SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO D ESEMPENHO O RGANIZACIONAL : UMA TENTATIVA DE INSTITUCIONALIZAR MECANISMO S DE CONTROLE DO DESEMPENHO EM ORGANIZAÇÕES PÚBLICAS . RESUMO: Este paper tem como objetivo dar publicidade a algumas reflexões que vem permeando o projeto de pesquisa intitulado “Análise do Desempenho de Organizações Públicas”1, que está sendo implementado em uma prefeitura com aproximadamente sessenta mil habitantes no estado de Minas Gerais. Estas reflexões estão surgindo à medida em que toma corpo um processo de mudança organizacional com a inserção de mecanismos de controle de desempenho na administração estratégica daquela prefeitura. Neste sentido, consiste em definir uma metodologia de implantação de uma estrutura organizacional que permita a institucionalização do controle, exigindo a participação dos órgãos envolvidos, sem que se perca a universalidade e a legitimidade das informações para o processo decisório. Muito mais que um sistema de informações, este artigo tenta discutir a incapacidade de aceitação de mudanças organizacionais, que existe na maioria das organizações públicas em função dos critérios de escolha dos integrantes do corpo gerencial da administração pública. APRESENTAÇÃO DO TRABALHO Na atual conjuntura, as organizações buscam identificar conceitos e ferramentas que as torne capazes de tomar decisões estratégicas, de forma rápida e oportuna, sem que se prejudique a eficácia e o alcance destas medidas. Neste contexto, ao tomarmos como parâmetro as organizações públicas, esta busca torna-se mais necessária e difícil, devido aos aspectos políticos, econômicos e legais que cercam o processo decisório de um dirigente, esteja ele no nível hierárquico que estiver. Raros são os momentos em que os dirigentes podem analisar e decidir, sem que lhe seja cobrado eficiência, visibilidade e oportunidade. Neste aspecto, os planos de governo procuram dotar as administrações de condições, as melhores possíveis, para que o mandato seja cumprido e as decisões alcancem o impacto esperado. Este é um contexto em que todos os governantes têm de enfrentar ao assumirem suas administrações. Este trabalho tem como objetivo principal apresentar uma metodologia de avaliação do desempenho organizacional baseada em 1 Artigo publicado nos Anais do XXI ENANPAD. indicadores de desempenho e aplicada em uma prefeitura de pequeno porte2. Desta forma, além da preocupação com o detalhamento e funcionamento do Sistema de Avaliação do Desempenho Organizacional, busca também demonstrar uma metodologia prática de implantação do mesmo em prefeituras. Na primeira parte o leitor conhecerá o sistema em detalhes sobre a sua composição, estruturação e sistema lógico. Na segunda parte, a atenção se direciona para o funcionamento do sistema. Neste contexto, poderão ser visualizados os seguintes processos: ð Coleta de dados; ð Processamento dos Dados e Acompanhamento dos Resultados; ð Gestão do Desempenho. Na terceira parte, será feito um minucioso detalhamento de todo o processo de gestão e acompanhamento do desempenho organizacional. Na quarta parte será detalhado o processo de implantação do sistema em administrações municipais. Esta metodologia é resultado de um trabalho experimental em uma prefeitura situada na Zona da Mata Mineira, com aproximadamente 60 mil habitantes, cuja atividade econômica mistura indústria, comércio, agricultura e turismo. Na quinta e última parte do trabalhado, serão enumerados benefícios observados na experimentação. Desta forma, servirá como justificativa de implantação do sistema para aqueles administradores que não acreditam na profissionalização da administração pública. DESCRIÇÃO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO ORGANI ZACIONAL O Sistema de Avaliação do Desempenho Organizacional ( SADO ) é uma metodologia de avaliação e acompanhamento do desempenho, desenhada para órgãos públicos com principal atenção ao poder executivo municipal. É baseado na definição e acompanhamento de metas fixadas a partir de indicadores de desempenho. Este sistema surgiu da necessidade que os municípios encontram em fixar políticas gerenciais em virtude da inexistência de parâmetros formais de desempenho gerencial. Na maioria dos casos torna-se quase impossível a definição de metas em função da inexistência de dados. Em outros casos, os dados existem mas não são passíveis de tratamento em decorrência da falta de credibilidade. O SADO fica centralizado no gabinete do prefeito ou algum outro órgão legalmente definido para este fim. Seu funcionamento é bastante simples, em que pese a quantidade de informações que congrega. Ele parte do princípio que todo órgão existe para cumprir um determinado papel no alcance dos objetivos organizacionais e, para que seja eficaz, necessita de recursos de diversas ordens para cumprir suas atividades. Desta forma, os indicadores procuram medir seus produtos através de parâmetros de 2 O universo da pesquisa constou de 135 municípios da Zona da Mata Mineira, cujo ponto de corte foi o Censo Populacional de 1996. A maior população do rol era de 470 mil habitantes do Município de Juiz de Fora e a menor de 1.550 do Município de Paiva. 