CURRICULO E TRANSVERSALIDADE: A COMPLEXIDADE NO ENSINO DE CIENCIAS FERREIRA, Luciana1, Guterrez, Karla2 DO ESTADO DO AMAZONAS MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS NO AMAZONAS 1,2UNIVERSIDADE Definição e planejamento do Temas Transversais INTRODUÇÃO VII 8% Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino VI 8% Fundamental (PCNs), referenciais para a organização do currículo das escolas brasileiras concebem a transversalidade, em seu documento introdutório (p. 64-65), como VII 8% I 23% V 8% um tratamento integrado entre todas as áreas do currículo, onde II 15% IV 15% um conjunto de temas específicos e de grande abrangência III 15% deverá permear a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de todas as áreas, podendo sofrer FIGURA 2: Estrutura Organizacional FONTE: FERREIRA,Guterres 2009. adaptações que atendam as necessidades de cada região ou I - De acordo com a afinidade de cada professor escola. II - O tema é decidido pela pedagoga ou direção. OBJETIVO GERAL E ESPECIFICOS; GERAL;Verificar o desconhecimento transversalidade, bem como as parcial ou modificações III - É definido bimestralmente e dividido entre os professores. total da IV - Os temas foram gerados a partir de conversas com os alunos. oriundas da V - Uma vez a cada semestre. implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), VI - Nas datas comemorativas da escola. através da proposta dos Temas Transversais em uma escola VII - A pedagoga trás os títulos e os professores escolhem um tema. Pública do município de Manaus. VIII - Cada professor é responsável por um tema e os alunos pesquisam. Como os Temas Transversais são desenvolvidos na escola ESPECIFICOS: Implementar os Temas Transversais em uma VIII 8% escolas públicas estadual no município de Manaus; Realizar entrevistas qualitativas com professores de de Escola o desconhecimento parcial ou total I 7% II 8% VII 15% de Ensino Fundamental; verificando-se IX 8% da III 23% VI 8% transversalidade proposta nos PCNs. V 15% METODOLOGIA, RESULTADOES E ANALISE DOS RESULTADOS IV 8% FIGURA 3: Estrutura Organizacional FONTE: FERREIRA, 1972. Temas Transversais trabalhados na sala de aula I - Com seminários feitos pelos próprios alunos. II - Com palestras, promovida com professores de outras instituições. V 8% VI 8% III - Com aulas tradicionais, e exposições de filmes. IV - Leitura do livro, e trabalhos de pesquisa. I 46% IV 15% V - Pelo corpo docente da escola. VI - Em cada paralisação da escola os alunos apresentam seus temas. VII - Os professores e alunos apresentam seus temas. III 8% VIII - A sala que for escolhida apresenta. IX - Pelos alunos, com a pesquisa e os professores com a organização. II 15% Consideraçoes FIGURA 1: Estrutura Organizacional FONTE: FERREIRA,Guterres 2009. A falta de envolvimento faz com que os professores não se apropriem das mudanças implementadas, desconhecendo detalhes, correntes de pensamento e até mesmo I - Sexualidade, Meio Ambiente, Fauna e Flora. II - Racismo. mudanças promovidas, sejam elas inovações ou não. É o caso dos PCNs que, III - Formas Geométricas com Sementes e a Terra. independentemente de prós e contras de sua proposta, são os referenciais IV - Alimentos, Aquecimento Global e Efeito Estufa. curriculares brasileiros e trouxeram propostas diferenciadas das praticadas até então V - Reciclagem e Água. VI - Tabagismo AGRADECIMENTOS E FINANCIAMENTOS Este trabalho foi financiado pela Casa da Física e pelo Museu da Amazônia Realização Apoio Currículo e Transversalidade: A complexidade no ensino de ciências Luciana da Cunha Ferreira1 Karla dos Santos Guterres2 Elisabeth Santos3 1,2,3 Universidade do Estado do Amazonas – UEA Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências na Amazônia Grupo temático01: Currículo, Ciência e Tecnologias Modalidade: pôster RESUMO: Realizou-se um estudo sobre Currículo e Transversalidade no Ensino de Ciências com o objetivo de verificar a implementação dos Temas Transversais nas escolas públicas estaduais do município de Manaus-AM. Priorizando a análise da Zona Leste, Distrital 05, o estudo visa contribuir na caracterização da abordagem da transversalidade nas escolas da capital amazonense. Utilizou-se uma análise qualitativa, através de entrevistas realizadas com professores de escolas do Ensino Fundamental, verificando-se o desconhecimento parcial ou total da transversalidade, bem como as modificações oriundas da implementação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), através da proposta dos Temas Transversais. Percebeu-se que ainda há um longo percurso a ser percorrido no sentido de que a transversalidade seja incorporada nas práticas educacionais e os docentes se apropriem destes referencias, modificando a abordagem dos conteúdos de ciências no currículo. PALAVRAS-CHAVES: Currículo; Transversalidade; Ensino de Ciências. 