UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – ICH PÓS – GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO Márcio Xavier Corrêa Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX). Juiz de Fora – Minas Gerais 2012 i Márcio Xavier Corrêa Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora para a obtenção do Título de Mestre em História. Linha de pesquisa: Poder, Mercado e Trabalho. Orientador: Prof. Dr. Ângelo Alves Carrara. Juiz de Fora – Minas Gerais 2012 ii Márcio Xavier Corrêa Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX). Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora para a obtenção do Título de Mestre em História. Linha de pesquisa: Poder, Mercado e Trabalho. Orientador: Prof. Dr. Ângelo Alves Carrara. Aprovada em 11 de junho de 2012 ___________________________________________________________ Prof. Dr. Angelo Alves Carrara (Orientador) Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF ____________________________________________________________ Prof. Dra. Mônica Ribeiro de Oliveira Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF ____________________________________________________________ Prof. Dr. Marcelo Henrique Dias Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC Juiz de Fora – Minas Gerais 2012 iii Corrêa, Márcio Xavier. Memória sobre a economia extrativa da poaia / Márcio Xavier Corrêa. – 2012. 162 f. : il. Dissertação (Mestrado em História)—Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. 1. Plantas medicinais. 2. Economia – Minas Gerais. 3. Memória. I. Título. CDU 615.32 iv Dedico este trabalho aos meus pais Francisco Xavier Corrêa e Maria da Penha Xavier Corrêa, as minhas irmãs Rozane, Jânia e Janaína, ao meu irmão Ronan e aos meus amigos, cujo incentivo e estímulo me ajudaram a superar os momentos mais difíceis. v Agradecimentos Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pela concessão de uma bolsa de pesquisa no período de março de 2011 a março de 2012, essencial para a concretização deste trabalho. Agradeço também a Universidade Federal de Juiz de Fora a concessão de uma bolsa monitoria, durante o segundo semestre letivo do ano de 2010, cuja contribuição para cursar as disciplinas e potencializar a pesquisa foi decisiva. Agradeço ao Professor Ângelo Alves Carrara o apoio no desenvolvimento do projeto de pesquisa e sua a valiosa orientação na transformação deste projeto na dissertação que apresento à Universidade Federal de Juiz de Fora. Agradeço a Antônio Carlos Ferreira e família o apoio material e incentivo à pesquisa que me foi concedido ao longo do ano de 2010. Agradeço a Margarida Andrade Gonçalves, estimada professora que me apoia incondicionalmente, material e fraternalmente, desde a época em que fui seu aluno na primeira série do ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa – COLUNI em 1999. vi “O Brasil produz também hum grande numero de plantas aromáticas de diversas espécies, Suas producções botânicas são innumeráveis. Não faltao nem flores de ornato, nem plantas medicinaes. O arbusto tão útil, conhecido com o nome de ipicacuanha, não se acha senão no Brasil: sua flor he uma espécie de violeta: he na raiz, que residem todas as suas propriedades”. BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua descuberta ate 1810. Trad. Pe. Ignácio Felizardo Fortes. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818. p. 92. vii Resumo Constitui esta dissertação em um estudo da economia extrativa da poaia que se desenvolveu na primeira metade do século XIX no Leste da Província de Minas Gerais. Esta economia extrativa consiste no processo histórico aqui reconstituído, e que pode ser definido como um conjunto de atividades comerciais envolvendo diferentes sujeitos históricos na constituição de uma rede de mercadorias cuja extensão ultrapassou os limites definidos pela fronteira política nacional. Para a realização deste estudo consultou-se um corpo de fontes bastante fragmentado e diversificado, possibilitando a recuperação das características farmacológicas da poaia, sua aplicação medicinal, o processo de sua extração no meio natural e sua presença nos livros de contabilidade do Registro da Barra do Pomba, juntamente com outros produtos exportados pela província de Minas Gerais. Para tanto, observa-se as características tanto da extração como do comércio da poaia desde a coleta realizada pelos indígenas nas áreas de floresta até sua exportação para a Europa a partir do porto do Rio de Janeiro. Inicialmente, são informados os usos médicos da poaia, que apresentam relação direta com a sua importância comercial. Em seguida é realizada uma investigação da atividade de coleta, pensando nos agentes envolvidos, plantas e homens, em movimento dinâmico e interativo. Finalizando, realiza-se um exercício de sistematização de dados em busca de um dimensionamento da comercialização da planta em uma perspectiva comparada em relação a outros produtos. Palavras-chave: Poaia. Economia Mineira. Comércio. viii Abstract This dissertation is a study of the ipecac extractive economy that was developed in the first half of the nineteenth century in the East of the Province of Minas Gerais. This extractive economy consists on the historical process here reconstituted, which can be defined as a set of commercial activities involving different historical subjects in the constitution of a network of goods which extension exceeded the limits defined by national political boundaries. For this study we referred to a body of highly fragmented and diverse sources, enabling the recovery of the pharmacological characteristics of ipecac, its medical application, its extraction process in the natural environment and its presence in the account books of Records of Barra do Pomba, along with other products exported by the province of Minas Gerais. To this end, we observe the characteristics of both the extraction and the trade of ipecac from the collection held by the Indians in the areas of forest to its export to Europe from the port of Rio de Janeiro. Initially, the medical uses of ipecac are informed, which have direct relation to its commercial importance. Afterwards, an investigation of the collection activity is done, considering the agents involved, plants and men in a dynamic and interactive motion. Finally, we carried out an exercise of data systematization in search of sizing the commerce of the plant in a comparative perspective in relation to other products. Keywords: Ipecac. Economy of Minas Gerais. Trade. ix Sumário 1 – Introdução ........................................................................................................... 10 1.1 – Poaia: caracterização do objeto ....................................................................... 10 1.2 – Identidades visuais da poaia ............................................................................ 16 1.3 – O comércio de poaia na literatura .................................................................... 21 1.4 – Fontes e metodologia ....................................................................................... 32 1.5 – Delimitando recortes: tempo e lugar de ocorrência da comercialização da poaia .................................................................................................................................. 33 2 – Os usos médicos da poaia .................................................................................. 38 3 – Comércio e migrações intracontinentais: homens, animais e plantas em movimento no sertão leste de Minas Gerais (1824 – 1832). ..................................... 49 4 – Análise da economia extrativa da poaia no leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX): estudo comparativo entre produtos de uma cadeia de mercadorias............................................................................................................... 75 5 – Considerações finais ........................................................................................... 91 6 – Fontes consultadas ............................................................................................. 94 7 – Bibliografia........................................................................................................... 99 8 – Anexos .............................................................................................................. 103 8.1 – Tratado de Medicina Doméstica – Sec. XVIII ................................................. 103 8.2 – Transcrição de excertos dos “Livros de Registro de saída de gêneros de Barra do Pomba” ............................................................................................................... 107 10 1 – Introdução Esta dissertação tem por objeto a economia extrativa da poaia na região leste de Minas Gerais durante a primeira metade do século XIX. A extração de poaia aparece nas fontes e na historiografia como uma atividade importante durante o processo de ocupação dessa região. O objetivo aqui é analisar as características tanto da extração como do comércio da poaia desde a coleta realizada pelos indígenas nas áreas de floresta até sua exportação para a Europa a partir do porto do Rio de Janeiro. Para atender a este objetivo pretende-se no primeiro capítulo apresentar os usos médicos da poaia, que apresentam relação direta com a sua importância comercial. O segundo capítulo é reservado para uma investigação da atividade de coleta, pensando nos agentes envolvidos, plantas e homens, em movimento dinâmico e interativo. O terceiro capítulo constitui um exercício de sistematização de dados em busca de um dimensionamento da comercialização da planta em uma perspectiva comparada em relação a outros produtos. Dada à especificidade do tema, cuja abordagem exigiu uma incursão em campos temáticos variados, adotou-se uma orientação interdisciplinar na construção da narrativa histórica. Esta orientação metodológica, contudo, impossibilitou a proposição de uma filiação teórica mais estrita, embora tenha norteado à composição do texto a perspectiva de realização de uma história social dos produtos extrativos. 1.1 – Poaia: caracterização do objeto O que é a poaia? Esta questão se coloca como a indagação que norteará este tópico na busca de uma melhor definição deste objeto de estudo e a resposta concernente a este questionamento exige uma breve incursão pela botânica e pela farmacologia. Obviamente não existe nenhuma pretensão do autor destas linhas em 11 tomar para si saberes que pertencem a campos distintos da ciência histórica – que por vezes podem estabelecer um diálogo profícuo – mas, pelo contrário apenas insinuar como a história se enriquece ao contato com outras disciplinas ao estabelecer este diálogo, exigido pela natureza do objeto de estudo. Todavia, não se deve esquecer que o historiador busca o elemento humano, sendo que este se apropria de elementos do reino vegetal convertendo-os em objeto de suas ações por meio do comércio, iniciando o processo histórico cuja reconstituição da forma mais pertinente possível materializa a única pretensão assumida aqui. A poaia, também conhecida por ipecacuanha é uma planta medicinal da família Rubiaceae. O nome científico é Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes, mas também pode ser denominada Cephaelis ipecacuanha (Brot.) A. Rich., ou ainda Evea ipecacuanha (Brotero) Standley. Popularmente é conhecida também como poaia, epeca, ipeca verdadeira, poaia cinzenta, poaia preta, poaia vermelha, poaia das boticas e raiz-do-Brasil.1 Este último nome é uma referência direta à parte da planta que apresenta a maior concentração de princípios ativos: as raízes. O topônimo Brasil remete, obviamente, a sua área de ocorrência predominante, limitada as regiões de florestas tropicais úmidas e sombreadas. A poaia ocorre em diversas regiões, que incluem Brasil e outros países da América do Sul e Central como Colômbia, Venezuela, Panamá e Nicarágua. Entretanto existem diferenciações morfológicas e anatômicas entre as plantas, mas interessa para este estudo que as plantas encontradas no Brasil apresentam maior concentração dos princípios ativos: “presença de dois alcalóides em suas raízes: a emetina e a cefalina que conferem à planta um poder emético e amebicida”.2 São importantes para este estudo as plantas brasileiras, conhecidas pela alta concentração do princípio ativo, de ocorrência nas áreas de floresta atlântica e de experimentada utilização pelos índios, para quem suas propriedades fitoterápicas já eram conhecidas antes do início do comércio com os portugueses. Sua ocorrência natural tem diminuído desde o início de sua extração comercial, estando a redução da planta associada ao grande nível de devastação da floresta atlântica, o que tem 1 BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas medicinais da Estrada Real. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2008. p. 28. 2 ASSIS, Marta Camargo de; GIULIETTI, Ana Maria. Diferenciação morfológica e anatômica em populações de “ipecacuanha” - Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes (Rubiaceae). Revista Brasileira de Botânica, São Paulo, v.22, n.2, p.205-216, ago. 1999. p. 205-6. 12 instigado pesquisadores preocupados com a conservação deste espécime vegetal de grande importância para a medicina.3 A comercialização e o uso da ipecacuanha são descritos nos relatos de viagem de estudiosos que percorreram o interior do Brasil em diferentes épocas. Para o ano se 1836, podemos apreender um fragmento do relato da Viagem Pitoresca Através do Brasil, de A. D’Orbigny: No momento em que Spix e Martius chegaram à aldeia, os índios coroados estavam ocupados na colheita de ipecacuanha, no interior da mata. Nessas sombrias florestas, nas quais não se pode entrar sem uma escolta, sob as abóbodas formadas pelas árvores, jamais atravessadas pelos raios de sol, encontram-se numerosas plantas medicinais, e entre outras, a famosa raiz de ipecacuanha, cujo uso é tão comum na Europa. Essa raiz provém de um pequeno arbusto (Cephaelis ipecacuanha), que cresce sempre em grupos na parte mais elevada da Serra do Mar. O preço da raiz não é muito elevado nos lugares onde ela é colhida; paga-se, em geral, cerca de 200 reis por libra e, além disso, os índios mostram-se dispostos a trocá-la por artigos como aguardente, quinquilharia e lenços de algodão. Contaram, naquelas florestas, a Spix e Martius, que as virtudes da ipecacuanha tinham sido ensinadas aos selvagens pelo pássaro chamado irara, espécie de martim-pescador, que, segundo se diz, tem o habito de comer a raiz e as folhas da planta, quando em virtude de ter bebido água malsã de algum rio, quer provocar vomito. Essa é, sem duvida, mais uma das mil tradições fabulosas que os portugueses receberam dos índios ou que eles próprios inventaram, achando que os índios não inventavam bastante lendas.4 De acordo com Maria das Graças Lins Brandão, o uso da planta como vomitivo foi aprendido com os indígenas, persistindo até os dias atuais, sendo que existem patentes de produtos relacionadas à ipecacuanha, registradas no exterior. A autora apresenta ainda uma estampa elaborada por Bernardino A. Gomes (1780 1801), uma amostra depositada em um herbário do Museu Nacional de História Natural da França e uma imagem atual da planta, coletada na cidade de Ferros.5 Através da análise de alguns dicionários, é possível observar que as definições de poaia e ipecacuanha estão presentes na língua portuguesa, sendo 3 MARTINS, E. R.; OLIVEIRA, L. O. Conservação da poaia (Psychotria ipecacuanha Standl.): I – Estratégias de localização de populações e etnobotânica. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, SP v. 7, n. 1, p. 6-10. 2004. 4 BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos naturalistas. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2010. p. 62. 5 BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais... p.62 13 possível observar sua variação ao longo do tempo. Para tanto, considera-se inicialmente a definição apresentada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: ...planta (Psychotria ipecacuanha) da fam. das rubiáceas, nativa do Brasil (AMAZ, BA, MG, ES, C.O.), de raízes com propriedades eméticas, expectorantes e anti-desintéricas, folhas obovadas, membranáceas, e inflorescências em capítulos terminais....6 O termo poaia é definido como: ...design. comum a várias plantas de diferentes gên. e fam., esp. árvores e arbustos da fam. das rubiáceas, pequenos arbustos e subarbustos do gênero Hybanthus, da fam. das violáceas, e ervas do gen. Polygala, da fam. das poligaláceas, pelas propriedades eméticas das suas raízes, sucedâneas da ipecacuanha.7 Como pode ser observado, este dicionário aponta para a ocorrência endêmica da planta no Brasil, além de referenciar seus princípios ativos, mantendo-se em coerência com as definições citadas anteriormente neste texto. É apresentada ainda rica sinonímia que alerta para a diversidade lingüística e variadas formas de denominar a planta. Já o termo poaia é mais amplo e se aplica a um número variado de plantas, mas que apresentam um ponto em comum, que é o fato de suas raízes conterem propriedades eméticas. Retornando ao ano de 1942, observa-se que a ipecacuanha aparece mencionada como uma “planta e raiz medicinal, da família das rubiáceas, também chamada poaia (Cephaelis ipecacuanha, Rich.) 2. Nome de várias plantas da América do Sul, cujas raízes apresentam propriedades eméticas.” 8 Para o termo poaia este mesmo dicionário apresenta a seguinte denominação: “Nome de várias plantas eméticas e rubiáceas do Brasil”.9 Estas definições elaboradas na década de 1940 também apresentam-se coerentes com as demais, inclusive com a definições apresentadas pelo Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da Lingua Portugueza, publicado em 1912. Segue-se a definição: “Ipecacuanha (...) nome de 6 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Ipecacuanha. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 1647. 7 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Poaia. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa... p. 2243. 8 FREIRE, Laudelino (org.). Ipecacuanha. ______. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: A Noite Editora, 1942. Vol. III, p. 3026. 9 FREIRE, Laudelino (org.). Poaia. ______. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa... Vol. IV, p. 4019. 14 varias plantas medicinaes, umas violáceas e outras rubiáceas”10; “Poaia (...) nome comum a várias plantas eméticas e rubiáceas do Brasil”.11 Em 1890, foi publicado o Diccionario de Medicina Popular, obra que reunia conhecimentos sobre doenças e seus tratamentos. Nesta obra consta a poaia ou ipecacuanha: IPECACUANHA ou Poaya: [...] A raiz de poaya administra-se principalmente em pó, para provocar os vômitos, na dose diária de 75 a 150 centigrammas para os adultos, de 30 a 50 centigrammas para as crianças, em uma pouca d’agua morna. Dá-se também em infusão, que se prepara com 8 grammas de poaya e um copo d’agua quente. Esta raiz entra em muitas preparações; as principaes são: o xarope de ipecacuanha, que se administra principalmente nas bronchites das crianças, na dose de uma a duas colheres de sopa, e as pastilhas, de que se tomam duas a quatro por dia como expectorantes.12 Neste dicionário percebe-se a aplicação farmacológica da poaia, especialmente como vomitório e como expectorante. Entretanto, estas não eram as únicas possibilidades de uso da poaia, sendo usada também para combater a diarréia. Atualmente sabe-se que estas propriedades decorrem da ação da “... emetina e a cefalina que conferem à planta um poder emético e amebicida...”. 13 Outro aspecto a ser notado é que a poaia aparece como sinônimo de ipecacuanha, o que tem sido constatado também na documentação consultada. Entretanto, Brandão afirma que a poaia é denominada Hybanthus poaya (A.St.–Hil.) Taub., cujo sinônimo é Ionidium poaia A.St.–Hil. Exemplar da família Violaceae, sendo que ainda não existem estudos sobre essa espécie, em relação a qual a autora menciona o seguinte relato de Auguste Saint-Hilaire: Os habitantes da região onde cresce a planta que acabo de descrever a usam com sucesso como substituta de Cephaelis, que não se encontra na terra deles. Ora eles empregam a raiz de 10 BASTOS, J. T. da Silva. Ipecacuanha. In:______. Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da Lingua Portugueza. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira Editora, 1912. p. 691. 11 BASTOS, J. T. da Silva. Poaia. In: ______. Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da Lingua Portugueza... p. 945. 12 CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Ipecacuanha ou poaya. In: ______. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Roger & F. CHERNOVIZ Editora, 1890. Disponível em < http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vplChave=ipecacu anha > Acesso em 27/04/2008. p. 244-5. 13 LAMEIRA, Osmar Alves. Cultivo da Ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Bot.) Stokes). Circular Técnica 28 (online). Belém, Pará: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Embrapa Amazônia Oriental, Set. de 2002. p. 1. Disponível em < http://www.cpatu.embrapa.br/online/circular/Cir.tec.28.pdf>, acesso em 12/06/2008. 15 Ionidium poaya sem misturá-la, e ora misturam-na ao tártaro de potássio e de antimônia, como se faz em outros lugares com a ipecacuanha verdadeira. Mas não é só como emético que administram Ionidium poaya: em outras doses ela se torna um evacuante, e 12 vinténs, ou 0,000340 kg de sua raiz purgam um adulto. Essa planta confirma as propriedades eméticas que foram reconhecidas nas Violáceas, e tende-se a acreditar que, fazendo algumas experiências, encontraremos essas propriedades num grau mais ou menos eminente nas inúmeras espécies dessa família encontradas em diferentes partes do Brasil.14 No Diccionario da língua portugueza, que veio a público no ano de 1813, a ipecacuanha é conceituada da forma a seguir: “Ipecacuànha (...) Planta, é raiz Americana, medicinal: raiz de ipecacuanha emética, diversa da cathartica, uma é preta, outra branca”.15 Para terminar esta incursão pelos dicionários, será apresentada a seguir um excerto do dicionário Bluteau, de 1728: IPECACUANHA. Celebre planta da America, & hoje muy conhecida na Europa, pella sua notável efficacia contra as dysenterias & affectos do citomago. Tem raiz delgada, torcida, fibrosa, com muytos nós, de côr fusca, de sabor acre, & amargoso. Lança hum talo redondinho, & cinzento, parte do qual se levanta com sette, ou outo folhas em cima, & outra se abaixa, & rastejando cria outras raízes. [...] He esta erva amiga dos lugares silvestres, humidos, & sombrios, & transplantada em hortas, ou campos cultivados, não medra [cresce]. [...] Ainda que a Ipecacuanha seja hum dos mais soberanos remédios para camaras de sangue [evacuação intestinal com sangue], não he certo; quando despois de o ter tomado em pó três vezes, o doente não se acha aliviado, he necessário deixá-lo e apelar para outro. Sinal, de que há de obrar [defecar] bem, he o vomito; em alguns doentes, ainda que não vomitem, produz o seu effeito, purgando-os primeiro por baixo. A Ipecacuanha he purgativa & astringente, Purgativa, pella sua parte mais dissolúvel; & assi purga com vômitos, & camaras; astringente, pella sua parte terrestre; & assi aperta, & fortalece todas as fibras das entranhas16 14 Auguste de Saint – Hilaire (Plantas Usuais dos Brasileiros, 1824) citado por BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos naturalistas. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2010. p. 98. 15 SILVA, Antonio de Moraes. Ipecacuanha. In: ______. Diccionario da língua portugueza – recopilado dos vocabulários impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813. Vol. II, p. 180. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asP >. Acesso em: 13 de março 2010. 16 BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______l. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico, architectonico ... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8 v. p. 526. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > acesso em 26/06/2009. 16 É pertinente considerar que os três últimos dicionários consultados não apresentam o termo poaia, apenas ipecacuanha. Entretanto, considera-se neste texto que os termos poaia e ipecacuanha, freqüentemente empregados como sinônimos estão relacionados predominantemente a planta Cephaelis ipecacuanha, cujos efeitos resultantes da ingestão do preparado com suas raízes apresentava as propriedades terapêuticas derivadas da ação da cefalina e da emetina no organismo. Todavia, não é ignorada a possibilidade do emprego de poaias falsas e tampouco a substituição por outras plantas capazes de produzir efeitos similares ao da verdadeira ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha). 1.2 – Identidades visuais da poaia As representações iconográficas da poaia são de extrema importância, pois remetem não só ao conhecimento acerca da espécie vegetal, mas também as técnicas utilizadas pelos artistas e estudiosos do passado para desenvolver a ilustração científica em seus estudos botânicos. Nesta perspectiva encontram-se os trabalhos de José Joaquim Freire (1760-1847), atualmente disponíveis para consulta no sítio eletrônico da Biblioteca Nacional Digital. Deste autor constam várias representações de plantas e dentre elas um desenho destaca-se por guardar semelhança com a poaia. Entretanto, não se pode fazer uma inferência direta por algumas razões: a mais obvia delas é que este desenho não vem acompanhado da denominação poaia ou ipecacuanha, sendo a referência nominal aplicada neste caso o termo cipó. Outra, não menos importante diz respeito à “fidedignidade” da representação, quanto ao grau de semelhança entre representação e objeto representado. A partir de uma observação das imagens obtidas, percebe-se que variam um pouco entre si, o que naturalmente decorre da habilidade do artista botânico e da técnica empregada, mas também pode remeter a diferentes plantas de uma mesma família tomadas sob a mesma sinonímia em virtude de apresentarem propriedades fitoterápicas semelhantes. Tal fato é comum em relação à poaia ou 17 ipecacuanha, pois este termo era aplicado às plantas que compartilhavam princípios ativos comuns, mas em diferentes concentrações. Retomando a denominação cipó, aplicada ao espécime vegetal cuja imagem será representada a seguir, é necessário detalhar um pouco mais a análise a fim de observar se consiste de fato em uma representação da ipecacuanha/poaia. Cronologicamente o desenho data do final do século XVIII, período no qual, a palavra cipó ainda era usada regularmente como sinônimo para erva medicinal. Tal assertiva baseia-se no fato de que o dicionário Bluteau já apresenta a seguinte definição: “Cipô. Planta admirável contra todo o gênero de camaras [diarréia]. Tomada em pô, faz vomitar. A doze he oitava. Vid. Ipecacuanha no 4o tom. Do Vocabul.”.17 Enquanto esta definição se prende ao uso médico da ipecacuanha apontando a palavra cipó como outra denominação para a mesma erva, o dicionário Moraes e Silva amplia esta acepção afirmando que o termo cipó no Brasil significa “... herva rasteira; ou trepadeira, que tem umas hastesinhas longas, dobradiças, que servem para atar; ou para usos Medicos.” 18 Observa-se a ampliação do significado e a permanência da referência aos usos médicos do cipó, ou seja da ipecacuanha, também no início do século XIX por ocasião da impressão do dicionário Moraes e Silva. Outra fonte a corroborar a afirmação de que a poaia ou ipecacuanha era denominada cipó, é a publicação da obra Memoria Sobre a Ipecacuanha Fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas, escrita por Bernardino Antônio Gomes19, que veio a publico em 1801. O termo cipó 17 BLUTEAU, Raphael. Cipô. In: ______. Vocabulario portuguez & latino... p. 237. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > acesso em 26/06/2009. 18 SILVA, Antônio de Moraes. Cipó. In: ______. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813. 2v. Vol. I p. 398. 19 GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossa boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801. Em B. A. Gomes, 1801 Plantas medicinais do Brasil, São Paulo, Edusp, 1972 (Brasiliensia Documenta, V), edição fac-simile. A partir da leitura desta fonte é possível apreender com segurança que o termo cipó era uma sinonímia da ipecacuanha ou poaia empregada na literatura da época. Considerando que José Joaquim Freire realizou a estampa do cipó no contexto das Viagens Filosóficas de Alexandre Rodrigues Ferreira, em colaboração com este cientista, é pertinente considerar que o artista botânico estivesse inteirado dos usos farmacológicos da poaia e da denominação cipó, que aplicou ao estampar esta erva. Mais detalhes podem ser obtidos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, coletânea Prospectos de Cidades, Vilas, Povoações, Fortalezas e Edifícios, Rios e Cachoeiras da Expedição Filosófica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá. Disponível em < http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&c d_verbete=2310&cd_item=1&cd_idioma=28555 > Acesso em 22/06/2011. 18 ao que indica as fontes mencionadas, era tomado no século XVIII como sinônimo de poaia ou ipecacuanha, e no sec. XIX ainda guardava relação com plantas de uso médico, como atestam o Dicionario Moraes e Silva, citado anteriormente, e o Dicionario de Medicina Popular.20 Observa-se a seguir as representações iconográficas da poaia: Figura 1: Cipó - José Joaquim Freire (1760 - 1847). Fonte: Acervo Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em consonância com o exposto anteriormente, Vera Regina Beltrão Marques também menciona a ipecacuanha em seu livro Natureza em Boiões a partir da denominação cipó, especificamente a raiz do cipó. Levantada a partir da 20 CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. In: ______. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Roger & F. CHERNOVIZ, 1890. p. 596. Este dicionário apresenta vários usos da palavra cipó para se referir a ervas medicinais. 19 Farmacopéia Lisbonense, de Manoel Joaquim Henriques de Paiva,21 esta informação corrobora para o esclarecimento acerca da rica sinonímia aplicada a tão famosa planta medicinal ao longo do tempo. A seguir, outra estampa da ipecacuanha revela mais detalhes acerca da percepção da forma e de seus usos medicinais: Figura 2: Ipecacuanha - Estampa elaborada por MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. Fonte: MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. O Feliz Clima do Brasil. Rio de Janeiro: Dantes, 2008. p. 205 e 207 Esta imagem segue acompanhada da seguinte definição: ... caule principal deste arbusto cresce o mais a altura de duas braças e meia. Os seus ramos ou galhos se dividem para partes opostas, ou em cruz, e do modo que se vê. A sua folha é em tudo semelhante assim em cor, como em feitio [...] O seu sabor é amargoso. [...] Suas Virtudes [...] A sua raiz cozida, e bebida a tintura, serve para fazer expurgar com 22 suavidade a gonorréia curando-a, ou evitando-a ao mesmo tempo. 21 PAIVA, Manoel Joaquim Henriques de. Farmacopéia Lisbonense. Lisboa: Oficina de João Procópio Correa da Silva, 1802. pp. 3 – 62. Apud. MARQUES, Vera Regina Beltrão. Natureza em Boiões: Medicinas e boticários no Brasil setecentista. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp/Centro de Memória – Unicamp, 1999. p. 76. 22 MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. Regras pelas quais se devem estampar as ervas medicinais e fazer recolher as suas ramas e raízes em tempos próprios, não só do modo que 20 Outras imagem da ipecacuanha foram obtida a partir das obras Plantas usuais dos brasileiros23, e Flora Brasiliensis24. As imagens reproduzidas abaixo contribuem para a apreensão visual do objeto, simultaneamente informando sobre as diferenças de percepção que os artistas botânicos tiveram diante da mesma espécie vegetal. Sua representação recorrente em obras dos naturalistas do final do século XVIII e início do XIX indicam que a planta era objeto de estudo em função da sua aplicação farmacológica, remetendo a investigação a outras instâncias como as formas de sua aplicação fitoterápica, processo de extração e comercialização. Seguem as representações sobre a poaia na obra dos naturalistas Auguste de Saint – Hilaire e Carl Friedrich Philipp von Martius: apontam os melhores autores, mas segundo as reflexões que tenho feito a este respeito. Série Azul, Ms. 627 da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (BACL). In: ______. O Feliz Clima do Brasil. Rio de Janeiro: Dantes, 2008. p. 205 e 207. Agradeço a Poliana Cordeiro de Farias que gentilmente indicou esta fonte, facultando-me o acesso através do banco de dados de sua pesquisa. 23 Saint – Hilaire, Auguste de. Plantas usuais dos brasileiros. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2009. p. 45. 24 Psychotria ipecacuanha Müll.Arg. – Flora Brasiliensis. Vol 6 Part 5 p. 341-342 tab. 52. Disponível em: <http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer > Acesso em: 22 de dezembro de 2010. Figura 3: Excerto da obra Plantas usuais dos Brasileiros. Auguste de Saint – Hilaire. Fonte: Saint – Hilaire, Auguste de. Plantas usuais dos brasileiros. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2009. Pag. 45 Figura 4: Ipecacuanha - Estampa extraída da Flora Brasiliensis. Fonte: http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer 1.3 – O comércio de poaia na literatura O comércio da poaia tem aparecido na literatura consultada de forma marginal, embora recorrente, em trabalhos sobre o leste de Minas Gerais em diversos períodos. Para efeito deste estudo, considera-se como trabalho pioneiro em citar a presença da poaia, bem como sua exploração econômica, a obra intitulada Capítulos de História Colonial.25 Para Capistrano de Abreu, a poaia existente na Zona da Mata Mineira pode ser considerada como um elemento facilitador da passagem da região conhecida como alto Rio Doce para a bacia do Rio Pomba em função do comércio com os indígenas, possibilitando o surgimento de um espaço 25 ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. 