UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – ICH
PÓS – GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO
Márcio Xavier Corrêa
Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais
(primeira metade do século XIX).
Juiz de Fora – Minas Gerais
2012
i
Márcio Xavier Corrêa
Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais
(primeira metade do século XIX).
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal de Juiz de Fora
para a obtenção do Título de Mestre em
História. Linha de pesquisa: Poder,
Mercado e Trabalho. Orientador: Prof. Dr.
Ângelo Alves Carrara.
Juiz de Fora – Minas Gerais
2012
ii
Márcio Xavier Corrêa
Memória sobre a economia extrativa da poaia – leste de Minas Gerais
(primeira metade do século XIX).
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em História
da Universidade Federal de Juiz de Fora
para a obtenção do Título de Mestre em
História. Linha de pesquisa: Poder,
Mercado e Trabalho. Orientador: Prof. Dr.
Ângelo Alves Carrara.
Aprovada em 11 de junho de 2012
___________________________________________________________
Prof. Dr. Angelo Alves Carrara (Orientador)
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
____________________________________________________________
Prof. Dra. Mônica Ribeiro de Oliveira
Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF
____________________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Henrique Dias
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC
Juiz de Fora – Minas Gerais
2012
iii
Corrêa, Márcio Xavier.
Memória sobre a economia extrativa da poaia / Márcio Xavier
Corrêa. – 2012.
162 f. : il.
Dissertação (Mestrado em História)—Universidade Federal de
Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012.
1. Plantas medicinais. 2. Economia – Minas Gerais. 3. Memória.
I. Título.
CDU 615.32
iv
Dedico este trabalho aos meus pais Francisco Xavier Corrêa e Maria da
Penha Xavier Corrêa, as minhas irmãs Rozane, Jânia e Janaína, ao meu irmão
Ronan e aos meus amigos, cujo incentivo e estímulo me ajudaram a superar os
momentos mais difíceis.
v
Agradecimentos
Agradeço à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais –
FAPEMIG, pela concessão de uma bolsa de pesquisa no período de março de 2011
a março de 2012, essencial para a concretização deste trabalho.
Agradeço também a Universidade Federal de Juiz de Fora a concessão de uma
bolsa monitoria, durante o segundo semestre letivo do ano de 2010, cuja
contribuição para cursar as disciplinas e potencializar a pesquisa foi decisiva.
Agradeço ao Professor Ângelo Alves Carrara o apoio no desenvolvimento do projeto
de pesquisa e sua a valiosa orientação na transformação deste projeto na
dissertação que apresento à Universidade Federal de Juiz de Fora.
Agradeço a Antônio Carlos Ferreira e família o apoio material e incentivo à pesquisa
que me foi concedido ao longo do ano de 2010.
Agradeço a Margarida Andrade Gonçalves, estimada professora que me apoia
incondicionalmente, material e fraternalmente, desde a época em que fui seu aluno
na primeira série do ensino médio do Colégio de Aplicação da Universidade Federal
de Viçosa – COLUNI em 1999.
vi
“O Brasil produz também hum grande numero de plantas
aromáticas de diversas espécies, Suas producções botânicas
são innumeráveis. Não faltao nem flores de ornato, nem
plantas medicinaes. O arbusto tão útil, conhecido com o nome
de ipicacuanha, não se acha senão no Brasil: sua flor he uma
espécie de violeta: he na raiz, que residem todas as suas
propriedades”.
BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua
descuberta ate 1810. Trad. Pe. Ignácio Felizardo Fortes. Rio de
Janeiro: Imprensa Régia, 1818. p. 92.
vii
Resumo
Constitui esta dissertação em um estudo da economia extrativa da poaia que se
desenvolveu na primeira metade do século XIX no Leste da Província de Minas
Gerais. Esta economia extrativa consiste no processo histórico aqui reconstituído, e
que pode ser definido como um conjunto de atividades comerciais envolvendo
diferentes sujeitos históricos na constituição de uma rede de mercadorias cuja
extensão ultrapassou os limites definidos pela fronteira política nacional. Para a
realização deste estudo consultou-se um corpo de fontes bastante fragmentado e
diversificado, possibilitando a recuperação das características farmacológicas da
poaia, sua aplicação medicinal, o processo de sua extração no meio natural e sua
presença nos livros de contabilidade do Registro da Barra do Pomba, juntamente
com outros produtos exportados pela província de Minas Gerais. Para tanto,
observa-se as características tanto da extração como do comércio da poaia desde a
coleta realizada pelos indígenas nas áreas de floresta até sua exportação para a
Europa a partir do porto do Rio de Janeiro. Inicialmente, são informados os usos
médicos da poaia, que apresentam relação direta com a sua importância comercial.
Em seguida é realizada uma investigação da atividade de coleta, pensando nos
agentes envolvidos, plantas e homens, em movimento dinâmico e interativo.
Finalizando, realiza-se um exercício de sistematização de dados em busca de um
dimensionamento da comercialização da planta em uma perspectiva comparada em
relação a outros produtos.
Palavras-chave: Poaia. Economia Mineira. Comércio.
viii
Abstract
This dissertation is a study of the ipecac extractive economy that was developed in
the first half of the nineteenth century in the East of the Province of Minas Gerais.
This extractive economy consists on the historical process here reconstituted, which
can be defined as a set of commercial activities involving different historical subjects
in the constitution of a network of goods which extension exceeded the limits defined
by national political boundaries. For this study we referred to a body of highly
fragmented and diverse sources, enabling the recovery of the pharmacological
characteristics of ipecac, its medical application, its extraction process in the natural
environment and its presence in the account books of Records of Barra do Pomba,
along with other products exported by the province of Minas Gerais. To this end, we
observe the characteristics of both the extraction and the trade of ipecac from the
collection held by the Indians in the areas of forest to its export to Europe from the
port of Rio de Janeiro. Initially, the medical uses of ipecac are informed, which have
direct relation to its commercial importance. Afterwards, an investigation of the
collection activity is done, considering the agents involved, plants and men in a
dynamic and interactive motion. Finally, we carried out an exercise of data
systematization in search of sizing the commerce of the plant in a comparative
perspective in relation to other products.
Keywords: Ipecac. Economy of Minas Gerais. Trade.
ix
Sumário
1 – Introdução ........................................................................................................... 10
1.1 – Poaia: caracterização do objeto ....................................................................... 10
1.2 – Identidades visuais da poaia ............................................................................ 16
1.3 – O comércio de poaia na literatura .................................................................... 21
1.4 – Fontes e metodologia ....................................................................................... 32
1.5 – Delimitando recortes: tempo e lugar de ocorrência da comercialização da poaia
.................................................................................................................................. 33
2 – Os usos médicos da poaia .................................................................................. 38
3 – Comércio e migrações intracontinentais: homens, animais e plantas em
movimento no sertão leste de Minas Gerais (1824 – 1832). ..................................... 49
4 – Análise da economia extrativa da poaia no leste de Minas Gerais (primeira
metade do século XIX): estudo comparativo entre produtos de uma cadeia de
mercadorias............................................................................................................... 75
5 – Considerações finais ........................................................................................... 91
6 – Fontes consultadas ............................................................................................. 94
7 – Bibliografia........................................................................................................... 99
8 – Anexos .............................................................................................................. 103
8.1 – Tratado de Medicina Doméstica – Sec. XVIII ................................................. 103
8.2 – Transcrição de excertos dos “Livros de Registro de saída de gêneros de Barra
do Pomba” ............................................................................................................... 107
10
1 – Introdução
Esta dissertação tem por objeto a economia extrativa da poaia na região
leste de Minas Gerais durante a primeira metade do século XIX. A extração de poaia
aparece nas fontes e na historiografia como uma atividade importante durante o
processo de ocupação dessa região. O objetivo aqui é analisar as características
tanto da extração como do comércio da poaia desde a coleta realizada pelos
indígenas nas áreas de floresta até sua exportação para a Europa a partir do porto
do Rio de Janeiro.
Para atender a este objetivo pretende-se no primeiro capítulo apresentar os
usos médicos da poaia, que apresentam relação direta com a sua importância
comercial. O segundo capítulo é reservado para uma investigação da atividade de
coleta, pensando nos agentes envolvidos, plantas e homens, em movimento
dinâmico e interativo. O terceiro capítulo constitui um exercício de sistematização de
dados em busca de um dimensionamento da comercialização da planta em uma
perspectiva comparada em relação a outros produtos.
Dada à especificidade do tema, cuja abordagem exigiu uma incursão em
campos temáticos variados, adotou-se uma orientação interdisciplinar na construção
da narrativa histórica. Esta orientação metodológica, contudo, impossibilitou a
proposição de uma filiação teórica mais estrita, embora tenha norteado à
composição do texto a perspectiva de realização de uma história social dos produtos
extrativos.
1.1 – Poaia: caracterização do objeto
O que é a poaia? Esta questão se coloca como a indagação que norteará
este tópico na busca de uma melhor definição deste objeto de estudo e a resposta
concernente a este questionamento exige uma breve incursão pela botânica e pela
farmacologia. Obviamente não existe nenhuma pretensão do autor destas linhas em
11
tomar para si saberes que pertencem a campos distintos da ciência histórica – que
por vezes podem estabelecer um diálogo profícuo – mas, pelo contrário apenas
insinuar como a história se enriquece ao contato com outras disciplinas ao
estabelecer este diálogo, exigido pela natureza do objeto de estudo. Todavia, não se
deve esquecer que o historiador busca o elemento humano, sendo que este se
apropria de elementos do reino vegetal convertendo-os em objeto de suas ações por
meio do comércio, iniciando o processo histórico cuja reconstituição da forma mais
pertinente possível materializa a única pretensão assumida aqui.
A poaia, também conhecida por ipecacuanha é uma planta medicinal da
família Rubiaceae. O nome científico é Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes, mas
também pode ser denominada Cephaelis ipecacuanha (Brot.) A. Rich., ou ainda
Evea ipecacuanha (Brotero) Standley. Popularmente é conhecida também como
poaia, epeca, ipeca verdadeira, poaia cinzenta, poaia preta, poaia vermelha, poaia
das boticas e raiz-do-Brasil.1 Este último nome é uma referência direta à parte da
planta que apresenta a maior concentração de princípios ativos: as raízes. O
topônimo Brasil remete, obviamente, a sua área de ocorrência predominante,
limitada as regiões de florestas tropicais úmidas e sombreadas.
A poaia ocorre em diversas regiões, que incluem Brasil e outros países da
América do Sul e Central como Colômbia, Venezuela, Panamá e Nicarágua.
Entretanto existem diferenciações morfológicas e anatômicas entre as plantas, mas
interessa para este estudo que as plantas encontradas no Brasil apresentam maior
concentração dos princípios ativos: “presença de dois alcalóides em suas raízes: a
emetina e a cefalina que conferem à planta um poder emético e amebicida”.2 São
importantes para este estudo as plantas brasileiras, conhecidas pela alta
concentração do princípio ativo, de ocorrência nas áreas de floresta atlântica e de
experimentada utilização pelos índios, para quem suas propriedades fitoterápicas já
eram conhecidas antes do início do comércio com os portugueses. Sua ocorrência
natural tem diminuído desde o início de sua extração comercial, estando a redução
da planta associada ao grande nível de devastação da floresta atlântica, o que tem
1
BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas medicinais da Estrada Real. Belo Horizonte: Editora O
Lutador, 2008. p. 28.
2
ASSIS, Marta Camargo de; GIULIETTI, Ana Maria. Diferenciação morfológica e anatômica em
populações de “ipecacuanha” - Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes (Rubiaceae). Revista
Brasileira de Botânica, São Paulo, v.22, n.2, p.205-216, ago. 1999. p. 205-6.
12
instigado pesquisadores preocupados com a conservação deste espécime vegetal
de grande importância para a medicina.3
A comercialização e o uso da ipecacuanha são descritos nos relatos de
viagem de estudiosos que percorreram o interior do Brasil em diferentes épocas.
Para o ano se 1836, podemos apreender um fragmento do relato da Viagem
Pitoresca Através do Brasil, de A. D’Orbigny:
No momento em que Spix e Martius chegaram à aldeia, os
índios coroados estavam ocupados na colheita de ipecacuanha, no
interior da mata. Nessas sombrias florestas, nas quais não se pode
entrar sem uma escolta, sob as abóbodas formadas pelas árvores,
jamais atravessadas pelos raios de sol, encontram-se numerosas
plantas medicinais, e entre outras, a famosa raiz de ipecacuanha,
cujo uso é tão comum na Europa. Essa raiz provém de um pequeno
arbusto (Cephaelis ipecacuanha), que cresce sempre em grupos na
parte mais elevada da Serra do Mar. O preço da raiz não é muito
elevado nos lugares onde ela é colhida; paga-se, em geral, cerca de
200 reis por libra e, além disso, os índios mostram-se dispostos a
trocá-la por artigos como aguardente, quinquilharia e lenços de
algodão. Contaram, naquelas florestas, a Spix e Martius, que as
virtudes da ipecacuanha tinham sido ensinadas aos selvagens pelo
pássaro chamado irara, espécie de martim-pescador, que, segundo
se diz, tem o habito de comer a raiz e as folhas da planta, quando em
virtude de ter bebido água malsã de algum rio, quer provocar vomito.
Essa é, sem duvida, mais uma das mil tradições fabulosas que os
portugueses receberam dos índios ou que eles próprios inventaram,
achando que os índios não inventavam bastante lendas.4
De acordo com Maria das Graças Lins Brandão, o uso da planta como
vomitivo foi aprendido com os indígenas, persistindo até os dias atuais, sendo que
existem patentes de produtos relacionadas à ipecacuanha, registradas no exterior. A
autora apresenta ainda uma estampa elaborada por Bernardino A. Gomes (1780 1801), uma amostra depositada em um herbário do Museu Nacional de História
Natural da França e uma imagem atual da planta, coletada na cidade de Ferros.5
Através da análise de alguns dicionários, é possível observar que as
definições de poaia e ipecacuanha estão presentes na língua portuguesa, sendo
3
MARTINS, E. R.; OLIVEIRA, L. O. Conservação da poaia (Psychotria ipecacuanha Standl.): I –
Estratégias de localização de populações e etnobotânica. Revista Brasileira de Plantas Medicinais,
Botucatu, SP v. 7, n. 1, p. 6-10. 2004.
4
BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos naturalistas. Belo
Horizonte: Código Comunicação, 2010. p. 62.
5
BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais... p.62
13
possível observar sua variação ao longo do tempo. Para tanto, considera-se
inicialmente a definição apresentada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa:
...planta (Psychotria ipecacuanha) da fam. das rubiáceas,
nativa do Brasil (AMAZ, BA, MG, ES, C.O.), de raízes com
propriedades eméticas, expectorantes e anti-desintéricas, folhas
obovadas, membranáceas, e inflorescências em capítulos
terminais....6
O termo poaia é definido como:
...design. comum a várias plantas de diferentes gên. e fam.,
esp. árvores e arbustos da fam. das rubiáceas, pequenos arbustos e
subarbustos do gênero Hybanthus, da fam. das violáceas, e ervas do
gen. Polygala, da fam. das poligaláceas, pelas propriedades
eméticas das suas raízes, sucedâneas da ipecacuanha.7
Como pode ser observado, este dicionário aponta para a ocorrência endêmica
da planta no Brasil, além de referenciar seus princípios ativos, mantendo-se em
coerência com as definições citadas anteriormente neste texto. É apresentada ainda
rica sinonímia que alerta para a diversidade lingüística e variadas formas de
denominar a planta. Já o termo poaia é mais amplo e se aplica a um número
variado de plantas, mas que apresentam um ponto em comum, que é o fato de suas
raízes conterem propriedades eméticas.
Retornando ao ano de 1942, observa-se que a ipecacuanha aparece
mencionada como uma “planta e raiz medicinal, da família das rubiáceas, também
chamada poaia (Cephaelis ipecacuanha, Rich.) 2. Nome de várias plantas da
América do Sul, cujas raízes apresentam propriedades eméticas.” 8 Para o termo
poaia este mesmo dicionário apresenta a seguinte denominação: “Nome de várias
plantas eméticas e rubiáceas do Brasil”.9 Estas definições elaboradas na década de
1940 também apresentam-se coerentes com as demais, inclusive com a definições
apresentadas pelo Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da Lingua
Portugueza, publicado em 1912. Segue-se a definição: “Ipecacuanha (...) nome de
6
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Ipecacuanha. In: ______. Dicionário Houaiss da
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 1647.
7
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Poaia. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa... p. 2243.
8
FREIRE, Laudelino (org.). Ipecacuanha. ______. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: A Noite Editora, 1942. Vol. III, p. 3026.
9
FREIRE, Laudelino (org.). Poaia. ______. Grande e Novíssimo Dicionário da Língua
Portuguesa... Vol. IV, p. 4019.
14
varias plantas medicinaes, umas violáceas e outras rubiáceas”10; “Poaia (...) nome
comum a várias plantas eméticas e rubiáceas do Brasil”.11
Em 1890, foi publicado o Diccionario de Medicina Popular, obra que reunia
conhecimentos sobre doenças e seus tratamentos. Nesta obra consta a poaia ou
ipecacuanha:
IPECACUANHA ou Poaya: [...] A raiz de poaya administra-se
principalmente em pó, para provocar os vômitos, na dose diária de
75 a 150 centigrammas para os adultos, de 30 a 50 centigrammas
para as crianças, em uma pouca d’agua morna. Dá-se também em
infusão, que se prepara com 8 grammas de poaya e um copo d’agua
quente. Esta raiz entra em muitas preparações; as principaes são: o
xarope de ipecacuanha, que se administra principalmente nas
bronchites das crianças, na dose de uma a duas colheres de sopa, e
as pastilhas, de que se tomam duas a quatro por dia como
expectorantes.12
Neste
dicionário
percebe-se
a
aplicação
farmacológica
da
poaia,
especialmente como vomitório e como expectorante. Entretanto, estas não eram as
únicas possibilidades de uso da poaia, sendo usada também para combater a
diarréia. Atualmente sabe-se que estas propriedades decorrem da ação da “...
emetina e a cefalina que conferem à planta um poder emético e amebicida...”. 13
Outro aspecto a ser notado é que a poaia aparece como sinônimo de ipecacuanha,
o que tem sido constatado também na documentação consultada. Entretanto,
Brandão afirma que a poaia é denominada Hybanthus poaya (A.St.–Hil.) Taub., cujo
sinônimo é Ionidium poaia A.St.–Hil. Exemplar da família Violaceae, sendo que
ainda não existem estudos sobre essa espécie, em relação a qual a autora
menciona o seguinte relato de Auguste Saint-Hilaire:
Os habitantes da região onde cresce a planta que acabo de
descrever a usam com sucesso como substituta de Cephaelis, que
não se encontra na terra deles. Ora eles empregam a raiz de
10
BASTOS, J. T. da Silva. Ipecacuanha. In:______. Diccionario Etymologico, Prosodico,
Orthographico da Lingua Portugueza. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira Editora, 1912. p. 691.
11
BASTOS, J. T. da Silva. Poaia. In: ______. Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico
da Lingua Portugueza... p. 945.
12
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Ipecacuanha ou poaya. In: ______. Dicionário de Medicina
Popular. Paris: A. Roger & F. CHERNOVIZ Editora, 1890. Disponível em <
http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vplChave=ipecacu
anha > Acesso em 27/04/2008. p. 244-5.
13
LAMEIRA, Osmar Alves. Cultivo da Ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Bot.) Stokes). Circular
Técnica 28 (online). Belém, Pará: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Embrapa
Amazônia
Oriental,
Set.
de
2002.
p.
1.
Disponível
em
<
http://www.cpatu.embrapa.br/online/circular/Cir.tec.28.pdf>, acesso em 12/06/2008.
15
Ionidium poaya sem misturá-la, e ora misturam-na ao tártaro de
potássio e de antimônia, como se faz em outros lugares com a
ipecacuanha verdadeira. Mas não é só como emético que
administram Ionidium poaya: em outras doses ela se torna um
evacuante, e 12 vinténs, ou 0,000340 kg de sua raiz purgam um
adulto. Essa planta confirma as propriedades eméticas que foram
reconhecidas nas Violáceas, e tende-se a acreditar que, fazendo
algumas experiências, encontraremos essas propriedades num grau
mais ou menos eminente nas inúmeras espécies dessa família
encontradas em diferentes partes do Brasil.14
No Diccionario da língua portugueza, que veio a público no ano de 1813, a
ipecacuanha é conceituada da forma a seguir: “Ipecacuànha (...) Planta, é raiz
Americana, medicinal: raiz de ipecacuanha emética, diversa da cathartica, uma é
preta, outra branca”.15
Para terminar esta incursão pelos dicionários, será apresentada a seguir um
excerto do dicionário Bluteau, de 1728:
IPECACUANHA. Celebre planta da America, & hoje muy
conhecida na Europa, pella sua notável efficacia contra as
dysenterias & affectos do citomago. Tem raiz delgada, torcida,
fibrosa, com muytos nós, de côr fusca, de sabor acre, & amargoso.
Lança hum talo redondinho, & cinzento, parte do qual se levanta com
sette, ou outo folhas em cima, & outra se abaixa, & rastejando cria
outras raízes. [...] He esta erva amiga dos lugares silvestres,
humidos, & sombrios, & transplantada em hortas, ou campos
cultivados, não medra [cresce]. [...] Ainda que a Ipecacuanha seja
hum dos mais soberanos remédios para camaras de sangue
[evacuação intestinal com sangue], não he certo; quando despois de
o ter tomado em pó três vezes, o doente não se acha aliviado, he
necessário deixá-lo e apelar para outro. Sinal, de que há de obrar
[defecar] bem, he o vomito; em alguns doentes, ainda que não
vomitem, produz o seu effeito, purgando-os primeiro por baixo. A
Ipecacuanha he purgativa & astringente, Purgativa, pella sua parte
mais dissolúvel; & assi purga com vômitos, & camaras; astringente,
pella sua parte terrestre; & assi aperta, & fortalece todas as fibras
das entranhas16
14
Auguste de Saint – Hilaire (Plantas Usuais dos Brasileiros, 1824) citado por BRANDÃO, Maria das
Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos naturalistas. Belo Horizonte: Código
Comunicação, 2010. p. 98.
15
SILVA, Antonio de Moraes. Ipecacuanha. In: ______. Diccionario da língua portugueza –
recopilado dos vocabulários impressos ate agora, e nesta segunda edição novamente emendado e
muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva. Lisboa: Typographia Lacerdina, 1813. Vol. II, p.
180. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asP >. Acesso em: 13 de março 2010.
16
BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______l. Vocabulario portuguez & latino: aulico, anatomico,
architectonico ... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8 v. p. 526.
Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > acesso em 26/06/2009.
16
É pertinente considerar que os três últimos dicionários consultados não
apresentam o termo poaia, apenas ipecacuanha. Entretanto, considera-se neste
texto que os termos poaia e ipecacuanha, freqüentemente empregados como
sinônimos estão relacionados predominantemente a planta Cephaelis ipecacuanha,
cujos efeitos resultantes da ingestão do preparado com suas raízes apresentava as
propriedades terapêuticas derivadas da ação da cefalina e da emetina no
organismo. Todavia, não é ignorada a possibilidade do emprego de poaias falsas e
tampouco a substituição por outras plantas capazes de produzir efeitos similares ao
da verdadeira ipecacuanha (Cephaelis ipecacuanha).
1.2 – Identidades visuais da poaia
As representações iconográficas da poaia são de extrema importância, pois
remetem não só ao conhecimento acerca da espécie vegetal, mas também as
técnicas utilizadas pelos artistas e estudiosos do passado para desenvolver a
ilustração científica em seus estudos botânicos. Nesta perspectiva encontram-se os
trabalhos de José Joaquim Freire (1760-1847), atualmente disponíveis para consulta
no sítio eletrônico da Biblioteca Nacional Digital. Deste autor constam várias
representações de plantas e dentre elas um desenho destaca-se por guardar
semelhança com a poaia. Entretanto, não se pode fazer uma inferência direta por
algumas razões: a mais obvia delas é que este desenho não vem acompanhado da
denominação poaia ou ipecacuanha, sendo a referência nominal aplicada neste
caso o termo cipó. Outra, não menos importante diz respeito à “fidedignidade” da
representação, quanto ao grau de semelhança entre representação e objeto
representado. A partir de uma observação das imagens obtidas, percebe-se que
variam um pouco entre si, o que naturalmente decorre da habilidade do artista
botânico e da técnica empregada, mas também pode remeter a diferentes plantas de
uma mesma família tomadas sob a mesma sinonímia em virtude de apresentarem
propriedades fitoterápicas semelhantes. Tal fato é comum em relação à poaia ou
17
ipecacuanha, pois este termo era aplicado às plantas que compartilhavam princípios
ativos comuns, mas em diferentes concentrações.
Retomando a denominação cipó, aplicada ao espécime vegetal cuja imagem
será representada a seguir, é necessário detalhar um pouco mais a análise a fim de
observar se consiste de fato em uma representação da ipecacuanha/poaia.
Cronologicamente o desenho data do final do século XVIII, período no qual, a
palavra cipó ainda era usada regularmente como sinônimo para erva medicinal. Tal
assertiva baseia-se no fato de que o dicionário Bluteau já apresenta a seguinte
definição: “Cipô. Planta admirável contra todo o gênero de camaras [diarréia].
Tomada em pô, faz vomitar. A doze he oitava. Vid. Ipecacuanha no 4o tom. Do
Vocabul.”.17 Enquanto esta definição se prende ao uso médico da ipecacuanha
apontando a palavra cipó como outra denominação para a mesma erva, o dicionário
Moraes e Silva amplia esta acepção afirmando que o termo cipó no Brasil significa
“... herva rasteira; ou trepadeira, que tem umas hastesinhas longas, dobradiças, que
servem para atar; ou para usos Medicos.” 18
Observa-se a ampliação do significado e a permanência da referência aos
usos médicos do cipó, ou seja da ipecacuanha, também no início do século XIX por
ocasião da impressão do dicionário Moraes e Silva. Outra fonte a corroborar a
afirmação de que a poaia ou ipecacuanha era denominada cipó, é a publicação da
obra Memoria Sobre a Ipecacuanha Fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas,
escrita por Bernardino Antônio Gomes19, que veio a publico em 1801. O termo cipó
17
BLUTEAU, Raphael. Cipô. In: ______. Vocabulario portuguez & latino... p. 237. Disponível em: <
http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > acesso em 26/06/2009.
18
SILVA, Antônio de Moraes. Cipó. In: ______. Grande Dicionário da Língua Portuguesa. Lisboa:
Typographia Lacerdina, 1813. 2v. Vol. I p. 398.
19
GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das
nossa boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego,
1801. Em B. A. Gomes, 1801 Plantas medicinais do Brasil, São Paulo, Edusp, 1972 (Brasiliensia
Documenta, V), edição fac-simile. A partir da leitura desta fonte é possível apreender com segurança
que o termo cipó era uma sinonímia da ipecacuanha ou poaia empregada na literatura da época.
Considerando que José Joaquim Freire realizou a estampa do cipó no contexto das Viagens
Filosóficas de Alexandre Rodrigues Ferreira, em colaboração com este cientista, é pertinente
considerar que o artista botânico estivesse inteirado dos usos farmacológicos da poaia e da
denominação cipó, que aplicou ao estampar esta erva. Mais detalhes podem ser obtidos na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, coletânea Prospectos de Cidades, Vilas, Povoações, Fortalezas e
Edifícios, Rios e Cachoeiras da Expedição Filosófica do Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá.
Disponível
em
<
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&c
d_verbete=2310&cd_item=1&cd_idioma=28555 > Acesso em 22/06/2011.
18
ao que indica as fontes mencionadas, era tomado no século XVIII como sinônimo de
poaia ou ipecacuanha, e no sec. XIX ainda guardava relação com plantas de uso
médico, como atestam o Dicionario Moraes e Silva, citado anteriormente, e o
Dicionario de Medicina Popular.20
Observa-se a seguir as representações iconográficas da poaia:
Figura 1: Cipó - José Joaquim Freire (1760 - 1847).
Fonte: Acervo Digital da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Em consonância com o exposto anteriormente, Vera Regina Beltrão Marques
também menciona a ipecacuanha em seu livro Natureza em Boiões a partir da
denominação cipó, especificamente a raiz do cipó. Levantada a partir da
20
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. In: ______. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A. Roger
& F. CHERNOVIZ, 1890. p. 596. Este dicionário apresenta vários usos da palavra cipó para se referir
a ervas medicinais.
19
Farmacopéia Lisbonense, de Manoel Joaquim Henriques de Paiva,21 esta
informação corrobora para o esclarecimento acerca da rica sinonímia aplicada a tão
famosa planta medicinal ao longo do tempo. A seguir, outra estampa da
ipecacuanha revela mais detalhes acerca da percepção da forma e de seus usos
medicinais:
Figura 2: Ipecacuanha - Estampa elaborada por MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco.
Fonte: MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. O Feliz Clima do Brasil. Rio de Janeiro: Dantes,
2008. p. 205 e 207
Esta imagem segue acompanhada da seguinte definição:
... caule principal deste arbusto cresce o mais a altura de duas
braças e meia. Os seus ramos ou galhos se dividem para partes opostas,
ou em cruz, e do modo que se vê. A sua folha é em tudo semelhante assim
em cor, como em feitio [...] O seu sabor é amargoso. [...] Suas Virtudes [...]
A sua raiz cozida, e bebida a tintura, serve para fazer expurgar com
22
suavidade a gonorréia curando-a, ou evitando-a ao mesmo tempo.
21
PAIVA, Manoel Joaquim Henriques de. Farmacopéia Lisbonense. Lisboa: Oficina de João
Procópio Correa da Silva, 1802. pp. 3 – 62. Apud. MARQUES, Vera Regina Beltrão. Natureza em
Boiões: Medicinas e boticários no Brasil setecentista. Campinas, São Paulo: Editora da
Unicamp/Centro de Memória – Unicamp, 1999. p. 76.
22
MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. Regras pelas quais se devem estampar as ervas
medicinais e fazer recolher as suas ramas e raízes em tempos próprios, não só do modo que
20
Outras imagem da ipecacuanha foram obtida a partir das obras Plantas
usuais dos brasileiros23, e Flora Brasiliensis24. As imagens reproduzidas abaixo
contribuem para a apreensão visual do objeto, simultaneamente informando sobre
as diferenças de percepção que os artistas botânicos tiveram diante da mesma
espécie vegetal. Sua representação recorrente em obras dos naturalistas do final do
século XVIII e início do XIX indicam que a planta era objeto de estudo em função da
sua aplicação farmacológica, remetendo a investigação a outras instâncias como as
formas de sua aplicação fitoterápica, processo de extração e comercialização.
Seguem as representações sobre a poaia na obra dos naturalistas Auguste de Saint
– Hilaire e Carl Friedrich Philipp von Martius:
apontam os melhores autores, mas segundo as reflexões que tenho feito a este respeito. Série Azul,
Ms. 627 da Biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa (BACL). In: ______. O Feliz Clima do
Brasil. Rio de Janeiro: Dantes, 2008. p. 205 e 207. Agradeço a Poliana Cordeiro de Farias que
gentilmente indicou esta fonte, facultando-me o acesso através do banco de dados de sua pesquisa.
23
Saint – Hilaire, Auguste de. Plantas usuais dos brasileiros. Belo Horizonte: Código Comunicação,
2009. p. 45.
24
Psychotria ipecacuanha Müll.Arg. – Flora Brasiliensis. Vol 6 Part 5 p. 341-342 tab. 52. Disponível
em: <http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer > Acesso em: 22 de dezembro de 2010.
Figura 3: Excerto da obra Plantas usuais
dos Brasileiros. Auguste de Saint – Hilaire.
Fonte: Saint – Hilaire, Auguste de. Plantas
usuais dos brasileiros. Belo Horizonte:
Código Comunicação, 2009. Pag. 45
Figura 4: Ipecacuanha - Estampa extraída
da Flora Brasiliensis. Fonte:
http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer
1.3 – O comércio de poaia na literatura
O comércio da poaia tem aparecido na literatura consultada de forma
marginal, embora recorrente, em trabalhos sobre o leste de Minas Gerais em
diversos períodos. Para efeito deste estudo, considera-se como trabalho pioneiro em
citar a presença da poaia, bem como sua exploração econômica, a obra intitulada
Capítulos de História Colonial.25 Para Capistrano de Abreu, a poaia existente na
Zona da Mata Mineira pode ser considerada como um elemento facilitador da
passagem da região conhecida como alto Rio Doce para a bacia do Rio Pomba em
função do comércio com os indígenas, possibilitando o surgimento de um espaço
25
ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília: Conselho Editorial do
Senado Federal, 1998.
22
econômico da poaia, por meio da qual, se formaram caminhos rumo ao litoral.26 A
partir deste contato inter-étnico, que se desenvolvia ao longo do processo de
interiorização, Capistrano de Abreu evidencia a importância do indígena e do
sertanejo enquanto agentes históricos atuantes na construção do espaço social
brasileiro, considerando que a expansão dos territórios de colonização ocorreu a
partir da subjugação dos indígenas, da extirpação das suas terras e da submissão
dos nativos ao processo de escravização ou, ainda, da eliminação dos indivíduos. 27
Embora enfatize a permanência de métodos portugueses na conquista do interior do
Brasil, Capistrano realiza uma abordagem de valorização da conquista das terras
brasileiras pelos próprios brasileiros.28 Estes, na sua obra, aparecem como mestiços
de índio e português, predominantemente. Dessa forma, o sertanejo mestiço e
corajoso é o sujeito da história do Brasil escrita por Capistrano, que atribui “... ênfase
à documentação escrita e bem criticada e seu estilo é ainda descritivo e narrativo”. 29
Quanto às informações sobre a poaia, Capistrano se vale dos relatos de viagem,
especificamente a Viagem pelo Brasil, de Spix e Martius. 30
A presença da poaia na Zona da Mata Mineira é mencionada, posteriormente,
na obra de Paulo Mercadante intitulada Os sertões do leste: Estudo de uma região:
a mata mineira.31 Neste trabalho, a poaia aparece pontualmente, embora a ela já
seja atribuída uma significativa importância econômica, uma vez que “...
exploradores em busca de ipeca e poaia chegavam a região, atraindo os índios para
o escambo”.32 Este processo de escambo é entendido por Mercadante como de
grande significado para a formação econômica e social da região, embora o autor
não faça uma referência mais aprofundada a respeito do tema. Em uma narrativa
26
ABREU, Capistrano. “O Sertão”. In: ______. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília:
Conselho Editorial do Senado Federal, 1998. p. 155 – 6.
27
REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu: O surgimento de um povo novo: o brasileiro.
a
In: ______. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 5 Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2002. p. 106.
28
REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu... p. 111.
29
REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu... p. 113.
30
SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim Lahmeyer.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1.
31
MERCADANTE, Paulo. Os sertões do leste: Estudo de uma região: a mata mineira. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1973.
32
MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste... p.
43.
23
que exalta a bravura dos forasteiros sobre os perigos da terra, Mercadante situa a
poaia como uma atividade crescente:
Com o avançar sobre charcos e serrarias, enfrentando perigos de
ciladas, os forasteiros afoitavam-se as terras banhadas pelos
afluentes do (Rio) Pomba. O comércio da poaia facilitava a
penetração. Os índios recebiam pelas ervas a aguardente introduzida
em seus aldeamentos. (...) a arrancada dos poaieiros acentua-se ano
a ano. Provocava-se o devassamento e conseqüente povoação, mas
o comércio infrene, desapiedado e brutal levava o selvagem ao
extermínio. 33
O comércio da poaia desenvolveu-se na região estruturado com base no
escambo realizado entre os silvícolas e os colonizadores, ao mesmo tempo em que
se desenvolviam práticas agrícolas que avançavam sobre as matas, alterando,
assim, a conformação da paisagem. De acordo com Mercadante, existia “... poaia
por toda parte, extraída pelos puri, já relacionados aos traficantes, que conduziam a
mercadoria para a praça de Campos”.34 Percebe-se, portanto, que, tanto Capistrano
de Abreu, quanto Paulo Mercadante, consideravam a economia da poaia como uma
atividade expressiva nas Minas Gerais, assumindo papel importante na formação
econômica e social da região e atuando como fator da circulação mercantil.
Contudo,
estes
autores
não
aprofundam
a
investigação
de
tal
prática,
impossibilitando assim uma melhor compreensão do impacto econômico causado
pela extração da ipecacuanha.
Na década de 1990 surge outro trabalho bastante inovador, construído sob a
perspectiva da Historia Ambiental, cujo objeto de estudo, a Floresta Atlântica, incluía
o espaço geográfico sobre o qual se desenvolvia o processo econômico em tela (ou
seja, o leste da capitania\província de Minas Gerais). Trata-se da obra A ferro e
fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira 35, na qual Warren Dean
analisa o processo de apropriação da floresta pelo colonizador e pelos indígenas.
Dentre as atividades de extrativismo vegetal destacadas por este autor, está a
exploração da poaia e das madeiras de lei. O corte e a extração da madeira eram
atividades submetidas ao rigor de uma legislação florestal que se tornou
33
MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste...
Pag. 44
34
MERCADANTE, Paulo. O devassamento da bacia do Paraíba. In: ______. Os sertões do leste...
Pag. 51
35
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo:
Cia das Letras, 1996.
24
particularmente rígida nas últimas décadas do império ultramarino português.
Caracteriza este período de modo geral a decadência da atividade de mineração e
os consequentes problemas financeiros que levaram a elaboração de uma política
de proteção às florestas situadas no litoral e nas proximidades de leitos de rios
navegáveis.36 Estas medidas de controle aplicadas sobre a extração da madeira
traziam consigo um processo de burocratização da atividade extrativa, sendo que o
corte era regulamentado por um corpo de funcionários cujas atribuições específicas
recaiam sobre a viabilização do corte de madeira, de acordo com os interesses
reais.
Retomando a questão da poaia, esta aparece na obra de Warren Dean como
a planta medicinal melhor sucedida no mercado europeu de ervas medicinais.
Quanto à técnica extrativa, Dean afirma que eram arrancadas na época de floração,
pela facilidade de identificação da flor branca no ambiente escuro da mata. 37 Ainda
de acordo com este autor, a exportação chegou a 25 toneladas anuais em 1860,
embora o processo de extração tenha levado ao declínio da atividade na Zona da
Mata Mineira a partir de 1830, deslocando-se para regiões mais centrais do Brasil.38
Uma dimensão dos valores relativos à exportação de poaia pela Província de Minas
Gerais pode ser observada na tabela a seguir:
“Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas gerais para as
39
províncias limítrofes...” – Valores de referência para a Poaia.
Localidade/Ano
Arrobas = Arr
s
Preço
por
Total dos gêneros de cada artigo para
Arroba
todos os registros
24.000 $
10: 068 $ 000
Matias Barbosa
89
Mar de Espanha
240 1/2
[89@ + 240,5@ + 90@ = 419,5@]
Barra do Pomba
90
[419,5@ x 24000$ = 10 068 $ 000]
Quantidade
total
para
419 1/2
1828
Tabela 1: Poaia exportada em 1828. Fonte: APM - SC - PP 1/6 Cx. 01; Doc. 18; 1829/10/29.
36
CABRAL, Diogo de Carvalho. Substantivismo econômico e história florestal da América portuguesa.
In: Vária Historia, Belo Horizonte, vol. 24, n. 39, pag. 113 – 133, jan/jun 2008. p. 129
37
DEAN, Warren. “A ciência descobre a floresta”. In: ______. A ferro e fogo: a história e a
devastação da mata atlântica brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996. p. 147.
38
DEAN, Warren. “A floresta sob o governo brasileiro”. In:______. A ferro e fogo... p. 177.
39
o
Arquivo Público Mineiro: Seção Provincial – Presidência da Província 1/6 Cx. 01; Doc. N 18:
1829/10/29 = “Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas
gerais para as províncias limítrofes...”
25
A presença da poaia enquanto elemento em torno do qual se organizou um
processo econômico aparece também na obra Sertão do Rio Doce, de autoria de
Haruf Salmén Espíndola, para quem o processo de navegação do Rio Doce “...
criava oportunidades para o comércio do fumo e, sobretudo, para a extração da
ipecacuanha”.40
A ampla análise documental empreendida por Espíndola, bem como um
recorte espacial que inclui a Zona da Mata Mineira Central, possibilitou ao autor
perceber a relevância da extração da poaia a partir da sua recorrência na ampla
documentação
consultada,
dentre
a
qual,
está
situado
o
conjunto
de
correspondências do diretor dos aldeamentos organizados nas proximidades dos
rios Pomba e Doce.
Ao propor uma análise baseada em vasta documentação primária dos
processos sociais e econômicos decorridos no entorno do Rio Doce, compreendido
como “... território, paisagem, lugar, representação...”41, bem como na abrangência
das divisões militares que atuaram na região, Haruf Salmen Espíndola identificou a
comercialização da poaia enquanto um processo econômico típico da região, pois
repetidamente citado nas correspondências oficiais emitidas e recebidas pelo diretor
de índios Guido Thomaz Marliére. Este, através da formação dos aldeamentos,
contribuiu para dinamizar a economia mineira de produtos do extrativismo vegetal,
como a planta medicinal em questão, “...uma vez que a formação de vários
aldeamentos liberou o território para a entrada de sesmeiros e posseiros e
disponibilizou, para os negociantes de poaia, a mão de obra indígena para o
trabalho de coleta”.42 A partir da leitura deste texto é possível perceber que a
organização da prática extrativista estava, portanto, relacionada com o processo de
formação das propriedades agrícolas a partir da doação das sesmarias e da
chegada de novos colonizadores para a região, desencadeando, assim, relações de
conflito. Estes estavam estreitamente ligados com a delimitação de novas fronteiras,
cujas percepções eram derivadas das próprias concepções de vida e existência,
diferenciando como os atores sociais em interação percebiam as novas delimitações
de fronteiras, bem como a constituição de um espaço econômico. Esta última
40
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005. p. 23.
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 26.
42
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 287.
41
26
categoria, pensada como um elemento dinâmico e mutável, permite identificar a
sobreposição desigual das fronteiras naturais, geográficas e políticas. Este processo
se torna nítido a partir do avanço da concessão de sesmarias sobre as terras
indígenas, gerando conflitos entre os nativos e colonizadores.
Contudo, ao mencionar que a economia mineira antes da chegada do café
baseava-se na produção de gêneros de subsistência e também na extração da
poaia, o autor sugere a importância econômica desta prática:
Antes do café os fazendeiros além de cultivarem o algodão e
gêneros de subsistência, também se dedicaram ao comércio de
poaia. (...) A poaia foi a principal fonte de enriquecimento. Os índios
extraiam a planta e trocavam-na por pano, ferramentas e aguardente.
A arroba de poaia era vendida aos negociantes por cerca de nove mil
réis e destinava-se aos mercados da França e Inglaterra43.
O autor de Sertão do Rio Doce considera que o processo de colonização
estabelecido no espaço geográfico ocupado pelo território do Rio Doce ocorreu a
partir do interesse econômico na região. Tal afirmação é sustentada pela criteriosa
análise de vasto corpus documental, passível de quantificação, no qual são
identificados, além dos elementos de natureza econômica “... ações de natureza
política e social, tais como ocupar o território, contatar e atrair os povos nativos e
promover o povoamento”.44 Para este autor, o processo de povoamento da região
pretendido a partir da instalação das divisões militares ao longo do Rio Doce para
possibilitar o povoamento e a navegação do mesmo rio não se efetivou, mas
permitiu o desenvolvimento de uma prática econômica intensa por meio da
negociação da poaia:
O principal fator de devassamento da região foi a extração da
ipecacuanha (poaia), que envolveu negociantes, intermediários,
agenciadores, militares, coletores luso-brasileiros e índios. O controle
do território pelas forças divisionárias abriu a região para negociantes
de poaia, fazendeiros e garimpeiros penetrarem, porem a fixação da
população foi lenta e ficou restrita a parte do Alto Rio Doce e dos
seus afluentes mais importantes sendo resultado da dispersão
demográfica espontânea provocada pelo declínio da antiga região
mineradora.45
43
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 296.
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 412.
45
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce... p. 414.
44
27
Uma dimensão quantitativa do processo econômico em tela pode ser
evidenciada a partir de um estudo monográfico realizado por Adriano Toledo Paiva,
no qual são apresentados alguns valores relacionados às quantidades de poaia
exportada. Seguem os valores apresentados:
Exportação de remessas de poaia (ipecacuanha)
Origem
Destino
Bacia do Rio Pomba
Campos
Data
o
46
Quantidade
dos
3 Trimestre de 1815
12 quintais
dos
Fim do ano de 1827
22 arrobas
dos
1 Trimestre de 1828
dos
3 Trimestre de 1828
dos
Goytacazes
Campos
Goytacazes
Campos
o
32 arrobas
o
15 arrobas
4 Trimestre de 1828
o
10 arrobas
1832
04 arrobas
Goytacazes
Campos
Goytacazes
Campos
Goytacazes
São Fidelis
Tabela 2: Exportação de poaia pela bacia do Rio Pomba, conforme Adriano Toledo Paiva.
Fonte: PAIVA, Adriano Toledo. “Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”: Entrantes e
Indígenas nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do Bacharelado em Historia.
Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. (p. 52-68).
Os números citados acima se referem à região correspondente a bacia do Rio
Pomba, especificamente por meio da rota comercial que esta região mantinha com
os Campos dos Goytacazes no Rio de Janeiro e implicava a exportação da
ipecacuanha e de produtos agrícolas destinados a praças comerciais fora dos limites
da província das Minas Gerais. Expressiva, a extração da poaia consistiu, também
para este autor, em atividade de impacto econômico e social sobre os agrupamentos
indígenas, pois a prática do escambo/comércio envolvendo a poaia e a cachaça
desempenhou um papel de desagregador social junto aos indígenas. Adriano Toledo
Paiva também chama a atenção para o aspecto econômico do extrativismo da poaia
devido a sua alta lucratividade, reforçando a necessidade de um estudo capaz de
analisar o espaço econômico circunscrito no entorno desta prática. Outro aspecto
46
PAIVA, Adriano Toledo. “O Pernicioso comércio”: Aguardente e Drogas do sertão na fronteira
colonial. In: ______. “Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”: Entrantes e Indígenas
nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do Bacharelado em Historia. Universidade
Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. p. 52-68. p. 57.
28
levantado por este autor refere-se à dependência social advinda do uso de
aguardente pelos índios coletores de poaia, os quais a obtinham a partir das
relações baseadas no escambo que mantinham com os brancos poalheiros, que
ofereciam aos índios a cachaça e objetos manufaturados como moeda de troca pela
poaia. Este processo revela ainda outra dimensão da economia da poaia que se
desenvolvia a partir da interação entre os agentes sociais, cujos interesses eram
atendidos, sejam o acúmulo de objetos e a obtenção de cachaça por parte dos
nativos, ou a coleta das ervas medicinais, no caso a poaia. Observa-se ainda que a
comercialização da poaia também foi abordada por José Otavio Aguiar, sob a
perspectiva da resistência cultural, visto que a colheita da erva, essencialmente
itinerante, constituía para este autor “... estratégia de luta cultural, como a prática
religiosa disfarçada e a manutenção do nomadismo via extração e comércio de
poaia”.47
Metodologicamente,
os
textos
aqui
apresentados,
embora
ocupando
diferentes posições em uma análise diacrônica, caracterizam-se por versarem sobre
a região em estudo e, quando não especificamente, o fazem sobre um recorte amplo
que implica o recorte espacial deste estudo como elemento constituinte. A presença
da utilização dos relatos de viajantes como fontes também marcam os trabalhos de
Mercadante e Capistrano de Abreu, evidenciando a importância de tais narrativas
como fontes para o estudo em questão. Em relação ao objeto de estudo, percebe-se
que o tema “economia da poaia” aparece marginalmente sem, contudo, ter sua
importância negada, o que indica a necessidade de uma investigação que se volte
para tal processo e abarque os principais elementos envolvidos. Os trabalhos de
Paiva, Espíndola e Aguiar incluem como parte do corpus documental as
correspondências oficiais emitidas por Guido Thomaz Marliere, responsável pelo
processo de aldeamento dos indígenas na região do Rio Pomba a partir de 1813 e
também por destacamentos militares situados ao longo do Rio Doce, atividade que
durou até o ano de 1829.48 Considera-se, portanto, que os autores mencionados, ao
tangenciar o tema proposto em suas análises identificando a sua importância
47
AGUIAR, José Otávio. Memórias e Histórias de Guido Thomaz Marliere (1808 – 1836) – A
transferência da Corte Portuguesa e a tortuosa trajetória de um Revolucionário Francês no Brasil.
Campina Grande: EDUFCG, 2008. p. 66.
48
______. Legislação indigenista e os ecos autoritários da “Marselhesa”: Guido Thomaz Marliére e a
colonização dos sertões do Rio Doce. In: Projeto História, São Paulo, n.33, p. 83-96, dez. 2006.
29
econômica nas minas oitocentistas, sugerem a necessidade de um estudo
aprofundado que possa investigar historicamente tal processo, integrando-o a
dinâmica econômica da capitania/província de Minas Gerais na primeira metade do
século XIX. Tais aspectos reforçam a pertinência da pesquisa proposta,
endossando, ainda, as suas contribuições para o conhecimento da diversidade e da
dinâmica interna da economia mineira. Em tempo, é relevante citar a historiadora
Maria Hilda Baqueiro Paraíso, que, ao delinear a trajetória histórica dos índios
botocudos menciona a sua relação com a poaia:
A partir de 1830 intensificou-se o uso do trabalho dos
botocudos na extração da poaia, na agricultura, na construção de
estradas, nos serviços militares e domésticos, principalmente após a
demissão de Marliere pelo governador José de Souza Guimarães –
que não concordava com a administração do diretor dos índios no
tocante as tentativas de preservação das terras dos aldeamentos e
de limitar os casos de escravização.49
Entretanto, as referências pontuais – embora sem negar a sua importância –
ao extrativismo da poaia, observadas nas obras anteriormente mencionadas,
apontam uma atenção dedicada ao comercio da poaia, conforme é possível
constatar a partir da leitura de trabalho recente. Este consiste em tese de
doutoramento defendida na Universidade Federal Fluminense, intitulada Negócios
de Minas: Família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas Minas Gerais — A
Família Ferreira Armonde (1751-1850), por Antônio Henrique Duarte Lacerda.
Este autor inicia seu trabalho pelo delineamento de sua filiação teórica,
afirmando a natureza dialógica entre a História Econômica, a História Social e a
História da Família predominante na construção do texto. Assim, o autor analisa as
redes de relações políticas, sociais e econômicas nas quais a família Ferreira
Armonde figurou como protagonista, entre os anos de 1751 e 1850.50 Neste estudo,
realizado a partir de um procedimento metodológico que se baseia na “microanalise
de contextualização social”51, destaca-se o estudo das relações econômicas
estabelecidas pela família Ferreira Armonde, visto que implicam na comercialização
49
PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA. Manuela
Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de
Cultura: FAPESP, 1992. (p. 413-430). p. 419.
50
Lacerda, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de
sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese
(Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010. p. 32
51
Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 35.
30
da poaia extraída nas Minas Gerais nas praças mercantis do Rio de Janeiro. Nas
palavras do próprio autor:
... tendo como fio condutor a trajetória de Marcelino José
Ferreira Armonde discutimos, de maneira intrínseca, aspectos da
história econômica, da história sócio-política e da história da família
na segunda metade do oitocentos. Partindo de Barbacena para o
Império do Brasil, de Marcelino José Ferreira Armonde e das
pessoas que com ele conviveram para a sociedade oitocentista; em
outras palavras, saímos do geral para o particular e retornamos ao
geral para compreender a multiplicidade social. Cada uma das
sessões deste capítulo centrará o foco em uma das questões
apontadas: economia, vida sócio-política e família.52
A partir da interrogação de inventários, testamentos e principalmente vasta
correspondência comercial componente do arquivo particular dos Ferreira Armonde,
Antônio Henrique Duarte Lacerda reconstitui, a partir de consistente base empírica,
processos comerciais envolvendo a poaia. Para este autor, o comércio da referida
planta estava associado a atividade dos tropeiros que levavam a poaia, juntamente
com outros produtos como o café, para o Rio. Em tópico específico, são
apresentadas informações quantitativas a respeito da poaia, especificamente o seu
dimensionamento com a finalidade de perceber a sua importância na composição da
fortuna da família Ferreira Armonde nos oitocentos. A seguir, observa-se a
reprodução de tabela elaborada por Lacerda:
Poaia exportada de Minas Gerais para o Rio de Janeiro (1827 – 1831)
Data
Quantidade
Valor
25/05/1827
Liquido rendimento de 358 libras de poaias em
304$300
53
setembro de 1826
25/05/1827
68 libras de poaia em rama
210$800
25/05/1827
99 libras de poaia de 3 classe
262$350
25/05/1827
452 libras de poaia em rama
1:310$800
25/05/1827
469 libras de poaia em março de 1827
469$000
28/09/1827
239 libras de poaia em rama – 06 de dezembro
645$300
a
de 1827
a
28/09/1827
99 libras de poaia em ramas de 3 [classe]
262$350
28/09/1827
278 libras de poaia em rama – 06 de dezembro
77$400
de 1827
52
Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 229.
Lacerda, A. H. D. Negócios de Minas... p. 321.
53
31
28/09/1827
68 libras de poaia em rama
210$800
06/12/1827
276 libras de poaia em rama
778$400
06/12/1827
239 libras de poaia fina
645$300
24/11/828
198 [libras] de poaias
613$800
31/12/1828
398 libras de poaia – 14 de abril de 1828
1:154$200
02/06/1830
204 ½ libras de poaia
818$000
12/06/1831
714 libras de poaia
2:856$000
12/06/1831
84 libras da dita mais fina
344$400
17/06/1831
350 libras de poaias
1:452$500
17/06/1831
77 ½ libras dita mais fina
333$250
Total
4.671 libras ou 2.152, 39 quilos
12:748$950
Tabela 3: Reprodução de Dados/Tabela de autoria de A. H. D. Lacerda.
Fonte: Lacerda, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de
sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese
(Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro, 2010.
Entretanto, na sequencia do texto, o autor alerta para o referido fato de que
os valores encontrados não representam a totalidade da produção de poaia da
família por duas razões: a) comerciavam no Rio de Janeiro a poaia extraída por
outros membros de suas relações econômicas que não estavam necessariamente
ligados por laços de parentesco; b) as fontes encontradas podem não abarcar a
totalidade das transações econômicas dos Armonde. É necessário enfatizar que tais
informações são de extrema importância, visto que apontam a expressividade da
participação do comércio de poaia no enriquecimento de seus agentes.
A partir da leitura da tese previamente citada é possível perceber que a
“economia da poaia” ocupou expressivo espaço na economia mineira oitocentista,
conforme indicado na literatura sobre o tema. Contudo, o texto de Lacerda constitui
um avanço significativo em relação aos anteriores, uma vez que atribui mais atenção
ao tema dimensionando a sua relevância para o caso estudado. Estas
considerações indicam que a execução da pesquisa em andamento está coerente
com o debate teórico acerca da diversidade econômica mineira nos oitocentos, e
apresenta potencial significativo para a constituição de uma pesquisa empiricamente
sustentada, compondo as informações sobre a relevância econômica da poaia,
atestada por diversos autores.
32
1.4 – Fontes e metodologia
A construção de uma pesquisa histórica pressupõe a existência de um acervo
documental sobre o qual se ampara a reconstituição dos processos históricos. Esta
afirmação, embora um tanto óbvia, remete a um ponto importante para a elaboração
de um texto histórico, a saber: a análise do conjunto de fontes sob investigação, que
no estudo em curso apresenta-se particularmente fragmentada. A fragmentação do
acervo implica na superação de um desafio metodológico de análise, pois as fontes
aqui utilizadas não constituem “... verdadeiras séries documentais, indispensáveis a
quantos pretendem estudar estruturas e conjunturas econômicas...”.54 Por outro
lado, é conveniente lembrar que a própria natureza do objeto de estudo implica
nesta fragmentação das fontes, visto que pode ser apreendido em múltiplos
aspectos. Assim sendo, as fontes foram reunidas em grupos temáticos: 1) fontes
constituídas por literatura médica e/ou farmacêutica, que informam sobre os usos
medicinais da poaia; 2) documentos que apresentam dados que possibilitam
inferências acerca de processos de natureza socioeconômica; 3) dicionários de
botânica e língua portuguesa, situados em diferentes períodos de tempo, que
mostram a transformações e permanências do significado dos termos
poaia e
ipecacuanha, as duas referências nominais mais recorrentes nas fontes. Quanto à
tipologia documental, podem-se mencionar correspondências, livros, dicionários,
tratados de medicina, relatórios e artigos científicos, que abarcam vasto recorte
temporal, indicando a permanência por longo período da prática de extração e
comercialização da ipecacuanha. As condições de acesso a estes vestígios são
facilitadas pelo processo de digitalização a que foram submetidos, permitindo a sua
consulta por meio de sítios eletrônicos mantidos por entidades custodiadoras de
acervos documentais como a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, a Biblioteca
Nacional de Portugal, o Arquivo Publico Mineiro e o Projeto Resgate Barão do Rio
Branco, por meio do qual se encontram disponíveis para consultas documentos
constituintes do Arquivo Histórico Ultramarino.
54
CARRARA, Ângelo Alves. Fiscalidade e estruturas agrárias: Ilhéus, Porto Seguro e Espírito Santo,
Séculos XVII – XVIII. In: CARRARA, Ângelo Alves; DIAS, Marcelo Henrique (Orgs). Um lugar na
História: a capitania e comarca de Ilhéus antes do cacau. Ilhéus: Editus, 2007. p. 16.
33
Para o procedimento de quantificação da poaia exportada em comparação
com outros produtos agrícolas foram consultados os livros de registro da Barra do
Pomba, que apresentam a relação dos produtos que entrava e saiam das Minas
Gerais. Nesta pesquisa foram priorizados somente os livros de registro de saída de
produtos pela razão obvia de que a poaia era exportada. Tais livros informam a
natureza dos produtos exportados, sua origem, destino, e quantidade. Estes dados
sustentam uma análise comparativa por quantificação dos produtos, bem como
informam acerca das atividades agrícolas diversificadas, com destaque para a
agropecuária, cultivo de algodão e a existência de manufaturas, uma vez que o
algodão grosso tecido aparece nos registros de exportação com assiduidade. As
transcrições destas fontes encontram-se em anexo para informações mais
detalhadas sobre o teor dos registros. As citações de trechos de fontes ao longo
desta dissertação foram realizadas levando em conta a atualização ortográfica, por
entendimento que a mesma facilita a leitura e compreensão textual por leitores que
apresentam pouca familiaridade com a grafia arcaica do português. Entretanto,
algumas palavras ou citações inteiras foram transcritas conforme a grafia original por
entendimento que nestes casos particulares a atualização gramatical poderia
comprometer o teor informativo da fonte.
1.5
–
Delimitando
recortes:
tempo
e
lugar
de
ocorrência
da
comercialização da poaia
A pesquisa em curso delimita-se temporalmente na primeira metade do
século XIX. Este marco cronológico foi estabelecido a partir da publicação da obra
Memoria sobre a ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas, de
Bernardino Antonio Gomes, no ano de 1801. A importância desta memória e sua
escolha como marco delimitador das balizas temporais decorrem dos elementos
apresentados pelo autor que apontam a passagem de uma economia extrativa
para a agricultura. Ao discorrer sobre a importância médica da planta e seu uso já
bastante disseminado na Europa Bernardino Antonio Gomes realiza também um
34
estudo sobre as formas de cultivo, épocas de colheita, suas virtudes medicinais,
processo de beneficiamento e descrição botânica.
As datas limite situam-se no ano de 1832, uma vez que esta data refere-se ao
último registro de exportação encontrado nos livros relativos ao registro da Barra do
Pomba, e no ano de 1847, data da produção da “Carta topographica dos seus
(Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João Nepomuceno cum noticias do
Paiz que delles segue até o mar pela costa oriental”. Tal representação cartográfica
é de extrema importância, pois constitui fonte privilegiada para informar sobre o
processo de ocupação territorial da região em estudo. A partir do ano de 1830 ocorre
redução na quantidade de poaia exportada, o que pode indicar que o processo
extrativo levou a redução da ocorrência da planta na região. Estes dados
corroboram a pesquisa realizada por Warren Dean, que apontam para a rarefação
da ocorrência da espécie vegetal no leste de Minas Gerais e o deslocamento do
processo extrativo para o interior do Brasil, com destaque para a região que
atualmente corresponde ao estado do Mato Grosso.55 Embora a delimitação precisa
dos recortes cronológicos, encontram-se nesta dissertação, algumas referências,
citações e indicações de fontes relativas a períodos anteriores e posteriores ao
recorte estabelecido. Estas ampliações no recorte temporal estão presentes apenas
para demonstrar que a extração da poaia consistiu em importante processo
socioeconômico cuja delimitação está além do tempo e do espaço aqui apresentado.
Referências a outros recortes espaciais e temporais visam apenas a chamar a
atenção do leitor para a riqueza do tema e amplidão do processo, bem como para o
uso medicinal que alcançou o presente, sendo possível comprar em farmácias de
homeopatia medicamentos a base de ipeca.
Estabelecidos os limites temporais, é necessário situar espacialmente a
pesquisa, e para tanto, far-se-á uso de um recurso cartográfico, especificamente
uma carta topográfica elaborada no século XIX, na qual constam elementos de
55
OLIVEIRA, C. E. . Rio Sepotuba: ambiente de poaia e de terra fértil. Territórios e Fronteiras,
Cuiabá, v. 4, p. 73-98, 2003; OLIVEIRA, C. E. . Espaço de poaia, território Umutina e as "Casas de
Rondon". In: I Simpósio Nacional de História, 2010, Cuiabá. História, Natureza e Fronteiras.
Cuiabá: EdUFMT, 2010; MARTINS, Ernane Ronie ; OLIVEIRA, Luiz Orlando de; MAIA, J.T.L.S ;
VIEIRA, I.J.C . Estudo ecogeográfico da poaia [Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes]. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais, v. 11, p. 24-32, 2009; AZEM, MARINA. Viagem filosófica às
doenças e curas em Mato Grosso no século XVIII: os relatos do naturalista Alexandre Rodrigues
Ferreira. 2006. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal de Mato Grosso.
2006.
35
extrema importância para a pesquisa em curso: além da representação dos
elementos geográficos, típicos de um mapa, a carta trás os nomes dos fazendeiros
que possuíam terras na região, com a indicação da localização da propriedade. A
importância deste dado é perceptível ao cruzarmos os nomes dos fazendeiros
descritos no mapa com os nomes dos tropeiros encontrados na relação de
comerciantes e produtos exportados da província de minas para as de beira mar a
partir do Registro da Barra do Pomba. Embora não haja uma correspondência total,
é possível encontrar alguns nomes presentes nas duas fontes de informação, o que
indica que alguns tropeiros que passavam pelo registro eram proprietários de
fazendas e, por meio da atividade de comerciantes, mantinham contato com a corte.
Esta assertiva está em sintonia com o proposto por Alcir Lenharo em As Topas da
Moderação.56 De acordo com este autor, por meio da atividade de tropas, Minas
abastecia o Rio de Janeiro de algodão tecido, carne, couros, tabaco e animais:
... vale dizer que o Rio de Janeiro é o grande pólo que atrai a
massa da produção mineira (...) São Paulo dificilmente se tornaria
depositário da produção mineira. Além de possuir limitados
agrupamentos, a economia agropastoril paulista também procurava
dispor de seus excedentes buscando alternativas de mercado.57
Percebe-se, portanto que Minas consistia em um complexo agrícola58 no qual
era extraída a poaia, além dos produtos acima mencionados, derivados da prática
agropecuária e manufatureira. Observa-se a seguir, a reprodução da carta
topográfica59:
56
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação: O abastecimento da Corte na formação política do
a
Brasil: 1808 – 1842. 2 Edição. Rio de Janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes,
Departamento Geral de Documentação e Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1993.
57
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação... p. 67
58
MARTINS, Roberto. Apud. ANDRADE, Francisco Eduardo de. Entre a Roça e o Engenho: roceiros
e fazendeiros em Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Viçosa, Minas Gerais: editora UFV,
2008. p. 12-13
59
TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do
Eco de Minas, 1847. A data proposta é, portanto, 1847. No mapa São João Batista do Presídio consta
como vila. De fato, o Presídio tornou-se vila em 1839, mas a sede mudou-se para Ubá (que no mapa
aparece como uma localidade apenas) em 1853. Logo, o mapa corresponde à data do
relatório. Agradeço ao professor Angelo Alves Carrara a indicação desta referência. Tal mapa foi
obtido junto ao Arquivo Nacional, instituição na qual encontra-se depositado, sob a referência:
Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04.
36
Figura 5: “Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João
Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue ate o mar pela costa oriental”.
Fonte: Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04. TEODORO, João José da
Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847.
A análise desta carta parte do princípio de que um mapa pode ser definido
como uma representação do espaço que só pode ser compreendida dentro de sua
linguagem simbólica: “Todo mapa é um conjunto de signos, símbolos, que só podem
ser compreendidos a partir dos elementos da própria cultura na qual ele foi
formulado”60. Neste caso entende-se o mapa como um planisfério gráfico, no qual as
representações dos elementos geográficos se aproximam da realidade, estando
ausentes símbolos e imagens que remetem ao mundo fantástico. Percebe-se a
presença de rios, caminhos, cidades, fazendas e outras referências que indicam
claramente o processo de ocupação pelo qual a região passava: “Assim, os espaços
interiores das cartas vão sendo preenchidos por rios, montanhas, acidentes naturais
60
COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das Minas. Belo
Horizonte: Editora da UFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004. p. 13.
37
do terreno, bem como por arraiais, vilas, caminhos, e roças, estes, frutos da
ocupação humana que ia se estendendo”.61
Na carta em análise são concebidos de forma bastante clara os rios,
representando vias de acesso ao interior, juntamente com as indicações dos
caminhos. A presença humana, indicada por meio da referência nominal aos
proprietários das fazendas, atua como elemento de clara identificação da ocupação
humana da região, evidenciando que houve um processo de ocupação e
necessariamente a configuração de um território. São encontrados também símbolos
que indicam a presença de núcleos urbanos e a delimitação das freguesias
(referência eclesiástica para indicar o conjunto dos membros de uma paróquia, ou
seja, uma povoação).
A importância da utilização deste mapa consiste em que as fazendas que
estão indicadas pelo nome de seus proprietários constituem um valioso conjunto de
informações para comparação com os dados presentes nos livros de anotação do
Registro da Barra do Pomba. Ao cruzar os nomes dos tropeiros elencados no
registro com os nomes dos fazendeiros presentes no mapa é possível identificar
coincidências, o que indica que alguns fazendeiros atuavam como tropeiros
vendendo junto à corte os seus produtos. Dessa forma é possível compor as
informações referentes à dinâmica econômica nas minas oitocentistas e buscar
melhor delineamento da economia extrativa da poaia.
61
COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das Minas... p. 15.
38
2 – Os usos médicos da poaia
Neste capítulo são apresentados os usos e aplicações da poaia na medicina,
fator responsável por torná-la uma célebre planta desde que seu uso foi
disseminado no mundo europeu a partir do Império Português. Faz-se necessário,
entretanto, esclarecer que para efeitos desta pesquisa o termo medicina, em
especial quando se trata da aplicação de plantas visando obtenção de curas a partir
de suas qualidades fitoterápicas, é empregado para se referir à arte de curar
difundida na colônia, visto que a medicina enquanto ciência constitui-se no Brasil a
partir da primeira metade do século XIX.62 A “arte de curar” no Brasil colonial
conformou-se a partir do intercambio cultural:
... o florescimento das demais artes da cura esteve
intrinsecamente ligado as diferentes raízes culturais das populações
aqui residentes. (...) As tradições culturais refletidas na arte de curar
dos negros e indígenas abriam espaço para que se disseminassem
seus próprios curadores e suas terapêuticas.63
Neste sentido, esta perspectiva para a qual os medicamentos utilizados na
colônia teriam sido descobertos e apropriados em decorrência do contato entre os
grupos étnicos componentes do Brasil Colonial é pertinente para orientar o estudo
em curso visto que a comercialização da poaia era uma atividade que implicava a
participação de diversos agentes sociais entre indígenas e colonizadores, como
veremos com mais detalhes adiante. Outro aspecto relevante é que possui grande
importância a dinâmica da comercialização da ipecacuanha que levava a planta do
Brasil para a Europa, sugerindo uma análise que esteja focada no produto
comercializado, percebendo as cadeias formadas pelo processo de compra e venda
das raízes eméticas para além das fronteiras políticas do Império Português.