2 eficácia e efetividade e a utilização de seus recursos através de parâmetros de eficiência 3. A estrutura organizacional do SADO pode assumir várias formas, entretanto a mais simples e funcional é a do tipo linear, pois exige que os setores sejam subordinados ao cabeça do sistema . Neste caso, a credibilidade dos dados é muito maior em função da responsabilidade para com as metas estratégicas. Em falta de uma melhor terminologia, o órgão central é chamado de “Controle do Desempenho Organizacional” e os órgãos descentralizados são chamados de “Agentes de Desempenho Organizacional”. A figura abaixo define a estrutura funcional do SADO . Figura 1 - Estrutura Organizacional do SADO CONTROLE DO DESEMPENHO ORGANIZACIONAL Agentes de Desempenho Organizacional Agentes de Desempenho Organizacional Agentes de Desempenho Organizacional A figura abaixo demostra o funcionamento do SADO . Figura 2 - Processo Lógico Entrada dos Dados Coletados Pelos Agentes Processamento dos dados através dos indicadores de desempenho definidos Saída das Informações sob a forma de Relatórios Confrontação com as metas propostas Conforme fica claro na figura acima, os dados são coletados pelos Agente do Desempenho Organizacional (ADO) em cada secretaria, a partir deste momento o órgão central procede o processamento dos dados a partir dos Indicadores de Desempenho acordados. Este processo pode ser feito a partir de uma planilha do tipo Excel (tipologia mais simples) ou mesmo através de sistemas interligados, onde as informações poderão ser disponibilizadas mais rapidamente e agilizar o sistema de informações. 3 Para maiores informações ver GOMES, Ricardo C. Indicadores do Desempenho Organizacional. In Cadernos de Administração. Brasília: Universidade de Brasília, 1997. 3 Os indicadores são o resultado de comparação entre duas categorias de dados. Os dados brutos são refinados a partir de uma metodologia de agrupamento dos dados por afinidade. Em outras palavras: o total da despesa orçamentária do município serve como parâmetro para todas as secretarias. Por outro lado, os indicadores de cada secretaria são ponderados e definem uma avaliação em função das metas estabelecidas. Por exemplo: Na Secretaria de Educação existe um indicador muito importante que é dado pela relação entre o número de vagas oferecidas e a população em idade escolar do município. Se no início do período for definido que a meta é zerar o déficit de vagas, qualquer valor menor do que a unidade indica que ainda há demanda a ser atingida e a meta não foi satisfeita em 100%. Como resultado do sistema serão produzidos vários relatórios. Cada um deles com uma finalidade gerencial pré-determinada. Na seção que detalha o funcionamento do sistema os relatórios serão descritos com maior riqueza de detalhes em seus objetivos e vantagens. FUNCIONAMENTO DO SISTEMA Como dito acima, o SADO fica centralizado em uma órgão denominado Controle do Desempenho Organizacional. Para este local todas as informações são encaminhadas a partir do momento em que são coletadas em seus órgão de origem. Neste momento, começa a fase de produção das informações que darão respaldo ao processo decisório, que serão emitidas através de relatórios. Em termos de gerência de processo, o sistema é gerenciado a partir do agente central. Este agente é o responsável pelo processamento dos dados e pela emissão dos relatórios. Subordinado a ele estarão os agentes setoriais, que estarão localizados em cada uma das secretarias e serão responsabilizados pela coleta e encaminhamento dos dados para o agente central. Desta forma, em termos de hierarquização do sistema, ele tem dois níveis de comando: o responsável pelo processo de avaliação do desempenho e, subordinados a ele, os responsáveis pela coleta dos dados. O SADO é iniciado logo que os dados referentes a cada um dos indicadores estejam disponíveis. Neste momento, o Agente do Desempenho Organizacional, pessoa responsável pelo sistema em cada uma das secretarias, coleta os dados e os envia para a cabeça do sistema. Os requisitos de processo neste momento estarão vinculados à quantidade, atualização e forma dos dados. Isto posto, os dados são enviados para o agente central, que a partir deles iniciará o processamento através de uma planilha eletrônica (versão mais simples do sistema). O processamento consiste em realizar as operações previstas para cada um dos indicadores e a emissão dos relatórios do sistema. A partir deste momento, as análises são realizadas levando-se em consideração as metas estabelecidas e os parâmetros de referência. Este processo é mais rico a medida que novas referências são agregadas. O agente central estará, neste momento, preocupado com a elaboração dos 4 relatórios gerenciais. Estes relatórios deverão ser de fácil leitura, simples e diretos. A forma mais adequado nos parece ser a de tabelas e/ou gráficos, que permitem fácil visualização nos aspectos horizontais e verticais. Um dificultador do sistema é a diferença do tempo de produção dos dados. Como as secretarias são de natureza diversa, seus cronogramas nem sempre terão mesmo prazo de entrega. Desta forma, o sistema deverá adequar a entrega dos relatórios em função da disponibilidade dos dados, pois o mais importante é a idéia de conjunto. O decisivo da prefeitura (Prefeito) necessita de informações que o habilite a tomar decisões em prol do conjunto. Talvez não seja possível emitir o relatório global mensalmente, mas isto deverá ocorrer em alguns casos. Como é o caso de uma secretaria de fazenda, que é responsável pelas finanças e que produz balancetes mensais. DETALHAMENTO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO O SADO , como qualquer sistema de informações gerenciais, é dividido em três fases distintas: uma primeira que determina o início do processamento, configurada pela entrada dos dados (Inputs), a segunda que é o processamento propriamente dito e a terceira representada pelos produtos do sistema (Outputs). A seguir teremos a preocupação de analisar todas estas três fase a partir da seguinte metodologia: • detalhamento da fase; • responsáveis perante o sistema; e • oportunidades e ameaças para o seu funcionamento. FASES DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO 1ª FASE: COLETA DE DADOS A primeira fase do sistema começa pela coleta dos dados que serão enviados ao processamento. Neste momento os responsáveis pelo processo são os ADO, que são funcionários lotados em cada uma das secretarias e previamente nomeados para este fim. Estes agentes são de grande importância para o sucesso do sistema e deverão estar conscientes disto. Seu trabalho é coletar os dados junto aos produtores e conferir sua credibilidade, enviando logo a seguir ao Agente Central. Este trabalho pode parecer de fácil execução, mas a cultura que impera nas organizações contemporâneas, principalmente as públicas, emperra o fluxo das informações ao ponto de não se conseguir tomar decisões importantes à vida da organização por medo de perda de importância relativa no contexto organizacional. O A DO deverá ser uma pessoa com relativo acesso aos diversos setores da secretaria e, o mais importante, uma elemento cuja credibilid ade não seja alvo de nenhuma crítica por parte dos parceiros. Outra questão importante nesta fase é a estrita observância aos prazos em que os dados deverão estar disponíveis para remessa ao órgão 5 central. Na maioria das vezes o atraso ocorre não por culpa dos dirigentes, mas por falha no sistema de informações em uso. O ADO deverá estar atento para com os prazos e as datas de envios das informações. Mormente as preocupações acima, outra séria questão nesta fase está relacionada com a quantidade e a qualidade das informações. Com relação à quantidade, mais a frente veremos que não é produtivo trabalhar com uma grande massa de dados. Pelo contrário, informação demais atrapalha. Desta forma, o ADO deverá assegurar-se que todos os dados definidos estão sendo coletados, a falta de algum deles poderá inviabilizar o sistema. Com relação à qualidade dos dados, os mesmos serão previamente especificados através de manuais, onde caberá ao ADO verificar se estão na forma esperada 2ª FASE: PROCESSAMENTO DOS DADOS Terminada a fase de coleta de dados, estes serão enviados pelos ADO para o órgão central. Neste momento os dados serão inseridos em uma planilha que executará o processamento a partir da lógica definida. Esta lógica é fruto da comparação/relação entre os dados e vai permitir uma avaliação dos processos realizados pelo órgão. Não vamos nos ater à