré, especialista em turismo cultural e desenvolvimento Data: 20/08/2012 – 12:30 Hervé Barré lamenta o curto tempo que teria sua exposição. E fala da sua percepção e das propostas da Unesco em relação ao turismo de memória, associado à Rota de Escravos. A partir de ações rigorosas de pesquisa, do desenvolvimento, das visitas, da memória partilhada e da memória visitada, criaremos um diálogo que evitará o esquecimento das grandes tragédias da humanidade. Graças à criação da Rota do Escravo pode­se criar um diálogo entre as raças. Hervé entende a Unesco, há mais de 30 anos, a partir da convenção no México e da cúpula de Johanesburgo, que o turismo cultural é parte do desenvolvimento social. E a cultura é uma identidade social. O turismo cultural é um meio para garantir e assegurar esse desenvolvimento. Turismo é uma das principais atividades para valorizar a cultura no planeta e criar empregos. A cultura se define a partir da declaração da Unesco de desenvolvimento cultural. Os aspectos afetivos, culturais, espirituais e os modos de vidas, os sistemas de valores são agentes desse desenvolvimento. Intenta­se aproximar o desenvolvimento cultural aos objetivos sociais e econômicos. É importante relacionar os agentes numa dimensão ética. Ou seja, manter o respeito às populações locais e evitar os excessos do turismo. O turismo mudou, e hoje é mais democrático. Nas últimas três décadas, as populações locais têm demonstrado mais interesse em atividades culturais, patrimoniais e ecológicas relacionadas ao turismo. A Unesco, por meio de seus trabalhos, reconhece as capacidades dessas populações. A identidade cultural atribui sentido ao turismo.
Hervé Barré ressalta a importância da instituição e suas publicações no combate ao efeito nefasto da cultura padronizada. O desenvolvimento, portanto, deve se voltar aos objetivos de inclusão das populações. Populações locais, populações estrangeiras e turistas não são mais apenas mais consumidores, são atores mais conscientes e responsáveis. O turismo do século XXI é o grande negócio. Recursos religiosos, políticos, arquitetônicos são compartilhados. O que é bom para o patrimônio cultural é bom para o local. A aplicação dessa fórmula permite preservar o patrimônio sem comprometer as necessidades das populações futuras. A responsabilidade de valorização patrimonial é compartilhada, então, entre profissionais, turistas e moradores. Quando esses valores são disseminados as populações locais são beneficiadas. O Rio de Janeiro é um dos exemplos da aplicação do princípio desse programa. Entende Hervé Barré que o comitê do patrimônio mundial tem desafios futuros a gerenciar. Elaborar planos de gestão, de valor patrimonial, de estudos de impacto, de comportamento responsável dos turistas é uma tentativa de mudar a indústria do turismo. A interpretação científica, acadêmica e justa dos espaços beneficia o turismo. Lugares de dor e lugares sagrados devem ser preservados em espírito e matéria para sensibilizar a comunidade internacional. Além de discretas, as informações devem conter terminologia válida e evitar o uso de referências pouco cuidadosas. O respeito é necessário. O ordenamento paisagístico e a tomada de consciência são instrumentos necessários na construção de patrimônios imateriais. O turismo de memória se baseia na declaração universal dos direitos humanos. A Rota do Escravo é um exemplo de turismo de memória. Ainda que o objetivo principal seja o turismo de massa, sua coabitação com o turismo de memoria é essencial. É importantíssimo demonstrar que podem agir de forma conjunta. A infraestrutura deve ser pensada de acordo com as especificidades de cada visitante. Como exemplo, um turista jovem, em geral, terá interesses diferentes de um turista de terceira idade: ambos devem ser
contemplados. Restaurantes e lembranças, por sua vez, também devem ser adequados a cada lugar. A inventariação deve ser feita a partir de documentos voltados ao patrimônio nacional e mundial. Devemos inventariar o que possa ser associado aos lugares de memória, envolvendo ministérios, universidades e outros parceiros. Dessa forma, a apresentação do projeto é mais forte e permite trabalhar com mais investidores. Devemos encorajar as populações locais para que se apropriem dessa realidade e tenham mais autonomia a partir de meios e etapas de evolução. O investimento humano é necessário assim como o investimento financeiro. Para que se garanta a participação de todos devemos integrar os princípios da Unesco aos planos de gestão de governança democrática. É imperativo criar mais empregos e lutar contra a pobreza nos lugares de memória. Assim, serão garantidas melhores condições de vida e valorização de suas culturas. Isto será obtido com o reforço do turismo, da economia, da mobilização de recursos humanos, de aquisição de capacitação técnica e de competências profissionais. Dashur, no Egito, é exemplo desse processo de patrimônio mundial usado para o bem da população local. Com várias instituições envolvidas, é garantida a preservação para as futuras gerações e também a promoção do desenvolvimento. Na Namíbia, populações do meio rural, cujas famílias são chefiadas por mulheres, recebem rendimentos advindos do turismo cultural e sustentável. O objetivo é garantir a preservação do patrimônio em âmbito local, e, ao mesmo tempo, criar desenvolvimento para a comunidade. O turismo cultural é oportunidade de desenvolvimento para países menos avançados economicamente. Fato demonstrado, ano passado, por estudos e estatísticas da Unesco em reunião realizada na Turquia. Se, por um lado, houve um aumento de rendimentos brutos nos lugares que praticaram turismo sustentável, por outro, houve uma significativa perda de dinheiro em lugares com má conservação se sítios.
O turismo de massa necessita de preservação para garantir seu capital e consequente desenvolvimento futuro. Em outras palavras, investir em preservação de patrimônio é garantir potencial futuro. O processo, como um todo, está associado aos oito objetivos do milênio da Unesco. Entende­se que parcerias entre ministérios e agências da ONU ao programa atrairão investidores com mais facilidade. E tais propostas são complementos às já existentes na Rota do Escravo. Por fim, sugere Hervé Barré que a confecção de um guia ajudaria nos trabalhos e capacitaria os atores envolvidos. Materiais pedagógicos também devem ser formulados para a população local e para os visitantes. Tais ações melhorarão a divulgação desses valores e do conhecimento de forma geral. Neste contexto, a ambiciosa questão do tráfico negreiro garantirá desenvolvimento social, racional, divulgação de fatos históricos e reconciliação entre os povos.
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Primeira sessão – Conferência de abertura