Buscando estabelecer um marco temporal, adota-se como referência para o
inicio da utilização da poaia os anos de 1649 e 1672:
The first account we have of ipecacuan is that published by
Piso, in 1649; but it did not come into general use till thirty years
afterwards, when Helvetius, under the patronage of Louis XIV
employed it at the Hotel de Dieu, and introduced this root into
62
MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 27.
MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 28.
63
39
common practice; and experience has proved it to be the mildest and
safest emetic with which we are acquainted, having this peculiar
advantage, that if it does not operate by vomit, it readily passes off by
the other emunctories.64
A introdução da poaya na Europa data do anno de1672.
N’esta época um medico francez, chamado Legras, trouxe da
America certa quantidade d’ella, que depositou n’uma botica, onde foi
vendida com o nome de mina de ouro. Mas o medicamento, tendo
sido administrado em casos em que não convinha, perdeu logo sua
reputação. Quatorze anos depois, isto é, em 1686, um negociante
trouxe para Paris 70 kg de poaya. Helvetius, celebre médico, fez
experiências com esta raiz, confirmou sua grande eficácia em muitas
moléstias, e em recompensa dos seus trabalhos recebeu de Luiz XIV
empregos, honras e riquezas. O uso da ipecacuanha espalhou-se
logo por toda a Europa.65
Considerando estas fontes, pode-se inferir que o uso da poaia na Europa
remonta ao século XVII, data que tomaremos aqui como a referência para a
introdução da planta no mundo da medicina ocidental, que passaria então a
desfrutar de grande consideração dos médicos e boticários. Observa-se ainda que
em 1801, Bernardino Antonio Gomes inicia a sua Memória sobre a Ipecacuanha
Fusca do Brasil, ou cipó das nossas boticas afirmando que:
A pesar da raiz da Ipecacuanha ser usada na Europa há perto
de dous séculos, e a pesar de ser contada no cathalogo dos grandes
remédios, de que tem feito aquisição a Medicina, tem sido até agora
desconhecida aos botânicos a verdadeira planta, de que se colhe [a
raiz].66
Esta referência, além de endossar a provável data do século XVII como época
da introdução da poaia no comércio europeu, demonstra ainda que no início do
século XIX ainda não havia um consenso sobre a classificação e descrição botânica
da espécie. Retornando à primeira metade do século XVIII a planta foi mencionada
no Vocabulário Portuguez e Latino, indicando que seu nome já era conhecido dos
portugueses, bem como sua aplicação. Neste dicionário encontra-se um verbete
64
WOODVILLE, William. Medical Botany… 2 ed. London: Printed and Sold by William Phillips,
George Yard Lombard Street. 1810. Vol. I. p. 811.
65
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Ipecacuanha. In: ______. Dicionário de Medicina Popular.
Paris:
A.
Roger
&
F.
CHERNOVIZ,
1890.
p.
244-5.
Disponível
em:
http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vplChave=ipecacu
anha Acesso em: 27/04/2008. p. 245.
66
GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou cipó das nossa
boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e Litteraria do Arco do Cego, 1801.
[GOMES, Bernardino Antonio. Plantas medicinais do Brasil. São Paulo: Edusp, 1972 (Brasiliensia
Documenta, V), edição fac-simile. p. 1].
40
bastante extenso sobre a planta, apresentando informações desde seu aspecto
morfológico, até as condições ambientais requeridas para seu crescimento, assim
como as recomendações para seu uso. Conforme o dicionário Bluteau, a
denominação ipecacuanha utilizada pelos portugueses é de origem indígena,
sugerindo que o uso medicinal da referida planta constitui-se em apropriação do
conhecimento indígena67 no que concerne a utilização de plantas nativas pelos
autóctones. Neste dicionário o autor menciona ainda que tal espécie vegetal
abarcava grande fama na Europa pelas suas propriedades fitoterápicas:
Os portugueses e castelhanos a dão as mulheres e meninos
doentes de disenteria (...) a ipecacuanha seja um dos mais
soberanos remédios para camaras de sangue, não é certo que,
quando depois de o ter tomado em pó três vezes,o doente não se
acha aliviado é necessário deixá-lo... A ipecacuanha é purgativa e
adstrigente, purgativa pela sua parte mais dissolúvel, e ali purga com
vômitos, e camaras, adstringente pela sua parte terrestre, ali opera e
fortalece as fibras das entranhas (...) os portugueses conservam o
nome que o Gentio lhe deu.68
Observa-se que no início dos setecentos a poaia gozava de grande prestígio
na sociedade portuguesa, o que torna pertinente a informação anterior que remete
ao século XVII a sua introdução na Europa. No início do século XVIII, ou seja, antes
do ano de 1712, quando o dicionário Bluteau veio a público, seu uso já era bastante
difundido como vomitório e para o combate da diarréia em sua fase aguda,
denominada “camaras de sangue” no texto setecentista. Neste sentido, afirma
Sergio Buarque de Holanda que a medicina do período colonial consiste em “... uma
arte de curar mais em consonância com nosso ambiente e nossa natureza.” Essa
arte de curar a que se refere Holanda deriva de
... larga e contínua experiência, obtida a custa de um
insistente peregrinar por territórios imensos, na exposição constante
a moléstias raras, a ataques de feras, a vinditas do gentio inimigo,
longe do socorro dos físicos, dos barbeiros sangradores ou das
donas curandeiras, é que permitia ampliar substancialmente e
organizar essa farmacopéia rústica.69
67
BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______. Vocabulario portuguez & latino... p. 196-7.
Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp> acesso em 26/06/2009.
68
BLUTEAU, Raphael. Ipecacuanha. In: ______. Vocabulario Portuguez & Latino... p. 197.
Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp> acesso em 26/06/2009.
69
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Botica da natureza. In: ______. Caminhos e Fronteiras. 3 ed. são
Paulo: Cia das Letras, 1994. p 74-89. p. 76-77.
41
Assim, este autor considera que o contato entre os indígenas e os
colonizadores europeus contribuiu significativamente para uma troca de saberes e
experiências, cuja contribuição foi elementar para a formação da medicina colonial,
ou pelo menos na conformação de algumas práticas relacionadas à saúde.
Adentrando o século XVIII, encontra-se no ano de 1774 uma publicação
sistemática, em formato monográfico, integralmente dedicada a discorrer sobre a
ipecacuanha. Trata-se esta publicação da Dissertatio Botanico-Medica de Viola
Ipecacuanha.70 Esta obra é de grande importância, pois denota que a planta já era
objeto de análise de estudiosos da época.
Observa-se nas fontes que o uso medicinal da poaia intensificou-se no século
XVIII, embora as primeiras experiências farmacêuticas envolvendo o espécime
vegetal em questão tenham ocorrido no século XVII. Neste sentido, as fontes citadas
vão ao encontro das proposições de Márcia Moises Ribeiro. Para esta autora,
“Estando a medicina do século XVIII solidamente ligada a sistemas mágicos e
religiosos, pensei em situar a pesquisa no contexto das Luzes justamente por ser
esta uma época marcada pelo ceticismo e pela crença do infinito poder da ciência”.71
Percebe-se ainda, na obra anteriormente citada, a referência a poaia como um
“contra-veneno”, além da sua conhecida propriedade anti-diarréica:
... a raiz de cipó chamada pacacuanha [sic] ou por outro
nome poalha [sic] nome que lhe deram os gentios Carijós e por eles
descoberta é uma raiz delgadinha e com muitos nós, enoselada e
torta. São estas raízes do único e certo remédio para curar cursos
[diarreias]; ou sejam de sangue ou sem ele... e também é remédio
contra os venenos72
Observa-se que no século XVIII a poaia já se apresentava como objeto de
estudo e aplicação do ponto de vista medicinal e farmacológico. Contudo, a
aplicação medicinal da poaia consistia em uma das últimas etapas de um processo
histórico que extrapolava os limites da colônia desdobrando-se para outros Estados
além do Império Português. Em relação aos sujeitos históricos envolvidos em tal
processo, pode-se inferir que havia a participação de vários agentes históricos,
70
LINN , Carl v.; WICKMAN, Daniel. Dissertatio botanico-medica de Viola ipecacuanha...
Upsaliae: Typis Edmannianis, [1774]. Agradeço a Suely Santana e Maria José, bibliotecárias da
Biblioteca Central da Universidade Estadual de Santa Cruz, a elaboração desta referência.
71
RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII. São
Paulo: Editora Hucitec, 1997. p. 17.
72
FERREIRA, Luis Gomes apud RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 52.
42
tornando a extração, comercialização e aplicação médica da poaia um processo
dinâmico, envolvendo práticas sincréticas e extrapolando os limites políticos do
Império. Neste sentido, afirma Márcio Moises Ribeiro o seguinte:
Sem perder seus alicerces básicos, ao saber médico indígena
acrescentou-se a experiência dos europeus e africanos. Noções e
praticas muito familiares ao silvícola, outras absolutamente alheias,
combinaram-se, dando origem a medicina dos tempos coloniais, que
nada mais é que o conjunto de conhecimentos, hábitos e praticas
nascido a partir do convívio assíduo entre as três culturas. O saber
oriundo do reino português atrelou-se a cultura indígena e africana
ao sabor das circunstancias oferecidas pela terra conquistada,
originando um complexo tipicamente colonial. Ao se considerar a
medicina enquanto amalgama cultural, nada mais revelador que
analisá-la no século XVIII, pois duzentos anos de convivência entre
brancos, negros e índios foram certamente suficientes para que suas
culturas se entrecruzassem e originassem uma formação social
fortemente marcada pela especificidade.73
É importante mencionar ainda que, para esta autora, no Brasil colonial não
existiam fronteiras nítidas entre as práticas médicas científicas e a medicina popular
praticada por empíricos desprovidos de formação acadêmica.74 A aplicação médica
da poaia e sua fama entre os agentes envolvidos na arte de curar constituiu-se em
um contexto no qual, segundo Vera Regina Beltrão Marques, as plantas foram
protagonistas na arte de curar até o século XIX.75 Esta autora menciona a
ipecacuanha e sua aplicação médica, citando uma forma de aplicação a que
denomina vinho de ipecacuanha, tratando-se da sua infusão em vinho. Este preparo
encontra-se na farmacopéia de Jacob de Castro Sarmento.76
No final do século XVIII encontra-se um marco para a utilização das plantas
medicinais para a obtenção de cura na colônia: trata-se da publicação da
Farmacopéia Geral para o Reino e Domínios de Portugal, obra que reunia
orientações sobre a preparação de medicamentos. Escrita para ser um instrumento
de organização das práticas farmacêuticas, esta obra consistia em repositório de
73
RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 23-24.
RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... p. 85.
75
MARQUES, Vera Regina Beltrão. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões... p. 27
76
SARMENTO, Jacob de Castro. Pharmacopoeia contracta. Londini: s. e., 1746; apud MARQUES,
Vera Regina Beltrão. Natureza em Boiões... p. 74.
74
43
receitas e informações sobre a composição de medicamentos, que a partir de então,
contribuiria para a organização das atividades dos boticários.77
No século XIX,
ano de 1810, observa-se menção a poaia na obra
denominada Medical Botany: containing systematic and general descriptions, with
plates of all the medicinal plants, indigenous and exotic, comprehended in the
catalogues of the materia medica, as published by the Royal colleges of physicians
of London and Edinburgh… escrita por William Woodville78. Em tópico especifico
para a poaia, o autor inicia seu texto da seguinte maneira:
After the great diligence of naturalists in exploring every
quarter of the world, to extend the science of botany, it seems
surprising that the plant Ipecacuanha, the roots of which have been in
common use more then a century, should not have yet been
botanically ascertained.79
Apreende-se a partir desse fragmento que a poaia era de uso comum há mais
de um século, o que remonta ao início do XVIII, conforme atesta o Vocabulário
Portuguez e Latino mencionado anteriormente. Na sequência do texto, William
Woodville informa a origem americana da planta apontando três tipos conhecidos: a
poaia cinzenta, originada do Peru, a marrom ou escura e a branca. A este tipo
(branca) o referido autor confere a origem brasileira, além de mencionar que
consistia no exemplar que possuía em “laboratório”, tendo sido esta enviada do
Brasil. Menciona ainda que a variedade cinzenta é a preferida para a aplicação
farmacológica, visto que a marrom é muito forte e a branca fraca.
As indicações clínicas da aplicação da poaia como medicamento incluíam
diversas moléstias, dentre as quais se destacam a diarréia e a asma. Observe-se no
trecho em sequência, no qual são apresentados casos de aplicação clínica da
ipecacuanha:
It was first introduced to us with the character of a almost
infallible remedy, in dysenteries and other inveterate fluxes, as
diarrhea, menorrhagia and leucorrhoea, and also in disorders
proceeding from obstructions of long standing: nor has it lost much of
its reputation by time. The use of Ipecacuan in these fluxes, is
thought to depend upon its restoring perspiration; for in these cases,
especially in dysentery and diarrhea; the skin is dry and tense; and
77
FARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMINIOS DE PORTUGAL. Tomos I e II. Lisboa:
Régia Oficina Tipográfica, 1794 apud MARQUES, Vera Regina Beltrão. Natureza em Boiões... p. 79.
78
WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 810.
79
WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 810.
44
while the common diaphoretics usually pass off by stool, small doses
of this root have been administered with the best effects, proving both
laxative and diaphoretic. In the spasmodic asthma, Dr. Akenside
remarks, that where nothing contraindicates vomiting, he knows no
medicine so effectual as Ipecacuan.80
Além das indicações acima transcritas, podem ser observadas a aplicação da
ipecacuanha para o combate a alguns tipos de hemorragias, para auxiliar na
eliminação de catarro e em alguns tipos de febre. Depreende-se da análise do teor
documental citado que a prática médica envolvendo a aplicação clínica da poaia era
bastante utilizada no início do século XIX, sendo já conhecida e aplicada desde
1649. Considerando que a obra Medical Botany, da qual foram extraídos os trechos
anteriormente citados, foi publicada em Londres, no ano de 1810, é possível
observar que sua utilização era conhecida em grande parte da Europa, visto que
foram encontradas as referências da utilização da planta na França, Inglaterra e
Portugal, além dos Castelhanos, conforme citado no dicionário “Bluteau”. Essa
difusão do uso medicinal de poaia na Europa pressupunha que esta erva provinha
do Brasil, em grande parte pelo menos, visto que são apontadas outras origens para
a poaia, como o Peru. Dessa forma o comércio de poaia no Império Português era
necessariamente vultuoso, visto que abastecia a Europa do medicamento.
Concluindo o tópico sobre a ipecacuanha, Woodville afirma o seguinte:
Ipecacuan, particularly in the state of powder, is now
advantageously employed in almost every disease in which vomiting
is indicated; and when combined with opium, under the form of pulvis
sudorificus, it furnishes us with the most useful and active sweating
medicine which we posses. It is also given with advantage in very
small doses even when it produces no sensible operation. The full
dose of Ipecacuan in substance is a scruple, though less doses will
frequently produce as equal effect. The officinal preparation is vinum
ipecacuanhae.81
A ipecacuanha enquanto medicamento não recebia atenção apenas no
exterior, sendo encontrada em meados do século XIX figurando nas discussões e
pesquisas estabelecidas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. 82 Procedendo
a leitura de duas teses sobre coqueluche e disenteria, foram encontradas algumas
referências ao uso da poaia como medicamento no combate as respectivas
80
WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 812.
WOODVILLE, William. Medical Botany… p. 813.
82
Teses médicas realizadas na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Disponível em <
http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/ > Acesso em: 27 de abril de 2012.
81
45
moléstias. A primeira delas, defendida em 1858, versa sobre a coqueluche e
apresenta uma referência breve acerca da utilização da ipecacuanha para auxiliar o
combate à doença:
... quando a coqueluche é ligeira e isenta de complicações, os
meios aconselhados são as bebidas quentes, mucilaginosas,
gomosas, as infusões bechicas [?] e peitorais, tais como os xaropes
de goma, althéa, as infusões de flores de malva, violas, etc. (...)
Existindo um principio de expectoração, o sendo esta difícil, deve-se
fazer uso das pastilhas de ipecacuanha ou do seu xarope; havendo
constipação, convém o emprego de clysteres emolientes ou de um
brando laxativo, bem como rosas pallidas, chicorea, manná, etc.83
Observa-se que a aplicação da poaia ocorre em caso de problema
respiratório, cuja ação esperada é que atue como um expectorante, auxiliando o
doente a expelir o muco excessivo produzido durante o quadro patológico. Sua
forma de apresentação é por meio de pastilhas ou xarope líquido, duas formas
possíveis de encontrar a poaia no mercado farmacêutico no período imperial.
Novamente em 1874, outra tese é apresentada a faculdade de medicina propondo
um estudo sobre a disenteria. Nesta tese, a aplicação da poaia é bastante
detalhada, em função da grande eficácia para combater o referido problema. Desde
as primeiras aplicações da poaia para uso medicinal a planta demonstrou ser
altamente eficiente no combate aos distúrbios gastrointestinais.
Como primeira forma de tratamento para a disenteria são apresentados os
vômitos, que podem ser induzidos pela ipecacuanha, seguido de uma medicação
purgativa:
Vômitos. – Alguns autores como: Zimmermann, Pringle e
outros, prescreviam de um a dois vomitivos no começo da moléstia,
instituindo depois a medicação purgativa. O pratico assim
procedendo deve dar preferência a ipecacuanha; este vomitivo é
indicado particularmente quando houver embaraço gástrico, e
sobretudo na forma biliosa. A ipecacuanha denominada pelos
autores raiz anti-dysenterica, é um dos agentes mais poderosos no
tratamento da disenteria. Em pó tem uma ação tópica irritante,
variável conforme as superfícies em que é aplicada; segundo as
experiências de diversos autores, entre outros Bretonneau, a mucosa
digestiva é a que menos sofre irritação. Para evitar-se essa ação
irritante deste medicamento, podemos empregá-lo em infusão ou
decocção, cuja irritação não é tão pronunciada, e tornando-se o
83
CAMARGO, Querubim Modesto Pires. Da coqueluche, suas causas, sede, signaes, diagnóstico,
prognóstico e tratamento. 1858. 15 f. Tese (Doutorado em Medicina) - Faculdade de Medicina do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1858. p. 24-5.
46
medicamento mais tolerável e susceptível portanto de produzir toda a
ação dinâmica.
Quando se quer obter as propriedades vomitivas da
ipecacuanha, devemos nos servir do seu pó, ao contrario se
desejarmos favorecer a absorção, tão útil na disenteria, devemos
empregá-la em infusão ou decocção, porque é no estado de
dissolução que ela contem a ematina [emetina], na qual parece
residir os princípios terapêuticos deste precioso medicamento.
O nosso distinto mestre, o Sr. Dr. T. Homem, lente de clinica
interna da faculdade de medicina, emprega geralmente as infusões,
e para estabelecer a tolerância manda juntar a oito onças de infusão
de dezesseis a vinte gotas de láudano de Sydenham [medicamento a
base de ópio] tomando o doente uma colher (de sopa) de hora em
hora. A ipecacuanha assim administrada não só diminui o numero
das evacuações, como as modifica quanto a sua natureza.
Segundo Delioux, este medicamento atua antes como
alterante, combatendo as condições de intoxicação criadas pelo vírus
disentérico, do que como evacuante, ele o compara a quinina nas
moléstias periódicas.
Este autor aconselha o emprego da
ipecacuanha em poção, cuja fórmula é a seguinte: Pó de
ipecacuanha quatro gramas, água trezentas gramas, faz-se ferver
por espaço de cinco minutos, filtra-se, e junta-se ao liquido, xarope
de ópio trinta gramas, hydrolato de canela trinta gramas. Para tomar
as colheres de hora em hora.
Para terminar o que diz respeito a ipecacuanha,
acrescentaremos que este medicamento goza ainda de uma ação
secundária, que é levar os fluidos a periferia, favorecendo a diaforese
[perspiração abundandte], que prepara uma crise desejável na
marcha da molestia.84
Pode ser observado na referida tese a seguinte proposição: “Observação –
Disenteria benigna crônica (...) Prescrição: Infusão de Ipecacuanha, 8 onças.
Láudano de Sydenham 20 gotas. Tome uma colher de hora em hora”. 85 Estes dados
foram obtidos a partir de um caso clínico no qual foi constatado um caso de
disenteria crônica para o qual se obteve sucesso no tratamento a partir da indicação
acima prescrita. Observa-se ainda a posologia aplicada ao paciente bem como a
associação da ipecacuanha com outros medicamentos. No caso deste paciente, no
decorrer do caso clínico, pode ser constatado que além da medicação mencionada
anteriormente foi informado o seguinte acerca da aplicação de purgativos:
Em todas as formas graves de disenteria, como a
hemorrágica, álgida, gangrenosa, tiphóidea, etc. Delioux não
aconselha o emprego de purgativos, sobretudo no começo da
moléstia; principia o tratamento pela ipecacuanha. (...) O
84
RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria. 1874. 28 f. Tese (Doutorado em Medicina) Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1874. p. 28-9.
85
RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria... p. 30.
47
calomelanos empregado em qualquer das formas de moléstia, da
sempre bons resultados, fazendo cessar ou diminuindo
sensivelmente os tenesmos [vontade de realizar as necessidades
fisiológicas acompanhada de dor e do impedimento da pretendida
realização], e mudando de natureza as evacuações disentéricas;
este medicamento é aconselhado por todos os práticos,
principalmente pelos que exercem a Medicina nos climas quentes.
Uns o empregam segundo o método de Law; Amiel, porem, medico
do exercito inglês o empregou com grandes vantagens em altas
doses. Segond administra-o debaixo da forma pilular, cuja fórmula é
a seguinte:
Ipecacuanha em pó ------ 40 centig.
Calomelanos ------ 20 centg.
Extrato aquoso de ópio ------ 5 centig.
Xarope de rhamo ------ q. b.
O emprego dessas pílulas é de grande vantagem, sobretudo
quando se trata de um caso de disenteria crônica.86
Conforme observado, na segunda metade do século XIX no Brasil, a
aplicação medicinal da ipecacuanha estava no centro das discussões médicas,
compondo um quadro internacional no qual a ipecacuanha aparece com grande
destaque. Observe-se que em 1876 vem a público nos Estados Unidos da America
exaustiva obra versando sobre a ipecacuanha denominada “Studies, Chiefly Clinical
in the Non-Emetic use of Ipecacuanha: with a contribution to the therapeusis of
cholera”87. Na primeira parte da obra o autor dedica-se a apresentação de diversas
patologias e casos clínicos envolvendo a aplicação da ipecacuanha como
medicamento. É interessante notar que além da aplicação nos casos de disenteria
ou como vomitivo, ou ainda como expectorante, de acordo com as fontes
anteriormente citadas, é mencionado também a aplicação da ipecacuanha como
antídoto contra veneno de serpentes.88 Na segunda parte, observa-se que é
apresentado vasto material sobre a aplicação terapêutica da poaia em diversos
problemas de saúde como a disenteria, além de analisar seu emprego e aplicação
em relação ao
sistema nervoso (“... ipecacuanha is a nervous stimulant, acting
chiefly through the sympathetic system”89). Na terceira parte do trabalho o autor
investiga a aplicação da ipecacuanha no tratamento da cólera.
86
RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria... p. 32-3.
WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha: with a
contribution to the therapeusis of cholera. Philadelphia, USA: J. B. Lippincott & Co. 1876.
88
WOODHULL, Alfred A. XX. As an antidote to venom. In: ______.Studies, Chiefly Clinical in the
Non-Emetic use of Ipecacuanha… p. 72.
89
WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of Ipecacuanha… p. 91.
87
48
Finaliza-se então este breve quadro da aplicação clínica da poaia destacando
que não se pretendeu neste item uma explanação exaustiva a luz da história da
ciência, em virtude das limitações inerentes ao texto de uma dissertação. Contudo,
pretendeu-se demonstrar que a poaia extraída no Brasil era conhecida em vários
lugares do mundo e de vasta aplicação médica, o que a tornava um produto de
exportação que atingia proporções significativas. A partir das inferências sobre a
aplicação médica da poaia no contexto internacional obteve-se uma perspectiva
ampla, que possibilita agora pensar a economia extrativa da poaia no âmbito das
fronteiras políticas do Brasil colonial/imperial, obedecendo a uma determinação de
abrangência do mais amplo para o mais restrito.
49
3 – Comércio e migrações intracontinentais: homens, animais e plantas
em movimento no sertão leste de Minas Gerais (1824 – 1832).
Consiste este capítulo em análise do comércio interprovincial envolvendo as
províncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, durante o período
compreendido entre os anos de 1824 e 1832. Sobre a delimitação do recorte
temporal, este foi atribuído pela própria documentação, de acordo com o proposto
por Linhares, para quem a definição do recorte espacial do “... objeto deveria
claramente acompanhar a produção [da] documentação”90.
Metodologicamente embasado na pesquisa empírica em fontes primárias,
consiste em levantamento, compilação e análise dos dados obtidos a partir da
documentação relativa à exportação provincial no período anteriormente citado.
Estes documentos consistem nos Livros de Registros de saída de gêneros
exportados da Província de Minas Gerais para as de beira mar pelo Registro da
Barra do Pomba, localizados no Arquivo Nacional e no Centro de Estudos do Ciclo
do Ouro/Casa dos Contos, em Ouro Preto (MG), onde foram consultados em suporte
microfilme.91 Os registros eram elementos componentes da fiscalidade das minas
oitocentistas e podem ser entendidos a partir da definição a seguir:
O registro ficava, normalmente, numa estrada regular, em um
"vão de serra", "fecho de morros" ou desfiladeiro, próximo a um curso
de água, que além de assegurar o abastecimento da repartição,
retardava ou dificultava a passagem dos contribuintes. [...] O pessoal
dos registros se compunha de um Administrador (representante do
Contratador), um Fiel (representante da Fazenda Real), um Contador
e dois ou quatro soldados. Os prédios consistiam na "casa do
registro", nas residências do fiel e do administrador, no quartel dos
soldados, num rancho para os tropeiros contribuintes e num curral
para os animais. A estrada era fechada por um portão com cadeado.
O equipamento era mínimo: livros contábeis, cofre, balança com
pesos, medidas para volumes, armas e utensílios domésticos.92
90
LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Região e História Agrária. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol.8, n.15, 1995, p.17-26.
91
Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba. CASA DOS CONTOS – Centro de
Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Anos: 1824, 1825, 1826, 1827, 1828, 1829 e 1832;
Volumes: 736,737, 738, 739, 740, 741, 742, 743 e 744. Rolo 51 [Microfilme].
92
REGISTRO. Disponível em:
<http://www.receita.fazenda.gov.br/Memoria/administracao/reparticoes/colonia/registros.asp > acesso
em 21 de abril de 2012.
50
Subsequentemente a leitura dos dados, estes foram tratados a partir do
conceito de “cadeias de mercadorias” e sua quantificação e identificação nominal
possibilitou a interpretação/reconstituição de um processo histórico modelar, cuja
análise compõe a produção historiográfica que tem demonstrado a dinâmica agrícola
e comercial mineira no período posterior à mineração aurífera.
O estudo desta cadeia de mercadorias possibilita a interpretação do processo
de migração/movimentação de seres animais e vegetais no espaço intracontinental,
e por vezes extrapolando as fronteiras nacionais, quando tomado como exemplo a
comercialização da poaia. Neste caso a cadeia de mercadorias extrapola os limites
políticos do Brasil, assumindo uma perspectiva intercontinental, visto que o
consumidor final da poaia localizava-se predominantemente na Europa, onde
dispunha de fama junto aos boticários que a vendiam processada em suas boticas.
Para compor o estudo da cadeia de mercadorias, é necessário investigar também os
agentes envolvidos, visto que os comerciantes e agricultores constituem parcelas
inerentes ao processo de movimentação de mercadorias. Estas mercadorias
compunham-se de elementos vegetais e animais, estes transportados vivos ou
abatidos, enquanto aqueles eram submetidos a diferentes graus de manufatura,
desde a simples desidratação de raízes de poaia, até a produção de algodão tecido.
Adotou-se o termo migração por entendimento que este pode ter sua significação
ampliada, sendo possível sua aplicação aos movimentos humanos que caracterizam
migrações periódicas em função do trabalho, animais e plantas comercializados.
Para tanto, realizou-se investigação sobre os agentes envolvidos no comércio
interprovincial: indígenas e nacionais93, em busca da compreensão do avanço da
sociedade luso-brasileira sobre um ambiente novo, o que envolve um aprendizado
do próprio processo de ocupação por seus agentes. Portanto, o objetivo aqui é
realizar uma investigação da atividade de coleta da poaia, pensando nos agentes
envolvidos,
plantas
e
homens,
em
movimento
dinâmico
e
interativo.
Consequentemente, será necessário refletir sobre o elemento indígena e seu papel
93
O termo “nacionais” é aplicado aqui de acordo com Maria Hilda Baqueiro Paraíso, que o aplicou ao
compor a trajetória histórica dos botocudos, como referência aos elementos não-indígenas
participantes do contato inter étnico. PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória
histórica. In: CUNHA. Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das
Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p. 413-430.
51
no processo de ocupação e sua contribuição para os colonizadores. Necessário,
portanto, entender que durante este processo de avanço de fronteiras, formaram-se
regiões de contato onde o processo de transculturação desenvolveu-se por meio de
relações tensas e conflituosas entre os grupos étnicos envolvidos. Estas regiões
denominam-se
‘zonas de contato’, espaços sociais onde culturas díspares
se encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra,
frequentemente em relações bastante assimétricas de dominação e
subordinação – como o colonialismo, o escravagismo, ou seus
sucedâneos ora praticados em todo o mundo.94
As zonas de contato podem ainda ser entendidas como um
...espaço de encontros coloniais, no qual as pessoas
geográfica e historicamente separadas entram em contato umas com
as outras e estabelecem relações contínuas, geralmente associadas
a circunstancias de coerção, desigualdade radical e obstinada.95
Esta observação, entretanto, ater-se-á ao aspecto socioeconômico decorrente
da extração e comercialização da ipecacuanha, obedecendo ao imperativo de um
recorte temático, sem, contudo, negar outras possibilidades de apreensão e
compreensão dos múltiplos aspectos sócio-culturais decorrentes de um processo
histórico mais amplo de interiorização da ação colonizadora lusitana.96
Dentro dos parâmetros anteriormente definidos, busca-se compreender a
colonização como um processo intelectual de reconhecimento do território brasileiro
e sua efetiva ocupação, demonstrada a partir da mudança de ênfase na obtenção do
trabalho indígena no século XVIII para as disputas por suas terras no século XIX:
...para caracterizar o século [XIX] como um todo, pode-se
dizer que a questão indígena deixou de ser essencialmente uma
questão de mão-de-obra para se tornar uma questão de terras. Nas
regiões de povoamento antigo, trata-se mesquinhamente de se
apoderar das terras dos aldeamentos. Nas frentes de expansão ou
nas rotas fluviais a serem estabelecidas faz-se largo uso, quando se
o consegue, do trabalho indígena, mas são sem duvida a conquista
territorial e a segurança dos caminhos e dos colonos os motores do
94
PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação. Bauru, São
Paulo: EDUSC, 1999. p. 27.
95
PRATT, Mary Louise. Os olhos do império... p. 31.
96
DIAS, Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos. São
Paulo: Alameda, 2005.
52
processo. A mão-de-obra indígena só é ainda fundamental como
uma alternativa local e transitória diante de novas oportunidades.97
Observa-se esta questão a partir da análise de um mapa topográfico de
Minas Gerais elaborado no século XVIII98:
Figura 6: Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes.
Fonte: http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg
97
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha (Org.). Política indigenista no século XIX. In: ______. História
dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p.
133.
98
Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas Geraes : toda esta capitania he coberta de
mattas e só nas comarcas do Rio das Mortes, Sabará e Ferro tem manxas de Campo. [17--] 1 mapa
ms : : col. ; : 74,5 x 67,5cm em f. 77,5 x 68,8cm. Disponível em <
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg > Acesso em: 14/06/2011.
53
Neste mapa percebe-se como a apropriação do território aparece na
representação cartográfica: predominam os rios, como tradicionais vias de acesso
ao interior, bem como as localidades e pequenos núcleos urbanos, que constituem
uma etapa concretizada do processo de colonização e conformação territorial em
claro movimento da expansão da fronteira colonial. Entretanto, ao mesmo tempo em
que a carta setecentista apresenta elementos que indicam a apropriação efetiva do
espaço, aponta ainda áreas não conquistadas, reconhecidas por meio de
expressões como “Certão inculto dominado pelo brabo Gentio Puri”. Ao proceder a
comparação com o mapa de 184799 reproduzido a seguir percebe-se a efetivação do
processo de colonização da região encontra-se em avançada etapa de realização.
Figura 7:“Carta topographica dos seus (Municipios) e Termos do Presídio, Pomba e São João
Nepomuceno cum noticias do Paiz que delles segue ate o mar pela costa oriental”.
Fonte: Fonte: Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04.
99
TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro Preto, Tip. do
Eco de Minas, 1847. Arquivo Nacional. Mapa proveniência desconhecida, F2/MAP 04.
54
Tal constatação pode ser inferida a partir da observação de que na carta de
1847, além dos elementos geográficos como serras e rios, que sugerem maior
proximidade entre o real e o representado no mapa, a ocupação humana aparece de
forma efetiva, demonstrando que a atividade colonizadora tornou-se ativa na região.
Agora, tão importante como demonstrar os rios como vias de acesso, é essencial
demonstrar também os caminhos, as freguesias, as cidades e as propriedades
rurais. Estas são indicadas pela referência aos nomes dos proprietários, ou seja,
constituem terras efetivamente ocupadas, territórios configurados, em substituição a
regiões antes denominadas como sertões incultos. Percebe-se, portanto que,
através da comparação entre duas fontes cartográficas, é possível apreender o
avanço do processo de ocupação da região.
É perceptível então que havia uma movimentação humana rumo ao interior
que se efetivou a partir da apropriação de porções de terras antes pertencentes a
indígenas. Durante esse processo, formou-se uma “zona de contato” em que os
grupos envolvidos podem ser definidos de forma geral como sendo os indígenas e
colonizadores portugueses.100 Esta orientação deve-se ao fato de que a economia
extrativa da poaia era protagonizada por agentes indígenas, predominantemente,
em interação com os colonizadores. Posto nestes termos, uma equivalência obvia
com o conceito de zona de contato pressupõe que se desenvolveu uma relação
entre portugueses e indígenas, separados geograficamente, mas postos em
interação no seio de um processo colonizador, no qual a assimetria entre os grupos
estabelece a subordinação dos indígenas por meio de processos coercitivos
desenvolvidos na longa duração. Estes processos de dominação concretizam-se por
meio do avanço da fronteira colonial e expulsão ou readaptação dos nativos. Este
movimento humano101 destaca-se em seu sentido que denota um processo de
100
A utilização do termo “portugueses” nesta dissertação deu-se em função da observância do
emprego dessa denominação em diversas fontes consultadas. Entretanto, para os efeitos dessa
análise deve-se tomar a utilização dessa denominação em oposição ao termo indígena. Este é
empregado para designar de forma geral os nativos envolvidos na comercialização da poaia sem
aprofundar em análise etnográfica buscando a identificação precisa dos grupos étnicos, enquanto
aquele termo reúne sob sua abrangência os colonizadores, de origem portuguesa ou não, visto que
pensar na definição estrita para o termo “portugueses” no século XIX seria passível de
questionamento.
101
No caso dos indígenas, o movimento humano apresenta-se de certo modo “errático” visto que não
apresentava uma orientação definida, mas sim um percurso por rotas que eram possíveis. É sabido
que os sujeitos históricos são habilidosos em manipular os recursos estratégicos a seu dispor, e,
portanto que esta era uma possibilidade. Entretanto, considera-se que esta margem era muito
55
interiorização. Entretanto, esta não é a sua única face, visto que interessa aqui o
movimento contrário do interior para a corte, em que se destacam elementos
humanos, animais e plantas. Estas, submetidas a algum tipo de beneficiamento,
mais ou menos complexo, de acordo com o produto analisado. Como exemplo
podem ser citados o fumo, derivado do beneficiamento da planta do tabaco, o
algodão tecido, a marmelada, o azeite de mamona e a poaia. Esta última não
recebia nenhum tipo de tratamento complexo, apenas a separação entre a parte
comercial, a raízes, e a parte pouco apreciada (caule e folhas). As raízes eram
submetidas a um processo de desidratação natural e eram vendidas secas, visto
que isto aumentava a sua durabilidade sem interferir nas propriedades fitoterápicas.
Quanto aos animais, poderiam movimentar-se vivos ou mortos, mas a duas
situações destinavam-se ao abastecimento alimentar da corte, exceto pelos cavalos
e gado muar, que não eram apreciados como fontes de proteínas, mas como
animais de trabalho102.
Observa-se a seguir os gráficos representativos dos registros de plantas e animais:
pequena e aproveitada por reduzido numero de sujeitos, estando, a maioria deles em uma situação
de vulnerabilidade e em posição inferior em uma estrutura social hierárquica. Por essa razão,
considera-se que a situação predominante era a característica de uma zona de contato, ou seja,
desigual, tensa e coercitiva.
102
Livro de Registro de Saída de Gêneros de Barra do Pomba. CASA DOS CONTOS – Centro de
Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Anos: 1824, 1825, 1826, 1827, 1828, 1829 e 1832;
Volumes: 736,737, 738, 739, 740, 741, 742, 743 e 744. Rolo 51 [Microfilme].
Plantas (na forma de produtos derivados) exportadas pelo Registro da
Barra do Pomba.
Valores indicativos de quantificaçao
300
250
200
150
100
50
0
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1832
Marmelada (arrobas)
50
43
0
15
38
6
80
0
Poaia (arrobas)
0
0
0
63
88
7
17
6,5
Fumo (arrobas)
0
116,5
119,5
282
159
24
4
0
fumo (rolos)
0
63
29
0
0
0
24
0
azeite de mamona (barris)
0
10
0
0
0
2
0
0
Café (arrobas)
0
0
16
0
0
0
0
0
Figura 8: Gráfico representativo dos produtos de origem vegetal.
Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
57
Algodão tecido (varas)
Valores indicativos de quantificação
em varas (1 vara = 1,10 m)
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
Algodão tecido (varas)
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1832
300
10362
9954
2486
4131
600
5000
2500
Figura 9: Gráfico da exportação de Algodão Tecido.
Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
58
Animais exportados pelo Registro da Barra do Pomba
Valores indicativos de
quantificaçao
2500
2000
1500
1000
500
0
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1832
Toucinho (arrobas)
1340
1389
1553
2258
1741
2041
2051
566
Gado vacum (cabeças)
(* 05 bois carreiros em 1830)
408
1548
1633
1527
2138
1284
1475
1089
Capados em pé (unidades)
0
2
177
0
0
0
0
0
Galinhas (unidades)
0
67
0
0
280
0
50
0
Cavalos (unidades)
0
0
0
0
16
0
9
46
Figura 10: Gráfico representativo de animais exportados (vivos ou mortos) pelo Registro da Barra do Pomba.
Fonte: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livros de Registro de Exportação da Barra do Pomba.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Obtém-se dessa maneira uma aproximação do objeto de estudo [a economia
extrativa da poaia] e dos sujeitos históricos envolvidos, além da possibilidade de
refletir sobre a apropriação do mundo natural por meio de um acelerado processo de
ocupação do solo, por meio da prática de queimadas e derrubadas de matas, ou
seja, intensificando a degradação ambiental através de um processo predatório de
ocupação da natureza, alterando a composição da flora, contribuindo para a
rarefação da ipecacuanha. Esta perspectiva de expansão territorial por meio da
ocupação do solo em áreas de colonização e expansão de fronteiras agrícolas
encontra respaldo na historiografia, por exemplo, ao referenciar a obra de Marcelo
Henrique Dias, que demonstrou que a apropriação dos recursos florestais em uma
área de floresta atlântica assumiu proporções significativas, possibilitando a
ascensão econômica e social de agentes envolvidos durante o processo de
ocupação e conformação territorial da Capitania e Comarca de Ilhéus.103 Como um
processo análogo, a exploração das madeiras nativas assemelha-se a economia
extrativa da poaia, denotando, ambos os processos, a despeito das diferenças
espaciais e temporais, um procedimento de avanço da atividade humana sobre o
mundo natural em busca da apropriação dos recursos disponíveis.
Tanto os sujeitos quanto o objeto serão compreendidos em sua dinâmica
particular, ou seja, a partir do estudo do espaço econômico correspondente ao
processo de comercialização da poaia, com seus agentes em movimento através
das redes de comércio com as praças do Rio de Janeiro e do processo de extração
empreendido pelos indígenas, no interior das matas que consistia na busca pelos
espécimes vegetais em seu meio de ocorrência natural. Esta coleta itinerante remete
ao semi nomadismo dos grupos étnicos indígenas envolvidos, ainda que estavam
submetidos ao estímulo da sedentarização e prática da agricultura.
O movimento das plantas, contudo, será analisado a partir do enfoque em um
único produto, buscando observar a trajetória da erva medicinal em estudo
evidenciando como a circulação de produtos primários através do comércio
extrapola as fronteiras políticas. Para tanto, considera-se que
...a abordagem das redes ou cadeias de mercadorias tornou o
produto primário como eixo de análise, mas o fez de uma forma tal
103
DIAS, Marcelo Henrique. A floresta mercantil. In: ______. Farinha, Madeiras e cabotagem: a
Capitania de Ilhéus no Antigo Sistema Colonial. Ilhéus: Editus, 2011. p. 207-261.
60
que suas estruturas de produção, redes de comercialização interna e
externa, distribuição nos países importadores e o próprio consumidor
final conforma-se em elos de uma cadeia que se torna um objeto em
si mesmo, uma “totalidade” a ser investigada em suas partes
constitutivas e determinações recíprocas.104
Ao focalizar a análise sobre as cadeias de mercadorias, em seu movimento
dinâmico, considera-se que tais proposições podem ser aplicadas ao estudo da
economia extrativa da poaia, guardadas as devidas proporções. A despeito da
menor expressividade em relação a produção de café, e também da diferença entre
as culturas, visto que o café era cultivado em grande escala e a poaia era extraída
em seu ambiente de ocorrência natural, a perspectiva da “commodity chain” aplicase para o estudo da economia extrativa da poaia, pois esta constituiu em torno de si
um conjunto de relações sociais e econômicas, que por meio do comércio
elaboraram uma rede que transcendia as fronteiras do território brasileiro, visto que
o destino final era a Europa. Dessa forma, considera-se que “... as cadeias de
mercadorias raramente se apresentam como conjuntos estáticos na história; ao
contrário, sua natureza dinâmica e contínuas modificações é que vão se colocar
como núcleo do conceito”105. Portanto, a extração e a comercialização da poaia
podem ser entendidas como uma cadeia de mercadorias, no caso as raízes da
planta, que apresentava uma dinâmica própria, movimentando-se em um grande
percurso que compreendia desde o processo extrativo realizado pelo indígena, até a
venda para o usuário final nas boticas européias. É pertinente observar que esta
perspectiva considera uma dimensão que coincide com a rota comercial do produto
em questão, extrapolando as fronteiras políticas ou naturais, abarcando, portanto,
grande riqueza de detalhes, cuja reconstituição integral extrapola as possibilidades
desta dissertação. Entretanto, os aspectos mencionados consistem em fortes
indicativos do movimento internacional da planta cephaelis ipecacuanha.106 A este
104
PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira – 1850/1930. Revista
eletrônica de História do Brasil, v. 9, n. 1, jan-jul., 2007. p. 08.
105
PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira – 1850/1930... p. 19.
106
A dimensão internacional do comercio da poaia pode ser enfatizada a partir da referência a seguir:
National Archives/Londres/Records of the Boards of Customs, Excise, and Customs and
Excise, and HM Revenue and Customs/Ledgers of Imports and Exports/CUST 3/18 (1716).
Exportação de poaia de Portugal para a Inglaterra no ano de 1716: 111 libras e 10 shillings. A
quantidade exata não pode ser determinada, pois o documento apresenta apenas os valores a seguir:
446:8. Agradeço ao Prof. Ângelo Alves Carrara a sugestão desta referência.
61
respeito é possível corroborar as informações levantadas por Márcia Moises Ribeiro,
que afirma o seguinte:
“Como demonstrou Alfred Crosby, a permuta de espécimes
da flora européia e do Novo Mundo teria ocorrido unilateralmente.
Centenas de exemplares europeus teriam se adaptado em diversos
lugares da America , não ocorrendo, porém, o inverso (...) mesmo
que essas amostras [de vegetais enviados da America para a
Europa] não tenham exercido modificações profundas na paisagem
européia, como ocorrera com outras colônias, a flora medicinal
brasileira desempenhou um papel importantíssimo no mundo
português, e nesse âmbito, pelo menos, a troca não foi unilateral”107
De acordo com a autora, a tese de Alfred Crosby, segundo a qual a
movimentação dos vegetais obedeceu a um sentido único, do velho para o novo
mundo, não parece se sustentar quando analisada sob o aspecto da utilização de
plantas medicinais oriundas do Brasil. Embora não tenha sido aclimatada na Europa,
a poaia representou um movimento inverso, do novo para o velho mundo e
desempenhou importante papel nas praticas medicas da época. Conhecida
internacionalmente, esta raiz do Brasil protagonizou, como fitoterápico, diversas
experiências de cura bem sucedidas, adquirindo enorme prestígio junto aos
médicos. Como exemplo da incorporação da poaia nas farmácias europeias, pode
ser mencionada a Pharmacopéia geral para o reino e domínios de Portugal108 e o
Tratado de Medicina Domestica, ambas datadas do final do século XVIII109. Neste
sentido, observa-se o trecho a seguir, no qual é realizado um elogio à fauna
brasileira, no qual aparece claramente o reconhecimento da importância da poaia:
“O Brasil produz também hum grande numero de plantas
aromáticas de diversas espécies, Suas producções botânicas são
innumeráveis. Não faltao nem flores de ornato, nem plantas medicianaes. O
arbusto tão útil, conhecido com o nome de ipicacuanha, não se acha senão
no Brasil: sua flor he uma espécie de violeta: he na raiz, que residem todas
110
as suas propriedades”.
107
RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos... pag..49.
Pharmacopéia geral para o reino e domínios de Portugal, publicada por ordem de D. Maria I.
Lisboa, Régia Oficina Tipografica, 1794.
109
Arquivo Público Mineiro: OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5. BUCHAM, Guilherme.
Medicina Domestica ou Tratado Completo dos meios de conservar a saúde e de curar, e
precaver as enfermidades por via o regime, e remédios simples. Obra útil, e acomodada a
capacidade de todas as pessoas de qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham
Medico do Real Colégio de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo Doutor
Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas do Tradutor Francês, o
Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia Rollandiana, 1791. Os trechos relativos a
aplicação médica da poaia encontram-se transcrita em anexo.
110
BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua descuberta ate 1810. Trad. Pe. Ignácio
Felizardo Fortes. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818. p. 92.
108
62
O acima exposto em linhas gerais chama a atenção para a investigação sobre
uma atividade, a economia extrativa da poaia, que possibilitou o aproveitamento
econômico de recursos oferecidos pela floresta durante o processo de ocupação de
uma região na qual ainda não era cultivado o café e os gêneros cultivados não
apresentavam grande potencial como valor de troca. As culturas de milho e feijão,
por exemplo, eram destinadas a alimentação de animais e homens, mas em si
mesmas não constituíam parcela expressiva dos produtos exportados. O milho
aparece indiretamente como alimento de gado e para a criação de porcos. Estes
sim, comercializados por meio da exportação para a corte.
A leitura das fontes apresenta um quadro socioeconômico baseado em
atividades comerciais e agrícolas associando os indígenas com a prática da
agricultura a partir das suas relações sociais estabelecidas com os colonizadores
presentes na região. Em requerimento datado de 1822, percebe-se a presença dos
portugueses, na região correspondente a Zona da Mata Mineira, em processo
dialógico com os indígenas por meio da prática do comércio e da agricultura,
imposta como atividade corrente aos indígenas submetidos ao processo de
aldeamento. Conforme o diálogo expresso na documentação, as ações dos diretores
de índios deveriam pautar-se em atividades como “... entrar no matto com alguns
lingoas para fazer os que não conhecerão os Portuguezes chegarem aos q. e
estiverem aldeados, dando-lhes alguns mimos a evictar o que grave huns com
outros...”.111 Apreende-se ainda na seqüência deste texto que a pratica da
agricultura, predominantemente as plantações de roças de milho, convivia com os
processos de extrativismo da poaia, visto serem atividades concomitantes que
empregavam mão-de-obra dos indígenas e portugueses. Estes eram identificados
muitas vezes como soldados das divisões militares que realizavam atividades
agrícolas e aberturas de estradas, algumas vezes com a colaboração dos indígenas
aldeados, e comerciantes de poaia. Os indígenas culturalmente diferenciados
atuavam algumas vezes como aliados dos agentes colonizadores, como por
exemplo aqueles que atuavam como tradutores (“lingoas”), conforme citado
111
Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 10, Fac. III
e IV, Jul. A Dez. (1905), 1906. Vol. 10, pag. 440-1. (23/01/1823) “Requerimento enviado ao Imperador
por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando seja feito Diretor dos Índios Puri”.
63
anteriormente. A presença dos indígenas aliados dos portugueses durante o
processo de colonização, conforme identificado na fonte, instiga a seguinte
consideração: o sujeito histórico indígena deve ser viso como um agente ativo,
capaz de mobilizar recursos sociais e proceder a escolhas dentro das possibilidades
a seu dispor, embora tais possibilidades fossem muito restritas.
Para melhor compreender esta situação, recorre-se (guardadas as devidas
proporções e diferenças entre os processos históricos em análise) ao que propõe
Giovanni Levi ponderando que existe uma racionalidade própria expressa pelos
atores históricos, marcando sua perspectiva diante das transformações em curso,
em termos de aceitação ou rejeição das novas conformações sociais. Esta
racionalidade apresentada pelo autor era “... empregada na obra de transformação e
utilização do mundo social e natural”.112 Na busca da compreensão desta
racionalidade, Levi propõe o conceito de estratégia, que relacionado ao contexto de
comercialização da poaia levado a termo pelos indígenas e portugueses pode ser
entendido como a mobilização dos recursos (materiais, simbólicos, econômicos, etc.)
disponíveis para lograr os objetivos visados pelos sujeitos. Assim, os “lingoas”
anteriormente citados personalizam um sujeito histórico autônomo, capaz de agir,
ainda que dentro de limitações. Torna-se perceptível então a dinamicidade do sujeito
histórico indígena em sua adaptação às novas situações sociais, conforme
apresenta Maria Regina Celestino de Almeida:
Além das perdas culturais e étnicas, os índios aldeados
puderam aprender ali [nos aldeamentos] novas práticas culturais e
políticas que lhes permitiam colaborar e negociar com a sociedade
colonial em busca das possíveis vantagens que sua condição lhes
permitia. O projeto colonial estava em construção e os limites e
possibilidades de sua realização dependiam das populações
indígenas que, no contato com os europeus, aprenderam a manejar
e manipular novos instrumentos em busca de seus interesses.113
112
LEVI, Giovanni. Introdução. In: ______. A herança imaterial: Trajetória de um exorcista no
Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 45. É pertinente considerar
que, embora o recurso ao conceito de estratégia proposto por Levi, não se pretendeu à realização de
uma pesquisa metodologicamente orientada de acordo com os pressupostos da Micro História. Tal
recurso foi realizado por entendimento que ao perceber nos agentes históricos uma racionalidade
própria fica evidente que são capazes de realizar escolhas e estratégias que permitam a utilização
dos recursos disponíveis a seu dispor. É importante salientar, entretanto, que, embora a aplicação de
conceitos que remetem à micro historia, o presente trabalho não constitui um procedimento de
pesquisa que desenvolva o tema por meio de diferentes escalas de observação, aspecto
característico da micro história.
113
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias
coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 34.
64
Percebe-se na fonte citada a seguir a expressividade da economia da poaia
enquanto fonte geradora de recursos monetários ao mesmo tempo em que interferia
nas formas de organização social, que implicavam relações de conflito e
divergências de interesses entre as partes envolvidas. Nota-se ainda que tal prática
incidisse diretamente sobre os agrupamentos indígenas alterando significativamente
seus modos de vida e arranjo social.
A observação de alguns testemunhos sugere que a comercialização da poaia
consistia também em campo de disputa nos quais as relações de poder eram
estabelecidas por meio de relações desiguais entre agentes e grupos sociais, que
manipulavam o comércio da poaia como uma estratégia de acumulação de riquezas:
“Uma pacificação total reinava desde Belmonte até os
Campos de Goitacazes, e em toda a província de Minas Geraes que
tirou um dinheiro imenso na negociação da poaia com elles. Logo
que o supp.e deixou o Commando; houveram mortes de Indios Puriz,
e Portuguezes, sendo estes os injustos agressores nas vizinhanças
da Ponte Nova Termo de Marianna: o que merece hua Inquirição
Juridica, e punidas os agressores, para não renovar hua Guerra
Cruel.114
O Diretor Geral Guido Thomas Marliere indo recolhido a
Capital exercer o seu lugar de S. M.r da Tropa de 1.a Linha, deixou 4
Sold.os denominados Cassadores, e hum negociante de pualha
dentro do Q.tel p.a tomarem cuidado, este se retirou a seu negócio e
os 4 Sold.os em nada cuidarão nem ao menos em rossada p.a
plantações e aquele Q.tel as benfeitorias q.e nelle se encontra apenas
são 2 ranchos cobertos de palha de palmito: hum moinho p.a o qual
se tem tirado dous regos e ninhum tem chegado agoa a fazer moer:
este Q.tel se deve edificar aonde os Indios Puris pedirem e q.e sejam
terras boas p.a verem produzir o fruto de seus trabalhos...”115
A presença dos conflitos ressurge nas fontes como um elemento importante
no processo de colonização da região implicando tais relações conflituosas na
organização de um espaço econômico associado à mobilidade das fronteiras. Tais
processos não se mantinham alheios aos desdobramentos da concessão de
114
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 425. (24/04/1822). “Requerimento enviado por
Guido Thomaz Marlière ao Imperador solicitando sejam pagas pelo Erário Publico as suas
gratificações de Major”.
115
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 441. (23/01/1823). “Requerimento enviado ao
Imperador por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando seja feito Diretor dos Índios Puri”.
65
sesmarias116 embora não estivessem determinados pela delimitação política dos
territórios
de
sesmarias.
Estas,
muitas
vezes
incluíam
fundos
territoriais
caracterizando um processo colonizador baseado na descontinuidade.117
Retomando a questão dos agentes do comércio de poaia a leitura de um
ofício datado de 07 de janeiro de 1823 apresenta um processo de interação entre os
atores sociais indígenas e portugueses possibilitando a identificação de grupos em
conflito, bem como a apropriação do trabalho indígena:
Em Manoel Burgo esta o Director dos Indios Puriz, com sua
família, Caza, Igreja, sino, e Moinho coberto de telha; as mais
barracas os portuguezes poalheiros aproveitarão delas a forca,
comerão o milho da rossa, que produziu bem e correrão com os
Puris q.e se disseminarão nos bosques em quanto o seu Director fez
outra rossa, e voltou a elles com abundante socorro de mantimentos
q.e vão do Prezidio para o negocio da Pualha, em cujo negocio todos
sabem q.e não entro. (...) Os Indios q.e tem lhe são úteis e
proveitosos, trabalhão, dão-lhe poalha, q.e não bota fora e
proximam.te descobrirão ouro, que promete fazer a felicidade do
Supp.e bem como ajudam nos seus trabalhos a muitas famílias
Portuguezas, q.e não tem escravos.118
Para melhor compreender os elementos extraídos das fontes cogita-se a
possibilidade da aplicação de um aparato metodológico que Simona Cerutti
denominou análise processual.119 Essa autora focaliza a experiência dos indivíduos
e os processos de escolhas, bem como a elaboração de estratégias pelos agentes.
Assim o processo histórico investigado “... é analisado em seus componentes e suas
relações recíprocas”.120
Observa-se que os indígenas, através do processo de interação descrito,
viabilizaram o processo colonizador por meio das suas habilidades e de seu
trabalho, elementos expressos na extração da poaia, forma de economia florestal
116
Arquivo Público Mineiro, PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828): “Sobre o desvio de terras dos índios para
sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos índios coroados e coropós escrito por
Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo”.
117
MORAES, Antônio Carlos Robert. Território, Região e Formação Colonial: Apontamentos em torno
da Geografia Histórica da Independência Brasileira. Ciência & Ambiente/Universidade Federal de
Santa Maria – UFSM. V. 1, num. 1, (Jul. 1990) – Santa Maria, RS: Semestral, n. 33 (Jul./Dez. 2006),
p. 13.
118
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 443 (07/01/1823). “Oficio enviado ao Imperador
por Guido Thomaz Marlière”.
119
CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século
XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas. Rio de Janeiro: FGV, 1998. p. 174.
120
CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século
XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas... p. 188.
66
que denota a melhor adaptabilidade indígena para o trabalho florestal em relação à
agricultura.
As relações de trabalho entre os indígenas e os colonizadores podem ser
percebidas nesta fonte a partir de sua interação com as famílias que não possuíam
escravos, o que implica que alguns indígenas estavam submetidos a um processo
de diferenciação mais intenso que incluía a possibilidade de vivência no âmbito
doméstico do colonizador. Novamente, é possível associar os portugueses ao
processo de extração da poaia bem como um dinâmico processo de conflito e
interação entre os atores sociais. Tal interatividade favorecia o colonizador em
função da sua natureza assimétrica e coercitiva típica de uma zona de contato,
levando o indígena à perda de territórios, cultura e sujeição a ao trabalho nos
moldes do colonizador.
Além das referências à poaia, as fontes também mostram fragmentos de
interações conflituosas entre indígenas e membros do corpo militar da Província de
Minas Gerais, conforme oficio de Guido Thomaz Marliere, datado de 06 de abril de
1825:
Os Indios que deram occazião ao Combate de 8 de Janeiro
de que resultou a morte do Cap.tam Naknenuk Makúen, e seus dous
Ajudantes, voltarão ao fim de 20 dias, e viverão na melhor
intelligencia possível com a pequena Guarnição ate acabarem de
comer a Rossa de Milho que para elles ali havia. Na barra do Rio
Cuyethé, tem se apresentado Naknenuk em numero tanto, que o
Capitam M. Orotinon, que governa os da parte Meridional, se oppóz
a q.e se lhes dessem Canôas para passarem, por desconfiar que
vinhão hostilm.te – As Rossas da Barra do Cuyêthé, Quartel Geral de
Cuyethé, o Bananal Grande forão, e são da maior utilidade para o
sustento de toda Gente muitos são já acostumados ao trabalho, e
rossão a par dos Soldados, outros ganhão jornal em as Fazendas e
vão apprendendo, que com o dinr.o se adquire o necessário. – Em
Petersdorff tudo vive tranqüilo; e temos hua rica colheita deste anno
abrigar; e m.to milho velho, que os Indios não poderão acabar.121
Posta a noção da estratégia, Levi procede a uma “... análise do tipo
estratégico”, que leva em conta outro elemento de grande importância para pensar
as ações dos sujeitos históricos: a incerteza. A incerteza “... é a principal figura
através da qual os homens de Santena apreendem seu tempo. Eles devem entrar
121
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594. (25/04/1825). “Oficio. Guido Thomaz
Marlière”.
67
em acordo com ela e, na medida do possível reduzi-la.”122 Transposto o Oceano
Atlântico e avançados alguns séculos no tempo é necessário pensar no estudo de
um processo econômico e social (o comércio de poaia) no qual figuram agentes cuja
existência estava atrelada às incertezas, exigindo a elaboração de estratégias.
Dessa forma é possível observar alternância entre os comportamentos hostis e
receptivos dos nativos em relação aos colonizadores, bem como na relação
estabelecida a partir do cultivo de roças usadas como atrativos aos indígenas que se
aproximavam dos portugueses em busca das “roças de milho”, usadas como
atrativos no contato com os nativos. Este período de aproximação reflete uma ação
estratégica elaborada pelos índios, visto que a presença de alimentos de fácil
acesso minimizava a incerteza relacionada à obtenção de alimento por conta
própria, atividade dispendiosa do ponto de vista orgânico e cronológico. É
necessário enfatizar que, no modelo de organização social observado, a obtenção
de alimentos é uma atividade que tem grande destaque, determinando a
perpetuação dos indivíduos e/ou grupos.
Quanto aos indígenas que trabalhavam juntamente com os soldados e
ganhavam jornal em fazendas, percebe-se novamente que desenvolvem ações
estratégicas que garantem a sua permanência e inserção em um meio social
transformado pela introdução de elementos humanos estrangeiros, o que levou a
uma perturbação óbvia da dinâmica anteriormente existente nas sociedades íncolas.
Estas estratégias permitiam aos indígenas obter recursos como ferramentas, ao
mesmo tempo em que, nos territórios ainda não dominados pelo colonizador
prevalecia a cultura indígena. Outro aspecto importante é a menção ao
conhecimento pelos indígenas da importância do dinheiro como elemento mediador
das relações de trabalho e de manutenção da sobrevivência a sua incorporação
remete, novamente, ao conceito de estratégia e à noção de incerteza. Entretanto, é
necessário especificar que ao aceitar a idéia de estratégia como elemento de
compreensão de um processo econômico social não implica que os sujeitos
possuíam ampla liberdade de ação, visto que as “... estratégias não são livres: estão
ligadas a valores, cercadas por limitações”.123
122
REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 26.
REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 27.
123
68
A noção de estratégia pode ser aplicada para análise do comércio da poaia,
pois, ao levarmos em conta os seus agentes, em especial os indígenas que
coletavam a planta no ambiente florestal, pode-se considerar “... a consciência dos
próprios índios sobre suas possibilidades de manobra na situação colonial em que
se encontravam”.124 Considerar que os indígenas desenvolviam comportamentos
estratégicos atribui relativa autonomia ao sujeito, conferindo-lhe margem de
manobra, ainda que limitada, ou seja, racionalidade:
O indivíduo pode ser visto como um ser racional e social que
persegue objetivos; as regras e os limites impostos as suas próprias
capacidades de escolha estão essencialmente inscritos nas relações
sociais que eles mantém. Eles se situam portanto na rede de
obrigações, de expectativas, de reciprocidades que caracteriza a vida
social. Numa tal perspectiva, o centro da análise será constituído
pelo próprio processo social – e portanto pelas interações individuais
nos diferentes contextos sociais – e não apenas pelas instituições.125
Considerando-se que a formação de um espaço econômico ocorre a partir da
circulação de mercadorias e que esta circulação implica a presença de capital
questiona-se se as relações de troca entre indígenas e colonizadores não tenham se
baseado exclusivamente nas trocas envolvendo objetos/mercadorias, existindo
participação indígena em relações comerciais que envolviam dinheiro na forma da
moeda circulante da época. Tal inferência se baseia na fonte anteriormente
transcrita em que constam participações de indígenas em trabalhos remunerados
nas fazendas, bem como o desenvolvimento de atividades agrícolas ao lado dos
soldados. Novamente, predomina o cultivo do milho como fonte de alimentação dos
indígenas, cujas lavouras eram utilizadas como auxiliares no processo de
aldeamento e sedentarizacão dos silvícolas. É relevante considerar o aldeamento,
no qual eram reunidos grupos indígenas de diversas etnias como um espaço de
interações culturais. Como afirma Maria Regina Celestino de Almeida,
A idéia de processo para a compreensão das mudanças
pelas quais passam os grupos indígenas em contato com as
sociedades ocidentais tem sido especialmente valorizada nos últimos
anos, enfatizando-se amplas possibilidades desses grupos para
recriarem seus valores, tradições, culturas, identidades. Tal
concepção é fundamental para se pensar as aldeias coloniais em seu
longo percurso de três séculos, em que várias gerações de índios
124
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas... p. 38.
CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em Turim no século
XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas... p. 189.
125
69
transformaram-se de etnias múltiplas num amplo e genérico grupo
que chamamos índios aldeados.126
No contexto das atividades realizadas pelos membros das divisões militares,
que podem ser definidas como “... abertura d’Estradas, Facturas de Rossas,
Civilização, e tratamento dos Indios”.127 Em relação ao tratamento aos indígenas,
percebe-se pelas ações do Cabo da 6.a Divisão Simplício Rodrigues de Medeiros:
... pacificação da porção dos Naknenuk irritados pelo
Combate de 8 de Janeiro em o Quartel de D. Manoel, com
aprecipitação com que levou deste Quartel Ferramentas e roupas
para os accomodar no q.e acertou perfeitamente sabendo a lingua
dos Indios, e sendo activissimo.128
Neste mesmo oficio reaparece o comércio da poaia e o modo como era
praticado, apontando informações sobre o estado de civilização dos índios:
As margens do Rio Doce, são cobertas de poalheiros
desarmados, que tiram das mattas colheitas abundantes do rico
ramo do negocio da Ipecacuanha: o que prova q.e ninguém mais se
recêa dos Outros? ora terríveis Botocudos. Nos Districtos da 5. a e 7.a
Divisõens desde o Peçanha até o Salto Grande do Giquitinhônha
nossa extrema fronteira, não tem havido a menor desordem entre
Indios e Brasileiros.129
No entanto, deve-se observar com cautela tais informações visto que foram
escritas pelo Diretor Geral dos Índios. Obviamente as informações seriam aquelas
mais condizentes com os propósitos da Coroa no que diz respeito à civilização dos
índios, o que implicava sua sedentarizacão e diferenciação cultural através da
introdução da prática da agricultura. Neste mesmo ofício observa-se que os “... Puris
vão se acostumando à Agricultura, menos os immensos ocupados na extração da
poalha”.130 Este ponto não deve ser considerado como um dado fixo pois os
indígenas coletores de poaia também poderiam praticar a agricultura visto que a
126
ALMEIDA. Maria Regina Celestino de. Os índios aldeados: histórias e identidades
In: ______. Metamorfoses indígenas... p. 260.
127
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594. (25/04/1825). “Oficio.
Marlière”.
128
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595. (25/04/1825). “Oficio.
Marlière”.
129
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595. (25/04/1825). “Oficio.
Marlière”.
130
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 596. (25/04/1825). “Oficio.
Marlière”.
em construção.
Guido Thomaz
Guido Thomaz
Guido Thomaz
Guido Thomaz
70
colheita da ipecacuanha era sazonal, ou seja, ocorria em períodos específicos do
ano.131
Observa-se ainda que a presença de conflitos era bastante comum, conforme
citação a seguir, o que requer um análise cautelosa com vistas a identificação de
contradições internas na documentação:
Mando já dous Botocudos dos que me vierão ontem de
Petersdorff com um Soldado, delles conhecido, ao dito Comandante
p.a q.e os encaminhe aonde estão Seus Irmãos, e os sossegue
prometendo justiça contra os culpados, antes que vão chamar aos
outros, e renovem uma Guerra pior que a primeira. Este Antônio José
de Souza Guimaraens é o mesmo, que pelas suas intrigas hia
suscitando desordens entre as Guardas da Província e o Espírito
Santo e o Diretor dos Indios de Abre-Campo: hum Novato Orgulhoso
de possuir algumas patacas adquiridas neste paiz pela maior parte a
Custa dos Indios no negocio da Poalha e que os abomina: e o pior de
tudo um destes Condutores de Povo como se achão na maior parte
dos Distritos: e que publicamente se tem já e tudo, q.e havera de
attirar aos Indios que se apresentassem na sua Fazenda como fez
sejam Botocudos ou Puris...132
A leitura atenta das fontes também possibilita uma identificação, além das
práticas econômicas, dos agentes sociais envolvidos e também dos limites e das
fronteiras estabelecidas com a formação de um espaço econômico. Contudo, devese ter em mente que as fronteiras de um espaço econômico não são fixas ou
estanques, mas por outro lado podem apresentar certa mobilidade que varia de
acordo com a circulação das mercadorias e com a economia mercantil.
