5 Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA EM PACIENTES COM CÂNCER ASSISTIDOS PELO CENTRO DE TRATAMENTO DE CÂNCER DE DOURADOS EVALUATION QUALITY OF LIFE IN ONCOLOGY PATIENTS ATTENDED BY THE CENTER OF TREATMENT OF CANCER OF DOURADOS. LIMA, Thayana Oshiro de1; BORGES, Georgia Cristian2. Resumo A qualidade de vida é a perspectiva do indivíduo em relação aos seus objetivos, suas satisfações e preocupações, levando em conta o seu contexto cultural e o meio em que vive. Sendo assim, é um conceito amplo e subjetivo, o qual tem sido responsável pelo progresso das possibilidades terapêuticas e pela melhoria do prognóstico de diversos tipos de câncer. Objetivo: avaliar a qualidade de vida dos pacientes com câncer submetidos à quimioterapia, assistidos pelo Centro de Tratamento de Câncer de Dourados – MS. Materiais e métodos: foram entrevistados 20 pacientes, de ambos os sexos e que estavam a partir da segunda sessão de quimioterapia, através do instrumento de qualidade de vida EORTC QLQ-C30. Resultados: houve predominância do sexo feminino em relação ao masculino, sendo a média de idade encontrada de 51,65 anos. O câncer colorretal foi o mais freqüente, acometendo 50% dos pacientes, e em seguida o câncer de mama, representando 35%. O sintoma mais relatado foi a fadiga, correspondendo 39,99% dos casos. O item desempenho de papel e função emocional foram os requisitos que sofreram maiores influências negativas devido aos sintomas relatados, representando 43,33% e 47,49%, respectivamente. A medida global de qualidade de vida foi o item que obteve maior índice, 55% dos pacientes consideraram sua qualidade de vida “ótima”. Conclusões: observou-se que a maioria dos pacientes com câncer encontra-se com um nível elevado de qualidade de vida, o que auxilia nos resultados dos tratamentos, aumentando a sobrevida dos mesmos e a possibilidade de cura. Palavras-chave: qualidade de vida, câncer e quimioterapia. Abstract The life quality is the individual's perspective in relation to their objectives, their satisfactions and concerns, taking into account that's cultural context and the middle in that habitat lives. Being like this, it is a wide and subjective concept, which has been responsible for the progress of the therapeutic possibilities and for the improvement of the prognostic of several cancer types. Objective: to evaluate the quality of the patients' life with cancer submitted to the chemotherapy, attended by the Center of Treatment of Cancer de Dourados - MS. Material and Methods: 20 were interviewed patient, of both sexes and that were starting from the second chemotherapy session, through the instrument of life quality EORTC QLQ-C30. Results: there was female predominance in relation to the masculine, being the average of found age 51,65 years old. The cancer colorrectal was the most frequent, attacking 50% of the patients, and soon afterwards the breast cancer, representing 35%. The symptom more told was the fatigue, corresponding 39,99% of the cases. The item paper acting and emotional function were the requirements that suffered larger negative influences due to the told symptoms, representing 43,33% and 47,49%, respectively. The global measure of life quality was the item that obtained larger index, 55% of the patients considered his/her quality of "great" life. Conclusions: it was observed that most of the patients with cancer had a high level of life quality, what aids in the results of the treatments, increasing the life estimate of the patients and the cure possibility. Key-words: quality of life, cancer and chemotherapy. 1 Atualmente está graduando o curso de Farmácia no Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Fez estágio em farmácia de manipulação, na Farmácia Popular de Manipulação e em farmácia hospitalar, no Hospital da Cassemes. : [email protected] 2 Mestre em Ciências da Saúde, professora da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde, secretária executiva do Comitê de Ética com Seres Humanos da Unigran. [email protected] LIMA, Thayana Oshiro de; BORGES, Georgia Cristian. 