Aids em UTI Daniel Lorenzon Bartmann Médico Assistente UTI MI HC FMUSP Coordenador SCIH HMPB Nenhum conflito de interesse Objetivos da aula • Epidemiologia e fatores prognósticos da infecção pelo HIV/Aids em UTI • Uso de terapia antirretroviral na UTI Epidemiologia 1981-1985 Surgimento dos primeiros casos de Aids • 82 pacientes internados na UTI – UCSF (1981 a 1983) • Insuficiência respiratória como causa principal VM – 87% (PCP) Mortalidade 69% 31 pacientes internados na UTI – Miami (1981 a 1983) Insuficiência respiratória como causa principal VM – 74% (PCP) Surgimento de casos de neurotoxoplasmose e neurocriptococose Mortalidade de 71% (90% entre VM) Epidemiologia 1984 – pico de admissões hospitalares Mortalidade UTI - 70% Mortalidade hospitalar - 70 a 85% Descrença intensivistas > Redução das internações nas UTIs Epidemiologia 1986 a 1995 – Era pré-HAART Uso de corticoide na PCP Sobrevida 13% > 40% Mudança do perfil dos pacientes HSH > Receptores de hemoderivados, UDIV Melhora de sobrevida nos pacientes com VM Readmissão gradual dos pacientes nas UTIs Epidemiologia 1996 a atual – Era HAART Em países desenvolvidos Melhora de sobrevida dos pacientes infectados pelo HIV Redução das internações por PCP Pacientes com maiores níveis de CD4 Redução do uso de VM Não houve redução de internações nas UTIs Mudança de etiologia Mudança dos perfis dos pacientes Epidemiologia Principais causas de internação (UTI - San Francisco General Hospital) Huang et al. NEJM 2006 Epidemiologia Característica dos pacientes • Envelhecimento • Em uso de ARV Akgün et al. J Intens Care Med 2011 Preditores de mortalidade Estudos da era HAART tardia (países desenvolvidos) Autores Local do estudo Período Análise univariada Meybeck et al, 2012 Tourcoing Hospital (França) Jan2000 – Dez2009 • • • • Glasgow Diagn. Recente de HIV VM dias de DVA • SAPS II Morquin et al, 2012 University Hospital in France Jan1997 – dez 2008 • • • • VM 1as 24hs e T de VM DVA e T de DVA SAPS II Lactato • • • VM DVA SAPS II San Francisco General Hospital 2000 - 2004 • • • • • IRpA e VM Albumina PCP UDIV APACHE II • • VM Albumina Powell et al, 2009 Análise multivariada Preditores de mortalidade Estudos da era HAART tardia (Brasil) Autores Croda et al Japiassú et al Amâncio et al Local do estudo Período Análise univariada HCFMUSP/ 1996-2006 • • • • • • CD4 Sepse APACHE II > 19 Albumina < 2g/dL DHL > 1000mg/dL VM 1as 24hs • • • • CD4 Sepse APACHE II > 19 VM 1as 24hs IPEC/ jun2006mai2008 • • • • SAPS II/ SOFA VM Choque séptico/ DVA TSR • Choque séptico Hosp Eduardo Menezes/ Jan2006-dez2006 • • • • • APACHE II Choque séptico VM Albumina Doença oportunista • • • • APACHE II Choque séptico VM Tuberculose Análise multivariada Epidemiologia Mortalidade – causas não relacionadas à infecção pelo HIV Semelhante a não HIV Morrison et al. Surg Infect 2010 Afecções pulmonares Afecções pulmonares Klein et al, 2013 Pupaibool et al, 2013 Benito et al., 2001 Afecções pulmonares Diagnóstico • Investigação “agressiva” • Avaliar todos specimens respiratórios possíveis • • Múltiplos organismos 14-23% Etiologia não definida - letalidade (OR 1,6-2,83) Lee et al, 2013 Benito et al., 2001 Afecções pulmonares Afecções pulmonares Afecções pulmonares Afecções pulmonares Pneumocistose • 23-50% das internações hospitalares por insuficiência respiratória • CD4 < 200 cel/mm3 (10% dos casos CD4 >200 cels/mm3) • Infecção primária na infância • • Transmissão inter-humana Apresentação radiológica variável • CT-tórax: padrão vidro fosco • S-100%; E 83-89%; • VPN 99-100% Gruden et al, 1997 