... Antônio José de Souza Guimarães, Sargento de
Ordenança do Districto de Ponte Nova, Termo de Marianna (...) Este
Antônio José Oriundo de Portugal, principiou a sua carreira de
Soldado da 3a Divisão da qual obteve baixa para negociar poalha
com os índios Puriz quando foi aberta a estrada de Minas a Cidade
da Victoria em 1818, da qual eu [Guido Thomaz Marliére] fui
inspector: com a poalha comprou burros e com os burros conduzia
os mantimentos para o Tenente Coronel Ignacio Pereira Duarte
Carneiro, o qual encontrei no mesmo anno no Rio Manuassú, nesta
parte de Minas trabalhando com Pedestres da Província do Espírito
Santo na abertura da dita Estrada (...) persuadi ao dito Alferes José
Caetano [da Fonseca, diretor dos Índios de Santa Anna do Abre
Campo], depois da sua reforma reunisse os Puriz dispersos nos
nossos diversos Quarteis da Estrada [Minas à Vitória] em
Aldeamentos, os occupasse na extração da poalha, e do produto
131
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a historia e a devastação da mata atlântica brasileira.Trad. Cid
Knipel Moreira. São Paulo:Cia das Letras, 1996. p. 147
132
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 608. (25/05/1825). “Oficio. Guido Thomaz
Marlière”.
71
dela os sustentasse e vestisse para evitar despezas à Fazenda
Publica: o que aceitou e executou em Maio de 1821, mandando fazer
logo pelos seus Escravos largas Plantaçoens nos rios Manuassú e
Matipo-o aonde se reunírão uns luzidos aldeamentos, que inspectei
em abril de 1823.133
Conforme observado no documento transcrito acima, a presença da
economia da poaia aparece por meio de referências claras ao processo extrativo da
ipecacuanha, evidenciando também os atores sociais envolvidos, representados por
portugueses e indígenas. Este aspecto possibilita algumas inferências sobre a
conformação de um quadro étnico e também da percepção de relações de trabalho
e processos ocupacionais desempenhados pelos indivíduos. Percebe-se que o
extrativismo vegetal possibilitou ao indivíduo referenciado a ascensão social e
econômica, ao mesmo tempo que pode ser identificada uma relação com a
economia das tropas. A dimensão social do comércio da poaia pode ser percebida
na medida em que contribui para acelerar o processo de sedentarização e
destribalização dos indígenas. Portanto, o comércio da poaia é entendido aqui como
uma estratégia de acumulação de riquezas e diferenciação social através do
estabelecimento de relações desiguais de poder, nas quais apresenta-se um grupo
social em posição de dependência em relação ao outro. Enquanto estratégia de
acumulação de riqueza, implica também a mobilidade social para os agentes
comerciantes da poaia, que dela obtinham lucro, uma vez que restituíam
minimamente o trabalho indígena de coleta da planta. Entende-se, no âmbito deste
trabalho, que a definição de poder está atrelada a
...organização de um campo onde agem forças instáveis e
que estão sempre sendo reclassificadas.[...] ...é a recompensa
daqueles que sabem explorar os recursos de uma situação, tirar
partido das ambigüidades e das tensões que caracterizam o jogo
social.134
Deve ser ressaltada ainda a estreita ligação da atividade com os postos
militares especificamente por meio do contato com os integrantes das tropas, que
mantinham atividades de intercâmbio com os indígenas coletores de poaia. A
aplicação da mão de obra indígena na coleta da poaia, assim como em outras
atividades, indica a presença significativa de tal prática ao longo do processo de
133
Revista do Arquivo Público Mineiro... Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado, vol. 11, Fasc.
I, II. III e IV. 1907. p. 35-6. Oficio. Guido Thomaz Marlière.
134
REVEL, Jacques. Prefácio. In: LEVI, Giovanni. A herança imaterial... p. 33.
72
colonização. O documento anteriormente citado possibilita observar que a atividade
dos poalheiros era realizada concomitantemente com outras formas de trabalho,
como por exemplo, o exercício da atividade militar, como no caso dos “... soldados
do Quarteis vezinhos da Provincia do Espirito Santo, que arrancavão poalha por
conta delle [Antônio José de Souza Guimarães]...”.135 Em reação a participação
indígena neste processo destaca-se que o “... emprego dos [Índios] que se chegam
é adestrá-los à agricultura, ao exercício de canoeiros, e ao negócio da poalha, em
que vão fazendo grande proveito aos trabalhadores deste negócio, sem abatimento
da despesa que faziam à fazenda pública”.136
De acordo com as fontes, também pode-se identificar a relação e a influência
que as atividades econômicas da região, aqui representadas pela economia da
poaia, estabeleceram com o processo de colonização por meio da constituição de
um espaço econômico específico de um período e de um lugar. 137 Neste sentido, a
expressão territorial e física do processo econômico e social desenvolvida em torno
da poaia, proporcionando a interação entre diversas formas de trabalho presentes
na região, também influi na delimitação de fronteiras políticas e culturais, cujo
atributo principal consistia em um caráter de mobilidade e de duração específica
concomitantemente às práticas mercantis que originaram o espaço econômico
delineado pelo comércio da poaia.
Dessa forma, procedeu-se a reconstituição de fragmentos de relações
socioeconômicas entre os sujeitos, permeadas por estratégias de sobrevivência e
adaptação, relações assimétricas entre sujeitos históricos, dominação, coerção,
conflitos e mecanismos de resistência. Respeitados os limites da documentação,
que não permite captar os múltiplos aspectos da vida social dos agentes envolvidos,
pretendeu-se que as informações levantadas atuassem como indicadores de
possibilidades de experiências pretéritas pertinentes, considerando a importância
135
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 11, p. 36. (11/06/1825). “Oficio. Guido Thomaz
Marlière”.
136
Arquivo Público Mineiro, CGP 1/1, Cx. 01 (1829/01/27): “Extrato de um ofício do Coronel Guido
Thomaz Marlière datado de 07 de Janeiro de 1829”.
137
Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado. Vol. 12,
1907/1908. p. 498-510. (28/01/1828). “Mapa fazendo conhecer os aldeamentos das diferentes tribos
de índios da província de Minas Gerais, seu local, população, aumento ou decadência e as causas.
Quartel geral de Gendorvald, em 28 de janeiro de 1828”.
73
das “... tensões e das negociações de sujeitos posicionados de formas diferentes na
sociedade estudada”138.
Finalizando, considera-se que a economia extrativa da poaia consistiu em
parte de um processo de apropriação de território, consistindo no avanço da
sociedade sobre um ambiente, a partir da apreensão do próprio processo de
ocupação pelos seus agentes, que se reconfigurou em território. Marcado pela
tensão, o contato entre colonizadores e indígenas envolveu processo de
transculturação marcado por aprendizado mútuo, em que os nativos contribuíram
com seu conhecimento sobre o mundo natural, por exemplo, ao realizarem a coleta
da poaia no interior de áreas de florestas e para os colonizadores. Atividade esta
impossível de ser realizada pelo colonizador, em virtude da falta de familiaridade
com o mundo natural, ou pelo menos em relação aos indígenas. Quanto aos
agentes do comércio, aprenderam a mobilizar situações de conflito entre os próprios
indígenas em busca de efetuar o avanço das fronteiras agrícolas, utilizando para
isso o próprio trabalho indígena. O processo de ocupação efetivou-se de forma
bastante eficiente, partindo da experiência prática até a sua representação nas
manifestações intelectuais dos colonizadores, haja vista a construção do mapa de
1847, mencionado anteriormente, no qual o processo de ocupação humana mostrase efetivo a partir da indicação nominal dos proprietários de terras. A confecção do
mapa consiste em clara manifestação intelectual do reconhecimento do território
brasileiro. Vale lembrar que, a apropriação do meio ambiente permeou-se por um
processo de ocupação da terra realizado em uma velocidade sem precedentes, visto
que foi mais rápido e produziu mais alterações do que as formas de utilização da
terra precedentes. Como saldo é licito pensar em um caráter predatório, de
degradação ambiental, envolvendo a intensificação das queimadas e derrubadas de
florestas. Tais aspectos não poderiam conduzir a outro quadro senão a extinção da
poaia, cujo comércio entra em declínio com o findar do segundo quartel do século
XIX. Percebe-se que a comercialização da poaia consistia em um processo amplo,
cuja análise pode ser realizada sob ângulos diversos, possibilitando a sua
138
FRAGOSO, João. Alternativas Metodológicas para a História Econômica e Social: micro-história
italiana, Fredrick Barth e a história econômica colonial. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de;
Oliveira, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: alternativas metodológicas para a história
econômica e social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 27-48. p. 41.
74
interpretação a partir das relações sociais que se desenvolviam em seu entorno.
Neste capitulo, foi enfatizada a sua dimensão social, pensando nos agentes e na
dinâmica da comercialização, assim como no movimento das plantas por meio da
atividade de tropear, que incluía também a migração de animais. Nas páginas
seguintes, discute-se o aspecto econômico em maiores detalhes, evidenciando a
comercialização da poaia em comparação com outros produtos.
75
4 – Análise da economia extrativa da poaia no leste de Minas Gerais
(primeira metade do século XIX): estudo comparativo entre produtos de uma
cadeia de mercadorias
Este capítulo constitui um exercício de sistematização de dados em busca de
um dimensionamento da comercialização da poaia em uma perspectiva comparada
em relação a outros produtos a partir da leitura dos registros de exportação da Barra
do Pomba. Estes documentos consistem nos Livros de Registros de saída de
gêneros exportados da Província de Minas Gerais para as de beira mar pelo
Registro da Barra do Pomba, localizados no Arquivo Nacional e no Centro de
Estudos do Ciclo do Ouro/Casa dos Contos, em Ouro Preto (MG), onde foram
consultados em suporte microfilme. As delimitações temporais são atribuídas pela
própria documentação, que se inicia em 1824 e termina em 1832. Quanto ao recorte
espacial, obedeceu aos limites e possibilidades impostos pelas fontes, que
predominantemente não informam a origem dos produtos. Quando este dado
aparece, ele remete ao espaço correspondente as atuais cidades de Ponte Nova,
Visconde do Rio Branco, Ubá, Viçosa, Piranga, Rio Pomba, Barbacena, a partir das
quais os tropeiros partiam em direção ao Rio de Janeiro/Espírito Santo, destacandose as localidades de Campos, São Fidelis, Vila de São Salvador e Rio de Janeiro.
Metodologicamente
cabe
ressaltar
que
este
capítulo
baseia-se
em
procedimento comparativo que estabelece relações entre os produtos constantes
nos registros analisados, com a finalidade de dimensionar a quantidade de poaia
exportada em relação aos outros produtos. Tal analogia é estabelecida a partir da
consideração da unidade de peso denominada arroba: “arroba (...) 1 METR antiga
unidade de medida de peso que corresponde a 32 arráteis (cerca de 14,7 kg) (...) a.
métrica METR unidade de medida de peso, us. para produtos agropecuários
equivalente a 15 kg...”139. É necessário ressaltar, entretanto, que este critério não
desconsidera os demais produtos, mensurados por medidas de comprimento ou
volume, apenas restringe, para efeito de comparação a unidade “arroba” por ser esta
139
Houaiss, Antônio; Villar, Mauro Salles. Arroba. In: ______. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 302.
76
a medida sob a qual a poaia era comercializada. Quanto à organização do texto
adotou-se a alternância entre a apresentação de tabelas e discussão dos dados
obtidos. Quanto a composição das tabelas, foram organizadas a partir da análise
dos dados obtidos nos livros de registros. Estes, foram transcritos em tabelas, de
forma bastante semelhante à estrutura presente nos livros de registros, embora a
atualização gramatical tenha sido adotada nos casos em que não comprometia a
pertinência do conteúdo expresso. Estes dados são apresentados integralmente
como anexos do texto principal. Em relação aos valores referentes às quantidades
de produtos exportados, em alguns casos a soma total expressa nas fontes é
discrepante em relação à soma dos produtos registrados. Estas discrepâncias foram
mantidas tal como presentes nos originais, uma vez que não são significativas ao
ponto de comprometer a pertinência dos resultados. Em alguns trechos dos
originais, não foi possível transcrever todos os dados, visto que alguns se perderam
em função da degradação do suporte papel, ocorrida antes do processo de
digitalização. Para realizar a análise, os dados foram tomados em sua ordem
cronológica de apresentação, de forma que serão discutidos, anualmente, no
período de 1824 até 1832, excetuando-se os registros de 1831, que não foram
localizados.
Os registros relativos a este primeiro ano encontram-se divididos em dois
períodos, sendo o primeiro compreendido entre os meses de janeiro e setembro de
1824140, e o segundo se refere aos meses de outubro a dezembro do mesmo ano141.
Para efeito deste estudo, considera-se todo o ano de 1824: em relação ao primeiro
trimestre não consta a passagem de nenhuma tropa, portanto não foi registrado
nenhum produto. Mas para os meses seguintes, de abril até setembro aparecem
registros de produtos que indicam a diversidade da economia mineira: juntamente
com os produtos de origem animal, estão presentes artigos como o algodão grosso
tecido e a marmelada, além dos queijos e do gado em pé. A soma dos produtos
exportados ao longo do ano de 1824 pode ser observada na tabela a seguir:
140
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan set],
Vol.: 744, Rolo: 51.
141
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1824/Out.
Vol.: 743, Rolo: 51.
77
Produtos exportados pelo Registro da Barra do Pomba durante o ano de 1824
Produto
Quantidades
Toucinho
1340 arrobas
Gado vacum
408 cabeças
Marmelada
50 arrobas
Queijos
700 unidades
Algodão
300 varas
Tabela 4: Produtos exportados ao longo do ano de 1824.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa
É pertinente destacar que o toucinho apareceu em grande quantidade,
sobressaindo em relação aos outros produtos. Do total dos registros relativos ao ano
de 1824 até o mês de setembro obtém-se a quantia de 190 cabeças de gado,
setecentos queijos, mil e duzentos e sessenta e oito arrobas de toucinho, cinquenta
arrobas de marmelada e trezentas varas de algodão tecido. Apreende-se que neste
período destaca-se a atividade de suinocultura, pecuária e agricultura do algodão e
seu posterior beneficiamento na forma de tecido grosso. A produção de marmelada
indica a atividade de beneficiamento do marmelo realizada possivelmente nas
próprias unidades produtivas em que eram colhidos os frutos. A presença de grande
quantidade de toucinho, queijos e gado indica a importância da pecuária nas regiões
de origem.
A partir da leitura dos dados referentes ao ano de 1824 pode-se inferir que a
criação de porcos consistia em atividade de grande relevo, o que implicava também
no cultivo do milho, visto que este é necessário para a alimentação dos suínos.
Neste período, a poaia não é mencionada juntamente com os demais produtos
exportados, sendo que a ausência desta planta junto aos demais produtos implica
algumas observações: a) a poaia não era cultivada e sim coletada, portanto não
possuía um ciclo regular como a cultura do milho, em que era possível exercer maior
controle sobre a produção; b) sua coleta dependia do trabalho indígena, portanto
suscetível aos condicionantes como presença de grupos indígenas atuando em
cooperação com os colonizadores; c) a poaia era coletada na floresta “virgem”,
portanto sua extração era mais comum em regiões pouco afetadas pela agricultura
baseada na derrubada de florestas e prática da coivara, e também nas áreas de
78
expansão de fronteiras agrícolas, nas quais sua coleta representava uma
apropriação dos recursos florestais. Portanto, a ausência da poaia nos registros de
1824 pode indicar desde o simples fato que ela tenha passado despercebida pelos
registradores ou circulado por outros caminhos, ou ainda, a constatação mais obvia:
não aparece na lista porque não foi comercializada neste período.
Quanto ao ano subsequente, observa-se nas fontes os registros relativos ao
primeiro trimestre de 1825142, compreendendo os meses de janeiro a março, e o
restante do ano, ou seja, de abril a a dezembro de 1825.143 Os produtos registrados
ao longo deste ano apresentam
predominantemente como destinação final a
localidade de Vila de São Salvador. As localidades de origem são: Barbacena,
Freguesia da Pomba, São João Batista do Presídio, São José do Barroso, Piranga,
Prata, Barra do Bacalhau, Ponte Nova, Ubá, São Caetano, Tapera, Calambau,
Santa Rita do Turvo, Sumidouro, Matias Barbosa, Ouro Preto, Vila de São José,
Lagoa Doirada, Freguesia de São Miguel e Guarapiranga. Nota-se a diversidade de
locais de produção de gêneros nas Minas Gerais, o que permite considerar como
bastante pertinentes os dados presentes nos registros, possibilitando valores
indicativos confiáveis acerca da diversidade da produção agropecuária mineira. No
primeiro trimestre deste ano de 1825 observa-se a presença do gado vacum, do
toucinho, dos produtos manufaturados do algodão e do fumo, que aparece nos
registros, perfazendo o total de oito arrobas oriundas de São João Batista do
Presídio, sem destino final mencionado; e três arrobas provenientes de Barbacena e
conduzidas para a Vila de São Salvador.
Embora a diversidade de gêneros registrados, a poaia ainda não aprece
neste conjunto, que reflete com mais nitidez o quadro geral da produção agrícola da
região leste de Minas Gerais durante a segunda década do século XIX. Todavia, o
surgimento de novos produtos como o sabão, o azeite de mamona e as galinhas não
ofuscam a prevalência de grande quantidade de toucinho, perfazendo 1389 arrobas
ao longo do ano e dos dois mil novecentos e cinquenta queijos no mesmo período.
Quanto à produção do fumo, é importante ressaltar que nos registros não há
142
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar
[Janeiro, Fevereiro e Março de 1825] Vol.: 743, Rolo: 51.
143
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:
742, Rolo: 51.
79
uniformidade quanto a unidade de quantificação deste produto, sendo que o
registrador mencionava por vezes o valor em arrobas, ora em rolos ou ainda as duas
formas. A partir dos registros do fumo em que aparece a quantidade em rolos e
arroba, foi realizada uma tentativa de padronizar a relação arroba/rolo de fumo,
entretanto, observou-se que não é possível estabelecer uma razão do tipo “x rolos
corresponde a y arrobas”, pois os rolos de fumo eram de formato muito variável não
comportando nenhuma padronização. Foram observadas as seguintes proporções:
Variação na apresentação das unidades de medida do fumo: rolo x arroba
18 rolos
36 arrobas
16 rolos
32 arrobas
05 rolos
04 arrobas
08 rolos
16 arrobas
Tabela 5: Relação das unidades de medida do fumo.
Fonte: Livro de Registro de Exportação da Barra do Pomba. Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
A produção total do ano de 1825 apresenta-se expressa a seguir:
Síntese dos valores dos produtos exportados ao longo do ano de 1825
Produto
Quantidade
Fumo
98 arrobas + 63 rolos
Gado
1548 cabeças
Toucinho
1389 arrobas
Algodão tecido
10362 varas
Mantas
56 unidades
Queijos
2950 unidades
Colchas
69 unidades
Capados (porcos cevados)
02
Marmelada
43 arrobas
Galinhas
67 unidades
Sabão em barra
02 arrobas
Azeite de mamona
10 barris
Tabela 6: Produtos exportados ao longo do ano de 1825.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Neste momento é imprescindível observar que a produção do café no leste
mineiro era bastante modesta, estando presente nos registros que a produção de
80
café para o terceiro trimestre de 1826 consistiu em 16 arrobas.144 Entretanto, essa
quantia se refere ao café assentado nos registros, o que pode ser diferente da
produção real, visto que o corpus documental consultado não permite maiores
inferências sobre a produção do café. Outra notícia sobre a cafeicultura na região
encontra-se no trecho a seguir, fazendo referência a uma localidade conhecida “...
por outro nome Chipotó Novo, e porque estas posses se acham cultivadas com
capoeiras, árvores de espinho, quatrocentos pés de café, monjolos, pedras de
moinho e outras coisas concernentes à cultura...”145. Esta localidade corresponde a
atual Cipotânea, município da Zona da Mata Mineira. Denominada São Caetano do
Xopotó, ou Xopotó, teve sua Capela elevada a Freguesia em 1857, desmembrandose da Freguesia de Guarapiranga, da qual era filial desde 1757.146 O registro do café
e do algodão junto aos registros de passagem faz referência a Provisão da Junta da
Fazenda de 11 de novembro de 1825, que institui a necessidade de apresentar as
guias de exportação do café e do algodão quando da passagem destes gêneros
pelo Registro do Pomba.147 Quanto ao café, observamos pelo documento acima que
uma pequena quantidade foi declarada ao deixar a província de Minas Gerais,
saindo da Freguesia de São Miguel em direção a Vila de São Salvador. Quanto ao
algodão em rama não foram encontrados registros. Este produto saía da província
sob a forma de tecido, como pode ser observado nos registros em que aparece
citado como algodão tecido, consistindo em uma referência clara aos processos de
manufatura algodoeira presentes nas Minas oitocentistas.
Entretanto, a manufatura do algodão em Minas não produzia tecidos
refinados, sendo destinada a usos rústicos e a vestimentas de escravos. Sobre a
manufatura de algodão no Brasil cabe ressaltar que antecede expressivamente o
144
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1825,
Vol.:735, Rolo: 51.
145
Arquivo Público Mineiro: PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828). “Sobre o desvio de terras dos índios para
sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos índios coroados e coropós escrito por
Guido Thomaz Marlière a José Gomes de Melo.
146
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Cipotânea. In: ______. Dicionário Histórico-Geográfico de
Minas Gerais. Belo Horizonte – Rio de Janeiro. Editora Itatiaia, 1995. p. 88.
147
RESTITUTTI, Cristiano Corte. Elementos da fiscalidade de Minas Gerais provincial. Almanaque
Braziliense,
São Paulo,
n. 10, nov.
2009 .
Disponível em <
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180881392009001000007&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 21/04/2012.
81
recorte cronológico desta pesquisa visto que no final do século XVIII foi publicado o
Alvará de D. Maria I proibindo a manufatura no Brasil:
...sendo-me presente o grande numero de Fabricas, e
Manufacturas que de alguns annos a esta parte se tem difundido em
diferentes Capitanias do Brazil, com grave prejuizo da Cultura, e da
Lavoura, e da exploração das Terras Minaraes daquele vasto
Continente; porque havendo nele huma grande, e conhecida falta de
População, he evidente que quanto mais se multiplicar o numero de
Fabricantes, mais diminuirá o de Cultivadores; e menos Braços
haverá que se possão empregar no discobrimento, e rompimento de
huma grande parte daqueles extenços Domínios que ainda se acha
inculta e desconhecida... [...] ... Hey por bem ordenar, que todas as
Fabricas – Manufacturas, ou Teares de Galoens, de Tecidos, ou de
Bordados de Ouro, e Prata: De Veludos, Brilhantes, Setins, Tafetás,
ou de outra qualquer qualidade de Seda. De Belbutes, Chitas,
Bombazinas, Fustoens, ou de outra qualquer qualidade de Fazenda
de Algodao, ou de Linho, branco ou de côres: E de Panos, Baetas,
Droguetes, Saetas, ou de outra qualquer qualidade de Tecidos de
Lãa ou os ditos Tecidos sejao fabricados de hum só dos referidos
Generos, ou misturados, e tecidos huns com os outros, excetuando
tão somente aqueles dos ditos Teares, e Manufacturas em que se
tecem , ou manufacturão Fazendas grossas de Algodão, que servem
para o uso e vestuário dos negros, para enfardar e empacotar
Fazendas, e para outros ministeres similhantes; todas as mais sejao
extinctas , e abolidas em qualquer parte onde se acharem nos Meus
Domínios do Brazil...148
Conforme explicitado na fonte, é perceptível a interferência da corte
portuguesa no sentido de impedir o surgimento de indústrias no Brasil que
pudessem alterar a lógica mercantil de fornecimento de matérias primas para a
metrópole e consumo de manufaturados procedidos da Europa. Entretanto, esta
determinação cai por terra com a publicação do Alvará de 1 o de Abril de 1808
quando o príncipe regente determina a revogação do disposto no texto do Alvará de
1785, por meio do qual fora proibida a instalação de fabricas na colônia:
Eu o Principe Regente faço saber aos que o presente Alvará virem:
que desejando promover e adiantar a riqueza nacional, e sendo um dos
mananciaes della as manufacturas e a industria que multiplicam e melhoram
e dão mais valor aos generos e productos da agricultura e das artes e
augmentam a população dando que fazer a muitos braços e fornecendo
meios de subsistencia a muitos dos meus vassallos, que por falta delles se
entregariam aos vicios da ociosidade: e convindo remover todos os
obstaculos que podem inutilisar e frustrar tão vantajosos proveitos: sou
148
BIBLIOTECA Nacional “Alvará régio proibindo no Brasil todas as fábricas e manufaturas de ouro,
prata, sedas, algodão, linho e lã, só permitindo as de fazenda grossa de algodão”. Disponível em: <
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1289262/mss1289262.pdf > Acesso em:
17/06/2011.
82
servido abolir e revogar toda e qualquer prohibição que haja a este respeito
no Estado do Brazil e nos meus Dominios Ultramarinos e ordenar que daqui
em diante seja licito a qualquer dos meus vassallos, qualquer que seja o
Paiz em que habitem, estabelecer todo o genero de manufacturas, sem
exceptuar alguma, fazendo os seus trabalhos em pequeno, ou em grande,
como entenderem que mais lhes convem; para o que hei por bem derogar o
Alvará de 5 de Janeiro de 1785 e quaesquer Leis ou Ordens que o contrario
decidam, como se dellas fizesse expressa e individual menção, sem
embargo da Lei em contrario. Pelo que mando ao Presidente do meu Real
Erario; Governadores e Capitães Generaes, e mais Governadores do
Estado do Brazil e Dominios Ultramarinos; e a todos os Ministros de Justiça
e mais pessoas, a quem o conhecimento deste pertencer, cumpram e
guardem e façam inteiramente cumprir e guardar este meu Alvará, como
nelle se contém, sem embargo de quaesquer Leis, ou disposições em
contrario, as quaes hei por derogadas para este effeito sómente, ficando
aliás sempre em seu vigor. Dado no Palacio do Rio de Janeiro em o 1º de
149
Abril de 1808.
Contudo, ao observar o registro de exportação dos produtos da província de
Minas para as de beira mar percebe-se que os tecidos fabricados nas Minas Gerais
ainda padeciam de simplicidade no processo de fabricação, pois são registrados
como “algodão tecido”, “mantas” e o “riscado”150. A ausência de tecidos finos nos
registros de exportação indica que a despeito da revogação do alvará de 1785 a
manufatura de tecidos nas minas gerais não conheceu grande desenvolvimento, o
que está relacionado com a abertura dos portos em 1808, que permitiu a entrada de
tecidos comercializados pelos ingleses no Brasil. Estes tecidos, de qualidade
superior, contribuíram para estagnar a manufatura do tecido de algodão nacional.
Quanto aos registros do ano de 1826 é possível observar que a produção de
tecido passou por expressivo aumento, uma vez que são cada vez mais freqüentes
nos registros a declaração de tecidos de algodão. Para o ano de 1826151observa-se
uma variedade de produtos um pouco menor em relação ao ano anterior, embora
ainda não esteja mencionada neste ano a poaia. Em 1826, foram registrados apenas
o toucinho, gado vacum, capados em pé, algodão, queijos e fumo. A síntese anual
dos produtos indica os seguintes valores:
149
o
Alvará de 1 de Abril de 1808. “Alvará por que Vossa Alteza Real é servido revogar toda a
prohibição que havia de fabricas e manufaturas no Estado do Brazil e Dominios Ultramarinos...”
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm > Acesso em 20
março 2012.
150
Riscado adj. 3 TÊXT Adornado com riscos (diz-se do tecido) (...) s.m. 6 Tecido barato de algodão
com riscos coloridos, riscadinho. HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Riscado. In: ______.
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. p. 2462.
151
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.:
741, Rolo: 51.
83
Produtos exportados durante o ano de 1826
Produtos
Quantidade
Capados em pé
177 unidades
Toucinho
1553 arrobas
Gado vacum
1633 cabeças
Algodão tecido
9954 varas
Queijos
810 unidades
Fumo
119,5 arrobas
Tabela 7: Produtos exportados ao longo do ano de 1826.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa
O ano de 1827152 apresenta alguns dados de extrema relevância para a
pesquisa em curso: observa-se o registro relativo à poaia exportada, possibilitando
evidenciar a quantidade registrada ao longo do ano. Nos dados relativos a este
período é possível encontrar mudanças e permanências em relação ao descrito para
as tabelas anteriores. Como permanências são consideradas as reincidências dos
produtos já presentes em registros anteriores e como mudança (a inserção de novo
produto) percebe-se a presença da poaia. No ano de 1827 foram exportados para o
Rio de Janeiro os seguintes produtos: gado, toucinho, fumo, algodão tecido, poaia,
queijo e marmelada. O gado registrado é transportado na forma de rebanhos, sendo
o único produto que não sofreu beneficiamento. Os demais constituem derivados
produzidos por intervenção da atividade humana sobre a natureza, variando o grau
de sofisticação do beneficiamento, que atinge a sua expressão máxima no algodão
tecido, que continua sendo produzido em quantidade significativa, em relação aos
anos anteriores. Os demais como toucinho, queijo, marmelada, poaia e fumo foram
submetidos
a
processamentos
elementares,
mas
que
denotam
atividade
manufatureira, ainda que rudimentar.
Partindo da poaia, cuja exportação total durante o ano de 1827 consistiu em
63 arrobas, percebe-se que este valor constitui aproximadamente 2,8% em relação
as 2258 arrobas de toucinho. Quanto a essa diferença, há que ressaltar a
especificidade de cada produto, sendo esta comparação apenas para efeito
indicativo. Vale lembrar que a suinocultura tratava-se de atividade comum e
152
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.:
740, Rolo: 51.
84
realizada nas fazendas sob controle dos produtores e a poaia tratava-se de um
produto resultado de uma prática extrativista, ou seja, que se apropriava do vegetal
in natura, sem realizar nenhum procedimento agrícola para aumentar a sua
produção. Tal aspecto reforça o caráter transitório da atividade de coleta da poaia,
refletindo apenas a apropriação de um recurso natural oferecido pelas florestas
antes de se tornarem terras agricultáveis após as queimadas. Não foi encontrado
nas fontes nenhum elemento que demonstrasse alguma forma de racionalidade na
exploração da poaia ou tentativa de domesticação da planta. Vale lembrar que a
comparação da poaia com outros produtos tão distintos visa dimensionar sua
quantidade em relação aos produtos exportados. Quanto ao critério para a escolha
de alguns produtos para comparação e exclusão de outros, deve-se levar em conta
que a comparação só pode ser feita a partir de um critério em comum aos elementos
do conjunto, e, neste caso, foi tomado como critério a unidade de medida, ou seja, a
arroba. No caso do gado, do tecido de algodão e dos queijos, estes não serão
comparados, pois estão quantificados em unidades e em vara, que é uma unidade
de medida de comprimento, que equivale a aproximadamente 1,10 metros. Ao longo
do ano de 1827 foram exportadas 1527 cabeças de gado vacum, 2486 varas de
algodão tecido e 600 unidades de queijos. Quanto aos demais produtos segue-se a
relação:
Ano de 1827
Produto
Arrobas % poaia em relação a:
Poaia
63
Poaia 100%
Fumo
282
Fumo 22,3%
Marmelada
15
Marmelada 420%
Toucinho
2258
Toucinho 2,8%
Tabela 8: Produtos exportados ao longo do ano de 1827.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
O ano de 1828153 apresenta como de maior volume de exportação o toucinho,
o algodão tecido e o gado vacum. Além destes produtos encontram-se fumo,
queijos, poaia, cavalos, marmelada, galinhas e chicotes. Estes, obtidos a partir da
manufatura de couro indica o aproveitamento do couro de animais abatidos no
interior da Província de Minas Gerais que atendia ao consumo próprio, visto que a
153
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba. Ano: 1828, Vol.
738, Rolo: 51.
85
carne bovina não aparece junto aos produtos constantes nos registros de
exportação. Destaca-se para o ano de 1828 a quantidade de poaia, situada na
ordem de 88 arrobas, sendo o ano mais representativo de todo o período analisado.
Analiticamente, observa-se a seguinte quantidade anual de gêneros exportados:
Gêneros exportados ao longo do ano de 1828
Produto
Quantidade
Toucinho
1751 arrobas
Fumo
159 arrobas
Queijos
1930 unidades
Algodão tecido
4131 varas
Gado vacum
2138 cabeças
Poaia
88 arrobas
Cavalos
16 cabeças
Marmelada
38 arrobas
Galinhas
280 unidades
Chicotes
480 unidades
Tabela 9: Produtos exportados ao longo do ano de 1828.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Obtidos os valores para todos os produtos, conclui-se que a exportação de
poaia representou em relação aos demais produtos, os seguintes percentuais:
Ano de 1828
Produto
Arrobas
% poaia em relação a:
Poaia
88
100%
Fumo
159
55,34%
Toucinho
1751
5,02%
Marmelada
38
231,6%
Tabela 10: Percentual de poaia exportada em relação a outros produtos no ano de 1828.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Para os anos de 1829154, 1830155 e 1832156, observa-se as tabelas
apresentadas a seguir, nas quais pode-se constatar a tendência apontada para os
154
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1829, Vol.
736, Rolo 51.
155
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol.
739, Rolo: 51.
86
anos precedentes, nos quais predomina a grande quantidade de toucinho e gado
vacum, seguida pela redução da quantidade de poaia exportada, que corresponde a
07 arrobas para o ano de 1829, 15 arrobas para o ano de 1830 e 6,5 arrobas para o
ano de 1832. Outros produtos como azeite de mamona, freios, chicotes, meias e
cobertas de algodão são mencionados em pequenas quantidades. A síntese anual
contudo, pode ser expressa da seguinte forma:
Exportação de gêneros relativos ao ano de 1829, 1830 e 1832.
