AVALIAÇÃO DA CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA EM SOLO ARGILOSO PARA DIFERENTES CONCENTRAÇÕES DE SOLUÇÃO DE NANOFERRO Eloisa Fernanda Tessaro Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade de Passo Fundo [email protected] Bruna Bilhar Dall’Agnol Acadêmica do Curso de Engenharia Ambiental na Universidade de Passo Fundo [email protected] Cleomar Reginatto Doutorando em Engenharia UFRGS/UPF [email protected] Antonio Thomé Professor da Universidade de Passo Fundo [email protected] Resumo. Existem no mundo inúmeras áreas contaminadas e continuamente se buscam novas tecnologias para remediação destes locais. Nanoparticulas de ferro zero valente (NP), tem sido utilizadas para recuperar áreas contaminadas por diversos contaminantes devido ao seu alto potencial reativo e por não gerar subprodutos tóxicos pelo seu uso. Porém ainda não se sabe a concentração ideal a ser utilizada no solo, já que em função do pequeno tamanho estas partículas ficam retidas e reduzem a condutividade hidráulica natural do meio, tornando-se indisponíveis para reduzir o contaminante. Foram montadas colunas de parede flexível, com corpos de prova indeformados de 5x5 cm, e foram testadas diferentes concentrações de nanoferro, verificando a variação da permeabilidade do solo. Através do ensaio de coluna conclui-se que concentrações de 1g/L e 4g/L não afetaram significativamente a condutividade hidráulica do solo, tornando possível a remediação. Palavras-chave: Nanoferro, Remediação e Nanotecnologia. 1. INTRODUÇÃO Acidentes envolvendo o derramamento de substâncias químicas no solo tem sido cada vez mais frequentes, resultando na contaminação do solo e água subterrânea gerando preocupação aos órgãos ambientais, visto que essa contaminação promove riscos à saúde humana, o que torna necessário intervenções que impulsionam o aprimoramento de técnicas de remediação. Dentre essas técnicas, a utilização de nanopartículas de ferro metálico tem se destacado por conta da sua grande área superficial que facilitam reações que associadas à capacidade do ferro de valência zero de reduzir compostos, tornam nanopartículas de ferro uma promissora forma de remediar solo e águas através da imobilização de contaminantes. Segundo Crane and Scott (2012), as partículas precisam ter alta reatividade para remover contaminantes, além de mobilidade suficiente em meio poroso e baixa toxicidade. A baixa mobilidade das nanopartículas é atribuída à elevada energia de superfície ocasionando a aglomeração das partículas. Considerando a necessidade das XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil nanopartículas se dispersarem no solo, mecanismos que favoreçam a mobilidade são propostos, dentre eles o envolvimento dessas partículas com materiais que a tornem menos reativa, denominados estabilizantes. De acordo com Schrick et al. (2002), esta técnica denomina-se “Coating”. Ainda não foi definida a concentração de nanoferro mais adequada para sua utilização na remediação, já que esta influencia na permeabilidade do solo e na disponibilidade do agente redutor no meio. Uma vez que as NPs tem tamanho inferior aos poros, ao longo do tempo ocorre a retenção destas, ocasionando a formação de agregados que simulam um filtro e reduzem a permeabilidade do solo. Neste trabalho, objetivou-se avaliar a condutividade hidráulica de um solo argiloso em diferentes concentrações de nanoferro. 2. MATERIAIS E MÉTODOS solo, bem como as interações deste com o meio. Nesse ensaio o corpo de prova é confinado através da inundação do reservatório no qual ele se encontra, sendo saturado com água destilada, e logo após a solução com agente redutor é forçada á percolar através dele, sendo coletado o percolado para posterior análise que permite avaliar a condutividade hidráulica do solo. A Figura 1 apresenta o equipamento montado. As três colunas apresentadas na parte “1” da Figura são preenchidas com solução de nanoferro e ligadas ao corpo de prova; na parte “2” está o reservatório no qual os corpos de prova estão inseridos; e na parte “3” está a coluna d’água através da qual é aplicada a pressão confinante. Os corpos de prova permanecem envoltos por uma membrana flexível, que o impermeabiliza e ao mesmo tempo permite receber as pressões de confinamento e interna sem que ocorra a deformação. 2.1 Local de Estudo e Solo A pesquisa foi realizada no Laboratório de Geotecnia Ambiental, situado no Centro de Tecnologia (CETEC) da Universidade de Passo Fundo, no município de Passo Fundo. Foram moldados corpos de prova indeformados de solo argiloso coletado a 1,2 metros de profundidade (horizonte B) em uma trincheira aberta no solo do campo experimental de Geotecnia. O mesmo é derivado de rocha basáltica e apresenta como principais características: Umidade natural: 34%, Peso Específico real: 26,7 kN/m³, Limite de liquidez: 53%, Limite de plasticidade: 42%, Grau de saturação: 75,7%, pH H2O: 5,4, Matéria Orgânica: <0,8%, 2.2 Equipamento de Coluna O ensaio foi realizado em coluna de parede flexível, montado seguindo a norma ASTM D4874 (1995). O ensaio de coluna permite avaliar a condutividade hidráulica de diferentes concentrações de um composto no Figura 1: Equipamento de coluna. 