Caso Clínico Tratamento ortodôntico-cirúrgico de deformidade dentofacial de Classe II: relato de um caso Jorge Faber*, Frederico Salles** Resumo OtratamentodeumapacientecomseveradeformidadedentofacialdeClasseIIfoi realizadoatravésdaassociaçãodotratamentoortodônticocomumacirurgiaortognáticacombinadadeavançodemandíbula e mento, com avanço e impacção de maxila. Os resultados do tratamento foram favoráveis, tanto pela perspectiva estética quanto pela funcional. A conjugaçãodostratamentosortodônticoecirúrgicoparaacorreçãodadeformidadeé apresentadanesserelatodecaso. Palavras-chave: Deformidadedentofacial.MáoclusãoClasseII.Ortodontia. Cirurgiaortognática.Estética. *DoutoremBiologiaAnimal-MorfologiapelaUniversidadedeBrasília;MestreemOrtodontiapelaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro;ClínicaPrivadadeOrtodontiavoltadaparaatendimentodepacientesadultos. **EspecialistaemCirurgiaeTraumatologiaBucomaxilofacial;Ex-ProfessorVisitantedaFaculdadedeMedicinadaUniversidadedeBrasília;Ex-CirurgiãoResponsávelpeloServiçodeCirurgiaBucomaxilofacialdoHospitalSarah/ Brasília;Emclínicaprivada. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 59 Tratamentoortodôntico-cirúrgicodedeformidadedentofacialdeClasseII:relatodeumcaso IntRodução O tratamento ortodôntico de muitas más oclusões de Classe IIpordeficiênciamandibularpodesedarpormeiodeabordagens tantocirúrgicasquantodecamuflagem.Estasegundaalternativa detratamentoémaiscomumqueaprimeiraporquemuitospacientesseapresentamparatratamentonoperíodofinaldadentaduramista,ouseja,emumaidadeemquealteraçõesortopédicas podemcorrigiramáoclusão.Alémdisso,osresponsáveisusualmentetendemaescolherumtratamentomenosinvasivo. Ainda que o problema original seja uma micrognatia mandibular, o mecanismo de ação da camuflagem está relacionado a alterações ortopédicas na maxila, independente do tipo de aparelho utilizado. Mesmo os aparelhos funcionais não são capazes deinduziralteraçõesortopédicasmandibularesimportantes,como demonstramrevisõessistemáticasquenãosustentamateoriasegundoaqualessesaparelhossãocapazesdeinduzirocrescimento mandibular1,6,8,18. OtratamentocirúrgicoparaamáoclusãodeClasseIIpordeficiênciamandibularempregaumavançodamandíbula,quepode ounãoestarassociadoacirurgiasnamaxilaenomento.Atécnica cirúrgica mais empregada é a osteotomia para separação sagital bilateral,descritaoriginalmenteporTraunereObwegeser17epos- Figura 1 - Fotografias da paciente no início do tratamento. 60 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 teriormentemodificadaporoutrosautores7,9,11.Elapermitegrandes avançosmandibulares,mastemcomoprincipalinconvenienteuma altataxadealteraçãodesensibilidadedonervoalveolarinferior10,13. Apesar dessa freqüente seqüela, o tratamento das deformidades dentofaciaisdeClasseIIparecepromoversignificativasmelhoras naqualidadedevida,relacionadaàsaúdegeralebucal,efunção psicológicanospacientestratados14. Esseartigorelataumcasoclínicodeumapacientequehaviase submetidoaumtratamentodecamuflagemanterior,equeoptou porumtratamentoortodôntico-cirúrgicoaofinaldaadolescência comafinalidadedemelhorarasuaestéticafacialedosorriso. CAso CLÍnICo Pacientedogênerofeminino,com15anose6mesesdeidade, compareceuparaconsultaacompanhadadesuamãe,apresentando como queixa principal a insatisfação com sua estética facial. Ela havia se submetido a um tratamento ortodôntico com outro profissionalduranteapré-adolescênciaparacamuflagemdeuma máoclusãodeClasseIIdeAngle.Amãerelatouqueelausouum aparelhofixoporquasetrêsanos,queconjugavaumaparelhoextrabucaldetraçãocervicalcomelásticosdeClasseII. ApacienteapresentavaPadrãoII5.Aanálisefacial(Fig.1)mos- JorgeFaber,FredericoSalles trouquesuafaceerasimétrica,verticalmentebemproporcionada, eseuperfilbastanteconvexo.Apresentavaumahipertonicidadedo