Da tinta para o pixel
From ink to the pixel
Almeida da Silva, Luiz Fernando; Centro Universitário Senac
São Paulo
[email protected]
Wilke, Regina Cunha; Centr Unversitário Senac São Paulo
[email protected]
Resumo
Este artigo discute a convergência de mídias, realiza um estudo sobre a transposição do
conteúdo da revista impressa para a digital, tendo como objeto de estudo da revista Época.
Apresenta as características da linguagem gráfica de cada uma das mídias e posteriormente
aplica tal conhecimento na análise comparativa entre estas duas formas de comunicação,
verificando, por fim, os parâmetros que regem a transposição de conteúdo entre os dois
suportes e a forma como o leitor absorve o conteúdo.
Palavras Chave: convergência, revista, site, on-line.
Abstract
This article discusses the convergence of media, studies the implementation of the contents of
printed journals to digital media where the object of study is the Época magazine. Displays
characteristics of the graphic language of each media and then apply this knowledge in a
comparative analysis of these two forms of communication. Finally, it finds the parameters
for the transposition of content between the two media and how the reader absorbs the
content.
Keywords: converging, magazine, site, online.
IMPORTANTE, na parte inferior desta primeira página deve ser deixado um
espaço de pelo menos 7,0 cm de altura, medido da borda inferior, no qual serão
acrescentadas, pelos editores, informações para referência bibliográfica
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Metodologia
Este artigo apresenta um estudo sobre a transposição do conteúdo da revista impressa
para a digital. Selecionamos como objeto de estudo, a revista Época, da editora Globo, devido
à sua credibilidade no meio jornalístico e a quantidade de conteúdo on-line disponível e
estabelecemos um recorte, a análise comparativa se restringe à edição 573, de maio de 2009,
nas versões impressa e on-line. Privilegia a matéria principal, e exemplos de outras seções da
revista, sempre usando como método a comparação entre os dois suportes, verificando as
peculiaridades de cada mídia.
Para embasar a análise das mídias em suas singularidades foram selecionados dois
autores principais. Para a versão impressa serão observadas as considerações de White (2006),
autor de um manual para edição de revistas. Conceitos como ritmo, layout, tipografia, cor,
grid, contraste, colunagem e demais elementos que envolvem o processo de editoração são
aplicados na análise da revista impressa. Um tópico específico fará uma reflexão sobre o texto
não verbal.
No universo digital entram em cena as diretrizes de usabilidade de Nielsen (2002),
denominado guru da usabilidade na web pelo The New York Times. Navegação,
acessibilidade de informação, organização e disponibilização de conteúdo são alguns dos
critérios abordados por ele.
Após o estudo da linguagem gráfica das duas mídias, apresentamos a comparação entre
elas, onde o mesmo conteúdo é disposto de diferentes formas e como essa disposição
aproveita as particularidades desses suportes, estabelecendo diferentes formas de absorção do
conteúdo pelo leitor.
Revista Época
A revista Época é publicada desde 1998, atualmente é a segunda maior revista semanal
no Brasil, correspondendo a 10,96% do mercado nacional (ANER, 2009). Seu discurso é o de
jornalismo opinativo e investigativo, apresentando análise dos principais acontecimentos da
semana. Para compreender a linguagem gráfica desta revista vamos refletir sobre a capa e seu
projeto, dialogando com os conceitos de White (2006).
A capa no meio de uma banca com tantos outros apelos comerciais deve prender a
atenção. Segundo White (2006) a chamada deve ser rápida e precisa, o conceito visual deve
transmitir exatamente o que leitor vai encontrar na revista, e convencê-lo da importância de
tal informação. Para isso, ele afirma que o caminho mais eficiente é na maioria dos casos o da
objetividade e coesão.
