CARACTERÍSTICAS TERMORREGULADORAS DE VACAS E NOVILHAS
GIROLANDA NO VERÃO
THERMOREGULATORY CHARACTERISTICS OF GIROLANDA COWS AND
HEIFERS IN SUMMER
Bruno Oliveira de Aguiar1; Carolina Cardoso Nagib Nascimento2; Henrique Barbosa
Hooper*¹; Mara Regina Bueno de Mattos Nascimento3; Natascha Almeida Marques da Silva4
Resumo
Utilizou-se 19 animais, sendo 10 novilhas e 9 vacas lactantes da raça Girolando. Registrou-se
a temperatura retal (TR), a frequência respiratória (FR) e a temperatura de superfície do
pelame (TSP), de fevereiro a março de 2011. Mediu-se as temperaturas de bulbo seco e bulbo
úmido, as temperaturas máxima e mínima, temperatura de globo negro e a velocidade do ar. A
temperatura do ar foi superior a da zona de conforto térmico para os bovinos leiteiros. O
índice de temperatura e umidade (ITU), a carga térmica radiante (CTR) e o índice de
temperatura equivalente (ITE), caracterizaram ambiente estressante. A TR e FR média das
vacas foram de 38,61±0,59°C e 41,19±7,22mov.min-1, e das novilhas de 39,06±0,40°C e
40,75±12,7 mov.min-1, respectivamente. A TSP média das vacas foi de 33,69±1,0°C e das
novilhas 33,09±0,77°C. Novilhas da raça Girolando apresentam TR superior a vacas, porém
dentro do padrão fisiológico para as duas categorias. Já a TSP é menor em novilhas
comparada a vacas.
Palavras-chave: Temperatura retal. Frequência respiratória. Vaca leiteira.
Summary
We used 19 animals, 10 heifers and 9 lactating Girolando cows. We observed the rectal
temperature (RT), respiratory rate (RR) and surface temperature of the coat (STC), from
February to March 2011. We measured the temperature of dry bulb and wet bulb, maximum
and minimum temperatures, black globe temperature and air velocity. The air temperature
was above the thermal comfort zone for dairy cattle. The temperature and humidity index
(THI), the radiant heat load (RHL) and the equivalent temperature index (ETI), characterized
stressful environment. The cows’ average of the RT and RR were 38.61 ± 0.59°C and 41.19 ±
7.22mov.min-1, and heifers of 39.06 ± 0.40°C and 40.75 ± 12, 7mov.min-1, respectively. The
average STC cows was 33.69 ± 1.0°C and heifers 34.2 ± 3.5°C. Girolando Heifers RT’s was
higher than in cows, but within the physiological pattern for the two categories. Whereas,
STC is lower in heifers compared to cows.
Key words: Rectal temperature. Respiratory rate. Dairy cow.
Texto
O Brasil está abaixo de sua capacidade real de produção leiteira, devendo-se então
buscar uma máxima produtividade, respeitando as diferenças das diversas regiões brasileiras
com suas particularidades topográficas e microclimáticas.
Na maior parte do ano, a maioria dos estados brasileiros, apresenta situações em que a
temperatura ambiental ultrapassa a faixa de conforto dos bovinos leiteiros, comprometendo a
produção do animal. Assim, faz-se necessário um estudo da adequação das condições
1
Acadêmico do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia. *Rua Mizael Cruvinel
Borges, 400, Bairro Boa Vista, Uberaba-MG. CEP: 38070-300. Email: [email protected].
2
Médica Veterinária, Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinárias da Faculdade de
Medicina Veterinária da Universidade Federal de Uberlândia.
3
Médica Veterinária, Doutora. Universidade Federal de Uberlândia.
4
Zootecnista, Doutora. Universidade Federal de Uberlândia.
climáticas, associado à correção do bioclima para a espécie leiteira em questão, para se adotar
medidas como a construção de instalações que promovam maior conforto térmico dos animais
(FERREIRA, 2005).
Então, este estudo objetivou-se obter algumas variáveis ambientais e alguns
parâmetros fisiológicos em vacas e novilhas leiteiras da raça Girolando no verão.
Este estudo foi realizado no verão de 2011, na Fazenda Sobradinho da Escola
Agrotécnica Federal de Uberlândia. Utilizou-se 19 bovinos, sendo 10 novilhas e 9 vacas em
lactação da raça Girolando com idade média das novilhas de 2 a 3 anos e para as vacas de 5 a
6 anos. As variáveis fisiológicas e ambientais foram determinadas em horário fixo com início
às 10:30 horas e terminando por volta de 12:30 horas, uma vez por semana durante quatro
semanas consecutivas nos dias 25 de Fevereiro 04, 11 e 18 de Março de 2011.
Em local coberto e ventilado foi instalado um termômetro de temperatura máxima e
mínima. A velocidade do ar foi medida próximo ao animal utilizando um anemômetro. A
temperatura do globo negro foi obtida pelo medidor de stress térmico digital portátil. O Índice
de temperatura Equivalente (ITE), Índice de Temperatura e Umidade (ITU) e Carga Térmica
Radiante (CTR) foram calculados pelas fórmulas propostas por Baêta et al. (1987), Thom
(1958) e Silva (2000), respectivamente. Os dados foram submetidos à análise de variância e
as médias comparadas pelo teste F por meio do SISVAR (FERREIRA, 2000).
