LIXIVIAÇÃO DE POTÁSSIO EM FUNÇÃO DE LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO EM DOIS SOLOS DE TEXTURAS CONTRASTANTES 1 Walter da Costa MENDES1; José ALVES JUNIOR1; Paulo César Ribeiro da CUNHA2, Adão Wagner Pego EVANGELISTA1, Derblai CASAROLI1 Programa de Pós-Graduação em Agronomia – PPGA. Universidade Federal de Goiás. E- mail: 2 [email protected]; [email protected]. Instituto Federal Goiano – Câmpus Urutaí. E mail: [email protected] PALAVRAS CHAVE: Adubação, perda de nutriente, teor de argila. AGÊNCIA FINANCIADORA DA PESQUISA Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Goiás - FAPEG Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES INTRODUÇÃO Os solos do Cerrado têm sido explorados de forma intensiva desde os primórdios de 1970 e, atualmente agrega as áreas mais importantes do país na produção de grãos e de carne. No Cerrado os solos são originalmente ácidos e pobres em nutrientes essenciais para as plantas (Vendrame et al., 2010). O cultivo nessas áreas é viabilizado com correção do solo e aplicação de fertilizantes químicos. Um dos problemas que ocorrem, em razão do uso intensivo de fertilizantes em sistemas de cultivo, é a lixiviação; fenômeno que envolve complexa interação entre hidrologia do solo, absorção de água e nutrientes pelas plantas, e práticas de manejo (Van Es et al., 2006). Nesse sentido, cabe destacar que quando aplicados sem critérios técnicos, os fertilizantes podem ocasionar poluição das águas e do solo, constituindo um dos mais sérios problemas ecológicos decorrentes da atividade agrícola na atualidade. Esses fertilizantes contêm grandes concentrações de nitrogênio (N) e potássio (K). Moraes &Dynia (1992) consideraram o potássio como o cátion mais facilmente lixiviado, devido ao seu deslocamento para a solução do solo e à sua percolação, principalmente em solos arenosos. Há necessidade de desenvolver técnicas de cultivo adequadas aos diversos sistemas de produção no Cerrado; devem-se considerar as peculiaridades de cada sistema, visto que estes apresentam atributos químicos e físico-hídricos próprios. A literatura aponta perdas por lixiviação de potássio na ordem de 50 a 70% (Auoada et al., 2008; Wu & Liu, 2008), quando aplicados de forma inadequada aos solos (Sousa & Rein, 2009). Rosolem & Nakagawa (2001) observaram que a lixiviação de potássio, no perfil de um solo de textura média, aumentou muito, quando foram aplicadas doses de K2O acima de 80 kg ha-1 por ano, independentemente do modo de aplicação do fertilizante. Nesse contexto, este trabalho foi executado com objetivo de avaliar a influência de lâminas de água aplicadas em dois solos de texturas contrastantes, com diferentes conteúdos de argila, sobre a lixiviação de potássio em colunas indeformadas de solo. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido no período de março a agosto de 2014, em condições controladas na casa de vegetação do setor de Olericultura do Câmpus Urutaí do Instituto Federal Goiano., Para isso, foram usadas colunas indeformadas contendo dois solos de texturas contrastantes, arranjadas em blocos completos casualizados com três repetições. A coleta de solo foi realizada utilizando-se tubos de PVC, com 35 cm de altura, 14,4 cm de diâmetro interno e 3 mm de espessura de parede, que foram introduzidos verticalmente no solo até 30 cm de profundidade. O solo argiloso com 45,2% de argila, 42,0% de areia e 12,8% de silte, foi obtido na área do pivô central do IF Goiano - Câmpus Urutaí, Goiás, a 17° 28’ 41” S e 48º 11’ 35” O e altitude de 823 m. O solo arenoso com 23,1% de argila, 68,2% de areia e 8,7% de silte, foi obtido em área agrícola tradicional no município de Ipameri, Estado de Goiás, a 17° 40’ 53” S e 48º 17’ 11” O e altitude de 838 m. O clima das áreas, conforme classificação de Köppen é do tipo Cwa, caracterizado como tropical de altitude, com inverno seco e verão quente e chuvoso. Após a coleta, as colunas de solo foram armazenadas em laboratório para perda de umidade e consequente contração do solo, com o propósito de criar um espaço entre a parede interna do tubo de PVC e a coluna de solo, este espaço foi vedado na sua porção superior com silicone, com o objetivo de impedir que a água de