PASSADO E PRESENTE: UMA ANÁLISE DA POTENCIALIDADE TURÍSTICA NO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca Central - Campus I - Universidade Federal da Paraíba C285p Cabral, Ana Karina Pereira Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa / Ana Karina Pereira Cabral. - João Pessoa, PB: 2006. 88 p.: il. Orientadora: Carla Mary da Silva Oliveira Monografia (graduação) - Universidade Federal da Paraíba/ CCHLA - Curso de Turismo, 2006. 1. Turismo cultural. 2. Patrimônio histórico – políticas de preservação. 3. IPHAEP - Paraíba. 4. Conjunto Franciscano de João Pessoa. UFPB/BC CDU 338.48 (043.2) UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES CURSO DE GRADUAÇÃO EM TURISMO PASSADO E PRESENTE: UMA ANÁLISE DA POTENCIALIDADE TURÍSTICA NO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Ana Karina Pereira Cabral JOÃO PESSOA - PB JANEIRO - 2006 ANA KARINA PEREIRA CABRAL PASSADO E PRESENTE: UMA ANÁLISE DA POTENCIALIDADE TURÍSTICA NO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal da Paraíba, em cumprimento às exigências parciais para obtenção do grau de Bacharel. ORIENTADORA: Profª Dra. Carla Mary S. Oliveira João Pessoa - PB Janeiro - 2006 Esta monografia foi submetida à avaliação da Banca Examinadora composta pelos professores abaixo relacionados, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Turismo, outorgado pela Universidade Federal da Paraíba - UFPB, e encontra-se à disposição dos interessados no Laboratório de Turismo da referida Universidade. A citação de qualquer trecho desta monografia é permitida, desde que feita de acordo com as normas de ética científica. ANA KARINA PEREIRA CABRAL PASSADO E PRESENTE: UMA ANÁLISE DA POTENCIALIDADE TURÍSTICA NO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Monografia aprovada em _____ / ______ / ________ Nota Obtida: __________ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profª Dra. Carla Mary S. Oliveira Departamento de História - Universidade Federal da Paraíba (Orientadora) _______________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Pinto de Medeiros Departamento de História - Universidade Federal da Paraíba (Membro da Banca) _______________________________________________ Profª Ms. Signe Dayse Castro de Melo e Silva Departamento de Comunicação e Turismo - Universidade Federal da Paraíba (Membro da Banca) Aos meus pais, família, amigos, namorado e a todos os que estiveram ao meu lado durante a época de confecção deste trabalho, DEDICO. AGRADECIMENTOS A Deus, primeiramente, força que me faz seguir adiante diante de tantas dificuldades. Aos meus pais, José Estrela Cabral e Luzinete Pereira Cabral, pelo exemplo de dignidade e retidão de caráter. À minha orientadora, Carla Mary, por ter abraçado esse trabalho junto comigo. A Adenildo Macedo, pelo carinho, cuidado, apoio e compreensão. À minha família pela confiança em meus projetos de vida. À UFPB e aos seus professores que me estimularam a sede pelo saber. À Ariane, professora do Departamento de História da UFPB, por estimular em mim o gosto pela História da Paraíba. Ao Conjunto Franciscano de João Pessoa, em especial ao Padre Ernando Teixeira, por ter me recebido tão bem e a todos os funcionários pela atenção cedida. Ao IPHAEP, pela atenção e fornecimento de informações. Aos colegas de sala por esses quatro anos de convivência e aprendizado mútuo, em especial Luisiana, Silvonetto, Keliane, Germana e Lucas. Às amigas Marlone, Daniela Cysneiros e Cibelle pelos momentos de descontração. À Kátia Maciel, pelos livros cedidos. À Roberta Paiva, pelas informações cedidas via orkut. A Rodrigo Rodrigues, professor de história de Goiânia/GO, pelas discussões sobre história e turismo via messenger. A Glauco Marinho por ter me enviado seu belíssimo filme sobre patrimônio histórico. À Michelle, Gerlândia e Fernanda da Schwermann Viagens, Turismo e Receptivo. E a todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para este trabalho. O passado é aquilo que uma nação tem de mais sagrado, depois do futuro. Victor Hugo RESUMO Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa Este trabalho pretende fazer uma análise sobre a origem do termo patrimônio e sua consagração e como se deu o casamento do mesmo com a atividade turística. A discussão vai ao encontro da questão referente à preservação dos monumentos históricoculturais frente à recente procura e consumo dos mesmos pelos turistas. Do ponto de vista nacional, o estudo aborda o panorama histórico a respeito da política brasileira de preservação do patrimônio histórico no Brasil, dando ênfase ao órgão responsável pela preservação do patrimônio histórico na Paraíba, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Paraibano - IPHAEP, analisando a sua atuação ao longo dos anos de seu funcionamento. Finalmente, o Conjunto Franciscano de João Pessoa é abordado através de sua história, além de uma breve descrição sobre sua estrutura e os elementos que o compõem como meio de justificar a sua riqueza arquitetônica, histórica e cultural. Dando continuidade, o trabalho permite uma análise do local como um atrativo turístico, apontando possíveis problemas quanto à sua preservação/ conservação. Palavras-Chave: Turismo Cultural; Patrimônio Histórico; Políticas de Preservação; IPHAEP; Igreja de São Francisco; Paraíba. ABSTRACT Past and Present: an analysis of the tourist potentiality of Franciscan Convent in João Pessoa This work intends to analyze the origin of the term patrimony and its uses and relations with tourist activity, discussing the preservation of the historical monuments face to the recent consumption of these places by the tourists. With a focus in the Brazilian scene, the dissertation also discusses the historical heritage preservation policies in Brazil, with emphasis in the responsible organ for the cultural and historical heritage preservation in Paraíba, the Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Paraibano (IPHAEP Historical and Artistic Heritage Institute of Paraíba), analyzing its performance since its foundations. The work does a briefly history of the Franciscan Convent in João Pessoa, besides a short architectural analysis of its structure and artistic elements, as a way to show its importance as one great cultural heritage monument that attracts, since few years ago, a lot of tourists, day by day. As a conclusion, the research analysis the impact of tourist activity in this monument, pointing to problems related to its preservation/ conservation. Keywords: Cultural Tourism; Historical Heritage; Preservation Policies; IPHAEP; St. Francis Church; Paraíba. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 1 - Fachada da Igreja de São Francisco 52 Fig. 2 - Entalhes da Capela Dourada (detalhe) 53 Fig. 3 - Púlpito da nave da Igreja de São Francisco 55 Fig. 4 - Capela Dourada 56 Fig. 5 - Capela da Ordem Terceira 57 Fig. 6 - Azulejos portugueses da nave da Igreja de São Francisco (detalhe) 58 Fig. 7 - Fonte de São Francisco 59 Fig. 8 - Forro da nave da Igreja de São Francisco (detalhe) 60 Fig. 9 - Claustro do Convento de Santo Antônio 61 Fig. 10 - Nave da Igreja de São Francisco 62 LISTA DE QUADROS 1 - Bens patrimoniais tombados pelo IPHAN na Paraíba entre 1938 e 2005 39 2 - Bens imóveis tombados pelo IPHAEP em João Pessoa 44 3 - Fluxo de visitação anual no Centro Cultural São Francisco (1990-2004) 64 SUMÁRIO Resumo Abstract Lista de Ilustrações Lista de Quadros 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................13 2. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E TURISMO ..................................................................................19 2.1. Origem e consagração do patrimônio histórico ................................................19 2.2. Preservar x consumir...........................................................................................22 2.3. Relações entre Patrimônio Histórico e Turismo ...............................................25 2.4. Usos do patrimônio histórico pelo turismo........................................................27 3. POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO ................................................31 3.1. As políticas de preservação do patrimônio histórico no Brasil........................31 3.2. A atuação do IPHAEP na Paraíba .....................................................................38 3.3. Políticas e práticas em áreas revitalizadas.........................................................44 4. O CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA ...................................................................48 4.1. A história: de convento franciscano a centro cultural......................................48 4.2. Um templo monumental ......................................................................................51 4.3. O complexo como atrativo turístico ...................................................................62 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................70 6. REFERÊNCIAS .......................................................................................................................74 7. ANEXOS .................................................................................................................................77 *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 13 1. INTRODUÇÃO Após a Segunda Guerra Mundial, com a definição das grandes metrópoles, onde se concentrava grande parte da produção material no desenvolvimento industrial, a cidade passa a ser vista como “monstro causador do estresse”. As desigualdades sociais aumentaram e a qualidade de vida da população passou a ser constantemente prejudicada, devido, entre outros fatores, ao crescimento populacional das áreas urbanas. Este crescimento intensificou-se ao longo do século passado, gerando o “estresse urbano”, causado pelo cotidiano das grandes metrópoles. Ao mesmo tempo, a “indústria” do turismo, aliada às conquistas sociais, cresceu e fomentou a divulgação da idéia de que o lazer, através das viagens e mudanças de ambiente, seria a solução e a garantia do bem estar de todos os indivíduos (Cabral et al, 2002, p. 03). Nessa nova ordem mundial, o turismo constitui-se como fenômeno de crescente interesse econômico e fator de desenvolvimento. É cada vez mais comum encontrar a atividade inserida nos discursos acadêmicos e nas políticas públicas dos governos em todo o mundo, quase sempre mostrada como solução para os problemas econômicos e sociais em níveis local, regional ou mesmo nacional. Sendo uma atividade de difícil conceituação devido a sua complexidade multidisciplinar, o turismo é alvo de constantes discussões por parte de pesquisadores e intelectuais dos diversos campos do conhecimento. Conflitos de caráter conceitual sobre a existência da atividade motivada por negócios ou assuntos profissionais, ou ainda, pelo tempo de permanência do indivíduo fora de sua localidade de origem, entre outras, são o centro dessas discussões teóricas. Beni (2002, p. 34-39) chega a tratar da conceituação do turismo por meio de três vertentes: a econômica, a técnica e a holística. Apesar da complexidade, não é este o tema a ser tratado aqui, mas sim como se deu o encontro entre a atividade turística e o patrimônio histórico. Os últimos decênios do século XX foram marcados por um despertar da busca pelos atrativos culturais. Tomando-se o interesse pela História, há certo consenso entre estudiosos, que citam como razões para esse fenômeno, por exemplo, a rapidez com que as mudanças vêm ocorrendo na sociedade, assim como a globalização e seu impacto sobre a constituição da identidade individual e coletiva. A rapidez do processo de mudança, não há como negar, trouxe o sentimento de perda do sentido do passado, do desenraizamento e do esquecimento fácil, originando a necessidade de indivíduos e coletividades retomarem seu passado, na busca de elementos que Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 14 permitam uma recomposição de sua identidade. (Freire & Pereira, 2002, p. 121) Assim, se por um lado há uma eliminação do passado, com ênfase num presente sem raízes e sem futuro através dos avanços tecnológicos, de outro existe o excesso dos discursos públicos recheados de apelos históricos, caracterizando um processo paradoxal. Resta a pergunta: o que o turismo tem a ver com tudo isso? Talvez seja preciso, antes de começar essa discussão, pensar um pouco também o conceito de patrimônio, entendido em seu recorte mais amplo como tudo aquilo que constitui “herança paterna; bens de família; dotes dos ordinários; (...) complexo de bens materiais ou não, direitos, ações, posses e tudo o mais que pertença a uma pessoa e seja suscetível de apreciação econômica (...)” (Ferreira, p. 1047). Mas a partir de quando e como se construiu o conceito de patrimônio como herança da sociedade às gerações futuras? Para responder a essa questão utilizo uma abordagem teórica com base em Choay (2001), onde apresento conceitos de patrimônio e patrimônio histórico, culminando na Revolução Francesa, época onde se originou também a valorização dos conteúdos simbólicos e subjetivos. Foi nessa nova França que surgiram práticas preservacionistas que, aliás, serviram de base para as políticas brasileiras de preservação nos anos 30 do século passado. Foi também quando se iniciou a visão de que o patrimônio poderia ser utilizado de forma rentável através da contemplação dos visitantes. É aí que entra a atividade turística. A partir dessas discussões, percebe-se que a criação de monumentos e a preservação ou não do patrimônio é determinado por fatores ideológicos e estão inseridas dentro da conjuntura social, econômica e política de determinadas épocas. A criação do que se define como monumento tem o propósito de se fazer lembrar, sendo o mesmo fruto da ideologia e do poder dominante de determinada época. As ‘políticas públicas de memória’ iniciadas na França exprimiam uma verdadeira exaltação da história e contribuíram para a formação de um imaginário coletivo do passado. Portanto, a valorização e a extensão da noção de patrimônio, acrescente-se a preservação de sítios históricos e naturais, a multiplicação de museus e exposições de natureza histórica, são manifestações das políticas e da gestão pública do passado. (Freire & Pereira, 2002, p. 122) Segundo Maurice Halbwachs, a memória, por definição, é coletiva, pois representa uma reconstrução seletiva do passado que não é do indivíduo somente mas está inserida num contexto familiar, social e nacional. Assim, a memória se constitui num elemento formador da identidade, tanto coletiva quanto individual, de grande Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 15 importância para a valorização do indivíduo e dos grupos por reforçar sua auto-estima. (Freire & Pereira, 2002, p. 123). A questão que envolve a memória representa um dos elementos da formação da identidade de um povo. A memória coletiva é a base para a construção da identidade coletiva, constituindo uma força social de grande poder. Le Goff (1994) nos fala que os ocupantes do poder sempre se preocuparam em manipular a memória e o esquecimento, manipulando a memória coletiva. Ainda segundo o historiador francês, tanto os documentos - forma científica da memória coletiva - quanto os monumentos são frutos da seleção que depende das condições de desenvolvimento da sociedade e da ação específica dos historiadores em amplo sentido. Um monumento é feito para lembrar um feito, um acontecimento ou mesmo uma pessoa às gerações futuras. É um dos suportes para a perpetuação da memória e para a formação da identidade coletiva e, segundo Londres (2001, p. 88), a destruição destes seria uma das formas mais eficazes de dominação e segregação social. Desde o Grand Tour - que serviu de base para as viagens turísticas atuais, em que os viajantes abastados buscavam conhecer outras localidades e seus costumes e, com isso, o legado de outras culturas - até a criação de verdadeiros roteiros culturais pelos britânicos na Europa do século XIX, a contribuição para a construção de espaços turísticos foi aumentando gradativamente, à medida que inovações tecnológicas e o desenvolvimento dos transportes foram acontecendo. Isso sem se falar na divulgação dos atrativos considerados merecedores de conhecimento na literatura e, posteriormente, nos guias. A necessidade de se preservar acentuou-se com a Revolução Industrial e dessa vez não apenas motivado por razões ideológicas, já que o grau de destruição começou a se acentuar para dar margem às modificações que ocorriam no cotidiano das cidades. Novas ruas precisavam ser abertas, precisavam ser mais largas para dar espaço à quantidade de veículos e pessoas que transitavam. As leis de preservação e restauro começaram a fazer frente ao irremediável, ou seja, o crescimento das cidades ocasionado pelo progresso. Como já falado anteriormente, nos últimos anos houve um aumento na busca por atrativos culturais. Atualmente a arte, a cultura e a arquitetura têm sido alguns dos principais alvos do turismo em todo o mundo. A cada ano, milhões de dólares são movimentados pelo fluxo de turistas à procura de lugares que proporcionem não só lazer, mas o conhecimento de novas culturas. Porém, convém dizer que a busca em conhecer o outro não é algo recente. Meneses (2004, p. 20) nos fala que é próprio do Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 16 homem buscar as diferenças culturais assim como tentar compreender os significados dos lugares e dos grupos sociais diferentes com os quais ele está acostumado a se relacionar. De acordo com a Organização Mundial de Turismo, o turismo cultural seria caracterizado pela procura por cultura, artes, estudos, monumentos, festivais, artes cênicas, sítios históricos e arqueológicos, manifestações folclóricas e peregrinações. Ou seja, a definição para o turismo cultural é muito ampla. Se, por um lado, houve esse aumento no número de pessoas que buscam algo diferente do turismo de sol e praia, por outro lado, esse tipo de turismo, tido como uma forma de se buscar conhecimento é, na maior parte das vezes, usado apenas como objeto que é exposto, sem estimular o visitante a pensar sobre seu valor e a importância que ele tem devido à sua relação com a comunidade local. Essas pessoas não são estimuladas a pensar sobre a dinâmica da cultura visitada (Meneses, 2004, p. 21). Também são culturais as formas de consumo e de uso das construções culturais, já que esse consumo pode preservá-las ou transformá-las. Hoje temos uma verdadeira indústria cultural que, através da mídia, constrói novos atrativos para serem consumidos a cada novo dia, de forma cada vez mais rápida. Exemplo disso é o fato das visitas guiadas aos locais culturais serem realizadas de maneira cada vez mais rápida. É assim que ocorre com os produtos massificados: após serem consumidos e esquecidos, a única lembrança que os turistas irão ter são as fotos em frente aos principais atrativos. Desde 1978 a UNESCO vem atribuindo anualmente a classificação de patrimônio da humanidade. As políticas públicas do final do século XX caracterizaram-se principalmente por apresentar uma clara intensificação dos processos de patrimonialização e na corrida em busca dessa classificação, conferindo assim maior status e visibilidade turística às localidades detentoras desses bens. O status de patrimônio mundial confere às localidades maior competitividade no que se refere ao turismo histórico e patrimonial. Assim, a classificação da UNESCO acabou por favorecer a expansão do patrimônio como uma verdadeira indústria cultural. De acordo com Peixoto (2002, p. 42) o patrimônio mundial acaba por ser contrário à sua ideologia inicial e, ao invés de funcionar como um instrumento de reconciliação mundial, acaba se transformando em causa de conflito nacional e local. Como justificativa para essa corrida, ressaltam-se as mudanças estruturais ocorridas na economia, a expansão do mercado turístico aliado a um mercado urbano de lazeres e às políticas urbanas. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 17 Com tanto apelo às questões culturais, principalmente em relação às políticas de preservação atuais, percebe-se várias tentativas de dar novos usos aos imóveis tombados. Os fins culturais e turísticos acabam sendo os mais comuns: (...) a própria reutilização do patrimônio edificado é uma problemática a ser pensada e bem questionada não só em relação a seu uso e público destinado como também para a re-significação que este prédio obterá perante a comunidade local que o utiliza ou que o identifica de acordo com a sua função atual. (Pontes & Oliveira, 2005) No Brasil, a preocupação com a preservação (e até mesmo a criação) do patrimônio histórico inicia-se em 1808, com a chegada da Corte ao país. Foram então criados lugares da memória que acabariam como instrumentos de constituição da nacionalidade. Mas a prática da preservação do patrimônio no Brasil se estabelece a partir de 1930, efetivado no governo de Getúlio Vargas, através do Decreto n° 2.928 de 12 de julho de 1933. E na Paraíba, a atenção para o patrimônio surgiu de uma cobrança por parte do Governo Federal para com os Estados. E com relação ao patrimônio imaterial, a discussão apenas inicia-se a partir dos anos 70 do século passado. O objeto de minha pesquisa foi escolhido por estar inserido nessa discussão que, cada vez mais, tem despertado interesse por parte da comunidade acadêmica e da sociedade em geral: a relação entre turismo e patrimônio histórico. Se por um lado temos o turismo, atividade globalizante, por outro se busca a preservação e manutenção de elementos formadores do patrimônio de uma localidade e, conseqüentemente, definidores da identidade local. A preservação dos valores culturais e ambientais caracteriza-se, crescentemente, como uma tendência da atualidade. A valorização das coisas locais, em contraposição à globalização da economia e da comunicação, reveste de importância a manutenção de identidades específicas, que garantam às pessoas a referência do seu lugar. (Simão, 2001, p. 15) O conjunto franciscano de João Pessoa é composto pela Igreja de São Francisco e pelo Convento de Santo Antônio. Abriga um Centro Cultural e é, sem dúvida, um dos mais importantes conjuntos barrocos do país. Também é considerado um dos nossos melhores produtos turísticos, sendo indispensável sua visitação por parte dos turistas que vêm à cidade de João Pessoa, fazendo parte, obrigatoriamente, dos roteiros de city tours em João Pessoa. A pesquisa é oportuna, uma vez que irá permitir uma análise da origem e a consagração do patrimônio histórico e a questão referente à preservação dos monumentos frente à recente procura e consumo dos mesmos. Além desses aspectos, Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 18 falarei ainda no segundo capítulo a respeito de como e por que se originou o casamento entre turismo e patrimônio histórico-cultural e os usos do mesmo pela atividade turística. No terceiro capítulo considero de grande valia traçar um panorama histórico a respeito da política brasileira de preservação do patrimônio histórico no Brasil, e em particular sobre o órgão responsável pela preservação do patrimônio histórico no Estado da Paraíba - o IPHAEP -, onde farei uma análise de sua atuação ao longo dos anos. Ainda nesse capítulo falarei um pouco sobre a prática dessas políticas em áreas revitalizadas. No quarto capítulo falarei sobre o objeto de pesquisa em si traçando um panorama histórico sobre o lugar, desde suas origens até os dias atuais. Descreverei um pouco sua estrutura e os elementos que o compõem como meio de justificar a sua riqueza arquitetônica, histórica e cultural. E por fim, farei uma análise do local como atrativo turístico, onde também apontarei possíveis problemas quanto à preservação do Conjunto Franciscano de João Pessoa. Por abrigar tanta riqueza histórica e cultural, o Conjunto Franciscano poderia, sem dúvida, ser mais bem trabalhado turisticamente, atentando para o fato de despertar, nos próprios pessoenses e paraibanos, um resgate por suas origens, sua história e a sensação de identidade local. Em relação à metodologia utilizada, numa primeira etapa a pesquisa deu-se por meio de material bibliográfico, como livros, jornais, revistas, artigos e documentos, onde foram analisadas com mais profundidade as questões abordadas nos fundamentos teórico-metodológicos desse trabalho, com especial atenção à importância do Conjunto Franciscano no que se refere ao patrimônio arquitetônico, histórico e artístico. A utilização de entrevistas com autoridades eclesiásticas, funcionários do Conjunto Franciscano e guias de turismo também se fez oportuna, uma vez que pôde identificar com maior clareza os problemas enfrentados pelo mesmo e pela atividade turística em João Pessoa, de modo geral. Finalmente, a observação indireta dos guias de turismo e a aplicação de questionários aos visitantes foram utilizadas para indicar como o Conjunto Franciscano vem sendo explorado turisticamente, dando margem a discussões para que o turismo possa se consolidar de maneira permanente e sustentável e que se torne um aliado à preservação/ conservação do local. *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 19 2. PATRIMÔNIO HISTÓRICO E TURISMO 2.1. ORIGEM E CONSAGRAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO Inicialmente, o sentido da palavra patrimônio estava relacionado à herança familiar e aos bens materiais que uma família possuía. A partir do século XVII, na França, onde o poder público começou a tomar as primeiras medidas de proteção aos monumentos de valor para a história das nações, que o significado da palavra patrimônio passou a se estender também aos bens protegidos por lei e pela ação de órgãos especialmente constituídos para essa finalidade. A criação de bens nacionais intensificou-se durante o século XIX e serviu para criar referenciais comuns a todos que habitavam um mesmo território, unificá-los em torno de pretensos interesses e tradições comuns, resultando na imposição de uma língua nacional, de ‘costumes nacionais’, de uma história nacional que se sobrepôs às memórias particulares e regionais. (...) O patrimônio passou a ser, assim, uma construção social de extrema importância política. (Rodrigues, 2002, p. 16) Assim, patrimônio indica uma escolha oficial, é construído para representar o passado histórico e cultural de uma sociedade: ele depende das concepções a respeito do que, para que e por que conservar, e seu significado se modifica de acordo com as circunstâncias do momento. A palavra monumento, originada no latim monumentum, remete a momento ou lembrança (Camargo, 2002, p. 24). Caracterizado pelo sentido de que é feito para lembrar, o monumento serve de suporte para a perpetuação da memória coletiva. São edificações ou construções com o objetivo de perpetuar a lembrança de um fato, de uma pessoa ou de um povo. Já o monumento histórico foi construído pelo patrimônio nacional. São aqueles selecionados, entre outros, para servir de referência do passado, e aos quais é atribuído o valor de testemunho. A seleção desses suportes e os sentidos que lhes são atribuídos indicam as relações de poder que prevalecem em uma sociedade ao longo do tempo (Londres, 2001, p. 87-88). Assim, se os monumentos são destruídos por razões ideológicas para que sejam apagados da memória, os monumentos históricos são símbolos que se quer perpetuar. Em relação aos valores atribuídos aos monumentos, o primeiro é o valor nacional, que foi fundamental para a tomada de medidas de conservação e o qual legitimou todos os outros valores. O valor cognitivo (igualmente educativo) mostra que os monumentos são portadores de conhecimentos específicos e gerais, ou seja, são “testemunhas da Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 20 história” e que, segundo Choay (2001, p. 117), “funcionam como introdução a uma pedagogia geral do civismo”. Temos ainda o valor econômico e sua importância para atrair visitantes estrangeiros e, finalmente, o valor artístico. Monumentos e documentos são frutos de uma seleção que depende das condições de desenvolvimento de uma sociedade e da ação dos historiadores. A questão que envolve a memória representa um dos elementos da formação da identidade de um povo. Segundo Le Goff (1994, p. 535), “a memória coletiva e sua forma científica, a histórica, aplicam-se a dois tipos de materiais: os documentos e os monumentos”. Ambos, portanto, são suportes para a perpetuação da memória e para a formação da identidade coletiva. Já para Londres, “a destruição dos suportes da memória coletiva de um grupo é uma das formas mais eficazes de dominação e de segregação social” (2001, p. 88). Localizando historicamente, a origem da preservação do patrimônio está atrelada à Revolução Francesa, passando por inúmeras fases desde 1789 até 1799. Porém, (...) a formação de um modelo de preservação conduzido como política de Estado que, se surgiu nesse período, só irá tornar-se consistente, na própria França, 60 anos após a queda da Bastilha. (Camargo, 2002, p. 18-19) Na Revolução Francesa, não houve cogitação sobre o aproveitamento da Bastilha para outros fins, mesmo sendo uma edificação com importância histórica. Isso tudo por que a mesma representava um símbolo do poder real e do Estado monárquico. Queriase, então, acabar com todos os símbolos que lembrassem a pessoa do rei. A criação de monumentos e a preservação ou não do patrimônio é determinado por fatores ideológicos e estão inseridos dentro da conjuntura social, econômica e política de determinada época. Segundo Camargo, “embates entre ideologias distintas podem produzir a necessidade de fazer desaparecer monumentos que simbolizam os opositores a que se quer combater” (2002, p. 13). Foi nesse meio de destruição por motivações ideológicas que surgiram as primeiras práticas de preservação de bens, que mais tarde constituiriam o que hoje chamamos de patrimônio. A política de preservação nasceu, assim, por razões práticas. Com a extinção da monarquia, seus bens, assim como os do clero e dos emigrados1, passaram a ser propriedade do Estado republicano. Esses bens, juntamente com a concepção de Estado Nacional, passaram a constituir os Bens Nacionais. 1 Aristocratas que abandonaram a França revolucionária. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 21 O valor primário do tesouro assim devolvido a todo o povo é econômico. Os responsáveis adotam imediatamente, para designá-lo e gerenciá-lo, a metáfora de espólio. (...) Integradas aos bens patrimoniais sob o efeito de nacionalização, estas se metamorfosearam em valores de troca, em bens materiais que, sob pena de prejuízo financeiro, será preciso preservar e manter. (Choay, 2001, p. 98) Em contrapartida às destruições, que ainda continuavam a fazer parte do espírito revolucionário2, foi inventado o conceito de patrimônio nacional, ou seja, (...) os cidadãos, com a Revolução Francesa, eram livres e iguais perante a lei (Liberdade/ Igualdade), e, nascidos no país, são todos irmãos (Fraternidade) e herdeiros do mesmo pai, o Estado Nacional. (Camargo, 2002, p. 21) Como Choay, é possível se afirmar que “O conceito de patrimônio induz então a uma homogeneização do sentido dos valores” (Choay, 2001, p. 98-99). A necessidade de se preservar acentuou-se com a Revolução Industrial e dessa vez não apenas motivado por razões ideológicas, já que o grau de destruição começa a se acentuar para dar margem às modificações ocorridas no cotidiano das cidades. A produção em larga escala industrial e, conseqüentemente, seu barateamento, facilitou a construção e demolição das edificações de modo que o valor das mesmas se transferisse para o solo urbano, dando origem à especulação imobiliária (Camargo, 2002, p. 14-16). Novas ruas precisavam ser abertas, precisavam ser mais largas para dar espaço à quantidade de veículos e pessoas que transitavam. Além disso, tanto o lazer e o turismo quanto a preservação/conservação do patrimônio cultural são características das sociedades industriais. Os primeiros como conseqüência do não trabalho e necessidade de evasão, e os segundos enquanto herança e identidade cultural que não se quer perder ou, identidade nacional que se quer (re)afirmar. No século XIX, o monumento histórico entra em sua fase de consagração, cujo término pode ser tomado pelo ano de 1964, quando do surgimento da Carta de Veneza3. Desse modo, depois da Revolução Industrial, o monumento histórico chega mesmo a ter um status definido, “...relativo à hierarquia dos valores, de que (...) é investido, suas delimitações espaço-temporais, seu estatuto jurídico e seu tratamento técnico” (Choay, 2001, p. 127). A era industrial também contribuiu, ao lado do romantismo, para a atribuição de novos valores, como os da sensibilidade, principalmente estéticos. Como 2 3 Em 1794 são tomadas as primeiras medidas para conter vândalos. Publicado em 1966, depois da Segunda Guerra Mundial, marca a retomada dos trabalhos teóricos relativos à proteção dos monumentos históricos. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 22 também contribuiu para acelerar o estabelecimento de leis que visassem à proteção do monumento histórico e fez da restauração uma disciplina integral. Finalmente, em 1887 foi promulgada a primeira lei sobre os monumentos históricos, que serviu de referência, primeiro na Europa, depois no resto do mundo, para a intervenção do Estado na área, devido à clareza e racionalidade de seus procedimentos. Regulamentada em 1889, só em 1913 tomou sua forma definitiva, “ que hoje constitui o texto legislativo de referência da lei sobre os monumentos históricos” (Choay, 2001, p. 148). O tombamento, centralizado e investido da autoridade do Estado, tornou-se, assim, um ótimo instrumento de balizamento e controle. Em relação ao modo como se escolhiam os monumentos a serem tombados, Choay diz que “as regras de sua seleção não são ditadas por critérios de erudição, mas pelos imperativos pragmáticos e econômicos de uma política de conservação e de proteção” (2001, p. 146). De objeto de culto, em sua origem em sentido mais particular, o monumento histórico passou a ser referenciado e as práticas patrimoniais passaram a ser exercidas mundialmente. Com a Convenção Relativa à Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural da Assembléia Geral da Unesco, adotada em 1972, criou-se um conjunto de obrigações relativas à identificação, proteção, conservação, valorização e transmissão do patrimônio cultural às gerações futuras (Choay, 2001, p. 208). Foi aí que se iniciou uma verdadeira “industrialização” do patrimônio, pelo prestígio que um monumento passou a ter quando inscrito na lista do patrimônio mundial, já que isso o tornava reconhecido internacionalmente. A busca por essas construções, que antes se resumia a grupos de iniciados, especialistas e eruditos, passou a ser feita em escala mundial, refletindo no culto à cultura. A condição de estar na lista do patrimônio mundial favorece, indubitavelmente, a procura dos turistas pelo monumento, o que pode trazer benefícios para a localidade em que se encontra através da geração de divisas como também, comprometer sua integridade quando existe a falta de um planejamento compatível com o mesmo. Na sociedade capitalista em que vivemos, se por um lado os monumentos e o patrimônio histórico propiciam saber e prazer, por outro passam a ser produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos. 2.2. PRESERVAR X CONSUMIR Com a globalização presente nos dias atuais, representado principalmente pelos avanços tecnológicos, facilidade de comunicação e deslocamento de pessoas, além da Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 23 integração política, econômica e cultural, se está redescobrindo as diferenças das manifestações culturais em contraposição ao ambiente padronizado. O patrimônio passa, então, a representar uma identidade que exterioriza o valor de uma cultura. Assim, valorizar os bens que são referência, por seu aspecto cultural ou natural, significa reafirmar e exaltar a diferença e a diversidade diante de um mundo tão globalizado. A revitalização do patrimônio significa a ressignificação das manifestações culturais, tornando-a viva, ao ganhar sentido para as pessoas e, especialmente, ao aguçar a identidade. O patrimônio pode ser definido como bem cultural, tangível ou intangível, que desperta o sentimento de valor e identidade e que expressa a própria cultura. (Reis, s.d.) Mesmo para autores que criticam a atividade turística por seu aspecto predatório, como Mathieson e Wall (apud Barreto, 2000, p. 32), a atividade também pode ser o meio para a reabilitação de sítios históricos, além de construções e monumentos, estimulando a revitalização dessas áreas através de atividades tradicionais em declínio. Além disso, a questão da preservação do patrimônio deixou de ser visto apenas velo viés da história e da memória e passou a cumprir um papel econômico e social. O turismo é proposto, assim, como uma atividade econômica possível de ser desenvolvida nos núcleos urbanos preservados, compatível com a proteção do patrimônio cultural e indutor de melhores condições de vida para a população local. (Simão, 2001, p. 13) Por outro lado, a revitalização de lugares históricos desperta ambições por parte de empresários que, ávidos por obter lucro rápido, acabam trazendo prejuízos para o próprio atrativo, através da descaracterização de construções de caráter histórico ou mesmo com a banalização de rituais, danças e comportamentos, por sua exposição e uso indevido. Por se renderem ao capitalismo, os monumentos ou elementos de uma determinada cultura se tornam exclusivamente atrativos turísticos, viram produtos de consumo e se perdem como referência para a sua comunidade. A crítica é quanto à transformação do patrimônio em bem de consumo. O patrimônio deixa de ser valioso por sua significação na história ou na identidade local e passa a ser valioso porque pode ser 'vendido' como atrativo turístico. (Barreto, 2000, p. 32) No que se refere ao uso da cultura, refletimos sobre problemas como a teatralização das cidades que se tornam meros cenários, o fetichismo da cultura, o Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 24 consumo do bem cultural, o desenraizamento dos turistas etc. É próprio do homem a busca por outras cultura, ou seja, o uso cultural da cultura4, que busca (...) conhecer as diferenças culturais, intentar compreender significados para as vidas de outros grupos sociais, visitar lugares que não são os seus para compreendê-los em sua espacialização histórica e cultural própria. (Meneses, 2004, p. 20) Quando preservamos algo, sempre há a possibilidade dele virar um atrativo para visitantes, deixando de ser espaço de convivência para seus moradores. Por isso, também são culturais as formas de consumo e uso das construções culturais. Claro que a preservação de lugares históricos não significa protegê-lo como se o mesmo estivesse numa redoma de vidro. Preservar uma cultura não significa congelá-la. As culturas não são estáticas, e a identidade dos povos muda ao longo do tempo. (...) o turismo com base no legado cultural permite que se mantenha, em um lugar específico, um determinado período do tempo, que deu origem a essa comunidade. Permite que a comunidade, de alguma forma, engaje-se no processo de recuperação da memória coletiva, da reconstrução da história, de verificação de fontes. (Barreto, 2000, p. 49) O processo de industrialização e desenvolvimento gerou transformações sociais e urbanas que tornaram incompatíveis a convivência entre o passado e o futuro. O turismo possibilita gerar renda com a manutenção do espaço existente, sem grandes transformações espaciais, já que isso representa a condição para que a própria atividade aconteça e perdure: “A implementação da atividade turística em muitos locais está rigidamente atrelada à sua preservação...” (Simão, 2001, p. 18). Mais importante e apropriado do que manter o patrimônio “congelado” - através de tombamentos que muitas vezes não resolvem totalmente o problema, já que se torna uma medida imediatista e pontual - ou promover um turismo preocupado somente em consumir o atrativo como se ele fosse mais um produto, seria aliar a preservação à prática de apreender, vivenciar, estimular o visitante a pensar sobre o significado que aquele bem representa para seu povo e para sua cultura. É problematizar, através de seus elementos (que não devem ser tomados por objetos cuja única finalidade é serem apenas serem expostos), a história de determinada sociedade. 