XIV ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído - 29 a 31 Outubro 2012 - Juiz de Fora
PERDAS E PRODUTIVIDADE DA MÃO-DE-OBRA NA
CONCRETAGEM DE EDIFÍCIOS
Fábia Kamilly Gomes de Andrade(1); Suenne Andressa Correia Pinho(2); Alberto Casado
Lordsleem Jr.(3)
(1) Graduanda, Universidade de Pernambuco, e-mail: [email protected]
(2) Mestranda, Universidade de Pernambuco, [email protected]
(3) Doutor, Universidade de Pernambuco, e-mail: [email protected]
Resumo
A melhoria do processo de produção na construção civil é dependente da tomada de decisão
baseada em dados que possam caracterizar o serviço que esta sendo executado. Tais dados
referem-se aos indicadores de desempenho - expressões quantitativas do comportamento do
processo ou produto – cuja funcionalidade é destacar falhas, das quais muitas são
relacionadas ao desperdício de materiais e mão-de-obra. Parcela expressiva da jornada de
trabalho dos operários em obra corresponde às esperas e retrabalhos, assim como, ainda
hoje, o desperdício de materiais faz parte da preocupação constante dos gestores de obras. O
presente trabalho analisa e discute a produtividade da mão-de-obra envolvida no serviço de
concretagem, bem como as perdas físicas de materiais incorridas neste serviço. Os dados
coletados consideraram o consumo teórico de concreto e os tempos de concretagem - a partir
do monitoramento da concretagem de vigas e lajes e, também a concretagem de pilares – em
02 obras de edificação executadas segundo o processo construtivo tradicional. Os resultados
obtidos, relativos às perdas foram bastante variáveis, de 4,30% até 42,16%; enquanto, a
produtividade também apresentou uma elevada variação, de 1,65Hh/m3 até 12,44Hh/m3.
Pôde-se perceber que tanto para as perdas como para a produtividade da mão de obra há um
grande potencial de racionalização.
Palavras-chave: Indicadores de desempenho, Concretagem, Perda, Produtividade.
Abstract
The improvement of the production process in construction is dependent on the decision
making based on data that can characterize the service is running. These data refer to the
performance indicators - quantitative expressions of the behavior of the process or product whose functionality is to highlight faults, many of which are related to the waste of materials
and workmanship. A significant portion of working hours of workers corresponds to the
delays and rework, as well as today, the waste of materials is part of the constant concern of
the managers works. This paper analyzes and discusses the productivity of the manpower
involved in the service of concrete as well as physical losses incurred in this service. The data
collected considered the theoretical consumption of concrete and concreting times - from the
monitoring of concrete beams and slabs, and also concrete pillars - in 02 works of building
construction process performed according to the traditional. The results relating to losses
varied widely, from 4.30% to 42.16%, while productivity also showed a high variation, from
1.65Hh/m3 to 12.44 Hh/m3. We could see that both losses and for the productivity of labor
there is great potential for rationalization.
Keywords: Performance indicators, Concreting, Loss, Productivity
1. INTRODUÇÃO
O concreto é, hoje, o material mais utilizado pela civilização moderna, só perdendo em
volume para a água (METHA, MONTEIRO, 1994). Tal representatividade também indica
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que este material corresponde à parcela expressiva nos resíduos de construção e demolição
(RCD), necessitando de alternativas de minimização (ZORDAN, 1997).
Dentre as alternativas de minimização, encontram-se as ferramentas de gestão, capazes de
caracterizar o serviço através de indicadores de desempenho e identificar as melhores práticas.
Tais indicadores são expressões quantitativas do comportamento do processo que permitem
através da comparação dos resultados identificar os fatores que os favoreceram (SOUZA et
al., 1994).
A este processo de comparação de resultados, dá-se o nome de benchmarking, que consiste
num processo positivo e proativo por meio do qual as empresas analisam como outra realiza o
serviço ou função semelhante (LORDSLEEM JR.; ANDRADE; PINHO, 2011).
O presente trabalho apresenta uma experiência de benchmarking, realizada com 02 (duas)
construtoras de edifícios localizadas em Recife/PE, cuja metodologia contemplou a coleta de
dados, a quantificação do serviço, a compilação e análise dos resultados.
Os indicadores selecionados foram a perda e a produtividade da mão-de-obra envolvidos na
execução da estrutura de concreto armado, ambos inseridos no Programa de Indicadores de
Desempenho (PROGRIDE), coordenado pela Associação Brasileira de Cimento Portland
(ABCP) e idealizado pelo grupo de pesquisa POLITECH – Gestão e Tecnologia na
Construção de Edifícios.
Tanto a perda, quanto a produtividade da mão-de-obra serão apresentadas, a seguir, desde a
sua metodologia de cálculo até a comparação de resultados entre as duas empresas.
