MANUAL DE ORIENTAÇÃO PARA
SISTEMAS DE TRATAMENTO DE ESGOTOS
ATRAVÉS DE FOSSAS SEPTICAS E SUMIDOUROS
 INTRODUÇÃO
Atualmente, diante dos crescentes problemas causados pela falta de coleta
e tratamento de esgotos nos condomínios de Arujá, a ACONDA
(Associação dos Condomínios Horizontais de Arujá e Região), e a UNICON
(União dos Condôminos de Arujá), vêm tomando iniciativas junto aos
órgãos públicos a fim de que se providencie a instalação da rede coletora
de esgotos em todos os Condomínios. Algumas con quistas já foram
conseguidas, através de cobranças e ajudas de alguns políticos. Entretanto,
mesmo com a divulgação, por parte da SABESP e Governo do Estado, da
obtenção de verba junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), para execução de obr as de saneamento na Bacia do Tietê, visando a
continuidade do programa de despoluição deste rio, a previsão para
atendimento do município de Arujá, e, portanto, de seus condomínios,
estende-se para 2016. Ainda assim, dois dos condomínios membros da
ACONDA, ficaram fora dos planos da obra, tendo em vista o fato de
pertencerem a outra bacia hidrográfica.
Assim sendo, considerando os diversos problemas enfrentados pelos
moradores dos condomínios, o constante aumento de sua população e o
tempo estimado para as obras ser muito longo, a Câmara Técnica de Meio
Ambiente da ACONDA/UNICON, decidiu elaborar o presente manual
orientativo, cujo objetivo é esclarecer e ajudar os moradores dos
condomínios e suas associações e diretorias, na solução dos principais
problemas constatados nos sistemas de tratamento de esgotos residenciais
individuais, através de fossas sépticas e sumidouros. Não se tem a
pretensão de resolver todos os problemas e nem minimizar a
responsabilidade dos órgãos públicos de seu dever em fornecer
saneamento básico aos cidadãos. O maior objetivo é tentar atenuar os
problemas e desconfortos causados por fossas e sumidouros com
problemas, muitas vezes executados de forma errada, ou muito antigos.
 RESPONSABILIDADES
A definição das responsabilidades pel os problemas causados por sistemas
de tratamento de esgotos problemáticos deve ser analisada sob alguns
aspectos:
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1. No caso de edificações antigas : todo sistema de esgotos deve
sofrer manutenção periódica e avaliada sua eficiência. Nestes casos
a responsabilidade é do proprietário, realizar tal manutenção e
avaliação.
2. No caso de edificações novas: deve-se avaliar se as fossas
sépticas e sumidouros foram executados conforme as normas
técnicas vigentes. A responsabilidade por erros de execução é do
construtor da obra, solidariamente assumida pelo profissional,
responsável técnico pela execução da obra, normalmente o arquiteto
ou engenheiro. As diretorias e associações, bem como a prefeitura, a
partir do momento que exigem a apresentação de detalhamento do
sistemas de esgotos individuais na aprovação dos projetos, devem
fiscalizar se sua execução está de acordo com o projeto aprovado,
pois em caso de problemas por má execução, também têm sua
parcela de responsabilidade.
 NORMAS TÉCNICAS
Existem normas técnicas d a ABNT (Associação Brasileira de Normas
Técnicas), referentes aos sistemas de tratamento de esgotos individuais,
bem como para a rede de captação de esgotos da edificação, onde são
definidos os parâmetros básicos de execução da rede individual, de forma
eficiente. São as seguintes normas:
1. NBR 8160: Sistemas prediais de esgoto sanitário – Projeto e
execução - procedimento
2. NBR 7229: Projeto, construção e operação de sistemas de tanques
sépticos – procedimento.
3. NBR 13969: Tanques sépticos: Unidades de tratam ento
complementar e disposição final de efluentes líquidos – Projeto,
construção e operação.
 COMPONENTES DO SISTEMA DE ESGOTOS RESIDENCIAL
As normas técnicas citadas acima definem os diversos componentes que
fazem parte do sistema de esgotos predial e s eu sistema de tratamento
individual.
Internamente à edificação, a rede de captação de esgotos é composta por
elementos como ralos sifonados, bacias sanitárias, redes primárias e
secundarias, tubos e conexões, além de colunas de ventilação.