metodologia de formulação de indicadores4, este certamente não é o objetivo central deste trabalho. Todavia é importante salientar as categorias através das quais os indicadores serão elaborados. Segundo o manual de Indicadores de Desempenho do Prêmio Nacional de Qualidade e Produtividade os indicadores deverão ser definidos objetivando atender quatro objetivos organizacionais: ð Satisfação do Cliente; ð Desempenho Financeiro; ð Desempenho Operacional; e ð Clima Organizacional A primeira categoria está ligada aos produtos ou serviços que a secretaria entrega aos seus clientes internos ou externos e a satisfação que eles proporcionam aos usuários. Desta forma, estes indicadores de verão efetivamente medir a capacidade do órgão com relação ao tempo de entrega deste produto ou da prontidão com que são atendidas as demandas, custo do produto e qualidade do produto. A segunda categoria avalia o quanto o órgão consegue ser eficiente no seu processo produtivo, ou seja, qual o custo do processo e qual o nível de desperdício. A terceira categoria tem características similares à segunda, ou seja, avalia o processo produtivo, entretanto, cuida dos aspectos de qualidade do material utilizado, tecnologias disponíveis e capacitação das pessoas envolvidas em toda a fase do processo. O leitor há de convir que um órgão informatizado e com pessoal treinado tem todas as condições de fornecer uma resposta muito mais rápida que outro em diferente situação. A quarta categoria representa uma forma de avaliar o quanto a secretaria está preocupada com a satisfação das pessoas que ali trabalham. Ao analisarmos a hierarquia das necessidades de Abraham Maslow, temos 4 Para maiores informações sobre o assunto verificar: GOMES, Ricardo C. Op. Cit. e TAKASHINA, Newton Tadashi. Indicadores de Qualidade e de Produtividade. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 1996. 6 claramente a idéia de que remuneração quando da sua falta será desmotivadora, entretanto ninguém garante que a sua presença conseguirá manter o moral do grupo elevado. A administração pública com as sucessivas crises financeiras por que vem passando, a última coisa que podemos profetizar será excesso de recursos. Deste modo, o gerente deverá ser criativo e inovador para que consiga manter em seus quadros bons profissionais. Finalizando a segunda etapa do sistema, temos a acrescentar que o modo pelo qual o sistema realizará seu processamento, não é de fundamental importância. A medida que os dados chegam a tempo e nas qualidades e quantidades determinadas, até manualmente o sistema será eficaz. É claro que através de meios informatizados, ganha-se em agilidade e em credibilidade. 3ª FASE: PRODUTOS DO SISTEMA Findo o processamento dos dados, o sistema está apto a emitir seus produtos. Os relatórios que o sistema produz são tantos quantos sejam definidos. Como todo sistema de informação gerencial, seu objetivo principal é facilitar o processo decisório, transformando dados em informações cuja utilização venha a agilizar e aprimorar a tomada de decisão. Os principais relatórios emitidos são: ð Relatório de Avaliação do Desempenho Organizacional da Prefeitura Este relatório tem como principal objetivo demonstrar a capacidade de cada uma das secretarias em relação ao alcance de metas organizacionais. As vantagens deste relatório são inúmeras, desde o acompanhamento do desempenho global da Prefeitura, até o detalhamento em relação às categorias acima definidas. ð Relatório de Avaliação da Satisfação do Cliente - A satisfação do cliente é o objetivo principal de uma organização, sobretudo organizações que prestam serviços. Desta forma, este relatório demonstrará a capacidade de cada secretaria em atender às necessid ades de seus clientes e usuários. Para uma melhor visualização dos resultados, as secretarias, por exemplo poderiam ser colocadas em um ranking onde aquelas com menor capacidade receberia tratamento diferenciado. ð Relatório de Avaliação do Desempenho Financ eiro - Demonstra os resultados de cada secretaria em relação a esta categoria. ð Relatório de Avaliação do Desempenho Operacional – Demonstra os resultados obtidos em relação à eficiência dos processos organizacionais; ð Relatório de Avaliação de Clima Organizacional – Demonstra o nível de satisfação dos colaboradores do órgão através de taxa de evasão de funcionários, turn over , faltas não justificadas, entre outras. INDICADORES DE DESEM PENHO Como célula primordial do sistema encontramos os indicadores de desempenho. Estes indicadores são definidos a partir de uma metodologia 7 que congrega