ANEXO 9 – Tema 2014: Do tempo que temos, que uso fazemos? (Artigo retirado de www.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n14.htm) A questão do tempo para Norbert Elias: Reflexões atuais sobre tempo, subjetividade e interdisciplinaridade Mônica Mastrantonio Martins* Com relação à questão do tempo, Elias levanta algumas reflexões entre a história da civilização e o tempo em sua obra chamada "O processo civilizador", publicada no original em alemão, em 1939. Em 1984, o livro "Sobre el Tiempo" foi publicado na língua alemã e depois traduzido para o espanhol. Em especial nessa obra, Elias contrapõe linhas filosóficas, naturalistas e históricas, constituindo um modo particular de abordar o tempo, através da superação dos hiatos produzidos entre as diferentes áreas do conhecimento científico. Quando Elias (1989) faz comparações dos modos como diferentes civilizações determinam o tempo, estabelece funções universais para o modo como esse coordena as experiências humanas entre natureza e sociedade. Além disso, Elias descreve coerções exercidas pelo tempo que interligam estruturas psicológicas individuais com estruturas sociais mais amplas. Ao escrever "O processo civilizador", Elias (1994) relaciona a constituição do Estado desde a Idade Média, através da arrecadação de impostos, polícia, forças armadas, lei e outros, com a elaboração de aspectos temporais presentes na formação da consciência e no autocontrole individual. Ou seja, a regulamentação do Estado teria acompanhado o desenvolvimento de regras internas presentes na formação da subjetividade e na coordenação de atividades na sociedade. Tempo, na perspectiva do "processo civilizador", é uma rede fundamental de configuração de relações sociais desenvolvida pela civilização. Por conseguinte, a crescente importância dada ao tempo em nossa sociedade tende a ser fruto do próprio desenvolvimento social que fez desse um item primordial para regulação da vida em sociedade. O que Elias (1994, p. 207) especialmente coloca no "processo civilizador", foi o estabelecimento do tempo como propiciador do desenvolvimento da sociedade, cujas redes de ações estavam cada vez mais imbricadas umas nas outras, havendo: "...necessidade de sincronização da conduta humana em territórios mais amplos e a de um espírito de previsão no tocante a cadeias mais longas de ações como jamais haviam existido...também há manifestação do grande número de cadeias entrelaçadas e interdependência, abrangendo todas as funções sociais que os indivíduos têm que desempenhar, e da pressão competitiva que satura essa rede densamente povoada e que afeta, direta ou indiretamente, cada ato isolado da pessoa. Esse ritmo pode revelar-se, no caso do funcionário ou empresário, na profusão de seus encontros marcados e reuniões e, no do operário, na sincronização e duração exatas de cada um de seus movimentos. Em ambos os casos, o ritmo é uma expressão do enorme número de ações interdependentes, da extensão e densidade das cadeias compostas de ações individuais, e da intensidade das lutas que mantém em movimento toda essa rede interdependente...". Nesse relato, aponta-se que o "processo civilizador" acabou impondo aos indivíduos um número maior de atividades e encadeamento dessas, assim como maior dependência e complexidade na rede de relações sociais. Tais fatores exigiram um denominador comum que regulasse tais relações. Nesse caso, o denominador chama-se "tempo". Aliás, segundo Elias (1993, p. 208) não foi a moeda que caracterizou a passagem da 1 Idade Média para a Moderna, mas a mudança no ritmo e extensão do movimento que mudou qualitativamente a estrutura das relações humanas na sociedade. É na transição da Idade Média para o Renascimento que se tem um fortalecimento do autocontrole individual das emoções e também do tempo. Nesse sentido, a preocupação mais acentuada com o tempo, e com medidas temporais atuais, parecem decorrer de processos de urbanização, comercialização e mecanização da sociedade. Principalmente, quando trouxeram maior dependência ao homem acerca de instrumentos criados para medir o tempo e menor dependência de medidas baseadas em fenômenos da natureza. Para Elias (1989, p. 64, 65), o "processo civilizador" demonstra que quanto mais ampla e interdependente for a ação humana, maior será sua dependência do