4 Para uma leitura mais detalhada ver Meneses (2004, capítulo I). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 25 2.3. RELAÇÕES ENTRE PATRIMÔNIO HISTÓRICO E TURISMO A Revolução Industrial não só teve uma influência marcante na consagração do monumento histórico, mas também pode ser tomada como marco do surgimento do turismo moderno, tal qual o conhecemos hoje. Devemos levar em consideração que a mesma foi um processo complexo que acarretou uma série de mudanças não só de ordem do desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos, mas também de mudanças que influenciaram decisivamente o modo de vida e o comportamento das pessoas. As novas relações de trabalho acarretaram o surgimento do tempo livre, ou seja, horários de não-trabalho que passaram a ser ocupadas pelos deslocamentos, tornando-se um estímulo à atividade turística. Além disso, a poluição ambiental, o barateamento das condições de moradia e consumo básico, a democratização das possibilidades de participação econômica, aliados ao desenvolvimento dos transportes e comunicações, contribuíram para que o turismo de desenvolvesse (Meneses, 2004, p.36). Na Revolução Francesa, os revolucionários tinham consciência do valor econômico que o patrimônio poderia lhes render através da contemplação dos turistas. Os franceses se referiam freqüentemente à Itália, devido ao seu patrimônio cultural e ao grande fluxo de viajantes àquele país. A busca pelos objetos expostos nos museus tinha razões pedagógicas, enquanto que os monumentos só podiam ser vistos ou visitados. Porém, o aumento no fluxo de viajantes acarretava outros serviços, como transportes, alimentação, hospedagem etc., por isso se observa um incremento na economia desses lugares (Camargo, 2002, p. 33-34). Importante salientar que os serviços eram bem diferentes daqueles que conhecemos hoje. Em relação à hospedagem, era comum se utilizar as hospedarias com “caráter típico de pequena empresa doméstica” (Camargo, 2002, p. 35). Havia também a hospedagem e a alimentação em mosteiros ou conventos nas rotas de peregrinação e as estalagens à beira das estradas, responsáveis por oferecer repouso e alimentação aos viajantes, que agregavam também outros serviços. O termo Grand Tour foi utilizado pela primeira vez em 1670, por Richard Lassels, e representava uma forma de complementação dos estudos dos filhos das famílias aristocráticas por meio de viagens que poderiam durar até mais de dois anos. Roma e Itália sempre faziam parte do roteiro dessas viagens, pois através do humanismo renascentista, havia uma retomada dos estudos da literatura clássica que culminava no domínio da língua latina (Camargo, 2002, p. 38). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 26 Segundo Camargo, é necessário maior precisão ao se referir ao Grand Tour como predecessor do turismo moderno. No início do século XIX, o ideal educativo dessas viagens já começava a declinar para dar lugar a características mais mundanas: É mais adequado situar o Grand Tour com as características que irão, de fato, servir de sedimento para práticas turísticas futuras, entre os anos de 1765 e 1820. (Camargo, 2002, p. 41) No Iluminismo, em que as viagens eram marcadas pela busca do conhecimento e reflexão, havia também as “mundanidades”: as viagens também tinham como objetivo conhecer outras identidades, para conhecer melhor a sua própria identidade. Com o aumento das viagens e da oferta dos serviços turísticos (mesmo marcados pela informalidade) conseqüentemente ocorreu o seu barateamento, já que um maior número de pessoas passou a ter acesso aos mesmos. Assim, as camadas sociais menos favorecidas passaram a usufruir daquilo que era considerado bens patrimoniais. (...) a busca de reconhecer um patrimônio memoralístico que se quer guardar, como marco de herança cultural e da identidade regional/ nacional, leva a um processo de identificação de edificações e de espaços identitários que passam, também, a ser explorados economicamente pelos investidores em turismo. (Meneses, 2004, p.36-37) Portanto, a partir de fins do século XVIII e início do século XIX, ocorre um crescimento considerável pela busca sobre informações do passado, o que iria acarretar um aumento dos bens que o representam. A busca pelo conhecimento da própria cultura e da cultura de outros povos, fez com que houvesse um aumento na literatura de viagem, que já era valorizada no século XVIII. O crescimento das viagens e o desenvolvimento das ferrovias fizeram com que surgissem os primeiros guias de turismo a partir de 1850, que eram vendidos nas estações para a distração dos viajantes, por iniciativa dos livreiros William Henry Smith e Louis Hachette (Meneses, 2004, p. 40). No entanto, Camargo (2002, p. 46) afirma que em 1743 surgiu, em Londres, o primeiro guia conhecido, assinado por Thomas Nugent, e que trazia informações sobre transportes organizados, hospedagem e até advertências “quanto a hospedeiros inescrupulosos e eventuais assaltantes que se poderia encontrar pelas rotas trilhadas” (Camargo, 2002, p. 47). Existem referências também a uma família de editores, os Baedeker, que teriam produzido o primeiro guia de viagens na Alemanha (Barreto, 2000, p. 15). Em relação às rotas trilhadas, pelo menos no primeiro século do Grand Tour, a preferência era dada aos caminhos mais curtos e que tivessem o mínimo de acidentes Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 27 topográficos possíveis. Porém, já na metade do século XVIII, se passou a considerar as temporadas e a sazonalidade de determinados atrativos em épocas específicas do ano. Apesar desse tipo específico de literatura possuir intenções variadas (muitas destas publicações são motivadas pelo imperialismo europeu, com a constituição dos impérios coloniais), os viajantes que a produziram sentiam uma atração especial pela cultura exótica e a sua relação com a cultura européia. A literatura romântica também vai contribuir para a valorização das construções do passado, buscando estimular nos leitores uma volta ao mesmo, baseando-se na busca de evasão e trazendo consigo os valores das construções históricas frente aos novos valores do capitalismo (Meneses, 2004, p.38). O turismo moderno, assim, emerge, também, de um ambiente romântico de descobertas e de construções de valores que buscam memorizar o passado, lembrá-lo, apreendê-lo, guardá-lo, co-memorálo. Uma complexa origem histórica - Revolução Industrial, Revolução Francesa, Romantismo - enquadra o turismo moderno em um contexto que o faz nascer, essencialmente, como um turismo cultural. (Meneses, 2004, p.39) O que se deve ter em conta é a difusão da existência de uma série de bens e a consideração pela sua conservação enquanto elementos de identidade de outras sociedades, ou das identidades nacionais que se construíam. (Camargo, 2002, p. 60) Na Europa do século XIX, o turismo e o patrimônio cultural se expandem e se consolidam. Há a consolidação do que se chamaria de circuito clássico, representado pela Antiguidade romana e grega, Idade Média e Renascimento, civilização arábicoandaluza, antiguidades egípcias e o Oriente Próximo. A discriminação e divulgação desses atrativos nos guias registram a existência do monumento ou bem patrimonial, situando-os num espaço dado. Mesmo que a divulgação dos mesmos acarretasse sua exposição a eventuais atos de vandalismo, por outro lado chamariam a atenção para a necessidade de conservação adequada. E o registro nesses guias poderia ser uma garantia de conhecimento e preservação. 2.4. USOS DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO PELO TURISMO Quando se fala sobre revitalização do patrimônio, se torna inevitável abordar as questões relacionadas ao planejamento urbano, as formas de uso que os imóveis passaram a exercer, como também, o apoio que será dado às questões culturais. Segundo Simão, Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 28 (...) o planejamento urbano integrado constitui, com certeza, num dos mais importantes e prioritários instrumentos a serem utilizados na gestão de cidades reservadas com potencial turístico. (2001, p. 71) O turismo pode e tem sido uma forte alternativa para os núcleos urbanos preservados, já que sua base é a própria preservação do patrimônio e da cultura local. Porém, “(...) somente configurar-se como potencial turístico não lhes dá a primazia de desenvolver o turismo como atividade econômica” (Simão, 2001, p. 67). Muito já foi dito sobre a importância da participação da sociedade e órgãos de classe nesse processo. Apesar de todo o discurso, é imprescindível lembrar que a (re) construção desses espaços não se faz apenas por decretos e decisões de técnicos. “As pessoas, residentes do lugar, devem participar, pois o conhecem e precisam ser motivadas a fortalecerem o sentimento de identidade” (Reis, s.d.). A revitalização do patrimônio reabilita o espaço urbano, fortalece manifestações culturais descaracterizadas em sua tradição e promove reconhecimento dos cidadãos em relação aos bens culturais. Além disso, gera renda para a comunidade e para o município. Assim, a partir do momento em que há uma redescoberta do valor do patrimônio como elemento de identidade nacional, as atenções se voltam para a discussão sobre as formas de seu uso. Pellegrini Filho (1993, p. 112-116) apresenta vários exemplos de patrimônios usados para fins culturais e que viabilizam a manutenção de heranças culturais, assim como, o consumo da própria cultura. Já Barretto (2000, p. 58-59) mostra um uso interessante do patrimônio ao indicar que um centro histórico ou bairro revitalizado pode se transformar em site museums, entendidos como “museu de sítio” ou, ainda, “museu no local”. Ou seja, os espaços revitalizados seriam preparados para representar uma época: construções, vestuário, culinária e costumes devem “espelhar” uma época, fazendo com que os visitantes conheçam a história e a cultura. Assim, permitiriam a sustentabilidade econômica do lugar, pois atrairiam turistas e investimentos. Porém, há perigo de tornar estes lugares cenários sem vínculos com a comunidade, servindo de bens de consumo ou lugares em que o setor privado se beneficia com os lucros e a comunidade transforma-se, unicamente, em uma referência da cultura, não participando do processo das decisões sobre o planejamento turístico do lugar. É aí que entra outra discussão: o cuidado que se deve ter para não tornar a cultura e a história do local estereotipada, caricaturada, muito comum nos grupos parafolclóricos, que representam uma cultura “para turista ver”. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 29 Países europeus pioneiros nessa questão como Itália, França, Espanha, Portugal, Alemanha, Inglaterra, República Tcheca entre outros, perceberam que investir na restauração e preservação dos bens culturais traria benefícios através das atividades turísticas. Como conseqüência, empresários e sociedade organizada se beneficiaram com o aumento da riqueza interna, pois o turismo gerou negócios e empregos. Nos países do velho continente, os patrimônios possuem a estrutura necessária para receber os turistas, que encontram sinalização adequada, folhetos, guias e uma série de serviços para a visitação do bem cultural (Reis, s.d.). Tendo em vista o sucesso da implantação desses serviços na Europa, outros países passaram a usá-la como modelo para a implantação do turismo histórico-cultural. Porém, infelizmente, por não levar em consideração o contexto em que se encontram tais lugares, muito diferentes das cidades da Europa, na maioria das vezes o que se vê é uma onda de “modismo” que toma conta desses centros históricos, muito procuradas na época pós-restauração/ revitalização passando em seguida para uma situação de abandono como resultado da implantação de uma atividade mal planejada e insustentável. O Pelourinho, em Salvador (BA); o centro histórico de Recife e a cidade de Olinda (PE); São Luís (MA); o centro de São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ); o centro de Nova York; a baía e o antigo porto de Boston; Puerto Madero em Buenos Aires; Montpelier, na França; e muitos outros exemplos pelo mundo afora mostram a revitalização de lugares que vinham sofrendo com a deterioração física de suas edificações. Lugares que também serviam de reduto para determinados segmentos da sociedade (Barretto, 2000, p. 35). Atualmente, verifica-se uma tendência, no Brasil, de aproveitamento das antigas fazendas do século XIX que oferecem vários serviços aos hóspedes. Essas fazendas são verdadeiros patrimônios que se revitalizam para abrigar hotéis ou locais para visitação. A utilização desses locais como atrativo turístico representa uma alternativa para os proprietários evitarem a falência, já que muitas vezes apenas as atividades econômicas que algumas delas ainda exercem, tal como pecuária e produção de leite, muitas vezes não viabilizam os custos de manutenção, impedindo os investimentos com a revitalização do patrimônio. Apesar de tudo, Beni (2002, p. 87) afirma que os atrativos culturais no Brasil ainda são subutilizados turisticamente, principalmente os ligados ao patrimônio histórico. Na maioria das vezes a população desconhece o valor de seus bens e ainda não consegue visualizar as possibilidades que o turismo pode vir a oferecer. Simão Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 30 (2001, p. 69) aborda algumas medidas que poderiam permitir um desenvolvimento turístico sustentável gerido pela comunidade receptora. Primeiro, seria necessário promover um trabalho de promoção interna, resgatando o orgulho dos locais pelo lugar; mobilizar os atores sociais envolvidos para fazer acontecer ações imediatas, como também (re)construir a imagem que a localidade tem de si mesma. A questão do patrimônio reflete o fortalecimento da identidade cultural, contribuindo para o sentimento de pertencimento a uma comunidade, cultura ou tradição, que permite realizar o elo entre passado e presente. Temos então que discutir a revitalização dos lugares de turismo, ampliando os espaços de manifestação cultural e de lazer, criando mecanismos de preservação do patrimônio, para que nossas identidades culturais se fortaleçam, ou mesmo, para que possamos compreender nossa diversidade, tornando o patrimônio uma referência da história e tradição. *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 31 3. POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO Arte, cultura e patrimônio arquitetônico e histórico têm sido alguns dos principais alvos do Turismo em todo o mundo. A cada ano, são movimentados milhões de dólares a partir da busca de turistas por locais históricos, patrimônios artísticos e legados culturais. Assim, a criação de patrimônios nacionais passou a ser uma construção social de extrema importância política e o seu significado é atribuído de acordo com as circunstâncias do momento. A preservação de monumentos obteve papel relevante principalmente em fins do século passado quando, aos diversos órgãos especializados na área de preservação e conservação, uniram-se empresas turísticas, mídias e Estados utilizando a justificativa de um novo meio de geração de emprego e renda. 3.1. AS POLÍTICAS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO BRASIL A construção do patrimônio nacional e seu modelo de preservação surgido na França foram conduzidos como política de Estado. Foi a partir desse modelo que se estruturou a política de preservação federal no Brasil. Antes disso, não havia qualquer noção do que seria patrimônio no país, exceto por alguns escassos exemplos. Além do que, seria quase impossível se pensar em patrimônio material se os artefatos, equipamentos e edificações ainda estavam sendo ocupadas de fato, ou sejam, ainda não haviam caído em desuso. É aí que a qualificação de monumento chega à documentação e, com ela, a criação de institutos que colecionam e preservam documentos para a construção da História do Brasil (Camargo, 2002, p. 74-75). No Brasil, devido também à herança escravista, os objetos considerados dignos de preservação estiveram, até recentemente, relacionados à colonização, às classes proprietárias, aos brancos com acesso às faculdades e à cultura européia, tida como modelo, confirmando a ideologia dominante do branco. Nesse sentido, é justificável a distância e a falta de identificação entre o patrimônio cultural e a maioria da população brasileira que nele não consegue se reconhecer: Temos hoje uma gama de lugares construídos a partir de concepções de memória, de história e de patrimônio, que encerram ou encobrem disputas e falam a respeito de um passado que quer se fazer homogêneo, mas que não pertence a todos, que não traduzem um sentimento de pertencimento a todos, portanto, não respaldam um projeto de cidadania. (Oliveira, 2002, p. 50) Em 1808, a chegada da Corte portuguesa ao Brasil implicou a criação de “lugares da memória” que acabariam como instrumentos de constituição da nacionalidade, a Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 32 exemplo da Biblioteca Nacional e do Museu Nacional. Após a Independência, em 1838, foram criados o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) e o Arquivo Nacional, ambos responsáveis pela criação da história e manutenção da memória histórica nacional. O IHGB ficaria responsável por construir a história do país baseada no poder centralizador da monarquia e na aristocracia rural através da definição de comemorações, emblemas e lugares como forma de enaltecer a nação. Já o Arquivo Nacional guardaria toda a documentação de procedência do poder central, resguardando assim sua legitimação e perpetuação. Além destes, podemos citar como exemplos a Academia Nacional de Belas Artes, que teria a função de exaltar a nação, seus personagens históricos e heróis nacionais, através de suas pinturas e esculturas, assim como o Colégio Pedro II, que ficaria responsável para passar aos alunos as idéias contidas no processo histórico construído pelo IHGB (Oliveira, 2002, p.53-54). Durante a gestão de Gustavo Capanema no Ministério da Educação e Saúde (1934-45) havia a preocupação de preservar o que era originariamente brasileiro. Essa preocupação também se expressava nos projetos de arquitetos, como Lúcio Costa, preocupados em compor uma arquitetura “autenticamente nacional” (Rodrigues, 2002, p. 20) As produções da época modificavam, definiam e até criavam novos valores para considerar o que era patrimônio. Os prédios criados durante o ministério de Capanema, mesmo antes de serem levantados, já eram projetados com o intuito de se constituir um monumento: uma edificação feita para lembrar: seguindo a linha modernista, eram diferentes de tudo o que havia no país, o que demonstra, mais uma vez, que o patrimônio é fruto de questões políticas e ideológicas de quem está no poder. A construção do prédio do MES (Ministério da Educação e Saúde), por exemplo, demandou um concurso público para apresentação de um projeto para o mesmo. Porém o projeto vitorioso de Arquimedes Memória não foi executado, já que Capanema havia se “horrorizado com o estilo ‘neomarajoara’” proposto, decidindo, então, não executálo. Capanema havia ficado impressionado com os projetos descartados de jovens arquitetos como Lúcio Costa, Reidy e Carlos Leão e com o estilo moderno dos mesmos. E para a construção do prédio, foi composta uma comissão que, além destes, incluía ainda Ernani Vasconcelos, Jorge Moreira e Oscar Niemeyer. Capanema se envolveu pessoalmente na construção da obra, “escolhendo pessoalmente os artistas e as obras de arte que iriam decorá-lo” (Londres, 2001, p. 90): Esse envolvimento não decorreu apenas de um interesse estratégico, tendo em vista a importância política e simbólica da obra. Foi também como homem de cultura e mesmo, em certo sentido, como criador que Capanema acompanhou e discutiu com arquitetos e artistas os detalhes Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 33 de seus projetos, opinando, intervindo, selecionando e recusando. (Londres, 2001, p. 90) Nesse mesmo período houve projetos de lei de criação de órgãos de proteção ao patrimônio apresentados no legislativo federal e a criação de Inspetorias Estaduais de Monumentos Nacionais (na Bahia, em 1927 e em Pernambuco, em 1928). Porém, a atuação das mesmas ficou limitada ao inventário de bens locais (Rodrigues, 2002, p. 20). A prática da preservação do patrimônio no Brasil só se estabeleceu a partir da década de 30, resultado de muitos e complexos fatores a partir dos quais se estruturaram as políticas voltadas para a proteção dos mesmos. Os esforços realizados para desenvolver a idéia de proteção ao patrimônio se efetivaram no governo de Getúlio Vargas, através do Decreto n. 2.928, de 12 de julho de 1933, que consagrava Ouro Preto como “monumento nacional” (Rodrigues, 2002, p. 20). E o SPHAN - Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional já seria criado, em 1937, sob “as condições políticas e simbólicas para a hegemonia dos modernistas” (Londres, 2001, p. 94). Essas medidas articulam-se a outras da Era Vargas para tornar o patrimônio um atrativo turístico de forma a ampliar a oferta turística, mesmo que essa atividade não representasse uma possibilidade para todas os segmentos da sociedade, como ainda hoje o é. Em 30 de novembro de 1937, Vargas assina o Decreto-Lei n. 25, que teve por base um anteprojeto de Mário de Andrade (Simão, 2001, p. 29). Tal decreto, que ficou conhecido como Lei do Tombamento, cria o Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), primeiro órgão federal dedicado à preservação (Oliveira, 2002, p. 54). O tombamento5 é o principal instrumento jurídico, até hoje aplicado, para impedir a destruição de bens culturais. Porém, o tombamento não implica a perda da posse do bem. A responsabilidade de sua conservação continua sendo do proprietário, que fica proibido de demoli-lo, descaracterizá-lo ou retirá-lo (no caso dos objetos de arte) dos limites do território nacional sem prévia aprovação do órgão competente. De acordo com o SPHAN, a definição de patrimônio histórico e artístico nacional passou a ser: (...) o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos 5 Consiste na inscrição do bem em um dos quatro Livros do Tombo que são: arqueológico, etnológico e paisagístico; histórico; de belas-artes; e das artes aplicadas (Simão, 2001, p. 30). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 34 memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. (Cavalcanti apud Oliveira, 2002, p. 56) Além da preservação e restauro, seriam também atividades do SPHAN a reabilitação de bens, ampliação e codificação dos conhecimentos relativos à temática arquitetônica e artística. Mas é apenas nos anos 80 que o órgão incorpora elementos de origem popular, patrimônio imaterial (festas, danças, gastronomia etc.). Apesar dessa abertura, ainda hoje, a questão do patrimônio continua a se basear principalmente nos monumentos de “pedra e cal”. Na gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade, que ficou responsável pela direção executiva do órgão até 1967, era preciso organizar a atuação do SPHAN bem como determinar o que deveria constituir o patrimônio histórico. Sendo assim, além do trabalho que as equipes do SPHAN tiveram, as mesmas também receberam bastante influência no que era determinado como patrimônio. Assim, “a configuração que assumiu o patrimônio histórico e artístico nacional reflete o projeto modernista de instituir como genuína arte nacional o barroco mineiro e a arte moderna” (Sant’Anna apud Simão, 2001, p.27). Como os componentes das equipes provinham do Movimento Modernista de 22, o projeto do Ministério também era modernista. Então, o estilo eclético predominante na República Velha não constou nos catálogos do SPHAN. Os bens designados como patrimônio teriam que expressar uma monumentalidade, privilegiando as construções religiosas, militares, palácios e residências senhoriais. Tomemos como exemplo, a construção da cidade de Brasília e do prédio do Ministério da Educação e Saúde, ambos nascidos com a finalidade de constituírem monumentos (Oliveira, 2002, p. 60). Também ficou de fora todo um patrimônio cultural não-monumental, conseqüência da não adoção das idéias, propostas e experiências de Mário de Andrade que mostravam uma concepção de patrimônio mais ampliada e distante da noção de monumento. Apesar de seu bom relacionamento com Rodrigo Melo Franco de Andrade, Mário de Andrade “não conseguiu um lugar na estrutura do ministério onde pudesse trabalhar de forma sistemática, contínua e integrada à estrutura central do órgão” (Londres, 2001, p. 98). Da mesma forma, as propostas de Mário de Andrade, de pluralidade da cultura brasileira, iam de encontro ao ideário de unidade nacional do governo, já que até na cultura era preciso “construir uma imagem coesa e homogênea da nação” (Londres, 2001, p. 98-99). Em 1967, assumiu o órgão Renato Soeiro, que trouxe algumas mudanças em relação à política de tombamentos que passou a ser Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 35 dirigida aos conjuntos e não apenas à construções individuais. Renato ficaria na diretoria até 1979, sendo substituído por Aloísio Magalhães (Oliveira, 2002, p. 61). A partir de 1968, em São Paulo, a atividade do Órgão Nacional de Proteção ao Patrimônio passou a contar com o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (CONDEPHAAT), criado pela Lei n° 10.247, de 22 de outubro de 1968, e subordinado à Secretaria de Cultura, Esporte e Turismo (Rodrigues, 2002, p. 21). O casamento entre patrimônio e turismo nesse momento parecia perfeito e se apresentava como solução para diversas situações, entre elas a “salvação” do patrimônio em razão do seu aproveitamento econômico, seguindo o modelo de outros países. Essa junção de atividades, ao mesmo tempo em que consiste na oferta de eventos e monumentos, propicia a sua preservação, no sentido de que isso corresponde à sustentação da própria atividade. Isso remete a um antagonismo: ao mesmo tempo em que o turismo utiliza o patrimônio como uma mercadoria (e nesse caso não se descarta a massificação dos lugares, o que constitui a perda de sua identidade local), é também o meio para se preservar a memória coletiva, uma vez que propicia à localidade o resgate por suas origens, sua história. Ou seja, a atividade turística acaba tendo dois lados. Pode sim, promover a preservação do patrimônio, mas cada vez mais os projetos de preservação e conservação tendem a seguir um modelo que acaba ficando saturado. Em várias cidades, temos a impressão de que seus centros históricos são cópias uns dos outros. No início de década de 70 o Governo Federal, reconhecendo a incapacidade de proteger eficientemente todo o patrimônio nacional, apela aos Estados e Municípios para que exerçam uma ação complementar do (agora) Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), classificando (tombando) e protegendo monumentos de interesse regional ou local. Pressiona, porém, ambos a criarem legislações à imagem e semelhança da federal. É a partir daí que nasce o IPHAEP, órgão responsável pela preservação do patrimônio histórico no Estado da Paraíba. O IPHAN, ao longo dos anos, desde sua fundação teve caráter unilateral, já que seus técnicos agiam sozinhos, sendo as parcerias se darem em casos isolados, vindo apenas a ter uma forma efetiva no final da década de 60 e início de 70 (Oliveira, 2002, p. 67). Além disso, “o final da década de 60 e a década de 70 caracterizam-se (...) pela tentativa de elaboração de planos urbanísticos e pelo crescimento desordenados dos núcleos urbanos” (Simão, 2001, p. 35). Em 1973, o Programa de Cidades Históricas (PCH) pretendia criar linhas de crédito para a restauração de imóveis destinados ao aproveitamento turístico e à formação de mão-de-obra especializada em restauro no Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 36 Nordeste, sendo expandido para Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo em 1975. Atuando de forma independente até o final da década de 70, o PCH foi incorporado ao IPHAN quando da criação da Fundação Nacional Pró-Memória, em 1980 (Simão, 2001, p. 35-36). Com a promulgação da Constituição de 1988 abriram-se outras possibilidades para a proteção dos bens culturais no país, com a previsão de novos instrumentos legais, entre os quais a competência compartida da União, Estados e Municípios em matéria de patrimônio, a planificação urbana, o inventário e o registro áudio visual de manifestações culturais performáticas. Infelizmente, essas possibilidades em sua grande maioria não foram ainda utilizadas, em grande parte pelo temor de compartir com outras instâncias de poder competências exclusivas. O patrimônio histórico e arquitetônico no Brasil ainda não foi assumido pelo poder público como objeto de políticas que favoreçam a solução de graves problemas sociais, e parece ainda não atender satisfatoriamente ao desenvolvimento da atividade turística, salvo algumas exceções já consagradas, como as cidades históricas mineiras e o Centro Histórico de Salvador, o que não quer dizer que essas cidades não apresentem suas dificuldades no que se refere à sustentabilidade das atividades desenvolvidas nos ambientes restaurados. É bem verdade que nos últimos anos outros exemplos de bens culturais brasileiros têm sido considerados “patrimônio da humanidade” (categoria de reconhecimento internacional criada pela Unesco em 1972) que, pela própria divulgação que propicia, favorece a atividade turística. Pode-se citar o caso de São Luiz no Maranhão, que recentemente teve um aparecimento contínuo na mídia, resultado de uma agressiva campanha de marketing. Com a posse de Fernando Collor de Mello, na década de 90, houve uma reestruturação do IPHAN/ Pró-Memória. Este passou a se chamar Instituto Brasileiro de Patrimônio Cultural - IBPC. Além disso, foi editado o Decreto n° 3.551, de 04 de agosto de 2000, que instituiu o registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, constituintes do Patrimônio Cultural Brasileiro, como também a criação do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Até a década de 60 poucas eram as leis que tratavam da preservação dos bens culturais, só vindo a ocorrer um aumento a partir da década de 80. Procurando dar mais espaço para a discussão do tema, ocorreu em 1970 o I Encontro de Governadores para a Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Natural do Brasil, que ficou conhecido como o Compromisso de Brasília. Visava à criação de organismos responsáveis pela preservação do patrimônio de cada estado e município, em conjunto com a DPHAN - Departamento de Patrimônio Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 37 Histórico e Artístico Nacional, ficando os mesmos responsáveis pela elaboração de uma legislação estadual para proteção/ preservação dos patrimônios. Dando continuidade às primeiras discussões, o II Encontro ocorreu em 1971, dessa vez em Salvador. Em relação às políticas voltadas para o turismo, por esta ser uma atividade relativamente recente no país, não houve tempo hábil para que uma política consistente no setor se consolidasse. Desde a criação da Embratur, em 1966, percebe-se uma atenção maior por parte do governo, mas nada de muito significativo ocorreu em relação à estruturação e sistematização de uma política voltada ao turismo. A recente criação do Ministério do Turismo veio a atender uma antiga exigência do setor, antes relegada a segundo plano e sempre subordinada a outros ministérios. Sendo assim, de acordo com o Plano Nacional de Turismo - Diretrizes, Metas e Programas - 2003-2007 - do atual Governo Lula, o turismo é tido como o segmento da economia que pode atender de forma mais adequada os desafios no campo do desenvolvimento econômico e social. O documento cita ainda o turismo como atividade como forma de proteção ao patrimônio natural e cultural, como instrumento e organização e valorização da comunidade, como instrumento de fortalecimento da identidade local, entre outros. O plano segue o modelo de gestão descentralizada e participativa, levando em conta as especificidades locais e situando os diversos atores sociais (governo, iniciativa privada, terceiro setor, comunidade local) como exemplo de outras cidades pioneiras nesse aspecto. E apesar de procurar levar em conta os aspectos culturais, no fim acabou por seguir um padrão na escolha do que deveria ser preservado/conservado, ou seja, motivado pelo viés turístico que iria privilegiar os monumentos em “pedra e cal” em resposta ao crescimento das cidades e à especulação imobiliária. Um dos programas que dá ênfase ao planejamento e desenvolvimento turístico em âmbito regional é o Programa de Ação para o Desenvolvimento do Turismo Regional/ PRODETUR, que segue o modelo econômico neoliberal proposto por organismos internacionais como o FMI, o BID e o BIRD. Na região Nordeste, o programa procura fortalecer o turismo na região de modo a consolidá-lo como importante pólo nacional e internacional. Porém existem muitas contradições no programa e nem sempre ele é seguido à risca. Percebe-se, muitas vezes, uma falta de coerência e articulação intersetorial, além do descaso com o planejamento territorial e ambiental. Isso também se estende à preservação do patrimônio no país. Voltando à questão da preservação do patrimônio, assim ficou definida a política nacional em relação à proteção do mesmo. Fortemente ligada ao desenvolvimento do Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 38 mercado turístico, seguindo o exemplo de outras cidades pioneiras nesse aspecto. E apesar de procurar levar em conta os aspectos culturais, no fim acabou por seguir um padrão na escolha do que deveria ser preservado/conservado, ou seja, motivado pelo viés turístico que iria privilegiar os monumentos em “pedra e cal” em resposta ao crescimento das cidades e à especulação imobiliária. 3.2. A ATUAÇÃO DO IPHAEP NA PARAÍBA Importante salientar que o tombamento não significa, necessariamente, que o bem estará a salvo da destruição. Há vários exemplos em que muitas vezes o patrimônio é tombado e logo depois esquecido, ou mesmo, recebe intervenções por parte de leigos que buscam soluções para os problemas do local. Muitas vezes, essas intervenções acabam por piorar a situação. Um dos casos mais ilustres na Paraíba é das Itacoatiaras do Ingá, onde ao longo dos anos percebe-se a ação de vândalos no local e que, para tentar resolver esse problema, levantou-se um muro de placas de concreto para isolar a área, o que acabou por descaracterizar completamente o local. Assim, fica visível que apenas a ação de tombar, apesar de necessária, não basta para garantir a integridade do patrimônio. Desde o ano de 1938, o IPHAN vinha realizando tombamentos na Paraíba. Ainda não havia um órgão responsável pela preservação e conservação do patrimônio no Estado. A seguir é possível visualizar esse processo, numa tabela contendo as obras tombadas pelo órgão, os municípios onde estão situadas e os respectivos anos de intervenção: Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 39 QUADRO 1 BENS PATRIMONIAIS TOMBADOS PELO IPHAN NA PARAÍBA ENTRE 1938 E 2005 MUNICÍPIO DESCRIÇÃO Areia Centro Histórico Fortaleza de Santa Catarina Ruínas de Forte Velho Cabedelo Ingá Itacoatiaras do Ingá Capela do Engenho da Graça Casa na Praça do Erário, atual Paço Municipal Casa da Pólvora Convento e Igreja de Santo Antônio, Casa de Oração e Claustro da Ordem 3ª de São Francisco, o adro, o cruzeiro fronteiriço e a área da antiga cerca conventual DATA DE TOMBAMENTO 11/08/20056 24/05/1938 09/08/1938 29/05/1944 30/04/1938 26/04/1971 24/05/1938 16/10/1952 Fábrica de Vinhos Tito Silva Fonte Pública do Tambiá Igreja da Misericórdia Igreja da Ordem Terceira de São Francisco Ruínas da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes (N. Sra. de Nazaré do Almagre) Igreja da Ordem 3ª do Carmo Igreja de Santa Teresa de Jesus Igreja do Mosteiro de São Bento Sobrado na Rua Peregrino de Carvalho, n. 117 12/08/1938 Lucena Capela de Nossa Senhora da Guia 16/05/1949 Pilar Edifício da antiga Cadeia Pública Igreja de Nossa Senhora das Batalhas Igreja de Nossa Senhora do Socorro Capela do antigo Engenho Una, atual Engenho Nossa Senhora do Patrocínio Casa da Fazenda Acauã, capela e sobrado anexo 31/07/1941 João Pessoa Santa Rita Sousa 02/08/1954 26/09/1941 25/04/1938 05/05/1938 22/07/1938 22/07/1938 10/01/1957 21/06/1938 15/07/1938 15/07/1938 11/02/1955 27/04/1967 Fontes: Oliveira (2002, p. 73) e IPHAN. Apesar dessas ações do IPHAN na Paraíba, apenas em 31 de março de 1971 é que teremos um órgão voltado exclusivamente para a questão do patrimônio paraibano. O IPHAEP (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico da Paraíba) foi criado pelo Decreto-Lei n° 5.255, no governo de Ernani Sátyro, fazendo parte da estrutura organizacional da Secretaria de Educação e Cultura do Estado da Paraíba. Foi regulamentado através do Decreto n° 5.348, de 21 de setembro de 1971 e instalado em setembro de 1974. Esse ato do poder público estadual teve a finalidade de preservar os bens culturais da Paraíba que não se encontravam sob proteção e guarda do IPHAN. 