1 Introdução: Ao pensar na aplicação da transversalidade no currículo do Ensino Fundamental, tendo como foco aspectos epistemológicos, políticos e metodológicos da prática educativa, constata-se a precariedade na formação dos docentes a respeito do tema. Políticas públicas para educação, geralmente elaboradas por estrangeiros com ideologia neoliberal, buscam de forma descontextualizada adaptar experiências de outros países a realidade brasileira, dificultando a adoção efetiva de práticas transversais, principalmente na região amazônica. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (PCNs), referenciais para a organização do currículo das escolas brasileiras concebem a transversalidade, em seu documento introdutório (p. 64-65), como um tratamento integrado entre todas as áreas do currículo, onde um conjunto de temas específicos e de grande abrangência deverá permear a concepção, os objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas de todas as áreas, podendo sofrer adaptações que atendam as necessidades de cada região ou escola. Visando compreender como vem se efetivando a transversalidade nas escolas da rede pública estadual do município de Manaus, realizou-se uma pesquisa em duas escolas da Zona Leste de Manaus, com professores de todas as áreas do conhecimento. Utilizandose como instrumento de coleta de dados entrevistas com questões abertas, buscou-se compreender a aplicação da transversalidade no currículo do Ensino de Ciências, contribuindo para a reflexão sobre sua eficiência, seu aperfeiçoamento e incorporação destas políticas e práticas nas escolas. 2 Uma Breve Trajetória do Ensino de Ciências no Currículo Partindo-se da compreensão de currículo como tudo que se vive na escola, suas rotinas, conteúdos abordados ou negados, espaços de convivência ou de poder, regulação e emancipação, o currículo é, conforme já destacou Silva (2007) um documento de identidade. Como uma impressão digital única e própria de cada escola a cerca das vivências e do conhecimento a ser construído, o currículo envolve aspectos simbólicos, lingüísticos, epistemológicos, científicos, políticos, sociais e ideológicos que o identificam e guiam. Em sua origem etimológica, a palavra “currículo” vem o latim curriculum e significa “pista de corrida”. Correr envolve movimento e tem por base um trajeto. Quem não tem um percurso traçado pode se perder ou correr sem destino, chegando a lugar indeterminado. Ao se estabelecer um currículo objetiva-se guiar a trajetória do saber escolar, apontando os inúmeros caminhos disponíveis neste itinerário. A presença do conhecimento científico no currículo é relativamente recente e só surgiu em função de interesses para a política. Após a Segunda Guerra Mundial, o lançamento do Sputnik fez despertar, o então Bloco Ocidental, para o atraso da sua educação científica. Tendo como marco inicial os anos 60, período da Guerra Fria, os Estados Unidos fizeram investimentos sem paralelo na história da educação a fim de vencer a batalha espacial, tendo o ensino de Física, Química, Biologia e Matemática como prioridade, a fim de garantir a formação de uma elite de jovens cientistas. Este período teve influência no ensino de ciências do mundo inteiro e, ainda hoje, se reflete nos currículos. No Brasil, no período pós-guerra, a prioridade era impulsionar a ciência em função do processo de industrialização, almejando a auto-suficiência e o fim da dependência científico-tecnológica. Com transformações políticas e um breve período de eleições livres, a ciência passa a ter como função principal o desenvolvimento da cidadania e o