tempo. Nesse caso: "...Com a crescente urbanização e comercialização, tornou-se cada vez mais urgente a exigência de sincronizar um número cada vez maior de atividades humanas e de dispor de um retículo temporal contínuo e uniforme como marco comum de referência de todas as atividades humanas. Foi tarefa das atividades centrais (profanas e religiosas) preparar esse retículo e assegurar seu funcionamento. Dele dependia o pagamento ordenado e recorrente de tributos, interesses, salários, e o cumprimento de outros muitos contratos e obrigações, assim como os numerosos dias festivos que os homens descansavam de seu cansaço" (tradução do espanhol da autora). Portanto, tempo parece constituir elemento imprescindível na coordenação e integração das relações sociais atuais, visto que o número de atividades a serem sincronizadas na modernidade é maior e em redes cada vez mais complexas. Por causa da maior dependência das medidas temporais, ocorre uma ênfase excessiva na temporalidade e a sensação que se tem é de escassez do tempo. Diante de um processo social de tão longa data como o tempo, Elias aponta que estudos sobre esse tema devem ser associados à história e ao desenvolvimento da humanidade, pois "...o tempo é uma rede de relações, muitas vezes bastante complexa e que, substancialmente, determinar o tempo é uma atividade integradora, uma síntese" (1989, p. 67, grifo do autor). Presente em diversas comunidades e desde tempos mais remotos, o tempo é uma convenção social que têm acompanhado nosso próprio desenvolvimento. Pesquisar o tempo, partindo de uma abordagem crítica, histórica e processual, contribui para que se tenha visão mais integrada dos avanços e retrocessos de nossas próprias construções sociais. Em geral, as configurações e medições do tempo oferecem padrão, uniformidade e repetição para a organização de nossas rotinas diárias. Nesse sentido, a palavra tempo significa, para Elias, (1989, p. 56) "...símbolo de uma relação que um grupo humano (isto é, um grupo de seres vivos com a faculdade biológica de conciliar e sintetizar) estabelece entre dois ou mais processos, dentre os quais toma um, como quadro de referência ou medida para os demais". A regularidade e sequência das medições do tempo possibilitaram demarcar rotinas e atividades dentro de um mesmo código temporal. Tempo e atividade são correlacionados porque medições do tempo permitem ao homem uma certa regularidade e previsibilidade diante da vida, movimento e atividade. Nesse sentido: "...se aos homens de uma sociedade lhes interessa por qualquer motivo marcar posições e períodos que se seguem uns aos outros na sucessão do acontecer, necessitam encontrar outro processo, em cujo transcurso, certas pautas de troca se repitam com certa regularidade, sem que impeçam que suas transformações ocorram, assim mesmo de um modo sucessivo e não repetitivo. Os módulos repetitivos dessa sequência servem, então, como pautas normalizadoras de 2 referência, com o auxílio de que se pode confrontar de modo indireto com a sequência de outro processo, os fenômenos não diretamente comparáveis, colocando que aquelas pautas representam a repetição do mesmo..." (Elias, 1989, p. 19 e 20) Assim, segundas-feiras repetem-se após domingos, dias de trabalho são intercalados por dias de folga, em um modelo sequencial que permite às pessoas se organizarem e programarem suas atividades em função do tempo. A regularidade das medidas temporais pode, assim, oferecer maior previsibilidade do próprio cotidiano. Tais demarcações do tempo também são produtos do acúmulo de conhecimento que se dá ao longo da história. No entanto, Elias (1989, p. 207) postula que níveis simbólico e de síntese foram necessários como pré-requisitos para o desenvolvimento do atual sistema temporal. Isto é, o aprimoramento da capacidade de generalização e abstração teria possibilitado o progresso das medidas de tempo. Desse modo, Elias (1989, p. 84, grifo do autor) expõe que, "...o que chamamos tempo é, em primeiro lugar, um marco de referência que serve aos membros de um certo grupo e, em última instância, à toda humanidade, para instituir ritos reconhecíveis dentro de uma série contínua de transformações do respectivo grupo de referência ou, também, de comparar uma certa fase de um fluxo de acontecimentos...". Assim, o tempo cumpre