2. METODOLOGIA DE CÁLCULO
A metodologia contemplou 08 (oito) concretagens por construtora, divididas em concretagens
de viga, laje e complemento de pilar e concretagens de pilar.
Os pavimentos considerados foram os pavimentos tipo devido à possibilidade de
acompanhamento dos resultados e intervenções nas demais concretagens sem alteração do
quantitativo teórico de concreto. Além disso, o concreto monitorado foi o usinado, pois sua
utilização é predominante na cidade de Recife/PE.
Foi realizado, inicialmente, o levantamento do quantitativo teórico de concreto - com base no
projeto de fôrmas - dos elementos estruturais de viga, laje, complemento de pilar e pilar,
incluindo também o elemento escadas, procedendo-se com a coleta de dados em campo e
cálculo dos indicadores. Cabe ressaltar que o elemento escadas foi contemplado neste trabalho
apenas para eventuais descontos na quantidade de concreto real e no tempo de concretagem,
tendo em vista que, sendo este elemento concretado juntamente com os elementos estruturais,
seu consumo de concreto pode ser considerado perda e seu tempo de concretagem pode
prejudicar o índice de produtividade.
Tal dimensionamento é essencial para a metodologia de cálculo dos indicadores de perda e
produtividade da mão-de-obra, podendo ser encontrado em outros trabalhos, como por
exemplo, Araújo (2000) e Dantas (2006).
2.1. Cálculo da perda de concreto
A metodologia de cálculo deste indicador pôde ser dividida em duas etapas:
1. Consumo téorico de concreto (CT): consiste no levantamento do volume de concreto dado
em projeto, isto é, o quantitativo de concreto já mencionado, dado em m3.
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2. Consumo real de concreto (CR): consiste no somatório dos volumes de concreto dos
caminhões betoneira utilizados no dia de concretagem, dado em m3.
O percentual de perda é dado pela equação abaixo.
P(%) =
Onde:
C R − CT
× 100
CT
[Eq. 1]
CR= consumo real de concreto em m3 ;
CT= consumo teórico de concreto em m3.
2.2. Cálculo da produtividade da mão-de-obra
Araújo (2000) determina que a produtividade da mão-de-obra pode ser mensurada através da
Razão Unitária de Produção (RUP), que consiste na relação existente entre o número de
Homens-hora (Hh) e a quantidade de serviço (QS) realizada, expressa pela equação abaixo.
RUP =
Onde:
H ×h
QS
[Eq. 2]
RUP= razão unitária de produção em Hh/m3 ;
H= número de homens envolvidos diretamente no serviço;
h= total de horas considerada;
QS= quantidade de serviço em m3 ;
Dependendo do tempo a ser considerado, a Razão Unitária de Produção (RUP) pode ser
classificada em RUPcaminhão, RUPdescarga e RUPglobal. A Figura 1 representa um esquema destes
tempos de concretagem.
Figura 1 - Visualização dos tempos de concretagem (ARAÚJO, 2000)
A quantidade de serviço (QS) também diferencia as RUP’s, sendo a quantidade de serviço
real considerada na RUPcaminhão e a quantidade de serviço teórica considerada na RUPdescarga e
na RUPglobal. Esta diferença entre as quantidades de serviço deve-se ao fato da dificuldade em
quantificar o serviço realizado por caminhão, não caracterizando um indicador de
desempenho, cuja característica essencial definida pelo Programa Brasileiro de Qualidade e
Produtividade no Habitat (PBQP-H) é a simplicidade.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Os resultados obtidos pelas construtoras monitoradas A e B são apresentados nas Figuras 2 e
3, destacados os valores de mínimo, máximo e benchmark, que corresponde ao melhor
resultado obtido pelo processo comparativo de resultados, denominado benchmarking.
Figura 2 – Resultados semanais
Figura 3 – Resultados: mínimo, mediana, máximo e benchmarking
Verifica-se uma variação de RUPglobal de viga e laje entre 2,43 e 3,13Hh/m3 para a construtora
A e 1,65 e 2,44Hh/m3 para a construtora B, enquanto para RUPglobal de pilar, os valores
obtidos ficaram entre 3,02 e 12,44Hh/m3 para a construtora A e 3,48 e 4,7Hh/m3 para a
construtora B.
O TCPO (2008) recomenda valores entre 0,6 e 4,23Hh/m3 para RUPglobal de viga e laje, o que
indica que os edifícios monitorados possuem valores dentro da realidade da construção civil.
Já para valores de RUPglobal de pilar, o TCPO (2008) recomenda valores entre 0,7 e
5,13Hh/m3, o que indica RUP’s elevadas do serviço de concretagem de pilar na construtora A.