espírito crítico, através do uso do método científico. Nesse momento, o ensino de ciências passa a fazer parte do currículo do antigo ginásio e, no colegial, a Química, Física e Biologia têm sua carga horária aumentada (LDB nº 4.024/61). Para Wortmann (2003, p. 137), a evolução do enfoque adotado pela escola elementar nas disciplinas escolares de ciências no Brasil, primeiramente adotou a preponderância de um enfoque direcionado a questões do cotidiano e, posteriormente, um abandono do mesmo em busca da aproximação das disciplinas escolares com os saberes acadêmicos. Durante o regime militar, iniciado em 1964, o papel do ensino de ciências se modifica, passando a valorizar a formação para o trabalho. Com a LDB nº 5.692/71 as disciplinas científicas devem se tornar profissionalizantes, descaracterizando sua função no currículo. Porém, é na década de 1970 que surgem inúmeras discussões envolvendo a reunião ou a fragmentação dos saberes da área de ciências e sua organização e programação como disciplina escolar, conforme caracteriza (WORTMANN 2003, p. 137) “Assim, criticam-nas tanto os defensores da fragmentação dessa área em várias disciplinas – o modo característico das programações curriculares do início do século que desenvolvia os estudos de ciências em disciplinas como a química, a zoologia, a botânica, as noções de saúde, entre outras -, como os adeptos da busca de “ações mais articuladas”. Isto é: aqueles que pretendem encontrar formas de organização temática capazes de reunir os conceitos oriundos das diferentes ciências de referência em uma nova e única disciplina – as ciências físicas e biológicas” Para (WORTMANN 2003, p. 137-138), os principais adeptos da corrente em favor da fragmentação eram especialistas universitários em busca da consolidação de sua área de conhecimento no ensino fundamental, tendo como opositores os adeptos do movimento para uma educação em ciências integrada, estimulado por organizações como a UNESCO. Este movimento visava o rompimento das fronteiras entre as disciplinas tradicionais, evitando a repetição de conteúdos e proporcionando a organização do ensino por temas ou tópicos de caráter unificador. Um exemplo da influência desta tendência foi à criação das licenciaturas curtas em ciências, baseadas na idéia de uma ciência única, ou seja, uma única disciplina escolar com a ciência integrada, agregando os principais conhecimentos das áreas científicas. Esta resolução foi muito contestada, principalmente no meio acadêmico-científico, gerando na década de 1980 o fim desta medida. Com a LDB nº 9.394/96 o enfoque do ensino de ciências se transforma novamente, voltando-se para as questões relacionadas à compreensão do ambiente material e social, a formação ética, a autonomia intelectual e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos. Estas propostas repercutiram no ensino de ciências e estão presentes no texto dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) para o Ensino Fundamental de Ciências Naturais e nos Temas Transversais. 3 Parâmetros Curriculares Nacionais e Transversalidade Com sua elaboração orientada por organismos internacionais e baseado na reestruturação do sistema escolar espanhol, ocorrida em 1989, os Temas Transversais foram incorporados aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (MEC, 1997-1998) como uma pretensa novidade na forma de abordar conteúdos relacionados às humanidades, direcionados a formação do homem e da cidadania através de áreas do conhecimento tradicionais na escola. A proposta dos Temas Transversais retoma a valorização do conhecimento das humanidades, apesar de ser considerado por alguns como um retorno aos temas “helênicos”, ao apontar a necessidade do resgate do homem enquanto ser, em sua subjetividade. Naturalizando causas e conseqüências inerentes a filosofia da estrutura social capitalista e sua concepção neoliberal, os PCNs delegam à escola, através dos Temas Transversais, a tarefa de “resgate” da degradação ético-social, humana e ambiental através da abordagem de temas pré-determinados, sem com isso reduzir o espaço de disciplinas tradicionais do currículo. Os Temas Transversais não se constituem em novas disciplinas e sim em temáticas a serem exploradas, tendo como eixo vertebrador a cidadania. Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo são alguns dos temas que devem ser incorporados ao currículo, recebendo tratamento didático em todas as disciplinas. Os referidos temas foram incorporados aos currículos, na grande maioria das escolas, sem questionamento ou contextualizações. A determinação de temáticas específicas foi justificada no texto os PCNs (p. 25-26) devido a sua urgência social, possibilidade de ensino e aprendizagem no ensino fundamental, favorecer a compreensão da realidade e a participação social. Porem, ao abordarem a transversalidade os PCNs lhe atribui uma função meramente metodológica, omitindo sua amplitude epistemológica. As contradições intrínsecas as práticas escolares, ao abordar conceitos, atitudes, valores e práticas sociais devem ser exploradas a fim de que se possa dar sentido as atividades desenvolvidas, relacionando-as ao cotidiano e a atualidade. A transversalidade deve ser adotada como uma proposta aberta, abordando temas indispensáveis e significativos para a vida na sociedade contemporânea. Segundo os (PCNs p.26). “Nas várias áreas do currículo escolar existem, implícita ou explicitamente, ensinamentos a respeito dos temas transversais, isto é, todas educam em relação a questões sociais por meio de suas concepções e valores que veiculam nos conteúdos, no que elegem como critério de avaliação, na metodologia de trabalho que adotam, nas situações didáticas que propõem aos alunos. Por outro lado sua complexidade faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para explicá-los; ao contrário, a problemática dos temas transversais atravessa os diferentes campos de conhecimento”. Ao contatar que nenhuma área de conhecimento basta a si mesma, surge à possibilidade de eliminar a fragmentação direcionando o processo de ensino-aprendizagem na direção de novas perspectivas, mais abrangentes e integradoras. A transversalidade surge como perspectiva para a superação da hierarquização, rompendo estruturas de poder, atravessando horizontalmente áreas de saber tradicionais na educação. 4. Ciência, Compartimentalização e Complexidade A compartimentalização do conhecimento é um fenômeno atual que afastou a realidade da escola. Os povos da antiguidade produziam conhecimento com uma visão integral, buscando respostas para questões experimentais e do dia a dia, fundamentais para dar sentido à vida e ao universo. Nos séculos XVIII e XIX ocorre uma ruptura, onde a visão heurística é substituída, excluindo-se a inventividade, a criatividade, o acaso, utilizando-se do sagrado ou divino na busca de resposta a todo e qualquer problema relacionado à essência humana. A ciência evoluía com uma lógica linear e fechada onde a causalidade justificava suas descobertas parciais e relativas que eram tidas como verdades absolutas, com uma lógica reducionista que buscava a eliminação da contradição e do erro, mascarando um sucesso limitado de entidades que não se comunicavam entre si. A imaginação e a criatividade, sem as quais o progresso da ciência não teria sido possível, tornam-se marginais, privilegiandose a ordem, a quantificação, a separação do conhecimento em áreas específicas, estanques e racionais. A especialização do saber que levou a disciplinarização teve conseqüências no currículo escolar, conforme destaca (Gallo p. 03), “para a educação, os reflexos da disciplinarização que nos mostra essa cartografia do saber são imediatos e profundos. Didaticamente, a organização do conhecimento em disciplinas, que cristaliza-se nos currículos escolares, facilita o acesso dos estudantes a esses saberes. Tanto é assim que toda a estrutura burocrática escolar está montada sobre essa compartimentalização. Nesta perspectiva, cada professor é um arquivista especializado numa disciplina, tendo a função de possibilitar aos alunos o acesso às informações ali contidas. Por outro lado, temos o efeito pernicioso da compartimentalização: os estudantes - e mesmo os professores - não são capazes de vislumbrar qualquer possibilidade de interconexão entre as várias gavetas dos arquivos.” Neste contexto, mudar as bases do raciocínio deve envolver uma reforma paradigmática radical e ampla no pensamento