A frequência respiratória (FR) foi medida contando-se o número de movimentos
respiratórios no flanco do animal por um minuto. A temperatura retal (TR) foi obtida com
termômetro clínico digital. A temperatura da superfície do pelame (TSP) foi medida com
termômetro infravermelho digital, tomadas a 10 centímetros do animal em quatro pontos de
seu corpo: fronte, cernelha, virilha e jarrete, obtendo-se ao final a média dos quatro pontos por
animal.
A média e desvio padrão, máximo e mínimo das variáveis ambientais foram
respectivamente, Tmáx 32,00±3,16ºC; 32,00ºC e 29,00ºC, Tmín 21,75±0,96ºC; 23,00ºC e
21,00ºC, temperatura do ar 29,48±2,50ºC; 31,2ºC e 25,8ºC, UR 68,36±5,83%; 75,5% e
62,9%, ITU 80,48±3,25; 82,3e 75,6; ITE 32,50±3,51ºC; 36,00ºC e 29ºC e CTR 559,12±49,34;
609,59; 492,66.
Verificou-se que a temperatura ambiente esteve acima da zona de conforto térmico
(Tabela 1) conforme Yousef (1985). Ao considerar a formação da raça Girolando em que se
têm a raça Holandesa (Bos taurus taurus) e Gir (Bos taurus indicus), a mesma tem uma
exigência de temperatura ambiente intermediária entre os taurinos e zebuínos. Segundo Silva
(2000), para taurinos é de -6°C e 27°C, e zebuínos tem-se valores de 7°C a 35°C. A umidade
relativa apresentou dentro dos limites aceitos para bovinos.
O ITU, CTR e ITE apresentaram valores altos caracterizando ambiente estressante. A
CTR foi alta e positiva em todos os dias de coleta. O ITE apresentou valores que estão dentro
dos limites de cautela extrema de acordo com Baeta et al. (1987), indicando necessidade do
manejo ambiental para obter o conforto térmico.
Novilhas apresentaram maior TR em relação às vacas (Tabela 1). Este resultado
possivelmente seja devido ao maior metabolismo, pois estão em crescimento. Quanto a TR
não houve diferença e apresentou média para novilhas e vacas dentro da faixa de referência
fisiológica para animais leiteiros de acordo com Robinson (1999) que é de 38,0ºC a 39,3ºC.
A média de TSP para vacas foi superior a de novilhas (Tabela 1). É bem conhecido
que o estoque térmico do organismo animal é proveniente tanto dos processos metabólicos
quanto da absorção de radiação. Dessa forma, a maior TSP em vacas pode ser explicada por
dois motivos. O primeiro seria por vacas apresentarem maior volume sanguíneo circulante e,
portanto dissipariam mais energia pela regulação da condução térmica pela epiderme, em que
o calor irradiado pelos animais se dá através do mecanismo fisiológico de dilatação dos vasos
superficiais, ao mesmo tempo em que se fecham as anastomoses arteriovenosas, havendo
assim maior circulação de sangue junto à superfície cutânea e maior eliminação de energia
2
térmica. O segundo motivo poderia ser a coloração do pelame das vacas, que por
apresentarem pelame mais escuro absorvem maior quantidade de radiação ambiente. A média
da temperatura da superfície do pelame foi próxima aos encontrados por Santos et al. (2005)
que verificaram valor médio para vacas de 33,6±3,8°C e 32,9±3,3°C para as raças Pantaneira
e Nelore, respectivamente. Entretanto, inferior aos de Façanha et al. (2010) que observaram
média de 35ºC em vacas mestiças com alta proporção da raça Holandesa em ambiente
semiárido.
As médias de FR foram mais altas que as consideradas normais (Tabela 1). Este
achado provavelmente esteja relacionado com a necessidade de utilização da termólise
evaporativa, visando manter a homeotermia.
Novilhas da raça girolando apresentam temperatura retal superior a vacas, porém
dentro do padrão fisiológico para as duas categorias. Já a temperatura da superfície do pelame
é menor em novilhas comparada a vacas.
Referências Bibliográficas
BAÊTA, F. C.; SHANKLIN, M. D.; JONHSON, H. D.; MEADOR, N. F. Equivalent
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SILVA, R. G. Introdução à bioclimatologia animal. São Paulo: Nobel, 2000, 286p.
YOUSEF, M. K. Stress physiology in livestock. Boca Raton: CRC Press, 1985. 217p.
Tabela 1: Média e desvio padrão da temperatura retal (TR), em ºC, frequência respiratória (FR), em movimentos
por minuto, e temperatura da superfície do pelame (TSP), em ºC, em bovinos leiteiros, Uberlândia, MG, 2011.
Categoria
TR
FR
TSP
Animal
Novilha
39,06±0,40a
40,75±12,75a
33,09±0,77b
Vaca
38,61±0,59b
41,19±7,22a
33,69±1,00a
Médias seguidas de letras iguais na coluna não diferem entre si pelo teste F.
3
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