2.4 Solução de Percolado A solução de percolado utilizada nos ensaios era de nanoferro comercial, da empresa NANO IRON, s.r.o., com o nome comercial de Nanofer 25S, contendo estabilizante na composição para facilitar a mobilidade do nanoferro. As partículas de Nanoferro são compostas por 14 a 18% de Ferro(Fe); 2 a 6% de Magnetita(Fe3O4); 0 a 1% de Carbono(C); 77% de Água e 3% de Estabilizante. 2.3 Delineamento Experimental XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil Foi realizada uma série de ensaios, nos quais foi percolada uma solução contendo concentrações de 1g/L, 4g/L, 7g/L e 10g/L de nanoferro, a fim de avaliar o valor que não interfere na condutividade natural do solo. A solução foi percolada de forma ascendente através do corpo de prova com dimensões de 5x5 cm. A pressão utilizada para confinamento foi 30 kPa, enquanto a pressão interna foi de 10 kPa, gerando um gradiente hidráulico de 20. Diferentes amostras da solução de nanoferro percolada foram coletadas em diferentes tempos no decorrer do experimento, finalizando a coleta após passar em torno de 18 volumes de vazios para concentrações de 1g/L e 4g/L, e 7 volumes de vazios para concentrações de 7g/L e 10g/L. 2. RESULTADOS E DISCUSSÕES Foi observado um descréscimo na permeabilidade do solo conforme as concentrações de nanoferro aumentaram. Os gráficos abaixo apresentam valores de condutividade hidráulica em função do tempo de ensaio. Na Figura 2, está apresentado o gráfico para a concentração de 1g/L. Se observa que ocorreu uma baixa variação, de 8,84.10-4 á 5,31.10-4 cm/s. A solução de nanoferro foi passada 18 vezes o volume de vazios do corpo de prova, demonstrando baixa redução na condutividade. Figura 2: Condutividade hidráulica para concentração 1g/L. Na Figura 3 (4g/L), pôde-se observar uma redução de 1,03.10-3 para 1,94.10-4 em 18 vezes o volume de vazios, mostrando-se semelhante ao que ocorreu na solução de concentração 1g/L. Figura 3: Condutividade hidráulica para concentração 4g/L. Na Figura 4 se observa que, com solução de concentração 7g/L, foi possível passar apenas 6 vezes o volume de vazios, o que caracterizou uma significativa redução da permeabilidade do solo. Figura 4: Condutividade hidráulica para concentração 7g/L. A Figura 5 apresenta valores de condutividade para concentração de 10 mg/L. É notável que a permeabilidade foi fortemente influenciada pela alta concentração da solução, de modo que esta caiu de 6,04.10-4 para 2,58.10-5; caracterizando a colmatação do solo. A permeabilidade do solo diminuiu conforme o aumento da concentração da solução de nanoferro. O tamanho das partículas possibilita a sua injeção diretamente no subsolo, porém facilita a aglomeração de partículas que se acumulam nos poros de solo e ocasionam a perda de suas propriedades como nanomaterial. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil colmatação do aglomerados. solo e formação de REFERÊNCIAS AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM. D4874: Standard Test Method for leaching solid material in a Column Apparatus. Philadelphia, 1995. Figura 5: Condutividade hidráulica para concentração 10g/L. Solução com altas concentrações de nanoferro propiciam o depósito das partículas nas primeiras camadas do solo, de modo que as aglomerações dessas partículas atuam como um filtro, impossibilitando a entrada da solução redutora em camadas mais profundas do solo. Isto acaba influenciando negativamente na remediação, já que quando a condutividade do solo é afetada, as partículas ficam retidas, estando assim indisponíveis para reagir e degradar os contaminantes. Agradecimentos Agradecemos ao Grupo de Pesquisa em geotecnia Ambiental UPF-UFRGS pela oportunidade e á FAPERGS e CAPES pelo fomento. 3. CONCLUSÃO Verificou-se uma significativa redução na condutividade hidráulica do solo com o aumento da concentração de nanoferro. Concentrações de 1g/L e 4g/L são apropriadas para a realização de remediação in situ, visto que nestas condições não ocorre a formação de aglomerados de partículas, conferindo ao nanoferro maior mobilidade entre os poros do solo para que reduza os contaminantes. Constatou-se a inviabilidade na utilização de concentrações de 7g/L e 10 g/L por conta da significativa redução da condutividade hidráulica, ocasionada pela CRANE, R.A.; SCOTT, T.B. 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XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil