IDENTIFICANDO AS COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS EM FREQÜENTADORES DE UM CENTRO REGIONAL DE ESPECIALIDADES (CRE)1 Ariana Rodrigues Silva CARVALHO2 Karina Isabel VIVIAN3 Marister PICCOLI4 INTRODUÇÃO: Diabetes mellitus (DM) é uma doença caracterizada por hiperglicemia crônica, acompanhada do distúrbios de carboidratos, proteínas e gordura; como resultados de defeitos da secreção e/ou ação da insulina (DUNCAN; SCHIMIDT; GIUGLIANI, 2004). A longo prazo, a doença leva à disfunção e falência de vários órgãos, como rins, olhos, nervos, coração e vasos sanguíneos. Os referidos autores ainda afirmam ser o diabetes mellitus tipo I o resultado da destruição das células βpancreáticas, geralmente ocasionando deficiência absoluta de insulina. De acordo com Edelman; Henry (2003), o diabetes mellitus tipo II é caracterizado pela diminuição da secreção pancreática de insulina e/ou resistência periférica à insulina (acentuada redução da sensibilidade dos tecidos alvo aos efeitos metabólicos da insulina). A produção hepática de glicose aumentada também pode ser uma característica de DM tipo II, entretanto, é considerada secundária aos dois primeiros fatores, considerando que geralmente os pacientes com este tipo de diabetes, apresentam excesso de peso e possuem idade superior a 40 anos. Os mesmos autores relatam que sua etiologia é portanto, a obesidade (principalmente a central ou visceral); o modo de vida sedentário e 1 Esse estudo é um recorte de um trabalho de conclusão de curso da graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. 2 Enfermeira, Docente do Curso de Enfermagem da UNIOESTE, Mestranda em Enfermagem pela UEM. [email protected] 3 Discente do 4º ano de enfermagem da Unioeste. 4 Enfermeira, Docente do Curso de Enfermagem da UNIOESTE, Doutoranda em Enfermagem Fundamental pela EERP/USP. uma dieta rica em gorduras; além do processo de envelhecimento, especialmente em indivíduos geneticamente suscetíveis. Silva; Silva (2005) refere-se às complicações da hiperglicemia a longo prazo que podem se desenvolver em pacientes com DM tipo II e incluem: doença macrovascular (doença arterial coronariana; doença vascular periférica e doença cerebrovascular); doença microvascular (retinopatia, nefropatia e neuropatia diabéticas; disfunção sexual), além do transtorno do pé diabético. Um agravante para a doença macrovascular é a dislipidemia presente em alguns destes pacientes, além de que a aterosclerose se desenvolve em idade precoce, se acelera mais rapidamente e é mais extensa. Edelman; Henry (2003) afirmam que o tabagismo e a falta de exercícios contribuem em grande escala para a doença macrovascular (mesmo na população não diabética). A insuficiência renal pode aumentar o risco e acelerar a doença macrovascular. Este risco pode ser diminuído adotando-se medidas como controle de peso (em pacientes obesos), como também exercícios aeróbicos apropriados. Na doença microvascular, a retinopatia faz-se freqüente em indivíduos com 20 anos ou mais de doença, sendo que o desenvolvimento e progressão também dependem da duração e severidade da hiperglicemia, sendo piorada pela hipertensão; não apresentando sintomas até que tenha atingido um grau avançado, sendo portanto, detectada quando os pacientes referem problemas visuais (SILVA; SILVA, 2005). Ainda segundo Silva; Silva (2005), a nefropatia diabética é progressiva (atinge 20% dos pacientes diabéticos por 20 anos ou mais), apresentando como primeiro sinal a microalbuminúria (que também está associada à doença da artéria coronária em pacientes com DM tipo II); além da hiperfiltração indicada por elevação da creatinina. Após detecta-se proteinúria, culminando com a insuficiência renal. Edelman; Henry (2003), apontam que os fatores determinantes para sua progressão são a hipertensão; a hiperglicemia