22 econômico da poaia, por meio da qual, se formaram caminhos rumo ao litoral.26 A partir deste contato inter-étnico, que se desenvolvia ao longo do processo de interiorização, Capistrano de Abreu evidencia a importância do indígena e do sertanejo enquanto agentes históricos atuantes na construção do espaço social brasileiro, considerando que a expansão dos territórios de colonização ocorreu a partir da subjugação dos indígenas, da extirpação das suas terras e da submissão dos nativos ao processo de escravização ou, ainda, da eliminação dos indivíduos. 27 Embora enfatize a permanência de métodos portugueses na conquista do interior do Brasil, Capistrano realiza uma abordagem de valorização da conquista das terras brasileiras pelos próprios brasileiros.28 Estes, na sua obra, aparecem como mestiços de índio e português, predominantemente. Dessa forma, o sertanejo mestiço e corajoso é o sujeito da história do Brasil escrita por Capistrano, que atribui “... ênfase à documentação escrita e bem criticada e seu estilo é ainda descritivo e narrativo”. 29 Quanto às informações sobre a poaia, Capistrano se vale dos relatos de viagem, especificamente a Viagem pelo Brasil, de Spix e Martius. 30 A presença da poaia na Zona da Mata Mineira é mencionada, posteriormente, na obra de Paulo Mercadante intitulada Os sertões do leste: Estudo de uma região: a mata mineira.31 Neste trabalho, a poaia aparece pontualmente, embora a ela já seja atribuída uma significativa importância econômica, uma vez que “... exploradores em busca de ipeca e poaia chegavam a região, atraindo os índios para o escambo”.32 Este processo de escambo é entendido por Mercadante como de grande significado para a formação econômica e social da região, embora o autor não faça uma referência mais aprofundada a respeito do tema. Em uma narrativa 26 ABREU, Capistrano. “O Sertão”. In: ______. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. p. 155 – 6. 27 REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu: O surgimento de um povo novo: o brasileiro. a In: ______. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 5 Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. p. 106. 28 REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu... p. 111. 29 REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu... p. 113. 30 SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim Lahmeyer. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1. 31 MERCADANTE, Paulo. Os sertões do leste: Estudo de uma região: a mata mineira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1973. 32 MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste... p. 43. 23 que exalta a bravura dos forasteiros sobre os perigos da terra, Mercadante situa a poaia como uma atividade crescente: Com o avançar sobre charcos e serrarias, enfrentando perigos de ciladas, os forasteiros afoitavam-se as terras banhadas pelos afluentes do (Rio) Pomba. O comércio da poaia facilitava a penetração. Os índios recebiam pelas ervas a aguardente introduzida em seus aldeamentos. (...) a arrancada dos poaieiros acentua-se ano a ano. Provocava-se o devassamento e conseqüente povoação, mas o comércio infrene, desapiedado e brutal levava o selvagem ao extermínio. 33 O comércio da poaia desenvolveu-se na região estruturado com base no escambo realizado entre os silvícolas e os colonizadores, ao mesmo tempo em que se desenvolviam práticas agrícolas que avançavam sobre as matas, alterando, assim, a conformação da paisagem. De acordo com Mercadante, existia “... poaia por toda parte, extraída pelos puri, já relacionados aos traficantes, que conduziam a mercadoria para a praça de Campos”.34 Percebe-se, portanto, que, tanto Capistrano de Abreu, quanto Paulo Mercadante, consideravam a economia da poaia como uma atividade expressiva nas Minas Gerais, assumindo papel importante na formação econômica e social da região e atuando como fator da circulação mercantil. Contudo, estes autores não aprofundam a investigação de tal prática, impossibilitando assim uma melhor compreensão do impacto econômico causado pela extração da ipecacuanha. Na década de 1990 surge outro trabalho bastante inovador, construído sob a perspectiva da Historia Ambiental, cujo objeto de estudo, a Floresta Atlântica, incluía o espaço geográfico sobre o qual se desenvolvia o processo econômico em tela (ou seja, o leste da capitania\província de Minas Gerais). Trata-se da obra A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira 35, na qual Warren Dean analisa o processo de apropriação da floresta pelo colonizador e pelos indígenas. Dentre as atividades de extrativismo vegetal destacadas por este autor, está a exploração da poaia e das madeiras de lei. O corte e a extração da madeira eram atividades submetidas ao rigor de uma legislação florestal que se tornou 33 MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste... Pag. 44 34 MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste... Pag. 51 35 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. 24 particularmente rígida nas últimas décadas do império ultramarino português. Caracteriza este período de modo geral a decadência da atividade de mineração e os consequentes problemas financeiros que levaram a elaboração de uma política de proteção às florestas situadas no litoral e nas proximidades de leitos de rios navegáveis.36 Estas medidas de controle aplicadas sobre a extração da madeira traziam consigo um processo de burocratização da atividade extrativa, sendo que o corte era regulamentado por um corpo de funcionários cujas atribuições específicas recaiam sobre a viabilização do corte de madeira, de acordo com os interesses reais. Retomando a questão da poaia, esta aparece na obra de Warren Dean como a planta medicinal melhor sucedida no mercado europeu de ervas medicinais. Quanto à técnica extrativa, Dean afirma que eram arrancadas na época de floração, pela facilidade de identificação da flor branca no ambiente escuro da mata. 37 Ainda de acordo com este autor, a exportação chegou a 25 toneladas anuais em 1860, embora o processo de extração tenha levado ao declínio da atividade na Zona da Mata Mineira a partir de 1830, deslocando-se para regiões mais centrais do Brasil.38 Uma dimensão dos valores relativos à exportação de poaia pela Província de Minas Gerais pode ser observada na tabela a seguir: “Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas gerais para as 39 províncias limítrofes...” – Valores de referência para a Poaia. Localidade/Ano Arrobas = Arr s Preço por Total dos gêneros de cada artigo para Arroba todos os registros 24.000 $ 10: 068 $ 000 Matias Barbosa 89 Mar de Espanha 240 1/2 [89@ + 240,5@ + 90@ = 419,5@] Barra do Pomba 90 [419,5@ x 24000$ = 10 068 $ 000] Quantidade total para 419 1/2 1828 Tabela 1: Poaia exportada em 1828. Fonte: APM - SC - PP 1/6 Cx. 01; Doc. 18; 1829/10/29. 36 CABRAL, Diogo de Carvalho. Substantivismo econômico e história florestal da América portuguesa. In: Vária Historia, Belo Horizonte, vol. 24, n. 39, pag. 113 – 133, jan/jun 2008. p. 129 37 DEAN, Warren. “A ciência descobre a floresta”. In: ______. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. p. 147. 38 DEAN, Warren. “A floresta sob o governo brasileiro”. In:______. A ferro e fogo... p. 177. 39 o Arquivo Público Mineiro: Seção Provincial – Presidência da Província 1/6 Cx. 01; Doc. N 18: 1829/10/29 = “Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas gerais para as províncias limítrofes...” 25 A presença da poaia enquanto elemento em torno do qual se organizou um processo econômico aparece também na obra Sertão do Rio Doce, de autoria de Haruf Salmén Espíndola, para quem o processo de navegação do Rio Doce “... criava oportunidades para o comércio do fumo e, sobretudo, para a extração da ipecacuanha”.40 A ampla análise documental empreendida por Espíndola, bem como um recorte espacial que inclui a Zona da Mata Mineira Central, possibilitou ao autor perceber a relevância da extração da poaia a partir da sua recorrência na ampla documentação consultada, dentre a qual, está situado o conjunto de correspondências do diretor dos aldeamentos organizados nas proximidades dos rios Pomba e Doce. Ao propor uma análise baseada em vasta documentação primária dos processos sociais e econômicos decorridos no entorno do Rio Doce, compreendido como “... território, paisagem, lugar, representação...”41, bem como na abrangência das divisões militares que atuaram na região, Haruf Salmen Espíndola identificou a comercialização da poaia enquanto um processo econômico típico da região, pois repetidamente citado nas correspondências oficiais emitidas e recebidas pelo diretor de índios Guido Thomaz Marliére. Este, através da formação dos aldeamentos, contribuiu para dinamizar a economia mineira de produtos do extrativismo vegetal, como a planta medicinal em questão, “...uma vez que a formação de vários aldeamentos liberou o território para a entrada de sesmeiros e posseiros e disponibilizou, para os negociantes de poaia, a mão de obra indígena para o trabalho de coleta”.42 A partir da leitura deste texto é possível perceber que a organização da prática extrativista estava, portanto, relacionada com o processo de formação das propriedades agrícolas a partir da doação das sesmarias e da chegada de novos colonizadores para a região, desencadeando, assim, relações de conflito. Estes estavam estreitamente ligados com a delimitação de novas fronteiras, cujas percepções eram derivadas das próprias concepções de vida e existência, diferenciando como os atores sociais em interação percebiam as novas delimitações de fronteiras, bem como a constituição de um espaço econômico. Esta última 40 ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005. p. 23. ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 26. 42 ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 287. 41 26 categoria, pensada como um elemento dinâmico e mutável, permite identificar a sobreposição desigual das fronteiras naturais, geográficas e políticas. Este processo se torna nítido a partir do avanço da concessão de sesmarias sobre as terras indígenas, gerando conflitos entre os nativos e colonizadores. Contudo, ao mencionar que a economia mineira antes da chegada do café baseava-se na produção de gêneros de subsistência e também na extração da poaia, o autor sugere a importância econômica desta prática: Antes do café os fazendeiros além de cultivarem o algodão e gêneros de subsistência, também se dedicaram ao comércio de poaia. (...) A poaia foi a principal fonte de enriquecimento. Os índios extraiam a planta e trocavam-na por pano, ferramentas e aguardente. A arroba de poaia era vendida aos negociantes por cerca de nove mil réis e destinava-se aos mercados da França e Inglaterra43. O autor de Sertão do Rio Doce considera que o processo de colonização estabelecido no espaço geográfico ocupado pelo território do Rio Doce ocorreu a partir do interesse econômico na região. Tal afirmação é sustentada pela criteriosa análise de vasto corpus documental, passível de quantificação, no qual são identificados, além dos elementos de natureza econômica “... ações de natureza política e social, tais como ocupar o território, contatar e atrair os povos nativos e promover o povoamento”.44 Para este autor, o processo de povoamento da região pretendido a partir da instalação das divisões militares ao longo do Rio Doce para possibilitar o povoamento e a navegação do mesmo rio não se efetivou, mas permitiu o desenvolvimento de uma prática econômica intensa por meio da negociação da poaia: O principal fator de devassamento da região foi a extração da ipecacuanha (poaia), que envolveu negociantes, intermediários, agenciadores, militares, coletores luso-brasileiros e índios. O controle do território pelas forças divisionárias abriu a região para negociantes de poaia, fazendeiros e garimpeiros penetrarem, porem a fixação da população foi lenta e ficou restrita a parte do Alto Rio Doce e dos seus afluentes mais importantes sendo resultado da dispersão demográfica espontânea provocada pelo declínio da antiga região mineradora.45 43 ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 296. ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 412. 45 ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 414. 44 27 Uma dimensão quantitativa do processo econômico em tela pode ser evidenciada a partir de um estudo monográfico realizado por Adriano Toledo Paiva, no qual são apresentados alguns valores relacionados às quantidades de poaia exportada. Seguem os valores apresentados: Exportação de remessas de poaia (ipecacuanha) Origem Destino Bacia do Rio Pomba Campos Data o 46 Quantidade dos 3 Trimestre de 1815 12 quintais dos Fim do ano de 1827 22 arrobas dos 1 Trimestre de 1828 dos 3 Trimestre de 1828 dos Goytacazes Campos Goytacazes Campos o 32 arrobas o 15 arrobas 4 Trimestre de 1828 o 10 arrobas 1832 04 arrobas Goytacazes Campos Goytacazes Campos Goytacazes São Fidelis Tabela 2: Exportação de poaia pela bacia do Rio Pomba, conforme Adriano Toledo Paiva. Fonte: PAIVA, Adriano Toledo. “Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”: Entrantes e Indígenas nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do Bacharelado em Historia. Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. (p. 52-68). Os números citados acima se referem à região correspondente a bacia do Rio Pomba, especificamente por meio da rota comercial que esta região mantinha com os Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro e implicava a exportação da ipecacuanha e de produtos agrícolas destinados a praças comerciais fora dos limites da província das Minas Gerais. Expressiva, a extração da poaia consistiu, também para este autor, em atividade de impacto econômico e social sobre os agrupamentos indígenas, pois a prática do escambo/comércio envolvendo a poaia e a cachaça desempenhou um papel de desagregador social junto aos indígenas. Adriano Toledo Paiva também chama a atenção para o aspecto econômico do extrativismo da poaia devido a sua alta lucratividade, reforçando a necessidade de um estudo capaz de analisar o espaço econômico circunscrito no entorno desta prática. Outro aspecto 46 PAIVA, Adriano Toledo. “O Pernicioso comércio”: Aguardente e Drogas do sertão na fronteira colonial. In: ______. “Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”: Entrantes e Indígenas nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do Bacharelado em Historia. Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. p. 52-68. p. 57. 28 levantado por este autor refere-se à dependência social advinda do uso de aguardente pelos índios coletores de poaia, os quais a obtinham a partir das relações baseadas no escambo que mantinham com os brancos poalheiros, que ofereciam aos índios a cachaça e objetos manufaturados como moeda de troca pela poaia. Este processo revela ainda outra dimensão da economia da poaia que se desenvolvia a partir da interação entre os agentes sociais, cujos interesses eram atendidos, sejam o acúmulo de objetos e a obtenção de cachaça por parte dos nativos, ou a coleta das ervas medicinais, no caso a poaia. Observa-se ainda que a comercialização da poaia também foi abordada por José Otavio Aguiar, sob a perspectiva da resistência cultural, visto que a colheita da erva, essencialmente itinerante, constituía para este autor “... estratégia de luta cultural, como a prática religiosa disfarçada e a manutenção do nomadismo via extração e comércio de poaia”.47 Metodologicamente, os textos aqui apresentados, embora ocupando diferentes posições em uma análise diacrônica, caracterizam-se por versarem sobre a região em estudo e, quando não especificamente, o fazem sobre um recorte amplo que implica o recorte espacial deste estudo como elemento constituinte. A presença da utilização dos relatos de viajantes como fontes também marcam os trabalhos de Mercadante e Capistrano de Abreu, evidenciando a importância de tais narrativas como fontes para o estudo em questão. Em relação ao objeto de estudo, percebe-se que o tema “economia da poaia” aparece marginalmente sem, contudo, ter sua importância negada, o que indica a necessidade de uma investigação que se volte para tal processo e abarque os principais elementos envolvidos. Os trabalhos de Paiva, Espíndola e Aguiar incluem como parte do corpus documental as correspondências oficiais emitidas por Guido Thomaz Marliere, responsável pelo processo de aldeamento dos indígenas na região do Rio Pomba a partir de 1813 e também por destacamentos militares situados ao longo do Rio Doce, atividade que durou até o ano de 1829.48 Considera-se, portanto, que os autores mencionados, ao tangenciar o tema proposto em suas análises identificando a sua importância 47 AGUIAR, José Otávio. Memórias e Histórias de Guido Thomaz Marliere (1808 – 1836) – A transferência da Corte Portuguesa e a tortuosa trajetória de um Revolucionário Francês no Brasil. Campina Grande: EDUFCG, 2008. p. 66. 48 ______. Legislação indigenista e os ecos autoritários da “Marselhesa”: Guido Thomaz Marliére e a colonização dos sertões do Rio Doce. In: Projeto História, São Paulo, n.33, p. 83-96, dez. 2006. 29 econômica nas minas oitocentistas, sugerem a necessidade de um estudo aprofundado que possa investigar historicamente tal processo, integrando-o a dinâmica econômica da capitania/província de Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Tais aspectos reforçam a pertinência da pesquisa proposta, endossando, ainda, as suas contribuições para o conhecimento da diversidade e da dinâmica interna da economia mineira. Em tempo, é relevante citar a historiadora Maria Hilda Baqueiro Paraíso, que, ao delinear a trajetória histórica dos índios botocudos menciona a sua relação com a poaia: A partir de 1830 intensificou-se o uso do trabalho dos botocudos na extração da poaia, na agricultura, na construção de estradas, nos serviços militares e domésticos, principalmente após a demissão de Marliere pelo governador José de Souza Guimarães – que não concordava com a administração do diretor dos índios no tocante as tentativas de preservação das terras dos aldeamentos e de limitar os casos de escravização.49 Entretanto, as referências pontuais – embora sem negar a sua importância – ao extrativismo da poaia, observadas nas obras anteriormente mencionadas, apontam uma atenção dedicada ao comercio da poaia, conforme é possível constatar a partir da leitura de trabalho recente. Este consiste em tese de doutoramento defendida na Universidade Federal Fluminense, intitulada Negócios de Minas: Família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais — A Família Ferreira Armonde (1751-1850), por Antônio Henrique Duarte Lacerda. Este autor inicia seu trabalho pelo delineamento de sua filiação teórica, afirmando a natureza dialógica entre a História Econômica, a História Social e a História da Família predominante na construção do texto. Assim, o autor analisa as redes de relações políticas, sociais e econômicas nas quais a família Ferreira Armonde figurou como protagonista, entre os anos de 1751 e 1850.50 Neste estudo, realizado a partir de um procedimento metodológico que se baseia na “microanalise de contextualização social”51, destaca-se o estudo das relações econômicas estabelecidas pela família Ferreira Armonde, visto que implicam na comercialização 49 PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA. Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. (p. 413-430). p. 419. 50 Lacerda, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010. p. 32 51 Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 35. 30 da poaia extraída nas Minas Gerais nas praças mercantis do Rio de Janeiro. Nas palavras do próprio autor: ... tendo como fio condutor a trajetória de Marcelino José Ferreira Armonde discutimos, de maneira intrínseca, aspectos da história econômica, da história sócio-política e da história da família na segunda metade do oitocentos. Partindo de Barbacena para o Império do Brasil, de Marcelino José Ferreira Armonde e das pessoas que com ele conviveram para a sociedade oitocentista; em outras palavras, saímos do geral para o particular e retornamos ao geral para compreender a multiplicidade social. Cada uma das sessões deste capítulo centrará o foco em uma das questões apontadas: economia, vida sócio-política e família.52 A partir da interrogação de inventários, testamentos e principalmente vasta correspondência comercial componente do arquivo particular dos Ferreira Armonde, Antônio Henrique Duarte Lacerda reconstitui, a partir de consistente base empírica, processos comerciais envolvendo a poaia. Para este autor, o comércio da referida planta estava associado a atividade dos tropeiros que levavam a poaia, juntamente com outros produtos como o café, para o Rio. Em tópico específico, são apresentadas informações quantitativas a respeito da poaia, especificamente o seu dimensionamento com a finalidade de perceber a sua importância na composição da fortuna da família Ferreira Armonde nos oitocentos. A seguir, observa-se a reprodução de tabela elaborada por Lacerda: Poaia exportada de Minas Gerais para o Rio de Janeiro (1827 – 1831) Data Quantidade Valor 25/05/1827 Liquido rendimento de 358 libras de poaias em 304$300 53 setembro de 1826 25/05/1827 68 libras de poaia em rama 210$800 25/05/1827 99 libras de poaia de 3 classe 262$350 25/05/1827 452 libras de poaia em rama 1:310$800 25/05/1827 469 libras de poaia em março de 1827 469$000 28/09/1827 239 libras de poaia em rama – 06 de dezembro 645$300 a de 1827 a 28/09/1827 99 libras de poaia em ramas de 3 [classe] 262$350 28/09/1827 278 libras de poaia em rama – 06 de dezembro 77$400 de 1827 52 Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 229. Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 321. 53 31 28/09/1827 68 libras de poaia em rama 210$800 06/12/1827 276 libras de poaia em rama 778$400 06/12/1827 239 libras de poaia fina 645$300 24/11/828 198 [libras] de poaias 613$800 31/12/1828 398 libras de poaia – 14 de abril de 1828 1:154$200 02/06/1830 204 ½ libras de poaia 818$000 12/06/1831 714 libras de poaia 2:856$000 12/06/1831 84 libras da dita mais fina 344$400 17/06/1831 350 libras de poaias 1:452$500 17/06/1831 77 ½ libras dita mais fina 333$250 Total 4.671 libras ou 2.152, 39 quilos 12:748$950 Tabela 3: Reprodução de Dados/Tabela de autoria de A. H. D. Lacerda. Fonte: Lacerda, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010. Entretanto, na sequencia do texto, o autor alerta para o referido fato de que os valores encontrados não representam a totalidade da produção de poaia da família por duas razões: a) comerciavam no Rio de Janeiro a poaia extraída por outros membros de suas relações econômicas que não estavam necessariamente ligados por laços de parentesco; b) as fontes encontradas podem não abarcar a totalidade das transações econômicas dos Armonde. É necessário enfatizar que tais informações são de extrema importância, visto que apontam a expressividade da participação do comércio de poaia no enriquecimento de seus agentes. A partir da leitura da tese previamente citada é possível perceber que a “economia da poaia” ocupou expressivo espaço na economia mineira oitocentista, conforme indicado na literatura sobre o tema. Contudo, o texto de Lacerda constitui um avanço significativo em relação aos anteriores, uma vez que atribui mais atenção ao tema dimensionando a sua relevância para o caso estudado. Estas considerações indicam que a execução da pesquisa em andamento está coerente com o debate teórico acerca da diversidade econômica mineira nos oitocentos, e apresenta potencial significativo para a constituição de uma pesquisa empiricamente sustentada, compondo as informações sobre a relevância econômica da poaia, atestada por diversos autores. 32 1.4 – Fontes e metodologia A construção de uma pesquisa histórica pressupõe a existência de um acervo documental sobre o qual se ampara a reconstituição dos processos históricos. Esta afirmação, embora um tanto óbvia, remete a um ponto importante para a elaboração de um texto histórico, a saber: a análise do conjunto de fontes sob investigação, que no estudo em curso apresenta-se particularmente fragmentada. A fragmentação do acervo implica na superação de um desafio metodológico de análise, pois as fontes aqui utilizadas não constituem “... verdadeiras séries documentais, indispensáveis a quantos pretendem estudar estruturas e conjunturas econômicas...”.54 Por outro lado, é conveniente lembrar que a própria natureza do objeto de estudo implica nesta fragmentação das fontes, visto que pode ser apreendido em múltiplos aspectos. Assim sendo, as fontes foram reunidas em grupos temáticos: 1) fontes constituídas por literatura médica e/ou farmacêutica, que informam sobre os usos medicinais da poaia; 2) documentos que apresentam dados que possibilitam inferências acerca de processos de natureza socioeconômica; 3) dicionários de botânica e língua portuguesa, situados em diferentes períodos de tempo, que mostram a transformações e permanências do significado dos termos poaia e ipecacuanha, as duas referências nominais mais recorrentes nas fontes. Quanto à tipologia documental, podem-se mencionar correspondências, livros, dicionários, tratados de medicina, relatórios e artigos científicos, que abarcam vasto recorte temporal, indicando a permanência por longo período da prática de extração e comercialização da ipecacuanha. As condições de acesso a estes vestígios são facilitadas pelo processo de digitalização a que foram submetidos, permitindo a sua consulta por meio de sítios eletrônicos mantidos por entidades custodiadoras de acervos documentais como a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional de Portugal, o Arquivo Publico Mineiro e o Projeto Resgate Barão do Rio Branco, por meio do qual se encontram disponíveis para consultas documentos constituintes do Arquivo Histórico Ultramarino. 54 CARRARA, Ângelo Alves. Fiscalidade e estruturas agrárias: Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo, Séculos XVII – XVIII. In: CARRARA, Ângelo Alves; DIAS, Marcelo Henrique (Orgs). Um lugar na História: a capitania e comarca de Ilhéus antes do cacau. Ilhéus: Editus, 2007. p. 16. 33 Para o procedimento de quantificação da poaia exportada em comparação com outros produtos agrícolas foram consultados os livros de registro da Barra do Pomba, que apresentam a relação dos produtos que entrava e saiam das Minas Gerais. Nesta pesquisa foram priorizados somente os livros de registro de saída de produtos pela razão obvia de que a poaia era exportada. Tais livros informam a natureza dos produtos exportados, sua origem, destino, e quantidade. Estes dados sustentam uma análise comparativa por quantificação dos produtos, bem como informam acerca das atividades agrícolas diversificadas, com destaque para a agropecuária, cultivo de algodão e a existência de manufaturas, uma vez que o algodão grosso tecido aparece nos registros de exportação com assiduidade. As transcrições destas fontes encontram-se em anexo para informações mais detalhadas sobre o teor dos registros. As citações de trechos de fontes ao longo desta dissertação foram realizadas levando em conta a atualização ortográfica, por entendimento que a mesma facilita a leitura e compreensão textual por leitores que apresentam pouca familiaridade com a grafia arcaica do português. Entretanto, algumas palavras ou citações inteiras foram transcritas conforme a grafia original por entendimento que nestes casos particulares a atualização gramatical poderia comprometer o teor informativo da fonte. 1.5 – Delimitando recortes: tempo e lugar de ocorrência da comercialização da poaia A pesquisa em curso delimita-se temporalmente na primeira metade do século XIX. Este marco cronológico foi estabelecido a partir da publicação da obra Memoria sobre a ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas, de Bernardino Antonio Gomes, no ano de 1801. A importância desta memória e sua escolha como marco delimitador das balizas temporais decorrem dos elementos apresentados pelo autor que apontam a passagem de uma economia extrativa para a agricultura. Ao discorrer sobre a importância médica da planta e seu uso já bastante disseminado na Europa Bernardino Antonio Gomes realiza também um 34 estudo sobre as formas de cultivo, épocas de colheita, suas virtudes medicinais, processo de beneficiamento e descrição botânica. As datas limite situam-se no ano de 1832, uma vez que esta data refere-se ao último registro de exportação encontrado nos livros relativos ao registro da Barra do Pomba, e no ano de 1847, data da produção da “Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue até o mar pela costa oriental”. Tal representação cartográfica é de extrema importância, pois constitui fonte privilegiada para informar sobre o processo de ocupação territorial da região em estudo. A partir do ano de 1830 ocorre redução na quantidade de poaia exportada, o que pode indicar que o processo extrativo levou a redução da ocorrência da planta na região. Estes dados corroboram a pesquisa realizada por Warren Dean, que apontam para a rarefação da ocorrência da espécie vegetal no leste de Minas Gerais e o deslocamento do processo extrativo para o interior do Brasil, com destaque para a região que atualmente corresponde ao estado do Mato Grosso.55 Embora a delimitação precisa dos recortes cronológicos, encontram-se nesta dissertação, algumas referências, citações e indicações de fontes relativas a períodos anteriores e posteriores ao recorte estabelecido. Estas ampliações no recorte temporal estão presentes apenas para demonstrar que a extração da poaia consistiu em importante processo socioeconômico cuja delimitação está além do tempo e do espaço aqui apresentado. Referências a outros recortes espaciais e temporais visam apenas a chamar a atenção do leitor para a riqueza do tema e amplidão do processo, bem como para o uso medicinal que alcançou o presente, sendo possível comprar em farmácias de homeopatia medicamentos a base de ipeca. Estabelecidos os limites temporais, é necessário situar espacialmente a pesquisa, e para tanto, far-se-á uso de um recurso cartográfico, especificamente uma carta topográfica elaborada no século XIX, na qual constam elementos de 55 OLIVEIRA, C. E. . Rio Sepotuba: ambiente de poaia e de terra fértil. Territórios e Fronteiras, Cuiabá, v. 4, p. 73-98, 2003; OLIVEIRA, C. E. . Espaço de poaia, território Umutina e as "Casas de Rondon". In: I Simpósio Nacional de História, 2010, Cuiabá. História, Natureza e Fronteiras. Cuiabá: EdUFMT, 2010; MARTINS, Ernane Ronie ; OLIVEIRA, Luiz Orlando de; MAIA, J.T.L.S ; VIEIRA, I.J.C . Estudo ecogeográfico da poaia [Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes]. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 11, p. 24-32, 2009; AZEM, MARINA. Viagem filosófica às doenças e curas em Mato Grosso no século XVIII: os relatos do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. 2006. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal de Mato Grosso. 2006. 35 extrema importância para a pesquisa em curso: além da representação dos elementos geográficos, típicos de um mapa, a carta trás os nomes dos fazendeiros que possuíam terras na região, com a indicação da localização da propriedade. A importância deste dado é perceptível ao cruzarmos os nomes dos fazendeiros descritos no mapa com os nomes dos tropeiros encontrados na relação de comerciantes e produtos exportados da província de minas para as de beira mar a partir do Registro da Barra do Pomba. Embora não haja uma correspondência total, é possível encontrar alguns nomes presentes nas duas fontes de informação, o que indica que alguns tropeiros que passavam pelo registro eram proprietários de fazendas e, por meio da atividade de comerciantes, mantinham contato com a corte. Esta assertiva está em sintonia com o proposto por Alcir Lenharo em As Topas da Moderação.56 De acordo com este autor, por meio da atividade de tropas, Minas abastecia o Rio de Janeiro de algodão tecido, carne, couros, tabaco e animais: ... vale dizer que o Rio de Janeiro é o grande pólo que atrai a massa da produção mineira (...) São Paulo dificilmente se tornaria depositário da produção mineira. Além de possuir limitados agrupamentos, a economia agropastoril paulista também procurava dispor de seus excedentes buscando alternativas de mercado.57 Percebe-se, portanto que Minas consistia em um complexo agrícola58 no qual era extraída a poaia, além dos produtos acima mencionados, derivados da prática agropecuária e manufatureira. Observa-se a seguir, a reprodução da carta topográfica59: 56 LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação: O abastecimento da Corte na formação política do a Brasil: 1808 – 1842. 2 Edição. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1993. 57 LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação... p. 67 58 MARTINS, Roberto. Apud. ANDRADE, Francisco Eduardo de. Entre a Roça e o Engenho: roceiros e fazendeiros em Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Viçosa, Minas Gerais: editora UFV, 2008. p. 12-13 59 TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847. A data proposta é, portanto, 1847. No mapa São João Batista do Presídio consta como vila. De fato, o Presídio tornou-se vila em 1839, mas a sede mudou-se para Ubá (que no mapa aparece como uma localidade apenas) em 1853. Logo, o mapa corresponde à data do relatório. Agradeço ao professor Angelo Alves Carrara a indicação desta referência. Tal mapa foi obtido junto ao Arquivo Nacional, instituição na qual encontra-se depositado, sob a referência: Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04. 36 Figura 5: “Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue ate o mar pela costa oriental”. Fonte: Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04. TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847. A análise desta carta parte do princípio de que um mapa pode ser definido como uma representação do espaço que só pode ser compreendida dentro de sua linguagem simbólica: “Todo mapa é um conjunto de signos, símbolos, que só podem ser compreendidos a partir dos elementos da própria cultura na qual ele foi formulado”60. Neste caso entende-se o mapa como um planisfério gráfico, no qual as representações dos elementos geográficos se aproximam da realidade, estando ausentes símbolos e imagens que remetem ao mundo fantástico. Percebe-se a presença de rios, caminhos, cidades, fazendas e outras referências que indicam claramente o processo de ocupação pelo qual a região passava: “Assim, os espaços interiores das cartas vão sendo preenchidos por rios, montanhas, acidentes naturais 60 COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das Minas. Belo Horizonte: Editora da UFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004. p. 13. 37 do terreno, bem como por arraiais, vilas, caminhos, e roças, estes, frutos da ocupação humana que ia se estendendo”.61 Na carta em análise são concebidos de forma bastante clara os rios, representando vias de acesso ao interior, juntamente com as indicações dos caminhos. A presença humana, indicada por meio da referência nominal aos proprietários das fazendas, atua como elemento de clara identificação da ocupação humana da região, evidenciando que houve um processo de ocupação e necessariamente a configuração de um território. São encontrados também símbolos que indicam a presença de núcleos urbanos e a delimitação das freguesias (referência eclesiástica para indicar o conjunto dos membros de uma paróquia, ou seja, uma povoação). A importância da utilização deste mapa consiste em que as fazendas que estão indicadas pelo nome de seus proprietários constituem um valioso conjunto de informações para comparação com os dados presentes nos livros de anotação do Registro da Barra do Pomba. Ao cruzar os nomes dos tropeiros elencados no registro com os nomes dos fazendeiros presentes no mapa é possível identificar coincidências, o que indica que alguns fazendeiros atuavam como tropeiros vendendo junto à corte os seus produtos. Dessa forma é possível compor as informações referentes à dinâmica econômica nas minas oitocentistas e buscar melhor delineamento da economia extrativa da poaia. 61 COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das Minas... p. 15. 38 2 – Os usos médicos da poaia Neste capítulo são apresentados os usos e aplicações da poaia na medicina, fator responsável por torná-la uma célebre planta desde que seu uso foi disseminado no mundo europeu a partir do Império Português. Faz-se necessário, entretanto, esclarecer que para efeitos desta pesquisa o termo medicina, em especial quando se trata da aplicação de plantas visando obtenção de curas a partir de suas qualidades fitoterápicas, é empregado para se referir à arte de curar difundida na colônia, visto que a medicina enquanto ciência constitui-se no Brasil a partir da primeira metade do século XIX.62 A “arte de curar” no Brasil colonial conformou-se a partir do intercambio cultural: ... o florescimento das demais artes da cura esteve intrinsecamente ligado as diferentes raízes culturais das populações aqui residentes. (...) As tradições culturais refletidas na arte de curar dos negros e indígenas abriam espaço para que se disseminassem seus próprios curadores e suas terapêuticas.63 Neste sentido, esta perspectiva para a qual os medicamentos utilizados na colônia teriam sido descobertos e apropriados em decorrência do contato entre os grupos étnicos componentes do Brasil Colonial é pertinente para orientar o estudo em curso visto que a comercialização da poaia era uma atividade que implicava a participação de diversos agentes sociais entre indígenas e colonizadores, como veremos com mais detalhes adiante. Outro aspecto relevante é que possui grande importância a dinâmica da comercialização da ipecacuanha que levava a planta do Brasil para a Europa, sugerindo uma análise que esteja focada no produto comercializado, percebendo as cadeias formadas pelo processo de compra e venda das raízes eméticas para além das fronteiras políticas do Império Português. Buscando estabelecer um marco temporal, adota-se como referência para o inicio da utilização da poaia os anos de 1649 e 1672: The first account we have of ipecacuan is that published by Piso, in 1649; but it did not come into general use till thirty years afterwards, when Helvetius, under the patronage of Louis XIV employed it at the Hotel de Dieu, and introduced this root into 62 MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 27. MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 28. 63 39 common practice; and experience has proved it to be the mildest and safest emetic with which we are acquainted, having this peculiar advantage, that if it does not operate by vomit, it readily passes off by the other emunctories.64 A introdução da poaya na Europa data do anno de1672. N’esta época um medico francez, chamado Legras, trouxe da America certa quantidade d’ella, que depositou n’uma botica, onde foi vendida com o nome de mina de ouro. Mas o medicamento, tendo sido administrado em casos em que não convinha, perdeu logo sua reputação. Quatorze anos depois, isto é, em 1686, um negociante trouxe para Paris 70 kg de poaya. Helvetius, celebre médico, fez experiências com esta raiz, confirmou sua grande eficácia em muitas moléstias, e em recompensa dos seus trabalhos recebeu de Luiz XIV empregos, honras e riquezas. O uso da ipecacuanha espalhou-se logo por toda a Europa.65 Considerando estas fontes, pode-se inferir que o uso da poaia na Europa remonta ao século XVII, data que tomaremos aqui como a referência para a introdução da planta no mundo da medicina ocidental, que passaria então a desfrutar de grande consideração dos médicos e boticários. Observa-se ainda que em 1801, Bernardino Antonio Gomes inicia a sua Memória sobre a Ipecacuanha Fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas afirmando que: A pesar da raiz da Ipecacuanha ser usada na Europa há perto de dous séculos, e a pesar de ser contada no cathalogo dos grandes remédios, de que tem feito aquisição a Medicina, tem sido até agora desconhecida aos botânicos a verdadeira planta, de que se colhe [a raiz].66 Esta referência, além de endossar a provável data do século XVII como época da introdução da poaia no comércio europeu, demonstra ainda que no início do século XIX ainda não havia um consenso sobre a classificação e descrição botânica da espécie. Retornando à primeira metade do século XVIII a planta foi mencionada no Vocabulário Portuguez e Latino, indicando que seu nome já era conhecido dos portugueses, bem como sua aplicação. Neste dicionário encontra-se um verbete 64 WOODVILLE, William. Medical Botany… 2 ed. London: Printed and Sold by William Phillips, George Yard Lombard Street. 1810. Vol. I. p. 811. 65 CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Ipecacuanha. In: ______. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Roger & F. CHERNOVIZ, 1890. p. 244-5. Disponível em: http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vplChave=ipecacu anha Acesso em: 27/04/2008. p. 245. 66 GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossa boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801. [GOMES, Bernardino Antonio. Plantas medicinais do Brasil. São Paulo: Edusp, 1972 (Brasiliensia Documenta, V), edição fac-simile. p. 1]. 40 bastante extenso sobre a planta, apresentando informações desde seu aspecto morfológico, até as condições ambientais requeridas para seu crescimento, assim como as recomendações para seu uso. Conforme o dicionário Bluteau, a denominação ipecacuanha utilizada pelos portugueses é de origem indígena, sugerindo que o uso medicinal da referida planta constitui-se em apropriação do conhecimento indígena67 no que concerne a utilização de plantas nativas pelos autóctones. Neste dicionário o autor menciona ainda que tal espécie vegetal abarcava grande fama na Europa pelas suas propriedades fitoterápicas: Os portugueses e castelhanos a dão as mulheres e meninos doentes de disenteria (...) a ipecacuanha seja um dos mais soberanos remédios para camaras de sangue, não é certo que, quando depois de o ter tomado em pó três vezes,o doente não se acha aliviado é necessário deixá-lo... A ipecacuanha é purgativa e adstrigente, purgativa pela sua parte mais dissolúvel, e ali purga com vômitos, e camaras, adstringente pela sua parte terrestre, ali opera e fortalece as fibras das entranhas (...) os portugueses conservam o nome que o Gentio lhe deu.68 Observa-se que no início dos setecentos a poaia gozava de grande prestígio na sociedade portuguesa, o que torna pertinente a informação anterior que remete ao século XVII a sua introdução na Europa. No início do século XVIII, ou seja, antes do ano de 1712, quando o dicionário Bluteau veio a público, seu uso já era bastante difundido como vomitório e para o combate da diarréia em sua fase aguda, denominada “camaras de sangue” no texto setecentista. Neste sentido, afirma Sergio Buarque de Holanda que a medicina do período colonial consiste em “... uma arte de curar mais em consonância com nosso ambiente e nossa natureza.” Essa arte de curar a que se refere Holanda deriva de ... larga e contínua experiência, obtida a custa de um insistente peregrinar por territórios imensos, na exposição constante a moléstias raras, a ataques de feras, a vinditas do gentio inimigo, longe do socorro dos físicos, dos barbeiros sangradores ou das donas curandeiras, é que permitia ampliar substancialmente e organizar essa farmacopéia rústica.69 67 BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______. Vocabulario portuguez & latino... p. 196-7. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp> acesso em 26/06/2009. 68 BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______. Vocabulario Portuguez & Latino... p. 197. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp> acesso em 26/06/2009. 69 HOLANDA, Sérgio Buarque de. Botica da natureza. In: ______. Caminhos e Fronteiras. 3 ed. são Paulo: Cia das Letras, 1994. p 74-89. p. 76-77. 41 Assim, este autor considera que o contato entre os indígenas e os colonizadores europeus contribuiu significativamente para uma troca de saberes e experiências, cuja contribuição foi elementar para a formação da medicina colonial, ou pelo menos na conformação de algumas práticas relacionadas à saúde. Adentrando o século XVIII, encontra-se no ano de 1774 uma publicação sistemática, em formato monográfico, integralmente dedicada a discorrer sobre a ipecacuanha. Trata-se esta publicação da Dissertatio Botanico-Medica de Viola Ipecacuanha.70 Esta obra é de grande importância, pois denota que a planta já era objeto de análise de estudiosos da época. Observa-se nas fontes que o uso medicinal da poaia intensificou-se no século XVIII, embora as primeiras experiências farmacêuticas envolvendo o espécime vegetal em questão tenham ocorrido no século XVII. Neste sentido, as fontes citadas vão ao encontro das proposições de Márcia Moises Ribeiro. Para esta autora, “Estando a medicina do século XVIII solidamente ligada a sistemas mágicos e religiosos, pensei em situar a pesquisa no contexto das Luzes justamente por ser esta uma época marcada pelo ceticismo e pela crença do infinito poder da ciência”.71 Percebe-se ainda, na obra anteriormente citada, a referência a poaia como um “contra-veneno”, além da sua conhecida propriedade anti-diarréica: ... a raiz de cipó chamada pacacuanha [sic] ou por outro nome poalha [sic] nome que lhe deram os gentios Carijós e por eles descoberta é uma raiz delgadinha e com muitos nós, enoselada e torta. São estas raízes do único e certo remédio para curar cursos [diarreias]; ou sejam de sangue ou sem ele... e também é remédio contra os venenos72 Observa-se que no século XVIII a poaia já se apresentava como objeto de estudo e aplicação do ponto de vista medicinal e farmacológico. Contudo, a aplicação medicinal da poaia consistia em uma das últimas etapas de um processo histórico que extrapolava os limites da colônia desdobrando-se para outros Estados além do Império Português. Em relação aos sujeitos históricos envolvidos em tal processo, pode-se inferir que havia a participação de vários agentes históricos, 70 LINN , Carl v.; WICKMAN, Daniel. Dissertatio botanico-medica de Viola ipecacuanha... Upsaliae: Typis Edmannianis, [1774]. Agradeço a Suely Santana e Maria José, bibliotecárias da Biblioteca Central da Universidade Estadual de Santa Cruz, a elaboração desta referência. 71 RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII. São Paulo: Editora Hucitec, 1997. p. 17. 72 FERREIRA, Luis Gomes apud RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 52. 42 tornando a extração, comercialização e aplicação médica da poaia um processo dinâmico, envolvendo práticas sincréticas e extrapolando os limites políticos do Império. Neste sentido, afirma Márcio Moises Ribeiro o seguinte: Sem perder seus alicerces básicos, ao saber médico indígena acrescentou-se a experiência dos europeus e africanos. Noções e praticas muito familiares ao silvícola, outras absolutamente alheias, combinaram-se, dando origem a medicina dos tempos coloniais, que nada mais é que o conjunto de conhecimentos, hábitos e praticas nascido a partir do convívio assíduo entre as três culturas. O saber oriundo do reino português atrelou-se a cultura indígena e africana ao sabor das circunstancias oferecidas pela terra conquistada, originando um complexo tipicamente colonial. Ao se considerar a medicina enquanto amalgama cultural, nada mais revelador que analisá-la no século XVIII, pois duzentos anos de convivência entre brancos, negros e índios foram certamente suficientes para que suas culturas se entrecruzassem e originassem uma formação social fortemente marcada pela especificidade.73 É importante mencionar ainda que, para esta autora, no Brasil colonial não existiam fronteiras nítidas entre as práticas médicas científicas e a medicina popular praticada por empíricos desprovidos de formação acadêmica.74 A aplicação médica da poaia e sua fama entre os agentes envolvidos na arte de curar constituiu-se em um contexto no qual, segundo Vera Regina Beltrão Marques, as plantas foram protagonistas na arte de curar até o século XIX.75 Esta autora menciona a ipecacuanha e sua aplicação médica, citando uma forma de aplicação a que denomina vinho de ipecacuanha, tratando-se da sua infusão em vinho. Este preparo encontra-se na farmacopéia de Jacob de Castro Sarmento.76 No final do século XVIII encontra-se um marco para a utilização das plantas medicinais para a obtenção de cura na colônia: trata-se da publicação da Farmacopéia Geral para o Reino e Domínios de Portugal, obra que reunia orientações sobre a preparação de medicamentos. Escrita para ser um instrumento de organização das práticas farmacêuticas, esta obra consistia em repositório de 73 RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 23-24. RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 85. 75 MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 27 76 SARMENTO, Jacob de Castro. Pharmacopoeia contracta. Londini: s. e., 1746; apud MARQUES, Vera Regina Beltrão. Natureza em Boiões... p. 74. 74 43 receitas e informações sobre a composição de medicamentos, que a partir de então, contribuiria para a organização das atividades dos boticários.77 No século XIX, ano de 1810, observa-se menção a poaia na obra denominada Medical Botany: containing systematic and general descriptions, with plates of all the medicinal plants, indigenous and exotic, comprehended in the catalogues of the materia medica, as published by the Royal colleges of physicians of London and Edinburgh… escrita por William Woodville78. Em tópico especifico para a poaia, o autor inicia seu texto da seguinte maneira: After the great diligence of naturalists in exploring every quarter of the world, to extend the science of botany, it seems surprising that the plant Ipecacuanha, the roots of which have been in common use more then a century, should not have yet been botanically ascertained.79 Apreende-se a partir desse fragmento que a poaia era de uso comum há mais de um século, o que remonta ao início do XVIII, conforme atesta o Vocabulário Portuguez e Latino mencionado anteriormente. Na sequência do texto, William Woodville informa a origem americana da planta apontando três tipos conhecidos: a poaia cinzenta, originada do Peru, a marrom ou escura e a branca. A este tipo (branca) o referido autor confere a origem brasileira, além de mencionar que consistia no exemplar que possuía em “laboratório”, tendo sido esta enviada do Brasil. Menciona ainda que a variedade cinzenta é a preferida para a aplicação farmacológica, visto que a marrom é muito forte e a branca fraca. As indicações clínicas da aplicação da poaia como medicamento incluíam diversas moléstias, dentre as quais se destacam a diarréia e a asma. Observe-se no trecho em sequência, no qual são apresentados casos de aplicação clínica da ipecacuanha: It was first introduced to us with the character of a almost infallible remedy, in dysenteries and other inveterate fluxes, as diarrhea, menorrhagia and leucorrhoea, and also in disorders proceeding from obstructions of long standing: nor has it lost much of its reputation by time. The use of Ipecacuan in these fluxes, is thought to depend upon its restoring perspiration; for in these cases, especially in dysentery and diarrhea; the skin is dry and tense; and 77 FARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMINIOS DE PORTUGAL. Tomos I e II. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1794 apud MARQUES, Vera Regina Beltrão. Natureza em Boiões... p. 79. 78 WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 810. 79 WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 810. 44 while the common diaphoretics usually pass off by stool, small doses of this root have been administered with the best effects, proving both laxative and diaphoretic. In the spasmodic asthma, Dr. Akenside remarks, that where nothing contraindicates vomiting, he knows no medicine so effectual as Ipecacuan.80 Além das indicações acima transcritas, podem ser observadas a aplicação da ipecacuanha para o combate a alguns tipos de hemorragias, para auxiliar na eliminação de catarro e em alguns tipos de febre. Depreende-se da análise do teor documental citado que a prática médica envolvendo a aplicação clínica da poaia era bastante utilizada no início do século XIX, sendo já conhecida e aplicada desde 1649. Considerando que a obra Medical Botany, da qual foram extraídos os trechos anteriormente citados, foi publicada em Londres, no ano de 1810, é possível observar que sua utilização era conhecida em grande parte da Europa, visto que foram encontradas as referências da utilização da planta na França, Inglaterra e Portugal, além dos Castelhanos, conforme citado no dicionário “Bluteau”. Essa difusão do uso medicinal de poaia na Europa pressupunha que esta erva provinha do Brasil, em grande parte pelo menos, visto que são apontadas outras origens para a poaia, como o Peru. Dessa forma o comércio de poaia no Império Português era necessariamente vultuoso, visto que abastecia a Europa do medicamento. Concluindo o tópico sobre a ipecacuanha, Woodville afirma o seguinte: Ipecacuan, particularly in the state of powder, is now advantageously employed in almost every disease in which vomiting is indicated; and when combined with opium, under the form of pulvis sudorificus, it furnishes us with the most useful and active sweating medicine which we posses. It is also given with advantage in very small doses even when it produces no sensible operation. The full dose of Ipecacuan in substance is a scruple, though less doses will frequently produce as equal effect. The officinal preparation is vinum ipecacuanhae.81 A ipecacuanha enquanto medicamento não recebia atenção apenas no exterior, sendo encontrada em meados do século XIX figurando nas discussões e pesquisas estabelecidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 82 Procedendo a leitura de duas teses sobre coqueluche e disenteria, foram encontradas algumas referências ao uso da poaia como medicamento no combate as respectivas 80 WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 812. WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 813. 82 Teses médicas realizadas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Disponível em < http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/ > Acesso em: 27 de abril de 2012. 81 45 moléstias. A primeira delas, defendida em 1858, versa sobre a coqueluche e apresenta uma referência breve acerca da utilização da ipecacuanha para auxiliar o combate à doença: ... quando a coqueluche é ligeira e isenta de complicações, os meios aconselhados são as bebidas quentes, mucilaginosas, gomosas, as infusões bechicas [?] e peitorais, tais como os xaropes de goma, althéa, as infusões de flores de malva, violas, etc. (...) Existindo um principio de expectoração, o sendo esta difícil, deve-se fazer uso das pastilhas de ipecacuanha ou do seu xarope; havendo constipação, convém o emprego de clysteres emolientes ou de um brando laxativo, bem como rosas pallidas, chicorea, manná, etc.83 Observa-se que a aplicação da poaia ocorre em caso de problema respiratório, cuja ação esperada é que atue como um expectorante, auxiliando o doente a expelir o muco excessivo produzido durante o quadro patológico. Sua forma de apresentação é por meio de pastilhas ou xarope líquido, duas formas possíveis de encontrar a poaia no mercado farmacêutico no período imperial. Novamente em 1874, outra tese é apresentada a faculdade de medicina propondo um estudo sobre a disenteria. Nesta tese, a aplicação da poaia é bastante detalhada, em função da grande eficácia para combater o referido problema. Desde as primeiras aplicações da poaia para uso medicinal a planta demonstrou ser altamente eficiente no combate aos distúrbios gastrointestinais. Como primeira forma de tratamento para a disenteria são apresentados os vômitos, que podem ser induzidos pela ipecacuanha, seguido de uma medicação purgativa: Vômitos. – Alguns autores como: Zimmermann, Pringle e outros, prescreviam de um a dois vomitivos no começo da moléstia, instituindo depois a medicação purgativa. O pratico assim procedendo deve dar preferência a ipecacuanha; este vomitivo é indicado particularmente quando houver embaraço gástrico, e sobretudo na forma biliosa. A ipecacuanha denominada pelos autores raiz anti-dysenterica, é um dos agentes mais poderosos no tratamento da disenteria. Em pó tem uma ação tópica irritante, variável conforme as superfícies em que é aplicada; segundo as experiências de diversos autores, entre outros Bretonneau, a mucosa digestiva é a que menos sofre irritação. Para evitar-se essa ação irritante deste medicamento, podemos empregá-lo em infusão ou decocção, cuja irritação não é tão pronunciada, e tornando-se o 83 CAMARGO, Querubim Modesto Pires. Da coqueluche, suas causas, sede, signaes, diagnóstico, prognóstico e tratamento. 1858. 15 f. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1858. p. 24-5. 46 medicamento mais tolerável e susceptível portanto de produzir toda a ação dinâmica. Quando se quer obter as propriedades vomitivas da ipecacuanha, devemos nos servir do seu pó, ao contrario se desejarmos favorecer a absorção, tão útil na disenteria, devemos empregá-la em infusão ou decocção, porque é no estado de dissolução que ela contem a ematina [emetina], na qual parece residir os princípios terapêuticos deste precioso medicamento. O nosso distinto mestre, o Sr. Dr. T. Homem, lente de clinica interna da faculdade de medicina, emprega geralmente as infusões, e para estabelecer a tolerância manda juntar a oito onças de infusão de dezesseis a vinte gotas de láudano de Sydenham [medicamento a base de ópio] tomando o doente uma colher (de sopa) de hora em hora. A ipecacuanha assim administrada não só diminui o numero das evacuações, como as modifica quanto a sua natureza. Segundo Delioux, este medicamento atua antes como alterante, combatendo as condições de intoxicação criadas pelo vírus disentérico, do que como evacuante, ele o compara a quinina nas moléstias periódicas. Este autor aconselha o emprego da ipecacuanha em poção, cuja fórmula é a seguinte: Pó de ipecacuanha quatro gramas, água trezentas gramas, faz-se ferver por espaço de cinco minutos, filtra-se, e junta-se ao liquido, xarope de ópio trinta gramas, hydrolato de canela trinta gramas. Para tomar as colheres de hora em hora. Para terminar o que diz respeito a ipecacuanha, acrescentaremos que este medicamento goza ainda de uma ação secundária, que é levar os fluidos a periferia, favorecendo a diaforese [perspiração abundandte], que prepara uma crise desejável na marcha da molestia.84 Pode ser observado na referida tese a seguinte proposição: “Observação – Disenteria benigna crônica (...) Prescrição: Infusão de Ipecacuanha, 8 onças. Láudano de Sydenham 20 gotas. Tome uma colher de hora em hora”. 85 Estes dados foram obtidos a partir de um caso clínico no qual foi constatado um caso de disenteria crônica para o qual se obteve sucesso no tratamento a partir da indicação acima prescrita. Observa-se ainda a posologia aplicada ao paciente bem como a associação da ipecacuanha com outros medicamentos. No caso deste paciente, no decorrer do caso clínico, pode ser constatado que além da medicação mencionada anteriormente foi informado o seguinte acerca da aplicação de purgativos: Em todas as formas graves de disenteria, como a hemorrágica, álgida, gangrenosa, tiphóidea, etc. Delioux não aconselha o emprego de purgativos, sobretudo no começo da moléstia; principia o tratamento pela ipecacuanha. (...) O 84 RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria. 1874. 28 f. Tese (Doutorado em Medicina) Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1874. p. 28-9. 85 RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria... p. 30. 47 calomelanos empregado em qualquer das formas de moléstia, da sempre bons resultados, fazendo cessar ou diminuindo sensivelmente os tenesmos [vontade de realizar as necessidades fisiológicas acompanhada de dor e do impedimento da pretendida realização], e mudando de natureza as evacuações disentéricas; este medicamento é aconselhado por todos os práticos, principalmente pelos que exercem a Medicina nos climas quentes. Uns o empregam segundo o método de Law; Amiel, porem, medico do exercito inglês o empregou com grandes vantagens em altas doses. Segond administra-o debaixo da forma pilular, cuja fórmula é a seguinte: Ipecacuanha em pó ------ 40 centig. Calomelanos ------ 20 centg. Extrato aquoso de ópio ------ 5 centig. Xarope de rhamo ------ q. b. O emprego dessas pílulas é de grande vantagem, sobretudo quando se trata de um caso de disenteria crônica.86 Conforme observado, na segunda metade do século XIX no Brasil, a aplicação medicinal da ipecacuanha estava no centro das discussões médicas, compondo um quadro internacional no qual a ipecacuanha aparece com grande destaque. Observe-se que em 1876 vem a público nos Estados Unidos da America exaustiva obra versando sobre a ipecacuanha denominada “Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha: with a contribution to the therapeusis of cholera”87. Na primeira parte da obra o autor dedica-se a apresentação de diversas patologias e casos clínicos envolvendo a aplicação da ipecacuanha como medicamento. É interessante notar que além da aplicação nos casos de disenteria ou como vomitivo, ou ainda como expectorante, de acordo com as fontes anteriormente citadas, é mencionado também a aplicação da ipecacuanha como antídoto contra veneno de serpentes.88 Na segunda parte, observa-se que é apresentado vasto material sobre a aplicação terapêutica da poaia em diversos problemas de saúde como a disenteria, além de analisar seu emprego e aplicação em relação ao sistema nervoso (“... ipecacuanha is a nervous stimulant, acting chiefly through the sympathetic system”89). Na terceira parte do trabalho o autor investiga a aplicação da ipecacuanha no tratamento da cólera. 86 RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria... p. 32-3. WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha: with a contribution to the therapeusis of cholera. Philadelphia, USA: J. B. Lippincott & Co. 1876. 88 WOODHULL, Alfred A. XX. As an antidote to venom. In: ______.Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha… p. 72. 89 WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha… p. 91. 87 48 Finaliza-se então este breve quadro da aplicação clínica da poaia destacando que não se pretendeu neste item uma explanação exaustiva a luz da história da ciência, em virtude das limitações inerentes ao texto de uma dissertação. Contudo, pretendeu-se demonstrar que a poaia extraída no Brasil era conhecida em vários lugares do mundo e de vasta aplicação médica, o que a tornava um produto de exportação que atingia proporções significativas. A partir das inferências sobre a aplicação médica da poaia no contexto internacional obteve-se uma perspectiva ampla, que possibilita agora pensar a economia extrativa da poaia no âmbito das fronteiras políticas do Brasil colonial/imperial, obedecendo a uma determinação de abrangência do mais amplo para o mais restrito. 49 3 – Comércio e migrações intracontinentais: homens, animais e plantas em movimento no sertão leste de Minas Gerais (1824 – 1832). Consiste este capítulo em análise do comércio interprovincial envolvendo as províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, durante o período compreendido entre os anos de 1824 e 1832. Sobre a delimitação do recorte temporal, este foi atribuído pela própria documentação, de acordo com o proposto por Linhares, para quem a definição do recorte espacial do “... objeto deveria claramente acompanhar a produção [da] documentação”90. Metodologicamente embasado na pesquisa empírica em fontes primárias, consiste em levantamento, compilação e análise dos dados obtidos a partir da documentação relativa à exportação provincial no período anteriormente citado. Estes documentos consistem nos Livros de Registros de saída de gêneros exportados da Província de Minas Gerais para as de beira mar pelo Registro da Barra do Pomba, localizados no Arquivo Nacional e no Centro de Estudos do Ciclo do Ouro/Casa dos Contos, em Ouro Preto (MG), onde foram consultados em suporte microfilme.91 Os registros eram elementos componentes da fiscalidade das minas oitocentistas e podem ser entendidos a partir da definição a seguir: O registro ficava, normalmente, numa estrada regular, em um "vão de serra", "fecho de morros" ou desfiladeiro, próximo a um curso de água, que além de assegurar o abastecimento da repartição, retardava ou dificultava a passagem dos contribuintes. [...] O pessoal dos registros se compunha de um Administrador (representante do Contratador), um Fiel (representante da Fazenda Real), um Contador e dois ou quatro soldados. Os prédios consistiam na "casa do registro", nas residências do fiel e do administrador, no quartel dos soldados, num rancho para os tropeiros contribuintes e num curral para os animais. A estrada era fechada por um portão com cadeado. O equipamento era mínimo: livros contábeis, cofre, balança com pesos, medidas para volumes, armas e utensílios domésticos.92 90 LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Região e História Agrária. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p.17-26. 91 Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba. CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Anos: 1824, 1825, 1826, 1827, 1828, 1829 e 1832; Volumes: 736,737, 738, 739, 740, 741, 742, 743 e 744. Rolo 51 [Microfilme]. 92 REGISTRO. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/administracao/reparticoes/colonia/registros.asp > acesso em 21 de abril de 2012. 50 Subsequentemente a leitura dos dados, estes foram tratados a partir do conceito de “cadeias de mercadorias” e sua quantificação e identificação nominal possibilitou a interpretação/reconstituição de um processo histórico modelar, cuja análise compõe a produção historiográfica que tem demonstrado a dinâmica agrícola e comercial mineira no período posterior à mineração aurífera. O estudo desta cadeia de mercadorias possibilita a interpretação do processo de migração/movimentação de seres animais e vegetais no espaço intracontinental, e por vezes extrapolando as fronteiras nacionais, quando tomado como exemplo a comercialização da poaia. Neste caso a cadeia de mercadorias extrapola os limites políticos do Brasil, assumindo uma perspectiva intercontinental, visto que o consumidor final da poaia localizava-se predominantemente na Europa, onde dispunha de fama junto aos boticários que a vendiam processada em suas boticas. Para compor o estudo da cadeia de mercadorias, é necessário investigar também os agentes envolvidos, visto que os comerciantes e agricultores constituem parcelas inerentes ao processo de movimentação de mercadorias. Estas mercadorias compunham-se de elementos vegetais e animais, estes transportados vivos ou abatidos, enquanto aqueles eram submetidos a diferentes graus de manufatura, desde a simples desidratação de raízes de poaia, até a produção de algodão tecido. Adotou-se o termo migração por entendimento que este pode ter sua significação ampliada, sendo possível sua aplicação aos movimentos humanos que caracterizam migrações periódicas em função do trabalho, animais e plantas comercializados. Para tanto, realizou-se investigação sobre os agentes envolvidos no comércio interprovincial: indígenas e nacionais93, em busca da compreensão do avanço da sociedade luso-brasileira sobre um ambiente novo, o que envolve um aprendizado do próprio processo de ocupação por seus agentes. Portanto, o objetivo aqui é realizar uma investigação da atividade de coleta da poaia, pensando nos agentes envolvidos, plantas e homens, em movimento dinâmico e interativo. Consequentemente, será necessário refletir sobre o elemento indígena e seu papel 93 O termo “nacionais” é aplicado aqui de acordo com Maria Hilda Baqueiro Paraíso, que o aplicou ao compor a trajetória histórica dos botocudos, como referência aos elementos não-indígenas participantes do contato inter étnico. PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA. Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p. 413-430. 51 no processo de ocupação e sua contribuição para os colonizadores. Necessário, portanto, entender que durante este processo de avanço de fronteiras, formaram-se regiões de contato onde o processo de transculturação desenvolveu-se por meio de relações tensas e conflituosas entre os grupos étnicos envolvidos. Estas regiões denominam-se ‘zonas de contato’, espaços sociais onde culturas díspares se encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra, frequentemente em relações bastante assimétricas de dominação e subordinação – como o colonialismo, o escravagismo, ou seus sucedâneos ora praticados em todo o mundo.94 As zonas de contato podem ainda ser entendidas como um ...espaço de encontros coloniais, no qual as pessoas geográfica e historicamente separadas entram em contato umas com as outras e estabelecem relações contínuas, geralmente associadas a circunstancias de coerção, desigualdade radical e obstinada.95 Esta observação, entretanto, ater-se-á ao aspecto socioeconômico decorrente da extração e comercialização da ipecacuanha, obedecendo ao imperativo de um recorte temático, sem, contudo, negar outras possibilidades de apreensão e compreensão dos múltiplos aspectos sócio-culturais decorrentes de um processo histórico mais amplo de interiorização da ação colonizadora lusitana.96 Dentro dos parâmetros anteriormente definidos, busca-se compreender a colonização como um processo intelectual de reconhecimento do território brasileiro e sua efetiva ocupação, demonstrada a partir da mudança de ênfase na obtenção do trabalho indígena no século XVIII para as disputas por suas terras no século XIX: ...para caracterizar o século [XIX] como um todo, pode-se dizer que a questão indígena deixou de ser essencialmente uma questão de mão-de-obra para se tornar uma questão de terras. Nas regiões de povoamento antigo, trata-se mesquinhamente de se apoderar das terras dos aldeamentos. Nas frentes de expansão ou nas rotas fluviais a serem estabelecidas faz-se largo uso, quando se o consegue, do trabalho indígena, mas são sem duvida a conquista territorial e a segurança dos caminhos e dos colonos os motores do 94 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru, São Paulo: EDUSC, 1999. p. 27. 95 PRATT, Mary Louise. Os olhos do império... p. 31. 96 DIAS, Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005. 52 processo. A mão-de-obra indígena só é ainda fundamental como uma alternativa local e transitória diante de novas oportunidades.97 Observa-se esta questão a partir da análise de um mapa topográfico de Minas Gerais elaborado no século XVIII98: Figura 6: Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes. Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg 97 CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha (Org.). Política indigenista no século XIX. In: ______. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p. 133. 98 Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes : toda esta capitania he coberta de mattas e só nas comarcas do Rio das Mortes, Sabará e Ferro tem manxas de Campo. [17--] 1 mapa ms : : col. ; : 74,5 x 67,5cm em f. 77,5 x 68,8cm. Disponível em < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg > Acesso em: 14/06/2011. 53 Neste mapa percebe-se como a apropriação do território aparece na representação cartográfica: predominam os rios, como tradicionais vias de acesso ao interior, bem como as localidades e pequenos núcleos urbanos, que constituem uma etapa concretizada do processo de colonização e conformação territorial em claro movimento da expansão da fronteira colonial. Entretanto, ao mesmo tempo em que a carta setecentista apresenta elementos que indicam a apropriação efetiva do espaço, aponta ainda áreas não conquistadas, reconhecidas por meio de expressões como “Certão inculto dominado pelo brabo Gentio Puri”. Ao proceder a comparação com o mapa de 184799 reproduzido a seguir percebe-se a efetivação do processo de colonização da região encontra-se em avançada etapa de realização. Figura 7:“Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue ate o mar pela costa oriental”. Fonte: Fonte: Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04. 99 TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847. Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04. 54 Tal constatação pode ser inferida a partir da observação de que na carta de 1847, além dos elementos geográficos como serras e rios, que sugerem maior proximidade entre o real e o representado no mapa, a ocupação humana aparece de forma efetiva, demonstrando que a atividade colonizadora tornou-se ativa na região. Agora, tão importante como demonstrar os rios como vias de acesso, é essencial demonstrar também os caminhos, as freguesias, as cidades e as propriedades rurais. Estas são indicadas pela referência aos nomes dos proprietários, ou seja, constituem terras efetivamente ocupadas, territórios configurados, em substituição a regiões antes denominadas como sertões incultos. Percebe-se, portanto que, através da comparação entre duas fontes cartográficas, é possível apreender o avanço do processo de ocupação da região. É perceptível então que havia uma movimentação humana rumo ao interior que se efetivou a partir da apropriação de porções de terras antes pertencentes a indígenas. Durante esse processo, formou-se uma “zona de contato” em que os grupos envolvidos podem ser definidos de forma geral como sendo os indígenas e colonizadores portugueses.100 Esta orientação deve-se ao fato de que a economia extrativa da poaia era protagonizada por agentes indígenas, predominantemente, em interação com os colonizadores. Posto nestes termos, uma equivalência obvia com o conceito de zona de contato pressupõe que se desenvolveu uma relação entre portugueses e indígenas, separados geograficamente, mas postos em interação no seio de um processo colonizador, no qual a assimetria entre os grupos estabelece a subordinação dos indígenas por meio de processos coercitivos desenvolvidos na longa duração. Estes processos de dominação concretizam-se por meio do avanço da fronteira colonial e expulsão ou readaptação dos nativos. Este movimento humano101 destaca-se em seu sentido que denota um processo de 100 A utilização do termo “portugueses” nesta dissertação deu-se em função da observância do emprego dessa denominação em diversas fontes consultadas. Entretanto, para os efeitos dessa análise deve-se tomar a utilização dessa denominação em oposição ao termo indígena. Este é empregado para designar de forma geral os nativos envolvidos na comercialização da poaia sem aprofundar em análise etnográfica buscando a identificação precisa dos grupos étnicos, enquanto aquele termo reúne sob sua abrangência os colonizadores, de origem portuguesa ou não, visto que pensar na definição estrita para o termo “portugueses” no século XIX seria passível de questionamento. 101 No caso dos indígenas, o movimento humano apresenta-se de certo modo “errático” visto que não apresentava uma orientação definida, mas sim um percurso por rotas que eram possíveis. É sabido que os sujeitos históricos são habilidosos em manipular os recursos estratégicos a seu dispor, e, portanto que esta era uma possibilidade. Entretanto, considera-se que esta margem era muito 55 interiorização. Entretanto, esta não é a sua única face, visto que interessa aqui o movimento contrário do interior para a corte, em que se destacam elementos humanos, animais e plantas. Estas, submetidas a algum tipo de beneficiamento, mais ou menos complexo, de acordo com o produto analisado. Como exemplo podem ser citados o fumo, derivado do beneficiamento da planta do tabaco, o algodão tecido, a marmelada, o azeite de mamona e a poaia. Esta última não recebia nenhum tipo de tratamento complexo, apenas a separação entre a parte comercial, a raízes, e a parte pouco apreciada (caule e folhas). As raízes eram submetidas a um processo de desidratação natural e eram vendidas secas, visto que isto aumentava a sua durabilidade sem interferir nas propriedades fitoterápicas. Quanto aos animais, poderiam movimentar-se vivos ou mortos, mas a duas situações destinavam-se ao abastecimento alimentar da corte, exceto pelos cavalos e gado muar, que não eram apreciados como fontes de proteínas, mas como animais de trabalho102. Observa-se a seguir os gráficos representativos dos registros de plantas e animais: pequena e aproveitada por reduzido numero de sujeitos, estando, a maioria deles em uma situação de vulnerabilidade e em posição inferior em uma estrutura social hierárquica. Por essa razão, considera-se que a situação predominante era a característica de uma zona de contato, ou seja, desigual, tensa e coercitiva. 102 Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba. CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Anos: 1824, 1825, 1826, 1827, 1828, 1829 e 1832; Volumes: 736,737, 738, 739, 740, 741, 742, 743 e 744. Rolo 51 [Microfilme]. Plantas (na forma de produtos derivados) exportadas pelo Registro da Barra do Pomba. Valores indicativos de quantificaçao 300 250 200 150 100 50 0 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1832 Marmelada (arrobas) 50 43 0 15 38 6 80 0 Poaia (arrobas) 0 0 0 63 88 7 17 6,5 Fumo (arrobas) 0 116,5 119,5 282 159 24 4 0 fumo (rolos) 0 63 29 0 0 0 24 0 azeite de mamona (barris) 0 10 0 0 0 2 0 0 Café (arrobas) 0 0 16 0 0 0 0 0 Figura 8: Gráfico representativo dos produtos de origem vegetal. Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. 57 Algodão tecido (varas) Valores indicativos de quantificação em varas (1 vara = 1,10 m) 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 Algodão tecido (varas) 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1832 300 10362 9954 2486 4131 600 5000 2500 Figura 9: Gráfico da exportação de Algodão Tecido. Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. 58 Animais exportados pelo Registro da Barra do Pomba Valores indicativos de quantificaçao 2500 2000 1500 1000 500 0 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1832 Toucinho (arrobas) 1340 1389 1553 2258 1741 2041 2051 566 Gado vacum (cabeças) (* 05 bois carreiros em 1830) 408 1548 1633 1527 2138 1284 1475 1089 Capados em pé (unidades) 0 2 177 0 0 0 0 0 Galinhas (unidades) 0 67 0 0 280 0 50 0 Cavalos (unidades) 0 0 0 0 16 0 9 46 Figura 10: Gráfico representativo de animais exportados (vivos ou mortos) pelo Registro da Barra do Pomba. Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Obtém-se dessa maneira uma aproximação do objeto de estudo [a economia extrativa da poaia] e dos sujeitos históricos envolvidos, além da possibilidade de refletir sobre a apropriação do mundo natural por meio de um acelerado processo de ocupação do solo, por meio da prática de queimadas e derrubadas de matas, ou seja, intensificando a degradação ambiental através de um processo predatório de ocupação da natureza, alterando a composição da flora, contribuindo para a rarefação da ipecacuanha. Esta perspectiva de expansão territorial por meio da ocupação do solo em áreas de colonização e expansão de fronteiras agrícolas encontra respaldo na historiografia, por exemplo, ao referenciar a obra de Marcelo Henrique Dias, que demonstrou que a apropriação dos recursos florestais em uma área de floresta atlântica assumiu proporções significativas, possibilitando a ascensão econômica e social de agentes envolvidos durante o processo de ocupação e conformação territorial da Capitania e Comarca de Ilhéus.103 Como um processo análogo, a exploração das madeiras nativas assemelha-se a economia extrativa da poaia, denotando, ambos os processos, a despeito das diferenças espaciais e temporais, um procedimento de avanço da atividade humana sobre o mundo natural em busca da apropriação dos recursos disponíveis. Tanto os sujeitos quanto o objeto serão compreendidos em sua dinâmica particular, ou seja, a partir do estudo do espaço econômico correspondente ao processo de comercialização da poaia, com seus agentes em movimento através das redes de comércio com as praças do Rio de Janeiro e do processo de extração empreendido pelos indígenas, no interior das matas que consistia na busca pelos espécimes vegetais em seu meio de ocorrência natural. Esta coleta itinerante remete ao semi nomadismo dos grupos étnicos indígenas envolvidos, ainda que estavam submetidos ao estímulo da sedentarização e prática da agricultura. O movimento das plantas, contudo, será analisado a partir do enfoque em um único produto, buscando observar a trajetória da erva medicinal em estudo evidenciando como a circulação de produtos primários através do comércio extrapola as fronteiras políticas. Para tanto, considera-se que ...a abordagem das redes ou cadeias de mercadorias tornou o produto primário como eixo de análise, mas o fez de uma forma tal 103 DIAS, Marcelo Henrique. A floresta mercantil. In: ______. Farinha, Madeiras e cabotagem: a Capitania de Ilhéus no Antigo Sistema Colonial. Ilhéus: Editus, 2011. p. 207-261. 60 que suas estruturas de produção, redes de comercialização interna e externa, distribuição nos países importadores e o próprio consumidor final conforma-se em elos de uma cadeia que se torna um objeto em si mesmo, uma “totalidade” a ser investigada em suas partes constitutivas e determinações recíprocas.104 Ao focalizar a análise sobre as cadeias de mercadorias, em seu movimento dinâmico, considera-se que tais proposições podem ser aplicadas ao estudo da economia extrativa da poaia, guardadas as devidas proporções. A despeito da menor expressividade em relação a produção de café, e também da diferença entre as culturas, visto que o café era cultivado em grande escala e a poaia era extraída em seu ambiente de ocorrência natural, a perspectiva da “commodity chain” aplicase para o estudo da economia extrativa da poaia, pois esta constituiu em torno de si um conjunto de relações sociais e econômicas, que por meio do comércio elaboraram uma rede que transcendia as fronteiras do território brasileiro, visto que o destino final era a Europa. Dessa forma, considera-se que “... as cadeias de mercadorias raramente se apresentam como conjuntos estáticos na história; ao contrário, sua natureza dinâmica e contínuas modificações é que vão se colocar como núcleo do conceito”105. Portanto, a extração e a comercialização da poaia podem ser entendidas como uma cadeia de mercadorias, no caso as raízes da planta, que apresentava uma dinâmica própria, movimentando-se em um grande percurso que compreendia desde o processo extrativo realizado pelo indígena, até a venda para o usuário final nas boticas européias. É pertinente observar que esta perspectiva considera uma dimensão que coincide com a rota comercial do produto em questão, extrapolando as fronteiras políticas ou naturais, abarcando, portanto, grande riqueza de detalhes, cuja reconstituição integral extrapola as possibilidades desta dissertação. Entretanto, os aspectos mencionados consistem em fortes indicativos do movimento internacional da planta cephaelis ipecacuanha.106 A este 104 PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira – 1850/1930. Revista eletrônica de História do Brasil, v. 9, n. 1, jan-jul., 2007. p. 08. 105 PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira – 1850/1930... p. 19. 106 A dimensão internacional do comercio da poaia pode ser enfatizada a partir da referência a seguir: National Archives/Londres/Records of the Boards of Customs, Excise, and Customs and Excise, and HM Revenue and Customs/Ledgers of Imports and Exports/CUST 3/18 (1716). Exportação de poaia de Portugal para a Inglaterra no ano de 1716: 111 libras e 10 shillings. A quantidade exata não pode ser determinada, pois o documento apresenta apenas os valores a seguir: 446:8. Agradeço ao Prof. Ângelo Alves Carrara a sugestão desta referência. 61 respeito é possível corroborar as informações levantadas por Márcia Moises Ribeiro, que afirma o seguinte: “Como demonstrou Alfred Crosby, a permuta de espécimes da flora européia e do Novo Mundo teria ocorrido unilateralmente. Centenas de exemplares europeus teriam se adaptado em diversos lugares da America , não ocorrendo, porém, o inverso (...) mesmo que essas amostras [de vegetais enviados da America para a Europa] não tenham exercido modificações profundas na paisagem européia, como ocorrera com outras colônias, a flora medicinal brasileira desempenhou um papel importantíssimo no mundo português, e nesse âmbito, pelo menos, a troca não foi unilateral”107 De acordo com a autora, a tese de Alfred Crosby, segundo a qual a movimentação dos vegetais obedeceu a um sentido único, do velho para o novo mundo, não parece se sustentar quando analisada sob o aspecto da utilização de plantas medicinais oriundas do Brasil. Embora não tenha sido aclimatada na Europa, a poaia representou um movimento inverso, do novo para o velho mundo e desempenhou importante papel nas praticas medicas da época. Conhecida internacionalmente, esta raiz do Brasil protagonizou, como fitoterápico, diversas experiências de cura bem sucedidas, adquirindo enorme prestígio junto aos médicos. Como exemplo da incorporação da poaia nas farmácias europeias, pode ser mencionada a Pharmacopéia geral para o reino e domínios de Portugal108 e o Tratado de Medicina Domestica, ambas datadas do final do século XVIII109. Neste sentido, observa-se o trecho a seguir, no qual é realizado um elogio à fauna brasileira, no qual aparece claramente o reconhecimento da importância da poaia: “O Brasil produz também hum grande numero de plantas aromáticas de diversas espécies, Suas producções botânicas são innumeráveis. Não faltao nem flores de ornato, nem plantas medicianaes. O arbusto tão útil, conhecido com o nome de ipicacuanha, não se acha senão no Brasil: sua flor he uma espécie de violeta: he na raiz, que residem todas 110 as suas propriedades”. 107 RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... pag..49. Pharmacopéia geral para o reino e domínios de Portugal, publicada por ordem de D. Maria I. Lisboa, Régia Oficina Tipografica, 1794. 109 Arquivo Público Mineiro: OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5. BUCHAM, Guilherme. Medicina Domestica ou Tratado Completo dos meios de conservar a saúde e de curar, e precaver as enfermidades por via o regime, e remédios simples. Obra útil, e acomodada a capacidade de todas as pessoas de qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham Medico do Real Colégio de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo Doutor Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas do Tradutor Francês, o Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia Rollandiana, 1791. Os trechos relativos a aplicação médica da poaia encontram-se transcrita em anexo. 110 BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua descuberta ate 1810. Trad. Pe. Ignácio Felizardo Fortes. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818. p. 92. 108 62 O acima exposto em linhas gerais chama a atenção para a investigação sobre uma atividade, a economia extrativa da poaia, que possibilitou o aproveitamento econômico de recursos oferecidos pela floresta durante o processo de ocupação de uma região na qual ainda não era cultivado o café e os gêneros cultivados não apresentavam grande potencial como valor de troca. As culturas de milho e feijão, por exemplo, eram destinadas a alimentação de animais e homens, mas em si mesmas não constituíam parcela expressiva dos produtos exportados. O milho aparece indiretamente como alimento de gado e para a criação de porcos. Estes sim, comercializados por meio da exportação para a corte. A leitura das fontes apresenta um quadro socioeconômico baseado em atividades comerciais e agrícolas associando os indígenas com a prática da agricultura a partir das suas relações sociais estabelecidas com os colonizadores presentes na região. Em requerimento datado de 1822, percebe-se a presença dos portugueses, na região correspondente a Zona da Mata Mineira, em processo dialógico com os indígenas por meio da prática do comércio e da agricultura, imposta como atividade corrente aos indígenas submetidos ao processo de aldeamento. Conforme o diálogo expresso na documentação, as ações dos diretores de índios deveriam pautar-se em atividades como “... entrar no matto com alguns lingoas para fazer os que não conhecerão os Portuguezes chegarem aos q. e estiverem aldeados, dando-lhes alguns mimos a evictar o que grave huns com outros...”.111 Apreende-se ainda na seqüência deste texto que a pratica da agricultura, predominantemente as plantações de roças de milho, convivia com os processos de extrativismo da poaia, visto serem atividades concomitantes que empregavam mão-de-obra dos indígenas e portugueses. Estes eram identificados muitas vezes como soldados das divisões militares que realizavam atividades agrícolas e aberturas de estradas, algumas vezes com a colaboração dos indígenas aldeados, e comerciantes de poaia. Os indígenas culturalmente diferenciados atuavam algumas vezes como aliados dos agentes colonizadores, como por exemplo aqueles que atuavam como tradutores (“lingoas”), conforme citado 111 Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 10, Fac. III e IV, Jul. A Dez. (1905), 1906. Vol. 10, pag. 440-1. (23/01/1823) “Requerimento enviado ao Imperador por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando seja feito Diretor dos Índios Puri”. 63 anteriormente. A presença dos indígenas aliados dos portugueses durante o processo de colonização, conforme identificado na fonte, instiga a seguinte consideração: o sujeito histórico indígena deve ser viso como um agente ativo, capaz de mobilizar recursos sociais e proceder a escolhas dentro das possibilidades a seu dispor, embora tais possibilidades fossem muito restritas. Para melhor compreender esta situação, recorre-se (guardadas as devidas proporções e diferenças entre os processos históricos em análise) ao que propõe Giovanni Levi ponderando que existe uma racionalidade própria expressa pelos atores históricos, marcando sua perspectiva diante das transformações em curso, em termos de aceitação ou rejeição das novas conformações sociais. Esta racionalidade apresentada pelo autor era “... empregada na obra de transformação e utilização do mundo social e natural”.112 Na busca da compreensão desta racionalidade, Levi propõe o conceito de estratégia, que relacionado ao contexto de comercialização da poaia levado a termo pelos indígenas e portugueses pode ser entendido como a mobilização dos recursos (materiais, simbólicos, econômicos, etc.) disponíveis para lograr os objetivos visados pelos sujeitos. Assim, os “lingoas” anteriormente citados personalizam um sujeito histórico autônomo, capaz de agir, ainda que dentro de limitações. Torna-se perceptível então a dinamicidade do sujeito histórico indígena em sua adaptação às novas situações sociais, conforme apresenta Maria Regina Celestino de Almeida: Além das perdas culturais e étnicas, os índios aldeados puderam aprender ali [nos aldeamentos] novas práticas culturais e políticas que lhes permitiam colaborar e negociar com a sociedade colonial em busca das possíveis vantagens que sua condição lhes permitia. O projeto colonial estava em construção e os limites e possibilidades de sua realização dependiam das populações indígenas que, no contato com os europeus, aprenderam a manejar e manipular novos instrumentos em busca de seus interesses.113 112 LEVI, Giovanni. Introdução. In: ______. A herança imaterial: Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 45. É pertinente considerar que, embora o recurso ao conceito de estratégia proposto por Levi, não se pretendeu à realização de uma pesquisa metodologicamente orientada de acordo com os pressupostos da Micro História. Tal recurso foi realizado por entendimento que ao perceber nos agentes históricos uma racionalidade própria fica evidente que são capazes de realizar escolhas e estratégias que permitam a utilização dos recursos disponíveis a seu dispor. É importante salientar, entretanto, que, embora a aplicação de conceitos que remetem à micro historia, o presente trabalho não constitui um procedimento de pesquisa que desenvolva o tema por meio de diferentes escalas de observação, aspecto característico da micro história. 113 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 34. 64 Percebe-se na fonte citada a seguir a expressividade da economia da poaia enquanto fonte geradora de recursos monetários ao mesmo tempo em que interferia nas formas de organização social, que implicavam relações de conflito e divergências de interesses entre as partes envolvidas. Nota-se ainda que tal prática incidisse diretamente sobre os agrupamentos indígenas alterando significativamente seus modos de vida e arranjo social. A observação de alguns testemunhos sugere que a comercialização da poaia consistia também em campo de disputa nos quais as relações de poder eram estabelecidas por meio de relações desiguais entre agentes e grupos sociais, que manipulavam o comércio da poaia como uma estratégia de acumulação de riquezas: “Uma pacificação total reinava desde Belmonte até os Campos de Goitacazes, e em toda a província de Minas Geraes que tirou um dinheiro imenso na negociação da poaia com elles. Logo que o supp.e deixou o Commando; houveram mortes de Indios Puriz, e Portuguezes, sendo estes os injustos agressores nas vizinhanças da Ponte Nova Termo de Marianna: o que merece hua Inquirição Juridica, e punidas os agressores, para não renovar hua Guerra Cruel.114 O Diretor Geral Guido Thomas Marliere indo recolhido a Capital exercer o seu lugar de S. M.r da Tropa de 1.a Linha, deixou 4 Sold.os denominados Cassadores, e hum negociante de pualha dentro do Q.tel p.a tomarem cuidado, este se retirou a seu negócio e os 4 Sold.os em nada cuidarão nem ao menos em rossada p.a plantações e aquele Q.tel as benfeitorias q.e nelle se encontra apenas são 2 ranchos cobertos de palha de palmito: hum moinho p.a o qual se tem tirado dous regos e ninhum tem chegado agoa a fazer moer: este Q.tel se deve edificar aonde os Indios Puris pedirem e q.e sejam terras boas p.a verem produzir o fruto de seus trabalhos...”115 A presença dos conflitos ressurge nas fontes como um elemento importante no processo de colonização da região implicando tais relações conflituosas na organização de um espaço econômico associado à mobilidade das fronteiras. Tais processos não se mantinham alheios aos desdobramentos da concessão de 114 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 425. (24/04/1822). “Requerimento enviado por Guido Thomaz Marlière ao Imperador solicitando sejam pagas pelo Erário Publico as suas gratificações de Major”. 115 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 441. (23/01/1823). “Requerimento enviado ao Imperador por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando seja feito Diretor dos Índios Puri”. 65 sesmarias116 embora não estivessem determinados pela delimitação política dos territórios de sesmarias. Estas, muitas vezes incluíam fundos territoriais caracterizando um processo colonizador baseado na descontinuidade.117 Retomando a questão dos agentes do comércio de poaia a leitura de um ofício datado de 07 de janeiro de 1823 apresenta um processo de interação entre os atores sociais indígenas e portugueses possibilitando a identificação de grupos em conflito, bem como a apropriação do trabalho indígena: Em Manoel Burgo esta o Director dos Indios Puriz, com sua família, Caza, Igreja, sino, e Moinho coberto de telha; as mais barracas os portuguezes poalheiros aproveitarão delas a forca, comerão o milho da rossa, que produziu bem e correrão com os Puris q.e se disseminarão nos bosques em quanto o seu Director fez outra rossa, e voltou a elles com abundante socorro de mantimentos q.e vão do Prezidio para o negocio da Pualha, em cujo negocio todos sabem q.e não entro. (...) Os Indios q.e tem lhe são úteis e proveitosos, trabalhão, dão-lhe poalha, q.e não bota fora e proximam.te descobrirão ouro, que promete fazer a felicidade do Supp.e bem como ajudam nos seus trabalhos a muitas famílias Portuguezas, q.e não tem escravos.118 Para melhor compreender os elementos extraídos das fontes cogita-se a possibilidade da aplicação de um aparato metodológico que Simona Cerutti denominou análise processual.119 Essa autora focaliza a experiência dos indivíduos e os processos de escolhas, bem como a elaboração de estratégias pelos agentes. Assim o processo histórico investigado “... é analisado em seus componentes e suas relações recíprocas”.120 Observa-se que os indígenas, através do processo de interação descrito, viabilizaram o processo colonizador por meio das suas habilidades e de seu trabalho, elementos expressos na extração da poaia, forma de economia florestal 116 Arquivo Público Mineiro, PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828): “Sobre o desvio de terras dos índios para sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos índios coroados e coropós escrito por Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo”. 117 MORAES, Antônio Carlos Robert. Território, Região e Formação Colonial: Apontamentos em torno da Geografia Histórica da Independência Brasileira. Ciência & Ambiente/Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. V. 1, num. 1, (Jul. 1990) – Santa Maria, RS: Semestral, n. 33 (Jul./Dez. 2006), p. 13. 118 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 443 (07/01/1823). “Oficio enviado ao Imperador por Guido Thomaz Marlière”. 119 CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas. Rio de Janeiro: FGV, 1998. p. 174. 120 CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas... p. 188. 66 que denota a melhor adaptabilidade indígena para o trabalho florestal em relação à agricultura. As relações de trabalho entre os indígenas e os colonizadores podem ser percebidas nesta fonte a partir de sua interação com as famílias que não possuíam escravos, o que implica que alguns indígenas estavam submetidos a um processo de diferenciação mais intenso que incluía a possibilidade de vivência no âmbito doméstico do colonizador. Novamente, é possível associar os portugueses ao processo de extração da poaia bem como um dinâmico processo de conflito e interação entre os atores sociais. Tal interatividade favorecia o colonizador em função da sua natureza assimétrica e coercitiva típica de uma zona de contato, levando o indígena à perda de territórios, cultura e sujeição a ao trabalho nos moldes do colonizador. Além das referências à poaia, as fontes também mostram fragmentos de interações conflituosas entre indígenas e membros do corpo militar da Província de Minas Gerais, conforme oficio de Guido Thomaz Marliere, datado de 06 de abril de 1825: Os Indios que deram occazião ao Combate de 8 de Janeiro de que resultou a morte do Cap.tam Naknenuk Makúen, e seus dous Ajudantes, voltarão ao fim de 20 dias, e viverão na melhor intelligencia possível com a pequena Guarnição ate acabarem de comer a Rossa de Milho que para elles ali havia. Na barra do Rio Cuyethé, tem se apresentado Naknenuk em numero tanto, que o Capitam M. Orotinon, que governa os da parte Meridional, se oppóz a q.e se lhes dessem Canôas para passarem, por desconfiar que vinhão hostilm.te – As Rossas da Barra do Cuyêthé, Quartel Geral de Cuyethé, o Bananal Grande forão, e são da maior utilidade para o sustento de toda Gente muitos são já acostumados ao trabalho, e rossão a par dos Soldados, outros ganhão jornal em as Fazendas e vão apprendendo, que com o dinr.o se adquire o necessário. – Em Petersdorff tudo vive tranqüilo; e temos hua rica colheita deste anno abrigar; e m.to milho velho, que os Indios não poderão acabar.121 Posta a noção da estratégia, Levi procede a uma “... análise do tipo estratégico”, que leva em conta outro elemento de grande importância para pensar as ações dos sujeitos históricos: a incerteza. A incerteza “... é a principal figura através da qual os homens de Santena apreendem seu tempo. Eles devem entrar 121 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594. (25/04/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. 67 em acordo com ela e, na medida do possível reduzi-la.”122 Transposto o Oceano Atlântico e avançados alguns séculos no tempo é necessário pensar no estudo de um processo econômico e social (o comércio de poaia) no qual figuram agentes cuja existência estava atrelada às incertezas, exigindo a elaboração de estratégias. Dessa forma é possível observar alternância entre os comportamentos hostis e receptivos dos nativos em relação aos colonizadores, bem como na relação estabelecida a partir do cultivo de roças usadas como atrativos aos indígenas que se aproximavam dos portugueses em busca das “roças de milho”, usadas como atrativos no contato com os nativos. Este período de aproximação reflete uma ação estratégica elaborada pelos índios, visto que a presença de alimentos de fácil acesso minimizava a incerteza relacionada à obtenção de alimento por conta própria, atividade dispendiosa do ponto de vista orgânico e cronológico. É necessário enfatizar que, no modelo de organização social observado, a obtenção de alimentos é uma atividade que tem grande destaque, determinando a perpetuação dos indivíduos e/ou grupos. Quanto aos indígenas que trabalhavam juntamente com os soldados e ganhavam jornal em fazendas, percebe-se novamente que desenvolvem ações estratégicas que garantem a sua permanência e inserção em um meio social transformado pela introdução de elementos humanos estrangeiros, o que levou a uma perturbação óbvia da dinâmica anteriormente existente nas sociedades íncolas. Estas estratégias permitiam aos indígenas obter recursos como ferramentas, ao mesmo tempo em que, nos territórios ainda não dominados pelo colonizador prevalecia a cultura indígena. Outro aspecto importante é a menção ao conhecimento pelos indígenas da importância do dinheiro como elemento mediador das relações de trabalho e de manutenção da sobrevivência a sua incorporação remete, novamente, ao conceito de estratégia e à noção de incerteza. Entretanto, é necessário especificar que ao aceitar a idéia de estratégia como elemento de compreensão de um processo econômico social não implica que os sujeitos possuíam ampla liberdade de ação, visto que as “... estratégias não são livres: estão ligadas a valores, cercadas por limitações”.123 122 REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 26. REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 27. 123 68 A noção de estratégia pode ser aplicada para análise do comércio da poaia, pois, ao levarmos em conta os seus agentes, em especial os indígenas que coletavam a planta no ambiente florestal, pode-se considerar “... a consciência dos próprios índios sobre suas possibilidades de manobra na situação colonial em que se encontravam”.124 Considerar que os indígenas desenvolviam comportamentos estratégicos atribui relativa autonomia ao sujeito, conferindo-lhe margem de manobra, ainda que limitada, ou seja, racionalidade: O indivíduo pode ser visto como um ser racional e social que persegue objetivos; as regras e os limites impostos as suas próprias capacidades de escolha estão essencialmente inscritos nas relações sociais que eles mantém. Eles se situam portanto na rede de obrigações, de expectativas, de reciprocidades que caracteriza a vida social. Numa tal perspectiva, o centro da análise será constituído pelo próprio processo social – e portanto pelas interações individuais nos diferentes contextos sociais – e não apenas pelas instituições.125 Considerando-se que a formação de um espaço econômico ocorre a partir da circulação de mercadorias e que esta circulação implica a presença de capital questiona-se se as relações de troca entre indígenas e colonizadores não tenham se baseado exclusivamente nas trocas envolvendo objetos/mercadorias, existindo participação indígena em relações comerciais que envolviam dinheiro na forma da moeda circulante da época. Tal inferência se baseia na fonte anteriormente transcrita em que constam participações de indígenas em trabalhos remunerados nas fazendas, bem como o desenvolvimento de atividades agrícolas ao lado dos soldados. Novamente, predomina o cultivo do milho como fonte de alimentação dos indígenas, cujas lavouras eram utilizadas como auxiliares no processo de aldeamento e sedentarizacão dos silvícolas. É relevante considerar o aldeamento, no qual eram reunidos grupos indígenas de diversas etnias como um espaço de interações culturais. Como afirma Maria Regina Celestino de Almeida, A idéia de processo para a compreensão das mudanças pelas quais passam os grupos indígenas em contato com as sociedades ocidentais tem sido especialmente valorizada nos últimos anos, enfatizando-se amplas possibilidades desses grupos para recriarem seus valores, tradições, culturas, identidades. Tal concepção é fundamental para se pensar as aldeias coloniais em seu longo percurso de três séculos, em que várias gerações de índios 124 ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas... p. 38. CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas... p. 189. 125 69 transformaram-se de etnias múltiplas num amplo e genérico grupo que chamamos índios aldeados.126 No contexto das atividades realizadas pelos membros das divisões militares, que podem ser definidas como “... abertura d’Estradas, Facturas de Rossas, Civilização, e tratamento dos Indios”.127 Em relação ao tratamento aos indígenas, percebe-se pelas ações do Cabo da 6.a Divisão Simplício Rodrigues de Medeiros: ... pacificação da porção dos Naknenuk irritados pelo Combate de 8 de Janeiro em o Quartel de D. Manoel, com aprecipitação com que levou deste Quartel Ferramentas e roupas para os accomodar no q.e acertou perfeitamente sabendo a lingua dos Indios, e sendo activissimo.128 Neste mesmo oficio reaparece o comércio da poaia e o modo como era praticado, apontando informações sobre o estado de civilização dos índios: As margens do Rio Doce, são cobertas de poalheiros desarmados, que tiram das mattas colheitas abundantes do rico ramo do negocio da Ipecacuanha: o que prova q.e ninguém mais se recêa dos Outros? ora terríveis Botocudos. Nos Districtos da 5. a e 7.a Divisõens desde o Peçanha até o Salto Grande do Giquitinhônha nossa extrema fronteira, não tem havido a menor desordem entre Indios e Brasileiros.129 No entanto, deve-se observar com cautela tais informações visto que foram escritas pelo Diretor Geral dos Índios. Obviamente as informações seriam aquelas mais condizentes com os propósitos da Coroa no que diz respeito à civilização dos índios, o que implicava sua sedentarizacão e diferenciação cultural através da introdução da prática da agricultura. Neste mesmo ofício observa-se que os “... Puris vão se acostumando à Agricultura, menos os immensos ocupados na extração da poalha”.130 Este ponto não deve ser considerado como um dado fixo pois os indígenas coletores de poaia também poderiam praticar a agricultura visto que a 126 ALMEIDA. Maria Regina Celestino de. Os índios aldeados: histórias e identidades In: ______. Metamorfoses indígenas... p. 260. 127 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594. (25/04/1825). “Oficio. Marlière”. 128 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595. (25/04/1825). “Oficio. Marlière”. 129 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595. (25/04/1825). “Oficio. Marlière”. 130 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 596. (25/04/1825). “Oficio. Marlière”. em construção. Guido Thomaz Guido Thomaz Guido Thomaz Guido Thomaz 70 colheita da ipecacuanha era sazonal, ou seja, ocorria em períodos específicos do ano.131 Observa-se ainda que a presença de conflitos era bastante comum, conforme citação a seguir, o que requer um análise cautelosa com vistas a identificação de contradições internas na documentação: Mando já dous Botocudos dos que me vierão ontem de Petersdorff com um Soldado, delles conhecido, ao dito Comandante p.a q.e os encaminhe aonde estão Seus Irmãos, e os sossegue prometendo justiça contra os culpados, antes que vão chamar aos outros, e renovem uma Guerra pior que a primeira. Este Antônio José de Souza Guimaraens é o mesmo, que pelas suas intrigas hia suscitando desordens entre as Guardas da Província e o Espírito Santo e o Diretor dos Indios de Abre-Campo: hum Novato Orgulhoso de possuir algumas patacas adquiridas neste paiz pela maior parte a Custa dos Indios no negocio da Poalha e que os abomina: e o pior de tudo um destes Condutores de Povo como se achão na maior parte dos Distritos: e que publicamente se tem já e tudo, q.e havera de attirar aos Indios que se apresentassem na sua Fazenda como fez sejam Botocudos ou Puris...132 A leitura atenta das fontes também possibilita uma identificação, além das práticas econômicas, dos agentes sociais envolvidos e também dos limites e das fronteiras estabelecidas com a formação de um espaço econômico. Contudo, devese ter em mente que as fronteiras de um espaço econômico não são fixas ou estanques, mas por outro lado podem apresentar certa mobilidade que varia de acordo com a circulação das mercadorias e com a economia mercantil. ... Antônio José de Souza Guimarães, Sargento de Ordenança do Districto de Ponte Nova, Termo de Marianna (...) Este Antônio José Oriundo de Portugal, principiou a sua carreira de Soldado da 3a Divisão da qual obteve baixa para negociar poalha com os índios Puriz quando foi aberta a estrada de Minas a Cidade da Victoria em 1818, da qual eu [Guido Thomaz Marliére] fui inspector: com a poalha comprou burros e com os burros conduzia os mantimentos para o Tenente Coronel Ignacio Pereira Duarte Carneiro, o qual encontrei no mesmo anno no Rio Manuassú, nesta parte de Minas trabalhando com Pedestres da Província do Espírito Santo na abertura da dita Estrada (...) persuadi ao dito Alferes José Caetano [da Fonseca, diretor dos Índios de Santa Anna do Abre Campo], depois da sua reforma reunisse os Puriz dispersos nos nossos diversos Quarteis da Estrada [Minas à Vitória] em Aldeamentos, os occupasse na extração da poalha, e do produto 131 DEAN, Warren. A ferro e fogo: a historia e a devastação da mata atlântica brasileira.Trad. Cid Knipel Moreira. São Paulo:Cia das Letras, 1996. p. 147 132 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 608. (25/05/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. 71 dela os sustentasse e vestisse para evitar despezas à Fazenda Publica: o que aceitou e executou em Maio de 1821, mandando fazer logo pelos seus Escravos largas Plantaçoens nos rios Manuassú e Matipo-o aonde se reunírão uns luzidos aldeamentos, que inspectei em abril de 1823.133 Conforme observado no documento transcrito acima, a presença da economia da poaia aparece por meio de referências claras ao processo extrativo da ipecacuanha, evidenciando também os atores sociais envolvidos, representados por portugueses e indígenas. Este aspecto possibilita algumas inferências sobre a conformação de um quadro étnico e também da percepção de relações de trabalho e processos ocupacionais desempenhados pelos indivíduos. Percebe-se que o extrativismo vegetal possibilitou ao indivíduo referenciado a ascensão social e econômica, ao mesmo tempo que pode ser identificada uma relação com a economia das tropas. A dimensão social do comércio da poaia pode ser percebida na medida em que contribui para acelerar o processo de sedentarização e destribalização dos indígenas. Portanto, o comércio da poaia é entendido aqui como uma estratégia de acumulação de riquezas e diferenciação social através do estabelecimento de relações desiguais de poder, nas quais apresenta-se um grupo social em posição de dependência em relação ao outro. Enquanto estratégia de acumulação de riqueza, implica também a mobilidade social para os agentes comerciantes da poaia, que dela obtinham lucro, uma vez que restituíam minimamente o trabalho indígena de coleta da planta. Entende-se, no âmbito deste trabalho, que a definição de poder está atrelada a ...organização de um campo onde agem forças instáveis e que estão sempre sendo reclassificadas.[...] ...é a recompensa daqueles que sabem explorar os recursos de uma situação, tirar partido das ambigüidades e das tensões que caracterizam o jogo social.134 Deve ser ressaltada ainda a estreita ligação da atividade com os postos militares especificamente por meio do contato com os integrantes das tropas, que mantinham atividades de intercâmbio com os indígenas coletores de poaia. A aplicação da mão de obra indígena na coleta da poaia, assim como em outras atividades, indica a presença significativa de tal prática ao longo do processo de 133 Revista do Arquivo Público Mineiro... Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. p. 35-6. Oficio. Guido Thomaz Marlière. 134 REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 33. 72 colonização. O documento anteriormente citado possibilita observar que a atividade dos poalheiros era realizada concomitantemente com outras formas de trabalho, como por exemplo, o exercício da atividade militar, como no caso dos “... soldados do Quarteis vezinhos da Provincia do Espirito Santo, que arrancavão poalha por conta delle [Antônio José de Souza Guimarães]...”.135 Em reação a participação indígena neste processo destaca-se que o “... emprego dos [Índios] que se chegam é adestrá-los à agricultura, ao exercício de canoeiros, e ao negócio da poalha, em que vão fazendo grande proveito aos trabalhadores deste negócio, sem abatimento da despesa que faziam à fazenda pública”.136 De acordo com as fontes, também pode-se identificar a relação e a influência que as atividades econômicas da região, aqui representadas pela economia da poaia, estabeleceram com o processo de colonização por meio da constituição de um espaço econômico específico de um período e de um lugar. 137 Neste sentido, a expressão territorial e física do processo econômico e social desenvolvida em torno da poaia, proporcionando a interação entre diversas formas de trabalho presentes na região, também influi na delimitação de fronteiras políticas e culturais, cujo atributo principal consistia em um caráter de mobilidade e de duração específica concomitantemente às práticas mercantis que originaram o espaço econômico delineado pelo comércio da poaia. Dessa forma, procedeu-se a reconstituição de fragmentos de relações socioeconômicas entre os sujeitos, permeadas por estratégias de sobrevivência e adaptação, relações assimétricas entre sujeitos históricos, dominação, coerção, conflitos e mecanismos de resistência. Respeitados os limites da documentação, que não permite captar os múltiplos aspectos da vida social dos agentes envolvidos, pretendeu-se que as informações levantadas atuassem como indicadores de possibilidades de experiências pretéritas pertinentes, considerando a importância 135 Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 11, p. 36. (11/06/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. 136 Arquivo Público Mineiro, CGP 1/1, Cx. 01 (1829/01/27): “Extrato de um ofício do Coronel Guido Thomaz Marlière datado de 07 de Janeiro de 1829”. 137 Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado. Vol. 12, 1907/1908. p. 498-510. (28/01/1828). “Mapa fazendo conhecer os aldeamentos das diferentes tribos de índios da província de Minas Gerais, seu local, população, aumento ou decadência e as causas. Quartel geral de Gendorvald, em 28 de janeiro de 1828”. 73 das “... tensões e das negociações de sujeitos posicionados de formas diferentes na sociedade estudada”138. Finalizando, considera-se que a economia extrativa da poaia consistiu em parte de um processo de apropriação de território, consistindo no avanço da sociedade sobre um ambiente, a partir da apreensão do próprio processo de ocupação pelos seus agentes, que se reconfigurou em território. Marcado pela tensão, o contato entre colonizadores e indígenas envolveu processo de transculturação marcado por aprendizado mútuo, em que os nativos contribuíram com seu conhecimento sobre o mundo natural, por exemplo, ao realizarem a coleta da poaia no interior de áreas de florestas e para os colonizadores. Atividade esta impossível de ser realizada pelo colonizador, em virtude da falta de familiaridade com o mundo natural, ou pelo menos em relação aos indígenas. Quanto aos agentes do comércio, aprenderam a mobilizar situações de conflito entre os próprios indígenas em busca de efetuar o avanço das fronteiras agrícolas, utilizando para isso o próprio trabalho indígena. O processo de ocupação efetivou-se de forma bastante eficiente, partindo da experiência prática até a sua representação nas manifestações intelectuais dos colonizadores, haja vista a construção do mapa de 1847, mencionado anteriormente, no qual o processo de ocupação humana mostrase efetivo a partir da indicação nominal dos proprietários de terras. A confecção do mapa consiste em clara manifestação intelectual do reconhecimento do território brasileiro. Vale lembrar que, a apropriação do meio ambiente permeou-se por um processo de ocupação da terra realizado em uma velocidade sem precedentes, visto que foi mais rápido e produziu mais alterações do que as formas de utilização da terra precedentes. Como saldo é licito pensar em um caráter predatório, de degradação ambiental, envolvendo a intensificação das queimadas e derrubadas de florestas. Tais aspectos não poderiam conduzir a outro quadro senão a extinção da poaia, cujo comércio entra em declínio com o findar do segundo quartel do século XIX. Percebe-se que a comercialização da poaia consistia em um processo amplo, cuja análise pode ser realizada sob ângulos diversos, possibilitando a sua 138 FRAGOSO, João. Alternativas Metodológicas para a História Econômica e Social: micro-história italiana, Fredrick Barth e a história econômica colonial. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; Oliveira, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: alternativas metodológicas para a história econômica e social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 27-48. p. 41. 74 interpretação a partir das relações sociais que se desenvolviam em seu entorno. Neste capitulo, foi enfatizada a sua dimensão social, pensando nos agentes e na dinâmica da comercialização, assim como no movimento das plantas por meio da atividade de tropear, que incluía também a migração de animais. Nas páginas seguintes, discute-se o aspecto econômico em maiores detalhes, evidenciando a comercialização da poaia em comparação com outros produtos. 75 4 – Análise da economia extrativa da poaia no leste de Minas Gerais (primeira metade do século XIX): estudo comparativo entre produtos de uma cadeia de mercadorias Este capítulo constitui um exercício de sistematização de dados em busca de um dimensionamento da comercialização da poaia em uma perspectiva comparada em relação a outros produtos a partir da leitura dos registros de exportação da Barra do Pomba. Estes documentos consistem nos Livros de Registros de saída de gêneros exportados da Província de Minas Gerais para as de beira mar pelo Registro da Barra do Pomba, localizados no Arquivo Nacional e no Centro de Estudos do Ciclo do Ouro/Casa dos Contos, em Ouro Preto (MG), onde foram consultados em suporte microfilme. As delimitações temporais são atribuídas pela própria documentação, que se inicia em 1824 e termina em 1832. Quanto ao recorte espacial, obedeceu aos limites e possibilidades impostos pelas fontes, que predominantemente não informam a origem dos produtos. Quando este dado aparece, ele remete ao espaço correspondente as atuais cidades de Ponte Nova, Visconde do Rio Branco, Ubá, Viçosa, Piranga, Rio Pomba, Barbacena, a partir das quais os tropeiros partiam em direção ao Rio de Janeiro/Espírito Santo, destacandose as localidades de Campos, São Fidelis, Vila de São Salvador e Rio de Janeiro. Metodologicamente cabe ressaltar que este capítulo baseia-se em procedimento comparativo que estabelece relações entre os produtos constantes nos registros analisados, com a finalidade de dimensionar a quantidade de poaia exportada em relação aos outros produtos. Tal analogia é estabelecida a partir da consideração da unidade de peso denominada arroba: “arroba (...) 1 METR antiga unidade de medida de peso que corresponde a 32 arráteis (cerca de 14,7 kg) (...) a. métrica METR unidade de medida de peso, us. para produtos agropecuários equivalente a 15 kg...”139. É necessário ressaltar, entretanto, que este critério não desconsidera os demais produtos, mensurados por medidas de comprimento ou volume, apenas restringe, para efeito de comparação a unidade “arroba” por ser esta 139 Houaiss, Antônio; Villar, Mauro Salles. Arroba. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 302. 76 a medida sob a qual a poaia era comercializada. Quanto à organização do texto adotou-se a alternância entre a apresentação de tabelas e discussão dos dados obtidos. Quanto a composição das tabelas, foram organizadas a partir da análise dos dados obtidos nos livros de registros. Estes, foram transcritos em tabelas, de forma bastante semelhante à estrutura presente nos livros de registros, embora a atualização gramatical tenha sido adotada nos casos em que não comprometia a pertinência do conteúdo expresso. Estes dados são apresentados integralmente como anexos do texto principal. Em relação aos valores referentes às quantidades de produtos exportados, em alguns casos a soma total expressa nas fontes é discrepante em relação à soma dos produtos registrados. Estas discrepâncias foram mantidas tal como presentes nos originais, uma vez que não são significativas ao ponto de comprometer a pertinência dos resultados. Em alguns trechos dos originais, não foi possível transcrever todos os dados, visto que alguns se perderam em função da degradação do suporte papel, ocorrida antes do processo de digitalização. Para realizar a análise, os dados foram tomados em sua ordem cronológica de apresentação, de forma que serão discutidos, anualmente, no período de 1824 até 1832, excetuando-se os registros de 1831, que não foram localizados. Os registros relativos a este primeiro ano encontram-se divididos em dois períodos, sendo o primeiro compreendido entre os meses de janeiro e setembro de 1824140, e o segundo se refere aos meses de outubro a dezembro do mesmo ano141. Para efeito deste estudo, considera-se todo o ano de 1824: em relação ao primeiro trimestre não consta a passagem de nenhuma tropa, portanto não foi registrado nenhum produto. Mas para os meses seguintes, de abril até setembro aparecem registros de produtos que indicam a diversidade da economia mineira: juntamente com os produtos de origem animal, estão presentes artigos como o algodão grosso tecido e a marmelada, além dos queijos e do gado em pé. A soma dos produtos exportados ao longo do ano de 1824 pode ser observada na tabela a seguir: 140 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan set], Vol.: 744, Rolo: 51. 141 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824/Out. Vol.: 743, Rolo: 51. 77 Produtos exportados pelo Registro da Barra do Pomba durante o ano de 1824 Produto Quantidades Toucinho 1340 arrobas Gado vacum 408 cabeças Marmelada 50 arrobas Queijos 700 unidades Algodão 300 varas Tabela 4: Produtos exportados ao longo do ano de 1824. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa É pertinente destacar que o toucinho apareceu em grande quantidade, sobressaindo em relação aos outros produtos. Do total dos registros relativos ao ano de 1824 até o mês de setembro obtém-se a quantia de 190 cabeças de gado, setecentos queijos, mil e duzentos e sessenta e oito arrobas de toucinho, cinquenta arrobas de marmelada e trezentas varas de algodão tecido. Apreende-se que neste período destaca-se a atividade de suinocultura, pecuária e agricultura do algodão e seu posterior beneficiamento na forma de tecido grosso. A produção de marmelada indica a atividade de beneficiamento do marmelo realizada possivelmente nas próprias unidades produtivas em que eram colhidos os frutos. A presença de grande quantidade de toucinho, queijos e gado indica a importância da pecuária nas regiões de origem. A partir da leitura dos dados referentes ao ano de 1824 pode-se inferir que a criação de porcos consistia em atividade de grande relevo, o que implicava também no cultivo do milho, visto que este é necessário para a alimentação dos suínos. Neste período, a poaia não é mencionada juntamente com os demais produtos exportados, sendo que a ausência desta planta junto aos demais produtos implica algumas observações: a) a poaia não era cultivada e sim coletada, portanto não possuía um ciclo regular como a cultura do milho, em que era possível exercer maior controle sobre a produção; b) sua coleta dependia do trabalho indígena, portanto suscetível aos condicionantes como presença de grupos indígenas atuando em cooperação com os colonizadores; c) a poaia era coletada na floresta “virgem”, portanto sua extração era mais comum em regiões pouco afetadas pela agricultura baseada na derrubada de florestas e prática da coivara, e também nas áreas de 78 expansão de fronteiras agrícolas, nas quais sua coleta representava uma apropriação dos recursos florestais. Portanto, a ausência da poaia nos registros de 1824 pode indicar desde o simples fato que ela tenha passado despercebida pelos registradores ou circulado por outros caminhos, ou ainda, a constatação mais obvia: não aparece na lista porque não foi comercializada neste período. Quanto ao ano subsequente, observa-se nas fontes os registros relativos ao primeiro trimestre de 1825142, compreendendo os meses de janeiro a março, e o restante do ano, ou seja, de abril a a dezembro de 1825.143 Os produtos registrados ao longo deste ano apresentam predominantemente como destinação final a localidade de Vila de São Salvador. As localidades de origem são: Barbacena, Freguesia da Pomba, São João Batista do Presídio, São José do Barroso, Piranga, Prata, Barra do Bacalhau, Ponte Nova, Ubá, São Caetano, Tapera, Calambau, Santa Rita do Turvo, Sumidouro, Matias Barbosa, Ouro Preto, Vila de São José, Lagoa Doirada, Freguesia de São Miguel e Guarapiranga. Nota-se a diversidade de locais de produção de gêneros nas Minas Gerais, o que permite considerar como bastante pertinentes os dados presentes nos registros, possibilitando valores indicativos confiáveis acerca da diversidade da produção agropecuária mineira. No primeiro trimestre deste ano de 1825 observa-se a presença do gado vacum, do toucinho, dos produtos manufaturados do algodão e do fumo, que aparece nos registros, perfazendo o total de oito arrobas oriundas de São João Batista do Presídio, sem destino final mencionado; e três arrobas provenientes de Barbacena e conduzidas para a Vila de São Salvador. Embora a diversidade de gêneros registrados, a poaia ainda não aprece neste conjunto, que reflete com mais nitidez o quadro geral da produção agrícola da região leste de Minas Gerais durante a segunda década do século XIX. Todavia, o surgimento de novos produtos como o sabão, o azeite de mamona e as galinhas não ofuscam a prevalência de grande quantidade de toucinho, perfazendo 1389 arrobas ao longo do ano e dos dois mil novecentos e cinquenta queijos no mesmo período. Quanto à produção do fumo, é importante ressaltar que nos registros não há 142 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar [Janeiro, Fevereiro e Março de 1825] Vol.: 743, Rolo: 51. 143 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.: 742, Rolo: 51. 79 uniformidade quanto a unidade de quantificação deste produto, sendo que o registrador mencionava por vezes o valor em arrobas, ora em rolos ou ainda as duas formas. A partir dos registros do fumo em que aparece a quantidade em rolos e arroba, foi realizada uma tentativa de padronizar a relação arroba/rolo de fumo, entretanto, observou-se que não é possível estabelecer uma razão do tipo “x rolos corresponde a y arrobas”, pois os rolos de fumo eram de formato muito variável não comportando nenhuma padronização. Foram observadas as seguintes proporções: Variação na apresentação das unidades de medida do fumo: rolo x arroba 18 rolos 36 arrobas 16 rolos 32 arrobas 05 rolos 04 arrobas 08 rolos 16 arrobas Tabela 5: Relação das unidades de medida do fumo. Fonte: Livro de Registro de Exportação da Barra do Pomba. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. A produção total do ano de 1825 apresenta-se expressa a seguir: Síntese dos valores dos produtos exportados ao longo do ano de 1825 Produto Quantidade Fumo 98 arrobas + 63 rolos Gado 1548 cabeças Toucinho 1389 arrobas Algodão tecido 10362 varas Mantas 56 unidades Queijos 2950 unidades Colchas 69 unidades Capados (porcos cevados) 02 Marmelada 43 arrobas Galinhas 67 unidades Sabão em barra 02 arrobas Azeite de mamona 10 barris Tabela 6: Produtos exportados ao longo do ano de 1825. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Neste momento é imprescindível observar que a produção do café no leste mineiro era bastante modesta, estando presente nos registros que a produção de 80 café para o terceiro trimestre de 1826 consistiu em 16 arrobas.144 Entretanto, essa quantia se refere ao café assentado nos registros, o que pode ser diferente da produção real, visto que o corpus documental consultado não permite maiores inferências sobre a produção do café. Outra notícia sobre a cafeicultura na região encontra-se no trecho a seguir, fazendo referência a uma localidade conhecida “... por outro nome Chipotó Novo, e porque estas posses se acham cultivadas com capoeiras, árvores de espinho, quatrocentos pés de café, monjolos, pedras de moinho e outras coisas concernentes à cultura...”145. Esta localidade corresponde a atual Cipotânea, município da Zona da Mata Mineira. Denominada São Caetano do Xopotó, ou Xopotó, teve sua Capela elevada a Freguesia em 1857, desmembrandose da Freguesia de Guarapiranga, da qual era filial desde 1757.146 O registro do café e do algodão junto aos registros de passagem faz referência a Provisão da Junta da Fazenda de 11 de novembro de 1825, que institui a necessidade de apresentar as guias de exportação do café e do algodão quando da passagem destes gêneros pelo Registro do Pomba.147 Quanto ao café, observamos pelo documento acima que uma pequena quantidade foi declarada ao deixar a província de Minas Gerais, saindo da Freguesia de São Miguel em direção a Vila de São Salvador. Quanto ao algodão em rama não foram encontrados registros. Este produto saía da província sob a forma de tecido, como pode ser observado nos registros em que aparece citado como algodão tecido, consistindo em uma referência clara aos processos de manufatura algodoeira presentes nas Minas oitocentistas. Entretanto, a manufatura do algodão em Minas não produzia tecidos refinados, sendo destinada a usos rústicos e a vestimentas de escravos. Sobre a manufatura de algodão no Brasil cabe ressaltar que antecede expressivamente o 144 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:735, Rolo: 51. 145 Arquivo Público Mineiro: PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828). “Sobre o desvio de terras dos índios para sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos índios coroados e coropós escrito por Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo. 146 BARBOSA, Waldemar de Almeida. Cipotânea. In: ______. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte – Rio de Janeiro. Editora Itatiaia, 1995. p. 88. 147 RESTITUTTI, Cristiano Corte. Elementos da fiscalidade de Minas Gerais provincial. Almanaque Braziliense, São Paulo, n. 10, nov. 2009 . Disponível em < http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180881392009001000007&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 21/04/2012. 81 recorte cronológico desta pesquisa visto que no final do século XVIII foi publicado o Alvará de D. Maria I proibindo a manufatura no Brasil: ...sendo-me presente o grande numero de Fabricas, e Manufacturas que de alguns annos a esta parte se tem difundido em diferentes Capitanias do Brazil, com grave prejuizo da Cultura, e da Lavoura, e da exploração das Terras Minaraes daquele vasto Continente; porque havendo nele huma grande, e conhecida falta de População, he evidente que quanto mais se multiplicar o numero de Fabricantes, mais diminuirá o de Cultivadores; e menos Braços haverá que se possão empregar no discobrimento, e rompimento de huma grande parte daqueles extenços Domínios que ainda se acha inculta e desconhecida... [...] ... Hey por bem ordenar, que todas as Fabricas – Manufacturas, ou Teares de Galoens, de Tecidos, ou de Bordados de Ouro, e Prata: De Veludos, Brilhantes, Setins, Tafetás, ou de outra qualquer qualidade de Seda. De Belbutes, Chitas, Bombazinas, Fustoens, ou de outra qualquer qualidade de Fazenda de Algodao, ou de Linho, branco ou de côres: E de Panos, Baetas, Droguetes, Saetas, ou de outra qualquer qualidade de Tecidos de Lãa ou os ditos Tecidos sejao fabricados de hum só dos referidos Generos, ou misturados, e tecidos huns com os outros, excetuando tão somente aqueles dos ditos Teares, e Manufacturas em que se tecem , ou manufacturão Fazendas grossas de Algodão, que servem para o uso e vestuário dos negros, para enfardar e empacotar Fazendas, e para outros ministeres similhantes; todas as mais sejao extinctas , e abolidas em qualquer parte onde se acharem nos Meus Domínios do Brazil...148 Conforme explicitado na fonte, é perceptível a interferência da corte portuguesa no sentido de impedir o surgimento de indústrias no Brasil que pudessem alterar a lógica mercantil de fornecimento de matérias primas para a metrópole e consumo de manufaturados procedidos da Europa. Entretanto, esta determinação cai por terra com a publicação do Alvará de 1 o de Abril de 1808 quando o príncipe regente determina a revogação do disposto no texto do Alvará de 1785, por meio do qual fora proibida a instalação de fabricas na colônia: Eu o Principe Regente faço saber aos que o presente Alvará virem: que desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e sendo um dos mananciaes della as manufacturas e a industria que multiplicam e melhoram e dão mais valor aos generos e productos da agricultura e das artes e augmentam a população dando que fazer a muitos braços e fornecendo meios de subsistencia a muitos dos meus vassallos, que por falta delles se entregariam aos vicios da ociosidade: e convindo remover todos os obstaculos que podem inutilisar e frustrar tão vantajosos proveitos: sou 148 BIBLIOTECA Nacional “Alvará régio proibindo no Brasil todas as fábricas e manufaturas de ouro, prata, sedas, algodão, linho e lã, só permitindo as de fazenda grossa de algodão”. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1289262/mss1289262.pdf > Acesso em: 17/06/2011. 82 servido abolir e revogar toda e qualquer prohibição que haja a este respeito no Estado do Brazil e nos meus Dominios Ultramarinos e ordenar que daqui em diante seja licito a qualquer dos meus vassallos, qualquer que seja o Paiz em que habitem, estabelecer todo o genero de manufacturas, sem exceptuar alguma, fazendo os seus trabalhos em pequeno, ou em grande, como entenderem que mais lhes convem; para o que hei por bem derogar o Alvará de 5 de Janeiro de 1785 e quaesquer Leis ou Ordens que o contrario decidam, como se dellas fizesse expressa e individual menção, sem embargo da Lei em contrario. Pelo que mando ao Presidente do meu Real Erario; Governadores e Capitães Generaes, e mais Governadores do Estado do Brazil e Dominios Ultramarinos; e a todos os Ministros de Justiça e mais pessoas, a quem o conhecimento deste pertencer, cumpram e guardem e façam inteiramente cumprir e guardar este meu Alvará, como nelle se contém, sem embargo de quaesquer Leis, ou disposições em contrario, as quaes hei por derogadas para este effeito sómente, ficando aliás sempre em seu vigor. Dado no Palacio do Rio de Janeiro em o 1º de 149 Abril de 1808. Contudo, ao observar o registro de exportação dos produtos da província de Minas para as de beira mar percebe-se que os tecidos fabricados nas Minas Gerais ainda padeciam de simplicidade no processo de fabricação, pois são registrados como “algodão tecido”, “mantas” e o “riscado”150. A ausência de tecidos finos nos registros de exportação indica que a despeito da revogação do alvará de 1785 a manufatura de tecidos nas minas gerais não conheceu grande desenvolvimento, o que está relacionado com a abertura dos portos em 1808, que permitiu a entrada de tecidos comercializados pelos ingleses no Brasil. Estes tecidos, de qualidade superior, contribuíram para estagnar a manufatura do tecido de algodão nacional. Quanto aos registros do ano de 1826 é possível observar que a produção de tecido passou por expressivo aumento, uma vez que são cada vez mais freqüentes nos registros a declaração de tecidos de algodão. Para o ano de 1826151observa-se uma variedade de produtos um pouco menor em relação ao ano anterior, embora ainda não esteja mencionada neste ano a poaia. Em 1826, foram registrados apenas o toucinho, gado vacum, capados em pé, algodão, queijos e fumo. A síntese anual dos produtos indica os seguintes valores: 149 o Alvará de 1 de Abril de 1808. “Alvará por que Vossa Alteza Real é servido revogar toda a prohibição que havia de fabricas e manufaturas no Estado do Brazil e Dominios Ultramarinos...” Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm > Acesso em 20 março 2012. 150 Riscado adj. 3 TÊXT Adornado com riscos (diz-se do tecido) (...) s.m. 6 Tecido barato de algodão com riscos coloridos, riscadinho. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Riscado. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 2462. 151 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.: 741, Rolo: 51. 83 Produtos exportados durante o ano de 1826 Produtos Quantidade Capados em pé 177 unidades Toucinho 1553 arrobas Gado vacum 1633 cabeças Algodão tecido 9954 varas Queijos 810 unidades Fumo 119,5 arrobas Tabela 7: Produtos exportados ao longo do ano de 1826. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa O ano de 1827152 apresenta alguns dados de extrema relevância para a pesquisa em curso: observa-se o registro relativo à poaia exportada, possibilitando evidenciar a quantidade registrada ao longo do ano. Nos dados relativos a este período é possível encontrar mudanças e permanências em relação ao descrito para as tabelas anteriores. Como permanências são consideradas as reincidências dos produtos já presentes em registros anteriores e como mudança (a inserção de novo produto) percebe-se a presença da poaia. No ano de 1827 foram exportados para o Rio de Janeiro os seguintes produtos: gado, toucinho, fumo, algodão tecido, poaia, queijo e marmelada. O gado registrado é transportado na forma de rebanhos, sendo o único produto que não sofreu beneficiamento. Os demais constituem derivados produzidos por intervenção da atividade humana sobre a natureza, variando o grau de sofisticação do beneficiamento, que atinge a sua expressão máxima no algodão tecido, que continua sendo produzido em quantidade significativa, em relação aos anos anteriores. Os demais como toucinho, queijo, marmelada, poaia e fumo foram submetidos a processamentos elementares, mas que denotam atividade manufatureira, ainda que rudimentar. Partindo da poaia, cuja exportação total durante o ano de 1827 consistiu em 63 arrobas, percebe-se que este valor constitui aproximadamente 2,8% em relação as 2258 arrobas de toucinho. Quanto a essa diferença, há que ressaltar a especificidade de cada produto, sendo esta comparação apenas para efeito indicativo. Vale lembrar que a suinocultura tratava-se de atividade comum e 152 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.: 740, Rolo: 51. 84 realizada nas fazendas sob controle dos produtores e a poaia tratava-se de um produto resultado de uma prática extrativista, ou seja, que se apropriava do vegetal in natura, sem realizar nenhum procedimento agrícola para aumentar a sua produção. Tal aspecto reforça o caráter transitório da atividade de coleta da poaia, refletindo apenas a apropriação de um recurso natural oferecido pelas florestas antes de se tornarem terras agricultáveis após as queimadas. Não foi encontrado nas fontes nenhum elemento que demonstrasse alguma forma de racionalidade na exploração da poaia ou tentativa de domesticação da planta. Vale lembrar que a comparação da poaia com outros produtos tão distintos visa dimensionar sua quantidade em relação aos produtos exportados. Quanto ao critério para a escolha de alguns produtos para comparação e exclusão de outros, deve-se levar em conta que a comparação só pode ser feita a partir de um critério em comum aos elementos do conjunto, e, neste caso, foi tomado como critério a unidade de medida, ou seja, a arroba. No caso do gado, do tecido de algodão e dos queijos, estes não serão comparados, pois estão quantificados em unidades e em vara, que é uma unidade de medida de comprimento, que equivale a aproximadamente 1,10 metros. Ao longo do ano de 1827 foram exportadas 1527 cabeças de gado vacum, 2486 varas de algodão tecido e 600 unidades de queijos. Quanto aos demais produtos segue-se a relação: Ano de 1827 Produto Arrobas % poaia em relação a: Poaia 63 Poaia 100% Fumo 282 Fumo 22,3% Marmelada 15 Marmelada 420% Toucinho 2258 Toucinho 2,8% Tabela 8: Produtos exportados ao longo do ano de 1827. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. O ano de 1828153 apresenta como de maior volume de exportação o toucinho, o algodão tecido e o gado vacum. Além destes produtos encontram-se fumo, queijos, poaia, cavalos, marmelada, galinhas e chicotes. Estes, obtidos a partir da manufatura de couro indica o aproveitamento do couro de animais abatidos no interior da Província de Minas Gerais que atendia ao consumo próprio, visto que a 153 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Ano: 1828, Vol. 738, Rolo: 51. 85 carne bovina não aparece junto aos produtos constantes nos registros de exportação. Destaca-se para o ano de 1828 a quantidade de poaia, situada na ordem de 88 arrobas, sendo o ano mais representativo de todo o período analisado. Analiticamente, observa-se a seguinte quantidade anual de gêneros exportados: Gêneros exportados ao longo do ano de 1828 Produto Quantidade Toucinho 1751 arrobas Fumo 159 arrobas Queijos 1930 unidades Algodão tecido 4131 varas Gado vacum 2138 cabeças Poaia 88 arrobas Cavalos 16 cabeças Marmelada 38 arrobas Galinhas 280 unidades Chicotes 480 unidades Tabela 9: Produtos exportados ao longo do ano de 1828. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Obtidos os valores para todos os produtos, conclui-se que a exportação de poaia representou em relação aos demais produtos, os seguintes percentuais: Ano de 1828 Produto Arrobas % poaia em relação a: Poaia 88 100% Fumo 159 55,34% Toucinho 1751 5,02% Marmelada 38 231,6% Tabela 10: Percentual de poaia exportada em relação a outros produtos no ano de 1828. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Para os anos de 1829154, 1830155 e 1832156, observa-se as tabelas apresentadas a seguir, nas quais pode-se constatar a tendência apontada para os 154 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1829, Vol. 736, Rolo 51. 155 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol. 739, Rolo: 51. 86 anos precedentes, nos quais predomina a grande quantidade de toucinho e gado vacum, seguida pela redução da quantidade de poaia exportada, que corresponde a 07 arrobas para o ano de 1829, 15 arrobas para o ano de 1830 e 6,5 arrobas para o ano de 1832. Outros produtos como azeite de mamona, freios, chicotes, meias e cobertas de algodão são mencionados em pequenas quantidades. A síntese anual contudo, pode ser expressa da seguinte forma: Exportação de gêneros relativos ao ano de 1829, 1830 e 1832. Produto Quantidades / 1829 Quantidades / 1830 Quantidades / 1832 Toucinho 2041 arrobas 2051 arrobas 566 arrobas Queijos 1020 unidades 800 unidades 300 unidades Gado vacum 1284 cabeças 1475 cabeças 1089 cabeças Fumo 24 arrobas 04 arrobas/24 rolos ------ Algodão 600 varas 5000 varas 2500 varas Chicotes 1800 unidades ------- ------- Marmelada 06 arrobas 80 arrobas ------ Cavalos -------- 09 cabeças 46 cabeças Meias ------- 25 unidades ------- Galinhas ------- 50 unidades ------- Freios 30 unidades ------- ------- Cobertores -------- ------- 50 unidades Azeite de mamona 02 barris ------- ------- Poaia 07 arrobas 15 arrobas 06,5 arrobas Tabela 11: Produtos exportados ao longo do ano de 1829, 1830 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Quanto a relação percentual da poaia para com os demais produtos obtevese o seguinte quadro comparativo: Ano de 1829 156 Produto Arroba % poaia em relação a: Poaia 07 100 % Marmelada 06 116,7 % Fumo 24 29,2 % Toucinho 2041 0,35 % CASA DOS CONTOS – Ciclo de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1832, Vol. 737, Rolo 51. 87 Ano de 1830 Poaia 15 100% Toucinho 2051 0,73 % Marmelada 80 18, 75 % Ano de 1832 Poaia 06,5 100 % Toucinho 600 1,15 % Tabela 12: Percentuais de exportação de poaia em relação a outros produtos durante os anos de 1829, 1830 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa Pensar a economia da poaia sob uma perspectiva comparada sugere o ponto de partida desta análise no que tange ao entendimento da economia mineira para o período: este estudo se insere em uma tendência historiográfica que refuta a idéia da decadência pós-mineração, visto que esta persiste até a contemporaneidade, ainda que voltada para minérios menos preciosos que o ouro, e valoriza a diversidade econômica e agrícola das minas oitocentistas.157Assim, considera-se que a economia extrativa da poaia insere-se em um quadro de diversificação, em que ... setores como agricultura, pecuária, comércio e serviços sustentaram boa parte das localidades no período. Em algumas regiões, houve especialização da produção, como no caso do café e do algodão, por exemplo. Em outras áreas, as atividades se complementaram ou coexistiram, constituindo fontes de sólidas fortunas. Em grande parte da província, entretanto, sobretudo nas pequenas e médias unidades rurais, produziu-se para o autoconsumo, comercializando-se, eventualmente, o que excedesse.158 A diversificação econômica presente no leste das minas oitocentistas configura-se como parte da “... economia autonomizada do século XIX, [na qual] o mercado, a produção e a distribuição de bens se efetuam através de um sistema de 157 PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume 1: 1808 – 1831. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 271 – 308. 158 PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]... p. 294. 88 preços, determinado pelas leis de oferta, demanda e motivadas pelo lucro”. 159Assim sendo, a economia extrativa da poaia constitui uma estratégia de apropriação do mundo natural e sua transformação em recurso econômico, visto que a comercialização da ipecacuanha tornou-se, desde a sua inserção nas práticas curativas da época, uma atividade expressiva. Esta consideração parte do pressuposto de que os sujeitos envolvidos neste processo, índios ou comerciantes, conseguiram manipular os recursos a sua disposição em busca das melhores recompensas possíveis, dentro das limitadas margens de flexibilidade a que estavam submetidos. Para traçar um plano geral a partir da documentação consultada, apresentase como encerramento, uma análise baseada em um processo de quantificação e comparação, em que a identificação da quantidade de poaia exportada é realizada a partir da comparação com outros produtos. Para tanto, observa-se a descrição sumária de todos os produtos em função do tempo, no qual são considerados os anos de 1824 até 1830 e 1832. Quantidade em arrobas anuais Poaia (arrobas) 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Poaia (arrobas) 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1832 0 0 0 63 88 7 15 6,5 Tabela 13: Gráfico representativo da exportação de poaia ao longo do período compreendido entre os anos de 1824 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. 159 DELGADO, Ignácio Godinho. Poder, Mercado e Trabalho. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; OLIVEIRA, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: Alternativas metodológicas para a História Econômica e Social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 20. Toucinho (arrobas) Marmelada (arrobas) Queijos (unidade) Gado vacum (cabeças) (* bois carreiros) Algodão (varas) Poaia (arrobas) Fumo (*arrobas; ** rolos) Mantas (unidade) Colchas (unidade) Capados em pé Galinhas Sabão em barra (arrobas) Azeite de mamona (barris) Cavalos (unidades) Chicotes Freios Meias Cobertores de algodão Café (arrobas) Produtos ↓ Produtos exportados através do Registro da Barra do Pomba entre 1824 e 1832 1824 1340 50 700 408 300 0 --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 1825 1389 43 2950 1548 10362 0 116,5* 63** 56 69 02 67 02 10 --- --- --- --- --- --- 1826 1553 --- 810 1633 9954 0 119,5* 29** --- --- 177 --- --- --- --- --- --- --- --- 16 1827 2258 15 600 1527 2486 63 282* --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- --- 1828 1829 1741 2041 38 06 1930 1020 2138 1284 4131 600 88 07 159* 24* ----- ----- ----- 280 --- ----- --02 16 --- 480 1800 --30 ----- ----- ----- 1830 2051 80 800 1470 05* 5000 15 04* 24** --- --- --- 50 --- --- 09 --- --- 25 --- --- 1832 566 --- 300 1089 2500 06,5 --- --- --- --- --- --- --- 46 --- --- --- 50 --- Ano ↓ Tabela 14: Quadro demonstrativo de todos os produtos exportados ao longo do período compreendido entre 1824 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. Ao término da análise dos dados levantados para o período de 1824 a 1830 e 1832, pode-se inferir que a poaia consistia em uma atividade de apropriação econômica do espaço de floresta em um período que antecede o desenvolvimento da cafeicultura no leste de Minas Gerais. Devido aos dados obtidos é possível perceber que a economia extrativa da poaia não estava condicionada as demais atividades agropecuárias, apresentando ainda caráter transitório, visto que estava baseada em um processo de coleta em um ambiente natural que se tornava cada vez mais reduzido, a medida que as fronteiras agrícolas avançavam sobre as áreas de florestas. Não foi encontrada ao longo da pesquisa nenhuma fonte que informava sobre a passagem de uma economia extrativa para uma economia agrícola, no que tange a ipecacuanha, visto que a proposta de Bernardino Antonio Gomes, apresentada em sua memória de 1801, de cultivar a ipecacuanha com vistas ao potencial comercial da planta não se verificou. Como não foi possível mensurar a divulgação da obra, não é possível afirmar se os agentes envolvidos no comércio da poaia desconheciam ou não a proposta de cultivo. 91 5 – Considerações finais No decorrer desta dissertação foram realizadas pesquisas em fontes diversas, componentes de um acervo bastante fragmentado e heterogêneo, com vistas a reconstrução de um processo histórico aqui denominado como “economia extrativa da poaia”. Ao término da pesquisa tornou-se possível com base em pesquisa empírica o levantamento e sistematização de informações que permitiram realizar algumas inferências sobre o processo histórico em tela. A primeira delas, de caráter geral, diz respeito ao fato de que a economia extrativa da poaia foi, de fato, mais abrangente e significativa que a importância a ela atribuída pelos autores que já haviam feito referência a mesma em seus trabalhos. Neste sentido, esta pesquisa contribuiu para, em composição com o trabalho de Antônio Henrique Duarte Lacerda, dimensionar a comercialização da poaia como uma atividade geradora de riqueza em âmbito mais abrangente, visto que o autor mencionado demonstra que a poaia contribuiu para constituição da riqueza da família Armonde, conforme já discutido anteriormente na revisão bibliográfica. Para se chegar a esta constatação, que de certa forma fazia parte dos objetivos do trabalho, visto que correspondia a uma lacuna historiográfica sobre um tema marginal da economia mineira, foi adotada uma ordem de apresentação textual que reflete o objetivo do trabalho. Essa ordem consiste em uma disposição que tende a demonstrar a importância da poaia enquanto produto comercial que desfrutava de prestígio em sua época, seja pelas divisas geradas aos comerciantes quanto pela satisfação do consumidor final. Observa-se que esta formatação do texto resultante da pesquisa garantiu a inteligibilidade do escrito, refletindo em estratégia de organização. A organização textual comporta elementos informativos cujo objetivo consiste em uma caracterização do objeto de estudo e sua situação em relação ao tempo e o ao espaço, bem como sua presença na historiografia e, portanto a justificativa do tema a partir da identificação da lacuna historiográfica que esta dissertação pretende minimizar, pelo menos em relação à primeira metade do século XIX. A poaia era conhecida antes, contando com referências desde o século XVII e permanece como 92 importante produto, cuja aplicação medicinal continua atual. Foi feito o uso de recursos imagéticos com vistas à apresentação da identidade visual da poaia a partir de fontes do período estudado, bem como o uso de dicionários de época em busca das definições construídas ao longo do tempo sobre o tema. Fontes “médicas” possibilitaram obter referências ao uso farmacológico da poaia e suas formas de aplicação medicamentosa, inventariar, a partir de conjunto documental diversificado, as práticas em cuidados como a saúde e relatos de casos clínicos. Estas fontes foram de extrema importância para apresentar a dimensão internacional da comercialização da poaia, visto que foram produzidas em espaços geográficos que transcendem as fronteiras políticas do Brasil, informando sobre o uso da poaia na Europa (por exemplo em Portugal e Inglaterra) e nos Estados Unidos da América. Ao demonstrar que a utilização desta planta não se restringia ao Brasil, tornou-se possível pensar a economia extrativa da poaia como parte de uma cadeia de mercadorias cuja abrangência compreendia o espaço intercontinental. Prosseguiu-se a compreensão da economia extrativa da poaia dentro de um contexto de prática comercial envolvendo as Províncias de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Identificou-se que a economia extrativa da poaia era uma atividade que envolvia predominantemente os indígenas em contato com os colonizadores e que a utilização do trabalho indígena para a sua coleta se dava pelo fato que estes agentes detinham o conhecimento necessário para a identificação das plantas no espaço florestal. A economia extrativa da poaia consistiu em uma forma de apropriação dos recursos florestais disponíveis em uma área de expansão de fronteiras agrícolas em época na qual a cafeicultura não havia se consolidado na região. Percebeu-se também que a lógica da extração da poaia não comportava sistematização da produção agrícola em função da natureza da atividade. Como tratava-se da apropriação de um recurso oferecido pela natureza, sua disponibilidade estava relacionada com a ocorrência natural e com a existência de um ambiente propício. Portanto, com o avanço das fronteiras agrícolas a economia extrativa da poaia tendia a recuar, em decorrência do desmatamento e da inserção de novas culturas agrícolas no ambiente original de floresta. A comercialização da poaia foi identificada como componente de um conjunto de produtos comercializados sob uma perspectiva de deslocamento, ou migração, de espécimes vegetais e 93 animais, visando à aproximação do objetivo final: a análise comparativa entre a poaia comercializada e demais produtos. Também foi realizado estudo sobre os sujeitos históricos, identificados como componentes de uma fronteira colonial, na qual se desenvolveram relações tensas marcantes das áreas de expansão territorial, enfatizando a predominância das relações de coerção, ainda que em alguns casos tenham sido observadas estratégias de apropriação de recursos disponíveis pelos agentes situados em posição hierárquica desfavorável. Demonstrou-se, por meio da quantificação da poaia exportada, que a sua extração consistia em uma atividade componente da diversidade da economia mineira e que a sua comercialização era realizada juntamente com outros produtos conduzidos pelos tropeiros. Observou-se que a quantidade total de poaia quando comparada com produtos como o toucinho, não apresentou grande expressividade, mas quando observada em relação aos produtos de origem vegetal assumiu proporções significativas. Em suma, observa-se no gráfico a seguir a síntese do processo de comercialização da poaia, em arrobas, comparativamente a outros produtos em função do tempo: Poaia x Fumo x Marmelada Quantificaçao em arrobas 300 250 200 150 100 50 0 1824 1825 1826 1827 1828 1829 1830 1832 Poaia (arrobas) 0 0 0 63 88 7 15 6,5 Fumo (arrobas) 0 116,5 119,5 282 159 24 4 0 Marmelada (arrobas) 50 43 0 15 38 6 80 0 Tabela 15: Quadro comparativo entre a exportação de poaia, fumo e marmelada no período compreendido entre 1824 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa. 94 6 – Fontes consultadas ABEL, Clarke. Narrative of a Journey in the interior of China. London: Longman, Hurst, Rees, Orme, and Brown, Paternoster-Raw. 1818. 420p. ACERVO PARTICULAR DA FAZENDA SANTA SOFIA. Correspondência recebida por Marcelino José Ferreira Armonde de Maximiano José Pereira, 01 de dezembro de 1824; Correspondência expedida por Honório José Ferreira Armonde para Manoel de Barros Araújo, 15 março de 1826. Apud Lacerda, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010. p. 323-4. ALVARÁ de 1o de Abril de 1808. “Alvará por que Vossa Alteza Real é servido revogar toda a prohibição que havia de fabricas e manufaturas no Estado do Brazil e Dominios Ultramarinos...” Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm > Acesso em 20 de março 2012. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: SP – PP 1/6 Cx. 01; Doc. No 18 (1829/10/29): “Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas gerais para as províncias limítrofes...” ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828): “Sobre o desvio de terras dos índios para sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos índios coroados e coropós escrito por Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo”. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO = OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5. BUCHAM, Guilherme. Medicina Domestica ou Tratado Completo dos meios de conservar a saúde e de curar, e precaver as enfermidades por via o regime, e remédios simples. Obra útil, e acomodada a capacidade de todas as pessoas de qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham Medico do Real Colégio de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo Doutor Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas do Tradutor Francês, o Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia Rollandiana, 1791. Os trechos relativos a aplicação médica da poaia encontram-se transcritas em anexo. ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: CGP 1/1, Cx. 01 (1829/01/27): “Extrato de um ofício do Coronel Guido Thomaz Marlière datado de 07 de Janeiro de 1829”. BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua descuberta ate 1810. Tradução de Padre Ignácio Felizardo Fortes. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818. 95 BIBLIOTECA NACIONAL: “Alvará régio proibindo no Brasil todas as fábricas e manufaturas de ouro, prata, sedas, algodão, linho e lã, só permitindo as de fazenda grossa de algodão”. Disponível em: < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1289262/mss1289262.pdf > Acesso em: 17/06/2011 BIBLIOTECA NACIONAL: Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes : toda esta capitania he coberta de mattas e só nas comarcas do Rio das Mortes, Sabará e Serro tem manxas de Campo. [17--] 1 mapa ms : : col. ; : 74,5 x 67,5cm em f. 77,5 x 68,8cm. Disponível em < http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg > Acesso em: 14/06/2011. BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino: aulico, anatomico, architectonico ... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8 v. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > Acesso em: 26 de junho 2011. CAMARGO, Querubim Modesto Pires. Da coqueluche, suas causas, sede, signaes, diagnóstico, prognóstico e tratamento. 1858. 15 f. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1858. Cabral, Vicente Jorge Dias. Coleção das observações dos produtos naturais do Piauí ao Ilmo e Exmo Sor. D. Diogo de Souza, [governador] e capitão general do Maranhão. 1800 – 1801. Manuscrito da Biblioteca Nacional. 311p. CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan set], Vol.: 744, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1824/Out. Vol.: 743, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar [Janeiro, Fevereiro e Março de 1825] Vol.: 743, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.: 742, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:735, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.: 741, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.: 740, Rolo: 51 96 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1828, Vol.: 738, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1829, vol. 736, rolo 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol.: 739, Rolo: 51 CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1832, vol. 737, rolo 51. CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Roger & F. CHERNOVIZ Editora, 1890. Disponível em < http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vp lChave=ipecacuanha > Acesso em 27/04/2008. FARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMINIOS DE PORTUGAL. Tomos I e II. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1794. FREIRE, José Joaquim, 1760-1847. [Cipó]. - [17--]. 01 desenho: aquarela, col. : imagem 26,5x17,0cm em f.34,5x24,0cm. Disponível em: < http://bndigital.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=nav&pr=fbn_dig_pr&db=fbn_dig&use=cs 0&rn=1&disp=card&sort=off&ss=22815789&arg=cipo > Acesso em: 14/06/2011. GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossa boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801. [GOMES, Bernardino Antonio. Plantas medicinais do Brasil. São Paulo: Edusp, 1972 (Brasiliensia Documenta, V), edição fac-simile.] LINN , Carl v.; WICKMAN, Daniel. Dissertatio botanico-medica de Viola ipecacuanha... Upsaliae: Typis Edmannianis, [1774]. MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. Regras pelas quais se devem estampar as ervas medicinais e fazer recolher as suas ramas e raízes em tempos próprios, não só do modo que apontam os melhores autores, mas segundo as reflexões que tenho feito a este respeito. Série Azul, Ms. 627 da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (BACL). In: ______. O Feliz Clima do Brasil. Rio de Janeiro: Dantes, 2008. Pag. 205 e 207. National Archives/Londres/Records of the Boards of Customs, Excise, and Customs and Excise, and HM Revenue and Customs/Ledgers of Imports and Exports/CUST 3/18 (1716). Exportação de poaia de Portugal para a Inglaterra no ano de 1716: 111 libras e 10 shillings. A quantidade exata não pode ser determinada, pois o documento apresenta apenas os valores a seguir: 446:8. Agradeço ao Prof. Ângelo Alves Carrara a sugestão desta referência. 97 PAIVA, Manoel Joaquim Henriques de. Farmacopéia Lisbonense. Lisboa: Oficina de João Procópio Correa da Silva, 1802. pp. 3 – 62. PHARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMÍNIOS DE PORTUGAL [publicada por ordem de D. Maria I]. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1794. Psychotria ipecacuanha Müll.Arg. – Flora Brasiliensis. Vol 6 Part 5 p. 341-342 tab. 52. Disponível em <http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer > Acesso em 22/12/2010. RELATÓRIOS DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO, 1833. Disponível em: < http://www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial/esp%C3%ADrito_santo >; <http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u122/ > Acesso em: 08 Jul. 2010. RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria. 1874. 28 f. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1874. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 10, Fac. III e IV, Jul. A Dez. (1905), 1906. Vol. 10, pag. 383 – 668. Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=430&op=1 >. Acesso em 20/05/2010. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, pag. 440-1. (23/01/1823) “Requerimento enviado ao Imperador por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando seja feito Diretor dos Índios Puri”. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 425. (24/04/1822). “Requerimento enviado por Guido Thomaz Marlière ao Imperador solicitando sejam pagas pelo Erário Publico as suas gratificações de Major.” Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 443 (07/01/1823). “Ofício enviado ao Imperador por Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 608 (25/05/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594 (25/04/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595 (25/04/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 596 (25/04/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. Pag. 03 – 254. Disponível em: 98 <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=995&op=1 >. Acesso em 20/05/2010. Revista do Arquivo Público Mineiro... vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. p. 35-6. (11/06/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”. Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado. Vol. 12, 1907/1908. Pag. 409 – 676. Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=289&op=1 >. Acesso em 20/05/2010. Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 12, 1907/1908. p. 498-510. (28/01/1828). “Mapa fazendo conhecer os aldeamentos das diferentes tribos de índios da província de Minas Gerais, seu local, população, aumento ou decadência e as causas. Quartel geral de Gendorvald, em 28 de janeiro de 1828”. SAINT – HILAIRE, Auguste de. Plantas usuais dos brasileiros. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2009. SARMENTO, Jacob de Castro. Pharmacopoeia contracta. Londini: s. e., 1746. SILVA, Antonio de Moraes. Diccionario da língua portugueza – recopilado dos vocabulários impressos até agora, e nesta segunda edição novamente emendado e muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813. Vol. II, p. 180. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asP >. Acesso em: 13 de março 2010. SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim Lahmeyer. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1. TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847.[Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04]. WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha: with a contribution to the therapeusis of cholera. Philadelphia, USA: J. B. Lippincott & Co. 1876. WOODVILLE, William. Medical Botany. 2 ed. London: Printed and Sold by William Phillips, George Yard Lombard Street. 1810. Vol. I. 99 7 – Bibliografia ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília: Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. AGUIAR, José Otávio. Legislação indigenista e os ecos autoritários da “Marselhesa”: Guido Thomaz Marliére e a colonização dos sertões do Rio Doce. Projeto História, São Paulo, n.33, p. 83-96, dez. 2006. AGUIAR, José Otávio. Memórias e Histórias de Guido Thomaz Marliere (1808 – 1836) – A transferência da Corte Portuguesa e a tortuosa trajetória de um Revolucionário Francês no Brasil. Campina Grande: EDUFCG, 2008. ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. ANDRADE, Francisco Eduardo de. Entre a Roça e o Engenho: roceiros e fazendeiros em Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Viçosa, Minas Gerais: Editora UFV, 2008. ASSIS, Marta Camargo de; GIULIETTI, Ana Maria. Diferenciação morfológica e anatômica em populações de “ipecacuanha” - Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes (Rubiaceae). Revista brasileira de Botânica, São Paulo, v.22, n.2, p.205-216, ago. 1999. AZEM, MARINA. Viagem filosófica às doenças e curas em Mato Grosso no século XVIII: os relatos do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. 2006. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal de Mato Grosso. 2006. BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte – Rio de Janeiro. Editora Itatiaia, 1995. BASTOS, J. T. da Silva. Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da Lingua Portugueza. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira Editora, 1912. BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas medicinais da Estrada Real. Belo Horizonte: Editora O Lutador, 2008. BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos naturalistas. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2010. CABRAL, Diogo de Carvalho. Substantivismo econômico e história florestal da America portuguesa. Vária Historia, Belo Horizonte, vol. 24, n. 39, pag. 113 – 133, jan/jun 2008. 100 CARRARA, Ângelo Alves. Fiscalidade e estruturas agrárias: Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo, Séculos XVII – XVIII. In: CARRARA, Ângelo Alves; DIAS, Marcelo Henrique (Orgs). Um lugar na historia: a capitania e comarca de Ilhéus antes do cacau. Ilhéus: Editus, 2007. p. 15-46. CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas. Rio de Janeiro: FGV, 1998. COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das Minas. Belo Horizonte: Editora da UFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004. CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha (Org.). Política indigenista no século XIX. In: ______. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. DELGADO, Ignácio Godinho. Poder, Mercado e Trabalho. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; OLIVEIRA, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: Alternativas metodológicas para a História Econômica e Social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 19-26. DIAS, Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005. ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005. Pag. 23. FRAGOSO, João. Alternativas Metodológicas para a História Econômica e Social: micro-história italiana, Fredrick Barth e a história econômica colonial. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de; Oliveira, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: alternativas metodológicas para a história econômica e social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 27-48. FREIRE, Laudelino (org.). Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: A Noite Editora, 1942. Vol. III e IV. HOLANDA, Sérgio Buarque de. Botica da natureza. In: ______. Caminhos e Fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cia das Letras, 1994. p 74-89. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. LACERDA, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 101 2010. 2 v. ; il. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010. LAMEIRA, Osmar Alves. Cultivo da Ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Bot.) Stokes). Circular Técnica 28 (online). Belém, Pará: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Embrapa Amazônia Oriental, Set. de 2002. Disponível em < http://www.cpatu.embrapa.br/online/circular/Cir.tec.28.pdf >, acesso em 12/06/2008. LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação: O abastecimento da Corte na formação política do Brasil: 1808 – 1842. 2a Edição. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1993. LEVI, Giovanni. Introdução. In: ______. A herança imaterial: Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Região e História Agrária. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.8, n.15, 1995, p.17-26. MARQUES, Vera Regina Beltrao. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões: Medicinas e boticários no Brasil setecentista. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp / Centro de Memória – Unicamp, 1999. MORAES, Antônio Carlos Robert. Território, Região e Formação Colonial: Apontamentos em torno da Geografia Histórica da Independência Brasileira. Ciência & Ambiente/Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria, RS, v. 33, p. 09-16, Jul./Dez. 2006. MARTINS, E. R.; OLIVEIRA, L. O. Conservação da poaia (Psychotria ipecacuanha Standl.): I – Estratégias de localização de populações e etnobotânica. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, SP, v. 7, n. 1, p. 6-10, 2004. MERCADANTE, Paulo. Os sertões do leste: Estudo de uma região: a mata mineira. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1973. OLIVEIRA, C. E. . Rio Sepotuba: ambiente de poaia e de terra fértil. Territórios e Fronteiras, Cuiabá, v. 4, p. 73-98, 2003. OLIVEIRA, C. E. .Espaço de poaia, território Umutina e as "Casas de Rondon". In: I SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2010, Cuiabá. História, Natureza e Fronteiras. Cuiabá: EdUFMT, 2010. PAIVA, Adriano Toledo. “O Pernicioso comércio”: Aguardente e Drogas do sertão na fronteira colonial. In: ______. Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”: Entrantes e Indígenas nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do Bacharelado em Historia. Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. p. 52-68. 102 PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]. In: GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume 1: 1808 – 1831. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 271 – 308. REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu: O surgimento de um povo novo: o brasileiro. In: ______. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 5a Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002. MARTINS, Ernane Ronie ; OLIVEIRA, Luiz Orlando de; MAIA, J.T.L.S ; VIEIRA, I.J.C. Estudo ecogeográfico da poaia [Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes]. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 11, p. 24-32, 2009. PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA. Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p. 413-430. PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira – 1850/1930. Revista eletrônica de História do Brasil, v. 9, n. 1, jan-jun., 2007. PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru, São Paulo: EDUSC, 1999. RESTITUTTI, Cristiano Corte. Elementos da fiscalidade de Minas Gerais provincial. Almanaque Braziliense, São Paulo, n. 10, nov. 2009 . Disponível em < http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180881392009001000007&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 21 abr. 2012. RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII. São Paulo: Editora Hucitec, 1997. 103 8 – Anexos 8.1 – Tratado de Medicina Doméstica – Sec. XVIII Arquivo Público Mineiro (APM) = OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5. BUCHAM, Guilherme. Medicina Domestica ou Tratado Completo dos meios de conservar a saúde e de curar, e precaver as enfermidades por via o regime, e remédios simples. Obra útil, e acomodada a capacidade de todas as pessoas de qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham Medico do Real Colégio de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo Doutor Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas do Tradutor Francês, o Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia Rollandiana, 1791. Capitulo XXV, §VII, Art. I Pag. 65 – “Remédios que se deve administrar aos que são acometidos da Dysenteria, ou fluxo de sangue... Nesta enfermidade sempre é necessário começar alimpando as primeiras vias. Em conseqüência do que dar-se-á uma dose de ipecacuanha, cujo efeito se ajudará com uma infusão ligeira de flor de macella. Raras vezes se [ilegível] preciso usar neste caso de vomitórios fortes: vinte e quatro, ou quando muito trinta grãos de ipecacuanha bastão, geralmente falando para um adulto: e as vezes são bastantes dez ou doze, como fica provado no Tomo III, Cap. III, nota 4. No dia seguinte [ilegível] vomitório, dá-se meia oitava, ou dois escropulos,(isto é trinta e seis até quarenta e oito grãos) de rhuibarbo. Esta dose pode repetir-se e dous em dous dias, duas ou três vezes. Depois disso dá-se, por alguns dias, umas pequenas doses de ipecacuanha, como dous ou três grãos, que se misturam numa colher de xarope de dormideiras, e se repete três vezes por dia.” [Frases na margem da pag. 65]: “Ipecacuanha como vomitório” 104 “Ipecacuanha é três pequenas doses com xarope de dormideiras” Pag. 66 – “Estas evacuações, unidas o regime acima recomendado, bastão muitas vezes para curar a enfermidade. Mas no caso de não terem feliz sucesso, cumpriria usar dos remédios adstringentes que se seguem. Deite-se o enfermo duas vezes por dia um crystel feito de goma-garra, ou de caldo de carneiro gordo, ao qual se ajuntara trinta, ou quarenta gotas de [ilegível]. Dar-se-lhe-a ao mesmo tempo todas as horas, uma colher da dissolução seguinte. Tome-se de gomma arabia, uma onça de gomma de tragacantho, meia onça. Dissolve-se num quartilho de água de cevada em fogo lento. Se estes remédios não tiverem o desejado efeito, poder-se-a dar ao enfermo quatro vezes por dia, obra de uma noz moscada de confeição japonesa, depois do que beberá uma chávena de cozimento de pão de Campeche.” Pag. 147-8 – “Remédios que se deve administrar aos que tem icterícia Se o doente for moço e de temperamento sanguíneo; se se queixar de alguma dor no lado direito, para a parte da região do fígado, faz-se necessária a sangria. (observe-se que a sangria não convém nesta enfermidade, senão aos plethoricos, no caso de supressão do menstruo, ou hemorróidas, ou quando há symptomas de inflamação; porque fora destas circunstancias, a experiência tem mostrado, mais do que fora necessário, que a sangria é mortal, ou pelo menos inútil) Depois da sangria , quando é indicada dar-se-á um vomitório, o qual se repetirá uma ou duas vezes, se a doença for rebelde. Não há remédio mais proveitoso na icterícia, do que os vomitórios, principalmente quando não e acompanhada de inflamação. Meia oitava ou trinta grãos de ipecacuanha em pó, será bastante para um adulto, como já dissemos no Tomo III, Cap. III, § IV, nota 4. Promoverá muito o seu efeito uma infusão ligeira de macella, ou água morna.(1) Nota aditada pelo Doutor Frances (1) Os vomitórios, a que o Dr Bucham aqui faz elogio contra a icterícia, requerem muita sagacidade para usar deles, como convém. Não são convenientes certamente na icterícia, cujo assento está no fígado, no canal choledoco, ou na vesícula do fel. Os movimentos antiperistálticos, que esta espécie de remédios motiva necessariamente no estomago e no primeiro dos intestinos, bem fora de 105 contribuir para que a bile volte aos seus conductos, são mais depressa capazes de estorvá-los. Pelo que se os vomitórios podem ser úteis na icterícia, só o podem ser quando ela é precedida de muitos humores espessos, que se acumulam no duodeno, na embocadura do canal choledoco; ou nos entupimentos do colon, que oprimem a passagem da bile do fígado para o duodeno. E ainda nestes casos mais se deve usar dos eméticos, como purgantes, do que como vomitórios. Bem se vê que o tártaro (estibiado), vulgarmente chamado mítico, dado em pequena dose, e em lavago, he de todos os remédios, o que melhor convém aqui. Mas em (Ilegível)asos na se pode deixar de aplicar os desobstruentes, que são os grande remédios contra essa doença. Os mais importantes são o mel em grande dose, o suco de dente de leão, &c., a terra do tártaro estibiado, &c.” [Fim da nota] Pag. 149. “He necessário também laxar o ventre com suficiente quantidade de sabão de alicante ou de pílulas contra a icterícia, cuja receita e esta: Tome-se de aloés succotrino, de rhuibarbo, de sabão de alicante – de cada coisa 1 oitava; Pisem-se todas estas substancias juntas: ajunte-se-lhe um pouco de xarope comum, ou de mucilago, para dar a tudo consistência de uma massa própria p/ fazer pílulas: e fação-se dela pílulas de cinco até seis grãos. Tomam-se cinco ou seis, duas ou três vezes por dia. Convém continuar o seu uso por algum tempo, e regular-se-á a sua quantidade pelas camaras [evacuação] do enfermo, que devem ser pelo menos duas cada dia. Durante o uso destas pílulas bom será tomar de tempos em tempos hum vomitório, ou de ipecacuanha, ou de tártaro estibiado [que tem estíbio (antimônio)], (com as precauções recomendadas na antecedente nota.). Pag. 165 – Artigo III “Tratamento da Anasarca e da Ascitica, quando são acidentais, e a constituição do enfermo é boa”. Pag. 166 – “Se o doente for moço, de constituição forte, e robusta, e tiver sido acometido repentinamente e hydropisia, pode curar-se com vomitórios fortes, purgantes violentos e remédios capazes de excitar o suor, as ourinas. Maia oitava de ipecacuanha em pó com meia onça de oxymel scillitico forma m um vomitório 106 muito conveniente para um adulto, o qual se repetirá quantas vezes for necessário, metendo-se todavia de intervalo, três ou quatro dias entre cada vomitório. Haja todo o cuidado em não o deixar beber depois, porque de outra maneira destruir-se-ia o efeito: uma ou duas chávenas de infusão de macella, bastarão para favorecer a operação dele”. Pag. 350 – “Tratamento da indigestão” “... o enfermo em água morna ou chá ligeiro, a fim de provocar o vomito, que comumente leva consigo, a causa e os efeitos da indigestão. Se o enfermo, apesar de uma grande quantidade destes líquidos, não vomitar nem se achar aliviado, dous ou três grãos de tártaro embebido em dous ou três copos d’água; ou quinze até vinte grãos de ipecacuanha numa só dose o provocarão seguramente”. 107 8.2 – Transcrição de excertos dos “Livros de Registro de saída de gêneros de Barra do Pomba” Tabela 1: Janeiro a setembro de 1824. FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GÊNEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan – set], Vol.: 744, Rolo: 51. NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1824. ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba. PARTES DIA ↓ MÊS ↓ 1o Trimestre; Janeiro [Não consta nenhum registro] Fevereiro [Não consta nenhum registro] Março [Não consta nenhum registro] Localidade – Destino dos gêneros exportados; 108 Joaquim Antônio da Silva Comandante 2o Trimestre Abril 18 Antônio da Costa – Freguesia da Pomba 50 arrobas de toucinho 19 Francisco Furtado de Jesus – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 120 arrobas de toucinho 19 Felisberto Mariano – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 70 arrobas de toucinho 25 Caetano José de Azevedo – [São João Batista do] Presídio Vila de São Salvador 50 arrobas de marmelada 500 queijos Vila de São Salvador Maio 27 Vicente Rodrigues – Ponte Nova 80 arrobas de toucinho 27 José Joaquim [Bruno] – Presídio de São João Batista Vila de São Salvador 200 queijos 150 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Junho 09 Antônio José da Silva – Ponte Nova 45 arrobas de toucinho 21 Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba 50 cabeças de gado vacum Vila de São Salvador 300 varas de algodão 130 arrobas de toucinho Joaquim Antônio da Silva Comandante 3o Trimestre Vila de São Salvador 109 Julho 16 Felipe Antunes – Freguesia da Pomba 50 arrobas de toucinho 25 José Joaquim da Trindade – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 70 cabeças de gado 28 Antônio da Costa – Freguesia da Pomba 60 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador Agosto 09 Antônio José de Siqueira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 58 arrobas de toucinho 13 Antônio João – Freguesia da Pomba 80 arrobas de toucinho 18 Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 150 arrobas de toucinho 40 cabeças de gado Vila de São Salvador Setembro 03 Alferes Francisco José de Souza – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 70 arrobas de toucinho 14 Luis da Mota – Freguesia da Pomba 80 arrobas de toucinho 17 25 Vila de São Salvador Manoel Antônio Pinto – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 35 arrobas de toucinho Manoel Mendes de Jesus – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 30 cabeças de gado vacum Joaquim Antônio da Silva Comandante OBSERVAÇÕES Resumo de janeiro a 25 de setembro de 1824 Gado vacum 190 No 110 Queijos 700 Idem Toucinho 1268 Arrobas Marmelada 50 Idem Algodão tecido 300 Varas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa; 12 março 2012. (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba Tabela 2: Outubro de 1824. FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824/Out. Vol.: 743, Rolo: 51; Arquivo Nacional: BP, Cx 49, Códice 743 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1825 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES Resumo da exportação do registro da Barra do Pomba no ano de 1824 Toucinho 1370 Arrobas Marmelada 50 Ditas [Arrobas] Queijos 700 Numero Gado Vacum 208 Idem Algodão grosso 300 Varas 111 DIA ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados MÊS ↓ 4o Trimestre de 1824 Outubro 13 20 25 Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 12 arrobas de toucinho Manoel Teixeira Cardoso – Freguesia de Piranga Vila de São Salvador 186 cabeças de gado Alferes José de Souza – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 32 cabeças de gado Novembro 22 José Luis – Ponte de Santo Antônio 100 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Dezembro [Não há referências] OBSERVAÇÕES [As informações compiladas acima correspondem ao 4o Trimestre de 1824, embora estejam incluídas no mesmo volume que o 1 o Trimestre de 1825. A transcrição foi realizada respeitando a ordem dos fotogramas do microfilme consultado no Centro de Estudos do Ciclo do Ouro na Casa dos Contos em Ouro Preto, embora a atualização ortográfica tenha sido aplicada na transcrição, por entendimento que a mesma não compromete os resultados da pesquisa em curso.] FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012. (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba. Tabela 3: Março de 1825. FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS 112 REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar [Janeiro, Fevereiro e Março de 1825] Vol.: 743, Rolo: 51. NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1825 [Janeiro, fevereiro e março]. ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba. PARTES MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados 1o Antônio Joaquim de Oliveira – Barbacena 120 cabeças de gado Vila de São Salvador 29 José Vieira de Queiroz – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 17 bois 30 arrobas de toucinho DIA ↓ Janeiro Fevereiro 07 08 17 25 28 Francisco de Souza – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 38 cabeças de gado Manoel Francisco – São João Batista do [Destino não Presídio mencionado] 04 arrobas de fumo Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba 46 cabeças de gado Francisco Caetano Correia – São José do Barroso 27 cabeças de gado 183 varas de algodão Manoel Joaquim Barbosa – Freguesia da Pomba 23 arrobas de toucinho 40 varas de algodão [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não 113 Março 06 10 11 13 16 18 25 25 29 João de Souza Mota – Freguesia da Pomba 61 cabeças de gado Joaquim Teixeira de Siqueira – Piranga 30 cabeças de gado 200 varas de algodão 50 mantas de algodão Lizardo Gonçalves Machado – Freguesia de São João Batista 120 varas de algodão Bento Moreira – Freguesia da Pomba 60 arrobas de toucinho 1800 varas de algodão 13 cabeças de gado João Gomes Barroso – Freguesia de São João Batista 80 varas de panos de algodão Manoel Ferreira – Freguesia da Pomba 220 varas de algodão Albino José de Souza – Presídio de São João Batista 20 arrobas de toucinho Antônio de Souza Lima – Freguesia da Pomba 99 cabeças de gado Mariano Antônio da Roza – Vila de Barbacena 109 cabeças de gado 03 arrobas de fumo [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não Vila de São Salvador [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não Vila de São Salvador OBSERVAÇÕES: FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012 (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba Tabela 4: Exportação de café durante o ano de 1825 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS 114 REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:735, Rolo: 51 NATUREZA Livro de Registro das guias de café e algodão que se exportaram pelo Registro da Barra do Pomba conforme a Provisão da Junta da Fazenda de 11 de novembro de 1825. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1825 ASSUNTO Guias do café e algodão exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba. PARTES “Este livro há de servir para o Registro das Guias de Café e Algodão que se exportarem, pelo Registro da Barra do Pomba, conforme a Provisão da Junta da Fazenda de 11 de Novembro de 1825. Vai numerado, e por mim rubricado, com termo de encerramento. Imperial Cidade de Ouro Preto, 19 de novembro de 1825. Manoel José Monteiro de Barros”. “Dom Pedro, pela Graça de Deus e Unanima Aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor perpetuo do Império do Brasil. Faço saber a vós Coronel Comandante Administrador do Registro da Barra da Pomba que a exata observância da Provisão que se expediu aos 21 de agosto de 1822 sobre as Guias legais que deveis dar aos Tropeiros, do café que os mesmos conduzirem para a corte do Rio de Janeiro. Hei por bem por Despacho de nove do corrente ordenar de novo e mais positivamente o cumprimento da dita provisão e outrossim, que por ocasião de ali passarem tropeiros conduzindo Café e Algodão em rama passeis duas guias explicadas dos ditos gêneros, assinada por vós com declaração do peso de cada um e nome do tropeiro e dos donos a quem os mesmos gêneros pertencem, das quais guias uma será entregue ao tropeiro para levar e apresentar com o café ao Consulado da Corte, na conformidade do disposto na Ordem do Thesouro de 20 de dezembro de 1824; e a outra remetida a Junta da Fazenda, o que fareis no fim de cada mês, ficando registrada no livro que se vos remete, o qual depois de findo será também remetido a Contadoria, para todo o tempo se conferir. Assim o cumprireis sem duvida alguma como nesta se vos ordena. O imperador Constitucional e Defensor perpétuo do Império do Brasil o mandou pelo Barao de Caethé, presidente desta província e da junta da fazenda da mesma. Manoel Rodrigues Jardim a fez. Imperial Cidade de Ouro Preto, nove de outubro de mil oitocentos e vinte e cinco. Manoel José Monteiro de Barros a fez escrever. Barão de Caethé”. DIA ↓ MÊS ↓ 3o Trimestre de 1826 Localidade – Destino dos gêneros exportados 115 Julho 18 Caetano José de Azevedo – Arraial da Prata, Freguesia de São Miguel Vila de São Salvador 16 arrobas de café OBSERVAÇÕES: FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012 (AUTOR E DATA) Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba TEOR Tabela 6: Ano de 1825 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.: 742, Rolo: 51 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1825. ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba. PARTES DIA ↓ MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados 2o Trimestre Abril 1 o 1o Manoel Francisco de Souza – Freguesia de São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 20 arrobas de toucinho Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba 15 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 116 1 o 05 10 11 14 Francisco Gonçalves Botelho – Freguesia de São João Batista do Presídio 16 arrobas de toucinho João Lopes da Rocha – Prata 1200 varas de algodão 01 e ½ arrobas de fumo Vicente Rodrigues de Carvalho – Barra do Bacalhau 482 varas de panos de algodão Manoel dos Santos – Freguesia da Pomba 74 cabeças de gado Felisberto da Silva – Ponte Nova 18 arrobas de toucinho 100 varas de algodão Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 18 Severino Teixeira de Siqueira – Ubá 104 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 20 Miguel Rodrigues – Barra do Bacalhau 104 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 25 26 José Simões de Assis – São Caetano 50 arrobas de toucinho 600 queijos 60 colchas de algodão 120 varas de panos de algodão Manuel Fernandes – Tapera 300 varas de algodão 02 capados [Vila de] São Salvador Vila de São Salvador 26 Joaquim Gomes – Tapera 02 arrobas de marmelada Vila de São Salvador 27 Joaquim Fernandes – Calambau 100 varas de algodão Vila de São Salvador 27 Balbino Gomes Maciel – Calambau 200 varas de algodão Vila de São Salvador 28 Baltasar Ferreira – Santa Rita do Turvo com a tropa de Serafim Ferreira Vila de São Salvador 80 varas de algodão Maio 1o Joaquim Pires Barreto – São João Batista do Presídio 900 queijos Vila de São Salvador 09 arrobas de toucinho 40 varas de algodão 117 67 cabeças de galinhas 02 03 04 08 12 José Nunes Vieira – Freguesia da Pomba 20 arrobas de toucinho Francisco das Chagas – Chapada – Freguesia da Piranga 160 varas de panos de algodão Francisco Caetano – Freguesia da Pomba 58 varas de riscado [tecido listrado] de algodão 16 arrobas de toucinho Domingos Roberto de Freitas – São João Batista do Presídio 400 varas de algodão Antônio Alves Pereira – Barra do Bacalhau 200 queijos Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 19 José Luis – Freguesia da Pomba 50 arrobas de toucinho 19 Antônio Antunes Moreira – Presídio de São João Batista Vila de São Salvador 10 cabeças de gado 19 Felício José dos Santos – Sumidouro 110 varas de panos de algodão 23 24 25 25 26 Vila de São Salvador Vila de São Salvador Lizardo Gonçalves Machado – Barra de Matias Barbosa Vila de São Salvador 160 varas de panos de algodão 07 cabeças de gado Serafim de Souza – São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 400 varas de algodão 06 mantas de linha Manoel dos Santos – Mariana 400 queijos Vila de São Salvador José de Moraes Sarmento – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 64 arrobas de toucinho 13 cabeças de gado João d’Afonseca – Presídio de São João Batista Vila de São Salvador 28 cabeças de gado 06 arrobas de toucinho 118 27 27 29 Manoel Pedro de Lima – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 08 arrobas de toucinho 60 varas de panos de algodão Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba 60 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 200 varas de panos de algodão 20 rolos de fumo João Nobre – Santa Rita do Turvo 40 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Junho 03 07 12 13 16 16 18 22 22 25 Antônio José Rodrigues – Comarca [de Santa Rita] do Turvo 06 rolos de fumo Manuel de Faria – Boa Vista da Imperial Cidade de Ouro Preto 30 arrobas de toucinho 30 arrobas de marmelada Antônio Francisco Ferreira de Castro – Barra do Bacalhau 100 queijos 02 arrobas de sabão de barra José dos Santos – Barra do Bacalhau 150 queijos 09 arrobas de toucinho Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia da Piranga 86 cabeças de gado Luis da Silva – Barra do Bacalhau 90 varas de panos de algodão 08 arrobas de marmelada Francisco de Paula – Ubá 30 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Ignácio Ribeiro da Costa – Vila de São José 109 cabeças de gado Vila de São Salvador 40 varas de panos de algodão 09 colchas de algodão José Gonçalves de Moreira – Lagoa Doirada Vila de São Salvador 172 cabeças de gado Joaquim Antônio dos Santos – Vila de Vila de São Salvador Barbacena 119 76 cabeças de gado 3o Trimestre Julho 02 03 05 07 José [Ilegível] Rocha – Barbacena 170 cabeças de gado 50 arrobas de toucinho Capitão Gonçalo Gomes Barreto – São João Batista do Presídio 03 arrobas de marmelada 50 varas de panos de algodão 04 bois Manoel Alves Ferreira – Freguesia da Pomba 300 varas de panos de algodão Reginaldo de Siqueira – Freguesia da Piranga 10 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 15 Baltazar Ferreira – Santa Rita do Turvo 60 varas de algodão Vila de São Salvador 21 Luis Candido – Freguesia da Pomba 100 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 21 22 22 José Luis Ferreira – Freguesia da Pomba 70 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 02 rolos de fumo Joaquim da Silva Brandão – Freguesia de São Miguel Vila de São Salvador 500 queijos 40 varas de panos de algodão Manoel Francisco do Nascimento – Ponte Nova Vila de São Salvador 20 varas de panos de algodão 23 José Pires Villar – Freguesia da Pomba 56 cabeças de gado 28 João Gomes Barroso – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 130 varas de panos de algodão 08 arrobas de fumo 28 José Joaquim – Freguesia da Pomba 12 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador 120 10 barris de azeite de mamona 30 José Antônio Barbosa – Presídio de São [Destino João Batista mencionado] 50 arrobas de toucinho Agosto 03 03 07 08 08 09 09 12 12 13 Antônio Lopes – Freguesia da Pomba 111 varas de panos de algodão Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba 40 arrobas de toucinho 08 rolos de fumo Antônio Pereira – Freguesia de São João Batista [do Presídio] 06 arrobas de toucinho Francisco Lopes – Freguesia da Pomba 120 varas de pano de algodão 02 rolos de fumo Manoel Francisco de Souza – Freguesia de São João Batista 16 arrobas de toucinho Francisco Caetano – Freguesia da Pomba 500 varas de panos de algodão 10 arrobas de fumo Francisco Vieira – Freguesia da Pomba 16 arrobas de toucinho 16 arrobas de fumo Manoel José – Freguesia da Pomba 30 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Bento José Pacheco – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 90 varas de panos de algodão 04 rolos de fumo Lizardo Gonçalves Machado – Presídio de São João Batista Vila de São Salvador 09 cabeças de gado 74 varas de panos de algodão 13 Francisco [Bruno] – Freguesia da Pomba 04 rolos de fumo 15 Miguel Correia Leite – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 40 arrobas de toucinho Vila de São Salvador não 121 19 22 24 24 24 24 Manoel Pedro de Lima – Santa Rita do Turvo Vila de São Salvador 100 varas de panos de algodão 06 arrobas de toucinho Francisco das Chagas – Freguesia de Piranga 12 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 100 varas de panos de algodão 06 arrobas de fumo Francisco de Paulo – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 30 arrobas de toucinho Antônio Cirino – Freguesia da Pomba 30 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Antônio José de Lima – São João Batista [do Presídio] Vila de São Salvador 30 arrobas de toucinho Reginaldo de Siqueira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 100 varas de panos de algodão Setembro 04 05 05 Francisco da Silva Leite – Freguesia de Piranga Vila de São Salvador 05 rolos de fumo 43 varas de panos de algodão José Antônio – Ponte Nova 03 rolos [...] de fumo Vila de São Salvador 10 varas de panos de algodão Francisco da Cruz – São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 22 arrobas de toucinho 05 Luis Beltrão – Freguesia da Pomba 90 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 08 Antônio de Souza – Freguesia da Pomba 26 cabeças de gado Vila de São Salvador 08 09 Camilo Jacinto – Freguesia da Pomba 67 cabeças de gado 09 rolos de fumo Francisco Xavier de Matos Guarapiranga 350 varas de pano de algodão 01 rolo de fumo Vila de São Salvador – Vila de São Salvador 122 10 11 14 18 18 27 Caetano Miguel Gonçalves – São João Batista do Presídio 25 arrobas de toucinho José Rodrigues – Freguesia de São João Batista do Presídio 24 arrobas de toucinho Manoel Francisco – Ponte Nova 10 arrobas de fumo 88 varas de panos de algodão Manoel Alves Ferreira – Freguesia da Pomba 14 arrobas de toucinho 60 varas de panos de algodão Fabiano Marques da Costa – Freguesia da Pomba 60 arrobas de toucinho João Gomes Barroso – Freguesia da Pomba 40 arrobas de toucinho 350 varas de panos de algodão 22 arrobas de fumo [Destino mencionado] Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 4o Trimestre Outubro 09 10 17 Francisco Caetano – Freguesia da Pomba 18 rolos de fumo ----- 36 arrobas Vila de São Salvador 120 varas de panos de algodão 70 arrobas de toucinho Joaquim da Silva Perdigão – Freguesia de São Miguel Vila de São Salvador 100 queijos 105 varas de panos de algodão Manoel Joaquim Mendes Bastos – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 14 arrobas de toucinho Novembro 08 Antônio Cirino – Freguesia da Pomba 28 arrobas de toucinho 08 José Antônio Barbosa – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 50 arrobas de toucinho Vila de São Salvador não 123 21 Francisco de Souza – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 12 cabeças de gado Dezembro João d’Afonseca – Freguesia de São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 69 cabeças de gado OBSERVAÇÕES 02 Resumo do Registro da Barra do Pomba de todo o ano de 1825 Gado vacum 912 No Porcos 02 Idem Galinhas 67 Idem Queijos 2950 Idem Colchas de algodão 75 Idem Toucinho 1256 Arrobas Fumo 239 Idem Sabão 002 Idem Marmelada 49 Idem Azeite de mamona 10 Barris Algodão tecido 8215 Varas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 13 março 2012. (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba Tabela 7: Ano de 1826 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.: 741, Rolo: 51 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1826 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES 124 DIA ↓ MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados 1o Trimestre Janeiro 06 30 Manoel Antônio de Barros – Vila de Barbacena Vila de São Salvador 116 capados em pé Reginaldo Teixeira de [Ilegível] – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 100 arrobas de toucinho Fevereiro 06 Manoel Pereira da Silva – Rio Novo 50 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 09 Francisco Luis de Medeiros – Barbacena 165 cabeças de gado Vila de São Salvador 09 10 11 16 Marianno Antônio da Roza – Barbacena 141 cabeças de gado 61 capados em pé Manoel José da Silva – Freguesia da Pomba 56 arrobas de toucinho José Francisco da Silva – Freguesia de São João Batista do Presídio 14 arrobas de toucinho Francisco de Paula Souza – Freguesia da Pomba 40 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 16 Francisco Botelho – Freguesia da Pomba 30 arrobas de toucinho 16 Severino Teixeira de Siqueira – Freguesia da Pomba 24 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 100 varas de panos de algodão 08 cabeças de gado Vila de São Salvador Março 03 Joaquim de Afonseca – Freguesia de São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 46 arrobas de toucinho 125 09 15 20 Francisco de Souza – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 60 cabeças de gado Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia do Piranga Vila de São Salvador 57 cabeças de gado 500 varas de panos de algodão João Rodrigues de Lima – Freguesia de São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 100 arrobas de toucinho 2o Trimestre Abril 02 04 05 05 05 05 05 Manoel Gonçalves – Merces do Pomba 150 cabeças de gado Bento Gonçalves Moreira – Freguesia do Pomba 50 arrobas de toucinho 240 varas de panos de algodão Francisco Lopes – Barra do Bacalhau 32 arrobas de toucinho 900 varas de panos de algodão Lizardo Gonçalves Machado – São João Batista 16 arrobas de toucinho 250 varas de panos de algodão Joaquim Gomes Barretto – São João Batista 160 arrobas de toucinho 300 varas de pano de algodão 36 cabeças de gado Manoel Gomes de Oliveira – Freguesia da Pomba 90 arrobas de toucinho Francisco Caetano – Freguesia da Pomba 800 varas de panos de algodão 25 cabeças de gado Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 06 Manoel Francisco Lins – Barbacena 103 cabeças de gado Vila de São Salvador 25 Manoel Antônio de Barros – Barbacena 600 queijos 83 bois Vila de São Salvador 126 [Maio – não aparece no livro de registros] Junho 02 09 09 16 17 21 22 José Manuel Pires – Freguesia do Piranga Vila de São Salvador 18 cabeças de gado 04 ½ arrobas de fumo Antônio Gonçalves Moreira – São José do Barroso Vila de São Salvador 05 rolos de fumo-------------04 arrobas 140 varas de algodão José Joaquim Silvério – Santa Rita do Turvo Vila de São Salvador 50 varas de panos de algodão Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba 22 cabeças de gado vacum Vila de São Salvador José Gonçalves de Miranda – Lagoa Doirada Vila de São Salvador 132 cabeças de gado Antônio de Siqueira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 20 arrobas de toucinho Manoel José da Silva – São Caetano 100 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 30 varas de panos de algodão 3o Trimestre Julho 03 05 05 10 José Luis Pereira – Freguesia da Pomba 80 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 42 arrobas de toucinho 06 arrobas de fumo Francisco Caetano – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 196 varas de panos de algodão Manuel Machado – São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 04 arrobas de