As capas de Época são, na maioria das vezes, sintéticas, a matéria principal é
apresentada com uma imagem que ocupa toda a área da capa. A tipografia da chamada pode
ser serifada ou sem serifa, a escolha dos tipos varia de acordo com a imagem da capa e com o
discurso da matéria. Por exemplo, na edição 579, de 20 de junho de 2009, a matéria principal
aborda a influência da rede social Twitter na revolução política iraniana; as fontes sem serifa
unidas às cores utilizadas na capa contribuem para ressaltar o caráter atual e contextualizado
da reportagem. Já na edição 581, que mostra o resultado de uma pesquisa sobre como o
Congresso Nacional se enxergava no Brasil, a capa é branca, com um rascunho do Planalto
Central ao centro e um pouco acima do centro de visão da página. Toda a composição da
capa, as cores simples, a fonte serifada e a hierarquia da informação, os valores numéricos
contribuem para reforçar a seriedade e exatidão com que a informação é tratada na revista.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 1, Capas das edições 579 e 581
O projeto gráfico de uma revista deve ser entendido como um sistema onde as páginas
formam um fluxo consecutivo através do espaço, visto como imóvel na publicação, mas
fluido de acordo com o ritmo de leitura. Para garantir a uniformidade desse conjunto são
necessários elementos que distribuam e organizem o conteúdo em categorias, definam a
identidade, localizem o leitor e auxiliem na navegação. Esses elementos, denominados sinais
gráficos (WHITE, 2006, p. 195), são os logotipos, vinhetas de seção, numeração de páginas e
indicadores de direção de leitura.
Figuras 2 e 3
Todos os sinais devem ser bem dispostos e trabalhados ao longo do projeto, de forma
que o leitor não precise de esforço para localizá-los. Por isso, as editorias e seções da revista
sempre são indicadas no canto superior esquerdo, nas páginas esquerdas; e no canto superior
direito, nas páginas direitas, que são as áreas de maior visibilidade da página (WHITE, 2006,
p.5). Esse posicionamento consistente e uniforme cria hábito e familiaridade do leitor com a
publicação. Além das editorias, esse princípio também é aplicado na distribuição das seções
na publicação (fig. 2 e 3).
Nota-se que o projeto gráfico possui um design enxuto e sóbrio. Apresenta poucas
famílias tipográficas e suas variações. O grid da revista é composto por 6 ou 7 colunas, o que
resulta em uma combinação gráfica interessante, propiciando ritmo de leitura. Nas páginas de
6 colunas, o espaço dividido uniformemente organiza o conteúdo sem surpresas, sem
inovações, porém estimula um pensamento e organização padronizados (WHITE, 2006, p.49).
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Na revista, cada dupla de colunas do grid corresponde a uma coluna real, sendo visível
ao leitor apenas 3 colunas (fig. 4). Já as páginas compostas por 7 colunas apresentam novos
princípios, uma vez que as colunas não comportam texto (salvo legendas) por serem estreitas
demais, mas novos arranjos visuais tornam-se possíveis (fig. 5).
Figuras 4 e 5 - seção Fala, Mundo, da edição 548
Ao contrário do que se pode pensar, essa variação do grid não resulta em uma
desorganização da publicação, mas contribui para dar flexibilidade ao projeto, e faz sentido
quando usada para dar expressão e clareza ao conteúdo da história.
Observamos neste estudo que a publicação aplica em seu projeto gráfico vários
conceitos que White (2006) diz serem fundamentais: o critério de escolha da tipografia, o
arranjo e variação da colunagem nas diversas seções da revista, a criação e disposição dos
sinais gráficos, trabalhados de forma conjunta com o objetivo de aperfeiçoar o fluxo de
leitura. Ao mesmo tempo em que o desenho de cada página é pensado de forma a conceber
um design coeso e claro, ele nunca se torna maior que o projeto da revista como um todo, mas
é parte integrante dessa coleção que é a revista impressa. Vimos que o projeto traz variação,
ritmo e coesão à publicação, possui um sistema simples de navegação e leitura, que garante ao
leitor a absorção da informação de forma clara e objetiva.
Outra questão que merece ser apontada é o discurso não verbal. A imagem apresenta
vários sentidos e interpretações, o que pode configurar um problema quando se quer passar
uma mensagem específica a um grande número de indivíduos de repertórios culturais
diferentes. Para contornar esse impasse são trabalhados os níveis de interpretação da
mensagem, que, segundo Pereira (2003, p. 112) são três: o denotativo, sentido literal do signo;
o conotativo, deriva do denotativo através da associação de ideias particulares a cultura do
indivíduo; e o subjetivo, dependente do indivíduo que interpreta o signo, pois é resultado de
suas experiências vividas. A junção desses sentidos resulta em uma mensagem particular para
cada leitor, que foi originada a partir do mesmo estímulo visual.