crônica não controlada; infecção e obstrução do trato urinário e ingestão de drogas nefrotóxicas. Silva; Silva (2005) afirma que a neuropatia diabética é uma das complicações a longo prazo mais comuns, acometendo cerca de 50% dos pacientes após 20 anos de doença sendo que sua apresentação é de forma variada, dependendo de sua localização em fibras nervosas sensoriais, motoras e/ou autonômica, podendo ser assintomática até fisicamente incapacitante. Seu aparecimento identifica indivíduos em risco de desenvolver lesões e conseqüentemente, amputações em membros inferiores, considerando também que a impotência e ejaculação retrógrada são complicações freqüentes no homem com diabetes e na mulher, podem ocorrer dispareunia e redução da libido. O pé diabético é responsável por 40 a 70% das amputações não traumáticas de membros inferiores; sendo precedidas de ulcerações decorrentes principalmente da neuropatia periférica, traumatismos e deformidades” (DUNCAN; SCHIMIDT; GIUGLIANI, 2004). Conhecendo um pouco das complicações que podem acometer o portador de diabetes mellitus e visando preveni-las, propomos este estudo com os objetivos relatados a seguir. OBJETIVOS: Identificar as principais complicações decorrentes diabetes em frequentadores de um Centro Regional de Especialidades (CRE). METODOLOGIA: Foi realizada uma revisão bibliográfica sobre o diabetes mellitus, enfocando suas principais complicações. Revisão bibliográfica, de acordo com Gil (1996, p. 48), “...é desenvolvida à partir do material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Segundo LoBiondo-Wood; Haber (2001), a revisão de literatura é normalmente definida como uma etapa do processo de pesquisa, sendo utilizada para desenvolver todas as etapas do processo de pesquisa. O estudo segue com uma pesquisa documental através dos prontuários dos portadores de diabetes freqüentadores desse CRE. Seguido da revisão de literatura foi realizada a pesquisa de campo, através de uma pesquisa documental em que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser feitas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois” (MARCONI; LAKATOS, 1991). Foi realizada uma consulta aos prontuários dos diabéticos freqüentadores desse CRE. Os prontuários não são arquivados de acordo com a especialidade, assim, para ter acesso àqueles que fariam parte da pesquisa, a pesquisadora obteve apenas aqueles que eram separados para que fossem utilizadas em sua consulta médica agendada anteriormente. Assim, o período de coleta foi de abril a junho, duas vezes na semana, pela manha e/ou tarde . Participaram da pesquisa todos os diabéticos que freqüentam esse CRE. Vale lembrar que não foi realizado um contato direto com o paciente, mas sim, através da análise de seu prontuário. Não houve critério de exclusão para esse estudo. Para que a coleta de dados fosse realizada, foi elaborado um instrumento de coleta de dados com questões estruturadas que continham dados sobre a identificação do paciente, dados clínicos, sobre o uso de medicações e outros pontos que fossem relevantes. Foi realizado um teste piloto com cinco pacientes (cerca de 10% dos pacientes que foi previsto para amostra) e a partir daí realizadas as modificações necessárias a esse instrumento para essa coleta. DISCUSSÃO: a identificação precoce do diabetes mellitus pode evitar as mais diversas complicações. À partir do momento que essas complicações já estão instaladas, faz-se de extrema importância o conhecimento acerca delas, pois assim poderá colaborar no planejamento de ações preventivas àqueles que não foram acometidos, com conseqüente melhora na evolução da doença e de sua qualidade de vida. RESULTADOS: a pesquisa consta de 50 diabéticos, 40% (20) do sexo masculino e 60% (30) feminino, com idades entre 27 e 84 anos; sendo 6%(3) deles portadores de