Produto
Quantidades / 1829
Quantidades / 1830
Quantidades / 1832
Toucinho
2041 arrobas
2051 arrobas
566 arrobas
Queijos
1020 unidades
800 unidades
300 unidades
Gado vacum
1284 cabeças
1475 cabeças
1089 cabeças
Fumo
24 arrobas
04 arrobas/24 rolos
------
Algodão
600 varas
5000 varas
2500 varas
Chicotes
1800 unidades
-------
-------
Marmelada
06 arrobas
80 arrobas
------
Cavalos
--------
09 cabeças
46 cabeças
Meias
-------
25 unidades
-------
Galinhas
-------
50 unidades
-------
Freios
30 unidades
-------
-------
Cobertores
--------
-------
50 unidades
Azeite de mamona
02 barris
-------
-------
Poaia
07 arrobas
15 arrobas
06,5 arrobas
Tabela 11: Produtos exportados ao longo do ano de 1829, 1830 e 1832.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Quanto a relação percentual da poaia para com os demais produtos obtevese o seguinte quadro comparativo:
Ano de 1829
156
Produto
Arroba
% poaia em relação a:
Poaia
07
100 %
Marmelada
06
116,7 %
Fumo
24
29,2 %
Toucinho
2041
0,35 %
CASA DOS CONTOS – Ciclo de Estudos do Ciclo do Ouro: Barra do Pomba, Ano: 1832, Vol. 737,
Rolo 51.
87
Ano de 1830
Poaia
15
100%
Toucinho
2051
0,73 %
Marmelada
80
18, 75 %
Ano de 1832
Poaia
06,5
100 %
Toucinho
600
1,15 %
Tabela 12: Percentuais de exportação de poaia em relação a outros produtos durante os anos
de 1829, 1830 e 1832.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa
Pensar a economia da poaia sob uma perspectiva comparada sugere o ponto
de partida desta análise no que tange ao entendimento da economia mineira para o
período: este estudo se insere em uma tendência historiográfica que refuta a idéia
da decadência pós-mineração, visto que esta persiste até a contemporaneidade,
ainda que voltada para minérios menos preciosos que o ouro, e valoriza a
diversidade econômica e agrícola das minas oitocentistas.157Assim, considera-se
que a economia extrativa da poaia insere-se em um quadro de diversificação, em
que
... setores como agricultura, pecuária, comércio e serviços
sustentaram boa parte das localidades no período. Em algumas
regiões, houve especialização da produção, como no caso do café e
do algodão, por exemplo. Em outras áreas, as atividades se
complementaram ou coexistiram, constituindo fontes de sólidas
fortunas. Em grande parte da província, entretanto, sobretudo nas
pequenas e médias unidades rurais, produziu-se para o
autoconsumo,
comercializando-se,
eventualmente,
o
que
excedesse.158
A diversificação econômica presente no leste das minas oitocentistas
configura-se como parte da “... economia autonomizada do século XIX, [na qual] o
mercado, a produção e a distribuição de bens se efetuam através de um sistema de
157
PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]. In: GRINBERG,
Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume 1: 1808 – 1831. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2009. p. 271 – 308.
158
PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]... p. 294.
88
preços, determinado pelas leis de oferta, demanda e motivadas pelo lucro”. 159Assim
sendo, a economia extrativa da poaia constitui uma estratégia de apropriação do
mundo natural e sua transformação em recurso econômico, visto que a
comercialização da ipecacuanha tornou-se, desde a sua inserção nas práticas
curativas da época, uma atividade expressiva. Esta consideração parte do
pressuposto de que os sujeitos envolvidos neste processo, índios ou comerciantes,
conseguiram manipular os recursos a sua disposição em busca das melhores
recompensas possíveis, dentro das limitadas margens de flexibilidade a que
estavam submetidos.
Para traçar um plano geral a partir da documentação consultada, apresentase como encerramento, uma análise baseada em um processo de quantificação e
comparação, em que a identificação da quantidade de poaia exportada é realizada a
partir da comparação com outros produtos. Para tanto, observa-se a descrição
sumária de todos os produtos em função do tempo, no qual são considerados os
anos de 1824 até 1830 e 1832.
Quantidade em arrobas anuais
Poaia (arrobas)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Poaia (arrobas)
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1832
0
0
0
63
88
7
15
6,5
Tabela 13: Gráfico representativo da exportação de poaia ao longo do período compreendido
entre os anos de 1824 e 1832.
Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro.
Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
159
DELGADO, Ignácio Godinho. Poder, Mercado e Trabalho. In: ALMEIDA, Carla Maria Carvalho de;
OLIVEIRA, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: Alternativas metodológicas para a História
Econômica e Social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p. 20.
Toucinho (arrobas)
Marmelada (arrobas)
Queijos (unidade)
Gado vacum (cabeças)
(* bois carreiros)
Algodão (varas)
Poaia (arrobas)
Fumo (*arrobas; ** rolos)
Mantas (unidade)
Colchas (unidade)
Capados em pé
Galinhas
Sabão em barra (arrobas)
Azeite de mamona (barris)
Cavalos (unidades)
Chicotes
Freios
Meias
Cobertores de algodão
Café (arrobas)
Produtos
↓
Produtos exportados através do Registro da Barra do Pomba entre 1824 e 1832
1824
1340
50
700
408
300
0
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
1825
1389
43
2950
1548
10362
0
116,5*
63**
56
69
02
67
02
10
---
---
---
---
---
---
1826
1553
---
810
1633
9954
0
119,5*
29**
---
---
177
---
---
---
---
---
---
---
---
16
1827
2258
15
600
1527
2486
63
282*
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
---
1828
1829
1741
2041
38
06
1930
1020
2138
1284
4131
600
88
07
159*
24*
-----
-----
-----
280
---
-----
--02
16
---
480
1800
--30
-----
-----
-----
1830
2051
80
800
1470
05*
5000
15
04*
24**
---
---
---
50
---
---
09
---
---
25
---
---
1832
566
---
300
1089
2500
06,5
---
---
---
---
---
---
---
46
---
---
---
50
---
Ano
↓
Tabela 14: Quadro demonstrativo de todos os produtos exportados ao longo do período compreendido entre 1824 e 1832. Fonte: Registro da
Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
Ao término da análise dos dados levantados para o período de 1824 a 1830 e
1832, pode-se inferir que a poaia consistia em uma atividade de apropriação
econômica do espaço de floresta em um período que antecede o desenvolvimento
da cafeicultura no leste de Minas Gerais. Devido aos dados obtidos é possível
perceber que a economia extrativa da poaia não estava condicionada as demais
atividades agropecuárias, apresentando ainda caráter transitório, visto que estava
baseada em um processo de coleta em um ambiente natural que se tornava cada
vez mais reduzido, a medida que as fronteiras agrícolas avançavam sobre as áreas
de florestas. Não foi encontrada ao longo da pesquisa nenhuma fonte que informava
sobre a passagem de uma economia extrativa para uma economia agrícola, no que
tange a ipecacuanha, visto que a proposta de Bernardino Antonio Gomes,
apresentada em sua memória de 1801, de cultivar a ipecacuanha com vistas ao
potencial comercial da planta não se verificou. Como não foi possível mensurar a
divulgação da obra, não é possível afirmar se os agentes envolvidos no comércio da
poaia desconheciam ou não a proposta de cultivo.
91
5 – Considerações finais
No decorrer desta dissertação foram realizadas pesquisas em fontes diversas,
componentes de um acervo bastante fragmentado e heterogêneo, com vistas a
reconstrução de um processo histórico aqui denominado como “economia extrativa
da poaia”. Ao término da pesquisa tornou-se possível com base em pesquisa
empírica o levantamento e sistematização de informações que permitiram realizar
algumas inferências sobre o processo histórico em tela. A primeira delas, de caráter
geral, diz respeito ao fato de que a economia extrativa da poaia foi, de fato, mais
abrangente e significativa que a importância a ela atribuída pelos autores que já
haviam feito referência a mesma em seus trabalhos. Neste sentido, esta pesquisa
contribuiu para, em composição com o trabalho de Antônio Henrique Duarte
Lacerda, dimensionar a comercialização da poaia como uma atividade geradora de
riqueza em âmbito mais abrangente, visto que o autor mencionado demonstra que a
poaia contribuiu para constituição da riqueza da família Armonde, conforme já
discutido anteriormente na revisão bibliográfica.
Para se chegar a esta constatação, que de certa forma fazia parte dos
objetivos do trabalho, visto que correspondia a uma lacuna historiográfica sobre um
tema marginal da economia mineira, foi adotada uma ordem de apresentação textual
que reflete o objetivo do trabalho. Essa ordem consiste em uma disposição que
tende a demonstrar a importância da poaia enquanto produto comercial que
desfrutava de prestígio em sua época, seja pelas divisas geradas aos comerciantes
quanto pela satisfação do consumidor final. Observa-se que esta formatação do
texto resultante da pesquisa garantiu a inteligibilidade do escrito, refletindo em
estratégia de organização.
A organização textual comporta elementos informativos cujo objetivo consiste
em uma caracterização do objeto de estudo e sua situação em relação ao tempo e o
ao espaço, bem como sua presença na historiografia e, portanto a justificativa do
tema a partir da identificação da lacuna historiográfica que esta dissertação pretende
minimizar, pelo menos em relação à primeira metade do século XIX. A poaia era
conhecida antes, contando com referências desde o século XVII e permanece como
92
importante produto, cuja aplicação medicinal continua atual. Foi feito o uso de
recursos imagéticos com vistas à apresentação da identidade visual da poaia a partir
de fontes do período estudado, bem como o uso de dicionários de época em busca
das definições construídas ao longo do tempo sobre o tema.
Fontes “médicas” possibilitaram obter referências ao uso farmacológico da
poaia e suas formas de aplicação medicamentosa, inventariar, a partir de conjunto
documental diversificado, as práticas em cuidados como a saúde e relatos de casos
clínicos. Estas fontes foram de extrema importância para apresentar a dimensão
internacional da comercialização da poaia, visto que foram produzidas em espaços
geográficos que transcendem as fronteiras políticas do Brasil, informando sobre o
uso da poaia na Europa (por exemplo em Portugal e Inglaterra) e nos Estados
Unidos da América. Ao demonstrar que a utilização desta planta não se restringia ao
Brasil, tornou-se possível pensar a economia extrativa da poaia como parte de uma
cadeia de mercadorias cuja abrangência compreendia o espaço intercontinental.
Prosseguiu-se a compreensão da economia extrativa da poaia dentro de um
contexto de prática comercial envolvendo as Províncias de Minas Gerais, Espírito
Santo e Rio de Janeiro. Identificou-se que a economia extrativa da poaia era uma
atividade que envolvia predominantemente os indígenas em contato com os
colonizadores e que a utilização do trabalho indígena para a sua coleta se dava pelo
fato que estes agentes detinham o conhecimento necessário para a identificação
das plantas no espaço florestal. A economia extrativa da poaia consistiu em uma
forma de apropriação dos recursos florestais disponíveis em uma área de expansão
de fronteiras agrícolas em época na qual a cafeicultura não havia se consolidado na
região. Percebeu-se também que a lógica da extração da poaia não comportava
sistematização da produção agrícola em função da natureza da atividade. Como
tratava-se
da
apropriação
de
um
recurso
oferecido
pela
natureza,
sua
disponibilidade estava relacionada com a ocorrência natural e com a existência de
um ambiente propício. Portanto, com o avanço das fronteiras agrícolas a economia
extrativa da poaia tendia a recuar, em decorrência do desmatamento e da inserção
de novas culturas agrícolas no ambiente original de floresta. A comercialização da
poaia foi identificada como componente de um conjunto de produtos comercializados
sob uma perspectiva de deslocamento, ou migração, de espécimes vegetais e
93
animais, visando à aproximação do objetivo final: a análise comparativa entre a
poaia comercializada e demais produtos. Também foi realizado estudo sobre os
sujeitos históricos, identificados como componentes de uma fronteira colonial, na
qual se desenvolveram relações tensas marcantes das áreas de expansão territorial,
enfatizando a predominância das relações de coerção, ainda que em alguns casos
tenham sido observadas estratégias de apropriação de recursos disponíveis pelos
agentes situados em posição hierárquica desfavorável.
Demonstrou-se, por meio da quantificação da poaia exportada, que a sua
extração consistia em uma atividade componente da diversidade da economia
mineira e que a sua comercialização era realizada juntamente com outros produtos
conduzidos pelos tropeiros. Observou-se que a quantidade total de poaia quando
comparada com produtos como o toucinho, não apresentou grande expressividade,
mas quando observada em relação aos produtos de origem vegetal assumiu
proporções significativas. Em suma, observa-se no gráfico a seguir a síntese do
processo de comercialização da poaia, em arrobas, comparativamente a outros
produtos em função do tempo:
Poaia x Fumo x Marmelada
Quantificaçao em arrobas
300
250
200
150
100
50
0
1824
1825
1826
1827
1828
1829
1830
1832
Poaia (arrobas)
0
0
0
63
88
7
15
6,5
Fumo (arrobas)
0
116,5
119,5
282
159
24
4
0
Marmelada (arrobas)
50
43
0
15
38
6
80
0
Tabela 15: Quadro comparativo entre a exportação de poaia, fumo e marmelada no período
compreendido entre 1824 e 1832. Fonte: Registro da Barra do Pomba, CASA DOS CONTOS –
Centro de Estudos do Ciclo do Ouro. Autoria: Márcio Xavier Corrêa.
94
6 – Fontes consultadas
ABEL, Clarke. Narrative of a Journey in the interior of China. London: Longman,
Hurst, Rees, Orme, and Brown, Paternoster-Raw. 1818. 420p.
ACERVO PARTICULAR DA FAZENDA SANTA SOFIA. Correspondência recebida
por Marcelino José Ferreira Armonde de Maximiano José Pereira, 01 de dezembro
de 1824; Correspondência expedida por Honório José Ferreira Armonde para
Manoel de Barros Araújo, 15 março de 1826. Apud Lacerda, Antônio Henrique
Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e redes de sociabilidades nas
Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850). 2010. 2 v. ; il. Tese
(Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro,
2010. p. 323-4.
ALVARÁ de 1o de Abril de 1808. “Alvará por que Vossa Alteza Real é servido
revogar toda a prohibição que havia de fabricas e manufaturas no Estado do Brazil e
Dominios Ultramarinos...” Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_22/alvara_2.4.htm > Acesso em 20
de março 2012.
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: SP – PP 1/6 Cx. 01; Doc. No 18 (1829/10/29):
“Tabela demonstrativa da exportação que fez o ano de 1828 a província de minas
gerais para as províncias limítrofes...”
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: PP ¼ Cx. 01 (24/04/1828): “Sobre o desvio de
terras dos índios para sesmarias; Pedido de restituição de terras usurpadas aos
índios coroados e coropós escrito por Guido Thomaz Marlière a José Gomes de
Melo”.
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO = OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5.
BUCHAM, Guilherme. Medicina Domestica ou Tratado Completo dos meios de
conservar a saúde e de curar, e precaver as enfermidades por via o regime, e
remédios simples. Obra útil, e acomodada a capacidade de todas as pessoas de
qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham Medico do Real Colégio
de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo Doutor
Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas do
Tradutor Francês, o Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia
Rollandiana, 1791. Os trechos relativos a aplicação médica da poaia encontram-se
transcritas em anexo.
ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO: CGP 1/1, Cx. 01 (1829/01/27): “Extrato de um ofício
do Coronel Guido Thomaz Marlière datado de 07 de Janeiro de 1829”.
BEAUCHAMP, Affonso de. Historia do Brasil: desde a sua descuberta ate 1810.
Tradução de Padre Ignácio Felizardo Fortes. Rio de Janeiro: Imprensa Régia, 1818.
95
BIBLIOTECA NACIONAL: “Alvará régio proibindo no Brasil todas as fábricas e
manufaturas de ouro, prata, sedas, algodão, linho e lã, só permitindo as de fazenda
grossa de algodão”. Disponível em: <
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_manuscritos/mss1289262/mss1289262.pdf >
Acesso em: 17/06/2011
BIBLIOTECA NACIONAL: Mapa topografico e idrografico da capitania de Minas
Geraes : toda esta capitania he coberta de mattas e só nas comarcas do Rio das
Mortes, Sabará e Serro tem manxas de Campo. [17--] 1 mapa ms : : col. ; : 74,5 x
67,5cm em f. 77,5 x 68,8cm. Disponível em <
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart543208.jpg > Acesso em:
14/06/2011.
BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino: aulico, anatomico,
architectonico ... Coimbra: Collegio das Artes da Companhia de Jesu, 1712 - 1728. 8
v. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asp > Acesso em: 26 de junho
2011.
CAMARGO, Querubim Modesto Pires. Da coqueluche, suas causas, sede,
signaes, diagnóstico, prognóstico e tratamento. 1858. 15 f. Tese (Doutorado em
Medicina) - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1858.
Cabral, Vicente Jorge Dias. Coleção das observações dos produtos naturais do
Piauí ao Ilmo e Exmo Sor. D. Diogo de Souza, [governador] e capitão general
do Maranhão. 1800 – 1801. Manuscrito da Biblioteca Nacional. 311p.
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan set], Vol.: 744, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1824/Out. Vol.: 743, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar [Janeiro, Fevereiro e Março
de 1825] Vol.: 743, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.: 742, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:735, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.: 741, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.: 740, Rolo: 51
96
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1828, Vol.: 738, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1829, vol. 736, rolo 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol.: 739, Rolo: 51
CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro: Livro de Registro de
Saída de Gêneros de Barra do Pomba, Ano: 1832, vol. 737, rolo 51.
CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Dicionário de Medicina Popular. Paris: A.
Roger & F. CHERNOVIZ Editora, 1890. Disponível em <
http://www.ieb.usp.br/online/dicionarios/Medico/imgDicionario.asp?varqImg=1509&vp
lChave=ipecacuanha > Acesso em 27/04/2008.
FARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMINIOS DE PORTUGAL. Tomos I e
II. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1794.
FREIRE, José Joaquim, 1760-1847. [Cipó]. - [17--]. 01 desenho: aquarela, col. :
imagem 26,5x17,0cm em f.34,5x24,0cm. Disponível em: <
http://bndigital.bn.br/scripts/odwp032k.dll?t=nav&pr=fbn_dig_pr&db=fbn_dig&use=cs
0&rn=1&disp=card&sort=off&ss=22815789&arg=cipo > Acesso em: 14/06/2011.
GOMES, Bernardino Antonio. Memoria sobre a Ipecacuanha fusca do Brasil, ou
cipó das nossa boticas. Lisboa: Typographia Chalcographica, Typoplastica, e
Litteraria do Arco do Cego, 1801. [GOMES, Bernardino Antonio. Plantas medicinais
do Brasil. São Paulo: Edusp, 1972 (Brasiliensia Documenta, V), edição fac-simile.]
LINN , Carl v.; WICKMAN, Daniel. Dissertatio botanico-medica de Viola
ipecacuanha... Upsaliae: Typis Edmannianis, [1774].
MUNIZ BARRETO, Domingos Alves Branco. Regras pelas quais se devem estampar
as ervas medicinais e fazer recolher as suas ramas e raízes em tempos próprios,
não só do modo que apontam os melhores autores, mas segundo as reflexões que
tenho feito a este respeito. Série Azul, Ms. 627 da Biblioteca da Academia das
Ciências de Lisboa (BACL). In: ______. O Feliz Clima do Brasil. Rio de Janeiro:
Dantes, 2008. Pag. 205 e 207.
National Archives/Londres/Records of the Boards of Customs, Excise, and
Customs and Excise, and HM Revenue and Customs/Ledgers of Imports and
Exports/CUST 3/18 (1716). Exportação de poaia de Portugal para a Inglaterra no
ano de 1716: 111 libras e 10 shillings. A quantidade exata não pode ser
determinada, pois o documento apresenta apenas os valores a seguir: 446:8.
Agradeço ao Prof. Ângelo Alves Carrara a sugestão desta referência.
97
PAIVA, Manoel Joaquim Henriques de. Farmacopéia Lisbonense. Lisboa: Oficina
de João Procópio Correa da Silva, 1802. pp. 3 – 62.
PHARMACOPÉIA GERAL PARA O REINO E DOMÍNIOS DE PORTUGAL
[publicada por ordem de D. Maria I]. Lisboa: Régia Oficina Tipográfica, 1794.
Psychotria ipecacuanha Müll.Arg. – Flora Brasiliensis. Vol 6 Part 5 p. 341-342 tab.
52. Disponível em <http://florabrasiliensis.cria.org.br/fviewer > Acesso em
22/12/2010.
RELATÓRIOS DO PRESIDENTE DA PROVÍNCIA DO ESPÍRITO SANTO, 1833.
Disponível em: < http://www.crl.edu/pt-br/brazil/provincial/esp%C3%ADrito_santo >;
<http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/u122/ > Acesso em: 08 Jul. 2010.
RESENDE, João Ignácio de Carvalho. Dysenteria. 1874. 28 f. Tese (Doutorado em
Medicina) - Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1874.
Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado,
vol. 10, Fac. III e IV, Jul. A Dez. (1905), 1906. Vol. 10, pag. 383 – 668. Disponível
em:
<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=430&op=1
>. Acesso em 20/05/2010.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, pag. 440-1. (23/01/1823)
“Requerimento enviado ao Imperador por Jozé Lucas Pereira dos Santos solicitando
seja feito Diretor dos Índios Puri”.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 425. (24/04/1822). “Requerimento
enviado por Guido Thomaz Marlière ao Imperador solicitando sejam pagas pelo
Erário Publico as suas gratificações de Major.”
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 443 (07/01/1823). “Ofício enviado
ao Imperador por Guido Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 608 (25/05/1825). “Oficio. Guido
Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 594 (25/04/1825). “Oficio. Guido
Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 595 (25/04/1825). “Oficio. Guido
Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 10, p. 596 (25/04/1825). “Oficio. Guido
Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado,
vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. Pag. 03 – 254. Disponível em:
98
<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=995&op=1
>. Acesso em 20/05/2010.
Revista do Arquivo Público Mineiro... vol. 11, Fasc. I, II. III e IV. 1907. p. 35-6.
(11/06/1825). “Oficio. Guido Thomaz Marlière”.
Revista do Arquivo Público Mineiro. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado.
Vol. 12, 1907/1908. Pag. 409 – 676. Disponível em:
<http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/modules/rapm/brtacervo.php?cid=289&op=1
>. Acesso em 20/05/2010.
Revista do Arquivo Público Mineiro... Vol. 12, 1907/1908. p. 498-510.
(28/01/1828). “Mapa fazendo conhecer os aldeamentos das diferentes tribos de
índios da província de Minas Gerais, seu local, população, aumento ou decadência e
as causas. Quartel geral de Gendorvald, em 28 de janeiro de 1828”.
SAINT – HILAIRE, Auguste de. Plantas usuais dos brasileiros. Belo Horizonte:
Código Comunicação, 2009.
SARMENTO, Jacob de Castro. Pharmacopoeia contracta. Londini: s. e., 1746.
SILVA, Antonio de Moraes. Diccionario da língua portugueza – recopilado dos
vocabulários impressos até agora, e nesta segunda edição novamente emendado e
muito acrescentado, por Antonio de Moraes Silva. Lisboa: Typographia Lacerdina,
1813. Vol. II, p. 180. Disponível em: < http://www.ieb.usp.br/online/index.asP >.
Acesso em: 13 de março 2010.
SPIX, Johann Baptist von. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Trad. de Lúcia Furquim
Lahmeyer. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1981. v. 1.
TEODORO, João José da Silva. Relatório para a Presidência da Província. Ouro
Preto, Tip. do Eco de Minas, 1847.[Arquivo Nacional. Mapa proveniência
desconhecida, F2/MAP 04].
WOODHULL, Alfred A. Studies, Chiefly Clinical in the Non-Emetic use of
Ipecacuanha: with a contribution to the therapeusis of cholera. Philadelphia, USA: J.
B. Lippincott & Co. 1876.
WOODVILLE, William. Medical Botany. 2 ed. London: Printed and Sold by William
Phillips, George Yard Lombard Street. 1810. Vol. I.
99
7 – Bibliografia
ABREU, Capistrano. Capítulos de História Colonial: 1500 – 1800. Brasília:
Conselho Editorial do Senado Federal, 1998.
AGUIAR, José Otávio. Legislação indigenista e os ecos autoritários da “Marselhesa”:
Guido Thomaz Marliére e a colonização dos sertões do Rio Doce. Projeto História,
São Paulo, n.33, p. 83-96, dez. 2006.
AGUIAR, José Otávio. Memórias e Histórias de Guido Thomaz Marliere (1808 –
1836) – A transferência da Corte Portuguesa e a tortuosa trajetória de um
Revolucionário Francês no Brasil. Campina Grande: EDUFCG, 2008.
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Metamorfoses indígenas: identidade e
cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2003.
ANDRADE, Francisco Eduardo de. Entre a Roça e o Engenho: roceiros e
fazendeiros em Minas Gerais na primeira metade do século XIX. Viçosa, Minas
Gerais: Editora UFV, 2008.
ASSIS, Marta Camargo de; GIULIETTI, Ana Maria. Diferenciação morfológica e
anatômica em populações de “ipecacuanha” - Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes
(Rubiaceae). Revista brasileira de Botânica, São Paulo, v.22, n.2, p.205-216, ago.
1999.
AZEM, MARINA. Viagem filosófica às doenças e curas em Mato Grosso no
século XVIII: os relatos do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira. 2006.
Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) Universidade Federal de Mato Grosso.
2006.
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico-Geográfico de Minas
Gerais. Belo Horizonte – Rio de Janeiro. Editora Itatiaia, 1995.
BASTOS, J. T. da Silva. Diccionario Etymologico, Prosodico, Orthographico da
Lingua Portugueza. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira Editora, 1912.
BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas medicinais da Estrada Real. Belo
Horizonte: Editora O Lutador, 2008.
BRANDÃO, Maria das Graças Lins. Plantas úteis de Minas Gerais na obra dos
naturalistas. Belo Horizonte: Código Comunicação, 2010.
CABRAL, Diogo de Carvalho. Substantivismo econômico e história florestal da
America portuguesa. Vária Historia, Belo Horizonte, vol. 24, n. 39, pag. 113 – 133,
jan/jun 2008.
100
CARRARA, Ângelo Alves. Fiscalidade e estruturas agrárias: Ilhéus, Porto Seguro e
Espírito Santo, Séculos XVII – XVIII. In: CARRARA, Ângelo Alves; DIAS, Marcelo
Henrique (Orgs). Um lugar na historia: a capitania e comarca de Ilhéus antes do
cacau. Ilhéus: Editus, 2007. p. 15-46.
CERUTTI, Simona. Processo e experiência: indivíduos, grupos e identidades em
Turim no século XVII. In: REVEL, Jacques (org.). Jogos de Escalas. Rio de Janeiro:
FGV, 1998.
COSTA, Antônio Gilberto Costa (org.). Cartografia da conquista do território das
Minas. Belo Horizonte: Editora da UFMG; Lisboa: Kapa Editorial, 2004.
CUNHA, Manuela Carneiro da Cunha (Org.). Política indigenista no século XIX. In:
______. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras: Secretaria
Municipal de Cultura: FAPESP, 1992.
DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da mata atlântica
brasileira. São Paulo: Cia das Letras, 1996.
DELGADO, Ignácio Godinho. Poder, Mercado e Trabalho. In: ALMEIDA, Carla Maria
Carvalho de; OLIVEIRA, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números: Alternativas
metodológicas para a História Econômica e Social. Juiz de Fora: Ed. UFJF, 2006. p.
19-26.
DIAS, Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros
estudos. São Paulo: Alameda, 2005.
ESPÍNDOLA, Haruf Salmén. Sertão do Rio Doce. Bauru, SP: EDUSC, 2005. Pag.
23.
FRAGOSO, João. Alternativas Metodológicas para a História Econômica e Social:
micro-história italiana, Fredrick Barth e a história econômica colonial. In: ALMEIDA,
Carla Maria Carvalho de; Oliveira, Monica Ribeiro de (orgs.). Nomes e Números:
alternativas metodológicas para a história econômica e social. Juiz de Fora: Ed.
UFJF, 2006. p. 27-48.
FREIRE, Laudelino (org.). Grande e Novíssimo Dicionário da Língua Portuguesa.
Rio de Janeiro: A Noite Editora, 1942. Vol. III e IV.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Botica da natureza. In: ______. Caminhos e
Fronteiras. 3 ed. São Paulo: Cia das Letras, 1994. p 74-89.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua
Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
LACERDA, Antônio Henrique Duarte. Negócios de Minas: família, fortuna, poder e
redes de sociabilidades nas Minas Gerais - a família Ferreira Armonde (1751/1850).
101
2010. 2 v. ; il. Tese (Doutorado em História) Universidade Federal Fluminense,
Niterói, Rio de Janeiro, 2010.
LAMEIRA, Osmar Alves. Cultivo da Ipecacuanha (Psychotria ipecacuanha (Bot.)
Stokes). Circular Técnica 28 (online). Belém, Pará: Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento – Embrapa Amazônia Oriental, Set. de 2002. Disponível
em < http://www.cpatu.embrapa.br/online/circular/Cir.tec.28.pdf >, acesso em
12/06/2008.
LENHARO, Alcir. As Tropas da Moderação: O abastecimento da Corte na
formação política do Brasil: 1808 – 1842. 2a Edição. Rio de Janeiro: Secretaria
Municipal de Cultura, Turismo e Esportes, Departamento Geral de Documentação e
Informação Cultural, Divisão de Editoração, 1993.
LEVI, Giovanni. Introdução. In: ______. A herança imaterial: Trajetória de um
exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
LINHARES, Maria Yedda; SILVA, Francisco Carlos Teixeira. Região e História
Agrária. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.8, n.15, 1995, p.17-26.
MARQUES, Vera Regina Beltrao. Introdução. In: ______. Natureza em Boiões:
Medicinas e boticários no Brasil setecentista. Campinas, São Paulo: Editora da
Unicamp / Centro de Memória – Unicamp, 1999.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Território, Região e Formação Colonial:
Apontamentos em torno da Geografia Histórica da Independência Brasileira. Ciência
& Ambiente/Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, Santa Maria, RS, v. 33,
p. 09-16, Jul./Dez. 2006.
MARTINS, E. R.; OLIVEIRA, L. O. Conservação da poaia (Psychotria ipecacuanha
Standl.): I – Estratégias de localização de populações e etnobotânica. Revista
Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, SP, v. 7, n. 1, p. 6-10, 2004.
MERCADANTE, Paulo. Os sertões do leste: Estudo de uma região: a mata mineira.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1973.
OLIVEIRA, C. E. . Rio Sepotuba: ambiente de poaia e de terra fértil. Territórios e
Fronteiras, Cuiabá, v. 4, p. 73-98, 2003.
OLIVEIRA, C. E. .Espaço de poaia, território Umutina e as "Casas de Rondon". In: I
SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 2010, Cuiabá. História, Natureza e
Fronteiras. Cuiabá: EdUFMT, 2010.
PAIVA, Adriano Toledo. “O Pernicioso comércio”: Aguardente e Drogas do sertão na
fronteira colonial. In: ______. Das Trevas do Gentilismo às Luzes do Evangelho”:
Entrantes e Indígenas nos Sertões do Rio da Pomba. Monografia de conclusão do
Bacharelado em Historia. Universidade Federal de Viçosa – Minas Gerais. 2007. p.
52-68.
102
PAIVA, Eduardo França. Minas depois da mineração [ou o século XIX mineiro]. In:
GRINBERG, Keila; SALLES, Ricardo (orgs.). O Brasil Imperial, volume 1: 1808 –
1831. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2009. p. 271 – 308.
REIS, José Carlos. “Anos 1900: Capistrano de Abreu: O surgimento de um povo
novo: o brasileiro. In: ______. As Identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. 5a
Edição. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2002.
MARTINS, Ernane Ronie ; OLIVEIRA, Luiz Orlando de; MAIA, J.T.L.S ; VIEIRA,
I.J.C. Estudo ecogeográfico da poaia [Psychotria ipecacuanha (Brot.) Stokes].
Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 11, p. 24-32, 2009.
PARAÍSO, Maria Hilda Baqueiro. Os botocudos e sua trajetória histórica. In: CUNHA.
Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras:
Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP, 1992. p. 413-430.
PIRES, Anderson. Minas Gerais e a Cadeia Global da Commodity cafeeira –
1850/1930. Revista eletrônica de História do Brasil, v. 9, n. 1, jan-jun., 2007.
PRATT, Mary Louise. Os olhos do império: relatos de viagem e transculturação.
Bauru, São Paulo: EDUSC, 1999.
RESTITUTTI, Cristiano Corte. Elementos da fiscalidade de Minas Gerais provincial.
Almanaque Braziliense, São Paulo, n. 10, nov. 2009 . Disponível em <
http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180881392009001000007&lng=pt&nrm=iso >. Acesso em: 21 abr. 2012.
RIBEIRO, Márcia Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século
XVIII. São Paulo: Editora Hucitec, 1997.
103
8 – Anexos
8.1 – Tratado de Medicina Doméstica – Sec. XVIII
Arquivo Público Mineiro (APM) = OR – 0058; Rolo 36; Flash 5; Gaveta G – 5.
BUCHAM, Guilherme. Medicina Domestica ou Tratado Completo dos
meios de conservar a saúde e de curar, e precaver as enfermidades por via o
regime, e remédios simples. Obra útil, e acomodada a capacidade de todas as
pessoas de qualquer estado e condição. Pelo doutor Guilherme Bucham Medico do
Real Colégio de Edimburgo. Trasla[ilegível] em vulgar para utilidade da Nação pelo
Doutor Francisco Pujol de Padrell, Médico em Lisboa. Com os aditamentos, e Notas
do Tradutor Francês, o Doutor J. D. Duplanil. Parte II, Tomo V. Lisboa: Typographia
Rollandiana, 1791.
Capitulo XXV, §VII, Art. I
Pag. 65 – “Remédios que se deve administrar aos que são acometidos da
Dysenteria, ou fluxo de sangue...