músculomentonianoparamanteroselamentolabial.Suaexposiçãodeincisivossuperioresemrepousoerade7,5mm.Suahigiene bucalerasatisfatóriae,clinicamente,nãohaviaoutrosdadosrelevantes.Oexameclínicointrabucal(Fig.2)eaanálisedemodelos revelaramumamáoclusãodeClasseI,semapinhamentosougiroversõesimportantes. A análise das radiografias panorâmica, cefalométrica lateral (Fig.3)eperiapicaisdabocainteirademonstrouqueeraportadora deumaClasseIIesquelética,semperiapicopatiasououtraspatologias.Apresentavaumagrandecompensaçãodentáriadadeformidadeesquelética.Osincisivosinferioresestavammuitoprotraídos eossuperioresverticalizados,comopodeserobservadonasmedidascefalométricas(Tab.1,2,3,4).Omentoerapoucoprojetado emdecorrênciadamicrognatiamandibular,queeraacompanhada porumamarcadachanfraduraantegoníaca(Fig.3). oBJetIVos do tRAtAmento Osobjetivosdotratamentoeramcorrigirasuamáoclusãoeproporcionarumasignificativamelhoradaestéticafacialedosorriso. ALteRnAtIVAs de tRAtAmento Todasasalternativasdetratamentodiscutidascomapaciente esuafamíliaincluíamaexodontiadosprimeirospré-molaresinferiores, para aumentar a discrepância ântero-posterior entre os arcosdentáriosantesdarealizaçãodecirurgiaortognática.Asformasdetratamentoapresentadasforam: 1)tratamentoortodônticototalassociadoàcirurgiacomosteotomiasparaseparaçõessagitaisbilateraisdamandíbulaementoplastiaparaavançodomento.Essaabordagemmanteriaaexposiçãoexageradadeincisivossuperioresenãopermitiriaumavanço mandibulartãoexpressivoquantoonecessário. 2)tratamentoexpostonoitemanteriorconciliadoaumacirurgiadeLeFortIparaimpacçãoeavançodamaxila.Essaalternativa Figura 2 - Fotografias intrabucais antes do tratamento. Figura 3 - Telerradiografia de perfil inicial da paciente. A seta realça a marcada chanfradura antegoníaca da mandíbula. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 61 Tratamentoortodôntico-cirúrgicodedeformidadedentofacialdeClasseII:relatodeumcaso detratamentoproveriaosmelhoresresultadosestéticosparaapacienteefoiaopçãodeescolhadelaedafamília. PRoGResso do tRAtAmento Foramsolicitadasexodontiasdosprimeirospré-molaresinferioreseterceirosmolaresinferioresesuperiores.Nosarcossuperioreinferiorfoimontadoumaparelhoortodônticofixocombraquetes.022”x.028”.Todososdentesforamincluídosnoaparelho. Osmolaresinferioreseprimeirosmolaressuperioresforambandados,enquantoosdemaisdentesforamcolados.Osarcosdentários foramalinhados,niveladoseosespaçosdeextraçãofechadoscom umarcoretangular.019”x.025”comalçasemgota. Após o fechamento dos espaços de extração, a coordenação dosarcosdentáriosfoichecadacomumasucessãodemodelosde gesso. Os modelos também auxiliaram a visualização e correção decontatosprematurospordesnivelamentosdascristasdentárias, quejustificaramarecolagemdealgunsbraquetes. Um relacionamento dentário que viabilizasse a realização da cirurgiaortognáticafoiatingido18mesesapósoiníciodotrata- mento(Fig.4,5).Nesseintervalo,operfilfacialobteveumapequena piora(Fig.6A,B)queresultouemumaumentodadificuldadeda pacienterealizaroselamentolabial.Nãoocorreramalteraçõessignificativas nas relações ântero-posteriores e verticais dos tecidos moles(Tab.1,2,Fig.7A).Ocorreuimportantedescompensaçãodas inclinaçõesincisais,principalmenteinferiores(Tab.3,Fig.7A). Acirurgiafoirealizadasobanestesiageral,comentubaçãonasal, e combinou procedimentos na mandíbula (osteotomias para separação sagital bilateral e mentoplastia) e maxila (Le Fort I). A mandíbula foi avançada 10mm e o mento 12mm. A maxila foi reposicionadaparaanterior(5mm)esuperior(5mm).Apacientefez usodeumbloqueiointermaxilarportrêsdias.Duranteoperíodo pós-operatório,mesmocomedema,jápodiamseridentificadasimportantesalteraçõesestéticasnafacedapaciente(Fig.6C,7B),que puderamsermensuradasnotraçadocefalométrico(Tab.1,2,3,4). Apartirdetrêssemanasapósacirurgia,foiiniciadoousode elásticosintermaxilarescomorientaçõesquevariavamconformea necessidade.Otratamentoortodônticofoifinalizadocincomeses apósacirurgia. Figura 4 - Fotografias intrabucais imediatamente antes da realização da cirurgia ortognática. A sobressaliência aumentou consideravelmente quando comparada às relações iniciais. Ganchos em latão foram soldados ao arco ortodôntico .021” x .025” para permitir um bloqueio intermaxilar transoperatório. a B Figura 5 - Radiografias pré-operatórias: a) telerradiografia de perfil; B) panorâmica. 62 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 JorgeFaber,FredericoSalles TaBela 1 - Medidas cefalométricas para avaliação das relações ântero-posteriores dos tecidos moles. MEDIDA* NORMAL INICIAL PRÉ-OPERATÓRIO PÓS-OPERATÓRIO FINAL SnV–LS 1a2mm 5 5 8 5 SnV-LI 0a-1mm -2 -3 +3 +1 SnV-Pog’ -1a-4mm -19 -17 -4 -6 ANL 110º 88º 89º 95º 97º *SnV – Linha vertical passando pelo subnasal; LS – ponto mais anterior do lábio superior; LI – ponto mais anterior do lábio inferior; Pog’ – pogônio de tecidos moles; ANL – ângulo nasolabial. TaBela 2 - Medidas cefalométricas para avaliação das relações verticais dos tecidos moles. MEDIDA* NORMAL INICIAL PRÉ-OPERATÓRIO PÓS-OPERATÓRIO FINAL 1/Stms 2a4mm 8 5 5 3 G-Sn 50% 45 46 46 46 Sn-Me’ 50% 55 54 54 54 Sn-Stm 33%da½inf. 34 36 32 33 Stm-Me’ 66%da½inf. 66 64 68 67 DIL 2a4mm 8 5 11 4 *1/ - incisivo central superior; G – glabela; Sn – subnasal; Me’ – mento de tecidos moles; Stm – estômio; DIL – distância interlabial em repouso. TaBela 3 - Medidas cefalométricas das relações dos incisivos. MEDIDA* NORMAL INICIAL PRÉ-OPERATÓRIO PÓS-OPERATÓRIO FINAL 1/-PF 113º±1º 114º 116º 122º 115º 1/-PP 110º±5º 110º 115º 119º 111º /1-GoMe 95º±5º 113º 102º 100º 103º *1/ - incisivo central superior; PF – plano de Frankfurt; PP – plano palatal; /1 incisivo inferior; GoMe – linha gônio-mento. TaBela 4 - Medidas cefalométricas para avaliação dos tecidos duros. MEDIDA* NORMAL INICIAL PRÉ-OPERATÓRIO PÓS-OPERATÓRIO FINAL NPer-A 1mm 5 4 12 11 NPer-B -3mm -15 -14 -1 -1 GoGn-SN 32º 46º 47º 38º 39º * NPer - linha perpendicular a Frankfurt que passa pelo ponto násio; GoGn – plano gônio-gnátio; SN – linha sela-násio. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 63 Tratamentoortodôntico-cirúrgicodedeformidadedentofacialdeClasseII:relatodeumcaso a C B D Figura 6 - Perfil facial em diferentes momentos do tratamento. a) início do tratamento; B) pré-operatório; C) uma semana após a cirurgia ortognática, ainda com bastante edema; D) fim do tratamento. O ângulo cérvico-mandibular passou a ser bem definido. a B C Figura 7 - Sobreposição dos traçados cefalométricos de diferentes momentos do tratamento. a) Ocorreram descompensações dos incisivos superiores e inferiores e perda de ancoragem inferior. B) A cirurgia proporcionou significativos ganhos estéticos à paciente, apesar do edema ainda presente quando a radiografia foi realizada; o ápice nasal se movimentou para cima. C) Pequena recidiva do avanço mandibular pode ser observada, mas foi compensada por movimentações dentárias. ResuLtAdos Apacienteobteve,comotratamento,ganhosnaestéticadaface (Fig.6,8).Ocorreramimportantesavançosdamandíbulaedomento, queeliminaramadeficiênciaântero-posteriordetecidosmolesdo mentoeresultaramemuma melhordefiniçãodoângulo cérvicomandibular(Fig.1,6,8).Oavançoereposicionamentosuperiorda 64 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 maxilaacarretaramemumaformamaisbonitadonariz,comoápicedeslocadoparasuperior,eumaexibiçãoagradáveldosincisivos duranteosorriso(Fig.8).Aoclusãofoifinalizadacomumarelação deClasseInoscaninoseClasseIIInosmolares(Fig.9).Amovimentação dentária não provocou reabsorções radiculares