UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE (PRODEMA)
JACSON TAVARES DE OLIVEIRA
EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E DOS SOLOS NA
BACIA DE CAPTAÇÃO DA BARRAGEM ÁGUA FRIA I
E II EM BARRA DO CHOÇA/BA
ILHÉUS – BA
2006
JACSON TAVARES DE OLIVEIRA
EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E DOS SOLOS NA
BACIA DE CAPTAÇÃO DA BARRAGEM ÁGUA FRIA I
E II EM BARRA DO CHOÇA/BA
Dissertação apresentada, para obtenção
do
título
de
Mestre
em
Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente, à Universidade Estadual de
Santa Cruz.
Área de Concentração: Planejamento e
Gestão Ambiental no Trópico Úmido
Orientador: Profª Drª Ana Maria Souza
dos Santos Moreau
Co-Orientador: Profº Msc. Arlicélio de
Queiroz Paiva
Co-Orientador:
Menezes
ILHÉUS – BA
2006
Prof¦ª
Drª.
Agna
Oliveira, Jacson Tavares de
S163e
Bacia de Captação da barragem Água Fria II em Barra do Choça/BA:
evolução do uso da terra e modificações nos solos sob diferentes
manejos/Jacson Tavares de Oliveira . Ilhéus(BA): UESC, 2006.
xii, 113 p.
Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento e Meio
Ambiente) - Universidade Estadual de Santa Cruz, 2006.
1.Geoprocessamento 2. Agregação 3. Manejo do Solo I.Título.
JACSON TAVARES DE OLIVEIRA
EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E DOS SOLOS NA
BACIA DE CAPTAÇÃO DA BARRAGEM ÁGUA FRIA I
E II EM BARRA DO CHOÇA/BA
Ilhéus-BA, ___/___/_____ .
_____________________________________________
Ana Maria Souza dos Santos Moreau - DS
UESC/DCAA
(Orientador)
______________________________________________
Oldair Del`Arco Vinhas Costa - DS
UESC/DCAA
______________________________________________
Maria José Marinho do Rego - DS
UFBA/IGEO
DEDICATÓRIA
Aos meus pais e a toda a família que, com muito
carinho e apoio, não mediram esforços para que eu
chegasse até esta etapa de minha vida.
Aos moradores das sub-bacias Rio dos Monos e Rio
Água Fria.
AGRADECIMENTO
A Deus, por ter colocado tantas pessoas maravilhosas para me ajudar nesta caminhada.
À Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), na pessoa dos professores Fermin C.
Garcia Velasco e Neylor A. Calasans Rego que coordenaram o Curso de Mestrado em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente no período 2004/2006.
Ao Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia, na pessoa do Diretor Geral,
Professor Rui Pereira Santana e do Diretor da UNED de Vitória da Conquista, Professor
Bráulio Lima Mota, pela oportunidade concedida de realizar este curso.
À minha esposa Edeliana e aos meus filhos Leonardo, Mariana e Thiago pelo apoio
incondicional e compreensão dos momentos em que precisei estar ausente do convívio
familiar.
Às minhas irmãs Selma e Kellen, e aos meus pais, Aloysio e Dilva, que mesmo
enfrentando dificuldades, conjugaram esforços para educar seus filhos e estiveram sempre
presentes nos momentos de alegrias e também nas adversidades.
À minha orientadora, professora Ana Maria S. S. Moreau, pela contribuição prestada
na realização deste trabalho, assim como pelo incentivo e amizade.
Aos professores Arlicélio de Queiroz Paiva e Agna Menezes, meus co-orientadores,
pelas sugestões, críticas e orientações.
Aos membros da Banca Examinadora pela valiosa contribuição ao trabalho.
Ao professor Neylor Calazans, com quem mantive o primeiro contato na UESC ainda
como aluno especial e que foi um grande incentivador e colaborador nesta jornada.
Aos professores do Curso de Mestrado que forneceram o suporte teórico e
metodológico para a realização desta pesquisa.
Ao prefeito de Barra do Choça, Gesiel Ribeiro; ao Secretário de Meio Ambiente, Jorge
Amorim; e aos amigos da SEMARH pelo grande interesse demonstrado em todas as fases da
pesquisa.
Aos amigos Alexandre e Thiara, que colaboraram nas análises físicas dos solos.
Aos meus colegas de curso, em especial a Edvaldo Oliveira, companheiro das idas e
vindas à Ilhéus e que prestou grande auxílio na confecção dos mapas.
Aos meus colegas professores do CEFET-BA, em especial a Zenilton (que tanto
ajudou nas traduções para a língua inglesa) e a Marta, Manoel, Eduardo e Tácio (que foram
compreensivos na flexibilização dos horários).
Aos colegas da CEPLAC que foram importantes na determinação das análises
químicas dos solos, em especial a Dailton Araújo.
Aos amigos Sinfrônio, Gilmar e Silvano, que ajudaram na preparação das trincheiras e
coleta de amostras de solo.
A todas as pessoas, que direta ou indiretamente, contribuíram para o bom andamento e
a realização desta pesquisa.
De onde vem o perfume das rosas?
Jacson Tavares de Oliveira
Nas rosas belas e perfumadas
No jacarandá forte e imponente
No algodão branco e fofo
No mistério de cada semente
De onde vem a energia
Que alimenta este sistema
Que dá vida aos animais
E perfume à alfazema?
No solo estão os elementos
Que formam a teia da vida
São como peças de um quebra-cabeça
Sem uma forma definida
Cada vegetal usa essas peças
Conforme a sua condição
Para produzir a flor branca dos cafezais
Ou a vagem do pé de feijão
Quando os seres vivos morrem
O quebra-cabeça é desmontado
As peças voltam para o solo
E o processo é recomeçado
Cuidar bem dos nossos solos
É garantir a continuação da vida
Manter o equilíbrio natural
É a nossa única saída
EVOLUÇÃO DO USO DA TERRA E DOS SOLOS NA BACIA DE
CAPTAÇÃO DA BARRAGEM ÁGUA FRIA I E II EM BARRA DO
CHOÇA/BA
RESUMO
A bacia de captação da barragem Água Fria II tem importância estratégica para o
desenvolvimento regional, pois abastece aproximadamente 300 mil pessoas numa região
carente em reservas hídricas, incluindo aí a cidade de Vitória da Conquista. O presente estudo
objetivou caracterizar a evolução do uso da terra nos anos de 1974 e 2004, analisando as
modificações morfológicas, físicas e químicas dos solos sob diferentes manejos. Para o
mapeamento foram utilizadas fotografias aéreas e imagens de satélite, através do software
Map Viewer 6.0. Para as amostragens, foram selecionadas seis glebas, envolvendo os usos
café, pastagem e mata nativa. No período analisado, houve expansão das áreas de café
(228%), cultivos diversos (45%) e pastagem e redução das áreas de mata nativa (-74%) e
vegetação secundária (-81%). Em 2004, constatou-se que apenas 15,7% da área indicada para
preservação permanente eram ocupados por floresta. Os solos se apresentaram pobres e
ácidos, com baixa Capacidade de Troca Catiônica, altas quantidades de Al3+ e H+ e
baixíssimos níveis de P, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, refletindo a pobreza do material de origem
(Coberturas Detríticas do Terciário-Quaternário), sendo dominante a classe Latossolo
Amarelo distrófico. O café sob sistema convencional foi o manejo que mais afetou as
características do solo, tais como distribuição, tamanho e estabilidade dos agregados, perda de
matéria orgânica e aumento da Densidade do Solo, com prejuízos para a fertilidade e o
armazenamento da água na bacia hidrográfica.
Palavras-chave: geoprocessamento, agregação, manejo do solo.
USE OF THE LAND AND THE SOIL EVOLUTION IN THE BASIN OF
ÁGUA FRIA I AND II DRINKING WATER RESERVOIR IN BARRA DO
CHOÇA/BA
ABSTRACT
The basin of captation of Água Fria II drinking water reservoir is of strategic importance for
the regional development, for it supplies approximately 300,000 people in a region in which
hydrous reserves are scarce, including the city of Vitória da Conquista, Ba. The present study
aims at characterizing the evolution of the land use in the years of 1974 and 2004, analyzing
the morphologic, physical and chemical modifications of the soil under different
managements. For the mapping, aerial photographs and satellite images have been used by
means of Map Viewer 6.0 software. For the samplings, six glebes have been selected,
involving the uses of coffee plantation, pasture and native forest. In the analyzed period, there
had been an expansion of the coffee plantation areas (228%), diverse cultivations (45%) and
pasture; and a reduction of the wooded native area (-74%) and secondary vegetation (-81%).
In 2004, one could find that only 15.7% of the areas indicated for permanent preservation
were occupied by native forest. As a result, the soil became acid and poor, with low Cationic
Exchange Capacity, high amounts of Al3+ and H+, and very low levels of P, Ca2+, Mg2+, K+
and Na+, reflecting the poverty of the origin material (Detritus Coverings of the TertiaryQuaternary), with dominant sort of dystrophic Yellow Oxisol. The coffee plantation under
conventional system was the type of management that affected most the characteristics of the
soil such as distribution, size and stability of aggregates, as well as loss of organic matter and
increase of Soil Density. As a consequence, damage for the fertility and the storage of the
water in the hydrographic basin was observed.
Keywords: geoprocessing, aggregation, soil management.
LISTA DE FIGURAS
1
Evolução da Área Colhida com café no município de Barra do Choça
8
comparada à evolução dos preços da saca de café de 60 kg no mercado
internacional.........................................................................................................
2
Taxas de Crescimento Populacional de Barra do Choça e municípios vizinhos
3
Mapa de Localização da bacia de captação das barragens Água Fria I e II,
28
Barra do Choça-Bahia..........................................................................................
4
Esboço Geológico do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque para 29
a bacia de captação das barragens Água Fria I e II...........................................
5
Esboço Geomorfológico de Barra do Choça-Bahia, com destaque para a bacia
de captação das barragens Água Fria I e II.......................................................
6
Esboço Pedológico do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque
35
para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II......................................
7
Esboço da Vegetação do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque
para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II....................................
8
Mapa de Hidrografia do Município de Barra do Choça-Bahia............................ 40
9
Localização geográfica dos solos em estudo, com os respectivos pontos de
coleta de solo.......................................................................................................
44
10
Uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II em 1974,
Barra do Choça-Bahia ......................................................................................
54
11
Uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II em 2004,
Barra do Choça-Bahia.........................................................................................
55
12
Foto mostrando a existência de pastagens nas margens do reservatório Água
56
Fria I.....................................................................................................................
13
Foto mostrando a existência de pastagens nas margens do reservatório Água
Fria II..................................................................................................................
56
14
Desmatamento em área íngreme na região de Barra Nova para cultivo do café
58
15
Desmatamento em área de nascente para criação de pasto para o gado.............
58
16
Uso da terra nas Áreas de Preservação Permanente da Bacia de Captação das
barragens Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004 .............................
60
17
Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente dos reservatórios Água 61
Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004.......................................................
11
32
38
18
Cenário de preservação das nascentes e matas ciliares na bacia de captação 64
das
barragens
Água
Fria
I
e
II,
Barra
do
ChoçaBahia....................................................................................................................
19
Localidades abastecidas pelas barragens Água Fria I e II...................................
20
Lançamento de esgoto doméstico sem tratamento em uma nascente do rio dos 66
Monos..................................................................................................................
21
Detalhe do lançamento de esgoto doméstico diretamente em uma vertente no 67
alto rio dos Monos...............................................................................................
22
Detalhe do despolpamento de café efetuado em uma fazenda localizada no 68
alto rio dos Monos...............................................................................................
23
Efluente oriundo do despolpamento corre a céu aberto por uma rua de café...... 68
24
Efluente oriundo do despolpamento chega a uma área de nascente....................
69
25
Relação entre Grau de Floculação e Carbono Orgânico dos solos estudados.....
77
26
Relação entre carbono e CTC dos solos estudados...........................................
79
27
LAd5: Recobrimento do solo com “palha de café”.............................................
95
66
LISTA DE SIGLAS
ADA
Argila Dispersa em Água
CEFET-BA
Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia
CEI
Centro de Estatísticas e Informações
CEPLAB
Centro de Planejamento da Bahia
CEPLAC
Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
CFSEMG
Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais
CONAMA
Conselho Nacional do Meio Ambiente
COOPMAC
Cooperativa Mista Agropecuária Conquistense
CTC
Capacidade de Troca Catiônica
DCA
Distribuição de Classes de Agregados
DGE
Departamento de Geografia e Estatística
DMP
Diâmetro Médio Ponderado
DP
Densidade de Partículas
DS
Densidade do Solo
EMBASA
Empresa Baiana de Águas e Saneamento
EMBRAPA
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
GF
Grau de Floculação
IBC
Instituto Brasileiro do Café
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INCRA
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
PRRC
Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais
PT
Porosidade Total
SBHRAF
Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Água Fria
SBHRM
Sub-Bacia Hidrográfica do Rio dos Monos
SEAGRI
Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
SEI
Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia
SIG
Sistemas de Informações Geográficas
TFSA
Terra Fina Seca ao Ar
UESC
Universidade Estadual de Santa Cruz
UNED
Unidade de Ensino Descentralizada
LISTA DE QUADROS
1
Características morfológicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos,
Barra do Choça-Bahia.........................................................................................
70
2
Características morfológicas de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria,
Barra do Choça-Bahia ........................................................................................
71
3
Características físicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra do
Choça-Bahia........................................................................................................
75
4
Características físicas de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria, Barra do
Choça-Bahia........................................................................................................
76
5
Coeficientes de correlação de Pearson entre atributos do solo e grau de 78
floculação (GF), diâmetro médio ponderado de agregados (DMP) e
estabilidade de agregados (EA)...........................................................................
6
Análise de agregados de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra do 83
Choça-Bahia........................................................................................................
7
Análise de agregados de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria, Barra do 84
Choça-Bahia........................................................................................................
8
Características químicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra 89
do Choça-Bahia....................................................................................................
9
Características químicas de três solos da sub-bacia do rio Água Fria, Barra do
Choça-Bahia........................................................................................................
90
LISTA DE TABELAS
1
Incremento Populacional de Barra do Choça e municípios vizinhos –
1970/2003...........................................................................................................
10
2
Evolução da estrutura fundiária no município de Barra do Choça-Bahia no 12
período 1970/1980..............................................................................................
3
Evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II
no período 1974/2004, Barra do Choça-Bahia...................................................
4
Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente da Bacia de Captação das 59
Barragens Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004.............................
5
Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente dos reservatórios Água 62
Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004.........................................................
52
SUMÁRIO
Resumo.............................................................................................................
vii
Abstract...........................................................................................................
viii
1
INTRODUÇÃO...............................................................................................
1
1.1
Objetivos...........................................................................................................
3
1.1.1
Objetivo Geral..................................................................................................
3
1.1.2
Objetivos Específicos.......................................................................................
3
2
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................
4
2.1
Conseqüências da expansão cafeeira no uso da terra em Barra do 5
Choça/BA..........................................................................................................
2.1.1
A expansão econômica.....................................................................................
7
2.1.2
O crescimento populacional.............................................................................
10
2.1.3
Reflexos na estrutura fundiária.........................................................................
12
2.2
O uso da terra e a sua conservação...............................................................
13
2.3
Efeitos do uso da terra nas propriedades físicas e químicas dos solos.......
19
3
MATERIAL E MÉTODOS...........................................................................
27
3.1
Localização da área de estudo......................................................................
27
3.2
Geologia............................................................................................................
28
3.3
Geomorfologia..................................................................................................
31
3.4
Clima.................................................................................................................
33
3.5
Solos.................................................................................................................
34
3.6
Cobertura Vegetal..........................................................................................
37
3.7
Hidrografia........................................................................................................ 39
3.8
Evolução do Uso da Terra.............................................................................
41
3.9
Estudo dos Solos...............................................................................................
43
3.9.1
Manejo dos Solos..............................................................................................
45
3.9.2
Caracterização Morfológica dos Solos.............................................................
46
3.9.3
Caracterização Física dos Solos........................................................................
46
3.9.4
Caracterização Química dos Solos...................................................................
48
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................
50
4.1
Evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria
I e II...................................................................................................................
51
4.2
Caracterização Morfológica, Física e Química dos solos da Bacia Água
Fria II, sob mata, café e pastagem.................................................................
69
4.2.1
Características morfológicas ............................................................................
69
4.2.2
Características físicas........................................................................................
74
4.2.2.1 Análise de agregados........................................................................................
82
4.2.3
Características químicas dos solos estudados...................................................
87
5
CONCLUSÃO.................................................................................................
101
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................
103
APÊNDICE.....................................................................................................
111
1
1 INTRODUÇÃO
É sabido que os ecossistemas existem em equilíbrio dinâmico e sofrem constantes
alterações em face do contínuo fluxo de matéria e energia que permeia o ambiente físico.
Entretanto, as ações humanas estão promovendo interferências na escala de ajustes dos
processos naturais num ritmo superior à capacidade de regeneração da natureza, tendo como
conseqüência direta a degradação dos sistemas ecológicos.
A bacia hidrográfica é um exemplo disso: a dinâmica dos fatores bióticos e abióticos
combina-se com a atividade antrópica promovendo fluxos de matéria e energia onde o estado
de estabilidade é atingido a partir do equacionamento entre as entradas e saídas, alterando as
características do solo, da água e do canal fluvial.
Nesse contexto, o estudo de bacias hidrográficas reveste-se de grande importância,
pois através da análise da evolução no uso da terra na bacia de captação das barragens Água
Fria I e II é possível a identificação de áreas passíveis de utilização com atividades
agropecuárias sustentáveis e das áreas que devem ser preservadas, sendo que tal uso deve
estar em consonância com a qualidade dos corpos hídricos, principalmente, quando estas
servem para o abastecimento de água.
2
Quando o manejo do solo é inadequado, as alterações físicas e químicas verificadas
nos solos concorrem para a perda da fertilidade, diminuição da matéria orgânica,
compactação, fracionamento dos agregados e erosão, comprometendo o desenvolvimento
adequado do sistema radicular dos vegetais, a infiltração e, conseqüentemente, o
armazenamento da água na bacia hidrográfica.
A área de estudo deste trabalho é formada pela bacia de captação das barragens Água
Fria I e II, no município de Barra do Choça, Bahia. Ela destaca-se, economicamente, pelas
atividades ligadas à terra, notadamente a pecuária e a agricultura. Além disso, sua localização
no polígono das secas tem importância estratégica para o desenvolvimento regional, pois se
trata da única fonte de captação de água para o abastecimento urbano das cidades de Vitória
da Conquista e Barra do Choça e das localidades de Barra Nova, São Sebastião, José
Gonçalves, Bate Pé, Pradoso e Iguá, beneficiando mais de 300 mil habitantes, numa região
em que as reservas hídricas são escassas.
Dentre as atividades antrópicas responsáveis por alterações na bacia de captação das
barragens Água Fria I e II, podem ser citadas as queimadas, o desmatamento dos morros e
nascentes, a destruição das matas ciliares e o destino irregular do lixo e dejetos. Estas ações
têm promovido, ao longo dos anos, o assoreamento e a poluição dos cursos hídricos, o
empobrecimento do solo, a aceleração de processos erosivos, o desaparecimento de espécies
animais – principalmente da avifauna e ictiofauna, e o empobrecimento relativo da população,
dentre outros prejuízos ecológicos e sociais.
Os resultados obtidos nesta pesquisa representam subsídios para a população, para a
UESC, para o CEFET-BA – UNED de Vitória da Conquista, para demais órgãos públicos e
proprietários de terras sobre a preservação dos recursos envolvidos — terra e água —,
instigando-os a um planejamento que vise a sustentabilidade local.
3
1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Caracterizar a evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I
e II, analisando as modificações morfológicas, físicas e químicas dos solos sob
diferentes manejos.
1.1.2 Objetivos Específicos
Confeccionar mapas temáticos sobre a evolução do uso da terra na bacia de captação
das barragens Água Fria I e II.
Identificar os usos da terra que mais provocam alterações na área de estudo.
Verificar o grau de ocupação antrópica nas Áreas de Preservação Permanente
envolvendo as matas ciliares das nascentes, rios e reservatórios.
Caracterizar os solos amostrados com base nas análises morfológica, física e química,
para fins de classificação no Sistema Brasileiro.
Avaliar os impactos causados nos solos devido aos diferentes usos e manejos.
4
2 REVISÃO DE LITERATURA
Neste capítulo, a abordagem inicial trará como tema as conseqüências da expansão da
cafeicultura nas mudanças do uso da terra no município de Barra do Choça, destacando os
reflexos no crescimento populacional e na estrutura fundiária. O destaque para a cultura
cafeeira se justifica pela grande importância que teve essa atividade econômica na
reorganização do espaço municipal a partir da década de 1970.
Em seguida, será abordado o uso da terra e os cuidados necessários à sua conservação,
destacando autores que pesquisaram o tema em bacias hidrográficas da região Sul e Sudeste
da Bahia.
Finalmente, será feita uma revisão sobre os efeitos do uso da terra nas propriedades
físicas e químicas dos solos, mediante a contribuição de vários pesquisadores que publicaram
trabalhos nessa temática.
5
2.1 Conseqüências da expansão cafeeira no uso da terra em Barra do
Choça/BA
O café sempre foi um produto agrícola importante na história econômica do Brasil.
Apesar de ter sido introduzido no país em 1727, a cultura do café só se expandiu no final do
século XVIII para se tornar o grande artigo da exportação brasileira em meados do século
XIX. De 1850 a 1930, quase todos os fatos econômicos, sociais e políticos do Brasil se
desenrolaram em função da lavoura cafeeira (PRADO JUNIOR, 1973).
Na Bahia, a cafeicultura teve início na década de 1970, notadamente no período que
vai de 1975 a 1980. A introdução desta cultura, no estado, deu-se em decorrência dos
seguintes fatores: constantes geadas que atingiram o centro-sul do país, diminuição da
produtividade por causa da idade avançada dos cafezais, persistência da ferrugem,
supervalorização das terras aptas ao cultivo e pressão de outras culturas mais rentáveis e de
menor risco, sobretudo a soja (CEPLAB, 1978; SEAGRI, 2000; MATHIAS, 2003; SIMÕES,
2004). Através do Plano de Renovação e Revigoramento de Cafezais (PRRC), que
proporcionou apoio em crédito e assistência técnica, a lavoura cafeeira atingiu 120 mil
hectares em 1989, ocupando áreas da região de Planalto, abrangendo seis sub-regiões: Vitória
da Conquista, Jequié, Santa Inês, Barra da Estiva, Seabra e Morro do Chapéu. Com a
melhoria dos preços a partir de 1994 novas áreas foram incorporadas à cultura cafeeira, quais
sejam o Atlântico (sul e extremo sul da Bahia) e as áreas de Cerrado (oeste da Bahia), além do
incremento nas áreas tradicionais do planalto (SEAGRI, 2000).
Do ponto de vista sócio-econômico, o desenvolvimento da cafeicultura no Estado
contribui para a fixação do homem no campo e geração de emprego e renda, uma vez que o
setor admite mão-de-obra com baixa escolaridade para o trabalho com os tratos culturais
6
relacionados à adubação, calagem, manejo, controle de pragas/doenças, irrigação e podas. Na
época de colheita, as regiões produtoras freqüentemente apresentam uma população flutuante
superior ao contingente populacional normal dessas áreas. Esse cenário é favorecido quando
os preços dessa commoditie estão altos, concorrendo positivamente para a oferta de empregos
e incremento dos setores comercial e industrial responsáveis pelo fornecimento de insumos e
máquinas agrícolas.
Do ponto de vista ambiental, a incorporação de novas áreas para o desenvolvimento
agrícola se traduz em fragmentação de hábitats e perda da biodiversidade. Os remanescentes
florestais não são suficientes para manter a riqueza original e a ciência ainda não tem a noção
exata do impacto que a extinção de uma espécie pode causar no sistema como um todo.
Muitas vezes, o avanço das áreas agrícolas tem-se dado em áreas protegidas por lei e existem
poucos estudos no Estado da Bahia que tratem dessa problemática.
O papel do Estado foi fundamental neste processo, uma vez que realizou estudos de
reconhecimento das potencialidades naturais e liberou créditos e assistência técnica aos
produtores, notadamente no período que vai de 1971 a 1981.