6 Data da aprovação do pedido de tombamento do conjunto histórico, urbanístico e paisagístico da cidade de Areia/PB na 47° Reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 40 De acordo com Oliveira (2002, p. 74), “os recursos necessários para o funcionamento do IPHAEP viriam do Fundo Estadual de Cultura, ficando ao encargo do Conselho Estadual de Cultura que teria um prazo de trinta dias para a elaboração do regulamento de funcionamento do Instituto”. O órgão teve vários problemas no início de seu funcionamento, “principalmente porque a Secretaria de Educação e Cultura não tinha verbas destinadas ao funcionamento do IPHAEP, não existia pessoal qualificado e conhecedor do ofício e muito menos uma sede para abrigar o Instituto” (Oliveira, 2002, p. 77). Além disso, mesmo que o IPHAEP se espelhasse nas ações do órgão nacional, não havia ainda uma legislação que regulamentasse seu funcionamento e ações. A indicação de pessoas que iriam compor o Conselho Consultivo era feito pelo professor Linduarte Noronha, o que foi feito considerando seus laços de amizade. Além das discussões sobre as dificuldades em se trabalhar com tão poucos recursos, falta de estrutura, pessoal, entre outros, o Conselho discutia sobre as possibilidades de tombamento, a exemplos de Baía da Traição, Ilha do Tibiri, as Igrejas da Paraíba, Parques de Flora Medicinal nas principais cidades do Estado e a Av. General Osório (Oliveira, 2002, p. 82). Fica evidente então, que não eram só privilegiadas as construções de “pedra e cal” como eram no início do funcionamento da política voltada para a preservação do patrimônio no país. Apesar disso, a variedade de propostas ocasionavam discussões a respeito de a quem caberia a palavra final sobre o tombamento, que posteriormente coube ao Conselho Cultural. Foram iniciativas do IPHAEP: um convênio com a UFPB para a elaboração e execução do levantamento do Acervo Arquitetônico dos Monumentos Históricos do Estado da Paraíba; a proposta para a criação do Museu da Imagem que reproduziria quadros de pintores paraibanos (o que não saiu do papel); o mapeamento da Bacia do Rio do Peixe, em Sousa, para o tombamento da área onde se encontram os vestígios de pegadas de dinossauros; convênio com a Prefeitura Municipal de João Pessoa, a qual obrigava-se a consultar o órgão em caso de qualquer reforma, demolição ou alteração de edificações que constassem na Zona de Preservação Rigorosa ou apresentassem características arquitetônicas ou históricas dignas de preservação (Oliveira, 2002, p.8283). Percebe-se que houve uma concentração de intervenções na cidade de João Pessoa, que contava já com 800 imóveis tombados, como também uma preocupação centrada principalmente na arquitetura, que passou a fazer parte dos pareceres e foi determinante para futuros tombamentos. Os estilos que mais se destacaram nessas Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 41 intervenções foram o Belle Époque, o Neoclássico, o Art Nouveau, o Colonial, o Cubismo e o Regionalismo (Oliveira, 2002, p. 84). Mesmo centrado no viés arquitetônico, o órgão dedicou atenção à proteção ambiental, com a aprovação, em 16 de dezembro de 1976, do Projeto de Lei Complementar n° 12, que regulamentava e fiscalizava as construções na área do Altiplano Cabo Branco e na Praia do Seixas7. O IPHAEP se deparou com algumas dificuldades, entre elas, a especulação imobiliária. Além do mais, o local era (e ainda é) alvo de projetos para a exploração turística. É no referido local que será implantado o Centro de Convenções de João Pessoa. Há ainda a proposta de construção de 19 hotéis com capacidade para 3.150 leitos para o local, mesmo este sendo uma APA (Área de Proteção Ambiental) de acordo com plano diretor da cidade (Cabral, 2005, p. 11). A orla marítima também passou a contar com a jurisdição do órgão a partir do Decreto-Lei n° 9483, de 10 de maio de 1982. O mesmo regularizava o uso do solo em relação a construções, loteamentos e urbanização nas áreas compreendidas entre 300 e 500 metros da orla. Como o Parque Estadual do Altiplano Cabo Branco não saiu do papel, ocorreu o destombamento da área que era destinada ao mesmo, como também as atribuições do IPHAEP sobre a faixa da orla marítima. Isso de acordo com o Decreto n° 11.204, de 22 de janeiro de 1986, que revogava os Decretos de n° 9.482 e 9.483, de 13 de maio de 1982. O documento assinado pelo então Governador Wilson Leite Braga, “(...) colocava o direito de propriedade acima da função social do bem e informava que a intervenção governamental na propriedade privada não pode exceder aos limites constitucionais (...)” (Oliveira, 2002, p. 89). Posteriormente veio o Decreto-Lei n° 9.484 (de 13 de maio de 1982) que delimitava a área do Centro Histórico Inicial de João Pessoa, fruto do convênio entre o Governo da Paraíba e o Governo Espanhol, devido ao fato de João Pessoa ter sido fundada na época da União Ibérica. O Decreto-Lei n° 12.239, de 24 de novembro de 1987, criou a Comissão de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa, que antes integrava o Gabinete de Planejamento e Ação Governamental, passando ela a fazer parte da estrutura organizacional do IPHAEP no ano de 1991, de acordo com a Lei n° 5.357, datada de 16 de janeiro. No governo de Ronaldo Cunha Lima, em março de 1991, assumiu a diretoria do IPHAEP Edivanira Toscano de Oliveira Moraes, após 17 anos em que o professor 7 Inclusive foi proposta a criação do Parque Estadual do Altiplano Cabo Branco, tendo Roberto Burle Marx sido convidado para executar a organização paisagística do mesmo. Para maiores detalhes em relação àquela área ver Oliveira (2002). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 42 Linduarte Noronha esteve à frente do órgão. Foi nessa gestão que ocorreu o episódio do Shopping Casa Grande, na Praça da Independência, em João Pessoa, que por se encontrar em área de preservação demarcada, deveria ter autorização do órgão para qualquer intervenção em se tratando de obras. Porém, as obras foram iniciadas mesmo sem autorização e fora do expediente normal, sendo embargada mais tarde por conta de uma denúncia de um funcionário do IPHAEP. Edivanira Toscano foi exonerada em 10 de maio de 1997, ficando em seu lugar Eulina Almeida Lira Nóbrega, que exerceu o cargo até 30 de maio de 1998. Em sua gestão, temos o retorno dos tombamentos realizados pelo IPHAEP após 17 anos, representado pelo prédio da Reitoria da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande. A partir daí, o IPHAEP disporia de uma documentação formal contendo os registros dos motivos pelos quais os bens patrimoniais deveriam ser tombados. Posteriormente, na gestão de Rui Cezar de Vasconcelos Leitão, de 30 de maio de 1998 até 25 de janeiro de 1999, temos o tombamento de importantes monumentos como, o Theatro Santa Roza, a Basílica de Nossa Senhora das Neves, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, e a Igreja de São Frei Pedro Gonçalves. Rui Cezar foi substituído pelo professor Francisco de Sales Gaudêncio, docente do Departamento de História da Universidade Federal da Paraíba. A gestão de Gaudêncio foi caracterizada pelo crescimento do número de tombamentos, totalizando vinte imóveis. Apesar disso, foi preciso esperar vinte e seis anos, desde a fundação do IPHAEP, para se realizar o tombamento de bens não imóveis: uma pintura de óleo sobre madeira representando a Assembléia de Pacificação, de autoria do paraibano Flávio Tavares, e um painel em aço escovado representando a Pomba da Paz, de autoria do paraibano Raul Córdula. Ambas se encontram na Assembléia Legislativa do Estado (Oliveira, 2002, p. 95). Com a gestão do professor Itapuan Bôtto Targino, a partir de 07 de abril de 2001, o IPHAEP passa a ter uma atuação mais dinâmica, com a interiorização das práticas preservacionistas, onde se verifica um aumento considerável de intervenções fora de João Pessoa, a delimitação de centros históricos em várias cidades e a realização de tombamentos temáticos, a exemplo das estações ferroviárias. Uma notícia veiculada recentemente na internet mostrou que várias instituições estão engajadas em debater formas de desenvolvimento para o Centro Histórico de João Pessoa, sugerindo até que o mesmo chegue à condição de Patrimônio da Humanidade, como ocorreu recentemente com São Luís, no Maranhão. Já a cidade de Areia foi reconhecida recentemente como Patrimônio Nacional pelo Ministério da Cultura. O centro histórico da cidade possui desenho que remete à primeira fase do período republicano. Além do conjunto urbano Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 43 com casarões do final do século XIX e início do XX, a cidade se faz notável pela sua história e por ser berço de notáveis personalidades de reconhecimento nacional e internacional. Desde 1987, um convênio firmado entre os governos brasileiro e espanhol resultou no Projeto de Restauração e Revitalização do Centro Histórico de João Pessoa. Na primeira etapa do processo de restauração, pode-se dizer que o carro-chefe foi a Praça Antenor Navarro, porém em todo o processo, não houve um comprometimento na consolidação entre o setor público e a iniciativa privada, como também não foi abordada a estrutura urbana num sentido macro. Essas devem ter sido umas das razões para o fato do esquecimento em que se encontra hoje a praça Antenor Navarro, que por não ter havido um planejamento que abordasse principalmente a comunidade do entorno, levou à não sustentabilidade da atividade turística na área. A próxima etapa do processo de restauração e revitalização do centro histórico está orientada para o Porto do Capim, no qual constam no projeto a revitalização do leito do rio Sanhauá, construção de piers que serviriam de atracadouros, construção de uma praça de eventos e lazer, um centro de apoio aos turistas, entre outros (Cabral, Guerra & Melo e Silva, 2005, p. 8-9). Verifica-se que os bens tombados possuem características de traços suntuosos, a exemplo das edificações, que procuram lembrar feitos da “História Oficial”. Assim, são bens que representam uma elite, que procura resguardar fatos e personagens que foram importantes na construção da História do Estado: “Quando não na representação dos chamados homens de bem, baseiam-se nos atos realizados ou nas homenagens propostas a determinados empreendedores e homens de cultura...” (Oliveira, 2002, p. 102). Após o Compromisso de Salvador, houve uma maior divulgação em relação à preservação do patrimônio através de restaurações, criação de museus além da inauguração do Hotel Tambaú e reforma da Estação Termal Brejo das Freiras, aliando a questão da preservação ao turismo, como parte integrante das potencialidades turísticas do Estado. Segue abaixo tabela com os bens patrimoniais tombados no município de João Pessoa: Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 44 QUADRO 2 BENS IMÓVEIS TOMBADOS PELO IPHAEP EM JOÃO PESSOA DESCRIÇÃO DATA DE TOMBAMENTO Antigo Prédio dos Correios e Telégrafos 26/08/1980 Associação Paraibana de Letras 26/08/1980 Balaustrada e casarões da Av. João da Mata 26/08/1980 Biblioteca Pública do Estado 26/10/1980 Casarão dos Azulejos 26/08/1980 Casarões n° 265 e 366 da Rua da Areia 26/08/1980 Comando Geral da Polícia Militar 26/08/1980 Coreto da Praça Venâncio Neiva 26/08/1980 Fazenda Ribamar (Boi-Só) 26/08/1980 Hotel Globo 26/08/1980 Liceu Paraibano, Instituto de Educação da PB e Escola de Aplicação 26/08/1980 Palácio da Redenção 26/08/1980 Palácio do Bispo 26/08/1980 Palácio do Tribunal da Justiça 26/08/1980 Parque Arruda Câmara 26/09/1941 (IPHAN) 26/08/1980 (IPHAEP) Parque Solon de Lucena 26/08/1980 Praça da Independência, Coreto e Obelisco 26/08/1980 Prédio da Faculdade de Direito 26/08/1980 Prédio do Núcleo de Arte Contemporânea - NAC/UFPB 26/08/1980 Sobrado do Conselheiro Henriques 26/08/1980 Prédio da Associação Comercial da Paraíba 26/08/1980 Sede do IPHAEP 26/08/1980 Palacete da Praça da Independência 26/08/1989 Academia de Comércio Epitácio Pessoa 02/12/1998 Igreja de Nossa Senhora do Carmo 02/12/1998 Igreja de Nossa Senhora do Rosário 02/12/1998 Igreja de S. Frei Pedro Gonçalves 02/12/1998 Teatro Santa Roza Fonte: Oliveira (2002, p. 104-132). 02/12/1998 3.3. POLÍTICAS E PRÁTICAS EM ÁREAS REVITALIZADAS Embora o Decreto-Lei Federal n° 25/ 1937 reflita as concepções e preocupações da época, este continua a ser, ainda hoje, o fundamento da proteção do patrimônio cultural brasileiro. O mesmo protege basicamente a integridade e a visibilidade do monumento, mas não o seu uso social e econômico. Além do mais, nem sempre a lei é cumprida. Não dispomos, portanto, de nenhuma legislação específica sobre Centros Históricos com os instrumentos legais e administrativos que possibilitem uma política mais eficiente de reabilitação urbana dos mesmos. Há uma evidente desarticulação nas Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 45 ações do instituto responsável pela preservação do patrimônio no país. Além do mais, o Poder Público Municipal, possui poucas condições de fiscalizar e regular tais ações por conta da descontinuidade das ações provenientes das mudanças de governo. Pode-se citar diversos problemas que ocorrem em áreas históricas urbanas, como conseqüências de um mau planejamento e uma má gestão. Uma das maiores dificuldades é a falta de acessibilidade a essas áreas em muitas cidades. Para que seja feito o resgate de algumas das funções tradicionais do local a ser revitalizado, bem como a introdução de novas, é preciso recuperar a acessibilidade ao local, não contemplada no contexto das novas redes de transporte urbano. Esse é um fator importantíssimo para a consolidação da função administrativa municipal, para os serviços, incluindo o turismo, e para a fixação de uma população de poder aquisitivo médio. Além disso, as atuais políticas de preservação deveriam voltar-se também para a melhoria de fatores que promovam a qualidade de vida da população e não apenas ao patrimônio edificado e cultural, como se fosse ignorada a dinamicidade desses lugares. As áreas preservadas ou aquelas candidatas a um projeto de restauração/revitalização fazem parte de um todo que constitui uma rede urbana. Não podem ser tratadas como uma área estagnada, protegidas por uma redoma de vidro. Tanto o Governo Federal como o governo de alguns estados dispõe de programas de incentivos fiscais à cultura, que são muito utilizados para a produção de espetáculos, mas pouco usados na conservação e valorização do patrimônio. Os espetáculos, ainda que de baixo custo, projetam rapidamente os patrocinadores na mídia, o que não acontece com as obras de restauração, mais custosas e demoradas. É importante que haja uma política de preservação do patrimônio histórico que transcenda simplesmente a criação de centros culturais. Atualmente são muitos os edifícios tombados (ou em processos de tombamento) destinados apenas para esse fim. É preciso buscar outras atividades para esses imóveis. Como também não adianta apenas tombar e “congelar” o prédio. Atualmente essa postura é parcial, pois já existe uma série de edifícios tombados, o que é preciso é que eles não venham abaixo. É importante promover a atualização e a modernização dos prédios tombados, inclusive para uso residencial, ao mesmo tempo em que não se tornem edificações-fantasma, mas sim ocupados por atividades adequadas. Arte, cultura e patrimônio arquitetônico e histórico têm sido alguns dos principais alvos do turismo em todo o mundo. O patrimônio artístico de um povo é a expressão viva de sua identidade social. A cada ano, são movimentados milhões de dólares a partir Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 46 da busca de turistas por locais históricos, patrimônios artísticos e legados culturais. Como um dos objetivos principais para a recuperação dessas áreas é a atividade turística cultural, esta muitas vezes passa de uma das metas a função exclusiva da área, exigindo o afastamento de outras atividades e moradores. Os centros históricos têm sido tratados, durante as últimas décadas, como uma entidade territorial autônoma, administrada pelo Estado, em meio a uma área urbana degradada e pobre. O turismo faz com que o local se torne um atrativo, o que geralmente culmina com a oferta de serviços relativamente onerosos para a população local. Isso acaba por afastar a comunidade local, ou a faz exercer atividades informais em troca de alguns trocados (Chauí, 1992, p. 42). Evidentemente, não se nega a importância do turismo no mundo contemporâneo e o papel que o mesmo teve nos projetos de restauração. Mas ele deve ter a comunidade local como uma aliada no processo de revitalização local. A re-introdução de uma população fixa e serviços correlatos no centro histórico criaria uma economia local mais consistente e menos dependente de fatores externos, onde atividades produtivas nãopoluentes, como as confecções e ateliês de cooperativas artesanais, poderiam conviver no mesmo quarteirão com serviços modernos, o chamado terciário superior, e produtores culturais diversos. Precisamos oferecer uma diversidade de serviços nessas áreas, que façam com que as pessoas voltem a freqüentar o lugar em razão dos mais variados motivos. Artes e cultura devem vir a ser um caminho para o progresso e a geração de novos empregos para a comunidade local, além de possibilitar o desenvolvimento de áreas do entorno da cidade. As possibilidades de ampliação do setor econômico se concretizam na medida em que o patrimônio artístico, cultural e histórico possa atrair turistas, gerar oportunidades de novos negócios, distribuir renda e criar percepção de que este ramo de atividades pode se tornar um empreendimento lucrativo, podendo inclusive, mudar a relação do Estado para com a cultura, tradicionalmente relegada a segundo plano na lista de prioridades. É dever do governo o resgate do patrimônio artístico e cultural devendo o mesmo ser bem planejado, pensado a partir de termos éticos, economicamente coerentes, e seguindo os parâmetros de políticas que gerem sustentabilidade, enfrentando o desafio da educação ambiental com novas técnicas metodológicas de conhecimento e, principalmente, na conscientização da sociedade. Faz parte de um processo enorme que evidencia os esforços de uma sociedade para a conservação e a recuperação da memória e manutenção de sua identidade. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 47 Embora as leis referentes à proteção do patrimônio estabelecidas na década de 30 reflitam as concepções e preocupações da época, este continua a ser, ainda hoje, o fundamento da proteção do patrimônio cultural brasileiro. O mesmo protege basicamente a integridade e a visibilidade do monumento, mas não o seu uso social e econômico. Isso significa que não basta apenas tombar o bem, é preciso criar condições para que ele tenha novos usos, daí a atividade turística ser um importante aliado nessa questão. O importante é que a comunidade local não seja excluída desse processo, pois não se pode imaginar que apenas essa atividade, em grande parte sazonal, possa ocupar e sustentar as áreas de centros históricos. Qualquer atividade que não leve em consideração a participação dos moradores do entorno não se baseia nas condições que a remetem a uma atividade sustentável. *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 48 4. O CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA 4.1. A HISTÓRIA: DE CONVENTO FRANCISCANO A CENTRO CULTURAL A história da Paraíba, em seus primórdios, está intimamente relacionada à ação dos franciscanos, já que os mesmos chegaram com os primeiros conquistadores. Pertenciam à Ordem fundada por São Francisco de Assis e chegaram ao Brasil por volta de 1587. A presença deles em nossa província foi um prolongamento da atuação da Ordem no Nordeste brasileiro. Vieram eles com espírito missionário e aqui deixaram a marca indelével de usa ação, seja no aspecto catequético, seja, posteriormente, na presença estritamente monástica, em desdobramentos de ação educacional e artísticocultural. (Burity, 1988, p. 21) Segundo Nóbrega (1974, p. 13), os franciscanos recém-chegados à Paraíba receberam terreno de Frutuoso Barbosa para a construção de seu convento, que depois viria a hospedar o célebre historiador e religioso Frei Vicente de Salvador. Projetado pelo frade e arquiteto Francisco dos Santos8, a construção do convento foi iniciada em 1589, pelo Irmão Francisco do Campo Mayor. Segundo Burity (1988, p. 27), eram insistentes os apelos da Câmara e do povo para que fosse realizada a construção do convento, tanto que o primeiro Custódio do Convento de Olinda, Frei Melchior de Santa Catarina, viera pessoalmente à recém-fundada cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves para estudar a viabilidade da instalação dos franciscanos na sede da Capitania Real da Paraíba. Esses apelos se justificavam devido à insegurança e medo dos habitantes, alimentados pelas freqüentes hostilidades dos indígenas. Assim, por volta de 1589, os franciscanos construíram um pequeno convento de taipa que durou cerca de dez anos. De início o prédio era uma casa com doze celas e claustro, tendo frei Francisco do Campo Mayor como o primeiro guardião (Burity, 1988, p. 27). As construções franciscanas desenvolvidas no Brasil se baseavam em tradições medievais originárias de Portugal, inerente aos hábitos da ordem mendicante dos Frades Menores. Assim, seus conventos eram construídos com os recursos obtidos através de esmolas e doações e a mão-de-obra dos irmãos leigos e religiosos, além dos índios, os negros escravos e os voluntários (Campello, 2001, p. 85). 8 “As crônicas da época são unânimes em afirmar que ele se tornou o maior e o mais entendido arquiteto da Custódia de Santo Antônio do Brasil” (Burity, 1988, p. 32). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 49 No convento da Paraíba, “posteriormente, vão surgindo as suas novas linhas arquitetônicas, as quais, no correr do século XVII, tomam a sua forma definitiva para, no século seguinte, atingir o apogeu de sua beleza barroca, com a construção da igreja” (Burity, 1988, p. 28). Porém, por volta de 1593, as obras foram interrompidas, por conta de atritos entre o governador Feliciano Coelho de Carvalho, sucessor de Frutuoso Barbosa, e os franciscanos. Esses conflitos só iriam cessar por volta de 1600. O período compreendido entre 1589 e 1619 representa uma fase eminentemente catequética e de pacificação dos indígenas. Depois disso, a ação missionária dos franciscanos se torna mais conventual, já que os mesmo passam a se limitar ao culto divino e administração dos sacramentos. E até os ideais de pobreza e simplicidade, característicos dos franciscanos, se enfraquecem, dando lugar a uma preocupação com as construções monumentais, “... até atingirem o fausto e o esplendor da arte barroca do século XVIII” (Burity, 1988, p. 29). A partir de 1602 inicia-se a construção em pedra que, à época do domínio holandês, entre 1634 e 1654, já tinha sua maior parte concluída. Na ocupação holandesa9, o local foi convertido em “Asilo ou Refúgio dos Mercadores Neerlandeses, servindo depois de Paço Governamental” (Nóbrega, 1974, p. 15). Segundo Elias Herckmans10, fez-se pois uma trincheira em torno dele com uma bateria que se colocou diante da igreja para dominar a entrada ou avenida. Presentemente alojam-se nesse convento o diretor da Capitania e os soldados que estão aí de guarnição. (Herckmans, 2004, p. 65) Utilizado para tantas finalidades, o conjunto foi deixado pelos holandeses em condições precárias. Havia que se tomar urgentes providências no sentido de recuperálo. Após a volta do domínio pelos portugueses, começaram as obras de recuperação, entre 1655 e 1657, sob guarda de frei Manoel dos Mártires. De 1682 a 1708 foi sede do noviciado da Província de Santo Antônio do Brasil (setor norte) e Seminário Menor que recebia alunos de toda a região (Nóbrega, p. 1516). No início do século XVII é que começam as grandes reformas para ampliação, embelezamento e monumentalidade do templo. As datas inscritas no frontispício (1779), na torre sineira (1783) e no muro do adro (1788) indicam o término das transformações pelas quais passou o conjunto. Transformações que dominaram quase 9 Burity (1988, p. 41-45) relata alguns exemplos de frades franciscanos que participaram ativamente na luta contra os holandeses. 10 Em Descrição Geral da Capitania da Paraíba, de 1639. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 50 todo aquele século. Mas as obras não pararam por aí. Aos poucos e ao longo dos anos, cada guardião do convento ia recuperando ou acrescentando alguma coisa que viria a enriquecer o conjunto. De 1702 a 1703, sob a guarda de frei Hilário da Visitação, inicia-se um dos mais importantes períodos da arte barroca na Paraíba: a continuação das construções do convento e da igreja, que se deram de forma lenta até fins do século XVIII. As obras que expressam o esplendor dessa arte são, de fato, executadas durante o século XVIII, como, por exemplo, as pinturas do forro da igreja e das capelas, os azulejos interiores, o cruzeiro, a entrada monumental, o frontispício, a torre, a fonte de Santo Antônio, etc. (Burity, 1988, p. 51) A fonte de Santo Antônio foi concluída em 1717, uma das quais abastecia a cidade. E segundo Burity (1988, p. 53), em 1734 ocorreu “a sagração da igreja do convento, chamada Igreja de São Francisco, feita pelo Bispo de Pernambuco, D. Joseph Fialho”. A sagração foi feita mesmo sem a mesma ter sido concluída. Fato notável que envolveu a Ordem foi o crime cometido por um frade franciscano, em meados de 1801. O frade José Lopes teria assassinado uma mulher chamada Thereza, com quem vivia, na Bica dos Milagres, localizada no sítio dos frades de São Francisco. O crime teria sido denunciado pela filha da mulher que presenciou o ato. Constatado o crime por ciúmes, o assassino foi condenado à prisão perpétua no convento da Bahia (Pinto, 1977 apud Burity, 1988, p. 58). Em fins de 1859, o convento passa por um período de obras, como forma de preparativos para a visita do Imperador D. Pedro II. O conjunto foi tomado pelo Governo, de 1885 a 1894, e nele passou a funcionar a Escola de Aprendizes Marinheiros e um hospital militar. Também serviu de sede à Escola de Ensino Mútuo e ao Quartel de Artilharia, além de abrigar os retirantes da seca de 1877. Fato interessante é o que nos revela Burity: Conforme fontes advindas do Cônego Florentino Barbosa, a ocupação do convento pelo Governo prendia-se, ainda, à reforma do Ministro Joaquim Nabuco, que se esforçou em realizar uma reforma nas ordens religiosas brasileiras, em concordata com a Santa Sé. Como medida preventiva e temporária, cassou, de início, a entrada de noviços nas ordens religiosas. Em conseqüência, os conventos foram se despovoando e muitos caíram no mais completo abandono. Os efeitos se fizeram sentir sobre o Convento de Santo Antônio da Paraíba que, aos poucos, também foi se despovoando. (Burity, 1988, p. 105) Os franciscanos aí viveram até 1885, o que representou quase 300 anos de trabalho que fez do convento um importante centro de irradiação missionária para toda a Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 51 Paraíba. Em relação aos escravos no convento da Paraíba, poucas vezes se fala da presença deles. De acordo com algumas fontes, há citações afirmando que haviam escravos nos conventos, os quais residiam em senzalas vizinhas. A justificativa estaria no fato da insuficiência de frades para todas as atividades de manutenção do convento, já que a Ordem vivia exclusivamente das esmolas obtidas junto aos fiéis caridosos. Criada a Diocese da Paraíba, desmembrada de Olinda, seu primeiro bispo Dom Adauto de Miranda Henriques, em 1894, conseguiu reavê-lo com a finalidade de iniciar o Seminário e Colégio Diocesano Pio X , permanecendo até o ano de 1965 antes de ser transferido para edifício próprio. (Nóbrega, 1974, p. 16). Por 70 anos - de 1894 a 1964 o convento foi casa de formação sacerdotal, acolhendo alunos de muitas dioceses da região. Em 1968 o conjunto franciscano passou por uma restauração superficial em alguns ambientes para abrigar o Museu Escola e Sacro do Estado da Paraíba e, em 1979, foi fechado para o início dos trabalhos de restauração que se estenderam pela década seguinte. Antes disso, contudo, o complexo franciscano passou por outra intervenção realizada pelo IPHAN, entre 1939 e 1943, antes mesmo da oficialização do tombamento, realizado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional de acordo com a Inscrição número 407, a fls. 78 do Livro do Tombo das Belas-Artes, volume I, através do Processo número 63-T, em 16 de outubro de 1952. Entre meados de 1979 a maio de 1982, passou por um importante processo de restauração, tanto no aspecto arquitetural como na estatuária, pintura, talhas e cantarias. A restauração foi executada pelo Governo do Estado, através da Fundação Cultural do Estado da Paraíba, com orientação técnica da Subsecretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e da Fundação Pró-Memória. (Burity, 1988, p. 22). Após esse processo de restauração em sua estrutura e parte de sua decoração, o conjunto foi reaberto como Centro Cultural de São Francisco, em 6 de março de 1990. 4.2. UM TEMPLO MONUMENTAL O conjunto franciscano de João Pessoa, composto pela Igreja de São Francisco e Convento de Santo Antônio11 é, sem dúvida, uma das obras mais representativas do barroco brasileiro do século XVIII. Grandiosidade é uma palavra que define bem o local 11 Apesar da invocação da Igreja ser dedicada, comprovadamente, a Santo Antônio, a população local desde há muito tempo denomina a Igreja como de São Francisco e, por isso, hoje se continua a respeitar esse uso, enquanto o Convento sempre foi conhecido por sua invocação original, isto é, Santo Antônio. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 52 em todos os aspectos. Possui uma área construída de mais de 5000 m² que, com o sítio, chega a uma área de seis hectares. Segundo Elias Herckmans, em sua Descrição Geral da Capitania da Paraíba (2004, p. 65), o Convento de São Francisco é o “maior e mais belo; está cercado de um muro, e por dentro foi construído mui regularmente”. Muitos autores se referem ao conjunto tratando de sua arquitetura. Tomemos o exemplo de Nóbrega: Vestuta e suntuosa, a Igreja da Santo Antônio representa, em nossa Pátria, uma das mais autênticas manifestações do barroco, assim pela riqueza encantadora de sua concepção artística, como pelo equilíbrio dimensional de suas linhas. (Nóbrega, 1974, p. 15) Fig. 1 - Fachada da Igreja São Francisco: perfeita simetria entre os elementos arquiteturais. Foto: Ana Karina Pereira Cabral (2005). Tratando de sua arquitetura, Bazin (1983, v. 1, p. 147-156) analisa as fachadas triangulares compostas por três pavimentos de larguras decrescentes, acompanhadas das torres recuadas e precedidas por um adro, comum nas igrejas dos conventos franciscanos da região Nordeste do Brasil. Fato curioso e que representa o caráter de ineditismo dessas construções é que esses elementos não só partem de uma concepção decorativa, mas apresentam uma organização espacial. Essa composição arquitetural é uma característica inteiramente brasileira, porém procurando se ater aos elementos Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 53 formais com antecedentes portugueses. Assim, Campello (2001, p. 43) se refere ao Convento de Santo Antônio, em João Pessoa, como: o exemplo extraordinário dessa linha evolutiva da arquitetura religiosa feita no Brasil, especificamente no Nordeste, entre os séculos XVII e XVIII. Ele integra o pequeno grupo de conventos franciscanos que não só por seus aspectos morfológicos, mas sobretudo por suas peculiaridades espaciais e orgânicas, e pela integração num só complexo, sob a égide de uma nova unidade, de elementos barrocos, tradicionais e populares, exprimem, a meu ver, uma manifestação de arquitetura brasileira: resultado da adaptação aos trópicos de temas culturais portugueses e produto de uma sociedade heterogênea, de extrato popular, híbrido, ansiosa por se expressar. Fig. 2 - Detalhe da Capela Dourada com destaque para a presença de elementos zoomorfos e fitomorfos. Fonte: Burity, 1988, p. 124. Nas palavras de frei Vicente de Santa Maria Jaboatão12, referindo-se à Igreja, “... o seu frontispício é o mais vistoso, não só de todas as nossas Igrejas, mas ainda das que por esta parte se acham” (Jaboatão, 1761 apud Nóbrega, 1974, p. 17). Já outro autor assim se refere ao conjunto: “... Não precisa ser-se nenhum mestre de arte para sentir que a egreja de S. Francisco, da Parahyba, é um dos monumentos mais ricos da arte religiosa do Brasil” (Montenegro, 1938 apud Nóbrega, 1974, p. 74). 12 Professor de Teologia no Convento Franciscano da Bahia e de Filosofia, no da Paraíba. Foi ainda guardião das casas mantidas pela Ordem Franciscana na Paraíba e Pernambuco, Secretário do Ministro, definidor e cronista oficial da Província Eclesiástica da Ordem Franciscana. Uma das figuras mais proeminentes da Ordem Franciscana no Brasil, exerceu por duas vezes a guardiania do Convento de Santo Antônio da Paraíba, de 1741 a 1742 e de 1751 a 1753 (Burity, 1988, p. 55). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 54 No Brasil, sente-se a influência barroca portuguesa nas construções coloniais até o século XIX. Porém, os construtores trataram de adaptar elementos regionais na edificação de conventos e igrejas, refletindo o espírito tropical do Brasil (Burity, 1988, p. 68). São muitos os detalhes arquiteturais e esculturais que compõem o conjunto franciscano de João Pessoa, por isso farei uma breve descrição de alguns elementos. Para maiores detalhes existem várias bibliografias que tratam sobre o barroco na Paraíba e, mais especificamente sobre o templo franciscano. Do ponto de vista dos ornamentos, os franciscanos se diferem dos carmelitas pelo uso de elementos antropomorfos e zoomorfos, como anjos, fênix, hipogrifos, sereias, pelicanos e cariátides. Os carmelitas costumavam usar elementos fitomorfos, a exemplo de ramos, folhas e frutos da região13. O cruzeiro, todo em pedra, localizado na frente do adro, representa um prenúncio da monumentalidade do conjunto mesmo antes de se adentrar no mesmo. O cruzeiro diante das igrejas serve para exprimir o símbolo e a força do cristianismo e o culto dos franciscanos a tudo o que lembra a Paixão de Cristo (Burity, 1988, p. 72). Já o adro em forma de trapézio, monumental e simetricamente harmonioso, limita-se por duas muralhas em azulejos, já bastante desgastados pela ação do tempo. Nas paredes se encontram seis muralhas com painéis que representam cenas da Paixão de Cristo. Interessante é que o adro possui a extensão da altura da igreja, ou seja, da soleira ao ponto mais elevado da torre. O frontispício da igreja se apresenta majestoso, com uma simetria perfeita nas linhas que o compõem e apresenta cinco entradas arcadas em estilo românico. Segundo Bazin (1983, v. 1, p. 152), o mesmo representa uma das mais belas composições arquiteturais da América Latina. A torre sineira, solitária, é revestida de azulejos e se encontra recuada da fachada. Em cima da mesma se encontra uma peça metálica em forma de um galo, que indica a direção dos ventos. Sobre o ádito14 (característico das igrejas franciscanas), percebemos uma beleza e uma riqueza de detalhes, seja na forma arquitetônica, seja nos baixo-relevos esculpidos em pedra que emolduram a porta principal, esculpida em jacarandá. É de impressionar a grandiosidade dessas esculturas juntamente com as portas. Em vários recantos da igreja encontramos um sincretismo de elementos católicos, mitológicos e asiáticos. Na nave da igreja, chama atenção a beleza do forro, cuja pintura 13 Exemplo mais marcante da escola carmelita na Paraíba é a Igreja de Nossa Senhora da Guia, no município de Lucena. 14 Termo que definia uma câmara secreta nos templos cristãos antigos, com o passar do tempo passou a significar também o acesso ao interior da igreja, ou seja, sua porta ou portal. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 55 de 312 m2 datada da segunda metade do século XVIII, de autoria ainda não definida com clareza, traz cenas que materializam a glorificação da Ordem em uma apoteose ilusionista15. Observa-se que na pintura barroca há um dinamismo e movimentação das formas. Através de um efeito de perspectiva, as figuras dão a ilusão de serem palpáveis. Fig. 3 - O púlpito ricamente ornamentado, considerado um dos mais belos do Brasil. Foto: Ana Karina Pereira Cabral (2005). Do lado direito de quem entra se destaca na parece branca um riquíssimo púlpito, todo talhado em madeira de lei e recoberto por uma talha dourada. Já o coro, localizado no pavilhão superior, tem no seu centro uma moldura dourada com a imagem de Cristo Crucificado em tamanho natural. Forma um belo conjunto com o cadeiral de meados do século XVIII, onde se rezava o ofício diariamente. 15 Diversos autores paraibanos interpretam essas cenas. A esse respeito ver Nóbrega (1974, p. 115-121), Burity (1988, p. 78-87) e Oliveira (2003, p. 83-84). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 56 Fig. 4 - A Capela Dourada impressiona pela sua beleza e pela quantidade de detalhes, manifestação característica do barroco. Fonte: Burity, 1988, p. 124. De frente ao púlpito e perpendicular à igreja de São Francisco, encontra-se a Capela Dourada ou Capela Eucarística, originalmente dedicada à Ordem de São Benedito. Riquíssimo, o local encanta seus espectadores pela profusão de detalhes e suntuosidade dos elementos decorativos. Apresenta três altares: o principal é dedicado às chagas de São Francisco. Os outros dois, ao lado do principal, são dedicados a São Domingos e São Francisco da Penitência. Há ainda o altar da parede do lado esquerdo, dedicado a Nossa Senhora do Ó, e o do lado direito, dedicado a São Luís, rei de França. Próxima à Capela Dourada, do lado direito, há ainda a capelinha de São Benedito. Já a Capela da Ordem Terceira ou Casa de Exercícios era destinada aos retiros espirituais dos Irmãos Terceiros. É menos requintada, porém traz um belíssimo forro que representa a figura de São Francisco envolvido por um carro de fogo. Outros estudiosos atribuem a figura ao profeta Elias sendo arrebatado ao céu num carro de fogo. Ao centro dessa capela se encontra a entrada para a cripta funerária subterrânea, que por muitos anos povoou a mente dos moradores da cidade sobre ser a saída de um túnel, construídos pelos holandeses, que ligaria a Fortaleza de Santa Catarina, em Cabedelo, à capital. Por trás do altar-mor se encontra a sacristia, construída entre 1751 e 1752, onde se encontram dois arcazes, armário e lavatório de pedra calcária. O forro da mesma apresenta um painel pintado no mesmo estilo da nave, mas sem o mesmo valor artístico. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 57 Segundo informação dos guias locais, é o único lugar do convento onde o piso ainda é o original, feito de tijolo e pedra calcária e com alguns preenchimentos de mirra, utilizada para perfumar o ambiente. Fig. 5 - Capela da Ordem Terceira onde atualmente são celebradas missas aos domingos. Fonte: Burity, 1988, p. 126. Os azulejos de origem portuguesa que ornamentam a igreja, datados em sua maior parte da primeira metade do século XVIII, se encontram em diferenciados estados de conservação. Na nave da igreja temos representações da vida de José do Egito, em ótimas condições. Também revestem as paredes do adro e retratam cenas da Paixão de Cristo nos seis nichos, sem falar nos que ornamentam a parte externa da torre sineira, o ádito e o pátio interno do claustro, esses últimos ainda do final do século XVI e policromados em tons de amarelo e azul. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 58 Para finalizar a descrição dos principais elementos que compõem o conjunto, temos a Fonte de Santo Antônio. Datada do ano de 1717, situa-se no sítio anexo ao convento. Belo exemplo da arte barroca, era uma das fontes que abastecia a cidade antes de ser implantado o serviço de abastecimento de água. Esculpido em pedra, há um golfinho de cuja boca a água escorre, além de inscrições em latim que, traduzidas, revelam as seguintes palavras: “À POSTERIDADE: O que tu aprecias, ó leitor, indagas com que trabalho foi feito? O amor fraterno construiu essa obra com muito custo. 1717. Ó Fontes dizei um hino ao Senhor. Santo Antônio ora por nós” (Burity, 1988, p. 101)16. Fig. 6 - Azulejos portugueses que compõem as paredes da nave da Igreja de São Francisco e trazem a história de S. José do Egito. Fonte: Burity, 1988, p. 119. Não é difícil perceber que, ao longo dos anos, várias interferências, algumas até criminosas, foram feitas nas mais diversas partes do conjunto franciscano de João Pessoa. O silhar dos séculos, a ação erodente do tempo, ao lado da imperdoável e (por que não dizer?) criminosa indiferença dos poderes públicos e das autoridades eclesiásticas, bem assim a condenável cupidez de alguns particulares destituídos de sensibilidade estética, foram os fatores determinantes do desgaste, da deteriorização, do 16 A autora ainda nos traz mais duas traduções livres dessa inscrição. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 59 empobrecimento, enfim, do nosso preciosissímo acervo artístico, histórico e cultural. (Nóbrega, 1974, p. 27) Fig. 7 - Fonte de São Francisco: datada de 1717, era utilizada pela população da cidade para o abastecimento de água. Foto: Ana Karina Pereira Cabral (2005). O forro da nave principal já foi furado para dar passagem a fios (sem isolamento) de lâmpadas elétricas. Atualmente a iluminação é feita por holofotes localizados nas paredes laterais. O problema não só dessa luz incidindo diretamente para o forro, como também para outras partes da igreja, como o púlpito e os altares da capela dourada, é que com o tempo essa luz pode provocar o ressecamento das ornamentações, alterando sua composição. O altar-mor, juntamente com os entalhes em madeira que ornamentavam o arco principal da igreja, não mais existe. Era revestido por camadas de folhas de ouro e obedecia ao estilo barroco italiano. Por causa da ação já avançada do cupim foram removidos em janeiro de 1904, só restando sua lembrança em uma antiga e única foto que se encontra na secretaria do Centro Cultural. Hoje se percebe o quanto o atual altar contrasta com a igreja, já que nada mais é que um altar em alvenaria, sem nenhuma ornamentação que o enriqueça. A remoção do altar-mor “veio quebrar a unidade estética e arquitetônica da igreja que, hoje, ostenta apenas um vácuo e a recordação de uma decisão administrativa infeliz” (Burity, 1988, p. 90). Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 60 Fig. 8 - Detalhe do forro da nave: pintura datada da segunda metade do século XVIII, traz a glorificação da Ordem. Foto: Ana Karina Pereira Cabral (2005). Também foram substituídos os ornatos de azulejos e a xilopintura do forro da abside (Nóbrega, 1974, p. 71). O mesmo descuido ocorreu com os altares laterais. Estes foram dourados em 1753 pelo frei Manoel das Chagas. Posteriormente, suas talhas foram cobertas por tinta azul que escondeu todo o encanto original das peças. Documentado em fotos percebe-se que mesmo tendo ocorrido esse infortúnio com o altar-mor, não atentaram para se tentar salvar pelo menos os altares laterais. Deixaram mais uma vez que os cupins tomassem conta dos mesmos até ser tarde demais. Felizmente, esses altares laterais foram recuperados e restaurados recentemente. Um deles teve que ser todo refeito tendo o outro como modelo. Nem mesmo as suas imagens, preciosos ícones esculpidas em madeira, escaparam ao vendaval da destruição. Sem falar naquelas que desapareceram, as que ainda permanecem apresentam mutilações, trabalho criminoso de vândalos e iconoclastas. (Nóbrega, 1974, p. 88) Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 61 Fig. 9 - O Claustro do convento de Santo Antônio: sucessão de pórticos sustentados por colunas toscanas. Foto: Ana Karina Pereira Cabral (2005). A portaria era ricamente ornamentada, até 1897, quadros a óleo e quatro painéis que, segundo o Cônego Florentino Barbosa, foram destruídos durante uma das reformas para aproveitar a madeira para degraus de escadas17. Na sacristia, os pesados móveis em jacarandá já não apresentam mais os puxadores, que eram em bronze (Nóbrega, 1974, p. 89-91). Restam apenas uns três exemplares. Para finalizar, acredito ser bastante condizente um trecho do livro O turista aprendiz, em que seu autor, Mário de Andrade, relata sua impressão sobre o conjunto franciscano. Segue abaixo as palavras do modernista: Chego no pátio do convento de S. Francisco e paro assombrado. Eu já conhecia a igreja de fotografia porém fotografia ruim, péssima como todas as que tiram os fotógrafos do Brasil. (...) Estou assombrado. Do Nordeste à Bahia não existe exterior de igreja mais bonito nem mais original que este. E mesmo creio que é a igreja mais graciosa do Brasil – uma gostosura que nem mesmo as sublimes mineirices do Aleijadinho vencem em graciosidade. Não tem dúvida que as obras de Aleijadinho são de muito maior importância estética, histórica, nacional e mesmo as duas S. Francisco de Ouro Preto e S. João Del Rei serão mais belas, porém esta da Paraíba é graça pura, é moça bonita, é periquito, é uma bonina. Sorri. 17 Algumas tábuas desses painéis foram recuperadas nas obras de restauração da década de 80 e estão expostas junto à coleção de arte sacra, no próprio Centro Cultural São Francisco. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 62 O interior é irregular e já está bem estragado por consertos e substituições. Assim mesmo possui um púlpito, jóia de proporção e desenho. As pinturas também são excelentes. Um dos altares laterais completado no tempo, mostra também pinturas dum primitivismo inconscientemente plástico bem forte e bem cômico. Os azulejos são dos mais ricos que já vi, suntuosos. O pátio exterior é murado por eles também e mostra nichos com cenas da Paixão ainda em azulejos magnificamente desenhados e que assim, emoldurados pelos nichos e distantes uns dos outros, a gente pode isolar, contemplar e gozar bem. Na frente de tudo o cruzeiro é um monólito formidável. Estou assombrado. Paraíba possui um dos monumentos arquitetônicos mais perfeitos do Brasil. Eu não sabia... Poucos sabem... (Andrade, 1976, p. 313-314) Fig. 10 - Nave da Igreja de São Francisco: à esquerda vê-se o púlpito, à direita a entrada da Capela Dourada. À frente temos o coro sobre as entradas que dão acesso ao ádito. Fonte: Burity, 1988, p. 118. 4.3. O COMPLEXO COMO ATRATIVO TURÍSTICO Como não poderia deixar de ser, o local representa um dos principais atrativos turísticos da cidade de João Pessoa, por sua importância histórica e artística, atraindo Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 63 turistas de vários lugares como também estudantes dos níveis fundamental, médio e também universitário. Depois da restauração ocorrida entre meados de 1979 e de 1982, como já foi colocado, surgiram discussões acerca do uso que o local passaria a ter. Assim, depois de apresentadas algumas propostas, surgiu a idéia de criar uma entidade garantida com uma subvenção do Estado com direção nomeada pela Arquidiocese. A criação dessa entidade ficou acertada entre D. José Maria Pires, arcebispo da Paraíba à época, com o então governador Tarcísio de Miranda Burity, e foi então elaborado um Termo de Cooperação com a participação de várias instituições: Ordem Franciscana Secular, Governo do Estado da Paraíba, Prefeitura Municipal de João Pessoa, Universidade Federal da Paraíba, Fundação Joaquim Nabuco e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Porém a agilidade da abertura do Centro Cultural se deve à Lélia Coelho Frota, antropóloga, museóloga e curadora da grande mostra Brasil: Arte Popular, funcionária dos quadros do IPHAN. O Centro Cultural de São Francisco foi inaugurado, então, em março de 1990. Segundo publicação comemorativa dos 15 anos de seu funcionamento, o Centro Cultural recebeu mais de 280 mil visitantes desde sua inauguração, com uma média mensal de 18.617 pessoas entre os anos de 1990 a 2004. Esses visitantes estão distribuídos entre turistas, alunos de escolas, grupos pastorais locais e de educação popular, estudiosos de arte e história, artistas que expõem seus trabalhos nas dependências do conjunto, além dos moradores da própria cidade. Seguramente esse número deve ser maior, levando em consideração que até o ano de 1999 a visitação foi apurada com base nas assinaturas no livro de visitas (que sabemos que nem todos assinam). Apenas a partir do ano de 2000 é que o número de visitantes está sendo apurado através de um controle feito por meio de ficha específica. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 64 QUADRO 3 FLUXO DE VISITAÇÃO ANUAL NO CENTRO CULTURAL SÃO FRANCISCO (1990-2004) Ano Visitantes Estudantes (em grupos) Total Geral Média Mensal (por ano) 1990 11 113 2 430 13 543 1 505 1991 8 377 4 311 12 688 1 057 1992 10 879 3 384 14 263 1 189 1993 11 049 4 264 15 313 1 276 1994 9 941 4 372 14 313 1 193 1995 11 557 2 427 13 984 1 165 1996 9 939 2 111 12 050 1 004 1997 11 468 4 496 15 964 1 330 1998 12 468 4 559 17 027 1 419 1999 11 686 6 344 18 030 1 503 2000 19 679 9 325 29 004 2 417 2001 17 360 8 570 25 930 2 161 2002 15 144 11 570 26 714 2 226 2003 13 162 8 646 21 808 1 817 2004 17 948 10 676 28 624 2 385 Total 191 770 87 485 279 255 Fonte: Centro Cultural de S. Francisco (2005). 18 617 Pelos levantamentos anuais, chegou-se aos seguintes percentuais quanto aos visitantes no local: 15% do Estado da Paraíba, sendo destes 11% de João Pessoa; 45% de outros Estados; 27% de estudantes, em sua maioria da Grande João Pessoa; 13% de estrangeiros e de origem não declarada (Centro Cultural de S. Francisco, 2005). Atualmente, 40 funcionários trabalham no local distribuídos nos setores de Administração e Finanças, Arte e Cultura, Biblioteca, Guias e Monitores, Horto, Artesanato, Oficina de Restauração e Conservação e Manutenção Geral. A partir daí, o Centro mantém atividades como exposição do acervo permanente de arte sacra e arte popular, realização de exposições de arte contemporânea, concertos e recitais, desenvolvimento de projetos de arte-educação, possibilita acesso da comunidade aos livros da biblioteca, além de implementar trabalhos de conservação e restauração do monumento (edificação, bens integrados e sítio). No que se refere à arte e cultura, o local apresenta um acervo permanente de Arte Sacra representada pela arquitetura da edificação, pela arte de sua ornamentação em Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 65 talha dourada e policromada, pelas imagens em madeira e pedra, pela azulejaria portuguesa, pela pintura dos forros e pelo trabalho em pedra calcária. Já a Arte Popular é representada pela mostra permanente Brasil: Arte Popular, composta por mais 2000 peças originadas das mais diversas regiões do país. Inicialmente, essa mostra foi constituída para atender freqüentes consultas vindas do exterior, o que possivelmente remete a uma certa tendência na escolha das peças para representar a cultura brasileira, já que essa mostra foi criada para que “o Governo brasileiro pudesse apresentar o alto nível do espírito criador do homem brasileiro, na esfera da arte popular” (Centro Cultural de S. Francisco, 2005, p. 4). A mostra foi exposta em Paris e em Brasília, vindo para a Paraíba através do intermédio de Celso Furtado, então Ministro da Cultura. A Arte Contemporânea é representada pelas várias exposições temporárias realizadas no Centro. Tais exposições tiveram início apenas em 1999, sendo que o Projeto Artes Visuais foi iniciado no ano de 2000, com o objetivo de promover e divulgar a produção artística contemporânea através de sua exposição nos espaços barrocos do Convento. Outro objetivo desse projeto é proporcionar aos estudantes do ensino fundamental e médio a familiarização com o universo das artes, através da leitura e do fazer artístico. Até novembro de 2005 foram realizadas 52 exposições dos mais variados gêneros, com pinturas, esculturas, xilogravuras, fotografias, desenhos, objetos e cerâmica, totalizando um público de mais 21 mil pessoas nos últimos cinco anos do projeto. A biblioteca possui quase mil títulos entre livros nas áreas de Arte, História, Folclore, Antropologia, Museologia e ciências correlatas, guias, periódicos, folhetos e catálogos. Já a Oficina de Restauração e Conservação de Bens Móveis Integrados desenvolve os trabalhos de restauração e conservação das peças do Conjunto, além de prestar serviços a outras igrejas e monumentos de valor artístico e cultural e oferecer cursos para a comunidade. Por possuir uma área bastante ampla, o Centro Cultural de São Francisco utiliza uma parte de seu sítio para constituir uma horta de plantas medicinais. São mantidas cerca de trinta espécies medicinais que são apresentadas para o público visitante devido à sua importância fitoterápica e seu comprovado valor terapêutico. Já a Oficina de Artesanato e Manutenção produz objetos artesanais através do reaproveitamento de materiais que são comercializados na lojinha de artesanato do próprio Centro, sendo também responsável pela manutenção de máquinas, equipamentos e instalações da edificação. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 66 O Centro ainda realiza atividades de extensão, procurando atender a solicitações e desenvolvendo atividades fora do espaço do Conjunto Franciscano. Como exemplo podemos citar a reedificação e revitalização da Capela de Santo Antônio, em Cruz do Espírito Santo, município da várzea do Rio Paraíba, feita em 1997; a restauração do painel de boca de cena do Teatro Santa Ignez, em Alagoa Grande, feita em 1999; e a recuperação de parte das ruínas da Capela de Nossa Senhora de Bonsucesso, em Lucena, trabalho feito em 2001. Além disso, o Centro tem participado de eventos culturais, seminários e congressos, com destaque para o Congresso Patrimônio e Cidadania, promovido pela Prefeitura Municipal de São Paulo em 1992, na capital paulista, o Encontro Regional de Museologia, ocorrido em Maceió em 1993 e em diversas edições do FENART (Festival Nacional de Arte), em João Pessoa. No local ainda são realizadas missas na Capela da Ordem Terceira, sempre nos primeiros e terceiros domingos de cada mês, pela manhã. Desde 2004 e pelo menos até fins de 2005 não são realizados casamentos no local, por ordem do Arcebispo da Paraíba D. Aldo Pagotto. Mas, segundo informações dos próprios funcionários, os casamentos voltaram a ser realizados na Capela da Ordem Terceira. O Termo de Cooperação que instituiu o Centro Cultural São Francisco conta com o apoio do Governo do Estado, através da Secretaria de Educação e Cultura, como já foi colocado. Esta é responsável por repassar recursos financeiros para a Arquidiocese a fim de manter o quadro permanente de funcionários do local. Segundo o Pe. Ernando Teixeira (Centro Cultural de S. Francisco, 2005, p. 6), a Secretaria também é responsável por ceder professores e funcionários para as atividades de monitoria aos visitantes e de restauração. A Universidade Federal da Paraíba e a Prefeitura Municipal de João Pessoa também apóiam o Centro, através de funcionários e professores para o desenvolvimento de atividades de assessoramento técnico, elaboração e desenvolvimento de projetos pedagógicos e de restauração do monumento. Ademais, os recursos financeiros para as despesas com a conservação e a melhoria dos serviços ofertados e instalações do conjunto advém das atividades realizadas no local, principalmente da entrada cobrada aos visitantes. As outras instituições conveniadas apóiam de forma eventual na capacitação profissional dos servidores, através também da produção de eventos e impressão de material de divulgação. O centro recebe um considerável número de visitas. Principalmente às segundas, sextas, sábados e domingos são recebidos no local grupos de city tours realizados pelos Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 67 empresas de turismo receptivo de João Pessoa, além dos visitantes que procuram o local por conta própria em qualquer dia da semana. As visitas realizadas no local são guiadas por guias da própria instituição. Em observação a algumas dessas visitas percebi que as mesmas duram em média trinta minutos e são mostrados principalmente o claustro, a nave, o forro e o púlpito da Igreja São Francisco, a Capela Dourada, a Sacristia, a Capela da Ordem Terceira, o coro e um rápido passeio pelas exposições de arte sacra e arte popular. Pode parecer uma boa quantidade de lugares para se conhecer dentro do Centro, mas o fato é que essas visitas são feitas rapidamente. Inclusive há relatos de reclamações de visitantes que passaram apenas dez minutos em visita com guias do conjunto franciscano. Geralmente os visitantes não têm acesso ao horto e à fonte de São Francisco, além de não conhecerem o relógio de sol e outros elementos que compõem a arquitetura do monumento, em decorrência da falta de tempo e dos horários rigorosamente cronometrados dos city tours. Em pesquisa realizada com alguns visitantes nota-se que os mesmos são oriundos dos mais variados lugares. Destaque para as regiões Sul-Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Curitiba, Rio Grande do Sul) e região Nordeste (Aracaju, Maceió, Salvador, Natal, Fortaleza). No período de alta estação e férias (janeiro e fevereiro), registra-se também a visitação por parte de turistas estrangeiros (principalmente os de origem européia, como portugueses, italianos e espanhóis). Para os visitantes estrangeiros, a visita é acompanhada de um guia particular já que os guias do Centro Cultural não falam outros idiomas. Mas isso nem sempre acontece. Muitas vezes esses turistas fazem a visita por conta própria. Para a pergunta “Você acha que deveria mudar alguma coisa para melhorar a visita ao local? O quê?”, verificou-se os seguintes dados conforme gráfico abaixo: Gráfico 1 12% 32% 18% 38% Cuidados com preservação Iluminação dos ambientes Melhorar a segurança Aumentar o tempo de visita Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 68 Dentre os entrevistados, 38% responderam que para melhorar as visitas é preciso melhorar também a iluminação dos ambientes, onde é proibido tirar fotografias com uso de flashes: uma boa sugestão seria uma iluminação indireta que não prejudicasse os elementos decorativos e permitisse aos visitantes um bom aproveitamento das fotografias. Já 32% dos visitantes responderam que é preciso aumentar os cuidados com a preservação, a exemplo do comportamento que se deve ter no local. 18% responderam que é preciso melhorar a segurança dos objetos expostos no museu: os visitantes geralmente gostam de tocar o que é exposto e quando são crianças, aumenta o risco de algum desses objetos cair e ser danificado. Por fim, 12% responderam que é preciso aumentar o tempo da visita e explorar outros ambientes do convento, bem como permanecer mais tempo nos lugares já visitados. Já as respostas para a seguinte pergunta “O que mais lhe agradou ou chamou a atenção no local?” são mostradas logo abaixo no gráfico 2: Gráfico 2 7% 13% 45% Nave principal Capela Dourada Fachada da Igreja Convento e museu 35% Neste quesito, 45% dos visitantes responderam que gostaram do conjunto formado pela nave da Igreja de São Francisco com o forro, os azulejos e o púlpito, enquanto 35% responderam que o que mais chamou sua atenção foi a Capela Dourada, pela beleza das talhas e pela variedade de elementos decorativos, e 13% destacaram a fachada da Igreja de São Francisco, em conjunto com o adro e o cruzeiro. Apenas 7% dos visitantes englobaram tanto o convento, com sua arquitetura, como os objetos expostos no museu de arte sacra e contemporânea como o maior atrativo do local. Já para a questão sobre a avaliação do guia que conduziu a visita, ou seja, “Você achou que o guia prestou uma boa assistência ao grupo? Por quê?”, foi obtido o seguinte resultado: Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 69 Gráfico 3 12% Sim Deve melhorar Não opinou 18% 70% A maior parte dos visitantes, representada por 70 % dos entrevistados, declarou que o guia local prestou uma boa assistência ao grupo, mostrando e explicando sobre os elementos encontrados nos ambientes visitados, bem como respondendo aos questionamentos formulados. No entanto, 18% afirmaram que o guia deveria melhorar, no sentido de dar mais explicações e contar mais sobre a história do local, o que aumentaria o tempo das visitações. O restante dos visitantes preferiu não opinar sobre essa questão. Além desses itens, o questionário aplicado também procurava saber se as pessoas já tinham ouvido falar da Igreja de São Francisco de João Pessoa, e a grande maioria respondeu que não, destacando que a visita ao local se deu pelo fato do lugar estar inserido nos pacotes de city tour comprado nos hotéis onde estavam hospedados. Alguns poucos responderam que já haviam visto fotos e reportagens sobre o local em revistas especializadas ou em programas de televisão. Outra questão levantada foi se os visitantes achavam que o local estava preparado para receber visitas. Todos responderam que sim, desde que houvesse um maior cuidado de alertar às pessoas quanto ao modo correto de agir para contribuir com a preservação do local. Também foi perguntado se os visitantes conheceram o horto de São Francisco. A grande maioria, formada essencialmente pelos visitantes que conheceram o lugar através de city tour, respondeu que não, devido à falta de tempo e aos horários marcados para se conhecer outros lugares da cidade. Os demais, principalmente aqueles que estavam fazendo visitas por conta própria, responderam que conheceram o horto e a fonte depois da visitação feita pelo guia local junto com um grupo de city tour. *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 70 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente, conhecer e interpretar a herança cultural de outras épocas não mais remete apenas ao valor da simples curiosidade pelo diferente ou pelo exótico. Faz parte de nossa cultura a busca compreensiva de estruturas culturais que nos possibilitem entender o mundo contemporâneo (Meneses, 2004, p. 30). Apesar de sua importância como monumento e da implantação do Centro Cultural São Francisco, ele ainda é mal aproveitado turisticamente. Os próprios funcionários, cuja maior parte trabalha no local há mais de sete anos, têm consciência que é preciso melhorar alguns detalhes para o bom andamento das atividades lá desenvolvidas. O Pe. Ernando Teixeira ressalta que apesar de sua importância enquanto exemplo singular da arte e arquitetura barroca no Nordeste e no Brasil, o conjunto franciscano carece de uma maior atenção institucional quanto a suas reais necessidades no tocante à conservação e preservação. A realização das atividades atualmente desenvolvidas no local, principalmente as celebrações religiosas, a meu ver, é de fundamental importância para manter o constante contato entre o monumento e a comunidade que, de forma alguma, deve ser afastada daquele patrimônio. As missas são realizadas nos primeiros e terceiros domingos de cada mês, na Capela da Ordem Terceira. A mesma também voltou a ser local para a realização religiosa de casamentos, suspensos temporariamente pelo atual arcebispo da Paraíba, D. Aldo Pagotto, quando assumiu o posto em 2004. Sobre a importância do local na vida da população, assim fala Burity:“... além da Fortaleza de Santa Catarina, raros são os monumentos históricos que têm sido uma testemunha tão permanente da vida comunitária paraibana como o Convento de Santo Antônio” (1988, p. 21). Em entrevistas realizadas com os funcionários verificou-se, por exemplo, que o conjunto necessita de mais guias internos e de pessoas que falem outros idiomas, de cursos que promovam a capacitação dos funcionários, além de uma maior atenção e divulgação por parte do poder público e das instituições privadas. O pessoal técnico também reclamou da interrupção das oficinas antes oferecidas no centro cultural, como as de artesanato, pintura, escultura e reciclagem. O problema em relação à falta de guias capacitados reflete no mau aproveitamento do percurso realizado no interior do Centro. No que se refere aos grupos, o tempo da visita é insuficiente: em média de trinta a quarenta minutos, tendo em vista que o grupo precisa obedecer a uma rígida programação com horários cronometrados. Geralmente, esses turistas não têm a oportunidade de conhecer o horto e a fonte de São Francisco. Já Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 71 os turistas individuais e em pequenos grupos, que vão ao local por conta própria, podem fazer um percurso mais proveitoso, podendo passar de uma a duas horas no local, o que lhes dá a possibilidade de interpretar o patrimônio e interagir com o local e com seus funcionários. Em decorrência das observações das visitas e da aplicação dos questionários pude perceber que a grande maioria dos visitantes é passiva em relação às informações recebidas sobre o local. A maioria não questionou nem expressou curiosidade sobre o que é exposto no Centro. Também não procuraram saber o que mais há para se conhecer no conjunto franciscano nem se interessaram em ir visitar o horto, sendo que quase sempre deixam o monumento sem nem mesmo saber de que o espaço arborizado existe. Muitos se disseram impressionados principalmente com o forro e o púlpito da Igreja de São Francisco e também com a Capela Dourada. Esses três elementos são os que costumam chamar mais a atenção dos visitantes, segundo informações dos guias locais e de acordo com o resultado da aplicação dos questionários. Uma melhora no desempenho dos guias locais, bem como uma maior participação dos visitantes, questionando sobre aquilo que vêem poderia, é claro, propiciar uma visita mais proveitosa ao local, já que o tempo de visita seria dilatado e haveria a possibilidade de visitar outros ambientes do convento. É preciso que as pessoas sejam estimuladas a refletir e a interpretar sobre o monumento que estão conhecendo, sobre aquele lugar que é testemunha da história da cidade de João Pessoa e da própria Paraíba. Talvez uma alternativa seja a implantação de um programa de capacitação contínua dos guias que atuam no monumento, sejam eles os funcionários do Centro Cultural São Francisco ou mesmo profissionais ligados às agências de turismo receptivo. Essa ação poderia modificar a abordagem do monumento pelos guias, fazendo com que eles motivem uma maior participação dos visitantes. Os visitantes que vão ao local por conta própria aproveitam para acompanhar um grupo de city tour que esteja sendo guiado por guia interno e, como estes não têm hora para continuar os roteiros por outros lugares da cidade, aproveitam para conhecer os demais ambientes do convento, como o relógio de sol, o horto e a fonte de São Francisco. Como foi possível constatar, não é permitido tirar fotografias com flashes no interior da igreja, e muitos visitantes reclamaram da falta de uma iluminação mais adequada que permitisse uma melhor qualidade das fotografias amadoras18. Uma 18 Para fotos com uso de equipamento profissional, não é preciso iluminação especial ou uso de flashes no interior do monumento, pois acessórios como tripés, lentes e fotômetros, assim como a programação da Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 72 melhoria na iluminação de modo que propicie a utilização de máquinas fotográficas sem flashes seria muito bem-vinda, pois praticamente todos os visitantes querem levar para casa uma lembrança dos lugares visitados. Em vários lugares do Centro Cultural é possível encontrar avisos de como se portar dentro dos ambientes, sendo que o guia também é responsável por orientar seu grupo, já que a preservação do local também depende dos visitantes. Um dos visitantes, em resposta ao questionário, fez uma observação bastante propícia quanto ao comportamento de um guia: segundo ele, o guia não poderia pedir para as pessoas passarem a mão na mirra que ainda existe no piso da sacristia para sentir sua fragrância, observando, ainda, que o local já se encontra desgastado pelo esfregar de mãos dos visitantes. Alguns visitantes também reclamaram da falta de segurança em relação aos objetos expostos, pois a maioria das peças, com exceção das imagens sacras, é alvo fácil de pessoas descuidadas e podem, num acidente ou por descuido, cair e quebrar. Outra reclamação foi a respeito da falta de segurança das escadarias, onde é preciso se ter cuidado redobrado, pois as de pedra calcária são muito escorregadias. Essa é uma questão muito importante, principalmente em relação às pessoas com dificuldade de locomoção, como os idosos ou portadores de deficiência. A falta de divulgação do monumento a nível nacional e até mesmo local foi colocada tantos pelos funcionários como pelos visitantes. Isso reflete a preocupação e a visão dos mesmos, tendo em vista que um aumento no número de visitas poderia trazer um maior destaque para o local e, até mesmo, chamar a atenção da população e dos governantes para a necessidade de implantar medidas que promovam a sustentabilidade das atividades realizadas no local e a própria conservação do monumento. A divulgação não só do local como atrativo, mas como um patrimônio que pode servir à comunidade, a exemplo da biblioteca e da horta de plantas medicinais, poderia atrair mais a comunidade local para conhecer parte de sua história através do conjunto franciscano de João Pessoa. Através dos dados que foram colhidos percebe-se certa acomodação e falta de empenho de algumas pessoas que trabalham no local. Talvez essa acomodação seja decorrência da falta de maior apoio e recursos para a realização das atividades no local. Os órgãos responsáveis devem voltar uma atenção maior para o monumento, propiciar abertura do diafragma da câmara e do tempo de exposição, numa máquina analógica, ou os ajustes de correção de luz no equipamento, no caso de uma máquina digital, permitem a produção de imagens de qualidade. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 73 cursos de aperfeiçoamento e reciclagem dos funcionários, promover uma maior divulgação para os turistas bem como mais atividades culturais e de lazer para que os moradores da cidade passem a freqüentar o local, como pressuposto para uma atividade turística e de lazer sustentável naquele espaço. Mas o fato é que a solução do Governo do Estado em revitalizar a área do Centro Histórico de João Pessoa através do turismo ainda não obteve resultados satisfatórios. Talvez aí esteja o entrave a essa questão: não é só a atividade turística que deve trazer vida a essas áreas, mas a própria comunidade pessoense deve buscar resgatar suas origens e sua relação com o local. Isso se torna ainda mais complexo quando se observa que as políticas de proteção ao patrimônio refletem a ideologia da classe dominante, influenciando na caracterização da memória coletiva e, conseqüentemente, na identidade local: Com o privilégio de um único tipo de memória (...) é fácil mostrar a falta de interesse do pessoense em relação à sua história. É dever dos órgãos públicos a preocupação com o que é público e, por isso, com os vários tipos de memória que compõem o cotidiano de um determinado local. (Pontes & Oliveira, 2005) A vivência histórica das pessoas da comunidade deve estar aliada à interpretação do monumento, presente nas talhas, nas esculturas, na arquitetura, enfim, em tudo que é exposto no Centro. Segundo Meneses (2004, p. 22), é fundamental para a sustentabilidade do atrativo a dignificação da existência cotidiana que dá substrato ao mesmo. O problema da não-identificação da população com seu patrimônio pode ser exemplificado pela recente pesquisa para a escolha do cartão postal da cidade de João Pessoa, em que, dentre as seis opções de escolha, o Centro Cultural São Francisco ficou em último lugar na enquete. O fato reflete o desconhecimento, por parte do pessoense, da sua própria história e a falta de identificação da população da cidade com o monumento. A questão, agora, é saber despertar nos pessoenses a curiosidade em quem ainda não conhece o local para visitá-lo. E, quanto a quem já o conheceu pessoalmente, é preciso despertar a consciência para a preservação e o sentimento de pertencimento daquele patrimônio à cidade, fazendo parte não só de sua História, mas de todos os pessoenses. *** Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 74 6. REFERÊNCIAS ANDRADE, Mário de. O turista aprendiz. São Paulo: Duas Cidades; CSST/ SP, 1976. BARBOSA, Cônego Florentino. Monumentos históricos e artísticos da Paraíba. 2. ed. facsimilar. João Pessoa: Conselho Estadual de Cultura; Secretaria de Educação e Cultura; A União, 1994 [1953] (Col. “Biblioteca Paraibana”, vol. II). BARRETTO, Margarita. Planejamento e organização em turismo. São Paulo: Papirus, 1996. ___________________. Turismo e legado cultural. Campinas: Papirus, 2000. BAZIN, Germain. A arquitetura religiosa barroca no Brasil. 2 vols. Tradução de Glória Lúcia Nunes. Rio de Janeiro: Record, 1983. BENI, Mário Carlos. 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ANEXOS QUESTIONÁRIO APLICADO AOS VISITANTES DO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Perfil do Respondente Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Profissão: _____________________________________ Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) viúvo ( ) divorciado ( ) outro Local de nascimento: _______________________________________ UF: _______________________ Grau de Escolaridade: ( ( ( ( ) Fundamental Incompleto ) Médio Incompleto ) Superior Incompleto ) Pós-Graduação Lato Sensu ( ( ( ( ) Fundamental Completo ) Médio Completo ) Superior Completo ) Pós-Graduação Stricto Sensu (M/D) Renda Familiar Bruta: ( ) até 5 SM ( ) de 6 a 10 SM ( ) de 11 a 15 SM ( ) acima de 20 SM ( ) de 16 a 20 SM Questões 1. Qual o motivo de sua visita ao Conjunto Franciscano de João Pessoa? 2. Já tinha ouvido falar da Igreja de São Francisco de João Pessoa? Se sim, como tomou conhecimento da mesma? 3. O que mais lhe agradou ou chamou a atenção no local? 4. Você conheceu o Horto do São Francisco? Por quê? 5. Você acha que deveria melhorar alguma coisa nas visitações ao Conjunto Franciscano? O que? 6. Você recebeu alguma orientação de como se portar dentro do Conjunto? Qual (is)? 7. Você achou que o local está preparado para receber os visitantes? Por quê? 8. Você achou que o guia prestou uma boa assistência ao grupo? Por quê? Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 78 QUESTIONÁRIO APLICADO AOS FUNCIONÁRIOS DO CONJUNTO FRANCISCANO DE JOÃO PESSOA Perfil do Respondente Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) viúvo ( ) divorciado ( ) outro Local de nascimento: _______________________________________ UF: _______________________ Grau de Escolaridade: ( ( ( ( ) Fundamental Incompleto ) Médio Incompleto ) Superior Incompleto ) Pós-Graduação Lato Sensu ( ( ( ( ) Fundamental Completo ) Médio Completo ) Superior Completo ) Pós-Graduação Stricto Sensu (M/D) Renda Familiar Bruta: ( ) até 5 SM ( ) de 6 a 10 SM ( ) de 11 a 15 SM ( ) acima de 20 SM Questões 1. Há quanto tempo você trabalha no Conjunto Franciscano? 2. O que esse local representa para você? 3. Você acha que o local está em boas condições de preservação? Por quê? 4. Quais os problemas mais freqüentes em relação aos visitantes? 5. O que geralmente é mostrado aos visitantes? 6. Quais as atividades desempenhadas no Conjunto além da visitação? 7. Existe algum limite no número de pessoas para a visitação no Conjunto? 8. Você acha que alguma coisa deveria mudar para melhorar as visitas? ( ) de 16 a 20 SM Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa DECRETO N° 9.484 SOBRE A DELIMITAÇÃO INICIAL DO CENTRO HISTÓRICO DE JOÃO PESSOA Fonte: IPHAEP (s.d.) 79 Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa PLANTA BAIXA DA IGREJA E CONVENTO DE SÃO FRANCISCO [SIC] - 1973 Fonte: Nóbrega, 1974, p. 77. 80 Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa CRIPTA FUNERÁRIA SUBTERRÂNEA - 1973 Fonte: Nóbrega, 1974, p. 79. 81 Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa TOMBAMENTO DO CONVENTO E IGREJA DE SÃO FRANCISCO ‘LIVRO DO TOMBO DAS BELAS ARTES’, VOL. 1, 1952 Fonte: Burity, 1988, p. 144. EM JOÃO PESSOA, 82 NO Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 83 MANUSCRITO DO REI DE PORTUGAL DANDO PERMISSÃO PARA SEREM ENVIADOS RELIGIOSOS À PARAÍBA - 1746 Fonte: Burity, 1988, p. 140. Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 84 ARQUIVO NORONHA SANTOS - LIVRO DO TOMBO DE BELAS ARTES Convento e Igreja de Santo Antônio e Casa de Oração e claustro da Ordem Terceira de São Francisco (João Pessoa, PB) Outros Nomes:Convento e Igreja de São Francisco Descrição:Considerado um dos melhores exemplares da chamada "escola franciscana" no Brasil. Sua construção teve origem em 1588, quando da chegada na Paraíba do frei Melchior de Santa Catarina, para ali instalar uma fundação franciscana. O projeto original é de autoria do frei Francisco dos Santos, ficando as obras indispensáveis prontas em 1591. Em 1599, a construção foi interrompida, devido à atritos com o governo Feliciano Coelho de Carvalho e que motivaram a retirada provisória dos franciscanos da cidade de "Felipéia". Com a invasão holandesa o convento foi danificado, sendo que em 1636, os frades foram expulsos e ali instalado um posto militar, pois sua localização era estratégica: dominando todo o vale do Sanhoá, estendendo-se pelo rio Pataíba até Cabedelo. Após a retomada do domínio português, o convento teve de ser todo restaurado, ficando pronto em 1661. No início do século XVIII, foram iniciadas as obras que deram ao Convento suas feições atuais com a Igreja, o Convento, a Capela, a Casa de Oração e o Claustro da Ordem Terceira, o Adro com o Cruzeiro e a cerca conventual com seu Chafariz. A igreja de São Francisco tem frontispício datado de 1779, destacando-se a torre recoberta de azulejos e a superposição de abóbadas. As talhas de arenito de folhagens e flores estilizadas, se entremeiam com relevos barrocos, sendo o principal elemento o caju. A nave da Igreja tem o forro pintado, de autor desconhecido, representando a glória de São Francisco, com um enorme templo católico onde surgem figuras de papas, cardeais e bispos. As paredes são revestidas de azulejos portugueses, formando painéis que contam a história de José do Egito. O púlpito é uma obra de arte com um rico trabalho de talha dourada, considerado pela UNESCO como único no mundo inteiro, e possivelmente sofreu influência da arte indígena. Apresenta cripta com 10 sepulturas em nicho. O Convento de São Francisco tem pátio em estilo mourisco, a escadaria de acesso ao primeiro andar tem imagem esculpida em pedra do corrimão representando infuência inca ou asteca, e é conhecida popularmente com o nome de "mascarão". O adro, em plano inclinado, é cercado por muro revestido de azulejos contendo 6 nichos com cenas da Via-Sacra. O cruzeiro é formado por cruz monolítica, com pedestal apresentando figuras de pelicanos ou a ave mitológica Fenix, "representando Cristo alimentando os filhos com sua própria refeição e a ressureição". Começou a ser restaurada em 1979, a fim de ali instalar o Museu do Estado da Paraíba. Uso Atual:Museu Sacro-Escola da Paraíba Endereço: Largo de São Francisco - João Pessoa - PB Livro de Belas Artes Inscrição:407 Data:16-10-1952 Nº Processo:0063-T-38 Observações:O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN. Fonte: IPHAN (s.d.) Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa 85 ARQUIVO NORONHA SANTOS - LIVRO DO TOMBO HISTÓRICO Igreja da Ordem Terceira de São Francisco (João Pessoa, PB) Outros Nomes:Capela Dourada Descrição:Também chamada de Capela Dourada, teve sua construção iniciada em 1701. Em estilo D. João V, se destaca pelos diversos trabalhos em talha de madeira, por seu exotismo e pela multiplicidade de temas raros nessas talhas. No pórtico há uma mistura de elementos estilizados, como rosáceas, flores e folhagens, acrescidas de figuras de anjos. Esses, tem variedade de forma e tamanho, com diversidade de traços étnicos, corpos infantis ou adultos com caracteres mestiços ou europeus. O que mais se destaca é o sincretismo da figura da sereia com face infantil de anjo, que mistura a simbologia sagrada com mitologia, a influência negra de Iemanjá ou a grega das mulheres aladas. A introdução desses elementos decorativos teve como principal objetivo converter e catequisar os "selvagens", através da personalização de suas crenças e as adaptando aos elementos cristãos e europeus. Outro elemento mito são as figuras dos hipogrifos, com cabeças de aves, ou elementos de folhagens estilizadas. Outras formas abstratas e indefinidas fazem parte da decoração. No altar principal, se encontra acima do capitel, painel pintado com a representação da Última Ceia, em traços rústicos e primitivos. Pelo lados, duas figuras igualmente pintadas de patronos da Ordem. Os altares laterais também apresentam elementos semelhantes ao do altar principal, porém com talha de madeira mais simples e elementos e ornatos em ouro. O teto é trabalhado em forma de quadros emoldurados e juntos, supondo-se que ali deveria haver pintura. Na sacristia existem dois arcases de jacarandá de 1761. Ao fundo, numa reentrância da parede, modela-se em pedra calcárea quatro golfinhos e as armas da Ordem. No coro se encontram cadeiras esculpidas em madeira maciça, com motivos florais. Uma treliça serve de separação para o altar-mor, ao estilo mourisco. Endereço: - João Pessoa - PB Livro Histórico Inscrição:020 Data:5-5-1938 Livro de Belas Artes Inscrição:047 Data:5-5-1938 Nº Processo:0042-T-38 Observações:O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN. Fonte: IPHAN (s.d.) Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa Fachada da Igreja de São Francisco em João Pessoa. Foto: Ana Karina P. Cabral (2005). Vista externa das dependências do convento de Santo Antônio. Foto: Ana Karina P. Cabral (2005). 86 Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa Coro com o cadeiral. Ao fundo imagem do Cristo Crucificado.Foto: Ana Karina P. Cabral (2006). Relógio de sol. Foto: Ana Karina P. Cabral (2006). 87 Passado e Presente: uma análise da potencialidade turística no Conjunto Franciscano de João Pessoa Peças da mostra de arte popular expostas no museu. Foto: Ana Karina P. Cabral (2006). Horto do Centro Cultural São Francisco. Foto: Ana Karina P. Cabral (2006). 88