Externamente, a rede de captação de esgotos é composta por caixas de
gordura, caixas de inspeção, tubulações, caixas de distribuição, fossas
sépticas, filtros anaeróbicos e sumidouros. Vamos nos ater àqueles elementos
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que, com sua má instalação ou execução, ou até mesm o sua ausência,
causam diversos transtornos aos moradores, e são eles: tubos e colunas de
ventilação, caixas de gordura, caixas de inspeção, fossas sépticas, filtros
anaeróbicos e sumidouros.
1. Tubos e Colunas de Ventilação: são tubos conectados ao tubo de
ligação entre o ralo sifonado principal do banheiro e a tubulação de
saída de esgotos, normalmente um tubo de queda, quando o
banheiro se situa acima do andar térreo da edificação. Este tubo tem
a função de evitar que, ao ser dada a descarga na bacia sanit ária, ou
um volume considerável de água seja eliminada pelo tubo de queda,
seja criado um vácuo na tubulação, cuja pressão acaba por esgotar
a água existente nos ralos sifonados. Esta água dos ralos sifonados
tem a função de evitar o retorno de gases do si stema de esgotos. O
tubo de ventilação é direcionado para acima do telhado. A sua falta,
portanto, provoca o mau cheiro nos ambientes, principalmente
banheiros. Sua instalação deve ser prevista nos projetos de
instalações de esgotos das edificações e verif icada sua execução
durante a obra.
2. Caixas de Gordura: “são caixas destinadas a reter, na sua parte
superior, as gorduras, graxas e óleos contidos nos esgotos,
formando camadas que devem ser removidas periodicamente,
evitando que estes componentes escoem li vremente pela rede,
obstruindo a mesma.”(NBR 8160). Existem no mercado, caixas de
gordura prontas e de fácil manutenção. Sua instalação deve ser
imediatamente posterior a tubulação de captação de esgotos das
pias de cozinha. Sua saída deve ser ligada à cai xa de inspeção mais
próxima. A ausência de caixas de gordura no sistema, provoca o
entupimento de tubulações, colabora com o mau -cheiro e
impermeabiliza as paredes dos sumidouros, além de atrapalhar o
desenvolvimento de bactérias que são úteis na eliminaçã o do
esgoto, no ciclo biológico natural, que ocorre nos sistemas dotados
de filtros anaeróbicos. As normas técnicas definem padrões de
calculo e execução das caixas de gordura.
3. Caixas de Inspeção: “são caixas destinadas a permitir a inspeção,
limpeza, desobstrução, junção, mudanças de declividade e/ou
direção das tubulações” (NBR 8160). As caixas de inspeção devem
ser distribuídas em toda a rede de captação, em pontos de junção de
modo a facilitar a limpeza e verificação das tubulações. Também
existem modelos prontos no mercado, nos mais diversos materiais.
4. Fossas Sépticas: com calculo de dimensionamento definido pela
norma NBR 7229, são tanques de captação de esgotos em natura,
que devem ser hermeticamente fechados, e, por isso, quando
executados por anéis de concreto, as junções dos anéis bem como
seu fundo, devem ser rejuntados adequadamente. Neste tanque
ocorre a separação entre o esgoto sólido e liquido, e sua primeira
depuração por bactérias, produzindo gases inflamáveis. Como trata 3
se de tanque hermeti camente fechado, enche rapidamente,
entretanto, seu efluente liquido é direcionado por tubulação com
saída superior, ao filtro anaeróbico, ou sumidouro. Existem modelos
pré-moldados, ou podem ser executados com anéis de concreto, ou
mesmo alvenaria, desde que obedecendo as normas técnicas de
dimensionamento e execução.
5. Filtro Anaeróbico: são tanques herméticos, com dimensionamento
e execução definidos na norma NBR 7229, que têm a função de
tratamento do efluente liquido proveniente da fossa séptica, através
de sua depuração por bactérias anaeróbicas (sem ar). O efluente é
recebido no fundo do tanque pelo tubo proveniente da fossa séptica,
conforme seu nível sobe, passa por laje perfurada, por sobre a qual
são colocadas pedras (brita nº3 ou 4), em uma camada mínima de
1,00m. Nestas pedras, as bactérias se desenvolvem, consumindo de
85 a 95% do esgoto do efluente. O liquido, após tratado, é
encaminhado a tubulação na face superior do tanque, sendo
destinado ao sumidouro, ou outro tanque de filtragem. A aparênci a
do efluente que sai do filtro anaeróbico é cristalina, mas ainda
contem uma quantidade razoável de elementos de esgotos,
provocando ainda a exalação do gás sulfidrico, com mau -cheiro
característico.
6. Sumidouro: é um tanque de absorção, sem fundo pavimenta do,
com paredes perfuradas. Seu dimensionamento também é definido
pela norma NBR 7229 e depende de analise do índice de absorção
do solo onde será instalado. Devem ser colocadas pedras (brita nº 3
ou 4) em uma camada mínima de 0,50m, no seu fundo, e,
recomenda-se que em toda a sua volta, uma camada de
aproximadamente 20cm de brita. Sua função é a de absorção do
efluente proveniente de fossas ou filtros anaeróbicos, pelo solo. A
má instalação dos sumidouros em geral provoca muitos transtornos
entre vizinhos e áreas públicas. Não deve ser instalado em áreas
aterradas, apenas em solos firmes, nem em áreas com possibilidade
de inundação pelo lençol freático.
 PROBLEMAS MAIS COMUNS E SOLUÇÕES
1. Mau cheiro nos ambientes internos : falta de tubulação de
ventilação, conforme descrito no item anterior. A solução
recomendada é a execução das colunas de ventilação de forma
adequada, demandando obras como quebras de pisos e paredes. É
a solução mais adequada para que já pretende reformar a casa.
Solução paliativa seria a de se aliviar a pressão dos gases
provenientes das fossas, através de tubulação que parta das
mesmas, liberando os gases em pontos que não causem incômodos
aos ocupantes da edificação nem a vizinhos. Esta solução não tem
garantia de total sucesso, uma vez que, não executando as colunas
de ventilação recomendadas, continuará o problema do vácuo que
esvazia as águas dos sifões.
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2. Sistema de fossas/sumidouro impermeabilizados : causados ou
pela falta de caixas de gordura, falta de manutenção e mesmo idade
avançada da edificação. No caso das fossas, a impermeabilização é
até recomendada, entretanto, deve -se atentar à verificação da
existência ou não das caixas de gordura, e se as mesmas estão
tendo a devida manutenção. Caso o sumidouro esteja
impermeabilizado e con stantemente transbordando, a solução é
executar outro novo, de forma adequada e aterrar o antigo,
observando sempre a execução das caixas de gordura.
3. Sistema de fossas/sumidouro extravasando para vizinhos:
decorrente de problemas de má execução do sistema, pode ser
causado por recalque dos tanques, em função de execução sobre
aterros, falta de rejuntamento e impermeabilização da fossa séptica,
recalque de tubulações, execução de sumidouros em aterros e/ou
não observando os afastamentos mínimos das divisas, exigidos por
normas (1,50m). É um caso de solução difícil, pois necessita que se
façam escavações de sondagem em todo o trecho do quintal onde
está o sistema, a fim de se localizar o problema, levando a soluções
de execução de novas fossas, filtros ou sumi douros. Deverá ser
contatado um profissional especializado para que faça as analises de
cada caso.
4. Terrenos com lençol freático alto: nestes casos, deve -se ter em
mãos a sondagem do terreno, para se ter idéia da profundidade do
lençol freático. Nenhum elem ento do sistema pode estar a menos de
1,50m de altura do lençol freático. Entretanto, existem casos
extremos, onde o terreno apresenta água já a 50cm de profundidade.
Para tais casos, recomenda -se, se possível, o rebaixamento do
lençol freático, através de técnicas apropriadas e aumento do nível
do local. As normas técnicas recomendam a utilização de fossas
sépticas de formato retangular, menos profundas, sempre
impermeabilizadas, e substituindo os sumidouros, a utilização de
valas de infiltração, que são valas com dimensionamento especifico
na norma NBR 7229, distribuídas em paralelo, em profundidade
pequena. Tal solução é adotada nas obras do litoral, onde o terreno
muitas vezes é saturado pelo lençol freático. Existem no mercado,
sistemas industrializad os de tratamento de esgotos individuais, em
fibra de vidro ou plástico, que permitem sua instalação em locais
alagados. Normalmente compõem o conjunto, a fossa séptica e o
filtro anaeróbico. Algumas empresas, erroneamente, alegam que,
depois do esgoto filtrado, o efluente pode ser direcionado a um
“curso d’água” ou mesmo no meio fio. Entretanto, como já foi dito
anteriormente, tal efluente ainda está carregado com uma certa
quantidade de material de esgoto, e exala mau cheiro, proveniente
do gás sulfidrico. Alguns especialistas recomendam a instalação de
uma caixa de cloração, por onde passe este efluente, eliminando o
mau-cheiro. Esta solução nem sempre soluciona o problema.
Tecnicamente correto falando, este tratamento deve ser
complementado com a fase “ae róbica” do tratamento, ou seja, após
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ser tratado pelas bactérias do filtro anaeróbico, o efluente deve ser
conduzido a um recipiente que disponha de sistema de lançamento
de ar, através de micro -bolhas, onde haverá o processo aeróbico do
tratamento. Existem no mercado sistemas completos de tratamento e
filtragem, de onde o efluente pode ser utilizado como água de reuso
em lavagem de carros e jardins. Entretanto, conforme o aumento de
tecnologia oferecida, aumenta também o custo do aparelho.
 SISTEMAS ALTERNATIVOS DE TRATAMENTO DE ESGOTOS
Assim como foi dito no item anterior, existem no mercado, vários sistemas de
tratamento de esgotos, que, dentro de uma escala de funcionalidade, oferecem
soluções para os problemas relatados. Existem sistemas que integram a Fossa
Séptica e o Filtro Anaeróbico em um equipamento estruturado em fibra de vidro,
equipamentos que são uma estação completa de tratamento, com todas as suas
fases e tratamentos biológicos, através de adição de bactérias na tubulação das
edificações, que se alimentam dos esgotos.
Os equipamentos e empresas dos exemplos abaixo são apenas elucidativos,
não implicam em indicação por parte da ACONDA, ficando o leitor livre para
pesquisar outros fornecedores.
1. Equipamentos em fibra de vidro : são compostos por um conjunto
que contém a Fossa Séptica interligada ao Filtro Anaeróbico. As
vantagens deste sistema, são: sua rapidez de montagem e sua
estanqueidade, ou seja, pode ser instalado em locais de lençol
freático alto, ou até mesmo alagado. Entretanto seu efluente não
sofre o tratamento aeróbico, podendo exalar mau -cheiro pela
emissão do gás sulfídrico, recomenda -se, portanto, que este efluente
seja encaminhado a um sumidouro.
Sistema de Tratamento e Fibra de Vidro
fonte: www.sanefibra.com.br
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2. Equipamentos com tratamento completo : são equipamentos
contruidos com vários compartimentos, onde todas as fases de
tratamento do esgoto são realizadas, ou seja, tanto as fases
anaeróbicas, como as aeróbicas. Assim sendo, seu efluen te pode
ser utilizado como água de reuso, na rega de jardins e lavagem de
carros e quintais. Não pode ser utilizado para consumo humano por
não ser potável.
Equipamento com Tratamento Completo
fonte: www.mizumo.com.br
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3. Sistemas de Tratamento Biológico : são sistemas com tratamento
de esgotos através da adição de bactérias nas tubulações de
esgotos das edificações, que são encaminhadas até as fossas e
sumidouros, onde se desenvolvem, consumindo o esgoto em seu
ciclo de vida. É um sistema inovador, que promete acabar com
problemas de entupimentos de tubulações e as constantes limpezas
das fossas. Entretanto, deve ser aplicado em períodos que variam de
a cada 15 dias a cada mês, dependendo do estado do sistema.
Sistema de tratamento biológico
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Para cada tipo de tratamento, existem várias empresas oferecendo seus
produtos no mercado. No caso de obras novas, onde se tem a oportunidade de se
seguir corretamente as normas técnicas , existe ainda o sistema com anéis de
concreto, que é bastante eficiente, desde que bem executado.
 ENCERRAMENTO
Neste breve documento, procuramos abordar o máximo possível de
problemas em sistemas de tratamento de esgotos das edificações,
conforme relatos de associações e diretorias dos condomínios. As soluções
apresentadas não são as únicas, mas podem resolver os problemas em
sua escala de aplicação.
Nenhum deles substitui o beneficio da rede publica de coleta de esgotos, e
seu tratamento em Es tações de Tratamento de Esgotos publicas. Dada a
situação problemática em que se encontram os Condomínios membros da
ACONDA, que já conseguiram ao menos uma previsão de instalação da
rede pública de coleta de esgotos, acreditamos poder colaborar para a
minimização dos problemas, enquanto a rede pública não é instalada.
Qualquer sistema de tratamento de esgotos que se adote, alem de tudo o
que foi exposto, ainda traz um enorme beneficio ao meio -ambiente e à
coletividade, já que evita o aumento da poluição d o lençol freático e do
aqüífero subterrâneo.
Câmara Técnica de Meio Ambiente – ACONDA/UNICON
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