Nesta enfermidade sempre é necessário começar alimpando as primeiras
vias. Em conseqüência do que dar-se-á uma dose de ipecacuanha, cujo efeito se
ajudará com uma infusão ligeira de flor de macella. Raras vezes se [ilegível] preciso
usar neste caso de vomitórios fortes: vinte e quatro, ou quando muito trinta grãos de
ipecacuanha bastão, geralmente falando para um adulto: e as vezes são bastantes
dez ou doze, como fica provado no Tomo III, Cap. III, nota 4.
No dia seguinte [ilegível] vomitório, dá-se meia oitava, ou dois escropulos,(isto
é trinta e seis até quarenta e oito grãos) de rhuibarbo. Esta dose pode repetir-se e
dous em dous dias, duas ou três vezes.
Depois disso dá-se, por alguns dias, umas pequenas doses de ipecacuanha,
como dous ou três grãos, que se misturam numa colher de xarope de dormideiras, e
se repete três vezes por dia.”
[Frases na margem da pag. 65]:
“Ipecacuanha como vomitório”
104
“Ipecacuanha é três pequenas doses com xarope de dormideiras”
Pag. 66 – “Estas evacuações, unidas o regime acima recomendado, bastão
muitas vezes para curar a enfermidade. Mas no caso de não terem feliz sucesso,
cumpriria usar dos remédios adstringentes que se seguem.
Deite-se o enfermo duas vezes por dia um crystel feito de goma-garra, ou de
caldo de carneiro gordo, ao qual se ajuntara trinta, ou quarenta gotas de [ilegível].
Dar-se-lhe-a ao mesmo tempo todas as horas, uma colher da dissolução seguinte.
Tome-se de gomma arabia, uma onça de gomma de tragacantho, meia onça.
Dissolve-se num quartilho de água de cevada em fogo lento.
Se estes remédios não tiverem o desejado efeito, poder-se-a dar ao enfermo
quatro vezes por dia, obra de uma noz moscada de confeição japonesa, depois do
que beberá uma chávena de cozimento de pão de Campeche.”
Pag. 147-8 – “Remédios que se deve administrar aos que tem icterícia
Se o doente for moço e de temperamento sanguíneo; se se queixar de
alguma dor no lado direito, para a parte da região do fígado, faz-se necessária a
sangria.
(observe-se que a sangria não convém nesta enfermidade, senão aos
plethoricos, no caso de supressão do menstruo, ou hemorróidas, ou quando há
symptomas de inflamação; porque fora destas circunstancias, a experiência tem
mostrado, mais do que fora necessário, que a sangria é mortal, ou pelo menos inútil)
Depois da sangria , quando é indicada dar-se-á um vomitório, o qual se
repetirá uma ou duas vezes, se a doença for rebelde. Não há remédio mais
proveitoso na icterícia, do que os vomitórios, principalmente quando não e
acompanhada de inflamação. Meia oitava ou trinta grãos de ipecacuanha em pó,
será bastante para um adulto, como já dissemos no Tomo III, Cap. III, § IV, nota 4.
Promoverá muito o seu efeito uma infusão ligeira de macella, ou água morna.(1)
Nota aditada pelo Doutor Frances
(1) Os vomitórios, a que o Dr Bucham aqui faz elogio contra a icterícia,
requerem muita sagacidade para usar deles, como convém. Não são convenientes
certamente na icterícia, cujo assento está no fígado, no canal choledoco, ou na
vesícula do fel. Os movimentos antiperistálticos, que esta espécie de remédios
motiva necessariamente no estomago e no primeiro dos intestinos, bem fora de
105
contribuir para que a bile volte aos seus conductos, são mais depressa capazes de
estorvá-los.
Pelo que se os vomitórios podem ser úteis na icterícia, só o podem ser
quando ela é precedida de muitos humores espessos, que se acumulam no
duodeno, na embocadura do canal choledoco; ou nos entupimentos do colon, que
oprimem a passagem da bile do fígado para o duodeno. E ainda nestes casos mais
se deve usar dos eméticos, como purgantes, do que como vomitórios.
Bem se vê que o tártaro (estibiado), vulgarmente chamado mítico, dado em
pequena dose, e em lavago, he de todos os remédios, o que melhor convém aqui.
Mas em (Ilegível)asos na se pode deixar de aplicar os desobstruentes, que são os
grande remédios contra essa doença. Os mais importantes são o mel em grande
dose, o suco de dente de leão, &c., a terra do tártaro estibiado, &c.”
[Fim da nota]
Pag. 149. “He necessário também laxar o ventre com suficiente quantidade
de sabão de alicante ou de pílulas contra a icterícia, cuja receita e esta: Tome-se de
aloés succotrino, de rhuibarbo, de sabão de alicante – de cada coisa 1 oitava;
Pisem-se todas estas substancias juntas: ajunte-se-lhe um pouco de xarope
comum, ou de mucilago, para dar a tudo consistência de uma massa própria p/ fazer
pílulas: e fação-se dela pílulas de cinco até seis grãos.
Tomam-se cinco ou seis, duas ou três vezes por dia. Convém continuar o seu
uso por algum tempo, e regular-se-á a sua quantidade pelas camaras [evacuação]
do enfermo, que devem ser pelo menos duas cada dia.
Durante o uso destas pílulas bom será tomar de tempos em tempos hum
vomitório, ou de ipecacuanha, ou de tártaro estibiado [que tem estíbio (antimônio)],
(com as precauções recomendadas na antecedente nota.).
Pag. 165 – Artigo III
“Tratamento da Anasarca e da Ascitica, quando são acidentais, e a
constituição do enfermo é boa”.
Pag. 166 – “Se o doente for moço, de constituição forte, e robusta, e tiver sido
acometido repentinamente e hydropisia, pode curar-se com vomitórios fortes,
purgantes violentos e remédios capazes de excitar o suor, as ourinas. Maia oitava
de ipecacuanha em pó com meia onça de oxymel scillitico forma m um vomitório
106
muito conveniente para um adulto, o qual se repetirá quantas vezes for necessário,
metendo-se todavia de intervalo, três ou quatro dias entre cada vomitório. Haja todo
o cuidado em não o deixar beber depois, porque de outra maneira destruir-se-ia o
efeito: uma ou duas chávenas de infusão de macella, bastarão para favorecer a
operação dele”.
Pag. 350 – “Tratamento da indigestão”
“... o enfermo em água morna ou chá ligeiro, a fim de provocar o vomito, que
comumente leva consigo, a causa e os efeitos da indigestão.
Se o enfermo, apesar de uma grande quantidade destes líquidos, não vomitar
nem se achar aliviado, dous ou três grãos de tártaro embebido em dous ou três
copos d’água; ou quinze até vinte grãos de ipecacuanha numa só dose o provocarão
seguramente”.
107
8.2 – Transcrição de excertos dos “Livros de Registro de saída de
gêneros de Barra do Pomba”
Tabela 1: Janeiro a setembro de 1824.
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GÊNEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1824 [jan – set], Vol.: 744, Rolo: 51.
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1824.
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba.
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
1o Trimestre;
Janeiro
[Não consta nenhum registro]
Fevereiro
[Não consta nenhum registro]
Março
[Não consta nenhum registro]
Localidade – Destino dos
gêneros exportados;
108
Joaquim Antônio da Silva
Comandante
2o Trimestre
Abril
18
Antônio da Costa – Freguesia da Pomba
50 arrobas de toucinho
19
Francisco Furtado de Jesus – Freguesia
da Pomba
Vila de São Salvador
120 arrobas de toucinho
19
Felisberto Mariano – Freguesia da Pomba
Vila de São Salvador
70 arrobas de toucinho
25
Caetano José de Azevedo – [São João
Batista do] Presídio
Vila de São Salvador
50 arrobas de marmelada
500 queijos
Vila de São Salvador
Maio
27
Vicente Rodrigues – Ponte Nova
80 arrobas de toucinho
27
José Joaquim [Bruno] – Presídio de São
João Batista
Vila de São Salvador
200 queijos
150 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Junho
09
Antônio José da Silva – Ponte Nova
45 arrobas de toucinho
21
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da
Pomba
50 cabeças de gado vacum
Vila de São Salvador
300 varas de algodão
130 arrobas de toucinho
Joaquim Antônio da Silva
Comandante
3o Trimestre
Vila de São Salvador
109
Julho
16
Felipe Antunes – Freguesia da Pomba
50 arrobas de toucinho
25
José Joaquim da Trindade – Freguesia
da Pomba
Vila de São Salvador
70 cabeças de gado
28
Antônio da Costa – Freguesia da Pomba
60 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Agosto
09
Antônio José de Siqueira – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
58 arrobas de toucinho
13
Antônio João – Freguesia da Pomba
80 arrobas de toucinho
18
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
150 arrobas de toucinho
40 cabeças de gado
Vila de São Salvador
Setembro
03
Alferes Francisco José de Souza –
Freguesia da Pomba
Vila de São Salvador
70 arrobas de toucinho
14
Luis da Mota – Freguesia da Pomba
80 arrobas de toucinho
17
25
Vila de São Salvador
Manoel Antônio Pinto – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
35 arrobas de toucinho
Manoel Mendes de Jesus – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
30 cabeças de gado vacum
Joaquim Antônio da Silva
Comandante
OBSERVAÇÕES
Resumo de janeiro a 25 de setembro de 1824
Gado vacum
190
No
110
Queijos
700
Idem
Toucinho
1268
Arrobas
Marmelada
50
Idem
Algodão tecido
300
Varas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa; 12 março 2012.
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Tabela 2: Outubro de 1824.
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1824/Out. Vol.: 743, Rolo: 51; Arquivo Nacional: BP, Cx
49, Códice 743
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1825
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
Resumo da exportação do registro da Barra do Pomba no ano de 1824
Toucinho
1370
Arrobas
Marmelada
50
Ditas [Arrobas]
Queijos
700
Numero
Gado Vacum
208
Idem
Algodão grosso
300
Varas
111
DIA
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
MÊS
↓
4o Trimestre de 1824
Outubro
13
20
25
Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia
da Pomba
Vila de São Salvador
12 arrobas de toucinho
Manoel Teixeira Cardoso – Freguesia de
Piranga
Vila de São Salvador
186 cabeças de gado
Alferes José de Souza – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
32 cabeças de gado
Novembro
22
José Luis – Ponte de Santo Antônio
100 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Dezembro
[Não há referências]
OBSERVAÇÕES
[As informações compiladas acima correspondem ao 4o Trimestre de 1824,
embora estejam incluídas no mesmo volume que o 1 o Trimestre de 1825. A
transcrição foi realizada respeitando a ordem dos fotogramas do microfilme
consultado no Centro de Estudos do Ciclo do Ouro na Casa dos Contos em
Ouro Preto, embora a atualização ortográfica tenha sido aplicada na
transcrição, por entendimento que a mesma não compromete os resultados da
pesquisa em curso.]
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012.
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba.
Tabela 3: Março de 1825.
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
112
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1825/Mar [Janeiro, Fevereiro e Março de 1825] Vol.:
743, Rolo: 51.
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1825 [Janeiro, fevereiro e março].
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba.
PARTES
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
1o
Antônio Joaquim de Oliveira – Barbacena
120 cabeças de gado
Vila de São Salvador
29
José Vieira de Queiroz – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
17 bois
30 arrobas de toucinho
DIA
↓
Janeiro
Fevereiro
07
08
17
25
28
Francisco de Souza – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
38 cabeças de gado
Manoel Francisco – São João Batista do
[Destino
não
Presídio
mencionado]
04 arrobas de fumo
Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba
46 cabeças de gado
Francisco Caetano Correia – São José do
Barroso
27 cabeças de gado
183 varas de algodão
Manoel Joaquim Barbosa – Freguesia da
Pomba
23 arrobas de toucinho
40 varas de algodão
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
113
Março
06
10
11
13
16
18
25
25
29
João de Souza Mota – Freguesia da
Pomba
61 cabeças de gado
Joaquim Teixeira de Siqueira – Piranga
30 cabeças de gado
200 varas de algodão
50 mantas de algodão
Lizardo Gonçalves Machado – Freguesia
de São João Batista
120 varas de algodão
Bento Moreira – Freguesia da Pomba
60 arrobas de toucinho
1800 varas de algodão
13 cabeças de gado
João Gomes Barroso – Freguesia de São
João Batista
80 varas de panos de algodão
Manoel Ferreira – Freguesia da Pomba
220 varas de algodão
Albino José de Souza – Presídio de São
João Batista
20 arrobas de toucinho
Antônio de Souza Lima – Freguesia da
Pomba
99 cabeças de gado
Mariano Antônio da Roza – Vila de
Barbacena
109 cabeças de gado
03 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
Vila de São Salvador
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
Vila de São Salvador
OBSERVAÇÕES:
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Tabela 4: Exportação de café durante o ano de 1825
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
114
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.:735, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de Registro das guias de café e algodão que se
exportaram pelo Registro da Barra do Pomba conforme a
Provisão da Junta da Fazenda de 11 de novembro de
1825.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1825
ASSUNTO
Guias do café e algodão exportados pela Província de
Minas Gerais pelo Registro da Barra do Pomba.
PARTES
“Este livro há de servir para o Registro das Guias de Café e Algodão que se
exportarem, pelo Registro da Barra do Pomba, conforme a Provisão da Junta
da Fazenda de 11 de Novembro de 1825. Vai numerado, e por mim rubricado,
com termo de encerramento. Imperial Cidade de Ouro Preto, 19 de novembro
de 1825. Manoel José Monteiro de Barros”.
“Dom Pedro, pela Graça de Deus e Unanima Aclamação dos povos, Imperador
Constitucional e Defensor perpetuo do Império do Brasil. Faço saber a vós
Coronel Comandante Administrador do Registro da Barra da Pomba que a
exata observância da Provisão que se expediu aos 21 de agosto de 1822 sobre
as Guias legais que deveis dar aos Tropeiros, do café que os mesmos
conduzirem para a corte do Rio de Janeiro. Hei por bem por Despacho de nove
do corrente ordenar de novo e mais positivamente o cumprimento da dita
provisão e outrossim, que por ocasião de ali passarem tropeiros conduzindo
Café e Algodão em rama passeis duas guias explicadas dos ditos gêneros,
assinada por vós com declaração do peso de cada um e nome do tropeiro e
dos donos a quem os mesmos gêneros pertencem, das quais guias uma será
entregue ao tropeiro para levar e apresentar com o café ao Consulado da
Corte, na conformidade do disposto na Ordem do Thesouro de 20 de dezembro
de 1824; e a outra remetida a Junta da Fazenda, o que fareis no fim de cada
mês, ficando registrada no livro que se vos remete, o qual depois de findo será
também remetido a Contadoria, para todo o tempo se conferir. Assim o
cumprireis sem duvida alguma como nesta se vos ordena. O imperador
Constitucional e Defensor perpétuo do Império do Brasil o mandou pelo Barao
de Caethé, presidente desta província e da junta da fazenda da mesma.
Manoel Rodrigues Jardim a fez. Imperial Cidade de Ouro Preto, nove de
outubro de mil oitocentos e vinte e cinco. Manoel José Monteiro de Barros a fez
escrever. Barão de Caethé”.
DIA
↓
MÊS
↓
3o Trimestre de 1826
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
115
Julho
18
Caetano José de Azevedo – Arraial da
Prata, Freguesia de São Miguel
Vila de São Salvador
16 arrobas de café
OBSERVAÇÕES:
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 12 março 2012
(AUTOR E DATA)
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
TEOR
Tabela 6: Ano de 1825
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1825, Vol.: 742, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1825.
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba.
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
2o Trimestre
Abril
1
o
1o
Manoel Francisco de Souza – Freguesia
de São João Batista do Presídio
Vila de São Salvador
20 arrobas de toucinho
Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba
15 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
116
1
o
05
10
11
14
Francisco Gonçalves Botelho – Freguesia
de São João Batista do Presídio
16 arrobas de toucinho
João Lopes da Rocha – Prata
1200 varas de algodão
01 e ½ arrobas de fumo
Vicente Rodrigues de Carvalho – Barra
do Bacalhau
482 varas de panos de algodão
Manoel dos Santos – Freguesia da
Pomba
74 cabeças de gado
Felisberto da Silva – Ponte Nova
18 arrobas de toucinho
100 varas de algodão
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
18
Severino Teixeira de Siqueira – Ubá
104 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
20
Miguel Rodrigues – Barra do Bacalhau
104 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
25
26
José Simões de Assis – São Caetano
50 arrobas de toucinho
600 queijos
60 colchas de algodão
120 varas de panos de algodão
Manuel Fernandes – Tapera
300 varas de algodão
02 capados
[Vila de] São Salvador
Vila de São Salvador
26
Joaquim Gomes – Tapera
02 arrobas de marmelada
Vila de São Salvador
27
Joaquim Fernandes – Calambau
100 varas de algodão
Vila de São Salvador
27
Balbino Gomes Maciel – Calambau
200 varas de algodão
Vila de São Salvador
28
Baltasar Ferreira – Santa Rita do Turvo
com a tropa de Serafim Ferreira
Vila de São Salvador
80 varas de algodão
Maio
1o
Joaquim Pires Barreto – São João Batista
do Presídio
900 queijos
Vila de São Salvador
09 arrobas de toucinho
40 varas de algodão
117
67 cabeças de galinhas
02
03
04
08
12
José Nunes Vieira – Freguesia da Pomba
20 arrobas de toucinho
Francisco das Chagas – Chapada –
Freguesia da Piranga
160 varas de panos de algodão
Francisco Caetano – Freguesia da
Pomba
58 varas de riscado [tecido listrado] de
algodão
16 arrobas de toucinho
Domingos Roberto de Freitas – São João
Batista do Presídio
400 varas de algodão
Antônio Alves Pereira – Barra do
Bacalhau
200 queijos
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
19
José Luis – Freguesia da Pomba
50 arrobas de toucinho
19
Antônio Antunes Moreira – Presídio de
São João Batista
Vila de São Salvador
10 cabeças de gado
19
Felício José dos Santos – Sumidouro
110 varas de panos de algodão
23
24
25
25
26
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Lizardo Gonçalves Machado – Barra de
Matias Barbosa
Vila de São Salvador
160 varas de panos de algodão
07 cabeças de gado
Serafim de Souza – São João Batista do
Presídio
Vila de São Salvador
400 varas de algodão
06 mantas de linha
Manoel dos Santos – Mariana
400 queijos
Vila de São Salvador
José de Moraes Sarmento – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
64 arrobas de toucinho
13 cabeças de gado
João d’Afonseca – Presídio de São João
Batista
Vila de São Salvador
28 cabeças de gado
06 arrobas de toucinho
118
27
27
29
Manoel Pedro de Lima – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
08 arrobas de toucinho
60 varas de panos de algodão
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da
Pomba
60 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
200 varas de panos de algodão
20 rolos de fumo
João Nobre – Santa Rita do Turvo
40 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Junho
03
07
12
13
16
16
18
22
22
25
Antônio José Rodrigues – Comarca [de
Santa Rita] do Turvo
06 rolos de fumo
Manuel de Faria – Boa Vista da Imperial
Cidade de Ouro Preto
30 arrobas de toucinho
30 arrobas de marmelada
Antônio Francisco Ferreira de Castro –
Barra do Bacalhau
100 queijos
02 arrobas de sabão de barra
José dos Santos – Barra do Bacalhau
150 queijos
09 arrobas de toucinho
Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia
da Piranga
86 cabeças de gado
Luis da Silva – Barra do Bacalhau
90 varas de panos de algodão
08 arrobas de marmelada
Francisco de Paula – Ubá
30 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Ignácio Ribeiro da Costa – Vila de São
José
109 cabeças de gado
Vila de São Salvador
40 varas de panos de algodão
09 colchas de algodão
José Gonçalves de Moreira – Lagoa
Doirada
Vila de São Salvador
172 cabeças de gado
Joaquim Antônio dos Santos – Vila de
Vila de São Salvador
Barbacena
119
76 cabeças de gado
3o Trimestre
Julho
02
03
05
07
José [Ilegível] Rocha – Barbacena
170 cabeças de gado
50 arrobas de toucinho
Capitão Gonçalo Gomes Barreto – São
João Batista do Presídio
03 arrobas de marmelada
50 varas de panos de algodão
04 bois
Manoel Alves Ferreira – Freguesia da
Pomba
300 varas de panos de algodão
Reginaldo de Siqueira – Freguesia da
Piranga
10 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
15
Baltazar Ferreira – Santa Rita do Turvo
60 varas de algodão
Vila de São Salvador
21
Luis Candido – Freguesia da Pomba
100 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
21
22
22
José Luis Ferreira – Freguesia da Pomba
70 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
02 rolos de fumo
Joaquim da Silva Brandão – Freguesia de
São Miguel
Vila de São Salvador
500 queijos
40 varas de panos de algodão
Manoel Francisco do Nascimento – Ponte
Nova
Vila de São Salvador
20 varas de panos de algodão
23
José Pires Villar – Freguesia da Pomba
56 cabeças de gado
28
João Gomes Barroso – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
130 varas de panos de algodão
08 arrobas de fumo
28
José Joaquim – Freguesia da Pomba
12 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
120
10 barris de azeite de mamona
30
José Antônio Barbosa – Presídio de São
[Destino
João Batista
mencionado]
50 arrobas de toucinho
Agosto
03
03
07
08
08
09
09
12
12
13
Antônio Lopes – Freguesia da Pomba
111 varas de panos de algodão
Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba
40 arrobas de toucinho
08 rolos de fumo
Antônio Pereira – Freguesia de São João
Batista [do Presídio]
06 arrobas de toucinho
Francisco Lopes – Freguesia da Pomba
120 varas de pano de algodão
02 rolos de fumo
Manoel Francisco de Souza – Freguesia
de São João Batista
16 arrobas de toucinho
Francisco Caetano – Freguesia da
Pomba
500 varas de panos de algodão
10 arrobas de fumo
Francisco Vieira – Freguesia da Pomba
16 arrobas de toucinho
16 arrobas de fumo
Manoel José – Freguesia da Pomba
30 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Bento José Pacheco – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
90 varas de panos de algodão
04 rolos de fumo
Lizardo Gonçalves Machado – Presídio
de São João Batista
Vila de São Salvador
09 cabeças de gado
74 varas de panos de algodão
13
Francisco [Bruno] – Freguesia da Pomba
04 rolos de fumo
15
Miguel Correia Leite – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
40 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
não
121
19
22
24
24
24
24
Manoel Pedro de Lima – Santa Rita do
Turvo
Vila de São Salvador
100 varas de panos de algodão
06 arrobas de toucinho
Francisco das Chagas – Freguesia de
Piranga
12 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
100 varas de panos de algodão
06 arrobas de fumo
Francisco de Paulo – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
30 arrobas de toucinho
Antônio Cirino – Freguesia da Pomba
30 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Antônio José de Lima – São João Batista
[do Presídio]
Vila de São Salvador
30 arrobas de toucinho
Reginaldo de Siqueira – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
100 varas de panos de algodão
Setembro
04
05
05
Francisco da Silva Leite – Freguesia de
Piranga
Vila de São Salvador
05 rolos de fumo
43 varas de panos de algodão
José Antônio – Ponte Nova
03 rolos [...] de fumo
Vila de São Salvador
10 varas de panos de algodão
Francisco da Cruz – São João Batista do
Presídio
Vila de São Salvador
22 arrobas de toucinho
05
Luis Beltrão – Freguesia da Pomba
90 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
08
Antônio de Souza – Freguesia da Pomba
26 cabeças de gado
Vila de São Salvador
08
09
Camilo Jacinto – Freguesia da Pomba
67 cabeças de gado
09 rolos de fumo
Francisco
Xavier
de
Matos
Guarapiranga
350 varas de pano de algodão
01 rolo de fumo
Vila de São Salvador
–
Vila de São Salvador
122
10
11
14
18
18
27
Caetano Miguel Gonçalves – São João
Batista do Presídio
25 arrobas de toucinho
José Rodrigues – Freguesia de São João
Batista do Presídio
24 arrobas de toucinho
Manoel Francisco – Ponte Nova
10 arrobas de fumo
88 varas de panos de algodão
Manoel Alves Ferreira – Freguesia da
Pomba
14 arrobas de toucinho
60 varas de panos de algodão
Fabiano Marques da Costa – Freguesia
da Pomba
60 arrobas de toucinho
João Gomes Barroso – Freguesia da
Pomba
40 arrobas de toucinho
350 varas de panos de algodão
22 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
4o Trimestre
Outubro
09
10
17
Francisco Caetano – Freguesia da
Pomba
18 rolos de fumo ----- 36 arrobas
Vila de São Salvador
120 varas de panos de algodão
70 arrobas de toucinho
Joaquim da Silva Perdigão – Freguesia
de São Miguel
Vila de São Salvador
100 queijos
105 varas de panos de algodão
Manoel Joaquim Mendes Bastos –
Freguesia da Pomba
Vila de São Salvador
14 arrobas de toucinho
Novembro
08
Antônio Cirino – Freguesia da Pomba
28 arrobas de toucinho
08
José Antônio Barbosa – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
50 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
não
123
21
Francisco de Souza – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
12 cabeças de gado
Dezembro
João d’Afonseca – Freguesia de São
João Batista do Presídio
Vila de São Salvador
69 cabeças de gado
OBSERVAÇÕES
02
Resumo do Registro da Barra do Pomba de todo o ano de 1825
Gado vacum
912
No
Porcos
02
Idem
Galinhas
67
Idem
Queijos
2950
Idem
Colchas de algodão
75
Idem
Toucinho
1256
Arrobas
Fumo
239
Idem
Sabão
002
Idem
Marmelada
49
Idem
Azeite de mamona
10
Barris
Algodão tecido
8215
Varas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 13 março 2012.
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Tabela 7: Ano de 1826
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1826, Vol.: 741, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1826
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
124
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
1o Trimestre
Janeiro
06
30
Manoel Antônio de Barros – Vila de
Barbacena
Vila de São Salvador
116 capados em pé
Reginaldo Teixeira de [Ilegível] –
Freguesia da Pomba
Vila de São Salvador
100 arrobas de toucinho
Fevereiro
06
Manoel Pereira da Silva – Rio Novo
50 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
09
Francisco Luis de Medeiros – Barbacena
165 cabeças de gado
Vila de São Salvador
09
10
11
16
Marianno Antônio da Roza – Barbacena
141 cabeças de gado
61 capados em pé
Manoel José da Silva – Freguesia da
Pomba
56 arrobas de toucinho
José Francisco da Silva – Freguesia de
São João Batista do Presídio
14 arrobas de toucinho
Francisco de Paula Souza – Freguesia da
Pomba
40 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
16
Francisco Botelho – Freguesia da Pomba
30 arrobas de toucinho
16
Severino Teixeira de Siqueira – Freguesia
da Pomba
24 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
100 varas de panos de algodão
08 cabeças de gado
Vila de São Salvador
Março
03
Joaquim de Afonseca – Freguesia de São
João Batista do Presídio
Vila de São Salvador
46 arrobas de toucinho
125
09
15
20
Francisco de Souza – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
60 cabeças de gado
Joaquim Teixeira de Siqueira – Freguesia
do Piranga
Vila de São Salvador
57 cabeças de gado
500 varas de panos de algodão
João Rodrigues de Lima – Freguesia de
São João Batista do Presídio
Vila de São Salvador
100 arrobas de toucinho
2o Trimestre
Abril
02
04
05
05
05
05
05
Manoel Gonçalves – Merces do Pomba
150 cabeças de gado
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia do
Pomba
50 arrobas de toucinho
240 varas de panos de algodão
Francisco Lopes – Barra do Bacalhau
32 arrobas de toucinho
900 varas de panos de algodão
Lizardo Gonçalves Machado – São João
Batista
16 arrobas de toucinho
250 varas de panos de algodão
Joaquim Gomes Barretto – São João
Batista
160 arrobas de toucinho
300 varas de pano de algodão
36 cabeças de gado
Manoel Gomes de Oliveira – Freguesia
da Pomba
90 arrobas de toucinho
Francisco Caetano – Freguesia da
Pomba
800 varas de panos de algodão
25 cabeças de gado
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
06
Manoel Francisco Lins – Barbacena
103 cabeças de gado
Vila de São Salvador
25
Manoel Antônio de Barros – Barbacena
600 queijos
83 bois
Vila de São Salvador
126
[Maio – não aparece no livro de registros]
Junho
02
09
09
16
17
21
22
José Manuel Pires – Freguesia do
Piranga
Vila de São Salvador
18 cabeças de gado
04 ½ arrobas de fumo
Antônio Gonçalves Moreira – São José
do Barroso
Vila de São Salvador
05 rolos de fumo-------------04 arrobas
140 varas de algodão
José Joaquim Silvério – Santa Rita do
Turvo
Vila de São Salvador
50 varas de panos de algodão
Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba
22 cabeças de gado vacum
Vila de São Salvador
José Gonçalves de Miranda – Lagoa
Doirada
Vila de São Salvador
132 cabeças de gado
Antônio de Siqueira – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
20 arrobas de toucinho
Manoel José da Silva – São Caetano
100 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
30 varas de panos de algodão
3o Trimestre
Julho
03
05
05
10
José Luis Pereira – Freguesia da Pomba
80 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
42 arrobas de toucinho
06 arrobas de fumo
Francisco Caetano – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
196 varas de panos de algodão
Manuel Machado – São João Batista do
Presídio
Vila de São Salvador
04 arrobas de toucinho
80 varas de panos de algodão
127
60 queijos
10
11
14
23
23
30
João Francisco – Freguesia de São João
Batista do Presídio
10 arrobas de fumo
Francisco Teixeira de Siqueira –
Freguesia da Pomba
48 cabeças de gado
10 arrobas de toucinho
João de Afonseca – Freguesia de São
João Batista do Presídio
16 arrobas de toucinho
66 cabeças de gado
João Rodrigues de Lima – Freguesia de
São João Batista do Presídio
30 arrobas de toucinho
02 arrobas de fumo
Manuel Alves Pereira – Freguesia da
Pomba
800 varas de panos de algodão
06 arrobas de toucinho
02 arrobas de fumo
Antônio Lopes de Jesus – Santa Rita do
Turvo
300 varas de panos de algodão
[Destino
mencionado]
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Agosto
02
07
13
22
25
28
Francisco Lopes – Barra do Bacalhau
15 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Luis Gonzaga Ribeiro – Freguesia da
Pomba
Vila de São Salvador
16 rolos de fumo -----32 arrobas
Juscelino Cardozo – Freguesia do
Sumidouro
Vila de São Salvador
64 varas de panos de algodão
Antônio da Encarnação – Freguesia de
São João Batista [do Presídio]
Vila de São Salvador
500 varas de panos de algodão
08 arrobas de toucinho
Manoel José Dias – Tapera
16 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
550 varas de panos de algodão
Antônio Lopes – Santa Rita do Turvo
80 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
04 arrobas de toucinho
não
128
28
28
28
Manuel Pires – Santa Rita do Turvo
40 varas de panos de algodão
12 arrobas de toucinho
03 arrobas de fumo
Silvério Lopes – Santa Rita do Turvo
160 varas de panos de algodão
04 arrobas de toucinho
Francisco Teixeira de Siqueira
Freguesia da Pomba
18 cabeças de gado
Vila de São Salvador
[Vila de] São Salvador
–
Vila de São Salvador
28
José Luis Pereira – Freguesia da Pomba
100 arrobas de toucinho
28
Antônio Gonçalves Moreira – Freguesia
da Pomba
180 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
14 arrobas de fumo
02 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Setembro
11
14
15
15
15
18
18
22
José Joaquim Silvério – Santa Rita do
Turvo
200 varas de pano de algodão
Manoel Pedro – Freguesia de Cattas
Altas de Mato Dentro
1100 varas de panos de algodão
Antônio Lopes – Santa Rita [do Turvo]
20 arrobas de toucinho
130 varas de panos de algodão
Bento Pacheco – Freguesia da Pomba
10 arrobas de fumo
400 varas de panos de algodão
Francisco Caetano dos Reis – Freguesia
da Pomba
200 varas de panos de algodão
06 arrobas de toucinho
08 arrobas de fumo
João Nobre dos Santos – Cidade de
Mariana
30 arrobas de toucinho
João Francisco – São João Batista do
Presídio
08 rolos de fumo ---- 16 arrobas
José de Carvalho – Freguesia da Pomba
30 arrobas de toucinho
02 arrobas de fumo
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
129
4o Trimestre
Outubro
1o
1
o
05
Mariano Antônio da Roza – Barbacena
118 cabeças de gado
Vila de São Salvador
José Gomes Pereira – Freguesia de São
Miguel do Mato Dentro
Vila de São Salvador
34 cabeças de gado
Francisco Dias de Carvalho – São João
Batista do Presídio
Vila de São Salvador
19 cabeças de gado
07
Cipriano Antônio – Freguesia da Pomba
60 arrobas de toucinho
09
Caetano José de Azevedo – Prata,
Freguesia de São Miguel
Vila de São Salvador
350 varas de panos de algodão
11
Severino Moreira – Barra do Bacalhau
02 arrobas de fumo
11
12
13
14
14
19
19
Bento Gonçalves Moreira – Freguesia da
Pomba
11 cabeças de gado
Luis Francisco Gracia – Freguesia da
Pomba
31 arrobas de toucinho
04 cabeças de gado
Manoel Lopes – Barra do Bacalhau
14 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
Manoel Alves Pereira – Freguesia da
Pomba
1100 varas de panos de algodão
João Machado – Freguesia de São João
Batista do Presídio
50 queijos
06 arrobas de toucinho
José da Silva Perdigão – Prata –
Freguesia de São Miguel
100 queijos
12 arrobas de toucinho
Joaquim Silvério – São João Batista do
Presídio
40 arrobas de toucinho
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
Vila de São Salvador
130
23
Manoel da Cruz – São João Batista do
Presídio
Vila de São Salvador
15 arrobas de toucinho
23
Baltasar Ferreira – Santa Rita do Turvo
114 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
26
Camilo Jacinto – Freguesia da Pomba
12 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
Vila de São Salvador
Novembro
08
João Rodrigues dos Santos – Freguesia
da Pomba
Vila de São Salvador
34 cabeças de gado
08
Silvério Barbosa – Freguesia da Pomba
84 cabeças de gado
Vila de São Salvador
Dezembro
[Sem
data]
Feliciano Pinto Barboza – São Manoel
43 cabeças de gado
[Destino
mencionado]
não
OBSERVAÇÕES
Resumo de todo o ano de 1824
Gado vacum
1475
No
Porcos
177
No
Toucinho
1733
Arrobas
Fumo
119
Idem
Queijos
870
No
Algodão Tecido
10278
Varas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Tabela 8: Ano de 1827
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
131
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1827, Vol.: 740, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1827
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
1o Trimestre
Janeiro
06
Manoel Francisco
103 cabeças de gado vacum
Campos dos Goytacazes
15
José Luis
122 arrobas de toucinho
Campos
23
Francisco Marques
50 arrobas de toucinho
Campos
Fevereiro
09
Paulino Rodrigues
80 cabeças de gado vacum
Campos
13
Francisco Reginaldo
83 arrobas de toucinho
Campos
25
João José
10 arrobas de toucinho
Campos
Março
Até o dia 31 nada passou
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante
132
2o Trimestre
Abril
02
06
10
10
11
15
Francisco Joaquim
60 cabeças de gado
João Vicente
102 arrobas de toucinho
20 arrobas de fumo
Bento Gonçalves Moreira
08 cabeças de gado vacum
03 arrobas de fumo
80 arrobas de toucinho
Francisco Caetano
400 varas de algodão
60 arrobas de toucinho
Joaquim Dias
15 cabeças de gado vacum
16 arrobas de poaia
José Fernandez da Silva
200 arrobas de toucinho
300 varas de panos de algodão
Campos
Campos
Campos
Campos
Campos
Campos
17
Manoel Francisco Rosa
83 cabeças de gado vacum
Campos
17
Francisco Teixeira
10 cabeças de gado
Campos
20
Manoel Pereira
22 cabeças de gado vacum
Campos
25
Joaquim José Soares da Silva
52 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
06
José [Luis]
60 arrobas de toucinho
Campos
07
José [Nunes Pereira]
50 arrobas de toucinho
[Ilegível]
08
[Ilegível]
[59 cabeças de gado]
[Ilegível]
Maio
não
133
10
Manoel Alves
100 varas de panos de algodão
[?] arrobas de fumo [?]