É fato que uma mídia conhece seus leitores, e pode usar esse conhecimento para gerar
interpretações que vão de encontro com seus interesses. No caso da revista, o processo de
geração de sentido origina-se na interpretação do repórter ao receber a pauta jornalística, na
seleção da foto, no seu tratamento. O posicionamento no campo visual da página, o tamanho e
legenda contribuem para aumentar o caráter conotativo da imagem.
Outro recurso usado para induzir a interpretação de uma imagem é a interação visual de
matérias que aparentemente não se relacionam. Numa leitura mais atenta encontramos várias
ocorrências do uso de linguagem conotativa. A figura 6 mostra uma fotografia cujo sentido
conotativo reforça o texto narrativo. Em uma matéria sobre inteligência, o músico Roger diz
que na época escolar, apesar de possuir um alto QI, errava nas provas de propósito, para não
ser estigmatizado pelos colegas. A fotografia mostra o músico com um sorriso aberto, camisa
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
regata e uma forte luz acima da cabeça, ícone conhecido para simbolizar grandes ideias,
indicando sua real inteligência apesar da aparência não indicá-la.
Figura 6
No próximo exemplo, o tema da matéria é beleza. Ela foca o posicionamento da atriz
Scarlett Johansson (fig. 7) contra a estética da fome, e fala sobre as suposições da mídia sobre
a atriz estar de dieta. A matéria traz imagens comparativas de algumas atrizes no início da
carreira e agora, muito mais magras. As imagens estão dispostas em formato retangular,
estreitas, reforçando ainda mais a magreza delas; enquanto que Johansson ocupa duas colunas
inteiras de uma página. Essa imagem, aliada ao título da matéria “Em defesa da abundância“ e
a todo o texto, composto de expressões como “beleza natural da mulher”, e “flagelo que aflige
suas colegas” (sobre a perda de peso) claramente coloca a atriz como uma paladina da beleza
natural, revelando também que o veículo é favorável a essa opinião e tenta levar o leitor a se
posicionar da mesma forma.
Figura 7
No entanto, o uso desses elementos são apenas indicativos para facilitar uma
determinada leitura, o que não garante que essa leitura seja feita pelo leitor.
Tendo em vista a observação e aplicação dos critérios apresentados por White, somados
aos conceitos de linguagem explicados por Pereira, percebe-se que na revista impressa o
conteúdo é apresentado com uma preocupação informativa e estética. O layout visa não
apenas passar a informação ao leitor, mas fazer com que ele reflita e emita opinião sobre a
informação. A revista busca também conquistar a empatia do leitor através do design gráfico.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Site Época
O site da revista Época está entre os 10 maiores sites de notícias do Brasil. É líder entre
os sites de revistas de informação, com 2,7 milhões de usuários únicos, o que resulta em uma
audiência maior que a soma dos seus concorrentes (REVISTA ÉPOCA, 2009).
Para compreender a linguagem gráfica vamos iniciar com uma descrição da estrutura do
site. Seguindo o padrão da maioria dos grandes portais, ele apresenta um layout longuilíneo,
de orientação vertical. Essa estrutura pode ser dividida em quadrantes horizontais, em que o
conteúdo da página é dividido em 3 colunas verticais e na região inferior 4 colunas.
Figura 9, Homepage do site
Figura 10 e 11, Quadrantes do site
Após esta breve descrição, vamos estudar os critérios que serviram de base para a
construção do layout do site, a partir dos conceitos apontados por Nielsen (2002),
relacionados à navegação, acessibilidade de informação, organização e disponibilização de
conteúdo.
Para ele, a função principal de uma homepage é transmitir o que a empresa significa.
Sua primeira diretriz diz respeito à marca da empresa, que deve ser disposta em tamanho
razoável e local de destaque, prendendo a atenção do usuário no momento da entrada no site.
Isto pode ser visto na figura 12, que mostra a marca em destaque no primeiro quadrante.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 12
As principais tarefas do site devem ser enfatizadas, definindo na homepage um ponto de
partida para o usuário, de preferência devem ser agrupadas na metade superior do site e sem
muitos apelos visuais, nas palavras de Nielsen (2002, p. 10) “se você enfatizar tudo, nada será
destacado. Restrinja ao mínimo (1 a 4) o número de tarefas básicas e mantenha limpa a área
ao redor delas”. No caso estudado, em conformidade com o autor, as principais tarefas,
cobertura das manchetes do dia, acesso às colunas, vídeos jornalísticos de outros veículos
associados à revista, encontram-se agrupadas no primeiro quadrante, ocupando toda sua
extensão horizontal logo abaixo marca Época e da barra de menus.