Hidalgo et al, 2002 Afecções pulmonares Afecções pulmonares Afecções pulmonares Falha de resposta terapêutica • Resistência • Outra etiologia • CMV pulmonar • Infecção por micobactérias • Infecção fúngica (histoplasmose, criptococose) Afecções pulmonares Citomegalovírus • Disseminada – 54% Silva et al. Rev Inst Med Trop Sao Paulo, 2010 • Manifestação clínica • • • • Retinina – 31% TGI Pulmonar SNC • Encefalite difusa – 62% • Polirradiculopatia – 54% • Romboencefalite – 8% Afecções pulmonares Afecções pulmonares Fonte: Anatpat-UNICAMP Afecções pulmonares Histoplasmose • Manifestação de doença oportunista em 22 a 85% nas áreas endêmicas Gutierrez et al. Clin Infect Dis 2005 • Imagem pulmonar similar a tuberculose miliar • Envolvimento extrapulmonar • • • Medula óssea Pele Sistema retículo-endotelial Afecções pulmonares Histoplasmose Afecções pulmonares Histoplasmose • Fatores associados a óbito • • • • • • Insuficiência respiratória Hemoglobina < 8,0 g/dL Ureia > 2x LSN Creatinina > 1,5 mg/dL TGO > 2,5x LSN DLH > 2x LSN Daher et al. Am J Trop Med Hyg 2006 Pontes et al. Rev Soc Bras Med Trop 2010 Iniciar o tratamento o mais precoce Afecções pulmonares Tuberculose • Causa associada ao óbito em 20% pacientes com aids no Estado de São Paulo • UTI-DMIP HC-FMUSP: 34% das admissões associadas à tuberculose • Radiografia simples tórax • • CD4>200: padrão habitual (cavitação/infiltrado ápices) • CD4< 200: normal (6-14%), consolidação + adenomegalia Manifestações extrapulmonares Afecções pulmonares Sarcoma de Kaposi • Em qualquer nível de CD4 • Principalmente < 200 • Hemorragia alveolar maciça • Manifestações extrapulmonares • • • Pele TGI Linfonodos Afecções neurológicas Afecções Neurológicas • Segunda causa de internação dos pacientes HIV/Aids • 11,1% das internações em UTI • 80% requerem uso de ventilação mecânica • 34% de óbitos na UTI • 68% de óbitos em 3 meses Nickas et al. Arch Intern Med 2000 Akgun et al. J Intens Care Med 2011 • Complicação em 40% dos pacientes HIV Afecções neurológicas Manifestação predominante Meningite ou meningoencefalite Criptococose Tuberculose Sífilis Piogênico Encefalites Focal Com efeito de massa Toxoplasmose Tuberculose Linfoma primário SNC Reativação Chagas Difusa Sem efeito de massa LEMP CMV HSV Demência HIV LEMP CMV Afecções neurológicas Encefalites • Quadros convulsivos • Cefaleia, paresias e hemiplegia, alterações de pares cranianos • Confusão mental e rebaixamento do nível de consciência Afecções neurológicas Encefalites Afecções neurológicas • Conduta • Tratamento empírico • Justificativa: soroprevalência T. gondii no Brasil: 50 a 80% Camara et al. J Bras Doenças Sex Transm 2003 • Prova terapêutica: • • 7 dias – melhora clínica 14 dias – melhora radiológica Afecções neurológicas Neurotoxoplasmose • Diagnóstico etiológico • Imunológico • ELISA/ IFI - IgG • • • • Sensibilidade – 90,6% Especificidade – 43,75% VPP – 44,6% VPN – 90,3% Indivíduos com CD4 muito baixo podem ter sorologia negativa Afecções neurológicas Neurotoxoplasmose Diagnóstico • Biologia molecular • PCR no LCR (Prime B22 e B23 do gene B1) • • • • Sensibilidade - 83,3% Especificidade – 95,7% VPP – 86,9% VPN-94,4% Alfonso et al. Cerebros Fluid Res 2009 Afecções neurológicas Neurotoxoplasmose Diagnóstico • Biologia molecular • PCR no LCR • Momento da coleta – antes ou após início do tratamento Cingolani et al. J Med Microb 1996 Afecções neurológicas Neurotoxoplasmose Diagnóstico • RT-PCR no sangue periférico Material Sensib. Especif. VPP VPN Sangue 97,2% 98,4% 97,3% 98,4% Liquor 100% 97,2% 100% 97,3% Total 98% 