A introdução da lavoura cafeeira em Barra do Choça reorientou os arranjos espaciais
que, até o início da década de 1970, estavam ligados à pecuária extensiva e à agricultura de
subsistência. As mudanças no uso da terra que se verificaram no interior da bacia de captação
das barragens Água Fria I e II estão intimamente ligadas aos processos que ocorreram no
município como um todo. Por isso, torna-se necessário compreender como se deu esse
processo, a fim de poder caracterizar a evolução do uso da terra na área de estudo.
7
2.1.1 A expansão econômica
O município de Barra do Choça teve a implantação da lavoura cafeeira bem articulada
à conjuntura política e econômica pela qual passava o país na época do chamado “milagre
brasileiro”. Havia enorme interesse em aumentar a pauta de exportações a fim de gerar divisas
para fazer frente ao pagamento da dívida externa que crescia rapidamente. Nesse contexto, o
Instituto Brasileiro do Café (IBC) pesquisou as condições naturais da região e as análises de
solo, da topografia, do clima e da altitude indicavam um ótimo potencial para o
desenvolvimento da cafeicultura (COSTA, 1987).
Segundo Mendes e Guimarães (1997, p. 8):
[...] com relação ao clima, deve-se considerar as exigências do cafeeiro em
umidade, pois para vegetar e frutificar normalmente o cafeeiro necessita encontrar
umidade facilmente disponível no solo durante todo o período de vegetação e
frutificação, de outubro a maio. Nesse aspecto, áreas com boa distribuição de
chuvas e solos com maior capacidade de retenção de umidade, de textura média,
devem ser preferidos [...].
Dessa forma, fazendo parte do clima Tropical Subúmido e apresentando solos
profundos de textura média a argilosa, o município foi considerado apto a desenvolver a
cultura do café.
Além desses fatores, colaborou a proximidade com Vitória da Conquista (27 km) que
em 1975 já contava com mais de 170 mil habitantes e uma infra-estrutura urbana razoável,
bem como a existência de uma malha viária representada pelas BRs 116 e 415, capazes de
escoar a produção.
Aliado aos fatores físicos e de infra-estrutura urbana e viária, havia na região uma
mão-de-obra abundante e disposta a trabalhar nas lavouras de café.
8
De acordo com Santos, P. (2001, p. 58), no processo de implantação da cafeicultura
em Barra do Choça, o IBC recomendava que o plantio fosse feito a pleno sol, implicando em
supressão total da vegetação nativa. O autor afirma que:
O pacote tecnológico aplicado na região e que estimulava a mecanização e uma
cafeicultura a pleno sol, incidiu em impactos ambientais, tais como o aumento do
desmatamento, contaminação de nascentes com o excesso de agrotóxicos,
compactação do solo, entre outros.
Conforme a Figura 1, durante o período em que vigorou o PRRC (1971/1981) a área
colhida de café saltou de 2.750 ha em 1974 para 14.300 ha em 1980. Os preços da saca de 60
kg no mercado internacional também contribuíram para esse crescimento, já que em 1977
alcançou US$ 258,74, valor jamais superado até hoje. De 1981 a 1999 a área colhida sofreu
um processo de estagnação e até mesmo de redução em função da falta de crédito e das
incertezas do mercado internacional. O valor da saca exportada pelo Brasil começou a
20000
Área Colhida
300
Preço
250
Área (ha)
15000
200
10000
150
100
5000
50
0
US$/saca 60 kg
declinar no período ficando abaixo de US$ 100,00.
0
1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
Anos
Figura 1 – Evolução da área colhida com café no município de Barra do Choça comparada à
evolução dos preços da saca de café de 60 kg no mercado internacional.
Fonte: CEPLAB, 1979; CEI, 1985; SEI, 1996-2003; REVISTA GLOBO RURAL, 1991;
COOPMAC, 1997; COFFEE BUSINESS, 2001; MICELI, 2005.
Conforme assinala Oliveira, M. (2005, p. 67):
9
[...] A crise era assustadora: primeiro porque o pequeno produtor havia passado por
um período de estiagem que o levou a perdas substanciais; segundo porque se
endividou quando pensava ter condições de saldar os compromissos assumidos.
Vale lembrar que as perdas a que nos referimos não devem ser atribuídas
unicamente à problemas climáticos, mas às precárias condições materiais desse
sujeito, conseqüência das políticas de desenvolvimento que se respaldaram na
exclusão, empregando uma modernização conservadora da agricultura [...] que
promoveu uma crescente marginalização dos pequenos produtores, reproduzindo um
padrão excludente, bem como o agravamento da chamada questão agrária. Assim, os
problemas sociais do campo não só permaneceram como aumentaram, provocando
um aprofundamento das desigualdades sociais e aumento da pobreza.
A partir de 1999 verifica-se uma retomada expressiva da área colhida que apresentou
um crescimento de 58 % no período 1999/2001. Tal crescimento pode estar relacionado com a
volta do crédito agrícola e com a alta dos preços do café nos anos de 1997 e 1998, uma vez
que, o valor da saca de 60 kg que vinha oscilando abaixo de US$ 100,00 saltou para US$
189,00 em 1997 e US$ 140,00 em 1998.
No município de Barra do Choça, registrou-se, a partir do ano 2000, uma nova onda de
crescimento da cafeicultura, no entanto, com diferenças marcantes em relação a implantação
da lavoura no período de 1972 a 1981. Nesse período, à medida que o café foi incorporando
novos espaços, houve diminuição no efetivo do gado bovino, que se manteve em torno de dez
mil cabeças até o início da década de 1980. Com a crise da cafeicultura verificada nessa
década, houve retomada da pecuária no município e assim, enquanto a área de lavoura
permanecia estagnada (em torno de 12.000 ha), a pecuária de bovinos foi para 27.984 cabeças
em 1994 (SEI, 1996). O que se tem verificado atualmente é que o desenvolvimento da
cafeicultura não tem ocorrido em detrimento à expansão da pecuária e sim, que as duas
atividades estão crescendo no município, significando incorporação de novas áreas, com
impactos ambientais muito fortes nas áreas de matas.
10
2.1.2 O crescimento populacional
Conforme a Tabela 1, em 1970, portanto, antes da implantação da cafeicultura, o
município de Barra do Choça apresentava o menor contingente populacional (8.953
habitantes), quando comparado com os municípios vizinhos. Segundo o Departamento de
Geografia e Estatística - DGE (1972), 83% da população residia na zona rural. As atividades
econômicas eram a pecuária extensiva e a agricultura de feijão, milho e mandioca que atendia
às necessidades da população e o excedente era comercializado nas localidades próximas
(SANTOS, 1987; SANTOS, 2001).
Tabela 1 – Incremento Populacional de Barra do Choça e municípios vizinhos – 1970/2003
Municípios
Barra do Choça
Vitória da Conquista
Caatiba
Itambé
Planalto
1970
hab
8.953
127.528
13.387
28.319
19.766
1980
hab
20.770
173.312
10.720
26.348
22.532
1991
hab
26.068
242.472
9.473
23.386
23.828
2003
hab
45.739
274.016
17.295
32.991
21.147
% crescimento
1970/2003
410,9
114,9
29,2
16,5
7
Fonte: DGE, 1972; CEPLAB, 1979; CEI, 1985; SEI, 1996-2003.
Com relação ao crescimento populacional em Barra do Choça e municípios vizinhos
(Figura 2), percebe-se que entre 1970 e 1980, período no qual a área colhida com café
aumentou de 20 para 14.300 ha, o município registrou 132% de crescimento populacional,
bem maior que Vitória da Conquista (36%) e Planalto (14%). No entanto, na década de 1980,
a crise pela qual passava a economia brasileira se refletiu em escassez de crédito e extinção
dos programas governamentais de estímulo à produção cafeeira que, associados aos baixos
11
preços do café no mercado internacional, contribuíram para a diminuição na área colhida e,
por conseguinte, em menores taxas de crescimento.
No final da década de 1990, a estabilização da economia e a recuperação dos preços
do café serviram como estímulo para a retomada da cafeicultura e das taxas de crescimento
populacional no município. A área colhida que em 1990 estava em 11.312 ha foi para 19.000
ha em 2001 e o crescimento demográfico que foi de 25 % na década de 1980 subiu para 75 %
na década seguinte. Quanto aos demais municípios, os dados mais recentes sobre população
mostram uma redução no crescimento de Vitória da Conquista, decréscimo em Planalto e
sensível retomada em Itambé e Caatiba.
Crescimento
Populacional (%)
150
120
Barra do Choça
90
Vit. da Conquista
60
Planalto
30
Itambé
Caatiba
0
-30
1970/80
1980/91
1991/03
Períodos
Figura 2 – Taxas de Crescimento Populacional de Barra do Choça e municípios vizinhos.
Fonte: DGE, 1972; CEPLAB, 1979; CEI, 1985; SEI, 1996-2003.
Dessa forma, comparando os dados do crescimento populacional com os dados da
expansão da cafeicultura percebe-se que as fases de maior incremento demográfico em Barra
do Choça coincidem com as fases de maior crescimento do parque cafeeiro, confirmando
assim o potencial dessa atividade agrícola como geradora de emprego e renda.
12
2.1.3 Reflexos na estrutura fundiária
A estrutura fundiária, que já apresentava concentração em 1970, pouco mudou no
período de implantação da cafeicultura, como demonstra a Tabela 2.
Tabela 2 – Evolução da estrutura fundiária no município de Barra do Choça-Bahia no período
1970/1980
Classes de
área
(ha)
- 20
20 a 100
100 a 500
+ 500
Total
1970
Imóveis
Área
(%)
(%)
16,0
2,8
63,8
25,1
18,0
39,4
2,2
32,7
100
100
1975
Imóveis Área (%)
(%)
22,2
2,7
55,2
29,8
20,3
47,7
2,3
19,8
100
100
1980
Imóveis
Área
(%)
(%)
9,8
1,4
71,8
31,4
17,7
37,2
1,9
30,0
100
100
Fonte: SANTOS, 1987, p. 89.
Enquanto os estabelecimentos pequenos (- de 20 ha) sofreram decréscimo de
aproximadamente 39 % no número de imóveis rurais e - 50% em área no período 1970/1980,
os demais grupos cresceram ou se mantiveram dentro dos valores apresentados em 1970.
Assim, na evolução da estrutura fundiária, o movimento mais importante foi a diminuição da
pequena propriedade rural e o aumento dos estabelecimentos de 20 a 100 ha. Isso significa
que no avanço da cafeicultura os médios e grandes proprietários passaram a plantar café,
enquanto os pequenos, na sua grande maioria, tiveram que vender suas terras e fazer o
deslocamento campo-cidade, provocando um acelerado crescimento urbano na cidade de
Barra do Choça. O destino da maioria dos antigos produtores tem sido os bairros periféricos
da cidade, de onde partem todas as madrugadas frias, em direção ao campo, onde trabalham
como “bóias-frias”.
13
Outra questão importante acerca da questão fundiária em Barra do Choça é que a
maioria das terras pertencem a proprietários que residem em outros municípios. Dos 1.448
estabelecimentos rurais cadastrados pelo INCRA em 1989, 36,5% têm seus proprietários
residindo em outros municípios, notadamente em Vitória da Conquista. Apesar de
representarem um pouco mais de um terço do número de imóveis rurais eles detêm 62% da
área total (COSTA, 1987). Isso significa que dois terços da área agrícola total do município
está produzindo um excedente que não é reinvestido no próprio município, sendo carreado por
esses proprietários para outras regiões, fato que diminui a oferta de empregos para a
população, empobrecendo o espaço local.
Diante do exposto, é possível afirmar que o desenvolvimento da lavoura cafeeira em
Barra do Choça, via participação do Estado, foi o grande responsável pelo seu crescimento
populacional e manteve o processo de concentração da terra, com reflexos na modificação da
paisagem, na medida em que a vegetação original do município foi e continua sendo
paulatinamente suprimida para dar lugar aos espaços antropizados.
2.2 O uso da terra e a sua conservação
No período Paleolítico — 500 mil a 18 mil a.C. — o homem ainda era um nômade que
vivia da coleta de alimentos e da caça e pesca de animais. À medida que os recursos naturais
de uma região escasseavam, as tribos avançavam para novos campos de caça e de coleta. O
solo era visto simplesmente como uma base para seus deslocamentos e fonte inesgotável dos
recursos naturais necessários para a sobrevivência e reprodução do grupo. Com o advento da
agricultura e da domesticação de animais no período Neolítico — 18 mil a cinco mil a.C. — o
14
solo passou a representar para o homem a possibilidade de controle dos recursos naturais
numa escala de produção de alimentos superior à demanda de consumo, gerando assim um
excedente econômico capaz de permitir a fixação desses grupos em determinadas áreas e,
mais tarde, o surgimento das primeiras cidades (AQUINO et al., 1980).
O crescimento das populações e novas técnicas agropecuárias contribuíram para a
expansão dos campos agrícolas e quando a intensidade do uso da terra era maior do que a
capacidade de suporte ecológico dos solos, estes diminuíam a fertilidade com conseqüências
diretas na produtividade, gerando, muitas vezes, colapsos na base produtiva das civilizações.
Foi o caso da Mesopotâmia que há seis mil anos atrás era uma das áreas mais férteis do
mundo e hoje tem grande parte de suas terras desertificadas e salinizadas, fruto da exploração
dos solos com técnicas inadequadas de irrigação (BRAGA et al, 2002).
De acordo com Fernandez (2000, p. 43):
De fato, em muitas ocasiões na história, senão na maioria dos casos, a decadência
das civilizações foi acontecendo à medida que cada uma destruiu seu ambiente e
esgotou a base de recursos dos quais dependia. Isto explica, por exemplo, porque o
centro da civilização ocidental foi gradativamente migrando do Oriente Médio para
o Oeste. O Oriente Médio já foi, segundo todos os registros históricos, uma área
fertilíssima — que incluía o chamado Crescente Fértil. Certamente não é à toa que a
Bíblia colocava o Éden naquela região. Hoje é pouco mais que uma coleção de
desertos estéreis, feitos pelo homem, como, aliás, a grande maioria dos desertos.
Modernamente, em função do uso intenso do solo e expansão da fronteira agrícola, é
muito comum a existência de solos com limitações de uso. Em maior ou menor grau, todo
solo apresenta limitações relacionados à água, nutrientes, erosão e/ou impedimentos à
mecanização. É como afirma Resende et al. (1999, p. 167):
O solo ideal é aquele que não apresenta problema algum de deficiência de
nutrientes ou fertilidade (N), nem deficiência de água (A), nem de oxigênio (O),
isto é, nenhum problema de drenagem; nem tampouco oferece problemas de
suscetibilidade à erosão (E), nem oferece dificuldade alguma ao uso de máquinas
(M). Evidentemente, este solo não existe.
Segundo Pruski (1997), a principal causa da degradação das terras agrícolas no Brasil
é a erosão hídrica, que consiste na fragmentação e transporte das partículas do solo, carreando
15
nutrientes, matéria orgânica, sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas, também com
conseqüências diretas na quantidade e qualidade da água na bacia hidrográfica.
Outra causa de degradação do solo é a limpeza do terreno com o uso do fogo. Os
agricultores utilizam esta técnica porque a queima da matéria orgânica provoca a combustão
dos ácidos orgânicos e dos componentes nitrogenados que liberam para o solo os cátions
inorgânicos K+ e Ca2+. No entanto, os prejuízos para os solos são bem maiores: após uma
queimada, os nutrientes apresentam alta mobilidade e são facilmente carreados por lixiviação;
o nitrogênio e o enxofre são volatizados e o CO2 é liberado para a atmosfera. Além disso, as
queimadas provocam aumento da densidade do solo, diminuição dos agregados e das taxas de
infiltração de água (GLIESSMAN, 2001).
Bird et al. (2000), ao estudarem um ecossistema de savana tropical, no Zimbábue,
avaliaram os efeitos do fogo no estoque de carbono orgânico do solo (COS), comparando
solos de diferentes texturas. O estudo mostrou que em locais onde as queimadas são
freqüentes, os solos arenosos podem ser mais eficientes em proteger as partículas de carbono,
principalmente, as de tamanho entre 500-2.000 μm que infiltrados nos macroporos, ficam
protegidos do fogo. Em contraste, a natureza densa dos solos argilosos mantém as partículas
grandes na superfície até a degradação total ou a um tamanho que permita a sua infiltração no
solo. De qualquer modo, a combustão da biomassa das savanas representa um mecanismo
pelo qual o carbono terrestre é transferido para o carbono atmosférico, constituindo-se em
uma das principais fontes de CO2 para a atmosfera.
Muitos outros problemas podem ser enumerados e, não obstante todos os avanços da
sociedade industrial, não é difícil encontrar áreas onde o uso do solo ocorre através de práticas
equivocadas como desmatamento indiscriminado, queimadas, excessiva mobilização do solo,
irrigação sem controle da qualidade da água, entre outras ações que podem trazer sérias
16
conseqüências como erosão, compactação, salinização e perda da fertilidade do solo,
comprometendo a produtividade e manutenção desse valioso recurso natural.
O conhecimento das características genéticas e estruturais dos solos — portanto, sua
morfologia — é uma informação importante para que se possa avaliar quais os usos mais
adequados e quais as técnicas de conservação do solo que devem ser implementadas.
Além do conhecimento das características pedogenéticas é necessário que, no processo
de uso e ocupação do solo, as atividades antrópicas sejam pautadas num manejo sustentável
desse recurso, pois mesmo solos férteis podem tornar-se estéreis quando não se respeita as
técnicas de conservação. Normalmente, os solos cobertos por vegetação nativa são mais
resistentes aos processos erosivos e apresentam mecanismos naturais de manutenção das suas
propriedades.
Isso ocorre porque nos ambientes livres da ação humana, o processo de ciclagem de
nutrientes é responsável pelo equilíbrio dinâmico do sistema, uma vez que a matéria utilizada
para a construção de células, tecidos e as moléculas orgânicas complexas são relançadas
continuamente através da mineralização da matéria orgânica realizada pelos organismos
decompositores. A existência de várias espécies vegetais contribui favoravelmente para a
retirada de nutrientes variados do solo. Dessa forma, mesmo solos pobres conseguem manter
uma vegetação exuberante porque os nutrientes consumidos pelas plantas ou animais do
ambiente são devolvidos ao sistema quando eles morrem (GLIESSMAN, 2001).
De acordo com Schröder et al. (2002), o uso da terra pode conservar ou restabelecer
funções de controle de ecossistema, de hábitat e conciliar a produtividade econômica com a
sustentabilidade ecológica.
Nesse sentido, o conhecimento do uso da terra permite que se possa planejar a
produção agrícola dentro de tecnologias ecologicamente apropriadas a cada setor da bacia
17
hidrográfica, inclusive com determinação das áreas que não podem ser utilizadas, servindo
apenas para a proteção da fauna, da flora e dos recursos hídricos (LEPSCH, 1991).
Assim, conhecer como a sociedade organiza o uso da terra é um pré-requisito
fundamental para avaliar se estes usos estão de acordo com as medidas de preservação dos
recursos naturais. Na maioria das vezes, estes usos são frutos de práticas equivocadas de
desmatamento e queimada que contribuem para a deterioração das terras agrícolas (SILVA et
al., 1998).
Faria Filho (2003) estudou a Bacia Hidrográfica do Rio Almada, na Região Sul da
Bahia e constatou, para o período 1975-2001, um aumento das áreas de cacau e pastagem com
redução das áreas de mata, capoeira e mangue. Mais de 2/3 da referida bacia são utilizados
para o desenvolvimento da lavoura cacaueira que, historicamente é uma atividade bastante
antiga na região, datada no final do século XVIII. No longo processo de implantação e
desenvolvimento dessa lavoura, as Áreas de Preservação Permanente (APPs) não foram
respeitadas, havendo supressão da vegetação nas margens dos rios e nascentes.
De acordo com Oliveira, J. (2004), que estudou o uso da terra na Bacia Hidrográfica
do Rio Iguape, responsável pelo abastecimento de água da cidade de Ilhéus, de 1964 para
2002, houve redução das florestas e expansão das áreas de mata secundária avançada (que
incluem as plantações de cacau no sistema “cabruca”) que avançaram de 23% (1964) para
44% (2002). Em segundo lugar, ficaram os pastos que em 1964 representavam 28% da área e
em 2002 passaram para 32%. Nesse processo, as APPs também não foram respeitadas, sendo
isto um aspecto padrão nas ocupações humanas.
Na sub-bacia do Rio Catolezinho, em Barra do Choça, Freitas Júnior e Soares (2004)
também constataram ocupação ilegal das APPs localizadas em nascentes e margens dos rios,
sendo o café, a pastagem e os cultivos diversos os usos mais freqüentes.
18
De acordo com Silva (1997) os planejadores, legisladores e gestores públicos, de
maneira geral, precisam saber sobre a distribuição e superfície das terras agrícolas,
recreacionais e urbanas para que se possa promover uma melhor política de uso da terra e
inclusive projetar cenários de desenvolvimento regional, bem como prever as áreas de pressão
que a médio e longo prazo podem se transformar em problemas ambientais mais graves.
Assim sendo, o mapeamento do uso da terra, juntamente com os mapeamentos
geológicos, geomorfológicos, pedológicos e da cobertura vegetal, são informações essenciais
para averiguação do nível de sustentabilidade de uma região (IBGE, 1999b).
A sustentabilidade de uma região produtora pressupõe o conhecimento das limitações
das terras a determinados níveis de intensidade de uso, a fim de se evitar a erosão e a perda da
produtividade. Em terras submetidas a culturas anuais a intensidade do uso é alta, já em áreas
cobertas por vegetação nativa o grau de intensidade do uso é baixo. Neste sentido, Lepsch
(1991, p. 13, grifo do autor) afirma que:
O uso adequado da terra é o primeiro passo em direção à agricultura correta. Para
isso, deve-se empregar cada parcela de terra de acordo com a sua capacidade de
sustentação e produtividade econômica de forma que os recursos naturais sejam
colocados à disposição do homem para seu melhor uso e beneficio procurando ao
mesmo tempo preservar estes recursos para gerações futuras.
Para tanto, é necessário sistematizar os dados sobre as limitações de cada área para
poder decidir qual o uso agrícola mais apropriado e quais as medidas de controle da erosão
que devem ser implantadas a fim de se utilizar a máxima capacidade de uso sem o risco de
degradação do solo.
19
2.3 Efeitos do uso da terra nas propriedades físicas e químicas dos solos
A incorporação de espaços naturais para os cultivos agrícolas e estabelecimento de
pastagens para o gado alteram as características físicas e químicas dos solos, muitas vezes
resultando em degradação que se manifesta através da perda de fertilidade, compactação e
fracionamento dos agregados, comprometendo a infiltração de água e o desenvolvimento
adequado do sistema radicular dos vegetais (TISDALL; OADES, 1980, apud BERTOL et al.,
2001; NEUFELDT et al., 1999; PLANTE; McGILL, 2002a apud BRONICK; LAL, 2005).
Nos preparos convencionais, é comum a retirada da vegetação nativa para implantação
de atividades que deixa o solo exposto ao impacto direto das chuvas, trazendo como
conseqüência o rompimento dos agregados (WOHLENBERG et al., 2004). Aliado a isso, o
constante revolvimento da terra contribui para a redução da matéria orgânica, que é
reconhecida como um dos principais agentes de formação e estabilização de agregados
(KIEHL, 1979; TISDALL; OADES, 1982; CASTRO FILHO et al., 1998).
Feller e Beare (1997) destacam a importância da matéria orgânica na determinação da
fertilidade e produtividade dos solos, principalmente em áreas tropicais onde eles são
normalmente pobres e bastante intemperizados. De acordo com os autores o manejo
influencia a capacidade das terras de servir como fonte de matéria orgânica e nutrientes.
Segundo Bolin e Sukumar (2000 apud LEIFELD; KÖGEL-KNABNER, 2005) o
carbono presente na matéria orgânica do solo pode chegar a mais de 80% do total de carbono
terrestre e sua manutenção é fundamental para a mitigação do efeito estufa.
