Pós-Graduação em Antropologia Social UFSCar Mestrado Disciplina Obrigatória de Metodologia de Pesquisa em Antropologia Social prof. Jorge Mattar Villela 2015/2 Ementa: Esta disciplina pretende conferir às alunas e alunos inscritos no curso uma formação que lhes possibilite conhecer e reconhecer os movimentos da teoria metodológica em antropologia desde a década de 1940. Assim, a seleção de textos e autores foi elaborada a partir de um momento da história da disciplina em que podemse reconhecer traços da genealogia do que se faz atualmente. O atual, portanto, é o seu principal e primeiro objetivo. Isso não implica, no entanto, descurar do que foi feito anteriormente, desde que o interesse histórico não se confunda com a mera curiosidade erudita. Isso corresponde a dizer que, em certa medida, este curso tem objetivos que são instrumentais: dar aos alunos as possibilidades de reconstituir um trajeto (um dos trajetos, na verdade) pelos quais a antropologia fez e desfez suas ideias de como abordar e construir os seus objetos de estudo e de elaborar estilos narrativos a seu respeito. Por esse motivo, haverá de sentir-se a falta de diversas discussões e controvérsias constantes na história da disciplina. Aquela, por exemplo, que contrapôs o nascimento da moderna antropologia norte americana à antiga antropologia vitoriana inglesa; também aquela outra, que contrapôs as antigas formas de conduzir as pesquisas de campo às modernas, feitas em meio ao cotidiano dos nativos. De resto, todo o século XIX e o início do XX encontram-se excluídos do programa e isso 1 por duas razões fundamentais. A primeira é que essas discussões parecem já descoladas do que é atual. Em que pesem as recentes reinvenções dos pensamentos de Tylor e de Fraser, por exemplo, não haverá cabimento em despender horas de aula com a metodologia de pesquisa do evolucionismo sócio-cultural. Também ficaram de fora as metodologias de pesquisa da antropologia culturalista norte-americana, e isso pelo mesmo motivo. No que toca à tradição britânica, para o bem ou para o mal principal influência metodológica na atual antropologia brasileira, decidi começar tardiamente. Retirei os textos excessivamente lidos nas demais disciplinas introdutórias ou de Teoria Antropológica I, como os Argonautas, por exemplo, para explorar mais alguns escritos de Evans-Pritchard e, sobretudo, de seus contraditores da Escola de Manchester, a meu ver, menos trabalhados em outros cursos. Em seguida, considerei apropriado abrir uma sessão para leituras de metodologia de pesquisa em arquivo, pois me parece interessante que se possa conhecer o que a antropologia tem feito com o passado e com documentos de modo a distinguir-se do que historiadoras e historiadoras pretendem retirar deles. Essa alternativa de material de pesquisa é uma das resultantes das drásticas e em certos casos das desastradas modificações epistemológicas e políticas propostas pelo que se chamou de pós-modernismo em antropologia. Apesar de já quase esquecida por quem não é ainda um seu adepto, o pós-modernismo em antropologia garantiu algumas das novidades dessa atividade do conhecimento. Novas formas de narrativa, novas relações com os "nativos", um novo respeito de tendências não coloniais, enfim, novas relações de poder. Conquanto absorvidas pelo que viria em seguir, as propostas pós-modernas decorrentes das suas próprias críticas eram imobilistas, na fronteira mesmo do nihilismo, ou do pessimismo epistemológico. Assim, a última parte do curso é dedicada a uma certa reação britânica, ou sobretudo britânica, decorrente de uma associação, por querer ou por vibração (para usar a terminologia de Gabriel Tarde) de uma certa filosofia francesa constituída desde o final dos anos de 1950, consolidada desde o final da década de 1960 e início nos anos de 1970. O curso finaliza com a nova geração de autores e autoras resultante, digamos assim, dessa reação. Bibliografia 19/08 - 2 Apresentação do Curso Módulo I. Pesquisa de Campo 26/08 Stocking, Jr. G. (Ed.) 1983. The Ethnographers Magic and other essays in the history of anthropology. Madison: University of Winsconsin Press. cap. 1. Evans-Pritchard, E. E. 1985 [1959]. Antropologia Social. Lisboa: Edições 70. Cap. IV "Trabalho de campo e tradição empírica". Pp 67-86. Evans-Pritchard. E. E. 2005 [1976 Versão Resumida de Eva Gilles] Bruxaria, Oráculos e Magia entre os Azande. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. Apêndice IV – Algumas reminiscências e reflexões sobre o trabalho de campo. Pp. 243-255. Gluckman, M. 2006 [1959]. "Ethnographic Data in British Social Anthropology". In: T.M.S. Evans e D. Handelman, The Manchester School. Practice and ethnographic praxis in Anthropology. Oxford: Berghahn Books. (Antecipação do Módulo V) 02/09 Aula com a profa. Catarina Morawska Morawska, C. 2015. Os Enleios da Tarrafa. Etnografia de uma relação transnacional entre ONGs. São Carlos: UFSCar. Introdução, capítulos 1 e 2. 09/09 Aula com a Dra. Karina Biondi. Biondi, K. 2015. Etnografia no Movimento. Hierarquia, território e lei no PCC. Tese de Doutorado. PPGas-UFScar. Introdução, cap. 3 e 4. Módulo II. Mudança, Conflito e Ritual 16/09 Mitchell, Clyde 2006. "Case and Situation Analysis". In The Manchester School Kapferer, Bruce 2006. "Situations, Crisis and the Anthropology of the Concrete. The Contribution of Max Gluckman". In: The Manchester School. Frankenberg, Ronald. "A Bridge Over Troubled Waters, or What a Difference a Day Makes: from de drama of production to production of drama". In: The Manchester School. 23/09 Swartz, M.; Turner, V.; Tuden, A. 1966. "Introduction". In: Political Anthropology. Swartz, M.; Turner, V.; Tuden, A. (orgs.) Chicago: Aldine. Turner, V. 1966. "Ritual Aspects of Conflict Control in African Micropolitics". In: Political Anthropology. 3 30/10 Turner, V. 2008 [1974] Dramas, Campos e Metáforas. Ação simbólica na sociedade humana. Niterói: EDUFF. cap. 1. Ortner, S. 1984. "Theory in Anthropology since the Sixties". Comparative Studies in Society and History, vol. 26, n. 1. Módulo III. Campo no Arquivo 07/10 Cunha, O. 2004. "Tempo imperfeito. Uma etnografia do arquivo". Mana 10 (2): 287322. Giumbelli, E. 2002. “Para além do ‘trabalho de campo’: reflexões supostamente malinowskianas”, Revista brasileira de ciências sociais, v. 17, n. 48. Hull, M.S. 2012. "Documents and Bureaucracy". Annual Review of Anthropology. Vol. 41. Módulo IV. Criticas ao trabalho de campo e suas alternativas: a década de 1980. 14/10 Asad, T (org.). 1973. Anthropology and the Colonial Encounter. Nova Iorque: Humanities Press. "Introdução". Marcus, G. e Cushman, C. 1982. "Ethnographies as Texts". Annual Review of Anthropology. Marcus, G. 1995. "Ethnography in/of the World System: the emergence of multisited ethnography". Annual Review of Anthropology. Hage, G. 2005. "A not so much Multi-sited Ethnography of a not so Imagined Community". Anthropological Theory. vol, 5, n. 4. Módulo V (antecipado) Módulo VI. Reações à crítica pós-moderna 21/10 Jenkins, T. 1993. "Fieldwork and the Perception of Everyday Life". Man (N.S.) vol. 29. 4 Briggs, C. 1996. Disorderly Discourse. Narrative, conflict, and Inequality. Oxford: Oxford University Press. Latour, B. 2005. Reassembling the Social. An introduction to actor-network-theory. Oxford: Oxford University Press. Introdução. 28/10 Strathern, M. 2014 [1987]. "Os Limites da Autoantropologia". In: Marilyn Strathern. O efeito etnográfico. São Paulo: Cosac & Naify. Narayan, K. 1993. "How Native is a "Native" Anthropologist?". American Anthropologist. Vol. 95. n. 3. 11/11 Strathern, M. 2014 [1999]. "O Efeito Etnográfico". In: Marilyn Strathern. Edwards, J. e Petrovic-Steger, M. 2011. "Introduction: on recombinant knowledge and debts that inspire". In: Recasting Anthropological Knowledge. Inspiration and social science. Cambridge: Cambridge University Press. Ingold, T. 2014. "It's Enough About Ethnography!". Hau. vol. 4, n. 1. 18/11. Henare, A. Holbraad, M.; Wastell, S. 2007. "Introduction: thinking through things". In: Henare, A. Holbraad, M.; Wastell (orgs.) Thinking through Things. 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