percolação formasse um fluxo preferencial através da parede do tubo. O fundo das colunas foi vedado com uma tampa de PVC, que tinha no centro um orifício de 0,5 cm de diâmetro, onde foi conectada uma mangueira plástica de igual diâmetro, a fim de direcionar o fluxo do lixiviado. As colunas foram acondicionadas em suporte de madeira, de maneira a permitir o posicionamento dos frascos de coleta abaixo das mesmas. Após montagem das colunas, o solo foi umedecido por meio da obstrução dos drenos e aplicado de forma contínua uma lâmina de água deionizada de 30 mm durante 12 h. Dois dias após a umidade no solo ter retornado à capacidade de campo (CC) foi realizada a adubação nas colunas. Sendo aplicado em cada coluna a quantidade de 0,52 gramas de cloreto de potássio, o que equivale a 192 kg ha-1 de K. Essa quantidade equivalente a três vezes a dose normalmente aplicada em condições de campo, com o objetivo de simular uma alta carga do elemento mineral em solução (Bertol et al., 2010). Sobre as colunas adubadas foram aplicadas quatro lâminas de água deionizada, equivalentes a 50%, 100%, 150% e 200% da lâmina de água obtida pela diferença de massa da coluna do tratamento 100%. Essa diferença foi calculada entre a massa da capacidade de campo e o momento de se realizar a aplicação das lâminas de água. As irrigações foram realizadas a cada três dias por um período de oitenta e um dias. Na solução coletada a cada três dias, foram determinados diretamente, sem filtragem ou digestão, o pH, a condutividade elétrica e o cloreto de potássio (KCl) lixiviado. RESULTADOS E DISCUSSÕES O Cloreto de Potássio teve maior mobilidade vertical no solo arenoso do que no solo argiloso, principalmente nos tratamentos que receberam maiores lâminas de água, 150 e 200%. Nas colunas de solo arenoso que receberam lâminas equivalentes a 150% da água evaporada da coluna, observou-se lixiviação de 104 mg dm-3 de KCl aos 43 dias após a primeira irrigação, no tratamento com 200% de lâmina evaporada, foram lixiviados 110 mg dm-3 de KCl aos 31 dias após a primeira irrigação (Figura 1). No solo argiloso a quantidade de KCl lixiviado no tratamento com lâmina de 200% da água evaporada, foi de 16 mg dm-3 de KCl aos 73 dias após a primeira irrigação e no tratamento com 150%, foi de apenas 11 mg dm-3 aos 82 dias após a primeira irrigação (Figura 1). Cloreto de Potássio lixiviado KCl lixiviado (mg dm-3) 120 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 T100ARG T150ARG T200ARG T100ARE T150ARE T200ARE 1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 Dias após primeira irrigação Figura 1. Cloreto de Potássio no lixiviado (mg dm-3) em solo argiloso e arenoso em função de lâminas crescentes de água.100, 150 e 200 representam a % de água aplicada por irrigação com base na diferença de massa da coluna irrigada a 100%; ARG e ARE caracterizam o tipo de solo, argiloso 45,2% de argila e arenoso 68,2% de areia. Os tratamentos com 50% de lâmina de água, tanto do solo argiloso como do arenoso foram retirados do gráfico, pois não houve lixiviação nestes tratamentos. O total de potássio lixiviado nos tratamentos com 200% de lâmina de água, foi seis vezes maior no solo arenoso em comparação ao solo argiloso. Já nos tratamentos com 150% de lâmina de água, a quantidade de potássio lixiviado no solo arenoso em comparação ao solo argiloso, foi quatorze vezes superior (Figura 2). Potássio lixiviado mg 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 T050ARG T100ARG T150ARG T200ARG T050ARE T100ARE T150ARE T200ARE Figura 2. Total de Potássio no lixiviado (mg) em solo argiloso e arenoso.100, 150 e 200 representam a % de água aplicada por irrigação com base na diferença de massa da coluna irrigada a 100%; ARG e ARE caracterizam o tipo de solo, argiloso 45,2% de argila e arenoso 68,2% de areia. CONCLUSÕES A movimentação de Cloreto de Potássio variou em função do tipo de solo e das lâminas de irrigação, sendo que a maior movimentação ocorreu no solo de textura arenosa e a quantidade de Potássio lixiviado aumentou com os maiores percentuais de irrigação. REFERÊNCIAS AUOADA, F. A.; MOURA, M. R.; MENEZES, E. A.; NOGUEIRA, A. R. A.; MATTOSO, L. H. C. 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