toucinho 80 varas de panos de algodão 127 60 queijos 10 11 14 23 23 30 João Francisco – Freguesia de São João Batista do Presídio 10 arrobas de fumo Francisco Teixeira de Siqueira – Freguesia da Pomba 48 cabeças de gado 10 arrobas de toucinho João de Afonseca – Freguesia de São João Batista do Presídio 16 arrobas de toucinho 66 cabeças de gado João Rodrigues de Lima – Freguesia de São João Batista do Presídio 30 arrobas de toucinho 02 arrobas de fumo Manuel Alves Pereira – Freguesia da Pomba 800 varas de panos de algodão 06 arrobas de toucinho 02 arrobas de fumo Antônio Lopes de Jesus – Santa Rita do Turvo 300 varas de panos de algodão [Destino mencionado] Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Agosto 02 07 13 22 25 28 Francisco Lopes – Barra do Bacalhau 15 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Luis Gonzaga Ribeiro – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 16 rolos de fumo -----32 arrobas Juscelino Cardozo – Freguesia do Sumidouro Vila de São Salvador 64 varas de panos de algodão Antônio da Encarnação – Freguesia de São João Batista [do Presídio] Vila de São Salvador 500 varas de panos de algodão 08 arrobas de toucinho Manoel José Dias – Tapera 16 arrobas de toucinho Vila de São Salvador 550 varas de panos de algodão Antônio Lopes – Santa Rita do Turvo 80 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 04 arrobas de toucinho não 128 28 28 28 Manuel Pires – Santa Rita do Turvo 40 varas de panos de algodão 12 arrobas de toucinho 03 arrobas de fumo Silvério Lopes – Santa Rita do Turvo 160 varas de panos de algodão 04 arrobas de toucinho Francisco Teixeira de Siqueira Freguesia da Pomba 18 cabeças de gado Vila de São Salvador [Vila de] São Salvador – Vila de São Salvador 28 José Luis Pereira – Freguesia da Pomba 100 arrobas de toucinho 28 Antônio Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba 180 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 14 arrobas de fumo 02 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Setembro 11 14 15 15 15 18 18 22 José Joaquim Silvério – Santa Rita do Turvo 200 varas de pano de algodão Manoel Pedro – Freguesia de Cattas Altas de Mato Dentro 1100 varas de panos de algodão Antônio Lopes – Santa Rita [do Turvo] 20 arrobas de toucinho 130 varas de panos de algodão Bento Pacheco – Freguesia da Pomba 10 arrobas de fumo 400 varas de panos de algodão Francisco Caetano dos Reis – Freguesia da Pomba 200 varas de panos de algodão 06 arrobas de toucinho 08 arrobas de fumo João Nobre dos Santos – Cidade de Mariana 30 arrobas de toucinho João Francisco – São João Batista do Presídio 08 rolos de fumo ---- 16 arrobas José de Carvalho – Freguesia da Pomba 30 arrobas de toucinho 02 arrobas de fumo Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 129 4o Trimestre Outubro 1o 1 o 05 Mariano Antônio da Roza – Barbacena 118 cabeças de gado Vila de São Salvador José Gomes Pereira – Freguesia de São Miguel do Mato Dentro Vila de São Salvador 34 cabeças de gado Francisco Dias de Carvalho – São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 19 cabeças de gado 07 Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba 60 arrobas de toucinho 09 Caetano José de Azevedo – Prata, Freguesia de São Miguel Vila de São Salvador 350 varas de panos de algodão 11 Severino Moreira – Barra do Bacalhau 02 arrobas de fumo 11 12 13 14 14 19 19 Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da Pomba 11 cabeças de gado Luis Francisco Gracia – Freguesia da Pomba 31 arrobas de toucinho 04 cabeças de gado Manoel Lopes – Barra do Bacalhau 14 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo Manoel Alves Pereira – Freguesia da Pomba 1100 varas de panos de algodão João Machado – Freguesia de São João Batista do Presídio 50 queijos 06 arrobas de toucinho José da Silva Perdigão – Prata – Freguesia de São Miguel 100 queijos 12 arrobas de toucinho Joaquim Silvério – São João Batista do Presídio 40 arrobas de toucinho Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador Vila de São Salvador 130 23 Manoel da Cruz – São João Batista do Presídio Vila de São Salvador 15 arrobas de toucinho 23 Baltasar Ferreira – Santa Rita do Turvo 114 varas de panos de algodão Vila de São Salvador 26 Camilo Jacinto – Freguesia da Pomba 12 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão Vila de São Salvador Novembro 08 João Rodrigues dos Santos – Freguesia da Pomba Vila de São Salvador 34 cabeças de gado 08 Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba 84 cabeças de gado Vila de São Salvador Dezembro [Sem data] Feliciano Pinto Barboza – São Manoel 43 cabeças de gado [Destino mencionado] não OBSERVAÇÕES Resumo de todo o ano de 1824 Gado vacum 1475 No Porcos 177 No Toucinho 1733 Arrobas Fumo 119 Idem Queijos 870 No Algodão Tecido 10278 Varas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba Tabela 8: Ano de 1827 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS 131 REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.: 740, Rolo: 51 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1827 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES DIA ↓ MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados 1o Trimestre Janeiro 06 Manoel Francisco 103 cabeças de gado vacum Campos dos Goytacazes 15 José Luis 122 arrobas de toucinho Campos 23 Francisco Marques 50 arrobas de toucinho Campos Fevereiro 09 Paulino Rodrigues 80 cabeças de gado vacum Campos 13 Francisco Reginaldo 83 arrobas de toucinho Campos 25 João José 10 arrobas de toucinho Campos Março Até o dia 31 nada passou Francisco de Assiz Carvalho Comandante 132 2o Trimestre Abril 02 06 10 10 11 15 Francisco Joaquim 60 cabeças de gado João Vicente 102 arrobas de toucinho 20 arrobas de fumo Bento Gonçalves Moreira 08 cabeças de gado vacum 03 arrobas de fumo 80 arrobas de toucinho Francisco Caetano 400 varas de algodão 60 arrobas de toucinho Joaquim Dias 15 cabeças de gado vacum 16 arrobas de poaia José Fernandez da Silva 200 arrobas de toucinho 300 varas de panos de algodão Campos Campos Campos Campos Campos Campos 17 Manoel Francisco Rosa 83 cabeças de gado vacum Campos 17 Francisco Teixeira 10 cabeças de gado Campos 20 Manoel Pereira 22 cabeças de gado vacum Campos 25 Joaquim José Soares da Silva 52 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] 06 José [Luis] 60 arrobas de toucinho Campos 07 José [Nunes Pereira] 50 arrobas de toucinho [Ilegível] 08 [Ilegível] [59 cabeças de gado] [Ilegível] Maio não 133 10 Manoel Alves 100 varas de panos de algodão [?] arrobas de fumo [?] [Ilegível] 10 [Ilegível] [Ilegível] 12 Joaquim Gomes da Silva 06 arrobas de toucinho Campos 15 Antônio Lopes 16 arrobas de toucinho Campos 15 18 20 25 30 30 José Antônio Moreira 12 arrobas de toucinho 05 arrobas de fumo 100 varas de algodão Reginaldo Teixeira 26 arrobas de toucinho 12 cabeças de gado vacum Francisco Marques 30 arrobas de toucinho Joaquim Teixeira 08 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão José Pires 200 varas de algodão 10 cabeças de gado vacum Julio Martins 12 arrobas de fumo 06 arrobas de toucinho Campos Campos Campos Campos [Ilegível] [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não Junho 06 06 José Fernandez da Silva 20 arrobas de toucinho 02 arrobas de fumo João Machado 100 queijos 200 varas de algodão 06 João Correia 06 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 07 Bento Gonçalves Moreira 20 arrobas de toucinho 300 varas de panos de algodão 06 arrobas de fumo 50 queijos [Destino mencionado] não 134 07 Francisco Caetano 10 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão 03 arrobas de fumo [Destino mencionado] não 15 Marianno Ferreira 40 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 17 Manoel dos Santos 05 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 20 José Francisco 12 arrobas de fumo [Destino mencionado] não 20 Lauriano Antônio 10 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 21 Cipriano Antônio 50 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 21 Francisco Lopes 16 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo [Destino mencionado] não 28 Francisco Antônio Lopes 30 varas de panos de algodão [Destino mencionado] não Francisco de Assiz Carvalho Comandante 3o Trimestre Julho 1o Joaquim Marques 250 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 1o Luis Fialho 20 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 05 06 10 Manoel Lopes 28 arrobas de toucinho 01 arroba de fumo Silvério Lopes 12 arrobas de toucinho 01 arroba de fumo Manoel Francisco de Souza 30 arrobas de toucinho Campos [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não 135 13 Antônio Ferreira Almondes 81 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] 13 José Ignácio 60 cabeças de gado vacum Campos 14 Dememencianno José Pacheco 08 arrobas de fumo Campos 18 19 Manoel Antônio 20 arrobas de fumo 03 arrobas de marmelada Joaquim Gomes 07 arrobas de toucinho 01 arroba de fumo não Campos [Destino mencionado] não 24 Francisco Reginaldo 20 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 28 Francisco de Souza 80 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 29 Antônio Gomes Candido 30 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 31 Simplício Antônio 40 arrobas de toucinho 10 dittas [arrobas] de fumo [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não Agosto 06 06 10 12 15 15 Francisco Marques 30 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo Manoel João 50 queijos 20 arrobas de fumo Joaquim Marques 12 arrobas de fumo 100 queijos José Luis 50 arrobas de toucinho 10 cabeças de gado vacum Francisco Lopes 15 arrobas de toucinho 06 arrobas de fumo João Ignácio 80 cabeças de gado 136 17 Paulo Marianno 05 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 21 José Palmeira 100 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 23 Francisco Fialho 20 arrobas de toucinho 10 arrobas de fumo [Destino mencionado] não 25 José Fernandes 36 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não 28 28 29 31 31 Bento Gonçalves Moreira 13 arrobas de toucinho 20 cabeças de gado vacum 15 arrobas de fumo 16 arrobas de poaia Francisco Caetano 35 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo José Barretos 12 arrobas de marmelada 26 arrobas de toucinho 100 queijos João Luis 33 cabeças de gado vacum 130 varas de panos de algodão João Manoel 06 arrobas de fumo Setembro 04 07 09 14 15 Vicente Alves 15 arrobas de toucinho 16 arrobas de fumo João Antônio 100 varas de panos de algodão 17 arrobas de toucinho Manoel Ferreira 105 cabeças de gado vacum Joaquim Antônio 03 arrobas de toucinho 20 dittas [arrobas] de fumo Manoel Dias 06 arrobas de poaia 05 dittas [arrobas] de fumo 137 16 19 19 21 25 26 27 José Joaquim 30 arrobas de toucinho 05 dittas [arrobas] de fumo Felisberto da Silva 10 cabeças de gado vacum 90 varas de panos de algodão 50 queijos Luis Antônio 35 cabeças de gado vacum José Antônio 27 arrobas de toucinho 36 varas de panos de algodão Joaquim Bruno 18 arrobas de toucinho 06 dittas [arrobas] de fumo Jerônimo Francisco 51 arrobas de toucinho 08 dittas [arrobas] de fumo Antônio Francisco 04 arrobas de toucinho 03 dittas [arrobas] de poaia [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não [Destino mencionado] não 29 Bernardo Joaquim 16 cabeças de gado [Destino mencionado] não 29 Joaquim Dias 15 cabeças de gado 100 varas de panos de algodão [Destino mencionado] não Francisco de Assiz Carvalho Comandante 4o Trimestre Outubro 05 05 07 Bento Gonçalves Moreira 20 cabeças de gado vacum 22 arrobas de poaia 130 arrobas de toucinho 20 arrobas de fumo Francisco Caetano 10 arrobas de fumo 30 arrobas de toucinho 100 queijos Luis Fialho 120 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo Campos Campos Campos 138 09 José Palmeira 08 cabeças de gado vacum Campos 11 Luis Fernando de Oliveira 86 cabeças de gado Campos 15 Capitão José Maria Lopes Prado 134 cabeças de gado vacum Campos 19 Francisco Lopes 70 arrobas de toucinho 03 dittas [arrobas] de fumo 100 varas de panos de algodão 50 queijos Campos 19 Antônio Neto 10 arrobas de toucinho Campos 21 Adam [Adão] Martins 23 arrobas de toucinho Campos 24 27 30 João Francisco 20 cabeças de gado 100 varas de panos de algodão Francisco Dias 30 arrobas de toucinho 33 cabeças de gado Joaquim Antônio 12 cabeças de gado Campos Campos Campos Novembro Nada passou Dezembro Nada passou Francisco de Assiz Carvalho Comandante OBSERVAÇÕES: Neste caso, a documentação original não apresenta o quadro resumo elaborado pelo escrivão no ato do encerramento do balanço anual. Nos demais livros de registro consta, ao final do apontamento anual, uma tabela na qual são apresentados os produtos exportados e os valores totais contabilizados ao longo do ano, consistindo em um quadro síntese que contém as informações relativas ao valor total de cada produto. 139 FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 02 de janeiro de 2012 (AUTOR E DATA) Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba TEOR Tabela 9: Ano de 1828 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GÊNEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1828, Vol.: 738, Rolo: 51 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1828 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES DIA ↓ MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados 1o Trimestre Janeiro De 1o a 31 nada passou Fevereiro 10 14 Luis Fialho 80 arrobas de toucinho 10 arrobas de fumo 50 queijos José Luis da Silva 100 arrobas de toucinho 120 varas de panos de algodão Campos dos Goytacazes Campos 140 Furriel Francisco Dias [Ilegível] 81 cabeças de gado vacum 200 varas de pano de algodão Campos 17 Francisco de Souza 60 cabeças de gado vacum Campos 21 Bento Gonçalves Moreira 120 arrobas de toucinho 12 arrobas de fumo 04 dittas [arrobas] de poaia Campos 21 Francisco Caetano 40 cabeças de gado vacum 100 varas de panos de algodão 02 cavalos Campos 22 Ignácio Palmeira 85 cabeças de gado vacum Campos 27 Manoel Lopes 40 arrobas de toucinho 02 arrobas de poaia Campos 27 José Fialho 30 arrobas de toucinho Campos 29 Francisco Marques 15 arrobas de toucinho 02 arrobas de fumo Campos 29 Diogo Pereira da Rocha 36 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não Francisco d’Assiz Carvalho Comandante administrador Março 02 Elias Fortunato 100 cabeças de gado vacum 30 queijos Campos 04 Manoel Antônio de Barros 180 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] 06 09 Francisco Lopes 16 arrobas de toucinho 03 cabeças de gado vacum Severino Teixeira 70 cabeças de gado vacum 03 cavalos Campos Campos não 141 13 Joaquim Alves 200 varas de panos de algodão 10 arrobas de toucinho Campos 16 Antônio Alves 900 queijos Campos 16 José Palmeira 90 cabeças de gado vacum Campos 20 Manoel Gracia 13 arrobas de poaia Canta Gallo 30 30 José Fernandes 100 arrobas de toucinho 300 varas de panos de algodão Antônio Moreira 11 arrobas de toucinho 12 ditas [arrobas] de fumo Campos Campos 30 Silvério da Cunha 05 arrobas de poaia Canta Gallo 30 Francisco de Moraes 04 arrobas de poaia Canta Gallo 31 Francisco Fernadez 02 arrobas de poaia Canta Gallo Francisco de Assiz Carvalho Comandante administrador 2o Trimestre Abril 08 08 Francisco Pereira 121 cabeças de gado vacum 130 queijos Antônio Alves 20 arrobas de toucinho 50 queijos 10 arrobas de marmelada Campos Campos 11 José Luis 102 arrobas de toucinho Campos 15 Manoel Fialho 15 arrobas de toucinho 100 queijos Campos 142 16 Ignácio Palmeira 130 cabeças de gado vacum Campos 19 Francisco Gallo 08 cabeças de gado vacum Campos 20 José Antônio da Silva 40 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão Campos 20 Antônio José 10 arrobas de toucinho Campos 26 26 José Fernandes 181 cabeças de gado vacum Francisco de Souza 30 cabeças de gado vacum Campos Campos Francisco de Assiz Carvalho Cabo Maio 02 José Nunes 20 arrobas de toucinho 200 varas de panos de algodão Campos 04 Antônio Almondes 170 cabeças de gado vacum Campos 07 Francisco Marques 32 arrobas de toucinho Campos 08 José Vicente 16 arrobas de toucinho Campos 16 Luis Fialho 23 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo Campos 23 José Palmeira 30 cabeças de gado Campos 24 José Fialho 10 arrobas de fumo 50 cabeças de galinha Campos 24 Antônio Bernardo 200 cabeças de galinhas Campos 143 Francisco de Assiz Carvalho Cabo Junho 01 02 04 Antônio Moreira 75 cabeças de gado vacum José Luis 50 arrobas de toucinho 120 varas de panos de algodão 50 queijos Ignácio Palmeira 110 cabeças de gado vacum Canta Gallo Campos Campos 04 Joaquim Marques 32 arrobas de toucinho Campos 06 João Baptista 14 arrobas de poaia Canta Gallo 08 Manoel Gracia 10 arrobas de poaia Canta Gallo 10 Vicente Valente 20 arrobas de toucinho 130 varas de panos de algodão Campos 11 Estevão Barbosa 04 arrobas de poaia [Aldeia da] Pedra 11 Domingos da Silva 02 arrobas de poaia Aldeia da Pedra 12 Francisco de Moraes 03 arrobas de poaia Aldeia [da Pedra] 17 Elias Fortunato 60 cabeças de gado vacum Campos 17 Furriel Francisco Dias 30 cabeças de gado vacum Campos 24 José Nunes 20 arrobas de toucinho 08 arrobas de fumo Campos 25 José Fernandes 14 arrobas de toucinho Campos 144 25 João Teixeira 10 arrobas de toucinho Campos 25 Levindo Lopes 100 queijos 30 cabeças de galinhas Campos 26 Francisco Suisso 06 arrobas de toucinho Aldeia da Pedra 29 Francisco Marques 11 arrobas de toucinho 100 varas de pano de algodão Campos Francisco de Assiz Carvalho Cabo 3o Trimestre de 1828 Julho 06 Luis Fialho 30 arrobas de toucinho 120 queijos Campos 06 José Luis 40 arrobas de toucinho Campos 09 11 12 Joaquim Marques 26 arrobas de toucinho 08 arrobas de fumo Antônio Luis 1500 varas de panos de algodão 32 cabeças de gado vacum José Fernandes 28 arrobas de toucinho 15 arrobas de fumo Campos Campos Campos 12 Francisco de Souza 96 cabeças de gado vacum Campos 12 Manoel Ribeiro 120 varas de panos de algodão 16 arrobas de toucinho Campos 14 Antônio Correia 25 arrobas de toucinho Campos 30 Elias Fortunato 110 cabeças de gado vacum Campos Francisco de Assiz Carvallho Cabo comandante 145 Agosto 11 11 15 Bento Gonçalves Moreira 80 arrobas de toucinho 500 varas de panos de algodão 12 arrobas de fumo Francisco Caetano 24 arrobas de toucinho 100 queijos Manoel Fialho 15 arrobas de fumo 111 varas de panos de algodão Campos Campos Campos 18 Francisco Marques 60 arrobas de toucinho Campos 23 Francisco Lopes 130 arrobas de toucinho Campos 25 Antônio Guedes 12 cabeças de gado vacum Campos 29 Manoel Afonso 16 arrobas de fumo 100 queijos Campos 29 Antônio Alves 32 arrobas de toucinho Campos Francisco de Assiz Carvalho Coronel Comandante Setembro 02 04 04 José Antônio Moreira 20 arrobas de toucinho 30 varas de panos de algodão Manoel de Barros 18 arrobas de marmelada 40 dúzias de chicotes [480 chicotes] Silvério Antônio Teixeira 10 arrobas de marmelada 200 queijos Campos Campos Campos 07 José Vicente 22 arrobas de toucinho Campos 10 Antônio da Costa 30 arrobas de toucinho Campos 146 13 Antônio Moreira 70 cabeças de gado vacum Campos 15 Capitão Gonçalo Teixeira 10 arrobas de poaia 200 varas de panos de algodão 30 arrobas de toucinho Rio de Janeiro 18 Ignácio Palmeira 102 cabeças de gado vacum Campos 21 Liberato Gomes 36 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo [Destino mencionado] 21 Antônio Pinto 40 arrobas de toucinho Campos 21 Vicente Valente 15 arrobas de fumo Campos 24 Severino Teixeira 23 arrobas de toucinho Campos 27 Manoel dos Santos 06 arrobas de toucinho Campos 28 Manoel Carlos 50 arrobas de toucinho 08 arrobas de fumo Campos 28 Manoel Gracia 05 arrobas de poaia Canta Gallo Francisco de Assiz Carvalho Coronel Comandante 4o Trimestre Outubro 04 Paulino José 16 cabeças de gado vacum Campos 06 Joaquim Pires 10 cabeças de gado vacum Aldeia da Pedra 15 Fabiano José 11 potros Campos Francisco de Assiz Carvalho Coronel Comandante não 147 Novembro 08 Manoel Francisco 30 arrobas de toucinho Campos 11 Manoel Gracia 06 arrobas de poaia Aldeia da Pedra 28 Joaquim de Moraes Peçanha 04 arrobas de poaia [Aldeia da] Pedra 28 Furriel Francisco Dias 10 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão 08 arrobas de fumo Campos Francisco de Assis Carvalho Coronel Comandante Dezembro Nada passou OBSERVAÇÕES Resumo do numero dos gêneros Toucinho Arrobas 1766 Fumo Ditas [arrobas] 144 Queijos ------------------------- 1930 Panos de algodão Varas 4131 Bois ------------------------- 2148 Poaia Arrobas 90 Cavalos ------------------------- 16 Marmelada Arrobas 38 Galinhas ------------------------- 280 Chicotes ------------------------- 480 FICHAMENTO (AUTOR E DATA) Márcio Xavier Corrêa, 14 março 2012 TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba 148 Tabela 10: Ano de 1829 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, 1829, vol. 736, rolo 51. NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, Ano de 1832 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES DIA ↓ MÊS ↓ Localidade/Destino dos gêneros exportados Janeiro Nada passou Fevereiro 02 Manoel Luis 40 arrobas de toucinho 04 José Fialho 36 arrobas de toucinho 50 queijos 04 Domingos Ferreira 12 arrobas de toucinho Campos Campos Campos 04 Luis Fialho 32 cabeças de gado vacum Campos 08 João José Pereira 36 cabeças de gado vacum Campos 149 14 Manoel Antônio 80 cabeças de gado vacum Campos 22 Joaquim Vieira 114 cabeças de gado vacum 06 dúzias de queijos [72 queijos] Campos Março 20 28 José Pedro Alvarez 109 cabeças de gado vacum 04 dúzias de queijos [48 queijos] João Rodrigues 65 cabeças de gado vacum 100 queijos Campos Campos 20 Trimestre Abril 05 Manoel Francisco de Souza 50 arrobas de toucinho Campos 05 Antônio José 76 cabeças de gado vacum 200 queijos Campos 06 José de Freitas 11 arrobas de toucinho Campos 10 Antônio Silvestre 100 arrobas de toucinho Campos 12 João Caetano 34 cabeças de gado vacum Campos 15 José Rodrigues 50 arrobas de toucinho Campos 15 Manoel Antônio 20 arrobas de toucinho Campos 20 Luis Fialho 12 arrobas de toucinho Campos Maio 150 23 Joaquim Rodrigues 28 arrobas de toucinho Campos 24 Ignácio Ribeiro da Costa 191 cabeças de gado vacum 40 arrobas de toucinho Campos 25 Francisco Caetano 100 arrobas de toucinho Campos 30 Manoel Antônio 130 cabeças de gado vacum 500 queijos Campos 3o Trimestre Junho Nada passou Julho 1o José Luis 100 arrobas de toucinho Campos 04 Luis Fialho 50 arrobas de toucinho Campos 05 Francisco Borges 25 arrobas de toucinho Campos 10 Manoel Fialho 16 cabeças de gado vacum 20 arrobas de toucinho Campos 14 Francisco Nunes 54 arrobas de toucinho Campos 20 Joaquim Rodrigues 45 arrobas de toucinho Campos 24 Manoel dos Santos 25 arrobas de toucinho 50 queijos Campos 30 José de Souza 88 arrobas de toucinho Campos 151 Agosto 04 Manoel Pedro 40 arrobas de toucinho Campos 06 José de Souza 88 arrobas de toucinho Campos 08 José Fialho 56 arrobas de toucinho Campos 10 Manoel Carlos 100 arrobas de toucinho Campos 21 23 23 23 Antônio da Costa 62 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo José Antônio Moreira 51 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão Demencianno José 43 arrobas de toucinho 12 arrobas de fumo Bento Pacheco 06 arrobas de toucinho 400 varas de panos de algodão Campos Campos Campos Campos Setembro 04 Francisco Borges 15 arrobas de toucinho Campos 07 Bento Moreira 70 arrobas de toucinho Campos 11 Francisco Caetano 33 arrobas de toucinho Campos 13 José dos Santos 16 arrobas de toucinho Campos 20 20 Manoel dos Santos 15 arrobas de toucinho 100 varas de panos de algodão Dionísio de Barros 150 dúzias de chicotes [1800 chicotes] 06 arrobas de marmelada 30 freios Campos Campos 152 24 Francisco Teixeira 19 cabeças de gado vacum Campos 25 Manoel Pedro 50 arrobas de toucinho Campos 27 Manoel Fialho 32 arrobas de toucinho Campos 27 Joaquim Rodrigues 22 arrobas de toucinho Campos Francisco de Assiz Carvalho Comandante Administrador 4o Trimestre Outubro 02 Manoel dos Santos 08 arrobas de fumo Campos 03 Luis Fialho dito Lucio Fialho 130 arrobas de toucinho 02 barris de azeite Campos 09 Estevão Barbosa 10 cabeças de gado vacum Canta Gallo 12 João Francisco 10 cabeças de gado vacum Aldeia da Pedra 12 José de Moraes Hua [01] arroba de poaia Aldeia da Pedra 17 Bento Moreira 16 arrobas de toucinho Campos 17 Antônio Teixeira 29 cabeças de gado vacum Campos 23 Luis Fialho 30 arrobas de toucinho Campos 24 Francisco de Souza 73 cabeças de gado vacum Campos 153 29 José Antônio Moreira 10 arrobas de toucinho Campos 29 Manoel Antônio de Barros 153 cabeças de gado vacum Campos Novembro 1o José Gonçalves 83 arrobas de toucinho Campos 04 Antônio José 51 cabeças de gado vacum Campos 04 José Pires 13 cabeças de gado vacum Aldeia da Pedra 09 Manoel Borges 25 arrobas de toucinho Campos 10 Manoel Gracia 04 arrobas de poaia [Aldeia da] Pedra 15 Joaquim de Moraes 03 arrobas de toucinho 02 arrobas de poaia [Aldeia da] Pedra 18 Manoel Carlos 60 arrobas de toucinho Campos 24 Luis Fialho 37 arrobas de toucinho Campos 27 Manoel Martins 43 cabeças de gado vacum Campos 27 José Fialho 42 arrobas de toucinho Campos Dezembro Nada passou Francisco de Assiz Carvalho Comandante Administrador 154 OBSERVAÇÕES Resumo de todo o ano de 1829: Gado vacum 1312 Queijos 1020 Chicotes de couro 1800 Freios de ferro 30 Toucinho 999 Fumo 24 Marmelada 06 Poaia 07 Azeite de mamona 02 Algodão tecido 600 No No No No @ @ @ @ Barris Varas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 14 março 2012. (AUTOR E DATA) Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba TEOR Tabela 11: Ano de 1830 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol.: 739, Rolo: 51 NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. LOCAL/DATA Barra do Pomba, ano de 1830 ASSUNTO Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba PARTES DIA ↓ MÊS ↓ 1o Trimestre Janeiro Localidade – Destino dos gêneros exportados 155 Nada passou Fevereiro 08 Luis Fialho 78 arrobas de toucinho Campos 10 Manoel Francisco 40 arrobas de toucinho Campos 14 Ignocencio Antônio Rodrigues 18 arrobas de toucinho Campos 14 Narciso José Coutinho 110 arrobas de toucinho Campos 03 Joaquim José 20 arrobas de toucinho Campos 08 Francisco Fernandez de Assiz 60 arrobas de toucinho Campos 11 Capitão Mariano Fernandez 280 cabeças de gado vacum Campos 19 Miguel Antunes 100 cabeças de gado vacum Campos 26 Manoel Teixeira 30 arrobas de toucinho Campos Março Vicente Ferreira de Souza Lobato Comandante 2o Trimestre Abril 07 Antônio Joaquim 50 arrobas de toucinho Campos 07 Manoel Francisco 70 arrobas de toucinho Campos 156 10 Vicente Rodrigues 40 arrobas de toucinho Campos 13 Antônio Felício 18 arrobas de toucinho Campos 14 Silvério Antônio 20 arrobas de toucinho Campos 20 Vicente Martins 10 arrobas de toucinho Campos 26 Domingos de Souza 39 arrobas de toucinho Campos 02 Luis Fialho 30 arrobas de toucinho Campos 12 Manoel Carlos 20 arrobas de toucinho Campos 22 Dionísio de Barros 40 arrobas de marmelada Campos 25 Antônio Martins 21 arrobas de toucinho Campos 01 Francisco Antônio 100 bois Campos 12 Joaquim Vieira 130 bois Campos 20 Antônio Rodrigues 60 arrobas de toucinho Campos 28 José Joaquim Cardoso 50 bois Campos Firmiano Gomes 100 bois Campos Maio Junho Julho 02 157 18 Antônio Alvim 30 arrobas de toucinho Campos 22 Manuel Antônio 100 bois Campos 29 Luis Fialho 80 arrobas de toucinho Campos 3o Trimestre Agosto 06 Manoel Machado 60 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 08 Manoel dos Santos 40 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 10 Francisco de Souza 120 cabeças de gado [destino mencionado] não 12 Antônio Ribeiro 80 cabeças de gado [destino mencionado] não [destino mencionado] não [destino mencionado] não [destino mencionado] não 15 18 20 José Antônio 30 arrobas de toucinho 200 varas de algodão Francisco Caetano 60 arrobas de toucinho 100 varas de algodão Joaquim Rodrigues 12 rolos de fumo 21 arrobas de toucinho 200 queijos 26 Manoel Francisco 30 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 28 Luis Fialho 80 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 29 Dionísio de Barros 40 arrobas de marmelada [destino mencionado] não Bento Pacheco 08 rolos de fumo [destino mencionado] não Setembro 02 158 800 varas de algodão 20 arrobas de toucinho 04 Francisco de Assis Fernandes 50 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 07 Alexandre Gonçalves 1600 varas de algodão [destino mencionado] não 10 Antônio Alves 40 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 13 Fermiano Gomes 120 cabeças de gado [destino mencionado] não [destino mencionado] não 18 José Fialho 30 arrobas de toucinho 21 Elias Pereira 20 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 24 Mariano Antônio 80 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 27 Manuel Anriques 25 arrobas de toucinho [destino mencionado] não 30 Dememencianno Correia 04 rolos de fumo 60 arrobas de toucinho [destino mencionado] não Vicente Faria de Souza Lobato Comandante Administrador 4o Trimestre Outubro 02 Francisco dos Reis 49 arrobas de toucinho Campos 05 Francisco Fernandez 36 arrobas de toucinho 04 arrobas de fumo 500 varas de panos de algodão Campos 11 Luis Fialho 52 arrobas de toucinho Campos 13 Francisco de Souza 80 cabeças de gado vacum Campos 159 16 23 26 30 30 Antônio Leite 10 cabeças de gado 20 arrobas de toucinho Bernardo Rodrigues 06 cavalos 1500 varas de panos de algodão Joaquim Alves 55 cabeças de gado vacum José Antônio 63 arrobas de toucinho 100 queijos 200 varas de panos de algodão José Nogueira 25 meias de sola 30 arrobas de toucinho Campos Campos Campos Campos Campos Novembro 05 10 10 Mariano Ferreira 70 cabeças de gado vacum José Antônio Moreira 61 arrobas de toucinho 100 varas de tecido Joaquim Rodrigues 03 cavalos 56 arrobas de toucinho Campos Campos Campos 13 Joaquim Teixeira 10 cabeças de gado vacum Campos 14 Fermianno Rodrigues 50 cabeças de gado vacum Campos 20 Manoel Lopes 21 arrobas de toucinho 50 cabeças de galinhas Campos 21 Manoel Gracia 06 arrobas de poaia Aldeia da Pedra 26 Manoel Bernardes 500 queijos 90 arrobas de toucinho Campos 26 Domingos da Silva 01 arroba de poaia [Aldeia da] Pedra 28 Antônio Leite 15 cabeças de gado vacum Campos 160 30 Antônio Fernadez 42 arrobas de toucinho Campos 30 Joaquim de Moraes Peçanha 02 arrobas de toucinho 03 arrobas de poaia 05 bois carreiros [Aldeia da] Pedra Dezembro 20 Manoel Francisco 39 arrobas de toucinho Campos 20 José Joaquim 05 arrobas de poaia Canta Gallo Francisco de Assis Carvalho Coronel Comandante e Administrador OBSERVAÇÕES Resumo de todo o ano de 1830 Gado vacum 1475 Cavalos 09 Galinhas 50 Queijos 800 Sola 25 Toucinho 2042 Poaia 15 Marmelada 80 Fumo 28 Algodão tecido 5000 No No No No No @ @ @ @ Varas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 15 março 2012. (AUTOR E DATA) TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba Tabela 12: Ano de 1832 FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS DE MINAS GERAIS REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Ciclo de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, 1832, vol. 737, rolo 51. NATUREZA Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. 161 LOCAL/DATA Barra do Pomba, Ano de 1832. ASSUNTO Registro de saída de gêneros de Barra do Pomba. PARTES 1o Trimestre de 1832 DIA ↓ MÊS ↓ Localidade – Destino dos gêneros exportados Janeiro Nada passou Fevereiro 11 Luis Fialho 100 arrobas de toucinho 100 queijos Campos 17 Manoel Fialho 15 arrobas de toucinho Campos 19 José Henriques 08 arrobas de toucinho 400 varas de algodão tecido Campos 20 Joaquim José Vieira 90 cabeças de gado vacum Campos 25 Manoel Gracia 04 arrobas de poaia São Fidelis 25 Manoel Eduardo 05 cavalos Canta Gallo Manoel dos Reis 02 arrobas e meia de poaia Aldeia da Pedra Manoel Antônio 95 cabeças de gado vacum Campos 30 Francisco d’Assiz Carvalho Comandante 162 Março 04 José Alvim 86 cabeças de gado vacum Campos 07 Ignacio Palmeira 105 cabeças de gado vacum Campos 08 Bento José de Araujo 08 cavalos Campos 18 Antônio Machado 06 arrobas de toucinho Campos 27 Joaquim Marques 18 arrobas de toucinho Campos José Francisco de Barros 20 arrobas de toucinho 100 queijos Campos 28 Florentino da Silva 120 cabeças de gado vacum Campos 31 Passaram neste mês muitas tropas vazias e por isso não fiz assento. 28 Francisco de Assiz Carvalho 2o Trimestre de 1832 Abril 03 04 06 Antônio Julho para Campos 40 arrobas de toucinho Capitão Inocêncio Pereira 73 cabeças de gado vacum 02 cavalos puxados Domingos Francisco 32 arrobas de toucinho 100 queijos Campos Campos Campos 163 08 Firmianno Gomes Sobral 50 cabeças de gado vacum 25 potros tocados 06 cavalos puxados [Destino mencionado] 11 Manoel Francisco 14 arrobas de toucinho Campos 17 Adão Pereira 15 arrobas de toucinho Campos 21 Manoel Antônio de Barros 200 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] 23 29 30 José Henriques 56 arrobas de toucinho 400 varas de panos de algodão Alexandre Gonçalo 20 cabeças de gado vacum 1000 varas de panos de algodão Francisco Lázaro 50 cobertas de algodão 100 varas de pano de algodão 30 arrobas de toucinho não não Campos Campos Campos Maio 04 José Severino 10 arrobas de toucinho Campos 09 Joaquim Vieira 100 cabeças de gado vacum Campos 11 José Thomaz 15 arrobas de toucinho Campos 11 Luciano José da Costa 20 arrobas de toucinho 400 varas de panos de algodão [Destino mencionado] 16 Manoel Carlos 120 cabeças de gado vacum Campos 17 Francisco Marques 15 arrobas de toucinho Campos não 164 25 29 Luis Fialho 16 arrobas de toucinho José Antônio Moreira 200 varas de panos de algodão 20 arrobas de toucinho Campos Campos Francisco d’Assiz Carvalho Comandante administrador Junho 10 João Fernandes 30 arrobas de toucinho Campos 16 Inocêncio Azevedo 20 arrobas de toucinho Campos 21 Luis Antônio d’Lanna 30 cabeças de gado vacum [Destino mencionado] não 23 Manoel Carlos de Figueiredo 16 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não 24 Capitão Gonçalo Barreto 50 arrobas de toucinho [Destino mencionado] não Francisco d’Assiz Carvalho Comandante OBSERVAÇÕES Resumo dos 06 meses de 1832: Gado vacum 1089 No Cavalos Queijos Manta de algodão 46 300 50 No No No Algodão tecido Poaia 2500 07 Varas Arrobas Toucinho 476 Arrobas FICHAMENTO Márcio Xavier Corrêa, 15 março 2012. (AUTOR E DATA) 165 TEOR Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais através do Registro da Barra do Pomba