X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 Núcleo Regional Sul Efeitos e Persistência da Escarificação Mecânica em Atributos Físicos de um Solo Argiloso sob Plantio Direto Gilmar Luiz Mumbach(1); Micael S. Mallmann(1); Douglas R. Kaiser(2); Valéria O. Portela(1); Élcio B. Bonfada(1); José L. P. Rauber(1) (1) Acadêmicos do curso de Agronomia da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo: [email protected]; da Universidade Federal da Fronteira Sul; (2) Professor RESUMO– A escarificação mecânica do solo é uma das principais ferramentas utilizadas no sistema plantio direto para minimizar os efeitos da compactação. No entanto, seus resultados positivos normalmente são perdidos em um curto espaço de tempo. O objetivo do estudo foi identificar o efeito da escarificação mecânica nos atributos físicos do solo e a sua persistência ao longo do tempo. Para isto, foram realizadas três avaliações no decorrer do estudo, sendo: condição inicial sob Plantio Direto (PD), após a escarificação do solo (ESC) e um ano após a escarificação (1-ESC). Para avaliar o efeito nos atributos físicos do solo, efetuaram-se coletas de amostras de solo, com estrutura preservada, em quatro camadas do solo: 0 a 10; 10 a 20; 20 a 30; 30 a 40cm de profundidade, e realizadas avaliações de densidade (Ds), porosidade total (PT), microporosidade (Mic) e macroporosidade (Mac). A escarificação melhorou os atributos físicos avaliados, reduzindo a densidade, e aumentando a macroporosidade e porosidade total logo após a sua realização. Conclui-se que a escarificação perde seu efeito um ano após a sua realização. Palavras-chave: Desestruturação. Preparo mínimo; Compactação; INTRODUÇÃO–A implantação do sistema de plantio direto no Brasil, visando inicialmente a redução da erosão gerada pela sucessão trigo-soja na região Sul (Kochhann & Denardim, 2000), proporcionou diversos benefícios, tanto em termos de produtividade como na qualidade do solo, trazendo melhorias aos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. No entanto, devido a um manejo inadequado do sistema, onde preceitos fundamentais como a manutenção do solo coberto permanentemente com resíduos vegetais e a realização de uma correta rotação de culturas não são respeitados, tendo-se assim a intensificação da ocorrência de problemas como a compactação, que juntamente com o tráfego indiscriminado de maquinas e/ou animais, resultam na redução do potencial produtivo do solo (Denardim, et al., 2008). A compactação é resultado da alteração em diversos atributos do solo, como o aumento da densidade, redução da macroporosidade e porosidade total, aumento da resistência do solo à penetração, redução da infiltração de agua, dentre outros fatores. O aumento da densidade de solos agrícolas cultivados causa diversos prejuízos, entre eles a compactação, que por consequência culminam na redução da permeabilidade, da continuação de poros e da porosidade, assim como a disponibilidade de água e nutrientes (Streck et al., 2004). A elevação da densidade é proveniente do tráfego de máquinas e implementos agrícolas, pisoteio animal, uso intensivo do solo e adoção de sistemas de manejo agrícolas inadequados (Reinert et al., 2008). A prática da escarificação em solos cultivados sob plantio direto vem sendo utilizada atualmente como ferramenta para redução dos efeitos compactadores no solo. No entanto, uma grande dúvida que persiste é a duração dos efeitos da escarificação sobre as propriedades físicas do solo. Vieira & Klein (2007), avaliando os efeitos de uma escarificação de solo sob plantio direto, destacaram que os efeitos positivos da escarificação podem ocorrer apenas nos dois primeiros anos após a pratica; dentre os principais benefícios destacou-se o aumento da condutividade hidráulica do solo saturado e a melhoria na infiltração de agua. Comparando a capacidade de redução da compactação do solo pela escarificação mecânica e biológica, Nicoloso et al. (2008) encontrou apenas melhorias temporárias promovidas pela escarificação mecânica, não sendo observados efeitos benéficos após transcorridos nove meses da realização da pratica. Em relação a utilização de plantas de cobertura, como nabo-forrageiro e aveia-preta em consorciação, observaram-se efeitos mais prolongados, com aumento da macroporosidade e melhoria na infiltração de agua, além da redução da resistência do solo à penetração. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo avaliar o efeito da escarificação mecânica do solo sobre alguns atributos físicos no decorrer de um ano após a realização da pratica agrícola. MATERIAL E MÉTODOS– Para atender os objetivos propostos, implantou-se um experimento na área experimental da Universidade Federal da Fronteira Sul, campus Cerro Largo, RS. O solo da área experimental pertence à Unidade de Mapeamento Santo Ângelo, X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Núcleo Regional Sul Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 classificado como Latossolo Vermelho distroférrico típico (Embrapa, 2009), cultivado com sistema plantio direto há cerca de 20 anos. O solo possui 580 g kg-1 de argila, 324 g kg-1 de silte e 93 g kg-1 de areia na camada de 0 a 30 cm, pertencendo a classe textural argilosa. O delineamento experimental utilizado foi o modelo blocos ao acaso, com três tratamentos e quatro repetições. As parcelas possuíam dimensões de 10 x 10m. Logo após a escarificação implantou-se a cultura do milho safrinha e no inverno utilizou-se aveia para cobertura. Os tratamentos avaliados foram: Condição inicial do solo (PD), após a escarificação do solo (ESC), e um ano após a escarificação do solo (1-ESC). Para a escarificação do solo foi utilizado um escarificador de 7 hastes, espaçadas 0,3m entre si, sem limitação de profundidade de trabalho. Para avaliar o efeito da escarificação sobre a densidade do solo(Ds), a macroporosidade (Mac), a microporosidade (Mic), a porosidade total (PT), amostras de solo com estrutura preservada foram coletadas nas camadas de 0 a 10cm; 10 a 20cm; 20 a 30cm e 30 a 40cm em anéis metálicos com 4 cm de altura e 6 cm de diâmetro. Em laboratório as amostras foram inicialmente preparadas, tirando-se o excesso de solo e saturadas por capilaridade, pesadas e colocadas em mesa de tensão de areia, para determinar a macroporosidade e a microporosidade do solo. Por fim, as amostras foram colocadas em estufa a uma temperatura de 105°C até atingirem peso constante, para calcular a densidade do solo e demais parâmetros físicos. Essas determinações foram feitas seguindo-se a metodologia descrita em Embrapa (2007). Os dados obtidos foram submetidos a análise da variância pelo teste F, e as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5 % de probabilidade de erro. RESULTADOS E DISCUSSÃO - A escarificação reduziu a densidade do solo (Tabela 1), diferindo na camada superficial, até 10cm de profundidade, dos demais tratamentos. Isto deve-se a desestruturação do solo ocasionada pelo movimento do escarificador no solo. Na segunda camada avaliada, embora não significativo, ocorreu redução da densidade do solo quando comparada com a condição inicial. No entanto, destaca-se que, em todas as camadas avaliadas, a perda da eficiência da escarificação um ano após sua realização. Este efeito ocorreu devido ao poder de resiliência do solo, onde o solo tende a voltar a condições iniciais e também pela desestruturação causada pelo implemento no solo, que pelo tráfego de máquinas e ao crescimento de raízes, acarretam em um aumento da densidade do solo. Resultados similares foram encontrados por Drescher et al. (2011), onde a melhoria dos atributos físicos avaliados, como redução da densidade e aumentos na porosidade total e macroporosidade, foram apenas temporários, retornando o solo a sua condição original num período de até dois anos. A duração dos efeitos positivos proporcionados pela escarificação podem ainda ser menores, como relatado em estudo desenvolvido por Ralisch et al. (2001), onde em apenas uma safra os atributos avaliados retornaram a sua condição inicial. Tabela 1. Densidade de uma Latossolo Vermelho (Mg m-3) submetido a escarificação mecânica em diferentes profundidades (cm). Prof. 0 -10 10 - 20 20 -30 30 - 40 PD 1,65 ab 1,40 a 1,32 a 1,33 a ESC 1,14 b 1,30 a 1,30 a 1,24 a 1-ESC 1,30 a* 1,39 a 1,38 a 1,32 a * Médias seguidas de mesma letra, na horizontal, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Apesar ocorrer diferença na porosidade total do solo (Tabela 2) entre os tratamentos, verifica-se maior porosidade total logo após a intervenção em todas as camadas avaliadas. Um ano após a escarificação, não se observa mais resultados. Maior porosidade total logo após a escarificação deve-se a desestruturação do solo ocasionada pelo implemento e pela redução da densidade. Tabela 2. Porosidade total do solo (m3 m-3submetido a escarificação mecânica em diferentes profundidades (cm). Prof. 0 -10 10 - 20 20 -30 30 - 40 PD 0,55 0,50 0,54 0,53 a* a a a ESC 0,59 a 0,54 a 0,54 a 0,56 a 1-ESC 0,54 a 0,50 a 0,51 a 0,54 a * Médias seguidas de mesma letra, na horizontal, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Embora não ocorreu diferença entre os tratamentos, a escarificação aumentou a macroporosidade do solo logo após a sua realização (Tabela 3). Nos primeiros 20cm de profundidade ocorreram os maiores aumentos. Um ano após a prática, a macroposidade tendeu a valores similares aos encontrados antes da escarificação. Tal redução deve-se ao adensamento que ocorre entre os agregados, devido às condições climáticas, como precipitação e ciclos de umedecimento e secagem, ao tráfego de máquinas e ao crescimento radicular de plantas. Tabela 3. Macroporosidade de um Latossolo Vermelho (m3 m-3) submetido a escarificação mecânica em diferentes profundidades (cm). Prof. 0 -10 10 - 20 PD 0,14 a* 0,11 a ESC 0,20 a 0,16 a 1-ESC 0,15 a 0,10 a 2 X Reunião Sul-Brasileira de Ciência do Solo Fatos e Mitos em Ciência do Solo Pelotas, RS - 15 a 17 de outubro de 2014 20 -30 30 - 40 0,12 a 0,09 a 0,11 a 0,13 a 0,08 a 0,09 a * Médias seguidas de mesma letra, na horizontal, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. De acordo com os dados apresentados na tabela 4, não observaram-se efeitos da escarificação na microporosidade do solo entre os tratamentos. Nos três tratamentos avaliados, a microporosidade elevou-se com a profundidade, o que pode ocorrer devido o maior acúmulo de argila nestas camadas. Um ano após a intervenção, constata-se que a microporosidade tende a voltar as condições encontradas antes da escarificação. Este resultado pode ser explicado pela ocorrência de um adensamento das partículas de solo condicionado pelas condições climáticas, crescimento radicular de plantas e pelo tráfego de máquinas. Tabela 4. Microporosidade de um Latossolo Vermelho (m3 m-3) submetido a escarificação mecânica em diferentes profundidades (cm). Prof. 0 -10 10 - 20 20 -30 30 - 40 PD 0,41 a* 0,40 a 0,42 a 0,44 a ESC 0,38 a 0,39 a 0,43 a 0,43 a 1-ESC 0,39 a 0,41 a 0,43 a 0,44 a * Médias seguidas de mesma letra, na horizontal, não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. CONCLUSÕES - A escarificação melhora alguns atributos físicos do solo, como a densidade e a porosidade total, logo após a sua realização. O efeito da escarificação é efêmero, inferior a doze meses. O efeito da escarificação pode ser observado até 20cm de profundidade. A escarificação só apresenta resultados positivos nos atributos avaliados na camada superficial do solo. REFERÊNCIAS BRAIDA, J. A. et al. Matéria orgânica e seu efeito na física do solo. Tópicos em Ciência do Solo. v. 7, p. 221-278, 2011. CAMARA, R. KLEIN, V. Escarificação em plantio direto como técnica de conservação do solo e da água. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 29, n. 5, p. 789-796, 2005. DENARDIM, J. FAGANELLO, A. SANTI, A. Falhas na implantação do sistema de plantio direto levam a degradação do solo. Revista Plantio Direto, v. 18, p. 33-34, 2008. Núcleo Regional Sul EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de solos. Sistema brasileiro de classificação de solos, 3º edição, Rio de Janeiro: CNPS, 2009. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análise de Solo. Rio de Janeiro, 2.ed. 212p., 1997. KOCHHANN, R.A. & DENARDIN, J.E. Implantação e manejo do sistema plantio direto. Passo Fundo, EMBRAPACNPT,2000. 36p. MAZURANA, M. et al. Sistemas de preparo de solo: alterações na estrutura do solo e rendimento das culturas. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 35, p. 1197-1206, 2011. NICOLOSO, R. et al. Eficiência da escarificação mecânica e biológica na melhoria dos atributos físicos de um Latossolo muito argiloso e no incremento do rendimento da soja. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 32, n. 4, p. 1728-1734, 2008. RALISCH, R. et al. Avaliação de um solo argiloso sob plantio direto e de uma escarificação na evolução da resistência do solo a penetração. Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, Foz do Iguaçu, v. 30, 2001. REINERT, D.; et al. Limites críticos de densidade do solo para o crescimento de raízes de plantas de cobertura em argissolo vermelho. Revista brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.32, p. 1805-1816, 2008. SECCO, D. REINERT, D. Efeitos imediato e residual de escarificadores em Latossolo Vermelho-Escuro sob plantio direto. Eng. Agric. Jaboticabal, v. 16, n. 3, p. 52-61, 1997. SILVEIRA, P. Alterações na densidade e na macroporosidade de um Latossolo Vermelho-Escuro causadas pelo sistema de preparo do solo. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 29, n. 2, p. 145-149, 1999. SILVEIRA, P. et al. Efeitos do manejo do solo sob plantio direto e de culturas na densidade e porosidade de um Latossolo. Biosci. J., Uberlândia, v. 24, n. 3, p. 53-59, 2008. STRECK, C. A. et al. Modificações em propriedades físicas com a compactação do solo causada pelo tráfego induzido de um trator em plantio direto. Ciência Rural, v. 34, n. 3, de 2004. VIEIRA, M.L.; KLEIN, V.A. Propriedades físico-hídricas de um Latossolo Vermelho submetido a diferentes sistemas de manejo. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v.31, p.1271-1280, 2007. DRESCHER, M. et al. Persistência do efeito de intervenções mecânicas para a descompactação de solos sob plantio direto. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 35, p. 17131722, 2011. 3