6 Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 Introdução Indubitavelmente o câncer é um problema de saúde pública no Brasil, constitui a segunda causa de morte por doença no país, o que ressalta sua importância, impacto social e econômico. Além disso, acarreta em mudanças significativas no psicológico e em todos os âmbitos da vida de quem é portador da doença (INCA, 2002). As particularidades com relação ao diagnóstico da doença são características de diversos fatores. Segundo Otto (2002), o significado que um diagnóstico de câncer tem para um indivíduo em particular é altamente pessoal e deriva de diversas fontes, incluindo experiências anteriores com câncer, diferenças culturais, o tipo específico de câncer, o tratamento necessário e as respostas potenciais ao tratamento. Uma das modalidades de tratamento do câncer é a quimioterapia, a qual possui como principal desvantagem os efeitos colaterais resultantes. Isso ocorre pelo fato dos quimioterápicos não possuírem especificidade, assim essas drogas, além de agredir células tumorais, agridem também células normais, resultando nos efeitos colaterais, que predispõem o paciente a diversas complicações, reduzindo a qualidade de vida e mesmo a sobrevida (RIUL; AGUILLAR, 1999). O Grupo de Qualidade de Vida, da divisão de Saúde Mental da Organização Mundial de Saúde - OMS (Whooqol group) define qualidade de vida como "a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações" (FLECK, 1999). Contudo o termo qualidade de vida é mais geral e inclui uma variedade potencial maior de condições que podem afetar a percepção do indivíduo, seus sentimentos e comportamentos relacionados com o seu funcionamento diário, incluindo, mas não se limitando, à sua condição de saúde e às intervenções médicas (BULLINGER, 1993 et al., apud FLECK, 1999). Assim, a avaliação da qualidade de vida, a qual permeia diversos fatores, como os aspectos físicos, emocionais e econômicos, tem auxiliado de maneira eficaz as avaliações médicas dos efeitos colaterais causados pelos anti-neoplásicos. É fator responsável pelo progresso das possibilidades terapêuticas e pela melhoria do prognóstico de diversos tipos de câncer, que tem gerado o aumento da sobrevida do paciente com câncer nos últimos anos (CITERO et al., 2001). Portanto, faz-se importante a avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer, pois esta permite a identificação de problemas em diversas áreas, o que torna possível a alteração dos aspectos que influenciam negativamente no acompanhamento multidisciplinar do paciente (FRANZI; SILVA, 2003). A qualidade de vida dos pacientes com câncer pode ser influenciada por diversos parâmetros, podendo comprometer a saúde do indivíduo. Entretanto, sua avaliação possibilita o conhecimento do impacto da doença em dimensões que não incluem apenas questões biológicas, permitindo uma visão mais detalhada do tratamento. Assim, este estudo tem como objetivo avaliar a qualidade de vida dos pacientes com câncer assistidos pelo Centro de Tratamento de Câncer de Dourados – MS, através da análise dos indicadores de qualidade de vida nos pacientes submetidos à quimioterapia. Materiais e Métodos A coleta de dados da pesquisa foi realizada no Centro de Tratamento de Câncer da cidade de Dourados, através de entrevistas e da aplicação de um questionário para complementar dados sócio-demográficos e clínicos, como: endereço, telefone de contato, uso atual de medicamentos, religião. Conforme Paiva (2006). Após a complementação desses dados foi aplicado o instrumento EORTC LIMA, Thayana Oshiro de; BORGES, Georgia Cristian. 