[Ilegível]
10
[Ilegível]
[Ilegível]
12
Joaquim Gomes da Silva
06 arrobas de toucinho
Campos
15
Antônio Lopes
16 arrobas de toucinho
Campos
15
18
20
25
30
30
José Antônio Moreira
12 arrobas de toucinho
05 arrobas de fumo
100 varas de algodão
Reginaldo Teixeira
26 arrobas de toucinho
12 cabeças de gado vacum
Francisco Marques
30 arrobas de toucinho
Joaquim Teixeira
08 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
José Pires
200 varas de algodão
10 cabeças de gado vacum
Julio Martins
12 arrobas de fumo
06 arrobas de toucinho
Campos
Campos
Campos
Campos
[Ilegível]
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
Junho
06
06
José Fernandez da Silva
20 arrobas de toucinho
02 arrobas de fumo
João Machado
100 queijos
200 varas de algodão
06
João Correia
06 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
07
Bento Gonçalves Moreira
20 arrobas de toucinho
300 varas de panos de algodão
06 arrobas de fumo
50 queijos
[Destino
mencionado]
não
134
07
Francisco Caetano
10 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
03 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
não
15
Marianno Ferreira
40 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
17
Manoel dos Santos
05 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
20
José Francisco
12 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
não
20
Lauriano Antônio
10 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
21
Cipriano Antônio
50 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
21
Francisco Lopes
16 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
não
28
Francisco Antônio Lopes
30 varas de panos de algodão
[Destino
mencionado]
não
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante
3o Trimestre
Julho
1o
Joaquim Marques
250 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
1o
Luis Fialho
20 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
05
06
10
Manoel Lopes
28 arrobas de toucinho
01 arroba de fumo
Silvério Lopes
12 arrobas de toucinho
01 arroba de fumo
Manoel Francisco de Souza
30 arrobas de toucinho
Campos
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
135
13
Antônio Ferreira Almondes
81 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
13
José Ignácio
60 cabeças de gado vacum
Campos
14
Dememencianno José Pacheco
08 arrobas de fumo
Campos
18
19
Manoel Antônio
20 arrobas de fumo
03 arrobas de marmelada
Joaquim Gomes
07 arrobas de toucinho
01 arroba de fumo
não
Campos
[Destino
mencionado]
não
24
Francisco Reginaldo
20 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
28
Francisco de Souza
80 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
29
Antônio Gomes Candido
30 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
31
Simplício Antônio
40 arrobas de toucinho
10 dittas [arrobas] de fumo
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
Agosto
06
06
10
12
15
15
Francisco Marques
30 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
Manoel João
50 queijos
20 arrobas de fumo
Joaquim Marques
12 arrobas de fumo
100 queijos
José Luis
50 arrobas de toucinho
10 cabeças de gado vacum
Francisco Lopes
15 arrobas de toucinho
06 arrobas de fumo
João Ignácio
80 cabeças de gado
136
17
Paulo Marianno
05 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
21
José Palmeira
100 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
23
Francisco Fialho
20 arrobas de toucinho
10 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
não
25
José Fernandes
36 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
28
28
29
31
31
Bento Gonçalves Moreira
13 arrobas de toucinho
20 cabeças de gado vacum
15 arrobas de fumo
16 arrobas de poaia
Francisco Caetano
35 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
José Barretos
12 arrobas de marmelada
26 arrobas de toucinho
100 queijos
João Luis
33 cabeças de gado vacum
130 varas de panos de algodão
João Manoel
06 arrobas de fumo
Setembro
04
07
09
14
15
Vicente Alves
15 arrobas de toucinho
16 arrobas de fumo
João Antônio
100 varas de panos de algodão
17 arrobas de toucinho
Manoel Ferreira
105 cabeças de gado vacum
Joaquim Antônio
03 arrobas de toucinho
20 dittas [arrobas] de fumo
Manoel Dias
06 arrobas de poaia
05 dittas [arrobas] de fumo
137
16
19
19
21
25
26
27
José Joaquim
30 arrobas de toucinho
05 dittas [arrobas] de fumo
Felisberto da Silva
10 cabeças de gado vacum
90 varas de panos de algodão
50 queijos
Luis Antônio
35 cabeças de gado vacum
José Antônio
27 arrobas de toucinho
36 varas de panos de algodão
Joaquim Bruno
18 arrobas de toucinho
06 dittas [arrobas] de fumo
Jerônimo Francisco
51 arrobas de toucinho
08 dittas [arrobas] de fumo
Antônio Francisco
04 arrobas de toucinho
03 dittas [arrobas] de poaia
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
[Destino
mencionado]
não
29
Bernardo Joaquim
16 cabeças de gado
[Destino
mencionado]
não
29
Joaquim Dias
15 cabeças de gado
100 varas de panos de algodão
[Destino
mencionado]
não
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante
4o Trimestre
Outubro
05
05
07
Bento Gonçalves Moreira
20 cabeças de gado vacum
22 arrobas de poaia
130 arrobas de toucinho
20 arrobas de fumo
Francisco Caetano
10 arrobas de fumo
30 arrobas de toucinho
100 queijos
Luis Fialho
120 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
Campos
Campos
Campos
138
09
José Palmeira
08 cabeças de gado vacum
Campos
11
Luis Fernando de Oliveira
86 cabeças de gado
Campos
15
Capitão José Maria Lopes Prado
134 cabeças de gado vacum
Campos
19
Francisco Lopes
70 arrobas de toucinho
03 dittas [arrobas] de fumo
100 varas de panos de algodão
50 queijos
Campos
19
Antônio Neto
10 arrobas de toucinho
Campos
21
Adam [Adão] Martins
23 arrobas de toucinho
Campos
24
27
30
João Francisco
20 cabeças de gado
100 varas de panos de algodão
Francisco Dias
30 arrobas de toucinho
33 cabeças de gado
Joaquim Antônio
12 cabeças de gado
Campos
Campos
Campos
Novembro
Nada passou
Dezembro
Nada passou
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante
OBSERVAÇÕES: Neste caso, a documentação original não apresenta o
quadro resumo elaborado pelo escrivão no ato do encerramento do balanço
anual. Nos demais livros de registro consta, ao final do apontamento anual,
uma tabela na qual são apresentados os produtos exportados e os valores
totais contabilizados ao longo do ano, consistindo em um quadro síntese que
contém as informações relativas ao valor total de cada produto.
139
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 02 de janeiro de 2012
(AUTOR E DATA)
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
TEOR
Tabela 9: Ano de 1828
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GÊNEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1828, Vol.: 738, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1828
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
1o Trimestre
Janeiro
De 1o a 31 nada passou
Fevereiro
10
14
Luis Fialho
80 arrobas de toucinho
10 arrobas de fumo
50 queijos
José Luis da Silva
100 arrobas de toucinho
120 varas de panos de algodão
Campos dos Goytacazes
Campos
140
Furriel Francisco Dias
[Ilegível] 81 cabeças de gado vacum
200 varas de pano de algodão
Campos
17
Francisco de Souza
60 cabeças de gado vacum
Campos
21
Bento Gonçalves Moreira
120 arrobas de toucinho
12 arrobas de fumo
04 dittas [arrobas] de poaia
Campos
21
Francisco Caetano
40 cabeças de gado vacum
100 varas de panos de algodão
02 cavalos
Campos
22
Ignácio Palmeira
85 cabeças de gado vacum
Campos
27
Manoel Lopes
40 arrobas de toucinho
02 arrobas de poaia
Campos
27
José Fialho
30 arrobas de toucinho
Campos
29
Francisco Marques
15 arrobas de toucinho
02 arrobas de fumo
Campos
29
Diogo Pereira da Rocha
36 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
Francisco d’Assiz Carvalho
Comandante administrador
Março
02
Elias Fortunato
100 cabeças de gado vacum
30 queijos
Campos
04
Manoel Antônio de Barros
180 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
06
09
Francisco Lopes
16 arrobas de toucinho
03 cabeças de gado vacum
Severino Teixeira
70 cabeças de gado vacum
03 cavalos
Campos
Campos
não
141
13
Joaquim Alves
200 varas de panos de algodão
10 arrobas de toucinho
Campos
16
Antônio Alves
900 queijos
Campos
16
José Palmeira
90 cabeças de gado vacum
Campos
20
Manoel Gracia
13 arrobas de poaia
Canta Gallo
30
30
José Fernandes
100 arrobas de toucinho
300 varas de panos de algodão
Antônio Moreira
11 arrobas de toucinho
12 ditas [arrobas] de fumo
Campos
Campos
30
Silvério da Cunha
05 arrobas de poaia
Canta Gallo
30
Francisco de Moraes
04 arrobas de poaia
Canta Gallo
31
Francisco Fernadez
02 arrobas de poaia
Canta Gallo
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante administrador
2o Trimestre
Abril
08
08
Francisco Pereira
121 cabeças de gado vacum
130 queijos
Antônio Alves
20 arrobas de toucinho
50 queijos
10 arrobas de marmelada
Campos
Campos
11
José Luis
102 arrobas de toucinho
Campos
15
Manoel Fialho
15 arrobas de toucinho
100 queijos
Campos
142
16
Ignácio Palmeira
130 cabeças de gado vacum
Campos
19
Francisco Gallo
08 cabeças de gado vacum
Campos
20
José Antônio da Silva
40 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
Campos
20
Antônio José
10 arrobas de toucinho
Campos
26
26
José Fernandes
181 cabeças de gado vacum
Francisco de Souza
30 cabeças de gado vacum
Campos
Campos
Francisco de Assiz Carvalho
Cabo
Maio
02
José Nunes
20 arrobas de toucinho
200 varas de panos de algodão
Campos
04
Antônio Almondes
170 cabeças de gado vacum
Campos
07
Francisco Marques
32 arrobas de toucinho
Campos
08
José Vicente
16 arrobas de toucinho
Campos
16
Luis Fialho
23 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
Campos
23
José Palmeira
30 cabeças de gado
Campos
24
José Fialho
10 arrobas de fumo
50 cabeças de galinha
Campos
24
Antônio Bernardo
200 cabeças de galinhas
Campos
143
Francisco de Assiz Carvalho
Cabo
Junho
01
02
04
Antônio Moreira
75 cabeças de gado vacum
José Luis
50 arrobas de toucinho
120 varas de panos de algodão
50 queijos
Ignácio Palmeira
110 cabeças de gado vacum
Canta Gallo
Campos
Campos
04
Joaquim Marques
32 arrobas de toucinho
Campos
06
João Baptista
14 arrobas de poaia
Canta Gallo
08
Manoel Gracia
10 arrobas de poaia
Canta Gallo
10
Vicente Valente
20 arrobas de toucinho
130 varas de panos de algodão
Campos
11
Estevão Barbosa
04 arrobas de poaia
[Aldeia da] Pedra
11
Domingos da Silva
02 arrobas de poaia
Aldeia da Pedra
12
Francisco de Moraes
03 arrobas de poaia
Aldeia [da Pedra]
17
Elias Fortunato
60 cabeças de gado vacum
Campos
17
Furriel Francisco Dias
30 cabeças de gado vacum
Campos
24
José Nunes
20 arrobas de toucinho
08 arrobas de fumo
Campos
25
José Fernandes
14 arrobas de toucinho
Campos
144
25
João Teixeira
10 arrobas de toucinho
Campos
25
Levindo Lopes
100 queijos
30 cabeças de galinhas
Campos
26
Francisco Suisso
06 arrobas de toucinho
Aldeia da Pedra
29
Francisco Marques
11 arrobas de toucinho
100 varas de pano de algodão
Campos
Francisco de Assiz Carvalho
Cabo
3o Trimestre de 1828
Julho
06
Luis Fialho
30 arrobas de toucinho
120 queijos
Campos
06
José Luis
40 arrobas de toucinho
Campos
09
11
12
Joaquim Marques
26 arrobas de toucinho
08 arrobas de fumo
Antônio Luis
1500 varas de panos de algodão
32 cabeças de gado vacum
José Fernandes
28 arrobas de toucinho
15 arrobas de fumo
Campos
Campos
Campos
12
Francisco de Souza
96 cabeças de gado vacum
Campos
12
Manoel Ribeiro
120 varas de panos de algodão
16 arrobas de toucinho
Campos
14
Antônio Correia
25 arrobas de toucinho
Campos
30
Elias Fortunato
110 cabeças de gado vacum
Campos
Francisco de Assiz Carvallho
Cabo comandante
145
Agosto
11
11
15
Bento Gonçalves Moreira
80 arrobas de toucinho
500 varas de panos de algodão
12 arrobas de fumo
Francisco Caetano
24 arrobas de toucinho
100 queijos
Manoel Fialho
15 arrobas de fumo
111 varas de panos de algodão
Campos
Campos
Campos
18
Francisco Marques
60 arrobas de toucinho
Campos
23
Francisco Lopes
130 arrobas de toucinho
Campos
25
Antônio Guedes
12 cabeças de gado vacum
Campos
29
Manoel Afonso
16 arrobas de fumo
100 queijos
Campos
29
Antônio Alves
32 arrobas de toucinho
Campos
Francisco de Assiz Carvalho
Coronel Comandante
Setembro
02
04
04
José Antônio Moreira
20 arrobas de toucinho
30 varas de panos de algodão
Manoel de Barros
18 arrobas de marmelada
40 dúzias de chicotes [480 chicotes]
Silvério Antônio Teixeira
10 arrobas de marmelada
200 queijos
Campos
Campos
Campos
07
José Vicente
22 arrobas de toucinho
Campos
10
Antônio da Costa
30 arrobas de toucinho
Campos
146
13
Antônio Moreira
70 cabeças de gado vacum
Campos
15
Capitão Gonçalo Teixeira
10 arrobas de poaia
200 varas de panos de algodão
30 arrobas de toucinho
Rio de Janeiro
18
Ignácio Palmeira
102 cabeças de gado vacum
Campos
21
Liberato Gomes
36 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
[Destino
mencionado]
21
Antônio Pinto
40 arrobas de toucinho
Campos
21
Vicente Valente
15 arrobas de fumo
Campos
24
Severino Teixeira
23 arrobas de toucinho
Campos
27
Manoel dos Santos
06 arrobas de toucinho
Campos
28
Manoel Carlos
50 arrobas de toucinho
08 arrobas de fumo
Campos
28
Manoel Gracia
05 arrobas de poaia
Canta Gallo
Francisco de Assiz Carvalho
Coronel Comandante
4o Trimestre
Outubro
04
Paulino José
16 cabeças de gado vacum
Campos
06
Joaquim Pires
10 cabeças de gado vacum
Aldeia da Pedra
15
Fabiano José
11 potros
Campos
Francisco de Assiz Carvalho
Coronel Comandante
não
147
Novembro
08
Manoel Francisco
30 arrobas de toucinho
Campos
11
Manoel Gracia
06 arrobas de poaia
Aldeia da Pedra
28
Joaquim de Moraes Peçanha
04 arrobas de poaia
[Aldeia da] Pedra
28
Furriel Francisco Dias
10 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
08 arrobas de fumo
Campos
Francisco de Assis Carvalho
Coronel Comandante
Dezembro
Nada passou
OBSERVAÇÕES
Resumo do numero dos gêneros
Toucinho
Arrobas
1766
Fumo
Ditas [arrobas]
144
Queijos
-------------------------
1930
Panos de algodão
Varas
4131
Bois
-------------------------
2148
Poaia
Arrobas
90
Cavalos
-------------------------
16
Marmelada
Arrobas
38
Galinhas
-------------------------
280
Chicotes
-------------------------
480
FICHAMENTO
(AUTOR E DATA)
Márcio Xavier Corrêa, 14 março 2012
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
148
Tabela 10: Ano de 1829
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, 1829, vol. 736, rolo 51.
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, Ano de 1832
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade/Destino
dos
gêneros
exportados
Janeiro
Nada passou
Fevereiro
02
Manoel Luis
40 arrobas de toucinho
04
José Fialho
36 arrobas de toucinho
50 queijos
04
Domingos Ferreira
12 arrobas de toucinho
Campos
Campos
Campos
04
Luis Fialho
32 cabeças de gado vacum
Campos
08
João José Pereira
36 cabeças de gado vacum
Campos
149
14
Manoel Antônio
80 cabeças de gado vacum
Campos
22
Joaquim Vieira
114 cabeças de gado vacum
06 dúzias de queijos [72 queijos]
Campos
Março
20
28
José Pedro Alvarez
109 cabeças de gado vacum
04 dúzias de queijos [48 queijos]
João Rodrigues
65 cabeças de gado vacum
100 queijos
Campos
Campos
20 Trimestre
Abril
05
Manoel Francisco de Souza
50 arrobas de toucinho
Campos
05
Antônio José
76 cabeças de gado vacum
200 queijos
Campos
06
José de Freitas
11 arrobas de toucinho
Campos
10
Antônio Silvestre
100 arrobas de toucinho
Campos
12
João Caetano
34 cabeças de gado vacum
Campos
15
José Rodrigues
50 arrobas de toucinho
Campos
15
Manoel Antônio
20 arrobas de toucinho
Campos
20
Luis Fialho
12 arrobas de toucinho
Campos
Maio
150
23
Joaquim Rodrigues
28 arrobas de toucinho
Campos
24
Ignácio Ribeiro da Costa
191 cabeças de gado vacum
40 arrobas de toucinho
Campos
25
Francisco Caetano
100 arrobas de toucinho
Campos
30
Manoel Antônio
130 cabeças de gado vacum
500 queijos
Campos
3o Trimestre
Junho
Nada passou
Julho
1o
José Luis
100 arrobas de toucinho
Campos
04
Luis Fialho
50 arrobas de toucinho
Campos
05
Francisco Borges
25 arrobas de toucinho
Campos
10
Manoel Fialho
16 cabeças de gado vacum
20 arrobas de toucinho
Campos
14
Francisco Nunes
54 arrobas de toucinho
Campos
20
Joaquim Rodrigues
45 arrobas de toucinho
Campos
24
Manoel dos Santos
25 arrobas de toucinho
50 queijos
Campos
30
José de Souza
88 arrobas de toucinho
Campos
151
Agosto
04
Manoel Pedro
40 arrobas de toucinho
Campos
06
José de Souza
88 arrobas de toucinho
Campos
08
José Fialho
56 arrobas de toucinho
Campos
10
Manoel Carlos
100 arrobas de toucinho
Campos
21
23
23
23
Antônio da Costa
62 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
José Antônio Moreira
51 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
Demencianno José
43 arrobas de toucinho
12 arrobas de fumo
Bento Pacheco
06 arrobas de toucinho
400 varas de panos de algodão
Campos
Campos
Campos
Campos
Setembro
04
Francisco Borges
15 arrobas de toucinho
Campos
07
Bento Moreira
70 arrobas de toucinho
Campos
11
Francisco Caetano
33 arrobas de toucinho
Campos
13
José dos Santos
16 arrobas de toucinho
Campos
20
20
Manoel dos Santos
15 arrobas de toucinho
100 varas de panos de algodão
Dionísio de Barros
150 dúzias de chicotes [1800 chicotes]
06 arrobas de marmelada
30 freios
Campos
Campos
152
24
Francisco Teixeira
19 cabeças de gado vacum
Campos
25
Manoel Pedro
50 arrobas de toucinho
Campos
27
Manoel Fialho
32 arrobas de toucinho
Campos
27
Joaquim Rodrigues
22 arrobas de toucinho
Campos
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante Administrador
4o Trimestre
Outubro
02
Manoel dos Santos
08 arrobas de fumo
Campos
03
Luis Fialho dito Lucio Fialho
130 arrobas de toucinho
02 barris de azeite
Campos
09
Estevão Barbosa
10 cabeças de gado vacum
Canta Gallo
12
João Francisco
10 cabeças de gado vacum
Aldeia da Pedra
12
José de Moraes
Hua [01] arroba de poaia
Aldeia da Pedra
17
Bento Moreira
16 arrobas de toucinho
Campos
17
Antônio Teixeira
29 cabeças de gado vacum
Campos
23
Luis Fialho
30 arrobas de toucinho
Campos
24
Francisco de Souza
73 cabeças de gado vacum
Campos
153
29
José Antônio Moreira
10 arrobas de toucinho
Campos
29
Manoel Antônio de Barros
153 cabeças de gado vacum
Campos
Novembro
1o
José Gonçalves
83 arrobas de toucinho
Campos
04
Antônio José
51 cabeças de gado vacum
Campos
04
José Pires
13 cabeças de gado vacum
Aldeia da Pedra
09
Manoel Borges
25 arrobas de toucinho
Campos
10
Manoel Gracia
04 arrobas de poaia
[Aldeia da] Pedra
15
Joaquim de Moraes
03 arrobas de toucinho
02 arrobas de poaia
[Aldeia da] Pedra
18
Manoel Carlos
60 arrobas de toucinho
Campos
24
Luis Fialho
37 arrobas de toucinho
Campos
27
Manoel Martins
43 cabeças de gado vacum
Campos
27
José Fialho
42 arrobas de toucinho
Campos
Dezembro
Nada passou
Francisco de Assiz Carvalho
Comandante Administrador
154
OBSERVAÇÕES
Resumo de todo o ano de 1829:
Gado vacum
1312
Queijos
1020
Chicotes de couro
1800
Freios de ferro
30
Toucinho
999
Fumo
24
Marmelada
06
Poaia
07
Azeite de mamona
02
Algodão tecido
600
No
No
No
No
@
@
@
@
Barris
Varas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 14 março 2012.
(AUTOR E DATA)
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
TEOR
Tabela 11: Ano de 1830
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, Ano: 1830, Vol.: 739, Rolo: 51
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, ano de 1830
ASSUNTO
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais pelo
Registro da Barra do Pomba
PARTES
DIA
↓
MÊS
↓
1o Trimestre
Janeiro
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
155
Nada passou
Fevereiro
08
Luis Fialho
78 arrobas de toucinho
Campos
10
Manoel Francisco
40 arrobas de toucinho
Campos
14
Ignocencio Antônio Rodrigues
18 arrobas de toucinho
Campos
14
Narciso José Coutinho
110 arrobas de toucinho
Campos
03
Joaquim José
20 arrobas de toucinho
Campos
08
Francisco Fernandez de Assiz
60 arrobas de toucinho
Campos
11
Capitão Mariano Fernandez
280 cabeças de gado vacum
Campos
19
Miguel Antunes
100 cabeças de gado vacum
Campos
26
Manoel Teixeira
30 arrobas de toucinho
Campos
Março
Vicente Ferreira de Souza Lobato
Comandante
2o Trimestre
Abril
07
Antônio Joaquim
50 arrobas de toucinho
Campos
07
Manoel Francisco
70 arrobas de toucinho
Campos
156
10
Vicente Rodrigues
40 arrobas de toucinho
Campos
13
Antônio Felício
18 arrobas de toucinho
Campos
14
Silvério Antônio
20 arrobas de toucinho
Campos
20
Vicente Martins
10 arrobas de toucinho
Campos
26
Domingos de Souza
39 arrobas de toucinho
Campos
02
Luis Fialho
30 arrobas de toucinho
Campos
12
Manoel Carlos
20 arrobas de toucinho
Campos
22
Dionísio de Barros
40 arrobas de marmelada
Campos
25
Antônio Martins
21 arrobas de toucinho
Campos
01
Francisco Antônio
100 bois
Campos
12
Joaquim Vieira
130 bois
Campos
20
Antônio Rodrigues
60 arrobas de toucinho
Campos
28
José Joaquim Cardoso
50 bois
Campos
Firmiano Gomes
100 bois
Campos
Maio
Junho
Julho
02
157
18
Antônio Alvim
30 arrobas de toucinho
Campos
22
Manuel Antônio
100 bois
Campos
29
Luis Fialho
80 arrobas de toucinho
Campos
3o Trimestre
Agosto
06
Manoel Machado
60 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
08
Manoel dos Santos
40 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
10
Francisco de Souza
120 cabeças de gado
[destino
mencionado]
não
12
Antônio Ribeiro
80 cabeças de gado
[destino
mencionado]
não
[destino
mencionado]
não
[destino
mencionado]
não
[destino
mencionado]
não
15
18
20
José Antônio
30 arrobas de toucinho
200 varas de algodão
Francisco Caetano
60 arrobas de toucinho
100 varas de algodão
Joaquim Rodrigues
12 rolos de fumo
21 arrobas de toucinho
200 queijos
26
Manoel Francisco
30 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
28
Luis Fialho
80 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
29
Dionísio de Barros
40 arrobas de marmelada
[destino
mencionado]
não
Bento Pacheco
08 rolos de fumo
[destino
mencionado]
não
Setembro
02
158
800 varas de algodão
20 arrobas de toucinho
04
Francisco de Assis Fernandes
50 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
07
Alexandre Gonçalves
1600 varas de algodão
[destino
mencionado]
não
10
Antônio Alves
40 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
13
Fermiano Gomes
120 cabeças de gado
[destino
mencionado]
não
[destino
mencionado]
não
18
José Fialho
30 arrobas de toucinho
21
Elias Pereira
20 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
24
Mariano Antônio
80 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
27
Manuel Anriques
25 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
30
Dememencianno Correia
04 rolos de fumo
60 arrobas de toucinho
[destino
mencionado]
não
Vicente Faria de Souza Lobato
Comandante Administrador
4o Trimestre
Outubro
02
Francisco dos Reis
49 arrobas de toucinho
Campos
05
Francisco Fernandez
36 arrobas de toucinho
04 arrobas de fumo
500 varas de panos de algodão
Campos
11
Luis Fialho
52 arrobas de toucinho
Campos
13
Francisco de Souza
80 cabeças de gado vacum
Campos
159
16
23
26
30
30
Antônio Leite
10 cabeças de gado
20 arrobas de toucinho
Bernardo Rodrigues
06 cavalos
1500 varas de panos de algodão
Joaquim Alves
55 cabeças de gado vacum
José Antônio
63 arrobas de toucinho
100 queijos
200 varas de panos de algodão
José Nogueira
25 meias de sola
30 arrobas de toucinho
Campos
Campos
Campos
Campos
Campos
Novembro
05
10
10
Mariano Ferreira
70 cabeças de gado vacum
José Antônio Moreira
61 arrobas de toucinho
100 varas de tecido
Joaquim Rodrigues
03 cavalos
56 arrobas de toucinho
Campos
Campos
Campos
13
Joaquim Teixeira
10 cabeças de gado vacum
Campos
14
Fermianno Rodrigues
50 cabeças de gado vacum
Campos
20
Manoel Lopes
21 arrobas de toucinho
50 cabeças de galinhas
Campos
21
Manoel Gracia
06 arrobas de poaia
Aldeia da Pedra
26
Manoel Bernardes
500 queijos
90 arrobas de toucinho
Campos
26
Domingos da Silva
01 arroba de poaia
[Aldeia da] Pedra
28
Antônio Leite
15 cabeças de gado vacum
Campos
160
30
Antônio Fernadez
42 arrobas de toucinho
Campos
30
Joaquim de Moraes Peçanha
02 arrobas de toucinho
03 arrobas de poaia
05 bois carreiros
[Aldeia da] Pedra
Dezembro
20
Manoel Francisco
39 arrobas de toucinho
Campos
20
José Joaquim
05 arrobas de poaia
Canta Gallo
Francisco de Assis Carvalho
Coronel Comandante e Administrador
OBSERVAÇÕES
Resumo de todo o ano de 1830
Gado vacum
1475
Cavalos
09
Galinhas
50
Queijos
800
Sola
25
Toucinho
2042
Poaia
15
Marmelada
80
Fumo
28
Algodão tecido
5000
No
No
No
No
No
@
@
@
@
Varas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 15 março 2012.
(AUTOR E DATA)
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Tabela 12: Ano de 1832
FICHA PARA LEITURA DE REGISTROS DE EXPORTAÇÃO DE GENEROS
DE MINAS GERAIS
REFERÊNCIA: CASA DOS CONTOS – Ciclo de Estudos do Ciclo do Ouro:
Barra do Pomba, 1832, vol. 737, rolo 51.
NATUREZA
Livro de registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
161
LOCAL/DATA
Barra do Pomba, Ano de 1832.
ASSUNTO
Registro de saída de gêneros de Barra do Pomba.
PARTES
1o Trimestre de 1832
DIA
↓
MÊS
↓
Localidade – Destino dos
gêneros exportados
Janeiro
Nada passou
Fevereiro
11
Luis Fialho
100 arrobas de toucinho
100 queijos
Campos
17
Manoel Fialho
15 arrobas de toucinho
Campos
19
José Henriques
08 arrobas de toucinho
400 varas de algodão tecido
Campos
20
Joaquim José Vieira
90 cabeças de gado vacum
Campos
25
Manoel Gracia
04 arrobas de poaia
São Fidelis
25
Manoel Eduardo
05 cavalos
Canta Gallo
Manoel dos Reis
02 arrobas e meia de poaia
Aldeia da Pedra
Manoel Antônio
95 cabeças de gado vacum
Campos
30
Francisco d’Assiz Carvalho
Comandante
162
Março
04
José Alvim
86 cabeças de gado vacum
Campos
07
Ignacio Palmeira
105 cabeças de gado vacum
Campos
08
Bento José de Araujo
08 cavalos
Campos
18
Antônio Machado
06 arrobas de toucinho
Campos
27
Joaquim Marques
18 arrobas de toucinho
Campos
José Francisco de Barros
20 arrobas de toucinho
100 queijos
Campos
28
Florentino da Silva
120 cabeças de gado vacum
Campos
31
Passaram neste mês muitas tropas vazias e por isso não fiz assento.
28
Francisco de Assiz Carvalho
2o Trimestre de 1832
Abril
03
04
06
Antônio Julho para Campos
40 arrobas de toucinho
Capitão Inocêncio Pereira
73 cabeças de gado vacum
02 cavalos puxados
Domingos Francisco
32 arrobas de toucinho
100 queijos
Campos
Campos
Campos
163
08
Firmianno Gomes Sobral
50 cabeças de gado vacum
25 potros tocados
06 cavalos puxados
[Destino
mencionado]
11
Manoel Francisco
14 arrobas de toucinho
Campos
17
Adão Pereira
15 arrobas de toucinho
Campos
21
Manoel Antônio de Barros
200 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
23
29
30
José Henriques
56 arrobas de toucinho
400 varas de panos de algodão
Alexandre Gonçalo
20 cabeças de gado vacum
1000 varas de panos de algodão
Francisco Lázaro
50 cobertas de algodão
100 varas de pano de algodão
30 arrobas de toucinho
não
não
Campos
Campos
Campos
Maio
04
José Severino
10 arrobas de toucinho
Campos
09
Joaquim Vieira
100 cabeças de gado vacum
Campos
11
José Thomaz
15 arrobas de toucinho
Campos
11
Luciano José da Costa
20 arrobas de toucinho
400 varas de panos de algodão
[Destino
mencionado]
16
Manoel Carlos
120 cabeças de gado vacum
Campos
17
Francisco Marques
15 arrobas de toucinho
Campos
não
164
25
29
Luis Fialho
16 arrobas de toucinho
José Antônio Moreira
200 varas de panos de algodão
20 arrobas de toucinho
Campos
Campos
Francisco d’Assiz Carvalho
Comandante administrador
Junho
10
João Fernandes
30 arrobas de toucinho
Campos
16
Inocêncio Azevedo
20 arrobas de toucinho
Campos
21
Luis Antônio d’Lanna
30 cabeças de gado vacum
[Destino
mencionado]
não
23
Manoel Carlos de Figueiredo
16 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
24
Capitão Gonçalo Barreto
50 arrobas de toucinho
[Destino
mencionado]
não
Francisco d’Assiz Carvalho
Comandante
OBSERVAÇÕES
Resumo dos 06 meses de 1832:
Gado vacum
1089
No
Cavalos
Queijos
Manta de algodão
46
300
50
No
No
No
Algodão tecido
Poaia
2500
07
Varas
Arrobas
Toucinho
476
Arrobas
FICHAMENTO
Márcio Xavier Corrêa, 15 março 2012.
(AUTOR E DATA)
165
TEOR
Gêneros exportados pela Província de Minas Gerais
através do Registro da Barra do Pomba
Download

Memória sobre a economia extrativa da poaia