funções de orientação do homem diante do mundo e de regulação da convivência humana. Segundo Elias (1989, p. 23), relógios são invenções humanas já incorporadas no mundo simbólico do homem como forma de orientação e integração de aspectos físicos, biológicos, sociais e subjetivos. Porém, quando se esquece que são invenções humanas e históricas, do como ou por que os primeiros relógios foram construídos e das transformações que sofreram, é provável que tais construções sejam abordadas como se tivessem existência natural, alheia ao homem. Mas para Elias (1989, p. 22): "em um mundo sem homens e seres vivos, não haveria tempo e, portanto, tampouco relógios ou calendários". Com essa e outras afirmações, percebe-se que, para Elias (1989), o homem é construtor do tempo. Logo, não se pode compreender um sem o outro, da mesma forma que atividade, tempo e sujeito não podem ser dissociados. Na abordagem de Elias (1993, p. 228), tempo deve ser compreendido no contexto social onde é produzido e também em interação com outros elementos da vida social. Para tal, demanda-se a articulação de aspectos interdisciplinares e intersubjetivos para adentrar tais redes de configurações sociais. Alguns pontos da proposta de Norbert Elias (1989, 1993, 1994) assemelham-se com questões apontadas pela Psicologia Social. Por exemplo, a concepção do homem como sujeito e objeto de suas relações sociais. Paralelamente, o homem também é construtor das medições de tempo e afetado pelas mesmas. No entanto, Elias (1993, p. 234) afirma que a Psicologia Social ainda permanece sem a devida exploração no aprofundamento das relações entre homem e tempo. Assim, como tempo, homem e natureza não são dissociáveis. Para Elias, tempo e espaço também devem ser estudados conjuntamente porque estão imbricados. De acordo com ele (1989, p. 111, grifo do autor): "tempo e espaço são símbolos conceituais de certos tipos de atividades e instituições sociais que permitem aos homens orientarem-se diante de posições ou distâncias entre estas posições que acontecimentos de todo tipo tomam...". Portanto, se a proposta é compreender o tempo no contexto onde esse é produzido, devese considerar o espaço como relevante na configuração das relações sociais. Conforme escreve Elias (1989, p. 64) "do ponto de vista sociológico, o tempo cumpre funções coordenadoras e integradoras". Essa integração envolve aspectos naturais e sociais, tais como: aparecimento e desaparecimento de galáxias, mudanças das fases da lua, crescimento e envelhecimento da pessoa, mudanças de estações e outros. Calendários podem ser utilizados como exemplos gráficos das funções coordenadoras e integradoras de tempo e atividade. Usados desde a Antiguidade, já passaram por 3 inúmeras reformas até adquirirem a eficiência e acuidade do modelo atual. Na definição de Elias (1989, p. 16) "...dias e meses do calendário se constituem em um modelo repetitivo da não repetição da sequência de fatos". Tais formas de se medir tempo trouxeram uma certa previsibilidade e padronização diante de irreversibilidade de nosso mundo. Além disso, a palavra "calendário" é proveniente do latim, "calendae" que significa "dias para proclamar". Esse termo origina-se de períodos primitivos, nos quais sacerdotes e espirituosos saíam a proclamar o aparecimento de uma nova lua, anunciando o início de um novo mês (Elias, 1989, p. 210). Porém, significados e usos dos calendários atuais são bastante diferentes dos períodos anteriores. Hoje, adota-se um calendário global. A divisão do tempo em semanas, meses, anos, séculos, dias de trabalho, dias de descanso, feriados, datas comemorativas, quatro estações e fases da lua, são algumas facetas de um calendário que incide mais sobre nossas vidas do que talvez tivéssemos previsto. Mas, é somente refletindo sobre tempo que se compreende as transformações de significados, símbolos e medidas do tempo. Para Elias (1989, p. 150), a questão do tempo "no fundo é simples, como o do tempo, é uma prova de que se esquece o passado social. Pelo contrário, quando se acorda para ele, descobre-se a si mesmo". Ou seja, quando se resgata historicamente o tempo, o homem pode repensar sua vida e transformá-la à medida que é sujeito do processo de construção da própria história e também do tempo. Pelo fato de não nascermos com um sentido