Por outro lado, vários pesquisadores têm abordado a importância do C orgânico na
cimentação das partículas que compõem o solo e, freqüentemente, encontram correlação
significativa entre teor de matéria orgânica e índice de estabilidade de agregados
20
(PALADINI; MIELNICZUK, 1991; ROTH et al., 1991; GRIEVE et al., 2005). Isso ocorre
porque os colóides orgânicos e inorgânicos do solo formam complexos que facilitam a
agregação, principalmente em solos pouco argilosos.
De acordo com Duiker et al. (2003 apud BRONICK; LAL, 2005), a agregação resulta
do rearranjo de partículas, floculação e cimentação mediado pelo(a) carbono orgânico do solo,
biota, ponte iônica, argila e carbonatos, sendo o carbono, ao mesmo tempo, agente de ligação
e núcleo na formação dos agregados (BRONICK; LAL, 2005).
Wohlenberg et al. (2004, p. 897) trabalhando em um Argissolo Vermelho-Amarelo
distrófico arênico utilizou a regressão linear para confrontar o teor de C orgânico com
agregados da classe de 8,00 a 4,76 mm e encontrou altos coeficientes de determinação,
atribuindo isso “ao fato de as moléculas orgânicas atuarem nas etapas de formação e
estabilização dos agregados, além de servirem de fonte de energia para os microrganismos,
que são importantes agentes de agregação”.
Entretanto, caso o solo seja pobre em cátions não é possível a união da matéria
orgânica aos minerais de argila, uma vez que ambos têm cargas negativas (EDWARDS;
BREMER, 1967 apud DUFRANC et al., 2004). De acordo com Kiehl (1979), além da fração
orgânica, da argila e dos cátions adsorvidos, há que considerar também os óxidos de ferro e
alumínio — agentes cimentantes — e o manejo do solo como fatores importantes no processo
de agregação e estruturação do solo.
Nesse sentido, o manejo do solo sob mata nativa freqüentemente apresenta maior nível
de agregação em função dos maiores teores de matéria orgânica fruto da intensa atividade
biológica verificada pela diversidade de espécies existentes, facilitando a aeração, o
desenvolvimento das raízes, a maior infiltração de água e oferecendo menor risco de
enxurrada e erosão (FIALHO et al., 1991; DUFRANC et al., 2004; WENDLING et al, 2005).
21
De acordo com Batjes e Dijkshoorn (1999), aproximadamente 52% do total de
carbono dos solos da Amazônia estão concentrados nos primeiros 30 cm do perfil. Segundo
Roscoe et al. (2000), esta camada é a mais suscetível às mudanças provocadas pelo manejo e
os constantes desmatamentos e queimadas vêm concorrendo para a diminuição dos estoques
de carbono do solo e aumento do efeito estufa em escala global.
É possível também que solos com o mesmo teor de C orgânico apresentem níveis
diferenciados de agregação, uma vez que não é só a quantidade de matéria orgânica que deve
ser levada em consideração, mas, sobretudo, a sua qualidade (PARFITT et al., 1997, p. 2;
LEHMANN et al., 2001).
De acordo com Paladini e Mielniczuk (1991, p. 139):
Como as culturas apresentam comportamento diferenciado sobre a agregação do
solo, pelas diferenças morfológicas do sistema radicular, tempo de atuação,
excreções, microrganismos associados às raízes, quantidade e tipo de compostos
que originam, etc., espera-se que os efeitos das culturas sobre a agregação também
se diferenciem.
Já o manejo do solo sob pastagem pode apresentar condições favoráveis ao processo
de agregação, porque as gramíneas possuem raízes espessas e bem distribuídas nos horizontes
superficiais e sub-superficiais, facilitando as ligações entre as partículas minerais e a fração
orgânica (GALETI, 1984; CARPENEDO; MIELNICZUK, 1990; SILVA; MIELNICZUK,
1997; CRUZ et al., 2003; WOHLENBERG et al., 2004). Além disso, as excreções dos
animais devolvem grande parte do que foi consumido, contribuindo sobremaneira para a
reciclagem de nutrientes nas pastagens (AGUIAR, 1998, p. 30).
Por outro lado, o excessivo pisoteio do gado e a exposição aos ciclos de
umedecimento e secagem concorrem para o aumento da densidade do solo e, como
conseqüência, levando ao processo de compactação e selamento com perda da porosidade e
capacidade de infiltração de água. Nessas condições, o acúmulo de água nos horizontes
superficiais pode contribuir para a degradação do solo através da erosão hídrica do tipo
22
laminar (GARDNER, 1986; OLIVEIRA et al., 1996; ALBUQUERQUE et al., 2003;
ARAÚJO et al., 2004).
Nas culturas perenes, como o cafeeiro, submetidas a manejo tradicional caracterizado
pela retirada da cobertura vegetal nativa, o solo fica sem proteção e sofre os efeitos das
variações de temperatura e umidade, que destroem os agregados de maior tamanho e
diminuem a porosidade (GUIMARÃES; MENDES, 1997).
Sobre o manejo da lavoura cafeeira, Guimarães e Mendes (1997, p. 23) afirmam que:
No período de formação, principalmente no primeiro ano, após intenso
revolvimento do solo durante as preparações de destoca, aração e gradagem, o solo
fica muito exposto à ação da erosão. Nessa fase, o uso de culturas intercalares
contribui para a cobertura do terreno, evitando a degradação do solo pelo impacto
de gotas de chuva, ou mesmo seu arrastamento pela ação da erosão.
Além disso, como o cafeeiro só começa a produzir a partir de 30 meses de idade, o uso
de culturas intercalares poderá contribuir para a diminuição dos custos, uma vez que o
agricultor poderá vender estas safras.
Já o sistema de plantio adensado não permite o uso e culturas intercalares, mas
possibilita quintuplicar a população de cafeeiros em relação aos espaçamentos convencionais.
Segundo Mendes e Guimarães (1997, p. 18),
Ainda não há consenso entre os técnicos quanto as denominações dos sistemas e
plantio adensado; é comum, contudo, empregar a expressão semi-adensado para os
sistemas com 3000 a 5000 plantas por hectare, adensado para populações entre
5000 e 10000 plantas por hectare e super-adensado para os sistemas com 10000 a
20000 plantas por hectare.
O sistema adensado vem se disseminando rapidamente em função do encarecimento
das terras com aptidão para o plantio do cafeeiro. Além disso, o sistema também protege o
solo contra a erosão, melhora as suas características físicas, químicas e biológicas e favorece
o melhor aproveitamento da adubação (MENDES; GUIMARÃES, 1997).
No manejo tradicional, um dos maiores problemas para a conservação o solo é que ele
fica exposto. Russel e Russel (1959 apud MACHADO; BRUM, 1978, p. 82) enfatizam que
o efeito geral do cultivo é destruir a estrutura do solo, pois a maioria dos preparos,
particularmente as capinas superficiais ou gradagens, executadas em tempo seco
para destruir as ervas daninhas, provocam a pulverização do solo.
23
Essa pulverização ocorre na superfície do solo (ALBUQUERQUE et al., 2003;
WENDLING et al, 2005) e o tráfego de máquinas agrícolas em condições inadequadas de
umidade provoca a compactação da camada subsuperficial, reduzindo a fração orgânica, o
desenvolvimento radicular e a disponibilidade de nutrientes e água (DIAS JUNIOR; PIERCE,
1996; CRUZ et al., 2003). De acordo com Bertol et al. (2004), elevados teores de silte na
composição granulométrica do solo também podem contribuir para o processo de
compactação.
Em locais de produção de água para abastecimento, como a bacia de captação das
barragens Água Fria I e II, em Barra do Choça, o estudo das características físicas dos solos é
fundamental. De acordo com Bronick e Lal (2005), alterações no solo causadas por manejo
inadequado podem comprometer a quantidade e a qualidade da água, já que a estrutura e a
textura do solo têm influência no fluxo de água no solo, na sua disponibilidade e no seu
armazenamento.
Nesse sentido, é importante estudar a textura, pois se trata de um dos atributos do solo
que influenciam a estabilidade estrutural. A argila, por apresentar cargas negativas e
superfície específica aumentada pelo seu pequeno tamanho, favorece a formação de
agregados e, por conseguinte, a estruturação do solo.
Fialho et al. (1991), em sua pesquisa sobre um Latossolo Vermelho-amarelo
distrófico, notaram uma tendência de aumento da densidade do solo e de partículas com a
profundidade em todos os tipos de usos analisados: mata natural, pastagem nativa e eucalipto
sem sub-bosque. No entanto, considerando a profundidade de 0-4 cm, a mata teve valores de
densidade do solo bem menores do que a pastagem e o eucalipto; considerando a variável
densidade de partículas, a mata teve valores menores até a profundidade de 6-8 cm. No
sentido inverso, a porosidade total diminuiu com a profundidade. A razão para a mata
24
apresentar uma melhor estruturação do solo foi atribuída à proteção exercida pela cobertura
vegetal e ao maior teor de matéria orgânica.
Em sua pesquisa realizada sobre solos de tabuleiro, Paiva (1997) encontrou altos
valores de dispersão de argila no horizonte Ap do Latossolo Amarelo podzólico e nos
horizontes Ap, AB e BA do Podzólico Amarelo, sendo tal fato atribuído às cargas negativas
da matéria orgânica, capazes de provocar repulsão nos colóides do solo.
Segundo Kiehl (1979), a fração orgânica é um material poroso e sua estrutura dificulta
a construção de arranjos piramidais, de forma que solos ricos em C orgânico apresentam
porosidade entre 60 e 80%. Isso faz com que solos argilosos como o Nitossolo, com 38,4% de
argila no horizonte Ap (0-15 cm) e 57,1% de argila no B21 (15-40 cm), tenham porosidade
igual a solos de textura média, graças a melhor estruturação provocada pela incorporação de
matéria orgânica (PERECIN; CAMPOS, 1978).
Machado e Brum (1978) trabalharam em um Latossolo Vermelho distrófico, textura
argilosa, e verificaram que o manejo sob mata natural apresentou o maior valor de matéria
orgânica, menor densidade do solo e maior porosidade total e macroporosidade em relação
aos manejos de pasto, plantio direto e plantio convencional, sendo que as variáveis analisadas
indicaram alto grau de compactação no sistema convencional e necessidade de mudança no
manejo para incorporação de técnicas de recuperação e conservação do solo.
Quanto aos aspectos químicos do solo, Araújo et al. (2004) em estudo realizado sobre
um Argissolo Amarelo distrófico, compararam os manejos sob mata nativa, área recém
desmatada e queimada, pupunha e pastagem. Os resultados da análise química indicaram
acidez elevada (≤ 5), valor V inferior a 50% e altos teores de Al3+ trocável em todos os solos
amostrados. Os teores de Ca2+ foram inferiores a 2,0 cmolc dm-3 e os de Mg2+ inferiores a 0,5
cmolc dm-3. Com uma disponibilidade tão baixa de nutrientes, o desenvolvimento da mata
nativa foi explicado pela ciclagem de nutrientes que existe nesse ecossistema, aproveitando ao
25
máximo todos os elementos químicos. A soma de bases cresceu na direção mata-queimadapupunha-pastagem e os autores defendem que, nestes ambientes, a maior parte dos nutrientes
fica retida na vegetação nativa e, à medida que ocorre a decomposição da matéria orgânica, o
solo vai incorporando estes elementos. Assim, caso o sistema adotado para substituir a mata
nativa não promova a ciclagem interna, haverá perda destes nutrientes.
Já no estudo de Fialho et al. (1991), comparando vários usos sobre um Latossolo
Vermelho-Amarelo distrófico, a mata apresentou conteúdos maiores de K+, Ca2+ e Mg2+ que
os manejos sob pastagem e eucalipto, sendo isto atribuído à ciclagem de nutrientes,
imobilização desses elementos nas plantas de eucalipto e na matéria orgânica acumulada
sobre o solo. Com relação ao P disponível não houve variação significativa em função dos
diversos manejos, sendo que, em geral, o teor de P diminuiu com a profundidade. No caso da
mata, o diferencial foi que a quantidade de fósforo disponível não diminuiu tanto com a
profundidade em relação ao manejo com eucalipto e pastagem. No caso do eucalipto, a
presença de maior quantidade de P no horizonte superficial foi devida à absorção desse
elemento em camadas mais profundas e inexistência de sub-bosque, resultando em um
consumo menor desse elemento na camada superficial.
A disponibilidade de P no solo tem efeitos indiretos na agregação, uma vez que o P
influencia o crescimento das plantas e favorece a colonização de fungos que afetam a
morfologia das raízes e a agregação (FACELLI; FACELLI, 2002 apud BRONICK; LAL,
2005).
Araújo et al. (2004) também não encontraram diferenças significativas entre P
disponível e diferentes sistemas de manejo, sendo baixos os teores e diminuindo com a
profundidade. Quanto ao K+, o maior valor foi encontrado no manejo sob queimada, em
função da existência de cinzas na camada superficial. De fato, as queimadas destroem a maior
parte dos componentes nitrogenados e ácidos carbônicos, sendo o efeito alcalizinante
26
resultado do retorno dos elementos K+ e Ca2+ ao solo. No entanto, os nutrientes remanescentes
estão numa forma passível de perdas por lixiviação e transporte pelos ventos e os reflexos
desse manejo na estrutura do solo estão relacionados à redução dos agregados, aumento da
densidade e conseqüente diminuição da permeabilidade e infiltração de água, contribuindo,
enfim, para a degradação desse recurso natural (BRINKMANN; NASCIMENTO, 1973;
MANARINO et al., 1982; GLIESSMAN, 2001).
Pelo exposto, verifica-se que os diversos tipos de manejo podem ter conseqüências
positivas ou negativas nas propriedades físicas e químicas, sendo importante priorizar aqueles
usos que contribuem para a manutenção da estrutura original e conservação da capacidade dos
solos em disponibilizar os nutrientes necessários para o desenvolvimento adequado das
plantas.
27
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Localização da área de estudo
A bacia de captação das barragens Água Fria I e II localiza-se no município de Barra
do Choça, Bahia (Figura 3), entre os paralelos 14º 51’ e 14º 56’ Sul e os meridianos 40º 41’ e
40º 34’ Oeste, apresentando 68,71 km2 de superfície (6.871 ha).
A área de captação da barragem é formada pela sub-bacia hidrográfica do Rio dos
Monos (SBHRM), com 2.537 ha, situada na porção leste e pela sub-bacia do alto e médio Rio
Água Fria (SBHRAF), com 4.334 ha, na porção oeste.
A barragem de Água Fria II foi construída no período 1982/1986 (DI LAURO;
SILVA, 2004) na confluência do Rio dos Monos com o Rio Água Fria, dando origem ao lago
que tem importância estratégica no abastecimento regional de água tratada.
28
346306
338996
331041
323085
315129
8368717
VITÓRIA DA
CONQUISTA
PLANALTO
8361415
BAHIA
BARRA
DO CHOÇA
8354113
LEGENDA
Sede
Distrito
Rios
Sub-bacia do
Rio Água Fria
Sub-bacia do
Rio dos Monos
Base Cartográfica:
Folha SD 24-Y-A-III-1975
8346811
Barra
Nova
CAATIBA
8339508
ITAMBÉ
0
2
4
6 km
Scale in Kilometers
8332206
Figura 3 – Mapa de Localização da bacia de captação das barragens Água Fria I e II, Barra do
Choça-Bahia.
3.2 Geologia
De acordo com o esboço geológico da bacia de captação das barragens Água Fria I e II
(Figura 4), confeccionado a partir dos mapas da Folha SD.24 Salvador, do projeto
RADAMBRASIL (BRASIL, 1981), na escala 1:1.000.000, distinguem-se duas unidades
geológicas na área de estudo: as Coberturas Detríticas e o Complexo Caraíba-Paramirim.
29
350627
341759
332892
324024
315155
8371483
42%%d
39%%d
BARRA DO CHOÇA - BA
Juazeiro
45%%d
Cicero Dantas
Xique-xique
12%%d
12%%d
Barreiras
Correntina
SALVADOR
Bom Jesus
da Lapa
ESBOÇO GEOLÓGICO
Rio de Contas
Jequie
Caitite
VITÓRIA DA
CONQUISTA
Guanambi
Vitória da Conquista
Ilhéus
45%%d
42%%d
16%%d
16%%d
Caravelas
39%%d
COM DESTAQUE PARA A BACIA DE
CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
8363407
UNIDADES GEOLÓGICAS
PLANALTO
COBERTURAS DETRÍTICAS
BARRA DO CHOÇA
Depósitos eluvionares e secundariamente coluvionares
predominantemente arenosos, com níveis conglomeráticos.
8354777
Biotita e/ou hornblenda gnaisses e gnaisses quartzofeldspáticos; anfibolitos e biotita xistos bem foliados, localmente
mobilizados com níveis de quartzitos.
8346147
Barra Nova
Localidades
CAATIBA
Área de captação das barragens Água Fria I e II
8337517
0
2
4
6
8
Scale in Kilometers
ITAMBÉ
Base Planialtimétrica: Folha SD.24-Y-A-VI, SD.24-Y-C-III e SD.24-Y-B-VI
Execução: SUDENE 1974/1975
Adaptação: Edvaldo Oliveira, Jacson Tavares - 2005
8328887
Figura 4 – Esboço Geológico do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II.
30
As Coberturas Detríticas ocupam grande parte do quadrante sudoeste da província
Araçuaí, passando por Poções, Planalto, Barra do Choça, Vitória da Conquista e a partir de
Belo Campo, se alargam até a divisa com o Estado de Minas Gerais. Os terrenos formadores
dos platôs elevados, como os de Vitória da Conquista, não apresentam evidências hidro ou
pneumodinâmicas que possam classificá-los como sedimentos. Dessa forma, a maior parte da
área se trata de elúvios, ou seja, de material originado diretamente do intemperismo das
rochas subjacentes, que não sofreram transporte ou colúvios que foram apenas transportados
para os sopés das encostas dos platôs (BRASIL, 1981). Trata-se de um “material amarelado,
conglomerático, detrítico, mal consolidado, contendo lentes finas de arenitos e conglomerados
quartzosos, horizontalmente estratificados. Depósitos residuais e coluvionares sílicoferruginosos também ocorrem associados, com espessura variável” (BRASIL, 1981).
As Coberturas Detríticas aparecem na porção centro-norte-noroeste do município de
Barra do Choça, especificamente recobrindo a maior parte da área de estudo (85%),
notadamente a SBHRAF, conforme se pode observar na Figura 4.
O Complexo Caraíba-Paramirim é uma das unidades mais antigas da Folha SD 24
Salvador e estende-se numa área entre Vitória da Conquista e Itapebi, com orientação
Noroeste-Sudeste, compreendendo grande parte dos municípios de Vitória da Conquista,
Barra do Choça, Caatiba, Itambé, Itapetinga, Itororó, Potiraguá, Itarantim, Salto da Divisa e
Itapebi. Esse complexo apresenta, principalmente, muscovita-biotita gnaisses, seguido de
biotita hornblenda gnaisses, gnaisses quartzo-feldspáticos, com presença variável de
anfibolitos e biotita-xistos (BRASIL, 1981, p. 57). Abrange a porção sudeste da SBHRM,
correspondendo a aproximadamente 15% do total da área de estudo (Figura 4).
31
3.3 Geomorfologia
Na bacia de captação das barragens Água Fria I e II aparecem duas unidades
geomorfológicas, de acordo com o mapa Geomorfológico da Folha SD.24 Salvador
(BRASIL, 1981): Planaltos dos Geraizinhos e Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da
Conquista (Figura 5).
Os Planaltos dos Geraizinhos compreendem uma extensa área de relevos aplanados,
com altimetria quase sempre superior a 800 metros, podendo chegar a mais de 1.000 m em
relevos residuais localizados nos topos dos planaltos, como o caso da Serra do Periperi em
Vitória da Conquista. A topografia tabular caracteriza-se por apresentar depósitos detríticos
do Terciário e o Quaternário que encobrem as feições estruturais subjacentes, formadas por
rochas fragmentadas e pouco alteradas. Em alguns locais o material coluvial pode apresentar
linha de pedras em meio a uma cobertura de material alterado de 2 a 4 m de espessura,
geralmente amarela ou avermelhada e arenosa. As ravinas e os sulcos presentes sobre o
planalto indicam erosão superficial por escoamento difuso e concentrado elementar.
Os Planaltos dos Geraizinhos são divisores de águas entre várias bacias, notadamente
representam o interflúvio entre o médio rio de Contas e o alto e médio rio Pardo que, por sua
vez, representa o principal canal de drenagem dos rios que cortam essa unidade
geomorfológica, apresentando padrão dendrítico, tendendo localmente para o angulado
(BRASIL, 1981, p. 211). Conforme a Figura 5, essa unidade geomorfológica aparece na
maior parte da SBHRAF e na porção centro-norte da SBHRM, correspondendo a 18% da área
de estudo.
O Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista abrange os terrenos
intermediários entre os Planaltos dos Geraizinhos e a Depressão de Itabuna-Itapetinga,
32
350627
341759
332892
324024
315155
8371483
42%%d
BARRA DO CHOÇA - BA
39%%d
Juazeiro
45%%d
Cicero Dantas
Xique-xique
12%%d
ESBOÇO GEOMORFOLÓGICO
12%%d
Barreiras
SALVADOR
Correntina
Bom Jesus
da Lapa
Rio de Contas
Jequie
Caitite
VITÓRIA DA
CONQUISTA
Guanambi
Vitória da Conquista
Ilhéus
45%%d
42%%d
16%%d
16%%d
Caravelas
COM DESTAQUE PARA A BACIA DE
CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
39%%d
8363407
UNIDADES GEOMORFOLÓGICAS
PLANALTOS DOS GERAIZINHOS
PLANALTO
Pgi - Pediplano Degradado Inumado
8354777
BARRA DO CHOÇA
Pri - Superfície de Aplanamento Retocada Inumada
PIEMONTE ORIENTAL DO PLANALTO DE VITÓRIA DA CONQUISTA
Dm2 - Drenagem Média Tipo 2
8346147
Barra Nova
Dg2 - Drenagem Grosseira Tipo 2
Vale ou sulco estrutural
CAATIBA
8337517
Localidades
Área de captação das
barragens Água Fria I e II
0
2
4
6
8 km
Scale in Kilometers
ITAMBÉ
Base Planialtimétrica: Folha SD.24-Y-A-VI, SD.24-Y-C-III e SD.24-Y-B-VI
Execução: SUDENE 1974/1975
Adaptação: Edvaldo Oliveira, Jacson Tavares - 2005
8328887
Figura 5 – Esboço Geomorfológico de Barra do Choça-Bahia, com destaque para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II.
33
apresentando uma altimetria variando entre 200 e 1.000 m, sendo que os pontos mais altos
correspondem aos residuais e os pontos mais baixos os fundos dos vales que aparecem quase
com a mesma altitude da Depressão. As rochas apresentam espessa camada de alteração e o
relevo é bastante movimentado na vertente oriental do planalto, em função da forte dissecação
que entalha vales profundos com variação de cem a duzentos metros de diferença entre o
talvegue e o topo das vertentes, que por sua vez são íngremes, com 30 a 45º de inclinação. A
desnudação das vertentes é tão forte que em alguns pontos de relevo muito movimentado,
como a Serra do Marçal, aparecem afloramentos rochosos no topo ou nas partes baixas da
encosta (BRASIL, 1981). A parcela sudeste da SBHRM e uma pequena parte do setor
sudoeste da SBHRAF são embasadas por esta unidade geomorfológica, correspondendo a
82% da área de estudo (Figura 5).
3.4 Clima
A bacia de captação das barragens Água Fria I e II caracteriza-se pelo clima Tropical
Subúmido (Aw na classificação de Köppen), representando uma área de transição entre o
clima Úmido (Af), localizado à leste, e o clima Semi-árido (Bsh), localizado a oeste.
Com base em uma seqüência temporal de 41 anos, BRASIL (1981) encontrou os
seguintes valores relacionados ao clima Tropical Subúmido:
68,6 % dos meses com precipitações pluviométricas inferiores a 60 mm;
24,8 % dos meses com precipitações entre 60 e 180 mm;
e 6,6 % dos meses com precipitações entre 180 e 420 mm.