O desafio, segundo Nielsen (2002), encontra-se na estruturação de um layout que
garanta fácil acesso aos recursos principais do site sem poluir a tela, onde a página inicial,
diferente do restante do projeto, seja reconhecida como ponto de partida da navegação. Os
indicadores de navegação devem ser claramente definidos e devem manter a identidade visual
de todo o projeto. Tal distinção visual e sinalização de navegação fazem com que os usuários
reconheçam pontos iniciais ao retornarem à página para uma nova exploração. O que pode ser
observado na comparação entre duas áreas distintas do site, como mostra a figura 13.
Figura 13
O emprego de letras maiúsculas e outros padrões de estilo devem ser feito com
consistência, pois além de favorecer a credibilidade do site, tornam a informação mais
sucinta, sendo absorvida mais rapidamente pelo usuário. O uso de letras maiúsculas deve ser
usado o mínimo possível, pois o uso de caixa alta e baixa torna a palavra mais legível. No site
o uso de maiúsculas está restrito apenas ao menu principal, às editorias a que pertencem às
matérias e pequenos boxes de enquete.
Áreas do site que forem suficientemente autoexplicativas não devem ser rotuladas. Por
exemplo, a linha de título das matérias não necessita de um rótulo particular dizendo “título“,
uma vez que seu tamanho e disposição já desempenham essa função (NIELSEN, 2002, p.15).
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
O recurso de revelar partes do conteúdo em pequenos exemplos traz vantagens para o
usuário, e contribui com a navegação, mostrando o que existe por trás de categorias abstratas,
evitando que o usuário clique nelas apenas para saber do que se trata. Um exemplo disso é a
seção colunistas. Em vez de contar com um texto que explica o que a coluna aborda,
apresenta uma foto do colunista e o título do texto, que dá link ao mesmo (fig. 14).
Figura 14
O link direto para o texto da coluna também serve de exemplo para outra diretriz que diz
que no momento do clique, o usuário deve ser levado diretamente ao que busca, e não ser
jogado para uma página intermediária para procurar novamente pelo que o interessa (fig. 15).
Figura 15
Agora, caso queira uma busca em uma categoria mais abrangente, o usuário deve ter
acesso a essa categoria, como no caso do exemplo, o usuário pode ler outros textos do mesmo
colunista, por meio de link de acesso à página do autor (fig.16).
Figura 16
Outro ponto que devemos destacar diz respeito a arquivos que permitem acesso a
conteúdos anteriores. O acesso a essa informação, no caso da revista, deve ser claro no site.
Na Época, conteúdos de até um mês atrás são dispostos em uma barra de rolagem horizontal
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
na base do site, no box “+ lidas” e o arquivo permanente pode ser acessado no link “edições
anteriores”, encontrado na barra de menu principal, próximo à capa da semana (fig.17 e 18).
Figuras 17 e 18
Os links são a chave para uma boa navegação. Eles devem ser diretos, Nielsen (2002)
diz que devem ser evitados links como “clique aqui”. Seu conteúdo deve ser mostrado já em
seu título, como na figura 19, em um box com informação complementar a matéria
disponibilizada no espaço principal.
Figura 19
Dever ser evitado, ainda, o uso da palavra “links” para indicar sua existência na
página. Os links são a alma do suporte virtual, seria o mesmo que nomear uma categoria de
informações com a palavra “palavras” em uma mídia impressa. (NIELSEN, 2002, p.18). A
palavra que dá nome a categoria dos links deve ser diretamente ligada ao conteúdo dos
mesmos. Um exemplo disso é a seção de blogs, à esquerda da página, com nome simples e
direto deixa claro ao usuário que links ele encontrará ali (fig. 21).
