A análise comparativa dos concelhos madeirenses tem como objectivo facultar ao leitor as principais linhas de convergência e de divergência deste Arquipélago, que apesar de possuir dimensões reduzidas, se pauta pela especificidade de cada área geográfica. Deste modo, a partir dos resultados apurados nos Recenseamentos de 1991 e 2001 e após a realização de uma breve resenha por cada concelho, abrangendo aspectos geográficos, económicos e demográficos, torna-se oportuno estabelecer as grandes linhas comparativas, de divergência e de convergência entre todos eles. Embora este estudo não traduza a situação actual visto que o último momento de apreciação termina em 2001, permite no entanto, reconhecer os aspectos que se alteraram nesta década, bem como a sua extensão. Deste modo, a apresentação comparativa dos onze municípios madeirenses, possibilitará a avaliação da existência de divergências e de convergências entre concelhos assim como a identificação das linhas tendenciais de cada um deles. ANÁLISE COMPARATIVA: LINHAS DE CONVERGÊNCIA E DIVERGÊNCIA Com uma área total de 778.92 Km2 e uma população residente que decresceu de 253426 habitantes em 19911 para 245011 habitantes em 20012, o Arquipélago da Madeira, encontra-se dividido por onze concelhos, contemplando um deles, na totalidade, a Ilha do Porto Santo. MAPA 1. DIVISÃO ADMINISTRATIVA REGIONAL Fonte:www.geocities.com/Heartland/Plains/9462/map.html 1 2 XIII Recenseamento Geral da População. XIV Recenseamento Geral da População. 1 A breve análise que efectuámos em cada um dos concelhos, permitiu-nos concluir da diversidade e intensidade dos fluxos de origem rural em direcção às zonas mais urbanizadas – Funchal e concelhos limítrofes. Quanto às marcas físicas que caracterizam os espaços rurais e urbanos, estão ainda bem patentes as diferenças que na paisagem caracterizam e demarcam os pólos urbanos dos exclusivamente rurais, justificando que conceptualmente se separe o campo da cidade. Nos casos da agricultura e da pesca verificou-se uma grande dependência e ligação das populações face ao espaço natural onde residiam visto que em alguns casos ainda constituíam a sua unidade de subsistência. No que concerne à agricultura, o progressivo declínio desta actividade em todos os concelhos, sugeriu que esta deixou de constituir o único meio de subsistência das populações rurais, passando a assumir-se como uma actividade complementar. Podemos ainda concluir que o decréscimo que esta actividade apresentou a nível estatístico não se traduziu no abandono dos campos, uma vez que os mesmos se apresentavam totalmente cultivados. Daqui se infere que a agricultura continuou a assumir uma importância primordial para os camponeses, mesmo para os que nela executavam trabalhos não remunerados em prol do agregado familiar, ou ainda ao nível do auto-consumo. Por outro lado, o conhecimento dos espaços supra-referidos permitiu-nos constatar a existência de pequenos aglomerados populacionais que devido ao isolamento desenvolviam relações sociais muito limitadas no espaço, pelo que conservavam no contexto sócio-ecológico, a memória do passado, patente quer nas habitações quer na própria paisagem. TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO ACTIVA DO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA, NO PERÍODO 1991-2001 CONCELHOS CALHETA CÂMARA DE LOBOS FUNCHAL MACHICO PONTA DO SOL PORTO MONIZ PORTO SANTO RIBEIRA BRAVA SANTA CRUZ SANTANA SÃO VICENTE 1991 51.3 22.7 2.1 22.3 38.3 55.7 3.4 16.4 18.0 62.0 40.0 SECTOR PRIMÁRIO 2001 variação 31.1 -20.2 9.4 -13.3 1.5 -0.6 7.3 -15.0 24.1 -14.2 30.3 -25.4 1.5 -1.9 10.3 -6.1 7.0 -11.0 41.0 -21.0 24.2 -15.8 SECTOR SECUNDÁRIO 1991 2001 variação 22.3 30.8 +8.5 39.6 39.6 0 21.5 18.9 -2.6 30.3 35.9 +5.6 33.8 29.0 -4.8 16.4 22.2 +5.6 21.3 23.3 +2.0 56.7 37.3 -19.4 29.2 22.1 -7.1 11.3 17.5 +6.2 17.6 26.9 +9.3 SECTOR TERCIÁRIO 1991 2001 variação 26.7 38.1 +11.7 37.7 51.0 +13.3 76.4 79.6 +3.2 47.4 56.8 +9.4 27.9 46.9 +19.0 27.9 47.5 +19.6 75.3 75.2 -0.1 26.9 52.4 +25.1 52.8 70.9 +8.1 26.7 41.5 +14.8 42.4 48.9 +6.5 2 Nas variações apresentadas pelo sector secundário sobressaiu o seu acréscimo nos concelhos de Calheta, Machico, Porto Moniz, Porto Santo, Santana e São Vicente, como consequência da implementação de pequenas indústrias. O sector terciário apresentou durante este período uma expansão em todos os concelhos da Ilha da Madeira embora este facto não tenha sido extensivo à Ilha de Porto Santo. Contudo, os concelhos de Funchal e Porto Santo destacaram-se pelos elevados valores que apresentaram nos dois momentos censitários, onde este sector ocupava mais de 75,0 % da população. Assim, a quase inexistência de actividades do sector primário e a fraca expressividade de sector secundário foram, nestes concelhos, colmatadas pela importância que o sector terciário assumia. Em termos globais, a apreciação da Tabela 1 permite inferir do decréscimo generalizado do sector primário como actividade principal. Por seu turno, no sector secundário verificaram-se algumas oscilações; a extinção de algumas indústrias foi suprida pela implementação de outras em concelhos distintos. Quanto ao sector terciário, a sua expansão é manifesta ao longo desta década como consequência, quer do desenvolvimento, quer da abertura de serviços inexistentes em alguns concelhos. TABELA 2. DIMENSÃO MÉDIA DOS AGREGADOS FAMILIARES DO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA, NO PERÍODO 1991-2001 1991 2001 Variação 1991-2001 Dimensão Número de Média dos alojamentos agregados familiares Número de alojamentos Dimensão Média dos agregados familiares 3.3 4058 2.9 + 136 - 0.4 6692 4.7 8510 4.1 + 1818 - 0.6 Funchal 28146 4.1 30844 3.3 + 2698 - 0.8 Machico Ponta do Sol Porto Moniz Porto Santo Ribeira Brava Santa Cruz 5284 4.2 6117 3.5 + 833 - 0.7 2575 3.4 2569 3.2 -6 - 0.2 1070 3.2 1031 2.8 + 39 - 0.4 1293 3.6 1372 3.2 + 79 - 0.4 3583 3.7 3764 3.3 + 181 - 0.4 6104 3.8 8793 3.3 + 2689 - 0.5 Santana São Vicente 3028 3.4 2968 3.0 - 60 - 0.4 2163 3.6 2151 2.9 - 12 - 0.7 Concelhos Número de alojamentos Calheta Câmara de Lobos 3922 Dimensão Média dos agregados familiares 3 A análise comparativa dos indicadores de qualidade de vida seleccionados permite-nos uma visão conjunta do espaço em estudo, que possibilita vislumbrar as grandes linhas tendenciais e os elementos convergentes e divergentes. Nesta década, todos os agregados familiares reduziram a sua dimensão média, embora em ambos os períodos censitários, Câmara de Lobos se destacasse pelo valor ainda bastante significativo que estes assumiam. Paradoxalmente, é nos concelhos mais rurais e isolados que encontrámos em 2001 os agregados familiares com menos efectivos, ou seja, Porto Moniz, São Vicente e Calheta. No entanto, a diminuição da dimensão média dos agregados familiares constituiu um aspecto de convergência entre todos os concelhos, sinónimo da adopção de medidas de controlo da natalidade. De salientar que o maior decréscimo ao nível da dimensão média dos agregados familiares, ao longo desta década se fez sentir no concelho de Funchal. Quanto ao número de alojamentos, o seu acréscimo em número bastante significativo, centrou-se em Funchal, Santa Cruz e câmara de Lobos. Ou seja, no concelho principal e nos limítrofes. TABELA 3. CARACTERÍSTICAS DOS ALOJAMENTOS FAMILIARES OCUPADOS COMO RESIDENCIAS HABITUAIS NO ARQUIPÉLAGO DA MADEIRA, NO PERÍODO 1991-2001 Alojamentos Concelhos Sem instalações de electricidade ( %) Sem