A CONTRIBUIÇÃO DA INFORMÁTICA PARA ACESSIBILIDADE DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO INSTITUTO FEDERAL DO AMAZONAS ATRAVÉS DO PROJETO CURUPIRA Tássia Patricia Silva do Nascimento; Dalmir Pacheco de Souza Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas; [email protected] RESUMO Este artigo foi desenvolvido com intuito de abordar a informatização como recurso de aprendizagem, utilizado nas aulas de informática, para alunos com deficiência visual, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas –IFAM -Campus Manaus Centro. O presente estudo é relevante, pois parte da necessidade de se realizar uma análise crítico-reflexivo acerca da temática, ou seja, a utilização de novas tecnologias para o desenvolvimento intelectual dos alunos, ao mesmo tempo, que desperta interesse por parte dos estudiosos que trabalham na construção de novos softwares de voz. A atividade foi realizada no Laboratório de Informática do Projeto Curupira, que ofereceu cursos profissionalizantes na modalidade de formação inicial e continuada (FIC), no período de abril de 2013 a maio de 2014. Para coleta de dados realizaram-se 02 (duas) entrevistas, uma com 2 (dois) funcionários. Outra para o profissional de Informática, do laboratório do Espaço Curupira que desenvolve atividades com as Pessoas com Deficiência (PCD). Além disso, elaboramos uma revisão bibliográfica a fim de fundamentar teoricamente o objetivo do estudo, assim como conhecer o uso da informática para inclusão de PCD no mercado de trabalho de Manaus, a partir da realidade observada no referido projeto. Palavras - chave: informática, ensino, deficiência 1. INTRODUÇÃO A informática tem sido uma forma de tecnologia transformadora para todos na sociedade, e notadamente para as pessoas com deficiência visual, sob o aspecto da inclusão, constitui-se em possibilidade de acessibilidade que não se vislumbrava há décadas atrás (SONZA, 2014). De fato, a diferença da maioria da tecnologia que antecedeu o advento da informática em meados do século XX e que era pouco ou totalmente inacessível, os computadores não somente trouxeram embutidos em si as ferramentas que possibilitam a acessibilidade à própria informática, mas também ensejaram a invenção de um vasto leque de produto sem tecnologia assistiva para todas as esferas da vida das pessoas com deficiência visual. A Tecnologia Assistiva é, portanto, imprescindível para o processo do desenvolvimento cognitivo do aluno com deficiência visual (PACHECO, 2012). Tal interesse do estudo surge da percepção de que, notadamente, na cidade de Manaus este tipo de recurso ainda é escasso e as atenções voltadas para o estímulo da educação através da Tecnologia Assistiva pode se dar também por meio da informática . Dessa forma, pressupomos que uma investigação mais aproximada das condições de acesso material e motivacional acerca desse tema pode contribuir para os processos de aprendizagem e consecutivamente para o incentivo ao gosto pela educação e qualificação. Dessa forma, queremos com o presente trabalho Abordar a concepção da informatização como recurso de aprendizagem utilizada pelos professores das aulas de informática, para os alunos com deficiência visual do Projeto Curupira, também queremos Investigar a contribuição para o desenvolvimento intelectual dos alunos participantes do Curso de Informática ofertado pelo Projeto Curupira no período de 2013 e 2014. Ao final será possível mostrar como o uso de softwares de voz pode contribuir para o processo de aprendizagem, e consecutivamente para o incentivo ao gosto pela educação e qualificação da pessoa com deficiência visual. A TECNOLOGIA ASSISTIVAE A INFORMÁTICAPARA DEFICIENTES VISUAIS (DV) É recente a discussão sobre a inclusão digital das pessoas deficientes. Para nortear este enfoque é necessária a abordagem de certos conceitos: Acessibilidade ao meio físico: possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos transportes, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida. Acessibilidade digital: flexibilidade do acesso à informação e interação dos usuários que possuam algum tipo de deficiência ou necessidade especial, no que se refere aos mecanismos de navegação e apresentação das páginas, operação de software, hardware e adaptação de ambientes e situações. Existem hoje diferentes tipos de tecnologias que permitem à pessoa com deficiência visual ter acesso à informação, de uma maneira menos complexa. O uso de computadores é um exemplo de como promover e facilitar esse processo. Sendo necessário assim o uso de softwares de voz e aplicativos que permitam ao usuário com DV utilizá-los. Sá (2003) reporta que a produção de softwares e equipamentos informáticos, especialmente