97% 98% 97% Mesquita et al. J Med Microb, 2010 Afecções Neurológicas Afecções neurológicas Diagnóstico diferencial • Linfoma primário do SNC • Reativação de Chagas Afecções Neurológicas Neurocriptococose • Segunda causa de manifestação neurológica no nosso meio • Letalidade – 20% • Presença de alteração radiológica → maiores títulos antigênicos séricos (p 0,008) e liquóricos (p 0,024) • Sem associação entre alteração radiológica e resposta ao tratamento Charlier et al. Plos One 2008 Afecções neurológicas Manejo da hipertensão intracraniana na neurocriptococose • Doença “não tratada” Graybill et al. Clin Infect Dis 2000; Perfect et al. Clin Infect Dis 2010 Afecções neurológicas Manejo da HIC na neurocriptococose – Síndrome Inflamatória da Reconstituição Imune (SIRI) • Critérios: • • • Uso de ARV, queda de CV-HIV e aumento de CD4 Sintomas compatíveis com processo inflamatório Critérios específicos para neurocriptococose Queda de concentração de antígeno no LCR Cultura fungo negativo Aumento de celularidade no LCR Melhora prévia Shelburne et al. Clin Infect Dis, 2005 Lortholary et al. AIDS, 2005 Bicanic et al. J Acquir Immune Defi c Syndr, 2009 Afecções neurológicas Manejo da HIC na neurocriptococose SIRI • Papel de corticosteroide??? • Aumento de mortalidade Graybill et al. Clin Infect Dis 2000 • Controle de sintomas de radiculite Brunel et al. Neurol 2009 • Uso apenas quando cultura negativa York et al. J Infect 2005 Antirretroviral na UTI Evolução da terapia antirretroviral Ann Ist Super Sanità 2011 Recomendação de ARV na UTI Contra ARV X • Eventos adversos de ARV • Interação medicamentosa • Toxicidade mitocondrial: acidose lática e pancreatite • Absorção??? Risco de induzir resistência Efeitos colaterais dos ARV • SNC • Agitação psicomotora e alucinações: EFV • Cardiovasculares • IAM, prolongamento intervalo PR/ QT: IPs • Hematológico • Citopenias: AZT • Renal • Acidose metabólica: TDF • Hepatotoxicidade • Todos Interação medicamentosa • Sedativos/analgésicos • • • Midazolan – todos IPs, EFV Metadona – todos Ips, todos ITRNN, AZT, d4T, ABC, MVC Anticonvulsivantes • • • • Fenitoína/fenobarbital – todos IPs, EFV, todos ITRNN, MVC Lamotrigina – LPV/r Ácido valproico – LPV/r Carbamazepina – todos Ips, todos ITRNN, MVC Recomendação de ARV na UTI • 30% de pacientes descobrem status de HIV+ na UTI • Entre os sabidamente HIV+, > 60% não estavam em uso de HAART • O que fazer com pacientes que estavam usando HAART? • O que fazer com pacientes em uso de HAART internados por doença oportunista? • Introduz ARV em pacientes recém-diagnosticados na UTI? Recomendação de ARV na UTI - 2001 Recomendação de ARV na UTI - 2001 Recomendação • Manter ARV se sem contraindicação • Iniciar ARV na UTI? Recomendação de ARV na UTI – 2006 Em uso de ART manter ARV se CV indetectável; se CV detectável, avaliar caso a caso • Sem ARV condição não associada a Aids: adiar ARV se CD4 > 200; avaliar ARV se CD4<200 • Sem ARV condição associada a Aids: iniciar ARV • (toxicidade, interação medicamentosa, SIRI) Evidências de ARV na UTI – 2006 a 2012 Antirretroviral na UTI Recomendação • • • • • • Não recusar paciente HIV na UTI Manter HAART se não tiver contraindicações Solicitar ajuda de especialista (infecto) na introdução/alteração de ARV Atentar às interações medicamentosas Atentar às toxicidades Atentar aos sintomas de SIRI (introdução de ARV quando paciente apresentar recuperação do quadro de DO) • • • PCP: iniciar ARV após fase de risco Tuberculose: iniciar ARV a partir de 2ª a 3ª semana de RIPE Neurocriptococose: cuidado com HIC