temporal pronto, organizações temporais têm que ser aprendidas juntamente com outros aspectos culturais. De acordo com Elias (1989, p. 154), a "aprendizagem do tempo" em uma sociedade altamente industrializada requer de sete a nove anos para se desenvolver, isto é, para que o indivíduo decifre o complexo sistema simbólico temporal que pauta a vida social. Tal sistema também influencia nosso "olhar" diante da realidade, tornando-o essencialmente temporal. Conforme explica Elias (1989, p. 80): "No nosso tipo de sociedade, a vida do homem se mede com exata pontualidade. Uma escala social temporal que mede a idade (tenho doze anos, você tem dez), o indivíduo a aprende e a integra, como elemento social, na imagem de si mesmo e dos demais. Esta subordinação de medidas temporais não somente serve como comunicação sobre quantidades distintas, se não que alcança seu pleno sentido como abreviação simbólica comunicável de diferenças e transformações humanas conhecidas no biológico, psicológico e social”. Da mesma forma, consciência, emoções e subjetividade são afetadas pelo modo como cada sociedade estrutura seu tempo. O impacto da organização temporal sobre relações humanas varia de época para época e estende-se em graus diversos sobre os homens. Hoje, a impressão que se tem é que sem o tempo para coordenar nossas atividades, não conseguiríamos realizá-las; com ele para organizá-las, vive-se correndo contra o relógio. As exigências temporais postulam ritmos acelerados e parece que a possibilidade de se ter uma sociedade que respeite diferentes temporalidades e ritmos continua sendo utópica. Em épocas anteriores, era comum encontrar pessoas que não sabiam responder sobre sua idade, horário, dia, mês ou ano em que estavam ou haviam nascido. "Assim, se explica que em sociedades sem calendário e, portanto, sem símbolos precisos para designar a sequência dos anos não repetidos, o indivíduo não podia ter um conhecimento definido de sua própria idade", afirma Elias (1989, p. 17). Mas na sociedade moderna, indivíduos desenvolvem uma consciência temporal tão enraizada, global e onipresente que, "Esta individuação da regulação social do tempo traz consigo, de uma forma quase paradigmática, as expressões de um processo civilizador" (Elias, 1989, p. 32). É provável que a preocupação constante com tempo, consciência da passagem do tempo, brevidade das relações, juntamente com uma vida onde tudo depende de horários, ilustrem uma dependência cada vez maior de um tempo que parece passar cada vez mais rápido. 4 Logo, é impossível conhecer uma determinada cultura sem analisar as redes de relações construídas entre indivíduos e a organização do tempo. O modo como cada cultura organiza o tempo revela aspectos fundamentais da organização dessa sociedade. Da mesma forma, “a onipresente consciência do tempo dos membros de sociedades relativamente complexas e urbanizadas é parte integrante de seu modelo social e de sua personalidade (Elias, 1989, p. 176). Além disso, o tempo tem sido tratado como algo que envolve mistério, enigma e poderes sobrenaturais; como se fosse necessário desvendá-lo, para compreendê-lo. Elias (1989, p. 13) afirma que esse caráter enigmático do tempo é proveniente da complexidade das relações humanas e afirma que, "...da convivência humana resulta algo que os homens não entendem, que se apresenta como enigmático e misterioso". Esse algo, chama-se "tempo". Tal mistério tende a ser proveniente da desvinculação entre símbolos que representam o tempo e os significados históricos dos mesmos. Por exemplo: calendários e relógios foram construídos a partir das observações do complexo movimento dos astros, mas as origens de tais configurações raramente são lembradas. Então, quando construções são tratadas como coisas alheias ao próprio homem, cria-se a ilusão de que possam existir por si mesmas. Elias (1989) usa o termo "coação social" para explicar como na sociedade industrial um novo modelo de tempo surge e pauta nossa subjetividade. Com a disciplinarização temporal presente desde a constituição da identidade, a modernidade produz um tempo representado: "...pela velocidade de relógios, calendários e horários, ostenta nessa sociedade as propriedades que fomentam coações que o indivíduo impõe a si mesmo. A pressão dessas coações é relativamente pouco