34
O período de maior intensidade pluviométrica vai de novembro a abril, enquanto que
os meses seguintes aparecem como os mais secos, todos com valores inferiores a 60 mm. De
acordo com Brasil (1981), a média anual de precipitação é de 696 mm e, na série histórica
1934/1975, apenas 9 anos apresentaram totais pluviométricos superiores à média.
As porções sul e leste do município de Barra do Choça são beneficiadas por sua
localização no Piemonte Oriental do Planalto de Vitória da Conquista. Isto porque esta
unidade geomorfológica funciona como uma grande barreira orográfica aos fluxos úmidos
provenientes do litoral e as áreas localizadas a barlavento obrigam as massas de ar a subir e,
com o aumento da altitude ocorre a diminuição da temperatura e a conseqüente condensação
do vapor d’água que se traduz em chuvas orográficas (BRASIL, 1981).
Normalmente, as áreas de baixa latitude apresentam altas temperaturas, mas Barra do
Choça, embora esteja entre 14 e 15º de latitude, tem o seu inverno caracterizado por baixas
temperaturas que podem chegar a menos de 10ºC, destoando de outras cidades de mesma
latitude. A explicação está na sua localização nas unidades geomorfológicas Planaltos dos
Geraizinhos e Piemonte Oriental do Planalto de Conquista, com altitudes superiores a 900 m,
condicionando sobremaneira os índices térmicos, uma vez que altitude e temperatura são
grandezas inversamente proporcionais.
3.5 Solos
Considerando o esboço de solos da bacia de captação das barragens Água Fria I e II
(Figura 6), confeccionado com base no Mapa Exploratório de Solos da Folha SD.24 Salvador
35
350627
341759
332892
324024
315155
8371483
42%%d
BARRA DO CHOÇA - BA
39%%d
Juazeiro
45%%d
Cicero Dantas
Xique-xique
12%%d
12%%d
Barreiras
Correntina
ESBOÇO PEDOLÓGICO
SALVADOR
Bom Jesus
da Lapa
Rio de Contas
Jequie
VITÓRIA DA
CONQUISTA
Caitite
Guanambi
Vitória da Conquista
Ilhéus
45%%d
42%%d
16%%d
16%%d
Caravelas
39%%d
8363407
COM DESTAQUE PARA A BACIA DE
CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
UNIDADES PEDOLÓGICAS
PLANALTO
LATOSSOLO VERMELHO-AMARELO ÁLICO
(Latossolo Amarelo distrófico - EMBRAPA, 1999)
LVa1 - A moderado, textura argilosa + Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico
com A moderado e textura argilosa, relevo plano e suave ondulado.
BARRA DO CHOÇA
LVa6 - A moderado, textura argilosa + Argissolo Vermelho-Amarelo Eutrófico
com A moderado, textura média/argilosa, relevo ondulado a forte ondulado.
8354777
LVa1
LVa9 - A moderado e proeminente, textura argilosa + Argissolo Vermelho-Amarelo
Eutrófico, A moderado, textura média/argilosa + Argissolo Vermelho-Amarelo
distrófico, A moderado, textura média/argilosa, relevo ondulado e forte ondulado.
PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO EUTRÓFICO
(Argissolo Amarelo eutrófico - EMBRAPA, 1999)
8346147
Barra Nova
LVa9
LVa6
CAATIBA
PE43 - A moderado, argila de atividade baixa, textura média/argilosa + Argissolo
Vermelho-Amarelo distrófico com A moderado, textura média/argilosa, relevo
forte ondulado e montanhoso + Latossolo Vermelho Amarelo distrófico com A
moderado e proeminente, textura argilosa e relevo ondulado.
Localidades
8337517
Área de captação das
barragens Água Fria I e II
PE43
0
2
4
6
8 km
Scale in Kilometers
ITAMBÉ
Base Planialtimétrica: Folha SD.24-Y-A-VI, SD.24-Y-C-III e SD.24-Y-B-VI
Execução: SUDENE 1974/1975
Adaptação: Edvaldo Oliveira, Jacson Tavares - 2005
8328887
Figura 6 – Esboço Pedológico do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II.
36
(BRASIL, 1981), verifica-se que a classe Latossolo Vermelho-Amarelo álico (atual Latossolo
Amarelo distrófico) domina a área de estudo.
Esta classe de solos apresenta subdivisões de acordo com suas características físicas,
morfológicas e químicas influenciadas pela geologia e posição no relevo e, dessa forma,
ocorrem na bacia de captação das barragens Água Fria I e II as unidades LVa1 e LVa9.
A unidade LVa1 ocorre na maior parte da área de estudo (90,6%) e corresponde,
predominantemente, aos terrenos geológicos conhecidos como Coberturas Detríticas do
Terciário Quaternário. Esta unidade é formada pelo Latossolo Vermelho Amarelo álico, com
A moderado e textura argilosa, apresentando saturação de alumínio trocável maior que 50%,
localizada em área de relevo plano e suave ondulado.
A unidade LVa9 ocorre na porção leste da SBHRM e na porção sudoeste da SBHRAF
(9,4% da área de estudo), ocupando, primordialmente, terrenos do Complexo CaraíbaParamirim. Esta subdivisão pode contemplar o Latossolo Vermelho Amarelo álico, com A
moderado e proeminente, com textura argilosa e o Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico,
com argila de atividade baixa, A moderado, textura média/argilosa, desenvolvidos em área de
relevo ondulado a forte ondulado.
O Latossolo Vermelho-Amarelo álumínico engloba solos minerais, não hidromórficos,
profundos e muito profundos com boa porosidade e seqüência de horizontes A, B e C,
apresentando pequena diferenciação entre eles. Alguns podem apresentar caráter húmico
identificado pelo horizonte superficial de cores escuras, com espessura superior a 1 m,
favorecendo a atividade agrícola. Os demais precisam de calagem para reduzir os efeitos da
acidez e do alumínio — quando álicos — e de adubação — quando distróficos (BRASIL,
1981).
37
3.6 Cobertura Vegetal
Considerando o mapa de Cobertura Vegetal da bacia de captação das barragens Água
Fria I e II (Figura 7), confeccionado com base no Mapa de Cobertura Vegetal da Folha SD.24
Salvador (BRASIL, 1981), verifica-se que a área de estudo era recoberta originalmente por
dois tipos de vegetação: a Floresta Estacional Semidecidual e a Floresta Estacional Decidual.
A região da Floresta Estacional Semidecidual, localizada em terrenos do Complexo
Caraíba-Paramirim, distribuía-se por uma pequena parte da SBHRM (6,4%), especialmente na
porção sudeste, formando uma área de transição entre a Floresta Ombrófila Densa e a Floresta
Estacional Decidual. Normalmente, a percentagem das árvores caducifólias no conjunto da
floresta ficava em torno de 20 a 50% e sua existência estava diretamente ligada a ocorrência
de estação seca não muito pronunciada (BRASIL, 1981, p. 414). Atualmente, o uso dessas
terras é destinado para agropecuária e pastagem.
A região da Floresta Estacional Decidual ocupava a maior parte da área de estudo
(93,6%), correspondendo aos terrenos geológicos conhecidos como Coberturas Detríticas do
Terciário Quaternário. Nessas áreas o período seco é maior e o percentual de decidualidade
foliar dos indivíduos dominantes passa a ser de 50% ou mais na época desfavorável, o que
indica uma maior durabilidade do período seco (BRASIL, 1981, p. 414).
Verifica-se que nenhuma das formações florísticas originais teve a sua continuidade
temporal e espacial assegurada, sendo gradativamente substituída pelas atividades antrópicas
relacionadas à agricultura e à pecuária, trazendo prejuízos inestimáveis para a flora e para a
38
350627
341759
332892
324024
315155
8371483
42%%d
39%%d
BARRA DO CHOÇA - BA
Juazeiro
45%%d
Cicero Dantas
Xique-xique
12%%d
12%%d
Barreiras
ESBOÇO DA VEGETAÇÃO ORIGINAL
SALVADOR
Correntina
Bom Jesus
da Lapa
Rio de Contas
Jequie
VITÓRIA DA
CONQUISTA
Caitite
Guanambi
Vitória da Conquista
Ilhéus
45%%d
42%%d
16%%d
16%%d
Caravelas
COM DESTAQUE PARA A BACIA DE
CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
39%%d
8363407
COBERTURA VEGETAL ORIGINAL
PLANALTO
REGIÃO DA FLORESTA OMBRÓFILA DENSA
BARRA DO CHOÇA
8354777
REGIÃO DA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
REGIÃO DA FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL
8346147
Barra Nova
CAATIBA
Localidades
8337517
Área de captação das
barragens Água Fria I e II
0
2
4
6
8 km
Scale in Kilometers
ITAMBÉ
Base Planialtimétrica: Folha SD.24-Y-A-VI, SD.24-Y-C-III e SD.24-Y-B-VI
Execução: SUDENE 1974/1975
Adaptação: Edvaldo Oliveira, Jacson Tavares - 2005
8328887
Figura 7 – Esboço da Vegetação do Município de Barra do Choça-Bahia, com destaque para a bacia de captação das barragens Água Fria I e II.
39
fauna e os remanescentes florestais existentes são fragmentados e incapazes de refletir a
riqueza primitiva.
3.7 Hidrografia
Os rios formadores da bacia de captação das barragens Água Fria I e II são afluentes
importantes da Sub-bacia do rio Catolé, que é o rio mais expressivo do município. De forma
geral, todos os rios de Barra do Choça (Figura 8) fazem parte da margem direita do médio Rio
Pardo e, em função das características do relevo, suas águas correm para duas bacias de
captação distintas. Na porção centro-norte do território barrachocense os afluentes despejam
suas águas no rio Catolé que, seguindo uma orientação sudeste desemboca no rio Pardo, nas
imediações de Itapetinga. Na porção meridional do município, os rios seguem a orientação sul
até desembocarem no rio Verruga, outro afluente do rio Pardo, nas proximidades de Itambé.
Localizada em uma área de escassez de água, Barra do Choça se destaca por
apresentar uma variada rede hidrográfica que lhe confere importância estratégica no
abastecimento de água das cidades de Vitória da Conquista e Barra do Choça e das
localidades de Barra Nova, São Sebastião e José Gonçalves, beneficiando mais de 300 mil
habitantes (GARCIA, 2004, p. 61). Há inclusive, em processo de construção, mais uma
grande barragem no município, na região do rio Gaviãozinho, para o abastecimento urbano de
Barra do Choça e Planalto.
De acordo com o IBGE (1999a, p. 173), o período de maior precipitação na bacia do
rio Catolé Grande vai de dezembro a março, podendo chegar a mais de 200 mm/mês. Mesmo
nos meses mais secos, envolvendo o período de maio a setembro, o escoamento é mantido
40
graças ao armazenamento e restituição hídrica proporcionados pelas coberturas detríticas e
solos profundos e porosos existentes na referida bacia de captação.
BARRA DO CHOÇA - HIDROGRAFIA
COM DESTAQUE PARA A BACIA DE CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
350627
341759
332892
324024
315155
8371483
VITÓRIA DA
CONQUISTA
8363407
Porcos
PLANALTO
Rio
BARRA DO CHOÇA
8354777
ÁGUA FRIA II
8346147
Corrego
ÁGUA FRIA I
BARRA NOVA
Lapinha
CAATIBA
8337517
ITAMBÉ
BACIA DO RIO CATOLÉ
0
2
4
6
8 km
Scale in Kilometers
BACIA DO RIO VERRUGA
ÁREA DE ESTUDO
8328887
Base cartográfica: Folha SD.24-Y-A-VI, SD.24-Y-C-III e SD.24-Y-B-VI
Adaptação: Edvaldo Oliveira, Jacson Tavares - 2005
Figura 8 – Mapa de Hidrografia do Município de Barra do Choça-Bahia.
41
3.8 Evolução do Uso da Terra
Por meio de fotografias aéreas extemporâneas e imagens de satélite foi realizado o
mapeamento da bacia de captação das barragens Água Fria I e II, com o intuito de fazer uma
análise comparativa da forma como a terra vem sendo utilizada na área. Foram utilizadas
fotografia aérea, na escala 1:100.000, pancromática, SSRH V SA CS, do ano de 1974, da
folha SD 24-Y-A-III-1975 (Apêndice A) e imagens de satélite do Sistema Landsat 5 TM,
na
escala 1:50.000, colorida, nas combinações das bandas 3, 4 e 5 para o ano de 2004
(Apêndice B). Esses materiais foram utilizados para a elaboração dos mapas temáticos sobre o
uso da terra nos dois períodos através do uso de Sistemas de Informação Geográfica (SIG),
por meio do software Map Viewer 6.0 (MAPVIEWER Version 6.0, 2005).
No mapeamento, os diversos usos da terra foram determinados a partir das
características comuns apresentadas na paisagem e que aparecem nas fotografias aéreas
pancromáticas e imagens de satélite com feições comuns de textura, tons de cores,
rugosidade, espaçamento de copas, etc. A classificação da vegetação para legenda da
interpretação está apresentada a seguir:
•
CAFÉ – São áreas utilizadas para o desenvolvimento da lavoura cafeeira, que
aparecem nas imagens com homogeneidade visual.
•
PASTAGEM – Estas áreas estão caracterizadas, primordialmente, por pastagens para
criação extensiva de gado bovino. Estão incluídas nesta categoria as áreas
recentemente abertas para retirada de madeira com derruba total.
42
•
FLORESTA – Estão incluídos nesta categoria os remanescentes florestais com baixa
antropização, evidenciados pelo adensamento da mata e pouco afastamento entre as
copas.
•
VEGETAÇÃO SECUNDÁRIA – São áreas com vegetação em processo de
regeneração, com porte variando de herbáceo a arbóreo, destacando-se pela sua
uniformidade. Parte delas são áreas abandonadas outrora utilizadas para pastagens ou
café.
•
CULTIVOS DIVERSOS – Envolvem áreas de cultivos diversos (feijão, milho,
mandioca) para subsistência que aparecem nas imagens com grande variedade de
textura e tons de cores, tornando difícil o detalhamento.
•
ESPELHO D´ÁGUA – São os reservatórios de água que aparecem nas imagens com
grande homogeneidade textural e cores escuras.
•
DISTRITO – Corresponde a porção do distrito de Barra Nova que foi possível mapear
através da imagem de satélite para o ano de 2004.
Após o processo de distinção e separação dos diversos usos, o software Map Viewer
6.0 calcula, automaticamente, as áreas e permite a separação dos usos em camadas
(overlayer).
Antes e após a análise das fotografias aéreas e imagens de satélite, foram feitas visitas
ao campo, com os equipamentos GPS e máquina fotográfica, a fim de verificar as formas de
uso predominantes e sua localização. Além disso, as visitas serviram para a checagem e
atualização dos mapas.
43
3.9 Estudo dos Solos
Após consultar o levantamento exploratório de solos do Projeto RADAMBRASIL,
Folha SD 24 Salvador (BRASIL, 1981), e percorrer intensamente a área, foram alocados seis
pontos para abertura de trincheiras e coleta de amostras dos solos para cada forma de uso da
terra. Nessa tarefa, houve a preocupação em selecionar solos formados sob a mesma condição
de relevo, topo de elevação e altitudes semelhantes (Figura 9), a fim de poder verificar os
efeitos do manejo nas características morfológicas, físicas e químicas dos mesmos. Na
SBHRM foram selecionados três solos: um sob mata nativa, empregado como referência, um
sob pastagem de capim-gordura e outro sob café com sistema tradicional de cultivo. Os outros
três foram amostrados na SBHRAF: um sob mata nativa, empregado como referência, um sob
pastagem de braquiária e outro sob café com sistema semi-adensado de cultivo.
O material coletado foi transportado para o laboratório de Física do Solo da UESC,
onde, inicialmente, procedeu-se a secagem, destorroamento e peneiramento em peneira de
44
333872
331506
329140
326774
324407
322041
8352174
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
Água Fria II
LAd4
8349740
Água Fria I
PONTOS DE COLETA
DOS SOLOS
SBHRAF
SBHRM
LAd1
LAd2
LAd1 LATOSSOLO AMARELO distrófico argissólico
Pastagem capim-gordura - 944 m
LAd6
LAd5
os
Mon
LAd3
LAd2 LATOSSOLO AMARELO distrófico típico
Mata nativa - 943 m
LAd3 LATOSSOLO AMARELO distrófico típico
Café (plantio convencional) - 934 m
8347306
LAd4 LATOSSOLO AMARELO distrófico húmico
Pastagem braquiária - 900 m
LAd5 LATOSSOLO AMARELO distrófico típico
Café (plantio semi-adensado) - 920 m
LAd6 LATOSSOLO AMARELO distrófico típico
Mata nativa - 915 m
8344872
Base Cartográfica
LANDSAT 5
IMAGEM TM - 2004
Folha SD 24-Y-A-III-1975
Barra
Nova
8342438
0.00
Figura 9 – Localização geográfica dos solos em estudo, com os respectivos pontos de coleta de solo.
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
45
malha de 2 mm, a fim de se obter a terra fina seca ao ar (TFSA). As análises de caracterização
química e física foram feitas utilizando-se três repetições por amostra
As análises físicas das amostras de solo foram realizadas no laboratório de Física do
Solo da UESC e as análises químicas nos laboratórios da CEPLAC.
3.9.1 Manejo dos solos
Os solos sob mata nativa, tanto da SBHRM quanto da SBHRAF representam
fragmentos da vegetação original da área (Floresta Estacional Decidual) que sobreviveram
como Reserva Legal ao processo de expansão da agricultura na região. Estão sendo
empregados como referência para averiguar os efeitos do manejo nas áreas de café e pastagem
porque não sofreram as alterações causadas pelo manejo agrícola.
Os solos sob pastagem, tanto a de capim-gordura (Melinis Minutiflora) na SBHRM
quanto a de braquiária (Brachiaria Decumbens) na SBHRAF, são representativos do manejo
tradicional para esse tipo de atividade no município, onde se suprime a vegetação original
para realizar o plantio das gramíneas. Nesse processo, não houve utilização de técnicas de
calagem ou adubação.
No solo sob café da SBHRM, na fazenda COFARMA, foi realizado o manejo
tradicional de cultivo, caracterizado pelo grande espaçamento (4,0 m X 1,5 m), suficiente para
1.666 cafeeiros por hectare. Este cafezal tem cinco anos de idade e recebe tratamentos de
calagem e adubação feitos de forma não-sistemática e são utilizados tratores para os tratos
culturais e para a colheita.
46
No solo sob café da SBHRAF, na fazenda COUROPEL, foi realizado o sistema semiadensado, caracterizado pelo espaçamento 2,5 m X 1,0 m, capaz de suportar 4.000 cafeeiros
por hectare. Este cafezal também tem cinco anos de idade, é irrigado e recebe tratamentos
sistemáticos de calagem e adubação, sem trânsito de máquinas agrícolas.
3.9.2 Caracterização Morfológica dos Solos
As características morfológicas (horizonte, cor, textura, estrutura, consistência e
transição) foram descritas no próprio local das trincheiras e obedeceram as metodologias
preconizadas por Lemos e Santos (1996).
3.9.3 Caracterização Física dos Solos
•
Granulometria: Realizada pelo método do densímetro de Bouyoucos, utilizando-se
50 g de TFSA e 25 ml de NaOH 1 mol l-1 para a dispersão química, com agitação em
coqueteleira durante 15 minutos, a 12.000 rpm, conforme EMBRAPA (1997).
•
Argila dispersa em água (ADA): utilizou-se de 50 g de TFSA e 125 ml de água,
conforme EMBRAPA (1997), empregando-se o densímetro de Bouyoucos.
•
Grau de floculação de argila (GF): calculado pela seguinte fórmula:
47
GF (%) = 100 x (argila floculada em água/argila total)
•
Densidade do Solo (DS): utilizou-se o método da proveta, conforme EMBRAPA
(1997), através da determinação do peso de solo compactado necessário para
completar o volume de uma proveta de 100 ml.
DS (kg dm-3) = peso da amostra seca a 105º/volume da proveta
•
Densidade de Partículas (DP): Utilizou-se o método do balão volumétrico com
álcool etílico, que baseia-se na determinação do volume de álcool necessário para
completar a capacidade do balão volumétrico de 50 ml, contendo solo seco em estufa,
conforme EMBRAPA (1997).
DP (kg dm-3) = peso da amostra seca a 105º/volume de álcool gasto
•
Porosidade Total (PT): Conforme EMBRAPA (1997), foi obtida a partir do seguinte
cálculo:
PT = 100 x (densidade de partículas – densidade do solo)/densidade de partículas
•
Análises de agregados
Distribuição de Classes de Agregados (DCA): usou-se a agitação em água da
amostra de material dos solos em um conjunto de peneiras que permitiu separar as
48
frações de 4,76 a 2,0 mm; 2,0 a 1,0 mm; 1,0 a 0,5 mm; 0,5 a 0,25 mm e menor que
0,25 mm, conforme EMBRAPA (1997). O cálculo foi efetuado pela seguinte fórmula:
DCA (%) = 100 x (peso do agregado seco a 105ºC/peso da amostra seca a 105ºC)
DCA < 0,25 mm (%) = 100 – soma das classes de agregados (4,76 a 0,25 mm).
Estabilidade de agregados em água (EA): Calculada pela seguinte fórmula:
EA (%) 100 x (% total de agregados > 0,5 mm - % total de areia > 0,5 mm)/%
total de agregados > 0,5 mm.
Diâmetro médio ponderado (DMP): Calculado pela seguinte fórmula, proposta por
YOUKER e McGUINNESS (1957):
DMP = ∑ (C x P)
sendo
C = centro das classes de agregados (mm);
P = proporção do peso de cada fração de agregados em relação ao total da amostra.
3.9.4 Caracterização Química dos Solos
Procedeu-se de acordo com as metodologias preconizadas pela EMBRAPA (1997),
conforme apresentado abaixo:
49
•
pH em H2O e KCl 1 mol/L – determinados, potenciometricamente, na suspensão solosolução 1:2,5.
•
Fósforo – extraído com solução de HCl 0,05 mol/L e H2SO4 0,025 mol/L (Mehlich-1)
e determinado por colorimetria na presença de ácido ascórbico.
•
Carbono orgânico – por oxidação com dicromato de potássio e titulação com sulfato
ferroso.
•
Cálcio e magnésio trocáveis – extraídos com KCl 1 mol/L, na proporção 1:20, e
dosados por espectrofotometria de absorção atômica.
•
Potássio e sódio trocáveis – extraídos com HCl 0,05 mol/L, na proporção 1:10, e
dosados por fotometria de chama.
•
Alumínio trocável – extraído com KCl 1 mol/L, na proporção 1:20, e determinado por
titulação com NaOH 0,025 mol/L.
•
Acidez extraível (H+ Al3+) – extraída com solução de acetato de cálcio a pH 7,0 na
proporção 1:15, e determinada por titulação com NaOH 0,0606 mol/L.
•
Micronutrientes – extraídos com HCl 0,1 mol/L e dosados por espectrofotometria de
absorção atômica.
Os resultados das análises químicas dos solos estudados foram discutidos com base
nos parâmetros estabelecidos pela Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas
Gerais, na sua 5ª aproximação (CFSEMG, 1999)
50
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo, a abordagem inicial será a evolução do uso da terra na
bacia de captação das barragens Água Fria I e II no período 1974/2004,
apresentando os resultados obtidos pela fotointerpretação de fotografias aéreas e
imagens de satélite. A discussão será feita destacando as mudanças no uso da
terra e suas conseqüências para o meio ambiente.
Na seqüência, serão apresentados os resultados dos estudos realizados nos
solos da referida bacia, com destaque para os aspectos morfológicos, físicos e
químicos e sua variação em função dos diferentes manejos (mata, café e
pastagem).
51
4.1 Evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria
I e II
A bacia de captação das barragens Água Fria I e II era composta originalmente por
dois tipos de vegetação: Floresta Estacional Decidual e Semidecidual; uma das áreas florestais
mais ameaçadas e menos conhecidas da Bahia. Ao longo das últimas décadas, a ação da
atividade pecuária e agrícola, praticamente acabou com a cobertura vegetal natural, incluindo
aí nascentes e matas ciliares.
A evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II ilustra
bem o processo de retirada da cobertura vegetal para o desenvolvimento da lavoura cafeeira
em Barra do Choça.
É possível constatar que em 1974, no início da cafeicultura na região, a maior parte da
área (44,5%) era ocupada por floresta (Tabela 3; Figura 10). A área apresentava uma
variedade muito grande em termos de fauna e flora. O principal afluente do rio Água Fria, o
Rio dos Monos, tem esse nome em função da ocorrência de variedades de micos do gênero
Cebus que habitavam as matas da bacia de captação. Há relatos da década de 70 versando
sobre a existência de suçuarana (Felis concolor), veado-mateiro (Mazama americana), gatodo-mato (Leopardus tigrinus), tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), tamanduá-bandeira
(Myrmecophaga tridactyla), macaco barbado (Alouatta guariba guariba), teiú (Teiús teyou),
jacu (Penelope pileata), paca (Agouti paca), perdiz (Perdix perdix), nambu (Crypturellus
parvirostris), capivara (Hydrocoerus hydrochaeris), cutia (Dasyprocta aguti), caititu (Tayassu
tajacus), aranquã (Ortalis aracuan), codorna (Nothura maculosa), zabelê (Crypturellus
noctivagus), sabiá preto (Platycichla leucops), araponga (Procnias nudicollis), periquito
(Melopsittacus undulatus), gavião (Urubitinga urubitinga), tucano (Ramphastídeos), entre
52
outros animais. Havia também espécies vegetais de grande e médio porte, tais como sucupira
(Bowdichia virgiloides), pau d’arco (Tabebuia ipê), pau-Brasil (Caesalpinia echinata Lam),
ipê (Tabebuia heptapyllla), vinhático (Plathymenia reticulata), palmito (Euterpe edulis),
cedro (Cedrela fissilis), jequitibá (Cariniana legalis), pau-ferro (Caesalpinia férrea), entre
outros. Essa biodiversidade era possível porque a área de floresta era superior a 3 mil
hectares.
Tabela 3 – Evolução do uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II no
período 1974/2004, Barra do Choça-Bahia
Anos
Classes
Café
Pastagem
Floresta
Vegetação secundária
Cultivos diversos
Espelho d’água
Povoado Barra Nova
Total
1974
Área (ha)
595,76
...
3.058,36
1.045,65
2.158,88
12,8
...
6.871,45
%
8,7
...
44,5
15,2
31,4
0,2
...
100,0
2004
Área (ha)
1.959,45
646,50
782,05
197,68
3.122,50
137,14
26,13
6.871,45
%
28,5
9,4
11,4
2,9
45,4
2,0
0,4
100,0
Atualmente, muitas dessas espécies não existem mais porque a constante fragmentação
e destruição dos hábitats vêm impedindo que as espécies se reproduzam ao longo do tempo.
Aliado a isso, as atividades de caça promovidas por moradores da região também impactam
negativamente. Os animais capturados deixam de cumprir o seu papel ecológico como
predadores e dispersores de sementes. Os remanescentes florestais foram reduzidos a pouco
mais de 700 hectares, distribuídos em 59 fragmentos pequenos e descontínuos incapazes de
sustentar a riqueza vegetal e animal que existia no início da década de 1970. Desse total, 40
fragmentos têm menos de 10 ha. O maior remanescente florestal que ainda resiste está em
torno de 105 hectares e apresenta problemas de conservação.
53
A conseqüência disso é que em 2004 a bacia de captação registrava apenas 11,4% de
sua área coberta por floresta (Tabela 3; Figura 11), o que permite observar que houve uma
redução de 74,4% em 30 anos.
A área de vegetação secundária que era de 15,2% (1.045,6 ha) em 1974 diminuiu para
apenas 2,9% em 2004, apresentando uma redução de 81,1% no período analisado,
significando que no processo de desenvolvimento da agropecuária na bacia, essa cobertura
vegetal foi sendo incorporada às lavouras de café e pecuária de bovinos.
De acordo com o Código Florestal (Lei 4.771/65 alterada pela Lei 7.803/89) são Áreas
de Preservação Permanente (APP) as florestas e demais formas de vegetação situadas ao
longo dos rios, ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios, nas nascentes, no topo de morros,
nas encostas com declividade superior a 45º, entre outras (BRASIL, 2005).
As figuras 10 e 11 mostram que as determinações legais não estão sendo respeitadas,
provavelmente pela falta de consciência ecológica dos proprietários rurais e ausência de
fiscalização. É importante destacar que ao redor das barragens Água Fria I e II existem poucas
áreas protegidas e, inclusive, verifica-se a ocorrência de pastagens nas margens dos dois
reservatórios (Figuras 12 e 13).
Enquanto as formações vegetais primitivas diminuíram de tamanho, as áreas de café
que em 1974 ocupavam 595,76 ha (8,7 %) da bacia de captação das barragens Água Fria I e II
se expandiram para 1.959,45 ha em 2004 (28,5 % da área total). Isso perfaz um crescimento
de 227,6 % no período estudado. Elas avançaram sobre as áreas originais de floresta e de
vegetação secundária e quando os preços não são favoráveis, muitas lavouras são
abandonadas ou convertidas à pastagem até que se verifique uma nova alta dos preços.
333872
331506
329140
326774
324407
322041
54
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
8352174
USO DA TERRA EM 1974
CAFÉ
8349740
FLORESTA
Água Fria I
os
Mon
VEG SECUNDÁRIA
CULTIVOS DIVERSOS
8347306
ESPELHO D'ÁGUA
RIO
POVOADO
8344872
Barra
Nova
8342438
Base Cartográfica:
Fotografia Aérea
SSRH V SA CS - 1974
Folha SD 24-Y-A-III-1975
0.00
2.00
4.00
Scale in Kilometers
Figura 10 – Uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II em 1974, Barra do Choça-Bahia.
km
8352174
333872
331506
326774
329140
Água Fria II
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
USO DA TERRA EM 2004
CAFÉ
PASTAGEM
FLORESTA
VEG SECUNDÁRIA
Água Fria I
Mon
os
8349740
324407
322041
55
CULTIVOS DIVERSOS
ESPELHO D'ÁGUA
8347306
DISTRITO
RIO
8344872
Barra
Nova
Base Cartográfica
LANDSAT 5
IMAGEM TM - 2004
Folha SD 24-Y-A-III-1975
0.00
8342438
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
Figura 11 – Uso da terra na bacia de captação das barragens Água Fria I e II em 2004, Barra do Choça-Bahia.
56
Figura 12 – Foto mostrando a existência de pastagens nas margens do reservatório Água Fria I
Figura 13 – Foto mostrando a existência de pastagens nas margens do reservatório Água Fria
II.
57
As áreas de cultivos diversos envolvem áreas de pastagem, agricultura e vegetação que
não puderam ser detalhadas em função da escala das fotografias aéreas e imagens de satélites.
Este grupo aumentou 44,6 % entre 1974 e 2004. Com certeza, não são áreas de floresta e a
grande variação nas cores se deve a variedade de cultivos em pequenas propriedades que
praticam agricultura de subsistência.
A demanda por café, cacau ou pela produção de quaisquer outros gêneros agrícolas
significa incorporar mais áreas naturais ou redirecionar atividades tradicionais para o cultivo
de determinado produto que apresente maiores chances de lucro para o produtor rural. Em
grande parte dos casos, a busca pela lucratividade induz os proprietários rurais a
arregimentarem áreas impróprias para a agricultura, gerando graves prejuízos para a
vegetação e fauna originais, bem como degradando os recursos solo e água. A médio e longo
prazo a própria área será abandonada pelo produtor que não conseguirá manter a produção em
níveis satisfatórios. O resultado final é o surgimento de áreas degradadas que trazem prejuízos
tanto para o próprio proprietário quanto para as áreas do entorno que mantêm uma relação de
interdependência (Figuras 14 e 15).
De acordo com o Código Florestal (BRASIL, 2005):
Art. 2º. Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as
florestas e demais formas de vegetação natural situadas:
a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em
faixa marginal cuja largura mínima seja:
1) de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de
largura; [...]
c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer
que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinqüenta) metros de
largura; [...].
Com relação ao regime especial de proteção para as matas dos reservatórios, o Código
Florestal não estabeleceu limites mínimos, o que foi realizado pela Resolução Conama nº.
04/85 (CONAMA, 1992):
Art. 3º - São Reservas Ecológicas: [...]
b) - as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: [...]
II - ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais, desde o
seu nível mais alto medido horizontalmente, em faixa marginal cuja largura mínima
será: [...]
58
Figura 14 – Desmatamento em área íngreme na região de Barra Nova para cultivo do café.
Figura 15 – Desmatamento em área de nascente para criação de pasto para o gado.
59
- de 100 (cem) metros para os que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d'água
com até 20 (vinte) hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinqüenta)
metros; [...].
A Tabela 4 e a Figura 16 demonstram o uso atual da terra nas Áreas de Preservação
Permanente da Bacia de Captação das barragens Água Fria I e II. São áreas que, por força da
lei, deveriam estar cobertas por florestas, mas estas formações vegetais respondem apenas por
15,7% do total.
Tabela 4 – Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente* da Bacia de Captação das
barragens Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004
Classes
Área (ha)
Café
10,30
Pastagem
52,00
Floresta
73,57
Vegetação secundária
39,84
Cultivos diversos
294,07
TOTAL
469,78
* Envolvendo apenas as nascentes e matas ciliares.
%
2,2
11,1
15,7
8,5
62,6
100,0
Os dados mostram que os cultivos diversos dominam as Áreas de Preservação
Permanente, com mais de 60% do total. Em segundo lugar, vem a pastagem com 11%. O café,
por apresentar melhor desenvolvimento nas regiões mais altas, ocupando pouco mais de 10
ha.
Considerando apenas o uso da terra no entorno dos reservatórios, o Art. 3º da
Resolução Conama nº. 04/85 (CONAMA, 1992) determina 100 metros de mata ciliar para a
Barragem Água Fria II (com 120 ha) e 50 metros para a Barragem Água Fria I (12,8 ha). No
entanto, a Tabela 5 e a Figura 17 atestam que estes limites legais também não foram
respeitados.
8352174
333872
331506
329140
326774
324407
322041
60
Água Fria II
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
USO DA TERRA NAS APPs
CAFÉ
PASTAGEM
FLORESTA
Água Fria I
os
Mon
8349740
VEG SECUNDÁRIA
CULTIVOS DIVERSOS
ESPELHO D'ÁGUA
8347306
DISTRITO
RIO
8344872
Barra
Nova
Base Cartográfica
LANDSAT 5
IMAGEM TM - 2004
Folha SD 24-Y-A-III-1975
0.00
8342438
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
Figura 16 – Uso da terra nas Áreas de Preservação Permanente* da Bacia de Captação das barragens Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em
2004.
* Envolvendo apenas as nascentes e matas ciliares.
331998
331138
330277
329417
328556
327695
61
USO DA TERRA
NAS APPs DOS
RESERVATÓRIOS
ÁGUA FRIA I E II
- 2004 -
8352437
CAFÉ
PASTAGEM
FLORESTA
8351552
Água Fria II
VEG SECUNDÁRIA
CULTIVOS DIVERSOS
ESPELHO D'ÁGUA
RIO
8350667
Base Cartográfica
LANDSAT 5
IMAGEM TM - 2004
Folha SD 24-Y-A-III-1975
8349782
Água Fria I
0
0.00
1
2.00
2 km
4.00
8348897
Figura 17 – Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente dos reservatórios Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia, em 2004.
62
Tabela 5 – Uso da Terra nas Áreas de Preservação Permanente dos reservatórios Água Fria I e
II, Barra do Choça-Bahia, em 2004
Classes
Café
Pastagem
Floresta
Vegetação secundária
Cultivos diversos
TOTAL
Área (ha)
0,58
30,88
18,67
14,98
59,49
124,6
%
0,5
24,8
15,0
12,0
47,7
100,0
Novamente, apenas 15% são ocupados por florestas. Os cultivos variados que
representaram mais de 60% nas APPs da bacia de captação das barragens Água Fria I e II,
aqui no entorno dos reservatórios, caíram para 47,7%, mas ainda é o uso predominante. A
pastagem é uma classe de uso bastante representativa, com aproximadamente ¼ do total. É
mais do que o dobro do que se verifica na bacia.
Os dados mostram que, ao contrário do que se pensava até então, a lavoura cafeeira
não é responsável pela ocupação das APPs situadas no entorno das nascentes, dos rios e dos
reservatórios. No entanto, o café ocupou outras APPs, notadamente aquelas situadas nos topos
de morros e encostas íngremes.
A ocupação irregular das APPs também foi constatada em outros trabalhos, com
destaque para Faria Filho (2003), em seu estudo sobre a Bacia Hidrográfica do Rio Almada,
na Região Sul da Bahia; Oliveira, J. (2004), no estudo do uso da terra na Bacia Hidrográfica
do Rio Iguape, responsável pelo abastecimento de água da cidade de Ilhéus; e Freitas Júnior e
Soares (2004), que estudaram a sub-bacia do Rio Catolezinho, em Barra do Choça. Em todos
eles, constatou-se desmatamento das margens dos rios e nascentes para o desenvolvimento da
agricultura (cultivo permanente e cultivo de subsistência) e pastagens para o gado bovino.
Além de desrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação das nascentes e
matas ciliares, este processo de ocupação das APPs resulta em vários problemas ambientais.
As formações ciliares são como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes e sedimentos
63
que seriam transportados para os cursos d'água, afetando diretamente a quantidade e a
qualidade da água e, conseqüentemente, a fauna e flora aquática e a população humana. São
importantes também como corredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto,
facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populações de espécies animais
e vegetais.
Se a lei fosse cumprida, no tocante à preservação das matas de nascentes e matas
ciliares, teríamos o cenário projetado na Figura 18, que traz os limites legais de 30 metros de
florestas para cada margem dos rios, 50 metros de raio para as áreas de nascentes e para os
reservatórios com até 20 ha e 100 metros de raio para o reservatório Água Fria II, com mais
de 20 ha. A soma de todas essas áreas dá 469,78 ha.
Atualmente, apenas 73,57 ha do total de 469,78 ha é ocupado por florestas, o que
representa um percentual de 15,7%. Se o reflorestamento fosse realizado nessas áreas, haveria
um aumento de 396,21 ha de florestas para a sub-bacia. Isto representaria um aumento de
50,7% no total de florestas encontrado em 2004 (782,05 ha), sem falar nas outras Áreas de
Preservação Permanente, tais como topo de morro, encostas íngremes, etc.
Com relação ao aumento proporcional na bacia de captação, o total de uso da terra
com florestas subiria de 782,05 ha (11,4%) para 1 178,26 ha, o que daria um percentual de
17,15 % no total da bacia de captação.
Parece pouco, mas esse aumento de apenas 5,75 pontos percentuais seria suficiente
para integrar 35 dos atuais 59 fragmentos florestais da bacia de captação, significando a
criação de um espaço contínuo de florestas superior a 652 ha, bem maior que o remanescente
mais expressivo encontrado em 2004 (105 ha). Os efeitos positivos seriam sentidos na
melhoria da quantidade e qualidade da água e no aumento da biodiversidade. No primeiro
caso, porque as matas ciliares representam uma barreira para os agroquímicos e sedimentos
8352174
333872
331506
329140
326774
324407
322041
64
Água Fria II
CENÁRIO DE PRESERVAÇÃO
DAS NASCENTES E MATAS
CILIARES DA BACIA DE
CAPTAÇÃO DAS BARRAGENS
ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
Água Fria I
FLORESTA
os
Mon
8349740
NASCENTE - MATA DE 50 m
RIO - MATA CILIAR - 30 m
ESPELHO D'ÁGUA
8347306
DISTRITO
RIO
8344872
Barra
Nova
Base Cartográfica
LANDSAT 5
IMAGEM TM - 2004
Folha SD 24-Y-A-III-1975
0.00
8342438
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
Figura 18 – Cenário de preservação das nascentes e matas ciliares na bacia de captação das barragens Água Fria I e II, Barra do Choça-Bahia.
65
provenientes das partes mais altas da bacia, evitando a poluição das águas e o assoreamento
dos rios; no segundo caso, porque essas formações vegetais funcionam como corredores
ecológicos, unindo os fragmentos florestais e aumentando a chance de sobrevivência das
comunidades biológicas, de suas espécies e dos processos ecológicos e produtivos.
Um aspecto importante na bacia de captação das barragens Água Fria I e II é que se
trata de uma área de produção de água para abastecimento das cidades de Barra do Choça e
Vitória da Conquista e das localidades de Barra Nova, José Gonçalves, São Sebastião, Bate
Pé, Pradoso e Iguá (GARCIA, 2004, p. 61). A Figura 10 já registra a barragem Água Fria I,
que foi construída na década de 1960 para abastecer exclusivamente a cidade de Vitória da
Conquista. A Figura 11 traz o espelho d’água de 124 ha criado pela construção da barragem
Água Fria II na confluência do rio Água Fria com o rio dos Monos na década de 1980 para
abastecer as cidades de Barra do Choça e Vitória da Conquista. Nesse lapso de 30 anos a
bacia de captação teve seu espelho d’água aumentado em 900% já que saiu de 12,8 ha em
1974 para 137,1 ha em 2004. Entre as classes de uso estudadas, foi a que teve o maior
crescimento e as águas represadas nas duas barragens servem hoje a mais de 300 mil
habitantes localizados na região Sudoeste da Bahia, incluindo aí o núcleo urbano da cidade de
Vitória da Conquista, terceiro município em expressão econômica no estado. A Figura 19
mostra o raio de influência das barragens.
A bacia de captação das barragens Água Fria I e II está localizada em uma área com
ocorrência de estiagens cíclicas e é preciso manter as condições propícias para a produção de
água. Além do desmatamento que se verificou ao longo da expansão da atividade econômica,
outro problema atual é que uma parte das nascentes tributárias do rio dos Monos vem
recebendo os efluentes domésticos do distrito de Barra Nova (Figuras 20 e 21), que
atualmente conta com cerca de seis mil habitantes. O distrito ocupa 26 ha na porção sudeste
da bacia e não possui sistema de esgotamento e tratamento sanitário. É muito comum, no
66
José Gonçalves
São Sebastião
BARRA DO
CHOÇA
Pradoso
Bate Pé
VITÓRIA DA
CONQUISTA
Barragens
Água Fria I e II
Iguá
10 km
Barra Nova
30 km
50 km
BARRA DO CHOÇA
VITÓRIA DA CONQUISTA
Cidade
Distrito/Povoado
Figura 19 – Localidades abastecidas pelas barragens Água Fria I e II.
Figura 20 – Lançamento de esgoto doméstico sem tratamento em uma nascente do rio dos
Monos.
67
distrito, os moradores canalizarem seus esgotos diretamente para as vertentes do alto rio dos
Monos, conforme pode ser observado na Figura 21.
Figura 21 – Detalhe do lançamento de esgoto doméstico diretamente em uma vertente no alto
rio dos Monos.
No entender de Rocha (2005, p. 54.):
Percebe-se que no Distrito de Barra Nova , esse requisito [preservação das APPs]
não vem sendo respeitado, visto que há a instalação de núcleos de povoamento
(loteamentos) nas encostas e serras, justamente onde estão localizadas as nascentes
dos rios, despejando as águas servidas, desmatando as encostas, aumentando os
efeitos erosivos e assoreando os córregos, comprometendo a quantidade e a
qualidade das águas, além de propiciar ambientes para propagação de doenças, e por
extensão a saúde da própria população.
Outro problema ambiental sério é o lançamento de efluentes sem tratamento oriundo
das atividades de despolpamento do café (Figuras 22, 23 e 24). O material, rico em matéria
orgânica e nutrientes (fósforo, potássio, nitrogênio), poderia ser aproveitado pelo agricultor
para adubar sua lavoura, diminuindo os custos de produção, mas, ao contrário, acaba
percolando pelo solo e contaminando o lençol freático e/ou sendo carreado para as nascentes e
rios, contaminando o solo e a água.
68
Figura 22 – Detalhe do despolpamento de café efetuado em uma fazenda localizada no alto rio
dos Monos.
Figura 23 – Efluente oriundo do despolpamento corre a céu aberto por uma rua de café.
69
Figura 24 – Efluente oriundo do despolpamento chega a uma área de nascente.
Como a população continua crescendo e a escassez de água é um problema nos dias
atuais é preciso haver um manejo racional e sustentável dos recursos naturais a fim de que se
possa garantir que esse bem natural estará disponível, em quantidade e qualidade, às futuras
gerações. Esse manejo passa pelo tratamento dos efluentes do povoado de Barra Nova, pela
recomposição das matas ciliares, das nascentes, enfim, pelo cumprimento das leis ambientais.
4.2 Caracterização Morfológica, Física e Química dos solos da Bacia Água
Fria II, sob mata, café e pastagem
4.2.1 Características morfológicas
70
Na SBHRM (Quadro 1), todos os solos apresentaram nítida massa latossólica,
evidenciando o alto grau de intemperização e desenvolvimento desses solos. O ambiente de
formação desses solos é localizado no divisor leste da referida sub-bacia, variando entre 934
m a 944 m de altitude, configurando uma situação de drenagem desimpedida.
Quadro 1 – Características morfológicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra
do Choça-Bahia
Horizonte
Sím- Prof.
bolo (cm)
A
AB
BA
Bw1
Bw2
BC
A
AB
BA
Bw1
Bw2
BC
C
Ap
BA
Bw1
Bw2
Cor
Seca
Estrutura
Úmida
Seca
Consistência
Úmida
Molhada
LAd1 - LATOSSOLO AMARELO distrófico argissólico – pastagem capim-gordura
0-15
10YR 3/3 10YR 3/2
1MGr
LD
Fr
NPl/NPe
-24
10YR 5/4 10YR 4/3
1PGr
LD
MFr
LPl/LPe
-45
10YR 6/6 10YR 5/6
2MBS e 3PGr
LD
MFr
LPl/LPe
-100
10YR 7/6 7,5YR 5/6
1MBS e 3PGr
Ma
MFr
LPl/LPe
150
10YR 6/6 7,5YR 5/8
3MPGr
Ma
MFr
LPl/LPe
-180+ 10YR 8/6 10YR 6/8
3MPGr
Ma
MFr
LPl/LPe
LAd2 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico – mata nativa
0-12
10YR 4/2 10YR 3/3
2MGGr
LD
Fr
LPl/LPe
-25
10YR 6/6 10YR 5/8
2MLa
D
Fi
LPl/LPe
-41
10YR 6/8 10YR 5/6
1MBS e 3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-66
10YR 7/6 10YR 5/8
2MGBS e 3MPGr
Ma
Fr
Pl/Pe
-110
10YR 7/6 10YR 5/8
1MBS e 3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-144
10YR 7/8 10YR 6/8
1PBS e 3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-166 7,5YR 7/4 7,5YR 7/6
3MPGr
LD
Fr
Pl/Pe
LAd3 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico – café (sistema tradicional)
0-18
10YR 4/2 10YR 3/3
2PMGr
LD
Fr
LPl/LPe
-39
10YR 6/4 10YR 5/4
1PMBS e 3MPGr
Ma
Fr
LPl/LPe
-130
10YR 7/6 10YR 6/8
1PMBS e 3MPGr
Ma
MFr
LPl/LPe
-200+ 10YR 8/4 10YR 7/6
3MPGr
Ma
MFr
LPl/LPe
Transição
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tco
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tca
Tpc
Tpd
Tpd
-
Estrutura: 1-fraca; 2-moderada; 3-forte; P-pequena; MP-muito pequena; M-média; G-grande;
La-laminar; Gr-granular; BS-blocos subangulares. Consistência: Ma-macio; LD-ligeiramente
duro; D-duro; Fr-friável; MFr-muito friável; Fi-firme; NPl-não plástico; LPL-ligeiramente
plástico; Pl-plástico; NPe-não pegajoso; LPe-ligeiramente pegajoso; Pe-pegajoso. Transição
(T): a-abrupta; c-clara; d-difusa; o-ondulada; p-plana.
Houve pouca diferenciação entre os horizontes, com predominância do matiz 10YR.