DM tipo I; 92%(46) do tipo II e apenas 2%(1) possui outro tipo de diabetes. O tempo de diagnóstico da doença variou entre 1 mês e 43 anos e o índice de massa corporal entre 17 e 36. Quanto à prática de exercícios físicos, apenas 4% (2) praticam. Do total, 38% (19) deles seguem dieta alimentar específica. De acordo com terapêutica medicamentosa, 52% (26) deles utiliza hipoglicemiante oral e 54% (27) a insulina, considerando que 16%(8) dos pacientes utilizam os dois tipos. Verificou-se que 38% (19) pacientes não apresentavam nenhuma doença associada; em contraposição, 38% (19) tinham HAS; apenas 2%(1) com úlcera venosa e 12%(6) possuíam outro tipo de doença associada; 8%(4) dos pacientes possuíam história familiar de diabetes e 6%(3) eram tabagistas. Dentre os principais sintomas referidos pelos diabéticos encontrou-se: 10%(5) apresentaram diminuição da acuidade visual e 10%(5) edema de membros inferiores; 8%(4) infecções urinárias de repetição; 8% (4) extremidade, e por último, 6%(3) apresentou úlceras de a hiperglicemia, 6% (3) amputação e 6%(3) parestesia de membros inferiores. CONCLUSÃO: A hiperglicemia crônica nos portadores de DM é a principal causa de incapacitações nesta população. Os dados analisados através da pesquisa documental conferem com dados bibliográficos e reforçam a idéia de que a modificação do estilo de vida dos pacientes previne o aparecimento de situações irreversíveis, como a insuficiência renal ou eventos cardiovasculares; além da manutenção de níveis ideais de glicose sanguínea. Tais medidas diminuem a morbimortalidade e melhoram a qualidade de vida destes pacientes. O exercício físico, como simples caminhadas, tem sido a grande arma utilizada pela equipe de saúde para que o controle glicêmico seja alcançado (EDELMAN; HENRY, 2003). Da mesma forma, o equilíbrio alimentar tem se apresentado de papel relevante ao mesmo objetivo. No entanto, a modificação do hábito de vida dos pacientes diabéticos é um grande impasse, que requer o entrosamento de multiprofissionais da saúde. Os custos com a hospitalização destes pacientes (acometidos pela cronicidade da doença) são imensamente maiores do que os investimentos em medidas preventivas; tais como a informação aos portadores, referente à doença. Outras patologias, como a obesidade (e alto índice de massa corporal) é outro agravante bastante comum associado á hipertensão arterial, que por sua vez, acomete grande parcela dos diabéticos. Constata-se então, que pela dificuldade de modificação dos hábitos destes pacientes, torna-se imprescindível a utilização de insulina, ou então de hipoglicemiantes orais para alcançar a normoglicemia; mas que por vezes poderiam ser evitados. Assim, estudos como esse, além de colaborar com a caracterização dos diabéticos freqüentadores desse CRE, norteia os profissionais com idéias de implementações de programas multiprofissionais com intuito da prevenção das complicações do diabetes, além de orientar a população acerca dessa patologia, com práticas que possam retardar sinais e sintomas da doença, aumentando sua sobrevida com qualidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LOBIONDO-WOOD, G. ; HABER, J. Pesquisa em Enfermagem - métodos, avaliação crítica e utilização. 4ª ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. EDELMAN, S.V.; HENRY, R.R. Diagnóstico e Manejo do Diabetes Tipo 2. 5 ed. Rio de Janeiro: Editora de Publicações Científicas Ltda, 2003. SILVA, F. M. L.; SILVA, M. M. M. L. Jornal Brasileiro de Medicina. Rio de Janeiro: Editora de Publicações Científicas Ltda, Jan./Fev.,2005. DUNCAN, B.B.; SCHIMIDT, M.I.; GIUGLIANI, E. R. J. Medicina Ambulatorial: Condutas de Atenção Primária Baseadas em Evidências. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2004. MARCONI, M. A. ; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.