critérios de avaliação de desempenho organizacional 5 e discussão com os dirigentes das secretarias ou órgãos da Prefeitura. No primeiro momento são levados em consideração os aspectos da eficiência e da efetividade do funcionamento daquela secretaria em relação à comunidade e a função governo. Na avaliação feita pelos dirigentes é levado em consideração a operacionalidade dos indicadores previstos. Aqueles de difícil operacionalização ou que sua implantação incorra em aumentos não justificados de custos são automaticamente descartados. Só depois do consenso entre os critérios técnicos e os critérios operacionais (políticos) a planilha é esboçada. Na avaliação dos critérios técnicos, é importante salientar, são consideradas as características de atendimento ao cliente, que não necessariamente será um agente externo à organização e as características de mensuração do processo produtivo. Como a macro função governo é subdividida em outras funções de muita complexidade e importância, é necessário observar que as atividades fim e meio são política ou estrategicamente importantes para a execução da função governo. Desta forma, cada uma das secretarias terá vantagens comparativas a serem exploradas, sob pena de excluirmos algumas funções importantes internamente porém sem visibilidade ou de menor importância funcional e de alto poder de articulação6. A Fundação Prêmio Nacional de Qualidade propõe a categorização dos indicadores segundo aqueles critérios, que mencionamos acima. Entendemos ser uma boa metodologia e que encontra boa receptividade entre os meios acadêmicos e empresariais. A regra de definição é muito simples, e consiste em encontrar pelo menos dois indicadores para cada categoria. Naquelas atividades da administração fim não é muito difícil seguir este mecanismo, ao contrário, nas funções saúde e educação a dificuldade é exatamente escolher entre os inúmeros indicadores aqueles mais representativos. Entretanto, na atividade meio, onde o produto é na maioria das vezes a resposta a um pedido de informação ou análise de um processo administrativo, mensurar a qualidade o custo e o tempo de entrega deste produto é algo de difícil operacionalização. No artigo “Análise do Desempenho de Organizações Públicos” 7 será possível encontrar alguns exemplos de indicadores de desempenho para a administração municipal. Em que pese as dificuldades de adequação plena das categorias na administração pública, neste trabalho procuramos, na medida do possível, definir os indicadores a partir deste modelo. 5 Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade. Indicadores do Desempenho. Série ID 01-00. São Paulo. FNPQ, 1996. P. 6. 6 No artigo Indicadores de Desempenho Organizacional fizemos a proposta de definir as categorias de formulação dos indicadores através de uma matriz em que as linhas definiriam a importância em relação a função estado, que chamamos de visibilidade. As colunas definiriam a importância em relação a função governo que chamamos de eficiência. 7 GOMES, Ricardo C. Op. Cit. 8 DETALHAMENTO DA IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA: Analisado o funcionamento passaremos agora para o detalhamento da implantação do SADO . Qualquer sistema operacional deve ser alvo de muitos cuidados em sua implantação. Este fato é amplamente justificado pela profunda ojeriza que as pessoas sentem em submeter-se a controles. Cada ser humano em uma organização é um poço de frustrações, recalques, sonhos e ansiedades. A medida que o sistema organizacional começa a impor -lhe parâmetros e limites, ele automaticamente reage e começa a reunir argumentos e motivos para não aderir a esta nova realidade. Por outro lado, tudo o que é novo é assustador e o ser humano instintivamente reage a ele. Neste contexto, o processo de implantação de novos processos ou rotinas deve passar por um amplo processo de negociação, onde cada um tenha liberdade de expor suas idéias para que aceite esta nova situação. Com o SADO este processo é basicamente o mesmo conforme veremos a seguir. FASES DE IMPLANTAÇÃO 1ª Fase Identificar as Secretarias que compõem a Prefeitura; 2ª Fase Analisar as competências de cada uma delas a partir do respectivo instrumento legal. A análise será balizada por fatores críticos de sucesso de cada uma delas, conforme detalhamento acima. 3ª Fase Definir dois ou mais indicadores para cada uma das categorias acima em função dos seguintes critérios: simplicidade, baixo custo de obtenção, estabilidade, confiabilidade8, comparabilidade 9 Obs.: No nosso artigo . Indicadores do Desempenho Organizacional publicado nos Cadernos de Administração da Universidade de Brasília, definimos uma metodologia de adequação de indicadores de desempenho para órgãos de diferentes finalidades. Nesta metodologia são diferenciados os órgão que realizam atividade fim daqueles outros de atividade meio. É interessante diferenciar uns dos outros pelo fato de não se atribuir indicadores de desempenho para secretarias em que sua operacionalidade seja um dificultador. 4ª Fase Discutir com cada uma das secretarias acerca da viabilidade de implantação e acompanhamento destes indicadores. Se for o caso os indicadores poderão ser acrescidos ou modificados de acordo com as condições de cada secretaria. 5ª Fase Definir o sistema de gerenciamento dos indicadores, que consistirá nas seguintes atividades: a) Elaboração da planilha com os indicadores de consenso - Nesta atividade os indicadores serão grupados por categoria. 8 SINK, D. Scott. Planejamento e Medição para a Performance. Rio de Janeiro: Qualitymark Ed., 1983. 9 TAKASHINA, Newton Tadashi. Op. Cit. 9 b) Manualização dos indicadores - Consiste em definir e formalizar as principais características dos indicadores, tais como: Nome, Fórmula, objetivo, resultados, interpretação, unidade de medida, periodicidade, fonte de coleta, etc. c) Operacionalização do Sistema - Consiste em fluxogramar todas as operações que compõem o sistema, tais como: coleta de dados, acompanhamento dos relatórios, gestão dos indicadores. 6ª Fase Implantação do Sistema; 7ª Fase Acompanhamento de seu funcionamento. No aspecto institucional, que reputamos da maior importância, é necessário que o prefeito institua o sistema através de decreto, nomeando o gerente do sistema e os agentes descentralizados. Em que pese o aspecto de inchaço na estrutura organizacional, esta medida viabilizará o funcionamento do sistema. Nossa experiência é que se o sistema funcionar na informalidade, ele fatalmente perderá sua legitimidade e os envolvidos não perceberão sua importância gerencial. Desta forma, antes de sua implantação há que haver sua oficialização com a correspondente definição de competências e responsabilidades. Todo este processo deverá ser feito sob a forma de decreto. BENEFÍCIOS DO SISTEMA O sistema em questão permite muitos benefícios no que diz respeito ao gerenciamento das prefeituras. Normalmente, o que se observa é um excesso de dados sem que tenham nenhuma utilidade prática. Uma quantidade imensa de folhas de formulários contínuos são produzidos sem que nada de útil possa ser feito. A moderna gestão em vista dos últimos acontecimentos nos cenários político e econômico, vem experimentando sensíveis mudanças em seu estado de arte. Hoje, muito mais que comandar pessoas, o gerente precisa estar atento ao futuro da organização e buscar alternativas que permitam a organização alcançar seus objetivos com menor custo. Neste cenário, o SADO é uma metodologia de trabalho cujo principal objetivo é o de permitir a tomada de decisão com base em dados confiáveis e científicos. A medida que a toda a organização esteja interligada por canais de comunicação e consiga transferir os dados a tempo, o sistema gerencial deverá estar muito receptivo às alterações ambientais. Neste momento, muito mais que tomar decisão de forma rápida e efetiva, a gestão estará tomando decisões compartilhadas. Vários são os benefícios que o sistema propicia à gestão, como demonstrado abaixo. ð Profissionalismo na produção dos dados - Os dados são produzidos nas secretarias e cada uma delas está envolvida com a confiabilidade deles. No momento em que as secretarias são avaliadas através das informações que produzem, potencialmente cresce o seu envolvimento 10 em fornecer os dados na forma correta e no tempo previsto, pois o secretário sabe que quanto mais interatividade houver melhor o desempenho e mais benefícios institucionais o órgão receberá. ð Decisões baseadas em dados - A literatura prevê que a maior parte do tempo de trabalho de um gerente é preenchida com a tomada de decisão. Todo momento existem decisões a serem tomadas e, na maioria das vezes, não há tempo hábil para articulações em busca de subsídios para que essa decisão seja tomada. Desta forma, a institucionalização de qualquer sistema de informações gerenciais traz inúmeros benefícios à gestão pelo simples fato de disponibilizar informações. Com um simples toque as informações estão à disposição e o gerente poderá ter mais segurança em sua atuação. ð Planejamento e Acompanhamento de Metas - O mais difícil na operacionalização de um Sistema de Informações Gerenciais é realmente sua implantação. O ambiente interno reage prontamente a qualquer tipo de mudança, para isso ele não titubeará em sonegar informações, postergar a entrega dos dados e, até mesmo, combater frontalmente a mudança. A partir do momento em que o SIG está inserido na cultura da organização, tudo fica mais fácil e esta facilidade vem acompanhada de um amadurecimento em termos gerenciais. Neste momento o sistema vai permitir a definição de metas e o acompanhamento do alcance destas metas. Fica muito mais visível se as secretarias estão ou não alcançando as metas. Só estão há oportunidade de rever e atualizá-las buscando o crescimento da organização. ð Adequação ao Desenvolvimento Gerencial - Toda organização está submetida a algum tipo de avaliação externa. Entretanto as organizações públicas sofrem um controle muito maior em função de seu caráter representar da sociedade. A par disto, grande parte do controle financeiro e da distribuição dos recursos é definido em termos de indicadores. Como População, número de vagas para a educação, número de leitos para a saúde, enfim a gestão é definida em termos de metas. Como o controle externo vem experimentando sensíveis alterações, a gestão tem a obrigação de adaptar-se a estas novas mudanças sob pena de ficar fora do contexto. Um exemplo claro do fato descrito acima é o Human Development Index, que é realizado pela ONU com o objetivo de avaliar como os países se encontram em termos de saúde, educação e renda per capta. Regionalizando a discussão, observamos que a Fundação João Pinheiro adequou este índice para o Estado de Minas Gerais e, hoje, pode -se visualizar que os municípios são avaliados e dispostos em um ranking . Se o prefeito não estiver preocupado com estes controles, poderá colocar o município em situação de desigualdade com outros perdendo recursos e investimentos. 11 CONCLUSÃO A administração pública passa por profundas transformações gerenciais, como todo o restante das atividades de cunho gerencia l. Neste sentido idéias como: privatização, terceirização, desestatização, controle de gastos, tem permeado as discussões neste campo. Temos sido procurados por muitos prefeitos e secretários municipais no sentido de dialogarmos e encontrarmos saídas neste momento de muita perplexidade e desencontros. O projeto de pesquisa ora em curso, nos mostra a propriedade desta discussão no âmbito acadêmico e nos dá forças para perseguirmos estes objetivos e colocarmos um pouco mais de luz nesta fase de extrema penumbra. Com relação ao comportamento dos agentes envolvidos no processo de implantação do SADO, algumas observações nos foram possíveis de coletar no decorrer do trabalho. Foi importante visualizar no período de negociação dos indicadores que todos, sem exceção, foram a favor da implantação de mecanismos de controle de desempenho organizacional. Entretanto, quando foi pedido que cada um fizesse uma análise crítica dos indicadores, notamos que não havia interesse na imediata institucionalização do controle. Neste momento foi necessária a intervenção do prefeito, que alegou uma fase inicial de teste, sem consequências para a administração. Estamos conscientes de que as pessoas resistem a serem monitoradas, mas tínhamos certeza de que este comportamento seria minimizado no momento em que ficasse clara a intenção de testar o experimento antes de começar a fase de avaliação. Outra questão que ficou muito clara foi a insegurança das pessoas quando sua capacidade de trabalho é colocada a prova. Um dos agentes mais seguros no período inicial foi o mais problemático na negociação dos indicadores. Como forma de conclusão, temos a acrescentar que o trabalho se encontra em fase de finalização na prefeitura atual e já existem várias propostas de implantação em outras cidades até de outros estados. No momento estamos desenvolvendo um software que também será implantado no projeto-piloto. 12 BIBLIOGRAFIA CLELAND, David I. Análise de Sistemas e Administração de Projetos. Tradução de Lúcia Helena Carvasin Zabotto. São Paulo: Ed. Pioneira, 1978. F UNDAÇÃO PARA O P RÊMIO N ACIONAL DA QUALIDADE. Indicadores do Desempenho. Série ID 01-00. São Paulo. FNPQ, 1996. P. 6. GIL, Antônio de Loureiro: Qualidade Total nas Organizações . São Paulo, Atlas, 1992. GOMES, Ricardo C. Indicadores do Desempenho Organizacional. Cadernos de Administração. Brasília: Universidade de Brasília, 1997. In _______. Análise do Desempenho de Organizações Públicas. In Anais XXI ENANPAD. Rio de Janeiro, 1997. MOTTA, Fernando C. Prestes. 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