Apenas os horizontes Bw1 (7,5 YR 5/6, úmido) e Bw2 (7,5 YR 5/8, úmido) do LAd1 e C (7,5
YR 7/6, úmido) do LAd2 exibiram uma coloração mais avermelhada. Segundo a EMBRAPA
(1999), solos com horizonte B latossólico e matiz mais amarelo que 5YR predominando nos
71
primeiros 100 cm do horizonte B, devem ser classificados como LATOSSOLOS
AMARELOS no 2º nível categórico.
A estrutura granular foi predominante tanto nos horizontes superficiais como
subsuperficiais, variando de fraca a moderada nos horizontes superficiais e de fraca a forte
nos horizontes subsuperficiais. Quando úmido, todos os solos são friáveis a muito friáveis,
por isso nesta condição favorável ao manejo.
Quadro 2 – Características morfológicas de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria, Barra
do Choça-Bahia
Horizonte
Sím- Prof.
bolo (cm)
A
Ab
AB
BA
Bw
A/O
A
AB
BA
Bw1
Bw2
A
AB
BA
Bw1
Bw2
Cor
Seca
Estrutura
Úmida
Seca
Consistência
Úmida
Molhada
LAd4 - LATOSSOLO AMARELO distrófico húmico – pastagem braquiária
0-37
10YR 3/3 10YR 3/2
2PGr
Ma
MFr
NPl/NPe
-66
10YR 4/2 10YR 3/2
2PGr
S
S
NPl/NPe
-130
10YR 4/3 10YR 3/4
3MPGr
Ma
MFr
LPl/LPe
-157
10YR 6/6 10YR 5/6
3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-212
10YR 7/6 10YR 7/8
2MGBS e 3PGr
Ma
MFr
Pl/Pe
LAd5 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico– café (sistema semi-adensado)
0-15
10YR 4/2 10YR 3/2
-34
10YR 3/3 10YR 3/2
3PMGr
LD
S
Pl/Pe
-55
10YR 5/4 10YR 4/4
1PBS e 3PMGr
Ma
Fr
Pl/Pe
-95
10YR 5/6 10YR 5/8
1MBS e 3PMGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-121
10YR 6/6 10YR 6/8
1PMBS e 3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
-180+ 10YR 7/6 10YR 6/8
1MGBS e 3MPGr
Ma
Fr
Pl/Pe
LAd6 – LATOSSOLO AMARELO distrófico típico– mata nativa
0-26
10YR 3/2 10YR 2/1
3MPGr e PMGru
LD
S
NPl/NPe
-46
10YR 4/2 10YR 3/2
3MPGr
Ma
S
NPl/NPe
-74
10YR 5/4 10YR 4/4
3MPGr
Ma
S
NPl/NPe
-118
10YR 6/6 10YR 5/6
1MBS e 3MPGr
Ma
S
LPl/LPe
-195+ 10YR 7/6 10YR 6/8
1MGBS e 3MPGr
Ma
MFr
Pl/Pe
Transição
Tpc
Tpc
Tpc
Tpc
Tco
Tpc
Tpc
Tpc
Tco
Tpc
Tpc
Tpc
-
Estrutura: 1-fraca; 2-moderada; 3-forte; P-pequena; MP-muito pequena; M-média; G-grande;
Gr-granular; Gru-grumosa; BS-blocos subangulares. Consistência: S-solto; Ma-macio; LDligeiramente duro; D-duro; Fr-friável; MFr-muito friável; NPl-não plástico; LPL-ligeiramente
plástico; Pl-plástico; NPe-não pegajoso; LPe-ligeiramente pegajoso; Pe-pegajoso. Transição
(T): p-plana; c-clara; o-ondulada.
Os solos da SBHRM apresentaram, ainda, estrutura desenvolvida com blocos
subangulares fracos e moderados que se desfazem em forte pequena a muito pequena
granular nos horizontes Bw, textura argilosa em todos os horizontes e consistência macia,
72
friável a muito friável e ligeiramente plástico e ligeiramente pegajoso para os horizontes Bw
(exceto LAd2 que apresentou consistência plástica e pegajosa nos horizontes Bw). Os
horizontes apresentaram transição predominantemente plana e clara, com exceção do LAd3
que foi plana e difusa.
Os efeitos do manejo na morfologia dos solos podem ser demonstrados comparando o
mata nativa com o cafezal: enquanto a mata nativa (LAd2) apresentou estrutura variando de
média a grande granular no horizonte A, o solo sob café (LAd3) exibiu estrutura variando de
pequena a média granular para o horizonte Ap, indicando que o manejo baseado no
revolvimento do solo e utilização de gradagens contribuiu para a pulverização do solo.
Vale destacar que foi constatado, em campo, um endurecimento nas camadas
superficiais dos solos da SBHRM, presença de poucas concreções ferruginosas nos horizontes
Bw1 e Bw2 do LAd1 e cimentação por óxido de ferro formando carapaça ferruginosa no
horizonte C do LAd2. No caso da pastagem (Lad1), o endurecimento dos horizontes
superficiais, provavelmente, está ligado ao pisoteio do gado que concorre para a compactação
do solo. Já o endurecimento verificado no horizonte BA parece ter maior relação com o
adensamento das partículas, já que está muito profundo (24-45 cm) para sofrer ainda os
efeitos do pisoteio.
Na SBHRAF (Quadro 2), o ambiente de formação dos solos amostrados é muito
parecido com o da SBHRM, onde as altitudes dos pontos de coleta variaram de 900 a 920 m
de altitude, com drenagem perfeita. Os solos LAd4, LAd5 e LAd6 também seguiram a
tendência de aumento do teor de argila com a profundidade, mas nenhum dos dois obteve
relação textural B/A > 1,5 (para solos com mais de 40% de argila no horizonte A) para que
pudessem ser enquadrados como B textural. O LAd4 exibiu gradiente textural de 1,4, o LAd5
1,2 e o LAd6 1,0, sendo classificados como B latossólico, segundo EMBRAPA (1999).
73
É importante ressaltar que o LAd4 foi o solo com maior espessura para o horizonte A
(0-37 cm). As cores escuras que indicam a presença de matéria orgânica prevaleceram até 130
cm de profundidade, com cromas baixos, entre 3/2 e 3/4 (úmido). Aqui, os efeitos do manejo
podem explicar parte do fenômeno: este solo é utilizado como pastagem e, certamente, na
porção superior, o fenômeno está relacionado ao papel das gramíneas como facilitadoras das
ligações entre a matéria orgânica e a fração mineral, graças às suas raízes espessas e bem
distribuídas nos horizontes superficiais e sub-superficiais (GALETI, 1984; CARPENEDO;
MIELNICZUK, 1990; SILVA; MIELNICZUK, 1997; CRUZ et al., 2003; WOHLENBERG
et al., 2004). Já os horizontes Ab (37-66 cm) e AB (66-130 cm) estão muito profundos para
sofrerem ainda a ação do sistema radicular das gramíneas, que na maioria dos casos,
concentra-se até 30 cm de profundidade.
A estrutura dos solos da SBHRAF foi semelhante à verificada na SBHRM, com blocos
subangulares fracamente desenvolvidos no horizonte B, desfazendo-se em forte pequena a
muito pequena granular. Com exceção do horizonte A/O do Lad5, os demais apresentaram
textura argilosa, sendo que todos eles exibiram consistência macia (quando secos), friável a
muito friável (quando úmidos) e plástico e pegajoso (quando molhados) para o horizonte B. A
transição foi predominantemente clara e plana.
No solo sob café (LAd5), a estrutura não foi muita afetada pelo manejo em função do
sistema semi-adensado de plantio, que impede o trânsito de máquinas pesadas e do uso de
cobertura morta, que protege o solo e contribui para o aumento da matéria orgânica.
O ambiente de formação dos solos da bacia de captação das barragens Água Fria I e II
é a unidade geológica denominada Coberturas Detríticas, que se caracteriza por apresentar um
material amarelado e mal consolidado. Nesse sentido, parece haver correspondência genética,
uma vez que em todos os solos amostrados, a coloração amarela foi predominante, indicando
a oxidação do ferro que, nas condições tropicais, passa de Fe2+ para Fe3+, durante a alteração,
74
precipitando-se como um novo mineral, a goethita, que pode ser considerado um óxido de
ferro hidratado (DECRAENE; LARUELLE, 1955; TEIXEIRA et al., 2000). De acordo com
Volkoff e Cesar (1977) e Volkoff (1978), a goethita é responsável pela cor amarela nos
latossolos.
É importante destacar que, de acordo com o levantamento exploratório de solos do
Projeto RADAMBRASIL, Folha SD 24 Salvador (BRASIL, 1981), no município de Barra do
Choça aparecem os Latossolos Vermelho-Amarelos distróficos e os Argissolos VermelhoAmarelos Eutróficos. No presente estudo, todos os solos foram classificados como Latossolos
Amarelos distróficos e correspondem ao levantamento realizado pelo RADAMBRASIL,
sendo a mudança de nomenclatura fruto das alterações efetuadas pela EMBRAPA no Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos.
4.2.2 Características físicas
Os Latossolos Amarelos apresentaram teor de argila superior a 350 g/kg em todos os
horizontes, sendo que considerando os mais profundos os valores são ainda maiores (Quadros
3 e 4). No LAd5, o horizonte A/O apresentou textura média e os demais textura argilosa.
Normalmente, em se tratando de alterações nas propriedades físicas, os solos argilosos
sofrem menos com as práticas de manejo agrícola em comparação com os solos arenosos, já
que estes têm baixa coesão e fraca estruturação (COSTA et al., 2003).
A análise granulométrica mostrou que o teor de argila aumentou com a profundidade
do perfil em quase todos os solos, independentemente do manejo sob mata, café ou pastagem
e a quantidade de silte e areia tiveram comportamento contrário, concordando com Moreau
75
Quadro 3 – Características físicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra do Choça-Bahia
HORIZONTE
A (0-15 cm)
AB (15-24 cm)
BA (24-45 cm)
Bw1 (45-100 cm)
Bw2 (100-150 cm)
BC (150-180 cm+)
A (0-12 cm)
AB (12-25 cm)
BA (25-41 cm)
Bw1 (41-66 cm)
Bw2 (66-110 cm)
BC (110-144 cm)
C (144-166 cm)
Ap (0-18 cm)
BA (18-39 cm)
Bw1 (39-130 cm)
Bw2 (130-200 cm+)
AG
AF
AT
SILTE
ARGILA ADA S/A
GF
DP
DS
PT
-1
-3
----------------------------------- g kg --------------------------- - – - -- % -- -- kg dm -- m3 m-3
LAd1 – Latossolo Amarelo distrófico argissólico– pastagem capim-gordura
414
113
527
120
353
115 0,34
67 2,28
1,14 0,50
365
128
493
93
414
275 0,22
34 2,32
1,10 0,52
325
129
454
92
454
296 0,20
35 2,41
1,12 0,53
282
109
391
29
580
7 0,05
99 2,38 1,08 0,55
284
103
387
37
576
13 0,06
98 2,50
1,10 0,56
260
98
358
19
623
138 0,03
78 2,42
1,08 0,55
LAd2 – Latossolo Amarelo distrófico típico – mata nativa
345
105
450
115
435
214 0,26
51 2,27
1,07 0,53
284
109
393
95
512
367 0,19
28 2,31
1,08 0,53
283
101
384
97
519
244 0,19
53 2,31
1,02 0,56
224
106
330
67
603
458 0,11
24 2,34 1,02 0,56
219
105
324
68
608
0 0,11
100
2,36 0,99 0,59
184
87
271
68
661
240 0,10
64 2,34
0,98 0,57
194
83
277
90
633
24 0,14
96 2,42
0,95 0,60
LAd3 – Latossolo Amarelo distrófico típico– café (sistema tradicional)
359
104
463
90
447
224 0,20
50 2,39
1,14 0,53
282
99
381
70
549
139 0,13
75 2,29
1,06 0,54
236
99
335
29
636
0 0,05
100
2,38 1,07 0,55
212
80
292
38
670
3 0,06
100
2,28
1,03 0,55
CT
--- – --média
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
AG = areia grossa; AF = areia fina; AT = areia total; ADA = argila dispersa em água; S/A = relação silte/argila; GF = grau de floculação;
DP = densidade de partículas; DS = densidade do solo e PT = porosidade total; CT = classe textural
76
Quadro 4 – Características físicas de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria, Barra do Choça-Bahia
HORIZONTE
A (0-37 cm)
Ab (37-66 cm)
AB (66-130 cm)
BA (130-157 cm)
Bw (157-212 cm+)
A/O (0-15 cm)
A (15-34 cm)
AB (34-55 cm)
BA (55-95 cm)
Bw1 (95-121 cm)
Bw2 (121-180 cm+)
A (0-26 cm)
AB (26-46 cm)
BA (46-74 cm)
Bw1 (74-118 cm)
Bw2 (118-195 cm+)
AG
AF
AT
SILTE
ARGILA ADA S/A
GF
DP
DS
PT
-1
-3
----------------------------------- g kg --------------------------- - – - -- % -- -- kg dm -- m3 m-3
LAd4 – Latossolo Amarelo distrófico húmico– pastagem braquiária
335
145
480
67
453
109 0,14
76
2,22 1,10 0,50
347
137
484
86
430
253 0,20
41 2,25 1,09 0,53
242
166
408
30
562
310 0,05
45
2,21 1,09 0,50
209
156
365
12
623
290 0,02
53 2,34 1,11 0,52
222
157
379
6
615
0 0,01
100
2,29 1,14 0,50
LAd5 – Latossolo Amarelo distrófico típico – café (sistema semi-adensado)
385
128
513
138
349
82 0,39
77 2,16
1,03 0,53
319
147
466
73
461
157 0,16
66 2,19
1,09 0,50
287
144
431
67
502
176 0,13
65 2,28
1,12 0,51
260
142
402
31
567
27 0,06
95 2,37
1,09 0,55
246
137
383
206
553
0 0,37
100
2,31 1,12 0,51
220
113
333
273
593
0 0,46
100
2,32
1,12 0,51
LAd6 – Latossolo Amarelo distrófico típico– mata nativa
347
110
457
93
450
82 0,21
95 2,23
1,07 0,51
321
121
442
95
463
175 0,20
96 2,21
1,09 0,50
304
123
427
92
481
252 0,19
94 2,31
1,09 0,53
333
122
455
83
462
209 0,18
86 2,37
1,18 0,51
257
115
372
183
445
0 0,41
97 2,37
1,13 0,53
CT
--- – --argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
média
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
argilosa
AG = areia grossa; AF = areia fina; AT = areia total; ADA = argila dispersa em água; S/A = relação silte/argila; GF = grau de floculação;
DP = densidade de partículas; DS = densidade do solo e PT = porosidade total; CT = classe textural
77
(2001). A única exceção foi o LAd6, cujos horizontes Bw1 e Bw2 apresentaram menores
valores de argila, em relação aos horizontes superiores.A relação silte/argila apresentou
valores baixos em todos os horizontes como era de se esperar, já que se tratam de solos velhos
e bastante intemperizados.
Com relação ao grau de floculação dos solos (GF), a tendência foi dos horizontes
superficiais dos solos apresentaram um menor valor quando comparados aos horizontes
subsuperficiais diagnósticos. No LAd1, o GF diminui até o horizonte BA; no LAd2, até o
Bw1; no LAd4 e no LAd5 até o AB. No LAd6, o GF manteve valores elevados, excetuando o
horizonte Bw1, que apresentou uma pequena redução.
De modo geral a característica que melhor se correlaciona com o grau de floculação
dos solos estudados é o teor de carbono (Quadro 5). No entanto, o efeito do carbono no GF
dos solos difere por posição de horizonte. Enquanto que nos horizontes superficiais a
correlação é positiva, nos horizontes subsuperficiais é negativa (Figura 25).
Grau de Floculação (%)
120
100
80
r = 0,540*
60
40
r = - 0,750*
20
0
0
5
10
15
20
-1
C. Org (g kg )
Hor. Superficiais
Hor. Subsuperficiais
Figura 25 – Relação entre Grau de Floculação e Carbono Orgânico dos solos estudados.
78
Em média, os horizontes superficiais são menos floculados (GF = 51,5%) que os
subsuperficiais diagnósticos (GF = 84%). De modo geral a floculação é maior quando há
menor densidade de cargas negativas, evitando a menor repulsão mútua entre as partículas
com mesmo campo elétrico, maior concentração de eletrólitos, que comprime dupla camada
difusa, menores valores de pH, o que diminui o número de cargas negativas e menor
concentração de íons dispersantes como o Na+.
Quadro 5 – Coeficientes de correlação de Pearson entre atributos do solo e grau de floculação
(GF), diâmetro médio ponderado de agregados (DMP) e estabilidade de agregados
(EA)
Atributo
GF (%)
DMP (mm)
EA (%)
Todos Hor.Super. Hor. Sub Todos Hor.Super. Hor. Sub Todos Hor.Super. Hor. Sub
N
33
Areia Total, g/kg
-0,39
Areia Grossa, g/kg
13
20
33
13
20
33
0,49
-0,40
0,48
0,37
-0,05 -0,01
-0,30
0,34
-0,28
0,59
0,43
Areia Fina, g/kg
-0,33
0,15
-0,35 -0,11
Silte, g/kg
-0,31
-0,03
0,55
-0,20
Silte+Argila, g/kg
-0,45
0,20
-0,48
Silte/argila
-0,38
13
20
0,07
-0,42
0,16
0,20
-0,15
-0,32
-0,40 -0,41
-0,38
-0,56
-0,39 -0,13
-0,03
-0,47 -0,26
0,17
-0,52
0,64 -0,22
-0,14
0,18
-0,21
0,61
0,15
0,14
-0,41 -0,21
0,21
-0,59
0,01
-0,57 -0,07
-0,03
-0,50 -0,23
0,18
-0,61
0,34
-0,09
0,45 -0,44
-0,51
-0,30 -0,19
-0,44
0,07
0,35
-0,02
0,46 -0,29
-0,29
-0,12
0,14
0,19
0,22
C. Org, g/dm
-0,39
0,54
-0,75
0,49
0,00
0,28
0,18
-0,11
0,03
Al3+, cmolc/dm3
-0,41
-0,16
-0,48
0,36
0,13
0,35
0,22
0,27
0,07
H+Al a pH 7,0, cmolc/dm3
-0,52
0,02
-0,70
0,59
0,48
0,04
0,22
0,42
-0,21
T, cmolc/dm3
-0,34
0,56
-0,61
0,47
0,04
0,00
0,14
-0,08
-0,25
-0,35
-0,36
-0,64 -0,13
-0,13
0,22 -0,05
0,09
-0,04
0,14
-0,48
0,32 -0,04
-0,33
-0,11 -0,09
-0,35
-0,05
Argila, g/kg
pH sal
∆pH
3
m, %
3
Na, cmolc/dm
0,22
0,36
Valores em negrito significativo a 90% de probabilidade
Dessa forma, os horizontes subsuperficiais são mais floculados por terem, em média,
menor densidade de cargas negativas (T= 4,1 cmolc/dm3), menor pH este igual a 4,9 e menor
79
teor de Na+ trocável (0,2 cmolc/dm3), quando comparado aos horizontes de superfície. Por
outro lado, os horizontes subsuperficiais possuem menor concentração de eletrólitos (t = 1,2
cmolc/dm3), maior saturação por sódio (7,0%) e menor teor de Al3+ (0,5 cmolc/dm3) que os
horizontes superficiais, características antagônicas à floculação.
Por isso, acredita-se que o aumento no teor de carbono orgânico, nestes horizontes
(subsuperficiais), seja responsável pelo aumento no número de cargas negativas e
conseqüente maior dispersão das argilas, visto que o aumento de 1g de carbono eleva a CTC
destes horizontes em 5,02 cmolc (Figura 26), o que significa um aumento médio de 123% na
CTC. Nos horizontes superficiais a contribuição do carbono na CTC é aproximadamente
igual, 4,77 cmolc (Figura 31); no entanto, significa um incremento relativo de 35% na CTC.
Assim, o efeito do carbono nestes horizontes é oposto, ou seja, o carbono atua floculando,
dessa forma acredita-se que a magnitude no aumento da CTC dos horizontes subsuperficiais
leva à dispersão do solo, apesar de serem mais floculados que os horizontes superficiais.
80,0
y = 4,7735x + 7,9124
70,0
2
R = 0,9036
60,0
CTC
50,0
40,0
30,0
20,0
y = 5,0243x + 3,6813
10,0
R = 0,9005
2
0,0
0,0
3,0
6,0
9,0
12,0
C
Hor. Superficiais
Hor. Subsuperficiais
Figura 26 – Relação entre carbono e CTC dos solos estudados.
15,0
80
Analisando de forma isolada, o LAd3 foi o único solo que apresentou aumento
constante e gradativo do GF com a profundidade, estando a argila toda floculada nos
horizontes Bw1 e Bw2. Novamente, o manejo parece explicar as alterações. Este Latossolo
Amarelo distrófico é destinado à lavoura cafeeira sob sistema tradicional de cultivo, onde o
solo é constantemente revolvido pelo uso de aração e gradagens. Este revolvimento constante
pulveriza os agregados dos horizontes superficiais do solo, facilitando a decomposição da
matéria orgânica e, conseqüentemente diminuindo a agregação do solo, que se reflete em
baixos níveis de floculação no horizonte superficial. O LAd5 também é utilizado para a
cultura do café, mas o manejo dos cafeeiros segue o sistema semi-adensado de cultivo, de
forma que a distância entre os cafeeiros não permite a entrada de máquinas para revirar o solo
e permitindo, inclusive, a formação de horizonte A/O.
Já o GF para os horizontes inferiores apresentou semelhanças em todos os solos
analisados quanto aos altos valores, como atestam os horizontes Bw1, Bw2 e BC do LAd1;
Bw2, BC e C do LAd2; Bw1 e Bw2 do LAd3; Bw do LAd4; Bw1 e Bw2 do LAd5 e Bw1 e Bw2
do LAd6. A única exceção foi o Bw1 do LAd2 que apresentou grau de floculação de apenas
24%, possivelmente por influência de horizontes superiores.
Foi observado um aumento da Densidade do Solo (DS) nos dois solos sob pastagens
(LAd1 e LAd4) em relação às matas nativas (LAd2 e LAd6). Enquanto os solos sob mata
nativa das duas sub-bacias tiveram DS de 1,07 kg dm-3 no horizonte A, a pastagem da
SBHRM (LAd1) apresentou DS de 1,14 kg dm-3 e a pastagem da SBHRAF (LAd4) 1,10 para
o mesmo horizonte. Estes resultados podem estar associados a dois fatores, ambos ligados aos
efeitos do manejo: pressão exercida pelo pisoteio dos animais na superfície do solo
(GARDNER, 1986; OLIVEIRA et al., 1996; KOUTIKA et al., 1997; ALBUQUERQUE et
al., 2003; ARAÚJO et al., 2004) e menor conteúdo de matéria orgânica no horizonte A das
pastagens em relação às matas nativas.
81
Com relação aos cafezais, os solos também apresentaram diferenças na DS
relacionadas ao manejo. Na SBHRM, onde o Latossolo Amarelo distrófico (LAd3) é
cultivado com a cultura do café os valores de DS no horizonte Ap foi igual aos encontrados
no horizonte A da pastagem: 1,14 kg dm-3. Isto se deve ao manejo adotado nesta fazenda, com
os cafeeiros dispostos em ruas largas para passagem de tratores com seus implementos
agrícolas e, assim, contribuindo para a redução da matéria orgânica e aumento da
compactação do solo. Já no LAd5 — SBHRAF— os valores de DS no horizonte A/O foi de
1,03 kg dm-3 e no horizonte A a DS foi 1,09 kg dm-3. A explicação para o fato de uma cultura
permanente apresentar DS inferior a da mata nativa se deve ao manejo adotado no LAd5,
onde os cafeeiros são plantados bem próximos uns dos outros, trazendo, dessa forma,
condições para o acúmulo da matéria orgânica, tanto por proteção contra a incidência de luz
solar quanto pela ausência de máquinas agrícolas revolvendo e compactando o solo.
No entanto, embora a DS tenha aumentado nas pastagens (LAd1 e LAd4) e no café
sob sistema tradicional (LAd3), nenhum valor representa dificuldade para que as raízes
penetrem no solo, uma vez que a DS foi inferior a 1,2 kg dm-3.