apreendida, medida, equilibrada e pacificada, porém, onipresente e inevitável", (Elias, 1989, p. 32). Uma organização temporal pautada pela auto-coação necessitou de disciplina até ser incorporada na subjetividade. Para Elias (1989, p. 21), "a transformação da coação externa da instituição social do tempo em uma pauta de auto-coação que abarca toda a existência do indivíduo é um exemplo gráfico da maneira como o processo civilizador contribui para modelar uma atitude social que forma parte integrante da estrutura da personalidade do indivíduo”. Isso significa que com o "processo civilizador", a coação externa transformou-se em auto-coação e o tempo passou a impor seu domínio não apenas externamente, mas principalmente internamente. Nesse caso, o questionamento de Elias (1987) é: "Como acontece isso, que nós constantemente pensamos sobre o tempo? Que tempo tornou-se parte de nossa consciência? Nós vivemos constantemente a lembrança que agora é meio-dia e logo será uma hora...". O conhecimento dividido em áreas previamente estabelecidas e sem correlações entre si pode dificultar o estudo daqueles que têm no tempo seu objeto de investigação. Mas parece que, "Estudar o tempo pode talvez contribuir para corrigir esta imagem errônea de um mundo com compartimentos estanques. Estudo que se revela impossível, quando se escamoteia o eixo de que a natureza, a sociedade e os indivíduos estão mesclados e são interdependentes" (Elias, 1989, p. 25). Para superar a dicotomia das ciências e captar o tempo em toda multiplicidade, Elias (1989, p. 18) sugere o seguinte: "Uma ideia básica é necessária para entender o tempo: não se trata do homem e da natureza, como fatos separados, senão do homem na natureza. Com isso, fica facilitado o empenho de investigar o que significa o tempo e por entender a dicotomia do mundo em natureza (área de estudo das ciência naturais) e sociedades humanas (área de estudo das ciências humanas e sociais) conduzem a uma cisão de mundo, que é produto artificial de um desenvolvimento científico errôneo”. 5 Como categoria que não deve ser restrita a nenhuma disciplina em especial, mas que, faz parte do conhecimento humano como um todo, o tempo nos desafia na construção de meios que possam superar a divisão das ciências e integrar homem e tempo. Textos de Elias (1984, 1989, 1993, 1994) não trazem uma sistematização teórica fechada sobre tempo e nem pretendem esgotar a riqueza do tópico. Pelo contrário, Elias (1989, p. 180) já alerta sobre perigos de estabelecer uma psicologia ou sociologia do tempo e novamente reproduzir a cisão ideológica da ciência. Somente quando se questiona a divisão de saberes, a falta de instrumentos teóricos, conceituais e processuais, nos estudos do tempo é que se tem maior clareza das questões que não foram apontadas e continuam recebendo pouca atenção de nossa parte. Como Elias (1989, p. 97) mesmo afirma: “na prática das sociedades humanas, os problemas de determinação do tempo desempenham um papel de importância crescente; nas teorias sociais, a atenção consagrada aos temas da determinação do tempo é relativamente mínimo". Sendo o tempo denominador comum das atividades, organizador do acontecer, regulador da vida cotidiana e de um número cada vez maior de ações e em redes cada vez mais complexas, não é à toa que seja apontado como uma das grandes construções da humanidade. O que talvez não tenha sido previsto é que esse organizador das relações sociais, assim como qualquer outra invenção humana, também pudesse ser usado como instrumento de controle social. Captar a ambiguidade do tempo como necessário para a vida em sociedade e também como possível causador de sofrimento para a mesma, é buscar compreendê-lo em seus múltiplos aspectos e dinâmicas. Nesse sentido, a Psicologia Social tem muito a contribuir para a compreensão das redes de relações entre experiência e disciplina do tempo; de modo que "...compreender sua própria experiência do tempo é, também, compreender a si mesmo" (Elias (1989, p. 217). Notas * - Doutoranda em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Especialista em Psicologia Organizacional e do Trabalho pela Universidade Estadual de Londrina. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Elias, N. (1989). Sobre el tiempo. 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