científico da sociedade e, conseqüentemente, na estrutura dos currículos escolares. Segundo Moraes (2000), o currículo no paradigma tradicional é fechado e linear, desconsiderando as transformações no mundo. Uma nova visão de mundo requer mudança na estrutura curricular onde, em um paradigma emergente, serão consideradas a capacidade de renovação e transformação permanente do universo, a criatividade, o movimento, a aprendizagem construtiva e o diálogo com a natureza. Um currículo transformador deve considerar a relação com o ambiente, com os outros e com a cultura, valorizando o diálogo entre o indivíduo e a natureza em um processo de reflexão na e sobre a ação, com diálogos cheios de significados e possibilidades que se inter-relacionam, ou seja, a interdisciplinaridade gerando a contextualização do currículo com uma visão tanto local quanto global, em um processo dialógico voltado para as descobertas. De acordo com Doll (1997) apud Moraes (2000, p. 148) [...] é essencial para a criação de um currículo transformador, sem início e fim fixos, predeterminados, em que cada fim significa um novo começo e cada começo emerge de um fim anterior, o que estaria de acordo com o pensamento de Dewey. É um currículo claro, aberto, eclético, interpretativo, em que a recursão permitiria desenvolver a capacidade de organizar, combinar, inquirir, utilizar as coisas heuristicamente com base em uma estrutura aberta, que permita que os pensamentos se conectem entre si, percebam as inter-relações existentes entre os conhecimentos que estão sendo criados. O sujeito do mundo atual está inserido em uma ecologia cognitiva que envolve seres humanos, biológicos e técnicos que, interconectados e em movimento produzem diferentes representações simbólicas, unidos por uma rede de saberes e práticas individuais e coletivas que relacionam conhecimentos, acasos, incertezas, ambigüidades e desordem, característicos de nosso universo fenomenológico. A busca por uma nova consciência, onde o ser humano seja a síntese entre individualidade e globalidade aponta para o caminho da complexidade. Um currículo baseado na complexidade deverá estar centrado no aluno e não no próprio currículo, provocando a fusão entre o uno e o múltiplo, promovendo a recursividade entre as interações e interferências próprias ao conhecimento científico, eliminando a segmentação e as verdades absolutas pela incerteza, a auto-organização e a totalidade. 5. Materiais e Métodos Primeiramente foi realizada uma pesquisa preliminar, com uma amostra coletada através de entrevista realizada com professores de ciências (Química, Física, Ciências Biológicas e Matemática) do Ensino Fundamental, escolhidos aleatoriamente, constituindo-se em referencial para a elaboração da fase definitiva da pesquisa. A parir das respostas coletadas na pesquisa preliminar, foi elaborada uma entrevista constituída de 13 perguntas sobre a Transversalidade, com questões abertas. A entrevista foi realizada com professores de qualquer área de ensino, nas escolas da Zona Leste - Distrital 05, da rede pública estadual de ensino. Foram escolhidas para análise as escolas com maior número de turmas do Ensino Fundamental e a série com maior quantitativo de alunos. As perguntas foram realizadas nas escolas selecionadas durante o mês e dezembro de 2008, no turno vespertino, com todos os professores do 8º ano. De posse das informações coletadas, tabularam-se os dados e elaboraram-se gráficos e considerações a cerca dos dados que contribuíram na análise das informações obtidas e conclusões sobre a Transversalidade e o Ensino de Ciências na rede estadual de ensino da cidade de Manaus. 