Como indicam os quadros 3 e 4, a porosidade total (PT) variou muito pouco em
relação aos tipos de manejo. Nas pastagens (LAd1 e LAd4) o valor de 50 m3 m-3 de PT no
horizonte A foi inferior aos valores das matas nativas (LAd2 e LAd6), que ficaram entre 51 e
53 m3 m-3 para o mesmo horizonte. Nos solos sob café não foram verificadas mudanças
importantes na PT, mantendo os mesmos valores aferidos nas matas nativas que variaram de
53 m3 m-3 para o LAd2 e 51 m3 m-3 para o LAd6. Considerando o horizonte O do LAd5, os
valores da PT foram superiores aos verificados no solo sob mata nativa (LAd6). Em termos
gerais, os valores de PT aumentaram na mesma proporção em que diminuíram os níveis de
DS, já que a DP não apresentou grande variação em função do tipo de manejo realizado em
cada solo, concordando com Machado e Brum (1978, p. 83) e Anjos et al. (1994, p.142).
82
4.2.2.1 Análise de agregados
Os quadros 6 e 7 exibem os resultados da análise de agregados dos solos estudados.
As diferentes práticas de manejo adotadas na área de estudo afetaram a Distribuição de
Classes de Agregados, o Diâmetro Médio Ponderado (DMP) e a estabilidade de agregados
(EA).
Na SBHRM (Quadro 6), o solo sob mata nativa (LAd2) apresentou o maior valor de
EA, atingindo valores superiores a 79% (horizonte A) e 84% (horizonte AB) e DMP de 1,26
mm no horizonte A e 0,93 mm no AB. O fato do horizonte AB ter apresentado maior
estabilidade de agregados em relação ao horizonte A pode ser devido ao maior teor de argila
aferido no AB. Além disso, estes horizontes também mostraram maior percentual de
agregados de maior diâmetro (4,76-2,00 e 2,00-1,00 mm). As razões para estes níveis de
agregação podem estar relacionadas aos maiores teores de Carbono orgânico encontrados
nestes horizontes (Quadro 8), já que a matéria orgânica é agente primordial na formação e
estabilização de agregados (KIEHL, 1979, p. 149; TISDALL; OADES, 1982; CASTRO
FILHO; MUZILLI, 1983). Quanto aos horizontes inferiores, houve tendência de aumento do
percentual de agregados de menor diâmetro (0,50-0,25 e < 0,25 mm) e diminuição da EA e do
DMP com a profundidade. A explicação está no comportamento do C orgânico e da argila no
perfil do solo: enquanto a argila aumenta com a profundidade, o C orgânico diminui,
contribuindo, dessa forma, para a formação de agregados de menor tamanho, já que a
cimentação nos horizontes inferiores é verificada prioritariamente pela ação agregadora da
argila. Os altos valores do Grau de Floculação da argila encontrados nestes horizontes
também fortalecem essa hipótese.
83
Quadro 6 - Análise de agregados de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra do
Choça-Bahia
HORIZONTE
DISTRIBUIÇÃO DE CLASSES DE
AGREGADOS (mm)
4,76-2,00
2,00-1,00
1,00-0,50
0,50-0,25
DMP
EA
< 0,25
--------------------------- % -------------------------- --mm --- % -LAd1 - Latossolo Amarelo distrófico argissólico – pastagem capim-gordura
A (0-15 cm)
25,3
23,9
8,4
16,1
26,3
1,35
77,33
AB (15-24 cm)
7,0
36,0
13,7
23,3
20,0
0,99
75,97
BA (24-45 cm)
6,0
32,7
18,8
16,3
26,3
0,93
76,08
Bw1 (45-100 cm)
2,5
15,7
15,4
28,6
37,8
0,60
56,02
Bw2 100-150 cm)
4,8
28,3
10,7
14,6
41,6
0,77
74,27
BC (150-180 cm+)
2,6
15,6
15,7
24,2
41,9
0,71
72,52
LAd2 - Latossolo Amarelo distrófico típico – mata nativa
A (0-12 cm)
17,7
26,5
13,3
17,2
25,3
1,26
79,41
AB (12-25 cm)
16,5
30,1
14,0
15,6
23,8
0,93
84,85
BA (25-41 cm)
8,0
27,9
15,8
17,6
30,7
0,91
82,94
Bw1 (41-66 cm)
7,8
26,0
14,3
20,5
31,4
0,88
84,75
Bw2 (66-110 cm)
3,8
16,8
14,6
20,8
44,1
0,62
70,91
BC (110-144 cm)
9,7
18,6
15,8
17,3
38,6
0,76
78,27
C (144-166 cm)
5,2
16,2
15,2
20,3
43,1
0,63
68,65
LAd3 - Latossolo Amarelo distrófico típico– café (sistema tradicional)
Ap (0-18 cm)
1,5
25,1
20,1
26,0
27,4
0,60
66,96
BA (18-39 cm)
2,4
20,5
14,6
19,8
42,7
0,63
63,74
Bw1 (39-130 cm)
1,7
10,1
11,7
27,6
48,9
0,46
56,86
Bw2 (130-200 cm+)
2,5
13,6
19,4
24,1
40,4
0,58
73,79
DMP = diâmetro médio ponderado; EA = estabilidade de agregados em água.
Tomando-se os valores do LAd2 como referência, a pastagem (LAd1) exibiu valores
menores de EA, que ficou em torno de 77% no horizonte A, mas, por outro lado, esse mesmo
horizonte teve 25,3% de agregados na faixa de 4,76-2,00 mm contra 17,7 % da mata. No AB
do LAd1, a agregação também foi maior na classe 2,00-1,00 mm. Este efeito cimentante pode
estar associado ao poder que as gramíneas têm de agregar as partículas minerais e a fração
orgânica nos horizontes superficiais e sub-superficiais (GALETI, 1984, p. 267;
CARPENEDO; MIELNICZUK, 1990, p. 100; SILVA; MIELNICZUK, 1997, p. 115; CRUZ
et al., 2003, p. 1109; WOHLENBERG et al., 2004, p. 892). Além disso, os valores de C
orgânico não diminuíram tanto em relação ao LAd2, contribuindo também na agregação.
84
Estes fatores também devem ter concorrido para aumentar o DMP no horizonte A da
pastagem. Já os horizontes inferiores apresentaram a mesma tendência de aumento da
floculação da argila, diminuição da EA e do DMP com a profundidade e aumento do
percentual de agregados de menor diâmetro.
Quadro 7 - Análise de agregados de três solos da sub-bacia do Rio Água Fria, Barra do
Choça-Bahia
HORIZONTE
DISTRIBUIÇÃO DE CLASSES DE
AGREGADOS (mm)
4,76-2,00
2,00-1,00
1,00-0,50
0,50-0,25
DMP
EA
< 0,25
--------------------------- % -------------------------- --mm --- % -LAd4 - Latossolo Amarelo distrófico húmico – pastagem braquiária
A
(0-37 cm)
8,0
32,7
12,6
22,0
24,7
0,97
77,28
Ab (37-66 cm)
17,2
36,4
10,3
15,0
21,1
1,29
80,71
AB (66-130 cm)
10,8
8,4
8,8
17,9
54,1
0,60
59,75
BA (130-157 cm)
8,4
13,6
10,7
26,1
41,2
0,72
74,40
Bw (157-212 cm+)
3,1
17,6
15,9
19,5
43,9
0,62
69,98
LAd5 - Latossolo Amarelo distrófico típico– café (sistema semi-adensado)
A/O (0-15 cm)
1,4
16,8
15,9
31,5
34,5
0,58
58,12
A (15-34 cm)
6,3
29,8
19,4
22,0
22,5
0,98
70,11
AB (34-55 cm)
3,6
16,0
15,6
28,6
36,2
0,68
48,87
BA (55-95 cm)
1,2
9,9
14,9
22,0
52,1
0,45
40,16
Bw1 (95-121 cm)
1,9
12,4
12,5
32,8
40,4
0,52
51,12
Bw2 (121-180 cm+)
3,5
12,2
15,3
23,6
45,4
0,55
68,31
LAd6 – Argissolo Amarelo distrófico típico – mata nativa
A (0-26 cm)
6,1
38,7
14,0
21,8
19,5
1,00
81,48
AB (26-46 cm)
3,5
19,3
12,3
24,8
40,0
0,65
64,57
BA (46-74 cm)
2,2
10,3
9,4
17,8
60,3
0,43
50,92
Bw1 (74-118 cm)
0,5
7,6
11,6
17,9
62,4
0,39
27,37
Bw2 (118-195 cm+)
0,6
5,0
9,1
17,0
68,3
0,31
43,19
DMP = diâmetro médio ponderado; EA = estabilidade de agregados em água.
O efeito mais visível do manejo na alteração das propriedades físicas do solo foi
verificado no solo sob café (LAd3). Os valores de EA que estavam em torno de 80% na mata
nativa, aqui foram reduzidos para valores inferiores a 67%, com reflexos na redução do DMP
que caiu pela metade no horizonte Ap e cerca de um terço no BA. O tamanho dos agregados
85
também foi radicalmente reduzido, confirmando os efeitos destrutivos do cultivo para os
agregados de maior dimensão (JOHN et al., 2005, p. 77). Para a classe 4,76-2,00 mm os
valores do horizonte Ap representam menos de 10% do total observado no horizonte A do
LAd2. Mais de 50% dos agregados do LAd3 estão nas classes de menor diâmetro (0,50-0,25 e
< 0,25 mm), sendo que no BA este número sobe para mais de 60%, atestando que o manejo
da lavoura cafeeira, mediante o uso de máquinas agrícolas para arar e gradear, concorre para a
destruição da estrutura do solo (NEUFELDT et al., 1999, p. 94; WESTERHOF et al., 1999, p.
287; JOHN et al., 2005, p. 74-75). Este revolvimento pulveriza e expõe o solo às variações de
temperatura e umidade, destruindo os agregados de maior tamanho (RUSSEL; RUSSEL apud
MACHADO; BRUM, 1978, p. 82; ALBUQUERQUE et al., 2003, p. 800; WENDLING et al.,
2005, p. 487). Os horizontes inferiores seguiram a mesma tendência verificada na mata e na
pastagem quanto ao Grau de Floculação da Argila, Distribuição de Classes de Agregados e
DMP. A exceção foi o aumento da EA no horizonte Bw2, que apresentou 73,79%, a maior de
todo o perfil. Isto pode estar ligado ao fato desse horizonte ter apresentado o maior valor de
argila (670 g kg-1), contribuindo assim para o aumento da EA.
Na SBHRAF (Quadro 7), o comportamento dos agregados do solo foi muito parecido
com as variações verificadas na SBHRM, onde a magnitude dos efeitos causados pelo manejo
na estrutura do solo cresceu no sentido mata-pastagem-cafezal. No entanto, é importante
destacar algumas particularidades verificadas na SBHRAF.
Enquanto o horizonte A da mata nativa (LAd6) exibiu 81,48% de EA, o AB ficou com
64,57% e o BA 50,92%, bem diferente da mata nativa da SBHRM, que apresentou EA
próxima de 80% nesses horizontes, chegando, inclusive, a 84,85% no AB. Possivelmente,
essa baixa agregação tem a ver com o percentual de argila, bem maiores no LAd2. Já a
elevada EA no horizonte A pode ser creditada ao papel cimentante da matéria orgânica, já que
o C orgânico nesse horizonte foi igual ao encontrado na mata do rio dos Monos, cerca de 28,8
86
g/dm3, contribuindo, também, para o aumento do DMP e dos agregados de maior diâmetro.
Do AB até o Bw2 a redução do DMP foi constante e a predominância da agregação ficou nas
classes de menor diâmetro (0,50-0,25 e < 0,25 mm), alcançando 85,3% no Bw2. De todos os
solos estudados, o LAd6 foi o que teve a maior percentagem de agregados nas classes de
menor diâmetro para os horizontes inferiores, provavelmente relacionada à diminuição atípica
da argila nesses horizontes.
Considerando o LAd6 como referência, a pastagem (LAd4) apresentou uma pequena
redução nos valores de EA e DMP para o horizonte A, mas, por outro lado, houve aumento do
percentual de agregados de maior diâmetro, que pode ser creditado à presença de gramíneas e
aos elevados teores de argila e C orgânico. No horizonte Ab, certamente, os maiores valores
de areia grossa (347 contra 335 g km-1 do A) e C orgânico (25,8 contra 18,6 g/dm3 do A)
contribuíram para aumentar a EA, o DMP e o tamanho dos agregados, sendo os dois últimos
maiores, inclusive, que o da mata nativa. O LAd4 apresentou valores significativos de C
orgânico até a profundidade de 130 cm. Nos demais, os níveis de C orgânico são sempre
inferiores a um dígito em profundidades maiores que 74 cm. A própria coloração escura do
LAd4 na espessura 0-130 cm (croma variando de 3,2 a 3,4 no matiz 10 YR) indica a grande
quantidade de material orgânico acumulada. Nos horizontes inferiores a agregação parece
estar relacionada com a quantidade de argila, uma vez que os valores de DMP e EA para os
horizontes AB, BA e Bw cresceram na mesma direção e os agregados de menor diâmetro são
predominantes.
Nesta sub-bacia, o solo sob cultura cafeeira (LAd5) foi o mais afetado pelo manejo,
exibindo menores valores de EA, DMP e agregados de menor tamanho. O horizonte A/O,
embora tenha apresentado o maior teor de C orgânico (48,6 g/dm3), não conseguiu elevar os
valores de EA, DMP, nem tampouco o tamanho dos agregados, uma vez que os agregados de
menor diâmetro predominaram. Isto pode estar relacionado com o baixo teor de argila e
87
predominância da fração areia nesse horizonte, que foi o único a apresentar textura média. No
LAd5, o horizonte A apresentou os maiores valores de DMP, EA e agregados de maior
tamanho, mas, mesmo assim, eles foram inferiores aos encontrados na mata nativa. Nos
horizontes inferiores, a tendência foi redução nos valores de DMP e EA e diminuição do
tamanho dos agregados.
Nos dois solos sob café (LAd3 e LAd5), foram notados os efeitos mais nocivos para a
estrutura do solo, mas os dados indicam que o LAd3 apresentou as maiores alterações,
evidenciadas pela menor EA (66,96% no Ap contra 70,11% no A), menor DMP (0,60 mm no
Ap contra 0,98 mm no horizonte A) e menor percentual de agregados de maior diâmetro, uma
vez que nas classes de 4,76-2,00 mm e 2,00-1,00 mm o LAd3 exibiu 26,6% no horizonte Ap
contra 36,1% no horizonte A do LAd5. Isto demonstra que o manejo adotado no LAd5 —
onde o solo não é submetido ao trânsito de máquinas agrícolas pesadas nem a gradagens e
arações — foi mais eficiente na preservação da estrutura do solo.
4.2.3 Características químicas dos solos estudados
A maioria dos solos estudados tem uma fertilidade atual média. A soma de bases (SB)
variou nos horizontes superficiais de 0,4 a 18,7 cmolc dm-3, em termos médios 4,1 cmolc dm-3,
sendo que os solos da bacia do Rio Água Fria mais férteis, 5,4 cmolc dm-3 de SB contra 3,6 cmolc
dm-3 de SB dos solos da bacia do Rio dos Monos (Quadros 8 e 9).
Não obstante a fertilidade atual média dos horizontes superficiais, os horizontes
subsuperficiais apresentam baixa soma de bases, em média 0,7 cmolc dm-3 e alta saturação por
alumínio 45,0% em média. Isto reflete a natureza do material de origem destes solos, já que
88
foram formados a partir das Coberturas Detríticas do Terciário-Quaternário (BRASIL, 1981),
muito pobres quimicamente, apresentando material detrítico, amarelado e mal consolidado,
submetidas ao clima tropical subúmido e, portanto, com intemperização intensa dos
constituintes minerais e remoção dos íons básicos.
De acordo com os critérios adotados pela Embrapa (1999, p. 355), os solos variaram
de fortemente ácidos (pH 4,3 a 5,3) a moderadamente ácidos (pH 5,4 a 6,5), sendo que em
média os horizontes superficiais são ligeiramente menos ácidos, média de pH 5,1 do que os
horizontes subsuperficiais, média de pH 4,9. No entanto, essa ligeira diferença é o suficiente
para classificar os horizontes superficiais de média acidez, enquanto os subsuperficiais são de
acidez elevada (CFSEMG, 1999). O caráter ácido desses solos mostra coerência com os altos
teores de Al3+ (r=-0,50; p=0,10) nos horizontes superficiais e baixa soma de bases (r=-0,52;
p=0,10) nos horizontes subsuperficiais, conforme Schaefer et al. (2002, p. 248) e Araújo et al.
(2004).
Numa comparação entre os diferentes tipos de manejo e a mata nativa, percebe-se que
na SBHRM, apenas o solo sob pastagem (LAd1) apresentou uma pequena elevação no pH em
relação à mata nativa (LAd2): os horizontes A e AB do LAd1 com pH de 5,4 e 5,3,
respectivamente, contra 4,8 e 4,7 da mata nativa para os mesmos horizontes, traduzindo um
incremento de 0,6 nos valores de pH, suficiente para sair da classe de fortemente ácido para
moderadamente ácido. Já o solo sob café (LAd3), apesar dos maiores teores de Ca2+ e Mg2+ e
menores de carbono, não mostrou diferenças importantes quanto ao pH em H2O.
Na SBHRAF, a pastagem (LAd4) não diferiu muito da mata nativa (LAd6), em termos
de pH, verificando apenas uma elevação de 0,4 no horizonte A, que mantém o solo na classe
de fortemente ácido. O solo sob café (LAd5), em função da maior eficiência de calagem e
adubação, verificada pelos valores elevados de Ca2+ e alta saturação em bases, foi o que
apresentou os maiores valores de pH, que chegaram a 5,7 no horizonte AB, dentro, portanto,
89
Quadro 8 – Características químicas de três solos da sub-bacia do Rio dos Monos, Barra do Choça-Bahia
Horiz. pH (1:2,5) ΔpH P disp. C org.
Complexo Sortivo
Micronutrientes
2+
2+
+
+
3+
+
H2O KCl
Ca
Mg
K
Na
Al
H
SB
t
T
V
m
Cu
Fe
Mn
Zn
mg/kg g / dm3 ------------------------------ cmolc/dm3 ---------------------------% ------------------- mg/kg -------------LAd1 - LATOSSOLO AMARELO distrófico argissólico– pastagem capim-gordura
A
5,4 4,1 -1,3
1 22,08
1,7
0,3 0,17 0,03
1,1
9,1 2,2 3,3 11,3 19,5 33,3
0,2
122
4,0
2
AB
5,3 4,1 -1,2
0 15,72
1,1
0,2 0,12 0,06
1,0
7,5 1,5 2,5
9,0 16,5 40,3
0,1
100
1,0
2
BA
5,3 4,2 -1,1
0 10,92
0,5
0,1 0,08 0,09
0,9
6,4 0,8 1,7
7,2 10,7 53,9
0,1
60
1,0
3
Bw1
5,1 4,3 -0,8
0
4,68
0,4
0,1 0,01 0,18
0,6
3,9 0,7 1,3
4,6 15,0 46,5
0,1
35
1,0
1
Bw2
5,1 4,5 -0,6
0
3,48
0,2
0,1 0,01 0,15
0,4
2,5 0,5 0,9
3,0 15,5 46,5
0,3
19
0,4
2
BC
5,1 4,6 -0,5
0
3,00
0,1
0,1 0,01 0,15
0,3
2,0 0,4 0,7
2,4 15,3 45,5
0,3
24
0,3
2
LAd2 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico– mata nativa
A
4,8 4,2 -0,6
0 28,80
2,7
0,8 0,20 0,39
1,0 11,1 4,1 5,1 15,2 26,9 19,6
0,2
181
8,0
2
AB
4,7 4,1 -0,6
0 15,96
0,7
0,3 0,13 0,27
1,2
7,6 1,4 2,6
9,0 15,6 46,2
0,2
120
2,0
2
BA
4,9 4,2 -0,7
0 12,60
0,2
0,2 0,07 0,18
2,0
5,3 0,7 2,7
6,0 10,9 75,5
0,2
73
1,0
1
Bw1
4,9 4,3 -0,6
0
9,12
0,1
0,1 0,07 0,18
0,9
4,8 0,5 1,4
5,3
8,6 66,7
0,2
48
1,0
2
Bw2
5,0 4,5 -0,5
0
6,72
0,1
0,1 0,03 0,18
0,6
4,0 0,4 1,0
4,4
9,3 59,4
0,2
33
1,0
1
BC
5,1 4,6 -0,5
1
3,00
0,1
0,1 0,01 0,24
0,3
2,8 0,5 0,8
3,3 13,8 40,0
0,2
10
0,3
1
C
5,1 4,7 -0,4
0
1,68
0,1
0,1 0,01 0,39
0,2
2,1 0,6 0,8
2,7 22,2 25,0
0,2
12
0,4
2
LAd3 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico– café (sistema tradicional)
Ap
4,9 5,0 0,1
3 18,60
5,6
2,3 0,25 0,66
0,0
4,3 8,8 8,8 13,1 67,2
0,0
1,0
60
3,0
2
BA
4,8 4,4 -0,4
1 12,12
0,5
0,3 0,07 0,06
1,0
7,6 0,9 1,9
8,5 10,9 51,8
0,1
78
1,0
2
Bw1
4,7 4,5 -0,2
0
3,48
0,2
0,2 0,01 0,12
0,5
3,0 0,5 1,0
3,5 15,0 48,5
1,0
23
0,3
2
Bw2
4,8 4,6 -0,2
0
1,08
0,2
0,2 0,01 0,18
0,1
2,4 0,6 0,7
3,0 19,7 14,5
0,2
9
0,4
1
SB = Soma de bases; t = CTC efetiva; T = CTC a pH 7,0; V = Saturação por bases; m = saturação por alumínio.
90
Quadro 9 – Características químicas de três solos da sub-bacia do rio Água Fria, Barra do Choça-Bahia
Horiz. pH (1:2,5) ΔpH P disp. C org.
Complexo Sortivo
Micronutrientes
2+
2+
+
+
3+
+
H2O KCl
Ca
Mg
K
Na
Al
H
SB
t
T
V
m
Cu
Fe
Mn
Zn
mg/kg g / dm3 ------------------------------------- cmolc/dm3 ---------------------------% ----- ---------------- mg/kg -------------LAd4 - LATOSSOLO AMARELO distrófico húmico – pastagem braquiária
A
4,9 4,2 -0,7
1 18,60
1,4
0,5 0,07 0,27
1,4 11,9
2,2
3,6 14,1 15,8 38,5
0,2
100
3,0
2
Ab
5,1 4,3 -0,8
1 25,80
4,7
1,1 0,05 0,36
0,7 12,7
6,2
6,9 18,9 32,8 10,1
0,1
58
5,0
2
AB
5,1 4,3 -0,8
0 15,60
0,4
0,2 0,02 0,18
1,6
9,6
0,8
2,4 10,4
7,7 66,7
0,2
29
1,0
2
BA
5,2 4,4 -0,8
0
5,64
0,2
0,4 0,02 0,33
0,7
4,9
1,0
1,7
5,9 16,2 42,4
0,1
24
1,0
2
Bw
5,2 4,4 -0,8
0
2,88
0,1
0,3 0,01 0,24
0,4
2,8
0,7
1,1
3,5 18,8 38,1
0,2
10
0,4
2
LAd5 - LATOSSOLO AMARELO distrófico típico – café (sistema adensado)
A/O
5,3 4,8 -0,5
99 48,60 11,2
3,8 2,19 1,53
0,1
5,2 18,7 18,8 23,9 78,3
0,5
3,0
104
50,0
42
A
5,6 4,9 -0,7
29 24,00
5,9
1,6 2,48 1,05
0,1
9,1 11,0 11,1 20,1 54,8
0,9
1,0
94
7,0
6
AB
5,7 4,3 -1,4
3 18,72
1,3
0,3 0,83 0,33
1,0
8,6
2,8
3,8 11,4 24,3 26,6
0,1
55
1,0
2
BA
5,4 4,3 -1,1
0
6,24
0,3
0,1 0,48 0,15
1,0
5,2
1,0
2,0
6,2 16,5 49,3
0,1
36
1,0
2
Bw1
4,6 4,4 -0,2
0
2,76
0,8
0,3 0,28 0,81
0,3
3,0
2,2
2,5
5,2 42,2 12,0
0,2
16
1,0
1
Bw2
4,5 4,7 0,2
0
1,44
0,9
0,5 0,01 0,27
0,1
2,1
1,7
1,8
3,8 44,4
5,6
0,2
7
0,3
2
LAd6 – LATOSSOLO AMARELO distrófico típico – mata nativa
A
4,5 4,2 -0,3
1 28,80
0,5
0,3 0,16 0,12
2,5 15,2 1,08 3,58 16,3 6,63 69,8
0,1
116
3,0
2
AB
5,1 4,4 -0,7
1 17,40
0,1
0,1 0,09 0,06
1,6 11,3 0,35 1,95 11,7 3,00 82,1
0,1
40
1,0
2
BA
5,2 4,4 -0,8
0 14,64
0,1
0,1 0,10 0,09
0,8
8,0 0,39 1,19
8,4 4,65 67,2
0,1
31
1,0
1
Bw1
5,3 4,4 -0,9
0
7,56
0,1
0,1 0,02 0,12
0,7
5,5 0,34 1,04
5,8 5,82 67,3
0,1
27
1,0
2
Bw2
5,2 4,5 -0,7
4
1,68
0,2
0,2 0,03 0,24
0,5
3,3 0,67 1,17
4,0 16,90 42,7
0,2
11
0,4
1
SB = Soma de bases; t = CTC efetiva; T = CTC a pH 7,0; V = Saturação por bases; m = saturação por alumínio.