7 Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 QLQ-C30, utilizado por Paiva (2006) afim de avaliar a qualidade de vida dos indivíduos com câncer. A amostra foi composta por 20 pacientes, sendo esta a média de pacientes novos a cada mês. O recrutamento da amostra foi realizado a partir da terceira semana do mês de março de 2008, com pacientes de ambos os sexos e que se encontravam a partir da segunda sessão de quimioterapia, pois é a partir dessa fase que, geralmente, as reações adversas começam a se manifestar. A média de idade, nos pacientes em estudo, foi de 51,65 sendo a idade mínima apresentada 35 anos e máxima de 73 anos. Houve predominância do sexo feminino (65%) em relação ao sexo masculino (35%). Menezes et al. (2007) realizaram um estudo no qual relatam que a população feminina prevalece em todas as faixas etárias, fato conseqüente da maior expectativa de vida das mulheres e do aumento da taxa de mortalidade da população masculina. Características clínicas Resultados e Discussão Características sócio-demográficas Os dados referentes às características clínicas dos pacientes entrevistados estão delineados na tabela 1. Tabela 1 - Características clínicas dos 20 pacientes em tratamento quimioterápico do Centro de Tratamento de Câncer da cidade de Dourados/MS. Características n* fp** Tipo de câncer Colorretal 10 50 Mama 06 30 Pulmão 01 5 Fígado 01 5 Útero 01 5 Esôfago 01 5 * n = freqüência em números absolutos. ** fp = freqüência percentual. Com relação aos resultados clínicos da pesquisa, dos 20 pacientes entrevistados, 50% deles apresentavam câncer colorretal, o qual acomete o intestino grosso (cólon) e o reto. De acordo com Mendonça et al. (2008) este tipo de câncer é mais freqüente após os 50 anos de idade e com maior predominância em indivíduos do sexo masculino, fato que se assemelha ao encontrado no presente estudo, pois dos 50% dos pacientes que possuíam esse tipo de câncer 35% destes eram homens com idade superior a 50 anos. Dados do INCA (2008) revelam que o câncer de mama é o mais comum entre as mulheres, representando, a cada ano, cerca de 22% dos casos novos de câncer nessa população. Além disso, é o segundo tipo de câncer mais freqüente no mundo. O câncer de colo-retal representa o segundo tipo de câncer de maior prevalência no mundo, sendo o número de casos novos estimados para o Brasil, no ano de 2008, 12.490 casos em homens e 14.500 em mulheres. Características terapêuticas Verificou-se que dos 85% dos pacientes passaram por cirurgia, além do tratamento quimioterápico e/ou radioterápico. De acordo com Otto (2002) devido aos avanços nos processos cirúrgicos, os cuidados pós-operatório e a melhor compreensão dos mecanismos de desenvolvimento e progressão dos tumores, têm tornado possível a ressecção de tumores de praticamente qualquer parte do organismo. LIMA, Thayana Oshiro de; BORGES, Georgia Cristian. 8 Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 Resultados do Instrumento de Qualidade de Vida Na escala de sintomas a fadiga foi o item que obteve maior média, correspondendo a 39,99%. Segundo Centofanti et al. (2006) dentre os sintomas frequentemente apresentados pelos pacientes com câncer a fadiga é um dos mais relatados, podendo ocorrer como resposta às condições psicológicas e físicas preexistentes. Deste modo, os resultados encontrados estão de acordo com a literatura. Tabela 2 – Média e desvio padrão das escalas do instrumento de qualidade de vida, EORTEC QLQ C30, dos pacientes com câncer do Centro de Tratamento de Câncer de Dourados/MS. Itens de Escala Média (%) Desvio padrão Escalas Funcionais Função física 24,66 25,95 Desempenho de papel 43,33 38,76 Função emocional 47,49 31,30 Função cognitiva 12,49 19,40 Função social 31,66 22,22 Escalas de Sintomas Fadiga 39,99 45,37 Náuseas/vômitos 29,99 29,41 Dor 28,33 34,24 Sintomas Dispnéia 11,66 27,08 Insônia 34,99 39,69 Perda de apetite 34,99 39,69 Constipação 13,33 33,15 Diarréia 16,66 35,04 Dificuldade financeira 33,33 41,88 79,99 21,36 Medida Global de QV QV – qualidade de vida Há dois tipos de fadiga: a aguda e a crônica. A fadiga aguda é facilmente remediável, desaparecendo após um bom repouso, entretanto na fadiga crônica o cansaço permanece por mais tempo, reduzindo a funcionalidade do indivíduo e comprometendo assim sua qualidade de vida. Essa última acomete grande parte da população com doenças crônicas, ocorrendo em 40% dos pacientes em quimioterapia. As causas da fadiga na oncologia ainda estão em estudos, acredita-se que ela seja um efeito adverso do tratamento de quimioterapia e radioterapia ou uma conseqüência de outros sintomas como