instalações sanitárias (%) 1991 2001 11.8 5.5 Sem água canalizada (%) Barracas (valor absoluto) 1991 31.8 2001 5.6 1991 4 2001 2 1991 9.7 2001 1.7 Câmara de Lobos Funchal 5.8 1.6 0.5 0.3 17.0 10.4 9.2 6.0 52.3 8.1 2.9 0.9 8 158 11 135 Machico Ponta do Sol 4.0 11.3 0.3 0.5 11.5 8.2 12.5 7.6 9.5 28.7 1.1 1.9 5 3 20 0 Porto Moniz Porto Santo 6.1 2.6 1.0 0.1 7.9 9.4 24.4 1.1 12.2 8.7 2.1 0.4 2 0 1 3 Ribeira Brava Santa Cruz Santana 7.7 5.5 8.7 1.0 0.4 1.1 14.2 18.6 26.9 5.7 13.5 7.3 27.9 19.4 25.2 3.7 3.0 3.0 6 21 21 6 7 10 São Vicente 9.0 1.2 15.8 7.3 18.3 2.6 0 1 Calheta Ao nível dos aspectos que consideramos inferirem da qualidade de vida nos alojamentos, registou-se uma melhoria global embora em 2001 continuassem a persistir situações de precariedade face às instalações sanitárias, em todos os concelhos da 4 Região, nomeadamente em Machico, Porto Moniz e Santa Cruz. Relativamente a esta infra-estrutura, Porto Santo, apresentava uma situação privilegiada. A inexistência de água canalizada no interior dos alojamentos surgia em 1991, como o elemento que, mais fortemente penalizava os alojamentos e, não obstante o alargamento da sua rede, muitos alojamentos continuavam, em 2001, sem beneficiar desta infraestrutura. Contudo, embora o abastecimento de água constituisse ainda o aspecto mais deficitário ao nível habitacional, não nos devemos esquecer que no início do século XX, raras eram as habitações que possuíam água potável. Era então comum a filtração das águas dos poços, dos fontenários (quando existiam) ou a utilização da água das levadas que apesar de impuras eram necessárias para o abastecimento. Assim, “(…) os moradores das zonas onde a água passava levantavam-se muito cedo para dela se utilizarem enchendo diversos recipientes”3 com o intuito de a obter mais limpa e fresca, visto que “pelo dia tornava-se imprópria para o consumo, pela quantidade de detritos que caiam ou lançavam dentro dela, muitas vezes inconscientemente.”4 Não obstante a melhoria verificada no abastecimento de água canalizada direccionada aos alojamentos, Calheta continuou a ser o concelho mais penalizado visto que em 2001, 5,6 % das habitações não beneficiavam desta infra-estrutura. Ao invés, o concelho de Câmara de Lobos que era o mais deficitário em 1991, foi o mais beneficiado em 2001, ficando apenas 2,9 % dos alojamentos excluídos do abastecimento de água canalizada. Em termos globais, Porto Santo e Funchal, foram as zonas onde maior número de alojamentos beneficiou desta infra-estrutura. Ao longo desta década, a electricidade também passou a integrar muitos dos alojamentos que dela se encontravam excluídos. Contudo, tal como se verificou em Calheta com o alargamento da rede pública de água canalizada, onde a cobertura ficou aquém dos outros concelhos, a inexistência de electricidade, em 2001, penalizava ainda uma percentagem elevada das habitações: 1,7 %. Ao invés, a cobertura quase total, verificou-se em Porto Santo, Funchal e Machico. Já no que respeita ao alojamento em barracas, o seu número era significativo, sobretudo nos concelhos de Funchal e Machico. Uma vez que estes foram os principais aglomerados populacionais do Arquipélago e os primeiros a obter a designação de “cidade”, parece-nos que o elevado número de barracas nestes dois núcleos de 3 4 Abel Marques Caldeira, O Funchal no Primeiro Quartel do Século XX…p. 29. Ibidem. 5 características urbanas se deveu à migração campo/cidade mal sucedida, ou seja, sem que previamente fossem asseguradas as condições de habitabilidade. Este período ficou ainda marcado por um aumento da população economicamente enquadrada nos sectores secundário e terciário em detrimento da redução de efectivos exclusivamente ocupados no sector primário. 6