os leitores de tela, no Brasil, foi considerada uma iniciativa pioneira na América Latina. O software brasileiro DOSVOX projetado para usuários cegos, é comercializado ou distribuído gratuitamente por meio de convênio e parceria com instituições públicas e privadas. A pessoa com deficiência visual depara-se com inúmeras barreiras ao acessar a Internet, devido à disposição das informações, às tecnologias utilizadas e às formas de comunicação. Moran (2012) relata que com esse tipo de ferramenta, o DV pode fazer no computador praticamente tudo que as pessoas que enxergam fazem: Usar editores de texto, planilhas e apresentações; Navegar na Internet; Comunicar-se por e-mail e programas de mensagens instantâneas; Estar em contato com amigos pelas redes sociais; Trabalhar nas áreas profissionais mais diversas, inclusive programação de computadores e gestão de sistemas e redes. METODOLOGIA Para construção deste trabalho, a pesquisa se deu no Projeto Curupira,localizado à Avenida Sete de Setembro. O estudo em questão tomou como referência uma abordagem qualitativa com os seguintes procedimentos: a) Levantamento de acervos da literatura sobre Tecnologia Assistiva para PCD em bibliotecas; b) Análise das informações estatísticas coletadas no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas – IFAM no período de 2013 e 2014. Para a coleta de dados utilizou-se a aplicação de entrevista, com funcionários responsáveis pelo referido projeto e pelo docente de informática, que desenvolve atividades com as PCDs. A entrevista foi construída a partir de 05 perguntas fechadas e 04 abertas. Além disso, foi feita uma análise do questionário de satisfação, atividade que o aluno responde ao final de cada curso, bem como o mapeamento de todos os equipamentos tecnológicos (software de voz) disponíveis no laboratório de informática do projeto. RESULTADOS E DISCUSSÃO A todos os alunos com DV, ao todo 13, foram feitas as seguintes perguntas: 1)Os softwares instalados nos computadores da instituição são de fácil aprendizagem? 07 alunos responderam que acham bons; 05 que são ótimos; e 01 respondeu que ainda não tem opinião formada. 2) Os softwares de voz instalados nos computadores têm um sintetizador de voz agradável, facilitando sua compreensão no decorrer do curso? 11 alunos responderam que sim; e 02 responderam que ainda não têm opinião formada. Esses resultados já nos mostram que há a adequação esperada desse aplicativo nas aulas de informática para os alunos com deficiência visual, o que tem permitido o alcance de um bom rendimento dos estudantes, influindo de maneira significante na impressão dos estudantes. O questionário de satisfação para primeira experiência dos alunos com o software também se faz muito importante, conforme a avaliação irá mostrar nos gráficos. Figura 1. Respostas dos alunos relativas à primeira pergunta do questionário de satisfação . Figura 2. Respostas dos alunos relativas à segunda pergunta do questionário de satisfação. ANÁLISE DAS RESPOSTAS DO PROFESSOR DE INFORMÁTICA Diferentes perguntas foram feitas ao professor de informática dessa instituição. Elas visavam caracterizar esse espaço de atendimento a PCD, bem como perceber a abrangência dos serviços oferecidos no Espaço Curupira. Objetivando avaliar quais os softwares disponíveis na instituição para que os alunos possam usufruir da tecnologia assistiva e tendo acesso à leitura de textos, internet e outros serviços, o resultado foi considerado satisfatório, pois o espaço tem disponíveis 05 softwares: O instrutor de informática confirma que a maioria dos alunos inicia o curso de informática com um pouco de dificuldade, mas no decorrer das aulas todos ficam bem familiarizados com os softwares. O Dosvox é bastante utilizado por ser gratuito e pelo fato de seu processamento ser mais rápido e de fácil aprendizado. O DDReader com suporte em Daisy também é utilizado pelos professores do curso de informática do Projeto Curupira. ANÁLISE DOS SOFTWARES INSTALADOS NO LABORATÓRIO DE INFORMÁTICA DDReader/DAISY 3.0 O DDReader é um aplicativo gratuito de leitura de livros digitais acessíveis em formato DAISY 3.0. É compatível com livros somente texto, somente áudio com navegação e texto com áudio. Os livros podem ser lidos por voz sintetizada, narração pré-gravada ou somente em texto na tela. A interface foi desenhada para atender plenamente a necessidade de acessibilidade dos deficientes visuais, sem comprometer o design para utilização de pessoas videntes. Nesta versão, o aplicativo oferece duas alternativas de interface: Acessível, com alto-contraste. Visual, com design simples e elegante. Ambas podem ser utilizadas com ou sem o TalkBack ativo. Uma camada com seis áreas de toque permite o acesso a todos os comandos do aplicativo e a navegação por frases, capítulos, itens na biblioteca e no índice. O aplicativo apresenta todas as funções de sua versão para Windows. É oferecido em 03 idiomas: Português, Espanhol e Inglês. Um tutorial completo facilita a compreensão e utilização de seus recursos. Principais recursos: a) Tutorial incorporado ao aplicativo; b) Acesso a todos os comandos por toque; c) Eco de comandos em voz sintetizada; d) Marcadores e anotações de usuário; e) Busca por palavras e expressões; f) Histórico de livros lidos (Minha Biblioteca); g) Soletração de palavras do texto; h) Zoom ajustável para maior acessibilidade; i) Preferências globais e por livro; j) Download de livros a partir de bibliotecas online (em breve); k) Navegação por até seis níveis de índice; l) Leitura opcional de notas de rodapé e números de página. Pode-se fazer o download de livros de domínio público no formato DAISY a partir do site de distribuição e suporte da versão Windows: www.daisylatino.org/ddreader Dosvox (também chamado winvox) É um sistema operacional, que contém elementos de interface com o usuário. Apresenta dentre outros: a) Sistema de Síntese de Voz para língua portuguesa; b) Editor, Leitor e Impressor/Formatador de Textos; c) Impressor Formatador para Braille; d) Programas de uso para Deficientes Visuais, como caderno de telefones, agenda de compromisso, calculadora, preenchedor de cheques; e) Jogos de Caráter Lúdico; f) Programa para ajuda à educação de crianças deficientes visuais; g) Ampliador de tela para pessoas com visão reduzida e leitor de Telas/janelas para Dos e Windows. Dentre as limitações do DosVox podemos citar o acesso à internet, que tem algumas restrições, já que a maioria das páginas apresenta figuras, gráficos e frames tornando difícil para o deficiente visual compreender o que está sendo mostrado na tela. O sistema vem sendo aperfeiçoado a cada nova versão, o que indica que tal problema poderá ser minimizado. Os softwares especializados têm demonstrado a preocupação de proporcionar não só informações, mas também o interesse de incluí-los digitalmente na sociedade, dando igualdades de condições a todos os PCDS. CONCLUSÃO Na atualidade, o Brasil avançou na área da educação, observa-se uma ampliação significativa no número de pessoas inseridas no âmbito educacional, tanto no ensino básico, fundamental, médio e universidades. No entanto, fazem-se necessárias medidas urgentes por parte do Governo, para melhorar a qualidade de educação, medidas estas, que poderiam vir a partir de programas direcionados a família dos alunos, em particular de baixo nível socioeconômico. Programas direcionados a todos os níveis de ensino (fundamental, básico, médio e superior), assim também como uma melhor remuneração e aperfeiçoamento da formação profissional dos docentes, para que os mesmos pudessem desenvolver seus conhecimentos pedagógicos e metodológicos, até porque numa sociedade globalizada e cada vez mais competitiva exige profissionais ainda mais qualificados e capacitados, capazes de garantir a entrada e permanência dos alunos no mercado de trabalho. Inegáveis são as conquistas através das Políticas Públicas voltadas para Pessoas com deficiências, nas três esferas, Municipais, Estaduais e Federais, promovendo os Programas e Projeto voltados a esse segmento social. A informática vem para contribuir para capacitação e socialização de PCDs tanto no mercado do trabalho como também no seu ciclo social mostrado que o deficiente visual possui um grande potencial, rompendo com o tabu da discriminação social, provando a capacidade das PCDs no sentido de desenvolverem atividades interessantes, em todas as diretrizes de sua vida oferecer a eles a chance de construir conhecimento e inclusão social. As políticas públicas voltadas para PCDs precisam ser implementadas e concretizadas com ações sólidas. Como por exemplo, o Projeto Curupira que promove a quebra desses tabus criados pela sociedade e, oportuniza a integração plena do indivíduo na sociedade. REFERÊNCIAS PACHECO, D; Negreiros, J. Tecnologia e Educação. Um estudo sobre a interatividade de tecnologia na escola: Experiências Interativas no ensino de ciência. Manaus: BK Editora, 2012. SONZA, A.P.(Org) Soluções Acessíveis. Experiências Acessíveis no IFRGS. 2014. DEMO, Pedro. Política social, educação e cidadania. 10˚Ed. São Paulo: Papirus, 2007. MORAN, Jose Manuel. Como utilizar as tecnologias na escola. ECA, Brasil.2012. Disponível em<http://www.eca.usp.br/prof/moran/utilizar.htm>. Acesso em 13/09/2014. SÁ, Elisabete Dias de. Material Pedagógico e Tecnologias Assistivas. In: Educação Inclusiva no Brasil. Relatório/Banco Mundial – Cnotinfor Portugal. 2003.