Considerando os percentuais de perda, a construtora A obteve variações entre 6,37% e
15,15% para os elementos de viga, laje e complemento de pilar, enquanto para os pilares, a
variação de perda ficou entre 7,21% e 42,16%.
Este percentual próximo a 50% deve-se à mudança no sistema de transporte do concreto
devido ao não fornecimento do caminhão bomba pela concreteira no referido dia. O sistema
passou de não decomposto com uso de bomba estacionária para decomposto com uso de
jericas, guincho e andaime, aumentando assim as etapas de concretagem e as possibilidades
de perda.
O TCPO (2008) recomenda percentuais de perda equivalentes a 5%, o qual permite verificar
que a construtora A encontra-se distante desta referência e a construtora B buscou aproximarse da mesma, como analisado na Figura 2, fazendo intervenções a cada concretagem.
Analisando alguns dos fatores influenciadores dos indicadores analisados, tem-se para o
indicador de produtividade que a mão-de-obra da construtora A era inteiramente própria com
apoio da equipe de carpintaria e armação no serviço de concretagem, enquanto que a mão-deobra da construtora B era parte própria - e esta não tinha apoio da carpintaria e armação no
serviço – e parte terceirizada, sendo esta responsável pelo acabamento quando em
concretagem de laje, viga e complemento de pilar, conforme indicado no Quadro 1.
O período previsto de início de concretagem também foi fator influenciador, pois no período
da manhã a concreteira é mais solicitada por outras empresas e esta acaba gerando atrasos.
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2.
3.
4.
Item
Mediana da equipe direta do serviço de concretagem de viga,
laje e comp.pilar
Volume total de laje, viga e comp. de pilar
Volume total de pilares
Caracterização da equipe direta do serviço de concretagem
5.
6.
7.
Equipe do serviço de carpintaria
Período previsto de concretagem
Acesso do mangote à escada
1.
Construtora A
11
Construtora B
8
35,55 m3
9,23 m3
própria
38,19m3
7,75 m3
Própria e
terceirizada
terceirizada
tarde
difícil
própria
manhã
fácil
Quadro 1 - Fatores influenciadores do indicador de produtividade
Já para o indicador de perda, tem-se como exemplo: verificou-se na construtora A que a perda
de concreto foi influenciada pela produtividade da mão-de-obra, que não possuía funções
delegadas para cada operário, havendo assim atrasos nas etapas de concretagem e,
consequentemente, início de tempo de pega do material. Já na construtora B, verificou-se
inadequação na colocação e vedação de gastalhos, além de pouco controle na espessura da
laje. No entanto, após a análise da equipe de pesquisa e confirmação pelos gestores de obra, a
construtora B buscou melhorias, inserindo mestras metálicas para controle da espessura da
laje e melhor acompanhamento do serviço de fôrma.
Portanto, verifica-se a necessidade de estratégias de melhoria quando comprova-se através de
indicadores as discrepâncias nos valores obtidos dos mesmos e busca-se entender os fatores
influenciadores, gerando ganhos de tempo e custo de mão-de-obra e material.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou apresentar a importância na medição dos indicadores de perda e
produtividade da mão-de-obra envolvidos no serviço de concretagem, bem como a
metodologia de cálculo, implantação e identificação dos fatores influenciadores a partir do
processo de benchmarking.
Verificam-se poucos resultados dentro dos valores de referência apontados pelo TCPO
(2008), o que indica o grande potencial de racionalização existente. A análise discutida com
base em fatos já vivenciados dá subsídios para intervenções que possam gerar incrementos na
produtividade e redução de perdas, garantindo, assim, a retroalimentação do sistema e
permanência no mercado da construção civil.
5. REFERÊNCIAS
ARAÚJO, L.O.C. Método para a previsão e controle da produtividade da mão-de-obra na execução de
fôrmas, armação, concretagem e alvenaria. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo. São Paulo, 2000.
DANTAS, M.M. Proposição de ações para melhoria da produtividade da concretagem em edifícios
verticais. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2006.
LORDSLEEM JR., A. C.; ANDRADE, F. K. G.; PINHO, S. A. C. Benchmarking em construtoras:
caracterização de 04 indicadores de execução de obras. Maringá, PR, 2011. Anais... Maringá: UEM, 2011.
METHA, P.K.; MONTEIRO, P.J. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo: Pini Editora,
1994.
SOUZA, R.; MEKBEKIAN, G.; SILVA, M. A.C.; LEITÃO, A.C.M.T.; SANTOS, M.M. Sistema de gestão da
qualidade em empresas construtoras. São Paulo: Sinduscon, 1994.
ZORDAN, S.E. A utilização do entulho como agregado na confecção do concreto. Dissertação (Mestrado) –
Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 1997.
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