6. Resultados A caracterização dos professores entrevistados, em sua maioria, é do sexo feminino, graduados, com faixa etária entre 31 e 40 anos, ingressantes no magistério através de concurso público, com jornadas de trabalho de 40 horas e tempo de serviço entre 11 a 20 anos de trabalho. Ao serem questionados se os PCNs trouxeram alguma modificação fundamental no Ensino Básico, os docentes responderam, conforme indica os dados do Gráfico 1: VIII VII 8% 8% VI 15% IX 8% V 15% I 15% IV 15% II 8% III 8% I - Não, nunca foi trabalhado, só funciona “no papel”. II - Não, a idéia é boa, mas não funciona com um quantitativo muito grande de alunos em sala de aula. III - Não, pois é melhor ficar cada um em sua sala de aula. IV - Tentaram uma vez, mas não foi bem sucedido. V - Sim, mas é necessário que a escola trabalhe em equipe. VI - Sim, claro. Mas falta apoio da direção da escola. VII - Sim, a idéia é muito boa, mas eu ainda acredito que a superlotação prejudica um bocado. VIII - Sim, fizemos a leitura dos PCNs, o ano está terminando e nada aconteceu. IX - Sim, já trabalhei em outra escola, mas nessa que estou agora ainda não consegui fazer um bom trabalho. Gráfico 1: Contribuição do PCNs no Ensino Básico. Ao serem questionados sobre o que vem a ser Transversalidade, 31% dos docentes reconhecerem o total desconhecimento do termo, 31 % destacaram palavras como atravessamento, enlaçamento, pontos de encontro de todas as disciplinas da escola e para 31 % é uma proposta de renovação do trabalho pedagógico envolvendo todas as disciplinas ou áreas de conhecimento da escola e para 07% essa palavra quer dizer envolver, ensinar a desvendar, mostrar aos alunos que uma única palavra ou mesmo um único tema envolve todas as disciplinas que ele está aprendendo na escola. Na maioria das escolas a Transversalidade não está contemplada no Projeto Político Pedagógico e, apesar de todos os professores salientarem que os Temas Transversais contribuem com a formação do cidadão do mundo contemporâneo, ainda existem algumas dificuldades crônicas na escola como a efetivação do trabalho em equipe, a articulação com as equipe pedagógica das escolas e a sistematização das reuniões pedagógicas. Quanto aos Temas Transversais já trabalhados em sala de aula, destacaram-se, conforme o Gráfico 2: VI 8% V 8% I 46% IV 15% III 8% I - Sexualidade, Meio Ambiente, Fauna e Flora. II - Racismo. III - Formas Geométricas com Sementes e a Terra. IV - Alimentos, Aquecimento Global e Efeito Estufa. V - Reciclagem e Água. VI - Tabagismo II 15% Gráfico 2: Temas Transversais trabalhados na sala de aula. As escolas, em sua maioria, determinados os temas a serem trabalhados em reuniões pedagógicas, sendo que, conforme indica o Quadro 3, os Temas Transversais são definidos e planejados: VII VI 8% 8% VII 8% I 23% V 8% II 15% IV 15% III 15% I - De acordo com a afinidade de cada professor ou como o docente considerar mais conveniente. II - O tema é decidido pela pedagoga ou direção. III - É definido bimestralmente e dividido entre os professores. IV - Os temas foram gerados a partir de conversas com os alunos. V - Uma vez a cada semestre. VI - Nas datas comemorativas da escola. VII - A pedagoga da escola trás os títulos e os professores escolhem um tema. VIII - Cada professor fica responsável por um tema e os alunos pesquisam. No decorrer do ano letivo cada turma apresenta sua pesquisa. Gráfico 3: Definição e planejamento do Temas Transversais Para avaliar o trabalho com os temas transversais, muitos professores se utilizam de perguntas e comentários ao final das atividades, ocorrendo também práticas conjuntas com outros professores, com a participação dos alunos, semanalmente enfocando temas da atualidade vinculados na mídia e desenvolvidos em sala de aula ou pontuando atividades de pesquisa, freqüência e participação em sala de aula, com nota individual. Sobre o desenvolvimento dos Temas Transversais na escola, os docentes responderam conforme ilustra o Gráfico 4: VIII 8% IX 8% I 7% I - Com seminários feitos pelos próprios alunos. II - Com palestras, promovida com professores de outras instituições. III - Com aulas tradicionais, e exposições de filmes. IV - Leitura do livro, e trabalhos de pesquisa. V - Pelo corpo docente da escola. VI - Em cada paralisação da escola os alunos apresentam seus temas. VII - No fim de cada mês, os professores e alunos apresentam seus temas. VIII - A sala que for escolhida apresenta. IX - Pelos alunos, com a pesquisa e os professores com a organização. II 8% VII 15% III 23% VI 8% V 15% IV 8% Gráfico 4: Como os Temas Transversais são desenvolvidos na escola Questionou-se os docentes sobre a forma como os Temas Transversais são trabalhados em conjunto com outras áreas de conhecimento e eles responderam como indicado no Gráfico 5: V 8% VI 15% I 7% II 