Figura 21
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
A navegação segundo Nielsen (2002) deve ser clara a intuitiva, para que o usuário
identifique facilmente suas opções e tenha noção do que existe por trás dos links. As áreas de
navegação devem ser alocadas em um local de destaque, de preferência ao lado do corpo
principal da página, evitando proximidade com banners ou com a forma retangular do início
da página, pois serão ignorados pelos usuários, no fenômeno conhecido como “cegueira
banner”. O menu principal do site Época é horizontal e está localizado no primeiro quadrante,
tendo visibilidade destacada devido a sua cor diferenciada. À esquerda se encontram os links
de acesso aos blogs e colunas, e do outro lado do corpo principal está o acesso às enquetes,
frases do dia e conteúdo anterior (+ lidas), que por estarem próximas à área de banner, têm
seu destaque comprometido (fig. 22).
Os itens dessa área de navegação, por sua vez, devem ser agrupados por similaridade,
ajudando o usuário a distinguir categorias semelhantes e identificar a variedade de conteúdo
oferecido, como defende Nielsen (2002). Na figura 22 podemos ver esses agrupamentos na
seção de blogs, colunistas, e + lidas.
Figura 22
A pesquisa é uma função fundamental da homepage e de acordo com Nielsen (2002) é
mais eficiente disponibilizar uma caixa de entrada de dados na homepage para inserir
consultas de pesquisa, ao invés de apenas oferecer um link para uma página de pesquisa. O
campo deve ser disposto na parte superior do corpo principal do site, porém abaixo de
qualquer área de banner. No menu principal do site em estudo, podemos encontrar esse
recurso, ainda que sem muito destaque, como pode ser visto na figura 23. Essa caixa de
entrada não possui nenhum tipo de rótulo ou título, mas simplesmente o local de entrada de
dados e o botão “buscar” à sua direita, o que segue outra diretriz, que preza pela simplicidade
nos campos de pesquisa, evitando a rotulação dessas áreas.
Figura 23
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Quanto ao design gráfico, o layout deve ajudar a conceber uma noção de prioridades da
interação, com foco na interação entre a mídia e o usuário. Os estilos de fonte devem ser
limitados, bem como atributos de formatação, pois um design carregado pode desviar o
significado das palavras. Se os elementos de texto forem muito parecidos com gráficos, os
usuários acabarão ignorando-os, confundindo-os com anúncios publicitários. O site estudado
apresenta uma pequena variação tipográfica e uma paleta de cores reduzida, focando o
conteúdo (fig. 24). Visando esse mesmo objetivo, o fundo do site é branco, e os tipos são
pretos ou vermelhos, gerando bom contraste e leitura.
Figura 24
Para evitar que usuário perca partes do conteúdo, Nielsen (2002) aconselha seguir a
rolagem padrão, que é a vertical. Os elementos mais críticos devem ser visíveis no primeiro
quadrante do site, no tamanho de tela predominante. Devem ser evitados espaços em branco
entre agrupamentos de itens, pois o simples fato de ver o início de uma linha mostra ao
usuário a continuação do conteúdo abaixo da parte visível da tela. Esses exemplos podem ser
encontrados no site, uma vez que as manchetes destaques e vídeos estão na parte superior do
site, e pode-se ver o início da área de navegação (abaixo e à esquerda), na figura 25.
Figura 25
Por fim, o layout deve ser fluido, para permitir o ajuste do tamanho da página diversas
resoluções de tela, o que pode ser comprovado na figura 26, onde o conteúdo é adaptado sem
prejudicar a navegação.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 26
Através da observação das diretrizes de Nielsen (2002), chegamos à conclusão que o site
privilegia a navegação do usuário, e foca apenas o conteúdo em si. Não existe uma matéria de
maior destaque, todas recebem o mesmo tratamento, seguindo o padrão definido. Além disso,
o site visa à compreensão rápida da informação, não havendo interação de elementos com o
fim de passar uma mensagem que não está contida na imagem ou no texto de forma literal. A
informação não é interpretada, mas sim, absorvida.
Foi verificado também que o site segue grande parte das diretrizes de usabilidade
estabelecidas por Nielsen (2002). O objetivo do site de transmitir a informação de forma
rápida e clara é alcançado através da aplicação dessas diretrizes, o que torna a navegação
simples e facilita a pesquisa de conteúdo.
A relação entre a revista e o site
Após a análise da revista impressa seguindo os critérios de White (2006), e de
observarmos as aplicações das diretrizes de usabilidade de Nielsen (2002) no site da Época, e
de compreendermos as relações existentes entre imagem e texto explicados por Pereira
(2003), podemos por fim comparar o conteúdo disposto nas duas plataformas. Como
exemplos serão tomadas as páginas das matérias de capa da edição 573, comparadas com as
versões virtuais disponíveis no site da revista.