insônia, depressão, ansiedade e falta de apetite (MOTTA, 2002). Os demais sintomas comumente observados em pacientes com câncer como náuseas, vômitos, dor, insônia, perda de apetite e diarréia, interferem de forma significativa na função física, emocional, social e na realização das atividades, diárias e de lazer, desses indivíduos (FORTES, 2007). Nos pacientes em estudo o item desempenho de papel e a função emocional foram os requisitos que sofreram maiores influências negativas devido a esses sintomas, representando 43,33% e 47,49%, respectivamente. A média encontrada para o item de dificuldade financeira não foi significante, representando 33,33%, pois 90% dos pacientes do local da pesquisa são atendidos LIMA, Thayana Oshiro de; BORGES, Georgia Cristian. 9 Interbio v.3 n.2 2009 - ISSN 1981-3775 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sendo isentos ao pagamento do tratamento. Todavia, a dificuldade esta relacionada aos elevados custos dos medicamentos utilizados, a necessidade de recursos tecnológicos sofisticados e de uma equipe especializada para realização dos tratamentos, além da redução do potencial de trabalho humano decorrente da doença (ANDRADE, 2007). A medida global de qualidade de vida foi o item que obteve maior índice, 55% dos indivíduos analisados deram notas 6 e 7, numa escala que varia de 1 a 7, onde 1 é péssima e 7 excelente. Num estudo feito por Veloso (2001) utilizando o mesmo instrumento de avaliação da qualidade de vida da presente pesquisa, o resultado encontrado foi o mesmo, no qual mais da metade dos pacientes consideraram sua qualidade de vida “ótima”. Bertoncello (2004) menciona que há uma interação dinâmica entre os aspectos da qualidade de vida, pois se houver alteração em um dos domínios isso irá afetar a qualidade de vida como um todo. Fato que corrobora com os resultados encontrados, pois todos os itens que possivelmente afetariam a qualidade de vida dos pacientes apresentaram uma média baixa, o que levou a uma qualidade de vida satisfatória. acompanhamento farmacoterapêutico, visando à efetividade, segurança, posologia dos fármacos utilizados e suas possíveis interações com outros tipos de medicamentos, e quando preciso apontar as necessárias mudanças terapêuticas. E junto à equipe multidisciplinar deve-se estabelecer estratégias de intervenções para melhor compreensão dos aspectos psicossociais dos pacientes, garantindo assim uma assistência qualificada e uma melhor reabilitação. Referências Bibliográficas ANDRADE, M. Administração de quimioterápicos: uma proposta de protocolo de enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 60, n. 3, p. 331-335, 2007. BERTONCELLO, K. C. G. Qualidade de vida e a satisfação da comunicação do paciente após a laringectomia total: construção e validação de um instrumento de medida. Tese de doutorado. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. CENTOFANTI G. et al. Fadiga, depressão e qualidade de vida em pacientes com câncer de mama submetidos à quimioterapia. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 18, n. 4, 2003. CITERO, V. A. et al. Interconsulta psiquiátrica e oncológica: interface em revisão. Departamento de Psiquiatria e Psicologia do Centro de Tratamento e Pesquisa do Hospital do Câncer A. C. Camargo. São Paulo, 2001 Conclusões A qualidade de vida é um requisito importante no tratamento de doenças crônicas, porém é um conceito subjetivo, o que carece de um acompanhamento mais detalhado de cada paciente. Foi observado, que os pacientes com câncer encontram-se com um nível elevado de qualidade de vida, o que auxilia nos resultados dos tratamentos, aumentando a sobrevida dos mesmos e a possibilidade de cura, visto que a avaliação dos aspectos da qualidade de vida é importante para análise da sobrevida e do prognóstico do paciente. Entretanto, cabe ao farmacêutico a realização da atenção farmacêutica na área da oncologia, através de um FLECK, M. P., et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Revista Brasileira de Psiquiatria, v.21, n.1, p. 19-28, 1999. FORTES, R. et al. 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