clinicamenterelevantesnosdentesanteriores(Fig.10)eposteriores(Fig.11). JorgeFaber,FredericoSalles Figura 8 - Fotografias da paciente no final do tratamento. Figura 9 - Fotografias intrabucais no final do tratamento. Umparalelismoradicularsatisfatóriofoiatingido(Fig.11B).Oscontatosdentáriosfinaisduranteasexcursõesmandibularesforamadequadoseestãoexpostosnafigura12.Ossegundosmolaressuperiorespassaramatercontatopobrecomadistaldossegundosmolares inferiores (Fig. 13). A paciente permaneceu com leve alteração de sensibilidadenolábioinferior. dIsCussão Várias são as posições no espaço que os dentes e suas ba- ses ósseas podem assumir, após uma cirurgia ortognática combinada, para se atingir uma função adequada. Entretanto, uma quantidadebemmenordeopçõesproporcionaamelhorestética possívele,paraotimizaresteresultado,oplanejamentocirúrgico podeenfocarmaisostecidosmolesqueosduros.Mesmoaanálise cefalométrica a ser empregada pode enfatizar a apreciação das discrepâncias dos tecidos moles em relação a um ideal4. As maioresdiscrepânciasdapacienteaquiapresentadaresidiamna gravedeficiênciadopogôniodetecidosmoles(Tab.1)e,parasolu- Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 65 Tratamentoortodôntico-cirúrgicodedeformidadedentofacialdeClasseII:relatodeumcaso Figura 10 - Radiografias periapicais dos dentes anteriores ao final do tratamento. a B Figura 11 - a) Telerradiografia lateral e B) panorâmica ao final do tratamento. Miniplacas e parafusos foram empregados para a fixação interna rígida. 66 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 JorgeFaber,FredericoSalles cionaresseproblema,umgrandeavançomandibularedomento foiplanejado. Parapossibilitarumavançosagitaldostecidosdurosmandibularesquecorrespondesseàsnecessidadesestéticasdostecidos moles, foram diminuídas as compensações dentárias existentes paraaumentarasobressaliência(Fig.2,4,7A)previamenteàcirurgia.Assim,foramextraídososprimeirospré-molaresinferiores parapermitiraretraçãodosincisivosmandibularesefoiacentuada ainclinaçãodosincisivossuperiores.Essaabordagempermitiuque amandíbulafossemaisavançadadoqueseria,casoexodontiasde pré-molaresfossemexecutadasnoarcosuperior,oumesmocasoo tratamentofossefeitosemasextrações. Entretanto,essaopçãodetratamento-quepriorizouaestética facial–ocasionouumarelaçãodeficientedossegundosmolares superiorescomseusantagonistas(Fig.13).Seguramente,essepadrãoderelacionamentodemandasupervisão,masopequenocontatodentárioexistentepodesersuficienteparaestabilizarodente nosentidovertical. Essetratamentofoirealizadonumaépocaemqueosimplantesortodônticosparaancoragem,miniplacaseminiparafusosnão estavamdisponíveis.Sefosserealizadohoje,aretraçãodosdentes inferiorescomointuitodeaumentarasobressaliênciapoderiaser ancoradaemimplantes,evitandoorelacionamentoemClasseIII dosmolares. Otratamentocirúrgicoatingiubonsresultadosestéticos(Fig.1, 6,8).Jáfoidemonstradoqueacirurgiaortognáticapossuiinfluên- a C e B D F g Figura 12 - Fotografias que evidenciam os contatos dentários (setas azuis) durante as excursões mandibulares. Guias caninos dos lados a) direito e B) esquerdo. C e D) sem interferências nos lados de balanceio. e e F) Contatos nos incisivos laterais superiores durante os movimentos látero-protrusivos. g) Guia incisal no movimento protrusivo. Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 67 Tratamentoortodôntico-cirúrgicodedeformidadedentofacialdeClasseII:relatodeumcaso Figura 13 - Fotografias das relações que os segundos molares superiores passaram a apresentar com os inferiores. A pequena área de contato oclusal provê estabilidade incerta e demanda um monitoramento da oclusão para não causar efeitos indesejáveis. cias psicosocial e positiva na qualidade de vida14. Ainda que essasquestõesnãotenhamsidomensuradasnapacienteatravésde questionários,osrelatosdelaedafamíliasustentamesseachado. Noperíodocompreendidoentreacirurgiaortognáticaeofim dotratamentoumapequenarecidivamandibularocorreu(Fig.7C) e,provavelmente,foidevidaaumaremodelaçãonoscôndilos2.Esta foi acompanhada por uma mudança na inclinação dos incisivos superiores(Tab.3,Fig.7C),comoresultadodoselásticosdeClasseII queforamempregados,masnãoimpossibilitouquefossematingidosbonsresultadosoclusaisemmáximaintercuspidaçãohabitual eduranteasexcursõesmandibulares(Fig.9,12). Umaquestãorelevantequedeveserlevantadaésehaveriaou não, hipoteticamente, uma outra alternativa de tratamento para essapaciente,desdequerealizadaprecocemente.Maisespecificamente,poderiaumtratamentocomOrtopediaFuncionalterevitado acirurgiaortognática,proporcionandoumbomresultadoestético? Osdadosatuaisdisponíveissobreasalternativasdetratamentodepacientesemcrescimentoevidenciamquemesmoosaparelhosfuncionaisnãoteriamsidocapazesdepromoverouestimular qualquercrescimentomandibularrelevantenapaciente1,6,8,18.Dessa forma, não haveria outra alternativa de tratamento, além da cirurgia ortognática, que pudesse prover marcantes melhoras na estéticafacial. Esta evidência se confronta com a óbvia dificuldade que os responsáveispelospacientestêmemdecidir,aindanainfância,se seu filho(a) realizará uma cirurgia eletiva no futuro, sob anestesiageral,comgrandeimpactonaauto-imagem,jáqueexisteuma 68 Rev. Clín. Ortodon. Dental Press, Maringá, v. 5, n. 2 - abr./maio 2006 alternativa de tratamento não cirúrgica que melhora a função e parcialmenteaestética.Eessadifícilquestãonãoéaúnica.Caso sejafeitaaopçãopelacirurgia,opacienteterádeconviverporalgunsanoscomumadeformidadequepossuiimpactosestéticose psicosociais12.Oquesignifica,namaiorpartedasClassesII,realizar acirurgiaapartirdos14anosdeidade16. Nomomento,possivelmente,amelhorcondutaparaadministrar essa questão é o profissional dar todas as informações necessáriasparaqueopacientee,principalmente,seusresponsáveis façamumadecisãoesclarecida.Podeserútilousodecomputação gráficaparafornecerapossibilidadedecomparaçãodosresultados da cirurgia versus uma camuflagem ortodôntica. Os dados existentessugeremqueosbenefíciosdessaabordagemsuplantamos riscosdedespertarexpectativasnãorealistasnospacientes3,15. ConCLusão O tratamento ortodôntico-cirúrgico realizado nessa paciente foicapazdeproporcionarsignificativosganhosestéticosefuncionais.AoseplanejarotratamentodegravesmásoclusõesdeClasse IIempacientesjovens,estese,eventualmente,seusresponsáveis devem participar de amplas discussões que abordem os riscos e benefíciosdasdiversasalternativasdetratamento,paraquefaçam umadecisãoesclarecidasobrequandoecomotratar. AGRAdeCImentos OsautoressãogratosàDra.PatríciaMedeirosBertoporsuas sugestõesdurantearedaçãodesseartigo. JorgeFaber,FredericoSalles Surgical-orthodontic treatment of Class II dentofacial deformity: a case report Abstract A patient with severe Class II dentofacial deformity was treated through a surgical-orthodontic approach. A two-jaw surgery, with sagittal split osteotomies and genioplasty for advancement, and Le Fort I osteotomy for forward and upward maxillary repositioning was performed. Aesthetic and functional outcomes were favorable.Theinterdisciplinarytreatmentispresentedin thiscasereport. key words:Dentofacialdeformity.ClassIImalocclusion.Orthodontics.Orthognathicsurgery.Aesthetics. RefeRênciAs 1. AELBERS,C.M.F.;DERMAUT,L.R.Orthopedicsinorthodontics.PartI.Fictionorreality: reviewoftheliterature.Am J Orthod Dentofacial Orthop,St.Louis,v.110,no.5, p.513-519,1996. 2. ARNETT,G.W.Aredefinitionofbilateralsagittalosteotomy(BSO)advancementrelapse. Am J Orthod Dentofacial Orthop,St.Louis,v.104,no.5,p.506-515,1993. 3. 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