No que diz respeito ao design gráfico, logo à primeira vista pode se perceber uma
diferença entre as duas amostras.
A versão impressa (fig.27) apresenta uma imagem ocupando toda a página direita da
revista, ficando a página esquerda ocupada pelo texto. Por se tratar da matéria de capa da
edição, o design das páginas recebeu um tratamento diferenciado: a imagem ocupa toda a
extensão da página direita, aumenta o impacto da ilustração. A vinheta da seção, como poderá
ser visto no decorrer das páginas é acompanhada de uma pequena ilustração e o título foi
valorizado, sendo composto por uma família tipográfica que é usada apenas na matéria de
capa. A disposição do título da matéria no espaço da página passa sensações de requinte e
importância, aspectos conseguidos graças ao desenho do tipo, que possui serifas leves e
equilibradas, e ao entrelinhamento do texto que compõe o título. A mesma fonte do título
também é usada na capitular. White (2006, p. 127) diz ainda que o recurso das capitulares é
muito útil, pois acrescenta força visual à página e personaliza a publicação, além de reforçar
que alguma nova informação se inicia a partir de determinado ponto. A fonte usada no olho
faz parte do projeto da publicação, porém se apresenta aqui em uma variação mais leve. A
colunagem nesta página se apresenta arejada, com apenas duas largas colunas. Tudo isso
contribui para um aspecto visual impactante e diferenciado.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 27
No site, pode-se ver no primeiro quadrante que essa matéria é apresentada da mesma
maneira que as outras matérias do site. A mesma imagem que serve de abertura nas páginas
da revista é apresentada aqui, porém ela ocupa o espaço que já é reservado para imagens no
projeto do site, e o texto corre ao seu redor, não há preocupação em valorizar o seu conteúdo.
A matéria só é disponibilizada na versão integral para assinantes, conforme indicado no início
da página. Na coluna ao lado direito do site são dipostos os anúncios e os boxes com as
últimas notícias veiculadas. Não há uma interação entre os elementos da página, mas a pura e
simples exibição do conteúdo.
Figura 28
A segunda dupla da matéria impressa (fig. 29) apresenta uma imagem ocupando meia
página do lado esquerdo e um infográfico que ocupa por inteiro as duas colunas externas da
página direita. A colunagem a partir daqui é a mesma do restante da publicação, três colunas
por página. Novamente observa-se o cuidado com o equilíbrio da página, a valorização da
imagem e composição da massa de texto; a fluidez da leitura, que começa na imagem, passa
pelo texto e termina na leitura do infográfico.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 29
Figura 30
Voltando ao site da revista (fig. 30) encontramos o mesmo template da página
anterior, a imagem em seu espaço pré-determinado e o texto ao seu redor, porém o infográfico
é aqui apresentado em slides, controlados pelo usuário. Logo abaixo são dispostos os links
para as outras matérias que compõem o tema principal da edição. Nota-se que os anúncios e
boxes externos à matéria ainda estão presentes na coluna direita do site.
Ao virarmos a página da revista encontramos a segunda matéria (fig. 31) que compõe
do tema de capa da edição, também composta por 6 páginas diagramadas com bom
aproveitamento da área de mancha da revista, grandes fotos e infográficos. A dupla de
abertura exibe uma imagem à direita pouco maior que meia página, e na página à esquerda
encontramos o título da reportagem, com o mesmo tratamento tipográfico da matéria anterior.
White (2006, p. 116) diz que o título é a fala tornada visível, e nas duas matérias essa fala
ganha um tom sério, elegante graças à tipografia utilizada. Uma capitular destacada e uma
pequena variação de colunagem na abertura do texto completam os recursos visuais aplicados
a essas páginas. Nessa dupla percebe-se a grande variedade de entradas de leitura, que pode
ser feita iniciando-se tanto no título, como na imagem e sua legenda, no texto de abertura ou
nos olhos de texto ao longo das páginas.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 31
A versão digital (fig. 32) apresenta a mesma disposição de elementos utilizada na
matéria anterior. Dessa vez a matéria foi disponibilizada na versão integral no site, sendo
acessada através de links de navegação logo após o término do texto, antes da área de
comentários. A leitura tem seus pontos iniciais e finais bem definidos e invariáveis.
