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21 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, quarta-feira, 30 de setembro de 2009
A reabilitação
do café
Demonizada por muitos anos, a bebida começa a
receber aprovação de vários estudos científicos.
O hábito, dizem pesquisadores do Incor-USP, ajuda
até a proteger contra doenças como o diabetes 2
Elio Rizzo/Esp. CB/D.A Press
» MÁRCIA NERI
E
reforçam o que algumas pesquisas internacionais vêm indicando: o café também é uma bebida
saudável para crianças. “Ingerido
com leite na merenda escolar, ele
pode auxiliar no aprendizado e
evitar a ingestão dos refrigerantes,
sempre maléficos para a saúde”,
enfatiza o cardiologista. O problema é que nem todos os médicos
estão bem informados em relação
a tantos benefícios. É o que alerta
o neurologista do Instituto do Cérebro de Brasília Ricardo Teixeira.
“O café contém inúmeras substâncias biologicamente ativas extremamente benéficas à dieta de
qualquer pessoa. A bebida potencializa o efeito da medicação que
afina o sangue de infartados. Fitoestrogênios presentes no grão
são capazes de repor parcialmente a queda hormonal em mulheres na menopausa. Além disso, o café reduz o risco de declínio cognitivo e demência, incluindo o mal de Alzheimer, e minimiza a probabilidade da doença de Parkinson. Quem toma até
quatro xícaras de chá por dia tem
menos depressão e alteração de
humor”, enumera o especialista.
Prazer
A publicitária Renata Ozores
Petroski, 39 anos, não dispensa o
cafezinho durante vários momentos do dia, e se diz empolgada
com o resultado das últimas pesquisas. “O hábito de tomar café
vem de dois anos para cá, época
em que me mudei para Brasília.
Aqui na capital, notei que as pessoas param para tomar um cafezinho com muito mais frequência.
Acabei aderindo a essa paixão.
Um endocrinologista recomendou que eu parasse, mas o café
nunca me fez mal. Muito pelo
contrário. Tomo cerca de seis pequenas xícaras por dia e ele propicia uma sensação prazerosa, até
alivia minha ansiedade”, revela.
Para o neurologista, as restrições em relação ao café contemplam apenas as mulheres grávidas e as pessoas com problemas
gástricos. Mesmo para pacientes
que sofrem de enxaqueca o café é
permitido. “Para muitos, a bebida
não desencadeia a dor”, garante o
médico. É o caso da funcionária
pública Adriana Leite, 43 anos.
“Tenho enxaqueca há 20 anos e
tomo duas xícaras de capuccino
por dia. Nunca tive problema com
o café. Bebidas, alimentos e até
odores que detonam as crises variam de pessoa para a pessoa. O
café não pode assumir essa culpa”, indica ela. “A receita é não
exagerar na dose, como tudo na
vida”, conclui Ricardo Teixeira.
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xpresso, tradicional, suave, forte, capuccino, descafeinado, ao creme, ao
leite: não importa a variação ou a combinação, o café é
uma paixão nacional. No país, nove em cada 10 brasileiros com idade acima de 15 anos consomem a
bebida diariamente. Apesar de tão
tradicional e quase unânime, o
hábito já foi, entretanto, considerado um vilão para a saúde. Coisa
do passado, quando os pesquisadores analisavam apenas os efeitos isolados da cafeína, testando
pacientes com cápsulas dessa
substância. Os estudiosos de hoje
afirmam que a ciência, nessa época, ignorava componentes presentes no grão que fazem do produto um alimento saudável e muito funcional. As novas pesquisas
sugerem que, se consumido moderadamente, o café é um grande
aliado, previne algumas doenças e
pode até retardar o envelhecimento de células, já que tem propriedades antioxidantes.
Para estudar os efeitos do café
no organismo, o Instituto do Coração da Universidade de São
Paulo (Incor-USP) saiu na frente e
criou um núcleo de pesquisa inédito no país. Os médicos da unidade Café e Coração estudam a
ação e os efeitos da bebida no corpo de pessoas saudáveis, diabéticas e com problemas no coração.
Até agora, 60 voluntários, com
idade entre 18 e 80 anos e perfis
variados, participaram de testes
para a avaliação médica. A pesquisa ainda tem cinco anos pela
frente. Ao todo, 300 pessoas serão
testadas. “Na primeira fase da
pesquisa, os voluntários passam
por uma limpeza no organismo.
Eles ficam 21 dias sem ingerir
qualquer produto que contenha
cafeína. Depois, passam 28 dias
bebendo café de torra escura e 28
dias de torra clara”, explica Bruno
Nahler Mioto, um dos cardiologistas que integram o grupo de pesquisadores do Incor.
O médico observa que ainda é
cedo para conclusões, mas adianta que o café não elevou o colesterol nem provocou piora em pacientes cardíacos ou diabéticos.
“Monitoramos a pressão arterial,
as taxas de glicose, colesterol, variáveis de inflamação, arritmia
cardíaca e o comportamento dos
vasos sanguíneos. Os pacientes
também são submetidos a exames
de sangue no período de acompanhamento. Testamos a reação a diferentes torras e variações porque
a bebida tem de 1% a 2,5% de cafeína e de 6% a 9% de antioxidantes, que são degradados se o grão é
muito torrado. O café coado também tem menos colesterol”, lembra o cardiologista.
De concreto, segundo ele, é
certo que o café não faz mal quando consumido em doses moderadas. A cafeína, isolada, talvez não
seja boa, mas a bebida está longe
de ter apenas cafeína. No grão, há
centenas de substâncias benéficas. “Tanto que não houve mudanças nos níveis de colesterol
dos pacientes e a pressão sanguínea se revelou até mais baixa no
período em que eles ingeriram a
bebida. Uma evidência, citada
em outros estudos e confirmada
em nosso trabalho, nos chamou
atenção: o café previne e protege
contra o diabetes tipo 2. Até os indivíduos que já desenvolveram a
doença e tomam café controlam
mais as taxas e morrem menos de
problemas desencadeados pelo
mal”, garante Mioto.
Os especialistas do Incor ainda
Renata ignorou o conselho
do endocrinologista: seis
pequenas xícaras por dia,
sem arrependimento
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