91
da classe de solos moderadamente ácidos. Provavelmente, os valores de pH nos horizontes
superficiais não foram maiores em função dos altos teores de carbono orgânico (KIEHL,
1979, p. 248). Por outro lado, é possível também que esses altos teores sejam frutos dos
efeitos da adubação e calagem, que melhoram as condições de produção de biomassa
(HAYNES, 1984 apud ALBUQUERQUE et al., 2003, p. 800; GRIEVE et al., 2005, p. 41).
Dos 33 horizontes de solo analisados, 31 apresentaram ΔpH negativo (pHKCl < pHH2O),
variando de - 0,2 a -1,4, indicando que, na carga líquida do solo, predominam as cargas
negativas, adsorvendo maior quantidade de cátions que de ânions. A hegemonia de ΔpH
negativo esteve associada aos teores de alumínio trocável, porque sempre que aumentavam os
valores de Al3+, a amplitude do ΔpH negativo também apresentava incremento (r= -0,34;
p=0,10). O inverso também ocorreu, já que os únicos horizontes em que o valor de ΔpH foi
positivo (Ap do LAd3 e Bw2 do LAd5) são, justamente, aqueles em que os teores de Al3+
estiveram mais baixos. Resultados semelhantes foram encontrados por Duarte et al. (1996),
num Latossolo Amarelo Podzólico desenvolvido de cobertura quaternária sobre embasamento
cristalino e por Moreau (2001) num estudo sobre solos de tabuleiro costeiro do Sul da Bahia.
De acordo com Kiehl (1979), nestas condições, o alumínio pode se solubilizar e transformar o
complexo coloidal do solo em um meio tóxico para as plantas.
Os teores de P disponível foram muito baixos nos solos localizados na SBHRM,
refletindo a pobreza do material de origem e a alta intemperização e lixiviação desses solos.
Esperava-se que a pastagem (LAd1) incrementasse os valores de P graças às excreções dos
animais, mas isso não ocorreu de forma expressiva, uma vez que o LAd1 obteve apenas 1,0
mg/kg de P no horizonte A contra 0,0 da mata nativa (LAd2). De acordo com Aguiar (1998),
o movimento dos animais pelo pasto nem sempre é capaz de promover a adubação
homogênea da área, havendo maior concentração dos excrementos nas áreas próximas ao
curral, saleiras e bebedouros. O solo sob cafezal (LAd3), com 3 mg/kg de P no horizonte Ap,
92
apresenta um aumento em relação à mata nativa, mas este valor ainda é considerado muito
baixo para solos com teor de argila entre 35 a 60%, conforme CFSEMG (1999).
Na SBHRAF, o manejo alterou a quantidade de P disponível no solo. O LAd5 sob café
apresentou altos valores de P nos horizontes A/O e A, indicando a eficiência do processo de
adubação. Enquanto a mata nativa exibiu 1 mg/kg de P no horizonte A, no LAd5 foram
encontrados 99 mg/kg de P no horizonte A/O e 29 mg/kg de P no A. A pastagem (LAd4) não
apresentou qualquer variação quanto ao teor de P disponível, permanecendo com 1mg/kg de P
nos horizontes A e Ab.
Os baixos valores de P disponível nas duas matas nativas (LAd2 e LAd6) podem estar
relacionados com a eficiente reciclagem de nutrientes verificada nesses ecossistemas, onde os
nutrientes são reincorporados à biomassa numa velocidade maior do que nas culturas perenes
e pastagens (ARAÚJO et al., 2004). Os dois solos sob manejo de cultura permanente
diferiram muito quanto ao teor de P disponível: 3 mg/kg de P no horizonte Ap do LAd3
contra 99 mg/kg de P no horizonte A/O e 29 mg/kg de P no A do LAd5. Isto pode estar
relacionado com a adubação fosfatada mais eficiente do LAd5 e com o tipo de manejo
instalado no LAd3, em que ocorre o revolvimento do solo, promovendo um maior contato
entre o adubo e as partículas do solo e, conseqüentemente, uma menor disponibilidade deste
nutriente. O maior tempo de contato entre o P e as partículas de solo leva à formação de P-não
lábil, este processo é explicado pelo modelo de Barrow (1974), validado em solos muito
intemperizados de ambiente tropical por Gonçalves et al. (1989). Além disso, os teores de P
diminuem com a profundidade, atestando a conhecida característica de pouca mobilidade
deste nutriente, concordando com Muzilli (1983), Centurion et al. (1985), Sidiras e Pavan
(1985) e Bayer e Mielniczuk (1997).
Todos os solos estudados mostraram uma redução do teor de Carbono orgânico com a
profundidade, concordando com Fialho et al. (1991), Cruz et al. (2003), Bertol et al. (2004),
93
Oliveira et al. (2004) e Wendling et al. (2005). A diminuição da matéria orgânica com a
profundidade é uma regra geral dos solos e sua explicação está ligada ao fato da atividade
biológica ser maior nos horizontes superficiais, em função da maior aeração e maior
suprimento de matéria orgânica (TOMÉ JR, 1997; RESENDE et al., 1999).
Em termos gerais, todos os solos apresentaram valores elevados de C orgânico nos
horizontes superficiais (> 14 g C/dm3). Uma explicação é relacionada às características
geomorfológicas da área. Os solos estão localizados na unidade denominada Planaltos dos
Geraizinhos, com altimetria sempre superior a 800 metros e, portanto, favorecendo o
estabelecimento de temperaturas mais baixas que acabam dificultando a decomposição da
matéria orgânica, que vai se acumulando no perfil superior do solo (FRANZLUEBBERS et
al., 2001 apud BRONICK; LAL, 2005). Outra explicação pode estar relacionada à pobreza em
nutrientes desses solos. A baixa disponibilidade de nutrientes dificulta a ação dos
microorganismos decompositores e o resultado disso é que a adição de material orgânico
passa a ser maior do que a mineralização, com o conseqüente acúmulo de matéria orgânica
(RIBEIRO et al., 1972 apud RESENDE et al., 1999; TOMÉ JR, 1997).
Quanto aos efeitos provocados pelo manejo, os solos localizados na SBHRM
apresentaram alterações significativas relacionadas à redução do teor de C orgânico no
sentido mata-pastagem-café. Para o horizonte A, a mata nativa (LAd2) alcançou 28,80 g/dm3
de C, contra 22,08 g/dm3 de C da pastagem (LAd1) e 18,60 g/dm3 de C do solo sob café (Ap
do LAd3). Apesar das reduções verificadas, os valores são considerados médios, segundo
CFSEMG (1999).
A ação das gramíneas, através do seu sistema radicular numeroso e bem distribuído
pelos
horizontes
superficiais
e
sub-superficiais
(GALETI,
1984;
CARPENEDO;
MIELNICZUK, 1990; SILVA; MIELNICZUK, 1997; CRUZ et al., 2003; WOHLENBERG
94
et al., 2004) pode ter contribuído para a manutenção de valores altos de C orgânico até a
profundidade de 24 cm.
Os teores de C orgânico do LAd3 foram os mais baixos dentre todos os solos
estudados. O tratamento convencional adotado nesse cafezal, caracterizado pelo revolvimento
e exposição do solo ao impacto direto da chuva e às variações bruscas de umidade, contribui
para a fragmentação dos agregados que protegem a matéria orgânica, provocando a sua
redução (CARPENEDO; MIELNICZUK, 1990; BERTOL et al., 2004; OLIVEIRA et al.,
2004).
Na SBHRAF, o solo sob café (LAd5) apresentou os maiores níveis de C orgânico,
com 48,60 g/dm3 de C no horizonte A/O e 24 g/dm3 de C no A. Na seqüência, a mata nativa
(LAd6), com 28,8 g/dm3 de C no A e 17,4 g/dm3 de C no AB e a pastagem (LAd4), com
18,60 g/dm3 de C no A e 25,8 g/dm3 de C no Ab.
Certamente, o manejo adotado no solo sob café (LAd5) incrementou os valores de C
orgânico nos horizontes superficiais e sub-superficiais até a profundidade de 55 cm. O
elevado teor de C orgânico encontrado no horizonte A/O, cerca de 48,60 g/dm3 de C, é
explicado pelo menor revolvimento (CENTURION et al., 1985) e pela técnica de
recobrimento do solo com “palha de café”, espécie de cobertura morta proveniente dos
resíduos do beneficiamento do café (Figura 27). Esse aporte de matéria orgânica, aliado ao
fato dos cafeeiros serem dispostos em sistema semi-adensado, bem próximos uns dos outros,
reduzem a quantidade de luz e calor e protegem o solo, contribuindo, assim, para os altos
teores de carbono orgânico aferidos na porção superior do solo.
Paul e Clark (1989) explicam que atividade de microorganismos chega a um máximo
(100%) quando a temperatura está na faixa de 25 a 35°C, sendo que a diminuição de 5°C pode
reduzir em 25% esta atividade.
95
Figura 27 – LAd5: Recobrimento do solo com “palha de café”.
O solo sob pastagem (LAd4) foi o que apresentou a os maiores valores de C orgânico
até a profundidade de 130 cm, já que no horizonte AB foi observado o valor de 15,60 g/dm3
de C. No próprio trabalho de campo, este solo chamou a atenção pela grande espessura de
material com coloração escura, indicando valores elevados de matéria orgânica,
provavelmente relacionados à pobreza química do solo e à condição climática.
Na mata nativa da SBHRM (LAd2), os índices de cálcio (Ca2+) e potássio (K+) no
horizonte A foram classificados como bons (1,21 a 2,40 e 0,18 a 0,31 cmolc/dm3,
respectivamente); o magnésio (Mg2+) foi classificado como médio (0,46 a 0,90 cmolc/dm3).
Os horizontes inferiores apresentaram níveis baixos destes cátions (CFSEMG, 1999). A
explicação para os teores de Ca2+, Mg2+ e K+ encontrados no horizonte superficial pode estar
relacionada com a constante reciclagem de nutrientes realizada pelas diferentes espécies
vegetais que habitam esses lugares (ARAÚJO et al., 2004).
96
Além disso, parece que as sub-bacias Rio dos Monos e Rio Água Fria se caracterizam
como um ambiente conservador, haja vista os teores de bases disponíveis, que em relação aos
solos muito intemperizados de ambiente tropical, apresentam valores de soma de bases mais
elevadas.
Tomando-se a mata nativa como padrão, é possível perceber mudanças efetuadas pelo
manejo, contribuindo para aumentar ou diminuir ainda mais o complexo sortivo. No primeiro
caso, está o manejo realizado no solo sob café (LAd3) que, graças ao emprego de corretivos e
fertilizantes, conseguiu elevar o Ca2+ para 5,6 cmolc/dm3 e o Mg2+ para 2,3 cmolc/dm3, que
são considerados valores altos (> 4,0 cmolc/dm3 e > 1,5 cmolc/dm3, respectivamente), de
acordo com CFSEMG (1999). O K+ não sofreu alteração significativa e permaneceu na classe
de bons teores (0,18 a 0,31 cmolc/dm3).
No segundo caso, está o manejo sob pastagem (LAd1) que apresentou uma redução
dos teores de Ca2+ (1,7 cmolc/dm3), Mg2+ (0,3 cmolc/dm3) e K+ (0,17 cmolc/dm3), caindo,
assim, para a classe imediatamente inferior (médio, baixo e médio, respectivamente), em
relação à mata nativa. É importante ressaltar que essas mudanças ocorreram na superfície dos
solos, sendo visível a tendência de diminuição destes elementos com a profundidade
(MUZILLI, 1983).
A mata nativa da SBHRAF (LAd6) exibiu, para o horizonte A, valores baixos de Ca2+
(0,5 cmolc/dm3) e Mg2+ (0,3 cmolc/dm3) e médios de K+ (0,16 cmolc/dm3), exprimindo uma
disponibilidade de nutrientes ainda menor do que a aferida na mata nativa do rio dos Monos
(LAd2). Certamente, o desenvolvimento desta mata também deve ser fruto da eficiência na
ciclagem de nutrientes.
No solo sob pastagem (LAd4), houve incremento dos teores de Ca2+ (1,4 cmolc/dm3) e
Mg2+ (0,5 cmolc/dm3) para o horizonte A, suficiente para subir na classificação (de baixo para
médio). Já no horizonte Ab, os valores desses elementos aumentaram consideravelmente, a
97
ponto de exibirem altos teores de cálcio e magnésio trocáveis. Já para o K+, os níveis foram
baixos (< 0,10 cmolc/dm3) tanto no horizonte A (0,07 cmolc/dm3) quanto no Ab (0,05
cmolc/dm3), configurando os menores teores de potássio dentre todos os solos analisados.
O solo sob café (LAd5) apresentou o maior incremento nos níveis de Ca2+, Mg2+ e K+,
que estiveram altos nos horizontes A/O e A. Foi o manejo que mais afetou a disponibilidade
desses nutrientes nos horizontes superficiais do solo, evidenciando uma adubação acima do
que seria necessário para o desenvolvimento da cultura cafeeira.
Com relação ao alumínio trocável (Al3+) todos os solos apresentaram valores
indesejáveis deste elemento, excetuando-se apenas os horizontes superficiais dos solos sob
café (LAd3 e LAd5), que receberam tratamento para corrigir a acidez e apresentaram teores
de Al3+ próximos de zero. A solubilidade e a mobilidade desse cátion são dependentes do pH:
quanto mais baixo o pH, maior a solubilidade (BRONICK; LAL, 2005). O Al3+ é tóxico para
as plantas e grandes quantidades desse íon foram encontradas nos horizontes BA do LAd2
(2,0 cmolc/dm3), AB do LAd4 (1,6 cmolc/dm3) e A e AB do LAd6 (2,5 e 1,6 cmolc/dm3,
respectivamente). De acordo com CFSEMG (1999), níveis de Al3+ acima de 1,01 cmolc/dm3
são considerados altos, todavia mais importante que atestar os teores absolutos de Al3+ é
verificar qual a proporção que o alumínio ocupa na CTC efetiva (Ca + Mg + K + Na + Al).
Neste sentido, vários horizontes dos solos estudados apresentaram níveis baixos e médios de
Al3+, mas quando comparados com o valor de saturação por alumínio, esses mesmos teores se
mostraram prejudiciais, apresentando saturação por alumínio elevada, com destaque para o
LAd6, em que todos os horizontes exibiram valor m acima de 50%, concordando com
Centurion et al. (1985). Os solos apresentaram tendência de redução do alumínio com a
profundidade, discordando de Fialho et al. (1991) e concordando com Albuquerque et al.
(2003).
98
Os maiores valores de acidez potencial foram constatados nas camadas superficiais
dos solos analisados, o que está coerente com os teores de carbono (r=0,70; p=0,10) e Al3+
(r=0,70; p=0,10) encontrados nestes horizontes. Há uma tendência de maior acidez potencial
em solos mais ricos em matéria orgânica e que apresentam pH baixo, uma vez que, nestas
condições, a reserva de íons H+ da matéria orgânica concorre para a elevação desses valores
nas camadas superficiais (TOMÉ JR, 1997; FIALHO et al., 1991).
Na SBHRM, a Capacidade de Troca de Cátions (T) diminuiu no sentido mata-cafépastagem. Para a pastagem (LAd1), essa perda ocorreu mediante a redução dos teores de Ca2+,
Mg2+, K+, Na+ e H+, traduzindo menores valores de saturação em bases, com o horizonte A
apresentando V% de 19,5 contra 26,9 da mata para o mesmo horizonte. Para o solo sob café
(LAd3), a redução do valor T se deveu apenas à anulação do alumínio e diminuição dos teores
de H+, havendo um aumento dos cátions úteis que se refletiram no aumento do valor V para
67,2 % no horizonte Ap.
O solo sob mata nativa da SBHRAF apresentou os piores índices de disponibilidade de
nutrientes dentre todos os solos estudados. Assim, tanto a pastagem (LAd4) quanto o solo sob
café (LAd5) apresentaram um incremento dos cátions úteis e diminuição da acidez potencial.
No caso da pastagem, o incremento não foi suficiente para dar um caráter eutrófico aos
horizontes superficiais, com valor V variando entre 15,8 % no A e 32,8 % no Ab. Já o solo
sob café (LAd5), graças à aplicação de corretivos e fertilizantes, aumentou a CTC Total nos
horizontes A/O (23,9 cmolc/dm3) e A (20,1 cmolc/dm3) contra 16,3 cmolc/dm3 na mata nativa
para o horizonte A. Além disso, os valores de saturação em bases também foram altos,
variando de 78,3 % a 54,8 % nos horizontes A/O e A contra apenas 6,63 % da mata no
horizonte A.
Para os micronutrientes o destaque foi para os elevados teores de ferro e zinco
verificados em todos os solos. De acordo com CFSEMG (1999) acima de 45 mg/dm3 para o
99
Fe e acima de 2,2 mg/dm3 para o Zn são valores considerados altos e nos solos estudados
estes elementos se apresentaram com teores bastante elevados, notadamente nos horizontes
superficiais. Assim como o Al3+, o Fe3+ também tem a sua solubilidade aumentada com a
diminuição do pH (BRONICK; LAL, 2005).
Com relação aos efeitos do manejo, na SBHRM os teores de Fe diminuíram no sentido
mata-pasto-café. Os teores de ferro do solo sob café (LAd3) representam 1/3 dos aferidos na
mata nativa (LAd2) e ½ do verificado no pasto (LAd1), considerando os horizontes A e Ap
(Lad3). Ainda assim, com 60 mg/kg de Fe, o horizonte Ap do LAd3 continua na classe de
altos teores. O Zn sofreu alterações apenas nos horizontes superficiais do LAd5, em função do
manejo, que é eficiente na adubação. Já para o Cu os valores foram muito baixos (≤ 0,3
mg/dm3) na mata nativa e no pasto, variando apenas no solo sob café, com valores médios no
Lad3 (0,8 a 1,2 mg/dm3) e altos no Lad5 (> 1,8) para o horizonte A, sendo, provavelmente,
decorrente da adubação e aplicação de pesticidas (CFSEMG, 1999). O manganês sofreu
redução no sentido mata-pasto-café, saindo de médios teores no horizonte A da mata nativa (8
mg/kg) para valores baixos no pasto (4 mg/kg) e no café (3 mg/kg).
Na SBHRAF, os teores de Fe foram menores que os demonstrados pelos solos da
SBHRM. A redução no sentido mata-café-pasto foi pequena variando de 116 mg/kg de Fe no
horizonte A da mata nativa (LAd6) para 100 mg Fe/kg no horizonte A da pastagem (LAd4). O
Zn não variou no manejo sob pasto, mas no solo sob café (LAd5) houve um incremento
significativo, saindo de 2 mg/kg de Zn no horizonte A do LAd6 para 42 mg/kg de Zn no A/O
e 6 mg/kg de Zn no A, provavelmente em função da adubação. Os níveis de Cu que estiveram
baixos na mata (≤ 0,3 mg/dm3), continuaram baixos no pasto e altos no café (> 1,8 mg/dm3).
O Mn apresentou um pequeno aumento no horizonte Ab do solo sob pastagem, mas
permaneceu na classe de baixos teores (3,0 a 5,0). Já no solo sob café, o manejo foi
100
responsável por um grande aumento de manganês no horizonte A/O (50 mg/kg) e no A (7
mg/kg), confirmando as práticas de adubação deste solo.
101
5 CONCLUSÃO
Os resultados apresentados permitiram estabelecer as seguintes conclusões:
•
Na bacia de captação das barragens Água Fria I e II, houve expansão das áreas de
café, cultivos diversos e pastagem e redução das áreas de floresta e vegetação
secundária no período 1974/2004.
•
O uso da terra nas Áreas de Preservação Permanente (considerando as margens das
nascentes, dos rios e dos reservatórios) desrespeita o Código Florestal, uma vez que
nestas áreas foram detectados outros usos que não o de florestas.
•
As pastagens (LAd1 e LAd4) apresentaram aumento na Densidade do Solo no
horizonte superficial em função do pisoteio de animais e aumento percentual dos
agregados de maior diâmetro, que pode ser creditado ao efeito cimentante das
gramíneas e aos elevados teores de argila e C orgânico.
•
O café sob sistema convencional apresentou os efeitos mais nocivos para a estrutura
do solo: aumento na Densidade do Solo, diminuição nos valores de Estabilidade de
Agregados, Diâmetro Médio Ponderado, agregados de menor tamanho e os menores
teores de C orgânico, sendo essas alterações creditadas ao manejo realizado através da
102
utilização de máquinas agrícolas para arar e gradear, que pulveriza e expõe o solo às
variações de temperatura e umidade.
•
O café sob sistema semi-adensado alterou menos o tamanho, a distribuição e a
estabilidade de agregados, bem como a Densidade do Solo. Isso se deveu ao manejo
adotado, sem o uso de tratores para revolver e compactar o solo e com a utilização de
cobertura morta para aumentar a matéria orgânica.
•
Os solos apresentaram pobreza química na maioria dos horizontes, com exceção
apenas dos horizontes utilizados pela lavoura cafeeira, refletindo as práticas de
adubação. Os horizontes diagnósticos se caracterizaram por apresentar baixa
Capacidade de Troca Catiônica, altas quantidades de Al3+ e H+ e baixíssimos níveis de
P, Ca2+, Mg2+, K+ e Na+, refletindo a pobreza do material de origem, formado a partir
das Coberturas Detríticas do Terciário-Quaternário.
103
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111
APÊNDICE
333872
331506
329140
326774
324407
322041
112
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
8352174
FOTOGRAFIA AÉREA
SSRH V SA CS
PANCROMÁTICA
1974
8349740
Limite da bacia
8347306
8344872
Sistema de Projeção Cartográfica - UTM
Datum - Córrego Alegre, Zona 24 Sul
0.00
8342438
APÊNDICE A – Fotografia Aérea Pancromática - 1974.
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
8352174
333872
331506
329140
326774
324407
322041
113
BACIA DE CAPTAÇÃO DAS
BARRAGENS ÁGUA FRIA I E II
BARRA DO CHOÇA - BA
IMAGEM DE SATÉLITE
LANDSAT 5
IMAGEM TM
AGOSTO DE 2004
8349740
Limite da bacia
8347306
8344872
Sistema de Projeção Cartográfica - UTM
Datum - Córrego Alegre, Zona 24 Sul
0.00
8342438
APÊNDICE B – Imagem de Satélite do Sistema Landsat 5 TM - 2004.
2.00
4.00 km
Scale in Kilometers
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evolução do uso da terra e dos solos na bacia de captação