Novamente o infográfico da revista ganhou movimento e interação, porém apesar de ocupar
um frame que tem a largura de toda a área do “tronco” do site, ele não se apresenta com tanta
força quanto na revista impressa, onde ocupa as quatro colunas centrais da dupla de páginas,
de alto a baixo, sendo cuidadosamente “emoldurado” pelo texto nas colunas externas.
Figura 32
Nesse comparativo, a diferença básica entre as duas plataformas é o tratamento
dispensado a exibição do conteúdo. Na revista, as matérias recebem um cuidado diferenciado;
novo trabalho tipográfico, grandes e impactantes fotografias, ilustrações digitais, colunagem
especial, e ainda contam com o recurso da infografia; já no site, o mesmo conteúdo é
adaptado ao template pré-estabelecido e disponibilizado na página, por vezes não em sua
parte integral, mas com um diferencial, os infográficos tem som e movimento. Essa aplicação
de templates ao conteúdo do site favorece a rápida visualização do conteúdo, mas ao mesmo
tempo, faz com que a plataforma seja muito sistemática, perdendo o apelo humano.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Figura 33
Quanto ao ritmo de leitura, os dois suportes apresentam características muito
diferentes entre si. Na revista, o designer, através da diagramação, conduz a leitura de forma a
destacar elementos mais relevantes. A leitura é fluida, ainda que existam pequenas pausas em
pontos específicos, como legendas de foto e olhos de texto, e toda a informação disposta é
referente a um tema em comum.
Tal ritmo de leitura não é verificado no site. A atenção do usuário é disputada por
chamadas para links de outras matérias, enquetes, anúncios, enfim, a leitura é interrompida
constantemente.
Na revista a leitura pode ser considerada linear, o leitor percorre um caminho
determinado pelo designer, que tem começo, meio e fim. Já no site, o conteúdo torna-se parte
de uma rede de conteúdo interativo e multilinear. Ele se torna parte da hipermídia, que
segundo Gosciola (2003) é o conjunto de meios que permite o acesso simultâneo a conteúdos
em modo de texto, imagem e som de maneira interativa e não-linear através da criação de
links entre elementos de mídia. O que era foto na revista, agora é vídeo em streaming, com
som e movimento. O texto agora se torna hipertexto, elo de ligação entre elementos de mídia.
A navegação é ditada pelo usuário, que define o que, quando e como quer absorver a
informação.
Assim, na hipermídia, parte da informação é resultante de um diálogo entre editor e
leitor. Esse aspecto colaborativo é um dos grandes diferenciais do site, através da facilitação
de comunicação com a redação, o usuário passa a ter voz ativa, opinando em matérias,
enquetes e blogs, sugerindo pautas e expressando sua opinião, o que não ocorre com
frequência na revista impressa.
Conclusão
A partir deste estudo foi possível compreender as peculiaridades pertinentes ao
processo de transposição de conteúdo da revista impressa para um site de revista. Diversos
pontos foram observados e o que se concluiu foi que toda essa transposição é diretamente
dependente do foco que cada plataforma dá ao mesmo conteúdo e, em segundo lugar, que a
maior diferença entre as duas plataformas está na forma de se ler e absorver a informação.
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Da tinta para o pixel, paradigmas na transposição da revista do suporte
impresso para o virtual
Referências
WHITE, Jan V. Edição e Design, para designers, diretores de arte e editores, o guia
clássico para ganhar leitores. São Paulo, JSN Editora, 2006.
PEREIRA, José Haroldo. Curso básico de teoria da comunicação. Rio de Janeiro,
UniverCidade, 2003.
NIELSEN (2002), Jakob. Homepage, 50 websites desconstruídos. Rio de Janeiro, Campus,
2002.
GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para as novas mídias, do game à TV interativa. São Paulo,
Senac, 2003.
Documentos Virtuais
ANER. Maiores Circulações – Revistas Semanais. 2009. Disponível
<http,//www.aner.org.br/Conteudo/1/artigo42424-1.asp>. Acesso em, 24 set. 2009.
em,
REVISTA ÉPOCA. Disponível em, http,//revistaepoca.globo.com/
9º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design
Download

Da tinta para o pixel: a transposição da revista do suporte impresso