8% III 31% IV 31% I - todas as disciplinas envolvem a transversalidade, pois os assuntos deveriam ser trabalhados em conjunto com os professores da escola. II - Nunca trabalhei outras disciplinas que não fosse a minha de formação. III - Não souberam responder. IV - Não, cada um com sua disciplina. V - Sim, mas os temas são separados. VI - Cada professor fica responsável pelo seu tema, diferente das suas aulas. Gráfico 5: Trabalho conjunto entre os Temas Transversais e outras áreas de conhecimento. Os temas mais citados pelos professores como tendo sido desenvolvidos em parceria com outras áreas do conhecimento foram 7% Planeta terra; 15% Sexualidade/ Doenças sexualmente transmissíveis; 7% Tabagismo; 8% Meio Ambiente; 15% Geometria/com artes; 8% Desmatamento; 8% Poesia; 8% Efeito estufa, 8% Aquecimento global; 8% Colonização; 8% Movimentos (Ciências ou Física). Quanto à periodicidade, em sua maioria os Temas Transversais são trabalhados semestralmente, quando contemplados pelas escolas, pois muitas não prevêem este tipo de atividade. A receptividade dos alunos, segundo os docentes, é boa, pois apreciam novidades, gostam de trabalhar temas diferenciados dos comumente previstos pela escola, mas, para muitos professores os Temas Transversais para o currículo de ciências estão muito relacionados a feiras de ciências. 7 Considerações Finais Muitas mudanças estabelecidas na escola são implementadas através de documentos legais ou são determinados por esferas diretivas, sem o envolvimento dos docentes. A falta de envolvimento faz com que os professores não se apropriem das mudanças implementadas, desconhecendo detalhes, correntes de pensamento e até mesmo mudanças promovidas, sejam elas inovações ou não. É o caso dos PCNs que, independentemente de prós e contras de sua proposta, são os referenciais curriculares brasileiros e trouxeram propostas diferenciadas das praticadas até então, como é o caso dos Temas Transversais, ou seja, a proposta de implantação da transversalidade. Os professores, em sua grande maioria, não têm clareza sobre o que seja transversalidade. A variedade de temas e abordagens adotadas na tentativa de implementar os Temas Transversais retrata a dificuldade dos docentes em perceber o que seja a transversalidade. Mesmo estabelecendo relações com expressões como atravessamento, enlaçamento, pontos de encontro de todas as disciplinas, o que demonstrando o contato com algum tipo de referencial relativo à temática transversal, a representação do que realmente seja transversalidade ainda não se constituiu no imaginário docente, reduzindo sua prática a atividades como as feiras de ciências. Todos querem inovações, mas não sabem como começar e acomodam-se nas rotinas e estruturas já estabelecidas na escola. Em um universo tão rico e complexo, repleto de temáticas próprias, as escolas da Amazônia exploram pouco sua realidade local como Temática Transversal, reduzindo-se a questão ambiental e, quase que prioritariamente, a questão do ambiente físico. Além disso, permanece na escola a histórica luta por poder entre professores e pedagogos onde, em um processo de perda de autonomia docente e descaracterização do verdadeiro papel da pedagogia no ambiente escolar, ambos se anulam e se culpam de forma pouco construtiva, tendo como o principal prejudicado o aluno e o currículo vivenciado por ele nas escolas. Transversalisar não somente os conteúdos, mas também as práticas pedagógicas, promovendo a dialogicidade que atravesse os limites dos papéis estabelecidos socialmente para cada membro da comunidade escolar, subvertendo relações de poder e ordem em um “caos educativo” que envolva um desequilíbrio alimentador dinâmico e estabilizado, ou seja, a auto-organização da escola e seus membros é o ideal de um currículo baseado na complexidade. 8 Referências Bibliográficas BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SETEC, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: ciências naturais. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, ética. Brasília: MEC/SEF, 1997. Acesso em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf, 27 de janeiro de 2009, 22h e 35min. GALLO, Silvio. 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